universidade federal do paraná - HC

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA
DISCIPLINA DE CARDIOLOGIA
PROTOCOLO DE CUIDADOS PRÉ E PÓS-OPERATÓRIOS EM
CIRURGIA CARDÍACA - 2011
PRÉ-OPERATÓRIO
Introdução
O principal objetivo de uma rotina pré-operatória é implementar medidas
que possam diminuir os riscos no intra e pós-operatório. Os principais itens a
serem seguidos são:
 Confirmar o diagnóstico e indicação cirúrgica
 Avaliação do risco cirúrgico
 Informar o paciente sobre os riscos e obter consentimento
 Exames complementares
 Medicações no perioperatório
 Avaliação multiprofissional
1.0 - Avaliação do risco
Existem diversos modelos de pontuação para se estimar o risco cirúrgico.
O mais validado é o “Euro score” (em anexo). Para cirurgia valvar, o “score de
Ambler” parece ser mais preciso.
2.0 - Consentimento informado
O paciente e familiares, idealmente na presença de testemunhas, devem
ser informados sobre os potenciais riscos do procedimento. A ausência do
documento devidamente assinado é contraindicação ao procedimento, salvo
em situações especiais de emergência.
3.0 - Exames complementares
Os principais exames, como rotina, estão listados a seguir:
 Laboratoriais: Hemograma completo, sódio, potássio, ureia, creatinina,
glicemia de jejum, coagulograma completo, parcial de urina.
 Rx de tórax
 ECG
 Ecocardiograma
 Cateterismo cardíaco em pacientes >40 anos ou suspeita de DAC.
 Doppler de carótidas: >65 anos, Lesão TCE, tabagismo, Doença de Ao
ou sopros carotídeos.
4.0 - Medicações no perioperatório
As principais medicações de importância no perioperatório e condutas estão
listadas a seguir.
 Anticoagulantes: ACO devem ser suspensos pelo menos 7 dias antes e
RNI abaixo de 1,5 imediatamente antes da cirurgia; HBPM deve ser
suspensa 12h antes e HNF 6h antes.
 Antiagregantes: Em RVM ou cirurgia valvar com DAC, não suspender
AAS; Clopidogrel deve ser suspenso 5 a 7 dias antes.
 Betabloqueadores: Devem ser mantidos ou introduzidos no peri e pósoperatório, a não ser que haja contraindicações. Titular a dose e evitar
FC <60.
 Antidiabéticos orais devem ser suspensos pelo menos 2 dias antes.
Manter insulina R e protocolo de controle intensivo (glicemia <150) no
pós-operatório.
 IECA´s devem ser mantidos sempre que possível.
 Estatinas devem ser mantidas ou iniciadas, independentes dos níveis de
colesterol, nos pacientes submetidos à RVM, buscando seus efeitos
pleiotrópicos, porém baixo nível de evidência.
 Protetores gástricos: devem ser iniciado ainda no pré-operatório.
 Heparina profilática deve ser iniciada no pré-operatório.
5.0 - Avaliação multiprofissional
Visa otimizar o controle das comorbidades e diminuir o risco de
complicações
 Avaliação odontológica: idealmente para todos os pacientes, obrigatória
para cirurgias valvares.
 Endocrinologia: para pacientes com distúrbios metabólicos de difícil
controle, especialmente diabetes mellitus.
 Pneumologia: especialmente para pacientes portadores de DPOC grave.
Em relação ao tabagismo, benefícios teóricos podem ser obtidos com 12
às 24h de suspensão (diminui níveis de nicotina e CO). Suspensão de
12 a 8 semanas comprovadamente diminui a mortalidade no
perioperatório.
PÓS-OPERATÓRIO
Introdução
Os determinantes de bons resultados na cirurgia cardíaca são
decorrentes de cuidadosa avaliação Perioperatória associada à manutenção da
homeostase na sala de cirurgia e à adequação dos cuidados pós-operatórios.
