Variabilidade Diurna dos Fluxos Turbulentos de Calor no Atlântico Equatorial Noele F. Leonardo 12, Marcelo S. Dourado 1 1 Centro de Estudos do Mar – CEM - Universidade Federal do Paraná - Av. Beira Mar, s/n Pontal do Paraná – PR - Telefone: (41)34551333. 2 [email protected] ABSTRACT: In this study ten years of data (1999-2009) from a PIRATA buoy were used to investigate the diurnal variability of turbulent fluxes of sensible heat, latent and momentum in the equatorial Atlantic. These fluxes were estimated by the Coare 3.0 scheme. The turbulent sensible and latent heat fluxes shown a maximum associated to the maximum difference between the sea surface and air temperature. The minimum of theses fluxes coincide with the wind speed maximum. This seems indicated the difference of temperature between drives the two heat fluxes. There are a correlation between the latent heat flux and precipitation with a delay of two hours. Palavra-Chave: Fluxos Turbulentos, Interação Oceano-Atmosfera, PIRATA 1 - INTRODUÇÃO Os climas equatoriais diferem em muitos aspectos dos temperados. A diferença mais importante é o balanço de energia, pois a quantidade de radiação solar recebida no equador é mais elevada do que aquela recebida nas regiões temperadas. Sendo assim o Oceano Equatorial possui características particulares quanto a sua termodinâmica e dinâmica. Os cálculos de fluxos de calor latente e sensível na superfície dos oceanos são parâmetros essenciais para estudar as interações atmosfera-oceano, pois são esses fluxos que disponibilizam umidade e calor para atmosfera e são essenciais para o padrão da convecção e das precipitações (TAO, 1991). O fluxo de calor na superfície do mar resulta em modificações no balanço local de calor na interface oceano-atmosfera e sua determinação é fundamental para a estimativa do balanço térmico do oceano. A descrição quantitativa da troca de energia na interface também é importante para estudos de processos físicos e para o desenvolvimento de modelos oceânicos e atmosféricos de diferentes escalas espaciais e temporais (SOARES et al, 2008) A variabilidade os fluxos de calor sensível, latente e momentum no oceano Atlântico Equatorial é investigada utilizando-se os dados de uma única bóia PIRATA. 2 - MATERIAIS E MÉTODOS O principal objetivo do programa PIRATA (Research Morred Array in the Tropical Atlantic) é investigar as interações do oceano com a atmosfera no Atlântico Tropical, a fim de entender a evolução espacial e temporal da temperatura da Superfície do Mar (TSM), transferências de quantidade de movimento, calor e água doce, relacionando seus impactos na variabilidade climática regional em escalas sazonais e inter-anuais. Os dados médios utilizados neste estudo são provenientes da bóia 0ºS 23ºW (fig.1) e estão disponíveis em http://www.pmel.noaa.gov/tao/data_deliv/deliv-pir.html, para um período de 10 anos (1999-2009). Na superfície, os fluxos turbulentos de calor e momentum são estimados utilizando dados meteorológicos médios através das equações de bulk, que são derivadas das equações adimensionais do perfil vertical e da Teoria de Similaridade de Monin – Obukhov (Gerrnaert,1990). Figura. 1 – Mapa de localização das bóias do Projeto PIRATA As expressões de bulk para fluxos de calor sensível(H), latente(LE) e momentum (T) são, respectivamente: onde Ch, Ce e Cd são os coeficientes de transferência para o calor sensível, calor latente e momento, respectivamente. Tar é a temperatura do ar, q ar é a umidade específica do ar, (qs) a umidade específica para a superfície do mar e U é a velocidade do vento. Estes fluxos serão estimados utilizando o esquema coare3.0 proposto por Fairall et al. (2003). 3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES A figura 2a representa a variação horária da média da temperatura do ar e da TSM para o período. Observa-se que a TSM (média de 26,73oC) é sempre maior que a temperatura do ar (26,21oC), caracterizando uma atmosfera instável. A variação da TSM também é maior do que a da temperatura do ar. A primeira apresenta um mínimo às 7 horas de 26,56 oC e um máximo de 26,97oC as 16 horas, com uma amplitude de 0,41°C. A temperatura de ar, por sua vez, mostra valores mínimos e máximos de 25,91oC e 26,49oC às 6h e 18h, respectivamente. A amplitude é de 0,48°C. Uma defasagem de 2 horas existe entre os máximos e mínimos das duas temperaturas. A Figura 2b mostra a evolução da umidade