2325 A MÚSICA COMO MOTIVAÇÃO E ATITUDE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA NO PROJOVEM RAFAEL LOUREIRO FARIAS – UNICAP 0. Introdução: O programa de inclusão de jovens, PROJOVEM, incentivado pelo Governo Federal, destina-se aos jovens que não tiveram oportunidades de serem incluídos no mercado de trabalho e que, por motivos diversos, não concluíram o ensino fundamental. Muitas dessas pessoas tiveram que abandonar a escola quando ainda crianças e retornam aos estudo na fase adulta em busca de oportunidades no mercado de trabalho e na sociedade. As salas de aula do PROJOVEM são bastante, pois são compostas por alunos de nível fundamental incompleto ou que ainda não iniciaram, sendo de situações sociais diferenciadas. Essas características revelam o grau de dificuldade de cada aluno, principalmente em relação ao processo de ensino-aprendizagem da língua estrangeira. Esse trabalho se propõe a apresentar uma metodologia diferenciada no que diz respeito à motivação no processo de ensino-aprendizagem do PROJOVEM. Para os alunos, uma atividade trabalhada em sala de aula, diferente daquela vista por eles anteriormente, é uma forma de incentivá-los ao interesse às aulas, especialmente quando tratamos da língua inglesa, a qual a grande maioria apresenta dificuldades, não estando motivada para as aulas. O uso da música é uma estratégia importante nesse processo de construção da língua inglesa, pois torna as aulas mais descontraídas, e motiva-os ao uso do inglês em situações concretas. A música pode ser explorada gramaticalmente como também utilizada de maneira interdisciplinar. Podem ser abordados temas relacionados ao cotidiano desses jovens, que podem estar ligados ao âmbito político, social e cultural. Todos estes assuntos devem ser explorados no texto, e, ainda, precisam ser interligados a temas das demais disciplinas. É interessante trabalhar dois ou mais estilos musicais, em que podemos comparar os tipos de linguagem, variações lingüísticas e a estrutura gramatical existentes no texto, como também observar a pronúncia. Geralmente, as músicas mais atuais, que são temas de novelas ou que se aproximam da realidade dos alunos, despertam maior interesse, pois músicas deslocadas do contexto social e cultural dos estudantes provocam aversão. Há declarações positivas quanto à importância da música, considerando-a um veículo eficaz na aprendizagem de língua estrangeira, em que os alunos adquirem melhor desenvolvimento na gramática, no vocabulário, nas competências lingüísticas da leitura, da escrita e da fala, (JALONGO e BROMLEY, 1984; MARTIN, 1983). Os jovens aprendem línguas com alegria e entusiasmo através da música, tendo o interesse despertado para a aprendizagem, mesmo quando chegam à sala de aula vencidos pelo cansaço (SANTOS, 1980). Evidentemente, o uso da música como estratégia afetiva para a aquisição de línguas pode ser usada para baixar a ansiedade do aprendiz e facilitar a aprendizagem de um novo idioma, ou seja, a música pode fazer parte das estratégias de memória, cognitivas, de compensação, metacognitivas e sociais (OXFORD, 1990). A música exerce um papel importante no processo de ensino-aprendizagem, ao ser trabalhada de maneira lúdica, ou seja, quando o professor reúne dentro da mesma situação o brincar e o aprender. Há uma necessidade de uma reflexão para desmistificar o papel da música. Ela deve deixar de ser tratada como um mero passatempo, para se tornar estratégia valorizada pelos professores como ferramenta de construção do saber do aluno. Através da música, é possível que muitas dificuldades dos educandos sejam 2326 ultrapassadas, já que se ouve com objetivos propostos para o grupo. Há uma necessidade do uso efetivo da língua com um porquê e um para quê. A proposta de trabalhar o texto da música na sala de aula de língua estrangeira deve ser de maneira interdisciplinar com temas que se aproximem da realidade dos alunos, como ocorreu com alunos do PROJOVEM. A iniciativa de levar a música às salas de aula de língua estrangeira deixou evidente o quanto os alunos se mostraram mais interessados pela disciplina e até mesmo mais curiosos no que diz respeito às traduções e interpretações do texto musical. Diante disso, faz necessário refletir a importância de haver aulas de língua inglesa mais atrativas para o aluno, unindo o aprender com o prazer. Vale ressaltar que não se trata de um mero passatempo, mas sim de fazer perceber que a música pode ser explorada de diversas formas nas aulas de língua estrangeira. Além de tornar as aulas mais divertidas e prazerosas pela melodia, podem ser trabalhados os conteúdos gramaticais, a mensagem que do texto e questões culturais. 