Algumas particularidades da cirurgia cardíaca:
 Resposta inflamatória sistêmica;
 Utilização de circulação extracorpórea;
 Ocorrência de parada cardiocirculatória em alguns casos;
MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE E AVALIAÇÀO INICIAL
A monitorização do paciente no pós-operatório de cirurgia cardíaca deve ser
pormenorizada e eficaz. O diagnóstico precoce das complicações
hemodinâmicas e ventilatórias resulta, na maior parte dos casos, em melhor
evolução dos pacientes.
Ao receber o paciente, o intensivista, deve seguir uma rotina preestabelecida a
fim de evitar complicações e extrair a maior parte de dados possíveis sobre o
paciente.
Admissão na UTI:







Sinais vitais;
Monitorização;
Posição dos drenos;
Conexão ao ventilador;
Exame físico;
Prescrição;
Coleta de exames;
Após a chegada do paciente na UTI, deve ser realizado eletrocardiograma
(ritmo – presença de isquemia) e raios-X de tórax (posição do tubo
endotraqueal – pneumotórax – hemotórax).
O paciente deve ser examinado continuamente, devendo ser reavaliado
durante as primeiras 24h do pós-operatório
ROTINAS UTILIZADAS NO PÓS-OPERATÓRIO
A frequência e a coleta dos exames devem ser alteradas em função da
evolução do doente.
EXAMES
Na/K
Hb/VG
Dextro
Cálcio
Mg
Ur/Cr
Gasometria
arterial
Gasometria
venosa central
Lactato
Plaquetas
Coagulograma
Raio X Tórax
POI
6/6h
6/6h
2/2h
2x/dia
1x/dia
1/xdia
6/6h
1 PO
12/12
2x/dia
2/2h
1x/dia
1x/dia
1x/dia
12/12h
2 PO
1x/dia
1x/dia
2/2h
1x/dia
1x/dia
1x/dia
ACM
6/6H
12/12H
1x/dia
12/12h
1x/dia
1x/dia
1x/dia
1x/dia
1x/dia
ACM
1x/dia
ACM
ACM
ACM
1x/dia
MEDIDAS GERAIS
Antibioticoterapia profilática:
 Cefazolina (2g) na indução anestésica e (1,5g) 6/6h por 24 às 48h
Profilaxia de TVP:
 Clexane 40mg SC no terceiro dia pós-operatório
Profilaxia úlcera de estresse:
 Omeprazol 40mg EV a cada 24h
MONITORIZAÇÃO
 Monitorização do segmento ST
 Pressão arterial sistêmica: pressão arterial invasiva monitorizada. Artéria
radial é a mais utilizada. Se o paciente estiver estável, sugere-se
monitorização invasiva por 24h, a qual deve ser mantida enquanto
houver instabilidade hemodinâmica ou hipoxemia significativa.
Recomenda-se manter pressão arterial média acima de 70mmhg para
permitir adequada perfusão orgânica;
 Pressão venosa central: parâmetro estático bastante útil. Pressão
venosa central baixa (< 8mmhg) é um bom indicativo de hipovolemia,
por outro lado, a pressão venosa central alta (> 12mmhg), como
parâmetro isolado não traz informações significativas. Deve ser avaliada
em medidas seriadas, observando-se sua linearidade e tendência, o que
permite estimar os efeitos de uma intervenção;
 Oximetria de pulso: avalia a saturação de oxigênio.
 Temperatura: dever ser aferida na chegada do paciente e
periodicamente. A hipotermia deve ser tratada com o objetivo de evitar
vasoconstrição e aumento da chance de sangramento. A hipertemia
deve ser tratada agressivamente para reduzir o consumo energético.
 Débito urinário: busca-se uma diurese de no mínimo 1 ml/Kg/h.
 Saturação venosa central: parâmetro de perfusão, medido com um
cateter central. Considera-se adequada acima de 65%. Devendo-se
buscar e tratar causas de baixa saturação venosa: hipovolemia,
hipoxemia e anemia.
