a música como motivação e atitude no processo de ensino

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A MÚSICA COMO MOTIVAÇÃO E ATITUDE NO PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO PROJOVEM
RAFAEL LOUREIRO FARIAS – UNICAP
0. Introdução:
O programa de inclusão de jovens, PROJOVEM, incentivado pelo Governo Federal, destina-se
aos jovens que não tiveram oportunidades de serem incluídos no mercado de trabalho e que, por motivos
diversos, não concluíram o ensino fundamental. Muitas dessas pessoas tiveram que abandonar a escola
quando ainda crianças e retornam aos estudo na fase adulta em busca de oportunidades no mercado de
trabalho e na sociedade.
As salas de aula do PROJOVEM são bastante, pois são compostas por alunos de nível
fundamental incompleto ou que ainda não iniciaram, sendo de situações sociais diferenciadas. Essas
características revelam o grau de dificuldade de cada aluno, principalmente em relação ao processo de
ensino-aprendizagem da língua estrangeira.
Esse trabalho se propõe a apresentar uma metodologia diferenciada no que diz respeito à
motivação no processo de ensino-aprendizagem do PROJOVEM. Para os alunos, uma atividade
trabalhada em sala de aula, diferente daquela vista por eles anteriormente, é uma forma de incentivá-los ao
interesse às aulas, especialmente quando tratamos da língua inglesa, a qual a grande maioria apresenta
dificuldades, não estando motivada para as aulas.
O uso da música é uma estratégia importante nesse processo de construção da língua inglesa, pois
torna as aulas mais descontraídas, e motiva-os ao uso do inglês em situações concretas. A música pode ser
explorada gramaticalmente como também utilizada de maneira interdisciplinar. Podem ser abordados
temas relacionados ao cotidiano desses jovens, que podem estar ligados ao âmbito político, social e
cultural. Todos estes assuntos devem ser explorados no texto, e, ainda, precisam ser interligados a temas
das demais disciplinas.
É interessante trabalhar dois ou mais estilos musicais, em que podemos comparar os tipos de
linguagem, variações lingüísticas e a estrutura gramatical existentes no texto, como também observar a
pronúncia. Geralmente, as músicas mais atuais, que são temas de novelas ou que se aproximam da
realidade dos alunos, despertam maior interesse, pois músicas deslocadas do contexto social e cultural dos
estudantes provocam aversão.
Há declarações positivas quanto à importância da música, considerando-a um veículo eficaz na
aprendizagem de língua estrangeira, em que os alunos adquirem melhor desenvolvimento na gramática, no
vocabulário, nas competências lingüísticas da leitura, da escrita e da fala, (JALONGO e BROMLEY,
1984; MARTIN, 1983). Os jovens aprendem línguas com alegria e entusiasmo através da música, tendo o
interesse despertado para a aprendizagem, mesmo quando chegam à sala de aula vencidos pelo cansaço
(SANTOS, 1980).
Evidentemente, o uso da música como estratégia afetiva para a aquisição de línguas pode ser
usada para baixar a ansiedade do aprendiz e facilitar a aprendizagem de um novo idioma, ou seja, a
música pode fazer parte das estratégias de memória, cognitivas, de compensação, metacognitivas e sociais
(OXFORD, 1990).
A música exerce um papel importante no processo de ensino-aprendizagem, ao ser trabalhada de
maneira lúdica, ou seja, quando o professor reúne dentro da mesma situação o brincar e o aprender. Há
uma necessidade de uma reflexão para desmistificar o papel da música. Ela deve deixar de ser tratada
como um mero passatempo, para se tornar estratégia valorizada pelos professores como ferramenta de
construção do saber do aluno. Através da música, é possível que muitas dificuldades dos educandos sejam
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ultrapassadas, já que se ouve com objetivos propostos para o grupo. Há uma necessidade do uso efetivo da
língua com um porquê e um para quê.
A proposta de trabalhar o texto da música na sala de aula de língua estrangeira deve ser de
maneira interdisciplinar com temas que se aproximem da realidade dos alunos, como ocorreu com alunos
do PROJOVEM.