1 A música como estratégia eficaz no processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa: Há no conteúdo programático do PROJOVEM uma disciplina que além de abordar assuntos relacionados ao cotidiano dos alunos, também discute temas sociais, culturais e políticos, fazendo uso de uma integração interdisciplinar – que possibilita ao professor de língua estrangeira, trabalhar o texto musical interligado às áreas de Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Português, Matemática, como também em Qualificação para o Trabalho e Participação Cidadã – disciplinas estas que fazem parte deste programa de inclusão de jovens. Elaborar novas propostas numa visão interdisciplinar e buscar meios alternativos mais eficazes no processo de ensino aprendizagem da segunda língua, como a utilização de textos musicais, leva a resultados satisfatórios que podem proporcionar uma melhoria de resultados, pois a música é um veículo que desenvolve a concentração, desperta a criatividade, amplia os conhecimentos culturais, sociais e gramaticais, como também reduz o aspecto tenso que o ambiente possa ter no decorrer das atividades. Para as habilidades de um novo idioma, as estratégias são ferramentas usadas para permitir o desenvolvimento satisfatório do aprendiz. O que é essencial para sua competência comunicativa, melhor proficiência e maior auto-confiança. Além disso, as estratégias de aprendizagem de língua inglesa também são significativas em toda a aquisição da linguagem. Se a criança ou o adulto não gostar do que estiver fazendo, se a aula for cansativa, a aprendizagem diminuirá ou deixará de ocorrer, (PRADO, 1998). O resultado desejado pelo professor no processo de ensino-aprendizagem está em oferecer uma aula mais agradável a todos, despertando, assim, a motivação dos alunos, levando-os a ter maior interesse pela disciplina. A proposta de colocar a música no processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa não deve ser a de um ensino de língua centrado somente na música, pois a atitude banalizaria esta privilegiada estratégia de ensino. A inserção cultural, a depreensão de um novo vocabulário, o aperfeiçoamento da compreensão auditiva e o aprendizado de tópicos gramaticais são alguns dos objetivos capazes de serem alcançados, através do uso da música no ensino de língua estrangeira, (ROSIN e TINOCO, 1998). O professor, ao selecionar músicas que contenham no texto uma linguagem simples e de fácil compreensão no que diz respeito ao assunto abordado, possibilita ao aluno a ter uma sensação de conforto diante da disciplina de língua inglesa. O que evitaria uma futura frustração por não se sentir capaz de aprender uma segunda língua. Através da descoberta das experiências de vida, que nos fazem sentir mais vivos e nos trazem a sensação de maior riqueza e significado de mundo, estaremos buscando nossa própria genialidade e nesse momento, os alunos passarão a ficar contagiados pelo entusiasmo do professor. É hora, então, de usar experiências simples, que representem situações significativas de aprendizagem – simples recursos e acontecimentos da vida real – quanto mais estas experiências simples estiverem presentes na sala de aula, maiores serão as chances de criarem raízes e operarem milagres em nossos alunos (ARMSTRONG, 1998). 2327 A observação de como se processa a escolha das estratégias depende de alguns fatores como: grau de consciência, estágio e estilo da aprendizagem, expectativas do professor, estilo de aprendizagem em geral, traços de personalidade e nível e motivação, como também a importância dos novos papéis do professor: facilitador, ajudante, guia, consultor, conselheiro, coordenador, co-comunicador, pessoa que levanta idéias e faz diagnósticos, salientando que o professor deve saber identificar estratégias de aprendizagem em seus alunos, conduzindo sua educação nessas estratégias e ajudando o aluno a ser mais independente (OXFORD, 1990). 