 Gasometria arterial: fornece dados importantes sobre Ph, oxigenação (
PO2/Fi 02 ) devendo ser maior que 300, ventilação ( PACO2 ) e
perfusão tecidual ( Excesso de bases ).
 Gasometria venosa central: fornece a saturação venosa central.
 Lactato arterial: bom índice de perfusão tecidual.
 Gradiente veno-arterial de CO2 (PCO2v-PCO2a): Valores maiores que
5-10 indicam desvio para o metabolismo anaeróbio, fornece, portanto,
um parâmetro de perfusão.
ANALGESIA
A analgesia deve ser suficiente para determinar maior conforto e mobilidade
aos pacientes, prevenindo, dessa forma, a formação de atelectasias e o
aparecimento de diferentes graus de hipoxemia. Deve ser realizada em
intervalos regulares.
 DIPIRONA 30mg/Kg de 6/6h associada TRAMADOL 100mg EV 6/6h.
Nos casos de alergias ou instabilidade hemodinâmica, pode-se utilizar
PARACETAMOL 750mg 6/6H VO.
Em casos de dor persistente ou presença de drenos no tórax, recomenda-se a
realização de bloqueio intercostal ou peridural com colocação de cateter para
infusão de analgésicos.
Sedação: Fentanil e Midazolam titulados de acordo com o conforto do paciente,
acoplamento paciente-ventilador e estabilidade hemodinâmica.
REPOSIÇÃO VOLÊMICA
Manter adequada perfusão tecidual e a oferta de oxigênio.
Depleção de fluidos e água perioperatória:
 Jejum
 Transferência de líquidos do intravascular para o interstício por
inflamação sistêmica
 Vômitos
 Vasodilatação
Os cristalóides devem ser os fluidos de primeira escolha para reposição
volêmica, podendo ser utilizados o ringer lactato e solução fisiológica 0,9%.
Os colóides também podem ser administrados no contexto de
hipoalbuminemia, anasarca, lesão pulmonar aguda e após o uso de mais de 3
litros de cristalóides.
Evitar o uso de planos de hidratação de forma contínua e individualizar de
acordo com as necessidades clínicas e hemodinâmicas.
MONITORIZAÇÃO DA REPOSIÇÃO VOLÊMICA
Clinicamente




Nível de consciência
PAM > 65mmhg
Frequência cardíaca < 100bpm
Diurese > 1,0 ml/Kg/min.
Pressões Intravasculares
Aumento da PVC > 3mmhg a 200ml de infusão de colóides significa que o
ponto de inflexão da curva pressão-volume foi atingido e que o volume
intravascular foi alcançado sem aumento das pressões venosas.
Índice Cardíaco (> 2,2 L/min/m2)
Índice cardíaco adequado é aquele suficiente para atender as demandas
metabólicas. Não há um número adequado de débito cardíaco que indique
volemia adequada. Deve-se avaliar sua resposta frente à prova de volume.
Perfusão Tecidual
A observação clínica da perfusão periférica com a avaliação de débito urinário,
lactato e saturação venosa de oxigênio trazem parâmetros importantes na
avaliação da perfusão tecidual, os quais devem ser considerados no
diagnóstico e na monitorização do tratamento da hipovolemia.
COMPLICAÇÕES ORGÂNICAS PÓS-OPERATÓRIAS
BAIXO DÉBITO CARDÍACO
Pode ser definido com a incapacidade de coração manter fluxo sanguíneo
suficiente para atender à demanda metabólica tecidual.
Clinicamente:






Hipotensão arterial sistêmica sistólica: PAS < 90mmhg
Alteração do nível de consciência
Agitação
Confusão
Diminuição da temperatura dos membros inferiores
Oligúria: < 0,5ml/kg/h
Hemodinamicamente
 Saturação venosa central baixa: < 65%
 Índice cardíaco baixo: < 2,2 L/min/m2
 Hipotensão arterial sistêmica: PAS < 90mmhg
Em muitos casos, o diagnóstico é bastante difícil, exigindo alto grau de
suspeição clínica. O tratamento deve ser instituído o mais rápido possível.
