Fases da aprendizagem motora: um texto didático Luciano Basso Go Tani A aprendizagem motora pode ser entendida como um processo de solução de problemas motores que leva à aquisição de habilidades motoras. Por exemplo, aprender a andar de bicicleta. Nesse caso a aprendizagem motora envolve desde o momento em que a pessoa não sabe andar de bicicleta e começa a pensar sobre a aquisição dessa habilidade até torna-se capaz de fazê-lo com proficiência, muitas vezes conversando com outras pessoas, apreciando a paisagem à volta, soltando as mãos do guidão, ou até mesmo, chegar ao nível de habilidade do Armstrong que venceu a Volta da França mais de quatro vezes, demonstrando assim, muita habilidade motora no ciclismo. O processo de aquisição de habilidades motoras requer muita prática. Procure lembrar quanto tempo você levou para aprender a andar de bicicleta. Certamente, nas primeiras tentativas, você levou belos tombos, até com pequenos ferimentos. Mas, você insistiu, até começar a se equilibrar sem muitas dificuldades e dar firmes pedaladas. Em outras palavras, você foi adquirindo habilidade motora, ou falando de outra forma, você foi se tornando cada vez mais habilidoso no andar de bicicleta. Os pesquisadores de aprendizagem motora, no esforço de tentar explicar o que acontece internamente ao indivíduo quando ele adquire habilidade observaram que a aprendizagem motora se desenvolve por fases características e que em cada fase existem elementos importantes que necessitam ser considerados pelo aprendiz. Na primeira fase da aprendizagem conhecida como COGNITIVA, o importante é o aprendiz ter a compreensão do que está para ser feito, ou seja, o objetivo da habilidade, as informações mais importantes a que deve prestar atenção e a elaboração do plano de ação para a execução dessa habilidade. Em outras palavras, obter uma espécie de ideia do movimento que está para aprender. Na fase cognitiva, o aprendiz não precisa se preocupar com o resultado do movimento, se ele foi preciso, bem sucedido ou não. Ele deve se preocupar em compreender bem a habilidade que está para aprender. Essa fase da aprendizagem motora é chamada de cognitiva justamente por isso. Para se aprender a andar de bicicleta é preciso compreender quais as informações mais relevantes a que deve prestar atenção (equilíbrio) e os componentes da ação (segurar com uma mão o guidão; passar a perna oposta por cima do banco; posicionar o pé no pedal e tomar assento; segurar o guidão com a outra mão; dar um pequeno impulso com a perna que está apoiada no solo; posicionar o pé no pedal; manter o equilíbrio; pedalar). A melhoria do desempenho é o principal objetivo da segunda fase da aprendizagem denominada de ASSOCIATIVA. Essa fase está relacionada com o aumento de consistência do desempenho ou o refinamento do movimento. É a fase em que se procura diminuir gradativamente os erros e assim ganhar em desempenho. Isso envolve a aquisição da capacidade de detectar e corrigir erros. Essa fase pode demorar de minutos a horas, dias, meses, anos, dependendo da complexidade da habilidade em questão. Mais, independente disso, existe um requisito básico para o sucesso da aprendizagem. Ao final de cada tentativa, deve se fazer uma reflexão do movimento que acabou de executar, e aproveitar da experiência anterior para progredir. Em termos práticos, o aprendiz deve fazer a si próprio duas perguntas depois de terminada uma determinada tentativa: a) o objetivo foi alcançado? e b) o movimento foi executado conforme planejado? Ao fazer essas duas perguntas e a elas responder, o aprendiz está relacionando importantes informações produzidas pelo próprio movimento: o objetivo com o resultado e o plano de ação com a execução do movimento. Em outras palavras, para aprender a detectar e corrigir erros, o aprendiz não pode “ligar o piloto automático” e repetir o movimento por repetir. A cada tentativa deve pensar no objetivo, elaborar um plano de ação, executar o movimento, fazer a avaliação do resultado e modificar o movimento na próxima tentativa caso necessário e assim por diante. A prática tem que ser uma repetição consciente de movimentos. Voltando ao exemplo da bicicleta, se a prática assim não for, vai-se demorar muito mais para ser aprendida e certamente o número de tombos será muito maior. Assim, alcança-se a última fase da aprendizagem denominada de AUTÔNOMA. Nessa fase, a execução do movimento torna-se independente das demandas da atenção, ou seja, o indivíduo torna-se capaz de executar o movimento sem precisar prensar nele ou mesmo realizar outra ação simultaneamente. Por exemplo, andar de bicicleta ouvindo música, chupando sorvete ou conversando com outra pessoa. Esse texto é uma descrição sucinta do processo de aprendizagem. Nossa expectativa é que a utilização de um simples exemplo vivenciado pelos aprendizes da disciplina de aprendizagem – aprender a andar de bicicleta – possa servir de ponto de partida para a aprendizagem dos conceitos sobre as fases de aprendizagem motora. Material não publicado, os autores sugerem que ao utilizar o material seja feito a devida referência a autoria, boa sorte!