A iniciativa de levar a música às salas de aula de língua estrangeira deixou evidente o quanto os
alunos se mostraram mais interessados pela disciplina e até mesmo mais curiosos no que diz respeito às
traduções e interpretações do texto musical. Diante disso, faz necessário refletir a importância de haver
aulas de língua inglesa mais atrativas para o aluno, unindo o aprender com o prazer. Vale ressaltar que não
se trata de um mero passatempo, mas sim de fazer perceber que a música pode ser explorada de diversas
formas nas aulas de língua estrangeira. Além de tornar as aulas mais divertidas e prazerosas pela melodia,
podem ser trabalhados os conteúdos gramaticais, a mensagem que do texto e questões culturais.
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A música como estratégia eficaz no processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa:
Há no conteúdo programático do PROJOVEM uma disciplina que além de abordar assuntos
relacionados ao cotidiano dos alunos, também discute temas sociais, culturais e políticos, fazendo uso de
uma integração interdisciplinar – que possibilita ao professor de língua estrangeira, trabalhar o texto
musical interligado às áreas de Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Português, Matemática, como
também em Qualificação para o Trabalho e Participação Cidadã – disciplinas estas que fazem parte deste
programa de inclusão de jovens.
Elaborar novas propostas numa visão interdisciplinar e buscar meios alternativos mais eficazes no
processo de ensino aprendizagem da segunda língua, como a utilização de textos musicais, leva a
resultados satisfatórios que podem proporcionar uma melhoria de resultados, pois a música é um veículo
que desenvolve a concentração, desperta a criatividade, amplia os conhecimentos culturais, sociais e
gramaticais, como também reduz o aspecto tenso que o ambiente possa ter no decorrer das atividades.
Para as habilidades de um novo idioma, as estratégias são ferramentas usadas para permitir o
desenvolvimento satisfatório do aprendiz. O que é essencial para sua competência comunicativa, melhor
proficiência e maior auto-confiança. Além disso, as estratégias de aprendizagem de língua inglesa também
são significativas em toda a aquisição da linguagem.
Se a criança ou o adulto não gostar do que estiver fazendo, se a aula for cansativa, a aprendizagem
diminuirá ou deixará de ocorrer, (PRADO, 1998). O resultado desejado pelo professor no processo de
ensino-aprendizagem está em oferecer uma aula mais agradável a todos, despertando, assim, a motivação
dos alunos, levando-os a ter maior interesse pela disciplina.
A proposta de colocar a música no processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa não deve
ser a de um ensino de língua centrado somente na música, pois a atitude banalizaria esta privilegiada
estratégia de ensino. A inserção cultural, a depreensão de um novo vocabulário, o aperfeiçoamento da
compreensão auditiva e o aprendizado de tópicos gramaticais são alguns dos objetivos capazes de serem
alcançados, através do uso da música no ensino de língua estrangeira, (ROSIN e TINOCO, 1998).
O professor, ao selecionar músicas que contenham no texto uma linguagem simples e de fácil
compreensão no que diz respeito ao assunto abordado, possibilita ao aluno a ter uma sensação de conforto
diante da disciplina de língua inglesa. O que evitaria uma futura frustração por não se sentir capaz de
aprender uma segunda língua.
Através da descoberta das experiências de vida, que nos fazem sentir mais vivos e nos trazem a
sensação de maior riqueza e significado de mundo, estaremos buscando nossa própria genialidade e nesse
momento, os alunos passarão a ficar contagiados pelo entusiasmo do professor. É hora, então, de usar
experiências simples, que representem situações significativas de aprendizagem – simples recursos e
acontecimentos da vida real – quanto mais estas experiências simples estiverem presentes na sala de aula,
maiores serão as chances de criarem raízes e operarem milagres em nossos alunos (ARMSTRONG, 1998).
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A observação de como se processa a escolha das estratégias depende de alguns fatores como: grau
de consciência, estágio e estilo da aprendizagem, expectativas do professor, estilo de aprendizagem em
geral, traços de personalidade e nível e motivação, como também a importância dos novos papéis do
professor: facilitador, ajudante, guia, consultor, conselheiro, coordenador, co-comunicador, pessoa que
levanta idéias e faz diagnósticos, salientando que o professor deve saber identificar estratégias de
aprendizagem em seus alunos, conduzindo sua educação nessas estratégias e ajudando o aluno a ser mais
independente (OXFORD, 1990).