A função miocárdica geralmente diminui nas primeiras horas após a cirurgia
cardíaca, sobretudo em decorrência das lesões por isquemia e reperfusão,
ocorrendo na maioria dos casos retorno às condições basais em um período de
24 a 48 horas. Agentes vasoativos utilizados no intra-operatório devem ser
mantidos no período pós-operatório inicial,podendo ser retirados quando o
débito cardíaco estiver adequado.
ETIOLOGIA
 Redução da pré-carga
1. Hipovolemia: sangramento, reposição inadequada e resposta
inflamatória;
2. Vasodilatação: pós aquecimento, vasodilatadores, opioides,
benzodiazepínicos e resposta inflamatória;
3. Tamponamento cardíaco;
4. Pneumotórax;
5. Disfunção do ventrículo direito por infarto ou hipertensão
pulmonar;
 Redução da contratilidade
1. Baixa fração de ejeção prévia
2. Isquemia ou infarto miocárdico decorrentes de má proteção
miocárdica no intra-operatório.
3. Hipóxia
4. Acidose
5. Hipercarbia
 Arritmias
1. Flutter e fibrilação atrial
2. Arritmias ventriculares
3. Bradicardia
 Aumento da resistência vascular sistêmica
1. Vasoconstrição
2. Hipovolemia
3. Disfunção diastólica
TRATAMENTO
Reposição volêmica eficaz deve ser a meta primordial utilizando-se parâmetros
descritos acima.
Manter um nível de hemoglobina adequado que garanta oferta de oxigênio
adequada com otimização da perfusão tecidual. Hemoglobina entre 7,0 e 9,0 é
bem tolerada no cardiopata estável e níveis mais elevados, em torno de 10, 0,
devem ser considerados na insuficiência cardíaca descompensada e nas
síndromes coronarianas agudas.
Os fármacos vasoativos devem ser utilizados com suporte hemodinâmico:
1. DOBUTAMINA (Dobutrex) : inotrópico de escolha
Deve ser mantida nas primeiras 18 a 24 horas em doses que variam de
3 a 20 mcg/Kg/min.
*** Paciente admitido na UTI/UCO em uso de dobutamina: se o paciente
estiver estável sem efeitos adversos com adequados parâmetros de
perfusão, manter a dose da admissão e, após 18 horas, iniciar retirada
gradual, que deve ser 2,5mcg/Kg/min a cada 6 horas;
*** Paciente admitido na UTI/UCO sem uso de dobutamina: decisão de
se iniciar a infusão dependerá da presença de sinais e sintomas de
baixo débito OU FEVE < 50%
2. NITROGLICERINA (Tridil): vasodilatador de escolha no pós-operatório
de cirurgia de revascularização. Deve ser iniciado apenas se PAM >
80mmHg.
3. NITROPRUSSIATO (Nipride) : vasodilatador de escolha no manejo dos
pacientes no pós-operatório de cirurgia valvar e de aorta. Iniciado se
PAM > 90mmHg.
4. NORADRENALINA: vasopressor de escolha no manejo da hipotensão e
do choque no pós-operatório. Deve ser iniciada se PAM < 70mmhg.
5. MILRINONE (Primacor) : possui propriedades inotrópicas e
vasodilatadoras com aumento do débito cardíaco, redução da
resistência vascular sistêmica, redução das pressões de enchimento e
melhora da função diastólica.
A MANUTENÇÀO DO ÍNDICE CARDÍACO ADEQUADO É O PRINCIPAL
OBJETIVO NO MANEJO CARDIOVASCULAR PÓS-OPERATÓRIO DE
PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA CARDÍACA
COMPLICAÇÕES PULMONARES
As complicações pulmonares pós-operatórias são causas significantes de
morbimortalidade, as quais incluem atelectasia, pneumonia, bronco constrição,
hiponímia, síndrome do desconforto respiratório agudo, insufici6encia
respiratória e ventilação prolongada.
