muda vocal refletindo sobre a imagem vocal do adolescente

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CEFAC
Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica
Voz
MUDA VOCAL
REFLETINDO SOBRE A IMAGEM VOCAL DO
ADOLESCENTE
Monografia de conclusão do curso de
Especialista em Voz
Orientadora: Mirian Goldenberg
PATRICIA NETO PACHECO
RIO DE JANEIRO
1999
SUMÁRIO
Introdução
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Discussão Teórica
8
Considerações Finais
16
Referências Bibliográficas
17
RESUMO
O objetivo deste trabalho é resgatar a importância deste assunto nos dias
de hoje, porque o processo da muda vocal trás consigo implicações além da
alteração vocal em si, que é a questão da imagem vocal.
A muda vocal é um processo natural na vida de todo adolescente, em
ambos os sexos e ocorre devido ao amadurecimento orgânico, sendo que no sexo
masculino as alterações são mais perceptíveis.
Este processo tem a duração de alguns meses e a voz pode apresentar
alterações.
O desenvolvimento da muda vocal pode em alguns indivíduos atrasar,
prolongar ou ficar incompleta. lsso pode ocorrer por problemas hormonais,
anatômicos, fisiológicos e emocionais.
A muda vocal acarreta uma nova voz e isso representa uma nova imagem
pessoal.
Esta é uma questão que deve ser refletida por nós fonoaudiólogos porque
é um quadro que mostra mais do que uma disfonia, mas uma aceitação que o
organismo impõe de mudanças corporais que ocorrem na puberdade juntamente
com mudança vocal.
A puberdade é uma fase que deve ser vivida como um amadurecimento
completo, é a passagem da fase infantil para uma fase adulta. Da mesma maneira
a voz infantil se transforma numa voz adulta e requer que o indivíduo aceite esta
mudança vocal que vai mostrá-lo como uma nova pessoa.
Devemos estar atentos a este processo que é comum em todos os
adolescentes, e estarmos prontos para tratá-lo tendo uma visão global que este
processo acarreta.
Agradeço à Deus que colocou no meu coração
o amor pela fonoaudiologia, aos meus pais e ao
Antônio Marcus, pelo incentivo e apoio para o
meu crescimento profissional.
“A cultura da juventude... não é tão obviamente
transitória; é mais como um período de espera,
quando o jovem está ostensivamente se
preparando para responsabilidades adultas e
muitas vezes dá a impressão de que está se
encouraçando contra elas...”
Keniston
SUMMARY
The goal of this study is rescue today's importance on this issue, because
the process of voice change brings along other inplications rather thou only the
vocal alteration itself, which is the idea of vocal image.
The vocal change is a natural process in he life of all teenagers, on both
sexes and it happens because of organic grownth, being more noticeable on the
masculine sex.
This process lasts a few months and the voice can show alterations.
The development of vocal change can be late, take longer or remain
incomplete in some people. this can happen because of hormonal, anatomic,
physiologic or emotional problems.
The voice change develops a new voice and this signifies a new personal
image.
This is sometlling to be discussed by us Phonoaudiologists because it is a
situation that shows more than a dysphonia alone, but also an acceptance,
imposed by the body itself of the body changes that happen together with the vocal
change.
Puberty is a phase hot must be lived as one of complete growth, is the
passage from a childhood phase to an adult phase. ln the same way, the child's
voice becomes and adult's voice and requires that the individual accepts this vocal
change that will show him as a new person.
We should be aware of this process which is the same on all teenagers
and we should be ready to treat it having a global vision of what this process
brings.
INTRODUÇÃO
O Objetivo deste trabalho é fazer um levantamento teórico sobre o
processo da muda vocal. O que ocorre neste período na vida do adolescente, o
que pode interferir no seu desenvolvimento orgânico e na vida emocional e que
conseqüências vocais podem ocorrer durante e após esta mutação.
O processo da muda vocal ocorre em todos os indivíduos principalmente
no sexo masculino, e por ser um processo natural durante o período da puberdade
me despertou a importância de um conhecimento melhor sobre este assunto, que
nos últimos anos tem sido tão pouco falado, mas que continua acontecendo da
mesma maneira nos adolescentes de hoje.