1.1. O desenvolvimento das atividades musicais nas aulas de língua inglesa: A princípio, foram analisadas duas turmas do PROJOVEM, correspondentes ao nível fundamental. Estas análises foram iniciadas com debates feitos em sala de aula com os alunos, no contexto geral sobre a disciplina de língua inglesa. Houve discussões sobre como eles se sentiam diante das dificuldades na língua estrangeira, o que os levavam a ter aversão às aulas e conseqüentemente os deixavam sem motivação ou qualquer interesse pela língua. Em seguida, foi possível verificar em qual o estilo de vida cada um se adequava, numa conversa descontraída sobre diversos assuntos do cotidiano – aspectos cultural, social e político. Depois do debate, a aula de língua estrangeira foi apresentada de maneira que despertasse maior interesse ao estudante: alguns textos musicais foram propostos para a aula – algumas músicas conhecidas pelos alunos, outras que ainda não despertavam interesse. O texto das músicas abordava temas variados relacionados aos assuntos atuais. De acordo com a realidade desses jovens, foi estudado em três aspectos: a interpretação, a estrutura gramatical e as variações lingüísticas. A música pode ser útil como recurso de aprendizagem de línguas por, pelo menos, duas razões: primeiro, ela pode ser motivadora; segundo, o insumo da linguagem da música pode estar de acordo com algumas razões existentes para a aquisição de línguas, tais como a simplicidade e semelhança que apresenta, freqüentemente, com o discurso do aprendiz, (MURPHEY, 1990). Durante muitas aulas, foi possível explorar o texto da música, não apenas de forma interpretativa ou gramatical, mas também de maneira mais atrativa como a utilização de algumas palavras ou expressões do texto para a elaboração de jogos interativos – bingos, palavras-cruzadas, dominós, caça-palavras e dinâmicas adaptadas de “qual é a música?” (utilizada num programa televisivo). O desenvolvimento dessas aulas foi satisfatório, pois muitos alunos se mostraram mais interessados e conseguiram superar algumas dificuldades sobre o idioma, pois, a utilização de atividades lúdicas é fundamental para a motivação no processo de ensino-aprendizagem da turma. Depois de a música ser utilizada nas aulas de língua estrangeira, foi proposto aos alunos que eles trouxessem nomes das músicas ou dos grupos musicais estrangeiros da língua inglesa da preferência deles. Para a maioria, a melodia era o que mais importava, porém, depois do melhor aproveitamento da música – explorar o texto de forma interdisciplinar e também de maneira cultural – houve uma nova visão a respeito da música no processo de ensino-aprendizagem desses alunos. Vale ressaltar que é importante aprender a música do nosso aluno e também ensiná-lo sobre nossa música, pois a diferença que pode existir entre a geração do professor e de seus alunos não impede que ambos venham a apreciar músicas mais antigas ou atuais. A música é o reflexo de uma cultura, pois representam crenças, valores, hábitos, enfim, as tradições de um povo. Além disso, a música pode contar a história de uma nação e aproximar as pessoas de todo o mundo em torno de assuntos universais, como o amor, a mágoa, o ódio, a esperança, entre tantos outros, o que faz da música um forte elo de comunicação entre as pessoas, (GRIFFEE, 1992). Os professores, que trabalham com o método de utilizar textos musicais, devem ser cautelosos ao selecionar músicas, considerando a precisão gramatical da letra e, também, a faixa etária do aluno, meio social em que ele vive e nível de cultura. 2328 Analisar os resultados obtidos pelos alunos deve levar o professor a aprimorar, cada vez mais, a maneira de repassar os conteúdos da disciplina, especificamente de língua estrangeira, rever suas práticas pedagógicas, observar quais os materiais necessários para melhor aproveitar as aulas de língua inglesa com o uso dos textos musicais, assim como também da música em si e, até mesmo, o relacionamento entre os alunos e entre esses professores – que deve ser harmonioso para facilitar o processo de ensinoaprendizagem. Avaliar nesse novo paradigma é dinamizar oportunidades de ação-reflexão, num acompanhamento permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu processo de aprendizado, reflexões acerca do mundo, formando seres críticos libertários e participativos na construção de verdades formuladas e reformuladas. Considerações Finais A música serviu como