1.1. O desenvolvimento das atividades musicais nas aulas de língua inglesa:
A princípio, foram analisadas duas turmas do PROJOVEM, correspondentes ao nível
fundamental. Estas análises foram iniciadas com debates feitos em sala de aula com os alunos, no contexto
geral sobre a disciplina de língua inglesa. Houve discussões sobre como eles se sentiam diante das
dificuldades na língua estrangeira, o que os levavam a ter aversão às aulas e conseqüentemente os
deixavam sem motivação ou qualquer interesse pela língua. Em seguida, foi possível verificar em qual o
estilo de vida cada um se adequava, numa conversa descontraída sobre diversos assuntos do cotidiano –
aspectos cultural, social e político.
Depois do debate, a aula de língua estrangeira foi apresentada de maneira que despertasse maior
interesse ao estudante: alguns textos musicais foram propostos para a aula – algumas músicas conhecidas
pelos alunos, outras que ainda não despertavam interesse. O texto das músicas abordava temas variados
relacionados aos assuntos atuais. De acordo com a realidade desses jovens, foi estudado em três aspectos:
a interpretação, a estrutura gramatical e as variações lingüísticas.
A música pode ser útil como recurso de aprendizagem de línguas por, pelo menos, duas razões:
primeiro, ela pode ser motivadora; segundo, o insumo da linguagem da música pode estar de acordo com
algumas razões existentes para a aquisição de línguas, tais como a simplicidade e semelhança que
apresenta, freqüentemente, com o discurso do aprendiz, (MURPHEY, 1990).
Durante muitas aulas, foi possível explorar o texto da música, não apenas de forma interpretativa
ou gramatical, mas também de maneira mais atrativa como a utilização de algumas palavras ou expressões
do texto para a elaboração de jogos interativos – bingos, palavras-cruzadas, dominós, caça-palavras e
dinâmicas adaptadas de “qual é a música?” (utilizada num programa televisivo). O desenvolvimento
dessas aulas foi satisfatório, pois muitos alunos se mostraram mais interessados e conseguiram superar
algumas dificuldades sobre o idioma, pois, a utilização de atividades lúdicas é fundamental para a
motivação no processo de ensino-aprendizagem da turma.
Depois de a música ser utilizada nas aulas de língua estrangeira, foi proposto aos alunos que eles
trouxessem nomes das músicas ou dos grupos musicais estrangeiros da língua inglesa da preferência deles.
Para a maioria, a melodia era o que mais importava, porém, depois do melhor aproveitamento da música –
explorar o texto de forma interdisciplinar e também de maneira cultural – houve uma nova visão a respeito
da música no processo de ensino-aprendizagem desses alunos.
Vale ressaltar que é importante aprender a música do nosso aluno e também ensiná-lo sobre nossa
música, pois a diferença que pode existir entre a geração do professor e de seus alunos não impede que
ambos venham a apreciar músicas mais antigas ou atuais.
A música é o reflexo de uma cultura, pois representam crenças, valores, hábitos, enfim, as
tradições de um povo. Além disso, a música pode contar a história de uma nação e aproximar as pessoas
de todo o mundo em torno de assuntos universais, como o amor, a mágoa, o ódio, a esperança, entre tantos
outros, o que faz da música um forte elo de comunicação entre as pessoas, (GRIFFEE, 1992).
Os professores, que trabalham com o método de utilizar textos musicais, devem ser cautelosos ao
selecionar músicas, considerando a precisão gramatical da letra e, também, a faixa etária do aluno, meio
social em que ele vive e nível de cultura.
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Analisar os resultados obtidos pelos alunos deve levar o professor a aprimorar, cada vez mais, a
maneira de repassar os conteúdos da disciplina, especificamente de língua estrangeira, rever suas práticas
pedagógicas, observar quais os materiais necessários para melhor aproveitar as aulas de língua inglesa
com o uso dos textos musicais, assim como também da música em si e, até mesmo, o relacionamento entre
os alunos e entre esses professores – que deve ser harmonioso para facilitar o processo de ensinoaprendizagem.
Avaliar nesse novo paradigma é dinamizar oportunidades de ação-reflexão, num acompanhamento
permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu processo de aprendizado, reflexões acerca
do mundo, formando seres críticos libertários e participativos na construção de verdades formuladas e
reformuladas.