A etiologia das complicações pulmonares pós-operatórias é complexa e pouco
compreendida. Os fatores de risco para essas complicações incluem
tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica, cirurgia de emergência, tempo
de anestesia superior a 180 minutos e idade avançada.
A atelectasia é a principal causa de hipoxemia pós-operatória, ocorrendo em
90% dos pacientes que são submetidos à anestesia, e desempenha papel
fundamental nas alterações das trocas gasosas e na redução da complacência
estática associada à injúria pulmonar.
ASSISTÊNCIA VENTILATÓRIA
Rotineiramente emprega-se a modalidade volume controlado nos pacientes no
pós-operatório, optando-se pela modalidade pressão controlada quando a
primeira estiver associada a picos elevados de pressão ou em situações de
baixa complacência pulmonar.
Volume: 8 a 10 ml/kg ou pico de pressão inspiratória suficiente para manter
esse volume na pressão controlada;
PEEP: 5 a 10 cmH2O
O recrutamento alveolar com PEEP é uma prática sugerida no pós-operatório
como medida que reduz hipoxemia.
Extubação: estabilidade hemodinâmica, normotermia, ausência de
sangramento, nível de consciência adequado e oxigenação e ventilação
adequadas.
ISQUEMIA MIOCÁRDICA
Complicação que ocorre em 3 a 30% dos casos;
Causas:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Revascularização incompleta
Problemas técnicos
Espasmo coronariano
Trombose distal ou do enxerto
Hipotensão arterial
Anemia
Hipertensão arterial
Má proteção miocárdica
Fatores de risco:
1. Pré-operatório:
a) Angina
b) Infarto recente
c) Lesão de tronco
d) Tri arterial
e) Diabetes melito
f) Disfunção ventricular
g) Reoperação
Intra-operatórios:
a)
b)
c)
d)
e)
f)
Tempo de CEC
Endarterectomia coronariana
Revascularização incompleta
Instabilidade hemodinâmica
Taquiarritmia
Fibrilação ventricular na reperfusão
Pós-operatórios:
a) Hipertensão
b) Hipotensão
c) Taquiarritmia
Diagnóstico
Não se deve esperar a presença de precordialgia para o diagnóstico de
isquemia.
Aparecimento de ondas Q, presença de supra ou infradesnível do segmento
ST, inversão da onda T, bloqueio de ramo esquerdo novo, deve-se suspeitar de
isquemia periopertória.
Considera-se infarto Peri operatório a elevação de CK-MB massa acima de dez
vezes o valor normal ou troponina positiva.
Ecocardiograma quando há dúvidas em relação aos marcadores de necrose
miocárdica e/ou às alterações eletrocardiográficas.
Tratamento
1. Avisar ao cirurgião e obter informações da anatomia coronariana e das
possíveis intervenções;
2. Garantir oxigenação adequada
3. Hemoglobina > 9,0
4. Adequar volemia
5. Iniciar nitroglicerina de acordo com a hemodinâmica do paciente
6. Manter PAM 70-90mmHg
7. Betabloqueador se o paciente estiver sem droga vasoativa, hipertensão,
taquiarritmia, ausência de hipovolemia e sinais de baixo débito. Nesse
casos o betabloqueador é o metoprolol – Seloken ( 5 a 10mg
),lentamente, até freqüência cardíaca de 70 e PAM > 70mmHg.Após 30
minutos da infusão venosa,se o paciente hemodinâmicamente
estável,pode-se iniciar via oral ( Atenolol ou Metoprolol - Selozok 25mg
12/12h )
8. Após 15 minutos da infusão de nitroglicerina, deve-se repetir o
eletrocardiograma, caso tenha ocorrido normalização, deve-se manter
por 24h; se a alteração persistir deve-se:
 Se instável: discutir com cirurgião indicação de coronariografia de
emergência para diagnóstico e possível intervenção;
 Se estável: discutir com cirurgião indicação de coronariografia;
9. Na presença de estabilidade hemodinâmica, 24 às 48h após, considerar
enalapril 5mg 12/12h e utilização de estatinas (Sinvastatina 40mg/dia).