estímulo à motivação dos alunos na aula de língua estrangeira, pois, grande parte dos alunos do PROJOVEM se mostrou mais interessado pelas aulas de inglês – disciplina esta, vista por eles, como a mais difícil de aprender –, mas pelo fato de participarem de uma aula mais dinâmica com o uso da música, tornou-se possível uma interação maior dos alunos com o professor, que por sua vez, explorou o texto da música no contexto gramatical e interpretativo de modo interdisciplinar. O fato da maioria desses jovens trabalharem durante o dia e chegarem na escola já com uma certa exaustão – motivo pelo qual, muitos alunos do PROJOVEM desistem ou assistem às aulas sem estímulo ou motivação, entregando-se ao comodismo de não querer aprender, principalmente no que se refere à língua estrangeira faz com que a música trabalhada da em sala de aula de forma adequada seja um veículo importante para despertar o interesse na aprendizagem da língua inglesa, como também um caminho mais atrativo para a construção do saber. O que os leva a refletir sobre determinados assuntos nas questões social, cultural e também gramatical. Cada música é uma cápsula de cultura, contendo uma significativa informação social, pode ser vista como texto – poemas, contos e romances –, como também é um excelente recurso para ensinar conversação, vocabulário, estruturas gramaticais, pronúncia (o que focaliza o interesse do aluno), entre outros, ou seja, é uma grande auxiliar para a memorização e prática de modelos, (GRIFFEE, 1992). A atitude interdisciplinar do professor nas aulas de língua estrangeira, com a utilização da música na exploração do texto, proporcionou aos alunos um estímulo maior à motivação em se tratando da disciplina de língua inglesa. Através dessa atitude, foi possível incentivar os alunos do PROJOVEM aos debates acerca de temas atuais, como também motivá-los ao aprendizado do conteúdo gramatical, de maneira a desenvolverem as habilidades da fala, da leitura e da capacidade crítica mais ampliada. A música está presente na vida de todos os seres humanos, e ela também está presente na escola para dar vida ao ambiente escolar, além de despertar nos alunos o senso crítico para o que ouvem e com isso se reflete em sua vida(ONGARO e SILVA, 2006). É importante que o professor coloque nas aulas de língua estrangeira, variedades em estilos musicais, que não estejam apenas de acordo com o gôsto dos alunos, mas também que tenham uma finalidade de ampliar e facilitar o processo de ensino-aprendizagem, despertando o senso crítico do aluno, através da utilização do texto da música. O professor no processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira tem, em sua grande maioria, expressado suas crenças, depois de experienciar o efeito que as músicas têm em suas aulas e têm constatado as várias utilidades da música na aprendizagem, seja na motivação e prazer demonstrados pelos aprendizes, seja na aprendizagem das várias habilidades no novo idioma, como também no estudo da cultura e da literatura, (MURPHEY, 1990). Referências 2329 ARMSTRONG, Thomas. How to awaken genius in the classroom. In: _________. Awakening genius in the classroom. Alexandria, Virgínia: Association for Supervision and Curriculum Develipment, 1998. GRIFFEE, Dale T. Song in action. Hertfordshire: Prentice Hall International (UK) Ltd. 1992. JALONGO, M & BROMLEY, K. Developing Linguistic Competence Through Song. The reading Teacher, 1984. MARTIN, M. Success! Teaching spelling with music. Academic Therapy, 1983. MURPHEY, Tim. Song and music in language learning: an analysis of pop song lyrics and the use of song and music in teaching English to speakers of other language. Phd Dissertation: Sept. 1989. Bern, Switzerland: Peter Long Publishers, 1990 a. ONGARO, Carina de Faveri e SILVA, Cristiane de Souza. A importância da música na aprendizagem. UNIMEO/CTESOP. 2006. PRADO, Flávio de Almeida. Prazer, a energia dos vencedores. São Paulo: Mercuryo, 1998. OXFORD, Rebecca L. Language Learning Strategies: What every teacher should know. Boston: Heible & Heinle 1990. ROSIN, Alessandra Ferreira e TINOCO, Bruno César Barbosa. O uso da música no ensino de língua estrangeira. Licenciados de Letras Português – Alemão – UFRJ, 1998. SANTOS, Sebastião dos. Manual Prático para o Ensino de Inglês. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1980.