É necessário que retomemos assuntos como este, que é de grande
importância no desenvolvimento vocal do indivíduo, pois precisam estar bem
esclarecidos em nossas mentes. Devemos buscar cada vez mais conhecimentos
fisiológicos, anatômicos e psico-sociais, possibilitando-nos ser profissionais
seguros e portadores do conhecimento científico. Durante a puberdade ocorrem
diversas mudanças orgânicas nos meninos e nas meninas, que transformam o
corpo infantil em um corpo adulto, e este processo gera conflitos emocionais ao
indivíduo que precisa aceitar essas transformações.
Junto com tantas alterações que o corpo sofre neste período como:
crescimento dos seios nas meninas , o surgimento de pêlos pubianos e do pênis,
aumento da estatura física, entre outras, a laringe tem um crescimento rápido e os
níveis hormonais se alteram , e por isso a voz sofre alterações em um curto
espaço de tempo.
Sabemos que a voz é o espelho de nossa alma, e que tem uma
identificação muito forte com a nossa personalidade, e uma transformação da voz
em um período tão curto pode gerar problemas emocionais de aceitação dessa
nova voz que também mostra uma nova pessoa.
Durante o processo da muda vocal também podem ocorrer problemas
orgânicos, que dão características de uma voz disfônica.
Portanto um processo tão complexo, merece uma atenção especial, visto
que esta mutação gera uma nova voz e com ela a imposição de um
amadurecimento da personalidade, da postura e de novas atitudes.
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DISCUSSÀO TEÓRICA
Definição
Pinho (1998) acredita que durante a muda vocal há um acentuado
crescimento da laringe, principalmente nos meninos, com angulação da tireóide
variando de 90°, nos meninos, a 120 ° nas meninas. A mucosa da laringe perde a
transparência, a epiglote achata-se e eleva-se, havendo uma descida da laringe
no pescoço e atrofia das amígdalas e adenóides.
Segundo Behlau e Pontes (1993) ,o aparelho fonador sofre um
crescimento constante, mas não homogêneo da laringe, das cavidades de
ressonância, da traquéia e dos pulmões e a muda vocal representa um período de
desequilíbrio com alterações de crescimento no pescoço e laringe e a capacidade
vital aumenta devido ao desenvolvimento do tórax. Segundo Boone e Mcfarlane
(1994), embora todas as mudanças sejam graduais, nos últimos 6 meses do
desenvolvimento da muda vocal ocorre um crescimento laríngeo marcante.
Segundo Boone (1996), as alterações da laringe feminina ocorrem devido
ao aumento do hormônio estrogênio, as cartilagens e músculos da laringe
aumentam imensamente em tamanho. Nos meninos a muda vocal inicia por volta
de 10 anos, com o aumento do hormônio testosterona.
Devido a estas alterações ocorre também um desequilíbrio nas pregas
vocais, tomando-se demasiadas, com alterações vaso-motoras, e este processo
dura de 3 a 6 meses (Veiss,1950).
No sexo masculino a muda ocorre em torno de 13-15 anos, enquanto no
sexo feminino em tomo de 12-14 anos; nos dias mais quentes este processo pode
se adiantar em até 2 anos e nos dias frio pode retardar mais de 1 ano.
Após o processo da muda, as pregas vocais do menino, aumentam em até
1cm enquanto as da menina em até 4mm. Segundo Kaplan (1960), as pregas
vocais atingem nos homens 17-24mm e nas mulheres 12,5-17mm.
Fisiologicamente há uma adaptação as novas condições anatômicas, que
tem como consequência um abaixamento médio da frequência fundamental em 1
oitava para os meninos, ficando a voz em torno de 130hz e em 2 a 4 semitons
para as meninas tornando a fo em torno de 195 hz Boone (1996 ).
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ETIOLOGIA
Podem ser encontradas alterações durante o processo da muda. A causa
mais comum encontrada segundo Behlau e Pontes (1993) é o medo de assumir a
vida adulta, além desta causa psicológica, existem causas funcionais e orgânicas.