VASOPLEGIA
A síndrome vasoplégica caracteriza-se por resposta inflamatória sistêmica que
ocorre no pós-operatório de cirurgia cardíaca, geralmente nas primeiras 12h.
Sua ocorrência acentua a incidência de complicação sistêmica no pósoperatório, com maiores índices de insuficiência renal e síndrome do
desconforto respiratório agudo.
Trinta por cento dos casos são decorrentes de infecção.
Diagnóstico









Hipotensão
Oligúria
Queda da resistência vascular sistêmica
Débito cardíaco normal ou elevado
Febre
Leucocitose
Taquipnéia
Taquiarritmia
Vasodilatação periférica
Tratamento
Tratamento imediato, sendo recomendada a utilização do cateter de artéria
pulmonar.
Reposição volêmica com cristalóides; se mais de 4 litros ou presença de
edema pulmonar/periférico utilizar colóides, exceto em insuficiência renal ou
sangramento.
Caso após reposição volêmica adequada e PAM não alcançar 65mmhg, utilizar
noradrenalina para manter perfusão adequada.
Coleta de culturas se persistirem por mais de 12h após CEC ou evidência de
infecção.
Antibioticoterapia caso persista por mais de 12h e/ou deterioração clínica.
TAMPONAMENTO CARDÍACO
Acúmulo de fluidos no espaço pericárdico.
Caracteriza-se por elevação das pressões intracardíacas, limitação progressiva
do enchimento diastólico ventricular e redução do volume sistólico e do débito
cardíaco
Não se deve aguardar o surgimento de todos os sinais e sintomas para o
diagnóstico de tamponamento cardíaco.
 Hipotensão





Baixo débito cardíaco
Instabilidade hemodinâmica
Cessação da drenagem pericárdio
Alargamento mediastino
Redução da voltagem eletrocardiográfica
Acionar imediatamente a equipe cirúrgica e ecocardiografista.
Pericardiotomia cirúrgica ou punção de Marfan.
SANGRAMENTO PÓS-OPERATÓRIO
Uma das complicações mais freqüentes da cirurgia cardíaca com incidência de
reoperação de 1 a 5%.
Deve-se dar atenção especial ao débito dos drenos e avaliação da coagulação
O sangramento decorre de fatores inerentes ao paciente, da técnica cirúrgica,
do trauma tecidual e da circulação extracorpórea.
Fatores de risco:







Reoperação
Má – técnica cirúrgica
Insuficiência renal
Plaquetopenia
Antiagregantes
AINES
Infecção
Conduta
Obter informações sobre hemostasia na sala, produtos utilizados, tempo de
coagulação, dose de heparina, dose de protamina e antifibrinolítico.
Drenos devem ser conectados a um sistema de sucção e o débito avaliado a
cada hora.
Paciente de risco deve ser coletado coagulograma e contagem de plaquetas,
uma vez que não são coletados de rotina no pós-operatório de
revascularização, exceto em cirurgias da aorta e valvares.
Controle da pressão arterial
Equilíbrio metabólico
Busca da normotermia
Em relação ao débito dos drenos, tolera-se até 150ml/h.
