o papel do enfermeiro intensivista no pós

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O PAPEL DO ENFERMEIRO INTENSIVISTA NO PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO DE
REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO
Lívia Oliveira Carvalho ²
Milena Lopes de Souza ²
RESUMO
A cirurgia de Revascularização do Miocárdio se constitui como um tratamento para o Infarto
Agudo do Miocárdio com a finalidade de reestabelecer o fluxo sanguíneo proporcionando
melhora dos sintomas, aumento da qualidade de vida e melhora do prognóstico. O pós-operatório
imediato consiste nas primeiras 24 horas após o procedimento, no qual o paciente é submetido
aos cuidados contínuos de enfermagem. O objetivo deste artigo é identificar os cuidados
oferecidos pelos enfermeiros intensivistas aos pacientes no pós-operatório imediato de
revascularização do miocárdio. Trata-se de uma revisão de literatura integrativa, onde foram
analisados 14 artigos e 2 livros. O enfermeiro se mostrou como uma a peça imprescindível para
uma assistência eficaz, pois o mesmo é o profissional incumbido pela atenção prestada nas
primeiras 24 horas, avaliando suas necessidades e expectativas. A equipe de enfermagem tem
como base os cuidados e estes devem ser direcionados a fim de proporcionar o controle
hemodinâmico e a prevenção de complicações que prologam o internamento e elevam os custos
da assistência. Percebe-se uma escassez de publicações de enfermagem referentes ao assunto,
portanto não foi identificado literatura que apresentasse discrepância quanto aos cuidados de
enfermagem nas diversas técnicas.
Palavra-chave: Revascularização do miocárdio. Cuidados de enfermagem. Pós-operatório.
Unidade de terapia intensiva.
_____________________________________________________________________________
1 Trabalho de conclusão do curso de especialização em Enfermagem em Cardiologia da Atualiza Cursos.
2 Enfermeiros, discentes do curso de especialização em Enfermagem em Cardiologia da Atualiza Cursos.
Artigo apresentado a Atualiza Cursos, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Enfermagem
em Cardiologia, sob orientação do Professor Max Lima.
2
1 INTRODUÇÃO
As doenças cardiovasculares isquêmicas são consideradas a principal causa de morte e invalidez
no mundo ocidental, destacando-se entre elas, o infarto agudo do miocárdio (IAM).
O
aumento da expectativa de vida, doenças crônicas como hipertensão arterial e diabetes mellitus,
obesidade e sedentarismo são fatores de risco que veem contribuindo com a elevada incidência
destas patologias (CARVALHO et al., 2006).
Dados do DATASUS indicam que no ano de 2009 as doenças cardiovasculares foram a primeira
causa de óbito no Brasil, acometendo cerca de 83.422 pessoas, a terceira causa de internação, e a
de maior custo para o Governo (BRASIL, 2013).
A doença arterial coronariana manifesta-se principalmente através da angina, dor provocada pela
isquemia miocárdica após um desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio pelo órgão.
Seu principal mecanismo patogênico é a obstrução da artéria coronária por placas de ateroma,
podendo levar a vários graus de insuficiência coronariana (CARVALHO et al., 2006).
De acordo com Benedito e Marques (2009), a Revascularização Miocárdica (RM) é a restauração
do fluxo sanguíneo realizada em pacientes com insuficiência coronária através de enxertos
arteriais, venosos ou ambos. O objetivo da cirurgia é preservar a função do órgão proporcionando
maior sobrevida, alívio dos sintomas e melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Por se tratar de uma cirurgia de grande porte, o pós-operatório imediato da RM é realizado na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), pois os pacientes estão sujeitos a diversas complicações,
necessitando, portanto, de cuidados fundamentados e contínuos de enfermagem.
O objetivo deste artigo é identificar os cuidados oferecidos pelos enfermeiros intensivistas aos
pacientes no pós-operatório imediato de RM. Sua relevância é justificada pelo fato de que o
conhecimento destes cuidados possibilita à equipe o planejamento de suas ações assistenciais
antecipando-se às possíveis complicações além de proporcionar uma revisão de saberes que
traduz-se em melhorias para a qualidade da assistência.
3
2 METODOLOGIA
Este estudo se trata de uma revisão bibliográfica, visto que analisa a produção científica
relacionada à temática escolhida num determinado período de tempo, fornecendo uma visão geral
sobre o assunto. Para isso, foram feitas análises de literaturas relevantes que dão suporte para a
tomada de decisão do enfermeiro e a melhoria da prática clínica (MENDES, 2008).