relativa média para o período. O valor médio foi estimado em 85,88% para o período. Como esperado a umidade relativa varia de maneira inversa a temperatura, com valores máximos às 4 horas e mínimos às 16 horas. A variação da velocidade media do vento é mostrada na figura 2c. Os valores apresentam pouca variabilidade, com um mínimo de 5m/s às 1h e um máximo de 5,4 m/s às 11 horas. A evolução dos fluxos de calor sensível, latente e momentum médio são mostrados na figura 3. Valores positivos indicam fluxos de calor da atmosfera para o oceano. O contrário ocorre para o momento. Como esperado para regiões oceânica equatoriais, o fluxo de calor latente médio (55,2 W/m2) é uma ordem de grandeza maior que o fluxo de calor sensível (3 W/m2). Os valores mais altos de calor sensível são encontrados entre 5 e 7 horas, quando a diferença entre as temperaturas do mar e do ar foram máximas, da ordem de 0,8oC. Um máximo secundário pode ser observado às 16 horas. Figura 2 – Médias Horárias (a) Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e Temperatura do ar (oC), (b) Umidade Relativa (%) e (c) Velocidade do vento (m/s). É interessante observar que o mínimo do fluxo de calor de sensível de 1,7 W/m2 ocorre às 10 horas, quando a velocidade do vento tende a um máximo. Isto parece indicar que o fluxo de calor sensível é dirigido pela diferença de temperatura. O fluxo de calor latente apresenta um comportamento semelhante ao calor sensível, um mínimo de 51,6 W/m 2 a 1 hora, um máximo de 60,1 W/m2 às 16 horas, com um máximo secundário às 8 horas de 55 W/m2. Esta variação acompanha o ciclo diurno da temperatura da superfície do mar. Como no caso do calor sensível, observa-se também uma diminuição do calor latente no período de máxima velocidade do vento. O fluxo de momento segue o mesmo ciclo diurno da velocidade do vento apresentando uma média de 0,038Nm-2, com valores máximos próximos a 0,05 Nm-2 as 11 horas e mínimo de 0,035Nm-2 a 1 hora. Figura 3 – Fluxos turbulentos: (a)Fluxo de calor sensível (Wm-²) ( b) Fluxo de calor Latente (Wm-²) (c) Fluxo de Momento (Nm-²). A figura 4 mostra variabilidade da precipitação. Observa-se um duplo máximo de 0,5 mm/h as 10 e 18 horas. Estes, com uma defasagem de duas horas, parecem associadas ao duplo máximo no fluxo de calor latente. Entretanto não há uma explicação do porque diferentes valores de fluxo de calor latente implicam em mesma quantidade de precipitação. Talvez isto esteja ligado à dinâmica local. Figura 4 - Variabilidade diurna média da precipitação. 4 – CONCLUSÃO Neste trabalho 10 anos de dados de uma bóia localizada no Equador, pertencente ao Programa PIRATA, juntamente com o esquema Coare 3.0 foram utilizados para determinar a variabilidade diária média dos fluxos turbulentos de calor sensível, calor latente e momentum. Observou-se que a fluxo de calor sensível e latente apresentam um ciclo diurno com um máximo principal e um secundário, embora estes não coincidam no tempo. Quando comparados com a variação da velocidade do vento e da diferença de temperatura entre o ar e o mar, observa-se que a diferença de temperatura é o principal mecanismo que dirige estes fluxos. Associados aos fluxos de calor observa-se estão os máximos diários de precipitação. 5- AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de agradecer o projeto PIRATA pela disponibilidade dos dados usados neste estudo e o auxilio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Processo 475708/2007-5. 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAIRALL, C.W., Bradley, E.F.; Rogers, D.P.; Edson, J.B.; G.S. Young, Bulk parameterization of air-sea fluxes for Tropical Ocean-Global Atmosphere Coupled- Ocean Atmosphere Response Experiment. J. Geophys. Res., v. 101, 3747-3764, 1996. GEERNAERT, G. L., Bulk parameterizations for the wind stress and heat fluxes in Surface Waves and Fluxes,Volume 1--Current Theory, edited by G. L. Geernaert, and W. J. Plant, pp. 91-172, Kluwer Academic Publishers, 1990. SOARES. J., A.P. Oliveira, J. Servain, S. A. Bacellar, 2004: Resultados preliminares do balanço de energia sobre o oceano Atlântico tropical observado, em 2002, durante a campanha de medidas do projeto FluTuA. XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, 29/8 a 03/9 em Fortaleza, Ceará. CD. TAO, W. K., and J. Simpson, 1991: Numerical simulation of a subtropical squall line over Taiwan Strait. Mon. Wea. Rev., 119, 2699-2723.