Tratamento inicial:
1. Protamina 25 a 50mg em 100ml de SF 0,9% em 20 minutos
2. Se > 150ml/h:
a) Coletar coagulograma e plaquetas;
b) Avisar equipe cirúrgica;
c) TTTPa ou TAP prolongados: plasma fresco 4 UI ;
d) Se plaquetas < 100.000: transfundir plaquetas 1UI/10 Kg de peso;
e) Sangramento persiste mesmo com contagem de plaquetas >
100.000: transfundir plaquetas 1UI/10 Kg de peso;
f) Se o sangramento persiste após infusão de plasma e plaquetas,
será necessário dosagem fibrinogênio e tempo de sangramento e
produtos da degradação da fibrina; Se fibrinogênio < 100mg/dl,se
TTPa persistir anormal apesar do plasma ou em pacientes com
estenose aórtica,criopreciptado será 10UI/10kg;
g) Suspeita de fibrinólise: fibrinogênio baixo e aumento dos níveis
dos produtos da degradação da fibrina, utilzar ácido alfaaminocaproico 25mg/Kg EV, seguido por uma dose de 1g/h por 4
a 5 horas;
INDICAÇÃO DE ABORDAGEM CIRÚRGICA
 Sangramento de 200ml/h de 4 a 6 horas
 Sangramento maior que 1500ml em 12 horas
 Súbito aumento no débito dos drenos: 300 a 500ml
ARRITMIAS
Até 40% dos pacientes apresentam arritmias no pós-operatório
Causas










Hipocalcemia
Hipocalemia
Hipercalcemia
Hipercalemia
Acidose
Uremia
Dor
Hipotermia
Isquemia coronariana
Edema do sistema de condução
 Pericardite
 Aminas vasoativas
Correção adequada dos distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos.
Se instáveis tratar com cardioversão ou desfibrilação.
FIBRILAÇÃO ATRIAL
Arritmia mais frequente, ocorrendo em até 30% das cirurgias de
revascularização do miocárdio e em 60% das cirurgias valvares, com pico no
segundo pós-operatório.
Cardioversão elétrica: primeira opção em pacientes instáveis. Inicia-se com 200
J,se necessário 300 J. Se o ritmo for revertido para sinusal,inicia-se dose de
manutenção com amiodarona por 24 horas.
Dose de manutenção amiodarona - Ancoron : 5 ampolas ( 150mg/3ml ) +
235ml SG 5% 1mg/min em 6h e 0,5mg/min em 18h
Amiodarona: primeira opção em pacientes estáveis. Aplica-se 150mg em 100ml
SF 0,9% em 30 minutos, se persistir em FA, repete-se a dose em bolus. Após
esta, se o ritmo for sinusal, deve-se iniciar dose de manutenção por 24 horas
(1,0 mg/min nas primeiras 6h, seguido de 0,5 mg/min nas próximas 18h), então
passar para via oral, 200mg 8/8 por 14 dias, 200mg 12/12h por 14 dias e,
então, 200mg/dia.
Se o paciente persistir em FA após segunda dose de ataque, inicia-se jejum e
infusão contínua do mesmo esquema de amiodarona; Se o quadro for revertido
libera-se a dieta e mantém-se a droga; Caso em até 12 horas não houver
reversão, pode-se realizar cardioversão elétrica ou liberar a dieta e controle da
frequência cardíaca e anticoagulação com enoxaparina 1mg/Kg 12/12 SC
Betabloqueador: opção terapêutica para redução da frequência cardíaca
(Metoprolol – Seloken 5mg a cada 5 minutos EV até 15mg).
Diltiazem: opção terapêutica para redução da frequência cardíaca (Dose de
ataque 0,25mg/Kg seguida de 0,15mg/Kg/hora).
Protocolo elaborado por Ronaldo Barroso Chaves e Wilton Francisco Gomes,
médicos residentes do 4 ano em Cardiologia, pelo Hospital de Clínicas, da
UFPR, sob orientação de:
Prof. Dr. Murilo Guérios Bittencourt, chefe da Unidade Coronariana do
Hospital de Clinicas da UFPR.
Dra. Luciana De Cerjat Bernardes Pereira Da Cunha, médica
supervisora da Unidade Coronariana do Hospital de Clínicas da UFPR.
Dr. Juliano Mendes de Souza, cirurgião cardiovascular e aluno do
doutorado pelo Hospital de Clínicas da UFPR.
Prof. Dr. Miguel Ibraim Abboud Hanna Sobrinho, Professor Assistente do
Departamento de Clínica Médica, Mestre em Cardiologia - UFPR.
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