Para o levantamento das publicações foi realizada uma pesquisa eletrônica nas bases de dados da
SciELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências de Saúde) e BIREME (Biblioteca Regional de Medicina), e em livros
acadêmicos durante o período de novembro e dezembro de 2013.
A busca de artigos foi feita através dos unitermos “cuidados de enfermagem”, “pós-operatório”,
“revascularização do miocárdio” e “unidade de terapia intensiva”, inseridos nos Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS) presentes no site da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
Foram determinados como critérios de inclusão artigos que atendessem ao objetivo do estudo,
indexados em periódicos brasileiros de enfermagem e publicados entre o período de 2003 a 2013,
em texto completo e em língua portuguesa.
Por se tratar de uma revisão de literatura, esta pesquisa não foi submetida ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) e os autores das publicações encontradas foram devidamente citados, como
direito garantido pelo Art. 1º da Lei n° 9610/98 (BRASIL, 1998) e pelo Art. 91 da Resolução n°
311/2007 do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CONSELHO FEDERAL DE
ENFERMAGEM, 2007).
4
3 RESULTADO E DISCUSSÃO
3.1 Anatomia e fisiologia cardíaca
O coração é um órgão muscular oco localizado entre os pulmões. Através de contrações rítmicas
(sístole) e relaxamento da parede muscular (diástole) realiza a sua função de bombear o sangue
para os demais órgãos e tecidos, suprindo-os com oxigênio e nutrientes. Anatomicamente é
composto por três camadas: endocárdio, camada que reveste a parte interior e as válvulas;
miocárdio, camada média formada por fibras musculares responsáveis pelo bombeamento do
sangue; e o epicárdio que é a camada exterior. Ainda é envolto por um saco fibroso fino
denominado de pericárdio (SMELTZER; BARE, 2011; GUYTON; HALL, 2011).
Interiormente possui 4 compartimentos que formam o sistema de bombeamento direito e
esquerdo. O lado direito é composto pelos átrio e ventrículo direitos, responsáveis por distribuir o
sangue venoso desoxigenado para os pulmões através da artéria pulmonar. O lado esquerdo é
composto pelo átrio e ventrículo esquerdos e recebe o sangue rico em oxigênio, distribuindo-o
para o restante do corpo através da artéria aorta. Para que o sangue flua em uma única direção,
existem as válvulas cardíacas (atrioventricular e semilunar) que abrem e fecham em resposta ao
movimento do sangue (SMELTZER; BARE, 2011).
O sistema de condução cardíaco gera, coordena e transmite os impulsos elétricos necessários para
as contrações atrioventriculares. Esses impulsos são iniciados pelo nodo sinoatrial e conduzidos
pelas vias internoidais provocando a contração dos átrios. Em seguida são conduzidos para o
nodo atrioventricular que retransmite o impulso para os ventrículos (SMELTZER; BARE, 2011;
GUYTON; HALL, 2011).
Para suprir suas camadas musculares, o coração tem um sistema de irrigação próprio composto
pelas artérias coronárias direita e esquerda e seus ramos. O órgão possui uma grande demanda
metabólica, utilizando cerca de 70 a 80% do sangue oxigenado que perfunde suas artérias no
momento da diástole (SMELTZER; BARE, 2011).
A artéria coronária esquerda forma-se no arco aórtico e bifurca-se em mais dois ramos: artéria
descendente anterior esquerda, que irriga a parede anterior do coração; e a artéria circunflexa, que
5
circunda sua parede lateral esquerda. Já a artéria coronária direita progride a partir do arco aórtico
até a parede inferior do coração, com um ramo adicional chamado de artéria descendente
posterior. O sangue venoso retorna ao coração através dos seios coronários, formados pelas veias
localizadas principalmente na região posterior do átrio direito (SMELTZER; BARE, 2011;
GUYTON; HALL, 2011).
Smeltzer e Bare (2011) afirmam que a própria anatomia tortuosa das artérias coronárias propicia
o surgimento da aterosclerose, pois se torcem e se viram para suprir todo o coração criando áreas
suscetíveis à formação do ateroma.