Causas Funcionais
• O desejo de manter uma voz de soprano que trouxe sucesso (Seth e Guthric,
1935);
• Algum desvio da fonação no início da muda e depois não se normaliza
voluntariamente (Fawcus, 1989);
• Precocidade das alterações vocais, tornando muito consciente o processo da
muda e por isso manter-se com uma voz mais aguda (West, Ansberry e Carr,
1957).;
• Wilson (1991) relata que um tom muito agudo pode ser usado para disfarçar
falhas tonais;
• Boone(1987) relata que a maior parte dos indivíduos podem apresentar um tom
normal ao tossir ou rir.
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Causas Orgânicas
•
•
•
•
•
•
•
Laringe pequena ou voz natural de tenor (Greene, 1980);
Insuficiência testicular (Gonzàles,1990);
Atraso no desenvolvimento hormonal (Luchisinger e Arnbold, 1965);
Assimetrias laríngeas (weiss, 1950)
Deficiência auditiva profunda (Greene ,1980);
Doença debilitadora durante a puberdade, ou doença neurológica com
hipotonia ou incoordenação das pregas vocais ou da respiração (Aronson,
1980);
Diafragma laríngeo (Baker e Savetsky, 1966).
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CLASSIFICAÇÕES
Wilson (1991) cita Luchsinger(1965,p.193) que classificou os distúrbios de
mutação em meninos de acordo com três formas clínicas:
1. Mutação retardada- As alterações da muda só se estabelecem alguns anos
após o período normal;
2. Mutação prolongada - Os sinais clínicos da mudança da voz persistem por
alguns anos, ao contrário da normalidade que são poucos meses.
3. Mutação incompleta - A voz não evolui normalmente para uma voz adulta.
O uso continuado do tom agudo da infância é chamado de falsete
mutacional. Neste quadro a laringe se encontra em condições orgânicas normais e
ha uma constrição dos músculos cricotiroídeos e uma elevação de toda a laringe (
Arnold, 1966 ).
Behlau e Pontes ( 1993 ) complementam a classificação da muda vocal
com mais 2 tipos:
•
Mutação excessiva - A voz atinge um tom mais grave que o esperado,
geralmente na tentativa do indivíduo se mostrar adulto. Nas mulheres este
quadro pode surgir por problemas endócrinos.
•
Mutação precoce - Ocorre por fator orgânico, associado a um amadurecimento
sexual precoce.
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A característica vocal encontrada nas alterações da muda vocal são:
rouquidão, alteração da frequência fundamental, alterações de intensidade e
ressonância. Pinho (1998), diz que a voz possui um pitch anormalmente alto e
sonoridade pobre.
Se caracteriza geralmente com uma voz não compatível com a estrutura
física do falante.
Durante o processo da muda a voz fica discretamente rouca e instável,
com várias flutuações, tendendo a sons graves. As quebras de altura na voz são
um fenômeno comum que geralmente desaparecem completamente, após três ou
quatro meses.
As disfonias no sexo feminino durante a muda são mais raras, porém no
sexo masculino são mais freqüentes, também chamadas de puberfonia.
Luchinger e Arnold (1965) fazem um apelo válido de que o estudo formal
do canto seja adiado até bem depois da puberdade.
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IMAGEM VOCAL
O ser humano é dotado de várias características que o identificam como
um ser único. Não existem dois seres idênticos fisicamente, psicologicamente e
emocionalmente.
O indivíduo durante o seu desenvolvimento também forma seu caráter e
sua personalidade, e se torna um ser global com sua formação física, emocional e
moral.
A sociedade acompanha este desenvolvimento e identifica as pessoas
assim, com todas as suas características.
Dentre as características existem aquelas que são mais importantes para
a identificação de uma pessoa, como os olhos, a impressão digital, alguns
possuem algum sinal que chame atenção, entre outras.
A voz do ser humano é de grande importância também para identificarmos
um indivíduo, além disso ela traz uma carga emocional que revela alegria,
insegurança, mentira, tristeza e tantos outros sentimentos. A voz pode ser usada
para impor autoridade, confiança e competência.
Neste ponto se faz necessário parar e refletir na situação de um
adolescente. Um ser que tem crescido com todas as características e em um
determinado momento há uma mudança global que o faz deixar de ser criança
para se tomar um adulto.