Considerações Finais
A música serviu como estímulo à motivação dos alunos na aula de língua estrangeira, pois, grande
parte dos alunos do PROJOVEM se mostrou mais interessado pelas aulas de inglês – disciplina esta, vista
por eles, como a mais difícil de aprender –, mas pelo fato de participarem de uma aula mais dinâmica com
o uso da música, tornou-se possível uma interação maior dos alunos com o professor, que por sua vez,
explorou o texto da música no contexto gramatical e interpretativo de modo interdisciplinar. O fato da
maioria desses jovens trabalharem durante o dia e chegarem na escola já com uma certa exaustão – motivo
pelo qual, muitos alunos do PROJOVEM desistem ou assistem às aulas sem estímulo ou motivação,
entregando-se ao comodismo de não querer aprender, principalmente no que se refere à língua estrangeira
faz com que a música trabalhada da em sala de aula de forma adequada seja um veículo importante para
despertar o interesse na aprendizagem da língua inglesa, como também um caminho mais atrativo para a
construção do saber. O que os leva a refletir sobre determinados assuntos nas questões social, cultural e
também gramatical.
Cada música é uma cápsula de cultura, contendo uma significativa informação social, pode ser
vista como texto – poemas, contos e romances –, como também é um excelente recurso para ensinar
conversação, vocabulário, estruturas gramaticais, pronúncia (o que focaliza o interesse do aluno), entre
outros, ou seja, é uma grande auxiliar para a memorização e prática de modelos, (GRIFFEE, 1992).
A atitude interdisciplinar do professor nas aulas de língua estrangeira, com a utilização da música
na exploração do texto, proporcionou aos alunos um estímulo maior à motivação em se tratando da
disciplina de língua inglesa. Através dessa atitude, foi possível incentivar os alunos do PROJOVEM aos
debates acerca de temas atuais, como também motivá-los ao aprendizado do conteúdo gramatical, de
maneira a desenvolverem as habilidades da fala, da leitura e da capacidade crítica mais ampliada.
A música está presente na vida de todos os seres humanos, e ela também está presente na escola
para dar vida ao ambiente escolar, além de despertar nos alunos o senso crítico para o que ouvem e com
isso se reflete em sua vida(ONGARO e SILVA, 2006). É importante que o professor coloque nas aulas de
língua estrangeira, variedades em estilos musicais, que não estejam apenas de acordo com o gôsto dos
alunos, mas também que tenham uma finalidade de ampliar e facilitar o processo de ensino-aprendizagem,
despertando o senso crítico do aluno, através da utilização do texto da música.
O professor no processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira tem, em sua grande
maioria, expressado suas crenças, depois de experienciar o efeito que as músicas têm em suas aulas e têm
constatado as várias utilidades da música na aprendizagem, seja na motivação e prazer demonstrados pelos
aprendizes, seja na aprendizagem das várias habilidades no novo idioma, como também no estudo da
cultura e da literatura, (MURPHEY, 1990).
Referências
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ARMSTRONG, Thomas. How to awaken genius in the classroom. In: _________. Awakening genius in
the classroom. Alexandria, Virgínia: Association for Supervision and Curriculum Develipment, 1998.
GRIFFEE, Dale T. Song in action. Hertfordshire: Prentice Hall International (UK) Ltd. 1992.
JALONGO, M & BROMLEY, K. Developing Linguistic Competence Through Song. The reading
Teacher, 1984.
MARTIN, M. Success! Teaching spelling with music. Academic Therapy, 1983.
MURPHEY, Tim. Song and music in language learning: an analysis of pop song lyrics and the use of
song and music in teaching English to speakers of other language. Phd Dissertation: Sept. 1989. Bern,
Switzerland: Peter Long Publishers, 1990 a.
ONGARO, Carina de Faveri e SILVA, Cristiane de Souza. A importância da música na aprendizagem.
UNIMEO/CTESOP. 2006.
PRADO, Flávio de Almeida. Prazer, a energia dos vencedores. São Paulo: Mercuryo, 1998.
OXFORD, Rebecca L. Language Learning Strategies: What every teacher should know. Boston:
Heible & Heinle 1990.
ROSIN, Alessandra Ferreira e TINOCO, Bruno César Barbosa. O uso da música no ensino de língua
estrangeira. Licenciados de Letras Português – Alemão – UFRJ, 1998.
SANTOS, Sebastião dos. Manual Prático para o Ensino de Inglês. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1980.
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