3.1.2 Doença Arterial Coronariana
A DAC é a patologia cardiovascular que mais acomete os adultos, sendo na maioria das vezes
causada pela aterosclerose. O depósito de lipídios e tecido fibroso na camada íntima da parede
arterial leva a uma resposta inflamatória repetitiva, ocasionando a atração de células inflamatórias,
principalmente os macrófagos e plaquetas, dando inicio a um processo de coagulação dentro do
vaso (SMELTZER; BARE, 2011; SADE; MAIA, 2012).
Como uma forma de proteger a artéria, as células musculares lisas proliferam e formam uma capa
fibrosa (ateroma) sobre o tecido lesado, que se projeta para o lúmen do vaso, causando
estreitamento e obstrução, e reduzindo o fluxo sanguíneo. O ateroma também pode se romper
causando uma hemorragia, assim, com o propósito de cessar essa hemorragia, as plaquetas
formam um trombo e este trombo pode obstruir o fluxo sanguíneo dando origem a uma isquemia
no miocárdio - Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) (GUYTON; HALL, 2011).
A progressão de uma isquemia miocárdica não solucionada causa vários graus de disfunção no
músculo devido à degeneração e substituição do tecido normal por um tecido cicatricial. Além
disso, com o músculo lesado o débito cardíaco diminui e o coração pode não suportar as
necessidades corporais de sangue, originando uma insuficiência cardíaca (SMELTZER; BARE,
2011).
3.1.3 Revascularização
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O tratamento da DAC visa reestabelecer o fluxo sanguíneo, promovendo alívio sintomático,
melhora do prognóstico e aumento da qualidade de vida. As opções terapêuticas indicadas
incluem a terapia medicamentosa, mais conservadora, ou procedimentos invasivos, como as
intervenções coronarianas percutâneas e a cirurgia de revascularização miocárdica (PIEGAS;
BITTAR; HADDAD, 2009).
A intervenção coronariana percutânea é o tratamento não cirúrgico da DAC por meio de um
cateter balão que é insuflado dentro da artéria lesionada até “rachar” o ateroma permitindo a
passagem do fluxo sanguíneo ao coração. Esse procedimento possui alta incidência de reestenose,
e para minimizá-las foram desenvolvidos os stents.
O stent é uma espécie de malha metálica
entrelaçada que fornece suporte a um vaso em risco de fechamento. Pode ser do tipo
convencional ou do tipo farmacológico, com liberação lenta de medicação antiplaquetária
(DEVITO; MARIN-NETO; MATTOS, 2008; MOURA, 2003).
A cirurgia de revascularização miocárdica (RM) é a modalidade de tratamento mais frequente no
Brasil (PIEGAS; BITTAR; HADDAD, 2009). Nos séculos 19 e 20, este procedimento cirúrgico
era considerado impossível. A partir de 1950, a circulação extracorpórea (CEC) se desenvolveu e
passou a ser muito utilizada na prática clínica. Em 1951 foi proposto o desenvolvimento de
circulação colateral, implantando a artéria torácica interna na musculatura do ventrículo esquerdo.
Essa técnica foi bem sucedida e por vários anos se tornou o principal tratamento da angina. Desde
1960 a cirurgia cardíaca ganhou grande visibilidade e se constituiu no tratamento padrão da DAC
em diversos casos, pois possibilita a abordagem de todas as artérias comprometidas e mantém
bons resultados em médio e longo prazos (DALLAN; JATENE, 2013).
Estudos demonstram que 90% dos pacientes pós RM apresentam melhora da função cardíaca e
60% apresentam eliminação da angina, resultando em melhora da qualidade de vida (IGLÉZIAS
et al., 2005).
A RM ou “ponte de safena”, como é popularmente conhecida, pode ser definida como um
procedimento cirúrgico reconstrutor de alta complexidade em que um vaso sanguíneo de outra
parte do corpo é enxertado na artéria ocluída, funcionando como uma “ponte” que levará o
sangue até a área isquêmica. (SADE; MAIA, 2012) De acordo com Smeltzer e Bare (2011),
a
RM é indicada quando a oclusão atinge cerca de 60% da artéria coronária esquerda ou 70% das
demais artérias.
7
A escolha do enxerto deve levar em conta uma série de fatores, dentre eles o estado das
coronárias, comorbidades e situação clínica do paciente. O vaso mais utilizado é a veia safena,
sendo a primeira escolha a magna, seguida da parva e da cefálica. Apesar de serem uma boa
alternativa devido à facilidade de captação, essas veias apresentam grande risco de reobstrução
entre 5 a 10 anos, podendo levar à necessidade de nova intervenção cirúrgica (SADE; MAIA,
2012).