Suas características físicas mudam, seus valores morais se confundem e
suas emoções estão no auge. Junto com todas estas mudanças ocorre o
crescimento da laringe e com isso uma alteração na altura vocal. Segundo Boone
( 1996 ) "a altura vocal é uma das principais características da voz que estabelece
a identidade e personalidade vocal ". Boone ( 1996 ) também diz que a altura da
voz é a "impressão digital" da voz.
Então pense, é altura da voz que muda no adolescente. Assim, como fica
sua imagem vocal ? E a imagem que os outros terão dele? Esta nova imagem
será aceita no seu meio social? Como lidar com esta mudança que o faz de uma
criança se tornar adulto ? Será que este adolescente está preparado para
enfrentar e aceitar todas estas modificações ?
Estas são questões essenciais que devem ser pensadas quando um
profissional se depara com um paciente dentro de um consultório com queixa de
alteração da muda vocal.
Geralmente o paciente procura ajuda com mais de 20 anos, depois de ter
passado todos os conflitos na adolescência, agora passa por mais um, corpo de
homem e voz de menino ou mesmo de mulher se altura vocal estiver muito
elevada.
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Esta alteração mais comum entre os homens traz muitas limitações na sua
vida profissional, pois a imagem vocal projetada é de um homem frágil, afeminado,
sem autoridade para liderar um grupo ou tomar decisões importantes. Na sua vida
social também porque a imagem que transparece muitas vezes é de uma pessoa
que não amadureceu e que não deve ser levada a sério.
Pensando na imagem vocal, o que ela pode passar para os outros e como
esta pessoa com alteração na muda vocal se sente, este assunto deve ser
encarado como de extrema importância.
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TRATAMENTO
Depois de uma avaliação e identificado causas funcionais a terapia deve
ser realizada.
Segundo Tabith (1993) é possível que logo na 1ª sessão o paciente emita
uma voz com a frequência fundamental grave, através da manipulação da laringe.
Wilson (1991) descreve como deve ser realizada a manipulação da
laringe:
1. O paciente deve levar a cabeça para trás e abrir bem a boca.
2. O terapeuta coloca o polegar e o dedo médio entre a cartilagem tireóide e o
osso hióide, e faz um movimento preciso para baixo com a laringe.
3. O terapeuta mantém a laringe baixa e pede ao paciente para emitir vogais ou
tossir com ataque vocal brusco.
Wilson (1991) cita Aronson (1973) que descreveu três objetivos para a
terapia da muda vocal.
• O terapeuta deve ensinar ao paciente uma fonação com tom grave.
• O terapeuta deve dizer que o novo tom grave deve ser utilizado e a antiga voz
deve ser evitada.
• O terapeuta deve perceber se a nova voz está confortável ao paciente e
incentivá-lo a usar a nova aquisição em situações específicas.
Wilson (1991) afirma que o tratamento deve ser realizado próximo aos 20
anos e diz que deve ser realizado um relaxamento de toda a área cervical, ombros
e braços.
Nos casos das alterações da muda vocal por causas orgânicas os
procedimentos serão realizado, quando possível, pelo o otorrinolaringologista.
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CONSIDERAÇÒES FINAIS
A muda vocal é de suma importância nos estudos da voz, pois é um
processo complexo, em que há mudança na estrutura laríngea, transformando
uma voz infantil em uma voz adulta, e esta se torna completamente diferente da
anterior, principalmente nos meninos.
A adolescência é um período do desenvolvimento em que o indivíduo
passa por muitos conflitos e a voz transparece toda esta carga emocional, por isso
é necessário que haja uma sincronia do desenvolvimento orgânico e psicológico
para que no fim desta etapa a voz possa ser instalada sem nenhuma alteração e
rejeição.
Este tema levanta algumas questões que precisam ser refletidas : os
fatores orgânicos e emocionais que levam a uma alteração da muda vocal e
também a imagem vocal deste indivíduo para si e para a sociedade.
Não há como tratarmos desta alteração sem levarmos em conta cada
aspecto citado. É preciso que vejamos o indivíduo como um ser global e não
somente a sua queixa, mas como gente que sente e necessita de ajuda,
encorajamento e a segurança de nós profissionais.
Devemos estar sempre atentos a este processo, sabendo identificar
qualquer alteração, pois faz parte de um desenvolvimento normal de todo
adolescente.
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