Enxertos arteriais são preferíveis porque não desenvolvem alterações ateroscleróticas tão
rapidamente, permanecendo permeáveis por mais tempo. Em contrapartida, sua obtenção é mais
demorada, prolongando o tempo operatório e aumentando o risco de sangramento e espasmo.
Dentre os enxertos arteriais, os mais comuns são da artéria radial, torácica interna e mamária. A
artéria torácica interna é considerada padrão-ouro para a cirurgia, com excelentes resultados.
(BENEDITO; MARQUES, 2009)
Geralmente a cirurgia é realizada através de esternotomia, podendo-se empregar ou não o uso de
circulação extracorpórea (CEC). A cirurgia com CEC permite que o procedimento seja realizado
com coração totalmente parado pois emprega um sistema artificial de circulação sanguínea,
substituindo o bombeamento e oxigenação do sangue realizados pelo coração. No entanto este
procedimento favorece o aumento das proteínas de coagulação (fator associado a sangramentos
pós-operatório) e ao aparecimento de trombose, devido ao contato com superfície estranha
(BENEDITO; MARQUES, 2009).
Estes mesmos autores explicam que na cirurgia sem CEC são empregados estabilizadores de
superfície que facilitam a realização do procedimento com o coração em movimento. Esta técnica
se apresenta mais confiável por apresentar menos complicações, redução da morbimortalidade,
menor ocorrência de trauma e menor tempo de internação na UTI.
Também é possível realizar uma cirurgia minimamente invasiva através de incisões menores, e
sem o uso de CEC. Quando indicada, traz grandes benefícios ao paciente como a redução do
tempo anestésico e de internação, menor índice de transfusão, menor manipulação da aorta e
ausência dos efeitos nocivos da CEC (BENEDITO; MARQUES, 2009).
A cirurgia de RM tem mostrado melhorar a sobrevida de pacientes com DAC grave. No entanto,
vários estudos demonstram que após a cirurgia ainda há significativa taxa de complicações
pós-operatórias. (LEDUR; et al. 2011).
8
Para Carvalho et al. (2006), as complicações mais presentes no pós operatório são as
cardiovasculares, pulmonares e neurológicas. Dentre as complicações cardiovasculares, as mais
frequentes estão relacionadas à função, ritmo cardíaco e alteração vascular, sendo a fibrilação
atrial (FA) a mais frequente (atinge de 20% a 40% dos pacientes) (OLIVEIRA et al., 2010;
SILVA et al., 2004).
A segunda complicação mais frequente são as pulmonares: pneumotórax, saturação diminuída,
hipóxia, derrame pleural e insuficiência respiratória. Apesar de frequentes, as complicações
pulmonares são menos graves, exceto em pacientes com doença pulmonar crônica. O terceiro
problema pós operatório que se mostra com frequência são os neurológicos: acidente vascular
encefálico (AVE), confusão mental e lesão cerebral difusa. São causadas por êmbolos de aorta
aterosclerótica e de outros vasos (CARVALHO et al., 2006).
Para estes autores, uma outra complicação inerente ao risco cirúrgico é o sangramento excessivo
devido ao aumento das proteínas de coagulação e está relacionando com a idade avançada. Em
relação aos fatores de risco os mais comumente encontrados são sexo masculino, idade avançada,
IAM prévio, hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia, tabagismo, diabete mellitus
(DM), angina instável e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) (OLIVEIRA et al., 2010;
SILVA et al., 2004).
3.2 CUIDADOS DE ENFERMAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO
Pelo grande risco de complicações, os pacientes submetidos à RM são estabilizados
hemodinamicamente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), requerendo uma assistência de
enfermagem contínua e integral para sua recuperação (SADE; MAIA, 2012; LAMAS, 2009).
O sucesso do procedimento depende de diversos fatores, sendo um deles a assistência prestada no
pós-operatório imediato, que corresponde às primeiras 24 horas após o procedimento. Este
período é fundamental para a estabilização e recuperação do paciente, com a oferta de cuidados
em unidade especializada e a assistência voltada para a prevenção de complicações (SADE;
MAIA, 2012; LAMAS; SILVA; SILVA, 2009).
9
Um elo de comunicação entre a equipe cirúrgica e a equipe assistencial deve ser a conduta inicial,
pois informações acerca da cirurgia auxiliam o enfermeiro intensivista a planejar, prever e prover
os cuidados imediatos que serão necessários bem como estar de prontidão para atender situações
inusitadas (SADE; MAIA, 2012; CARVALHO et al., 2006).
Ao chegar à UTI o paciente deve ser cuidadosamente posicionado no leito, com a cabeceira
elevada a 45º e as grades laterais suspensas. A ventilação mecânica deve estar regulada com os
parâmetros adequados ao paciente, e a posição do tubo endotraqueal verificada. Drenos e sondas
devem ser observados quanto ao posicionamento e quanto às suas secreções e exsudatos,
atentando-se para aspectos como cor, odor e quantidade. O cuidado com a temperatura do
paciente também é importante já que variações extremas podem prejudicar a sua recuperação
(SADE; MAIA, 2012; JOÃO; FARIA JR, 2003).
A monitorização contínua do paciente tem a função de assegurar o seu controle hemodinâmico, e
faz parte das atribuições do enfermeiro. Verificação do ritmo cardíaco, medida direta da pressão
arterial média (PAM) e da pressão venosa central (PVC), débito urinário via sonda vesical de
demora, parâmetros respiratórios e glicemia capilar são alguns itens que devem ser
frequentemente observados. Alguns pacientes podem ter instalado um cateter de Swan-Ganz para
medida da pressão de átrio esquerdo e de artéria pulmonar. O enfermeiro deve estar habilitado
para identificar qualquer alteração em um desses itens, bem como saber atuar em casos de
intercorrências (JOAO; FARIA JR, 2003).
Durante a admissão na UTI é realizada uma avaliação completa do paciente direcionando o
exame físico à identificação precoce de alterações nos sistemas neurológico, cardiovascular, renal
e gastrintestinal. O estado neurológico deve ser avaliado através da escala de coma de Glasgow
ou de Ramsey, verificando o nível de responsividade e a reação motora. Parâmetros como
tamanho e reação à luz das pupilas, presença de reflexos, simetria facial e força motora também
são utilizados. Anormalidades nestes parâmetros podem indicar lesões cerebrovasculares
causadas por hipoperfusão ou deslocamento de êmbolos (SMELTZER; BARE, 2011;
CARVALHO et al., 2006).
O sistema cardiovascular é o que mais apresenta complicações pós-operatórias e deve ser
examinado atentamente. Ritmo e frequência cardíaca, PAM e PVC, estado do marcapasso (se
instalado) e pressão da artéria pulmonar devem ser constantemente verificados. Pulsos periféricos,
10
coloração da pele e mucosas e presença de edemas não devem ser menosprezados pois também
oferecem informações importantes acerca das condições do paciente.
Aranki et al. apud
Braunwald, Zipes e Libby (2003) afirmam que as arritmias são frequentes neste período, podendo
causar instabilidade hemodinâmica e aumentando o risco de embolia e acidente vascular
encefálico (AVE) (SMELTZER; BARE, 2011).
Ao avaliar o sistema respiratório, o enfermeiro deve verificar os movimentos torácicos e os sons
respiratórios, parâmetros do ventilador, frequência respiratória, saturação de oxigênio arterial,
saturação de oxigênio percutânea, CO², drenagem pleural no dreno de tórax e gasometria arterial.
A principal meta no POI consiste em manter a ventilação adequada evitando a hipoxemia e a
hipercapnia (SMELTZER; BARE, 2011).
A função renal é avaliada através do débito urinário, aspectos da urina (cor, densidade e
osmolaridade), assim como o estado hidroeletrolítico. Alguns aspectos do procedimento cirúrgico
como o uso de CEC, o clampeamento da aorta e a duração da cirurgia estão correlacionados com
o aumento na incidência de insuficiência renal aguda. Este índice corrobora a importância de
informações relacionadas à cirurgia para uma melhoria da assistência no período pós operatório
(CARVALHO et al., 2006).
A avaliação da função gastrintestinal inclui a ausculta de ruídos hidroaéreos e a observação de
sinais de distensão abdominal além da presença e do aspecto das dejeções. Cuidados com a sonda
nasoenteral e suporte nutricional também são fundamentais para uma boa evolução dos pacientes.
O sistema gastrintestinal pode sofrer consequências severas com a RM caso haja hipoperfusão
durante o procedimento. Tais complicações são pouco comuns e de difícil diagnóstico, entretanto
quando presentes prolongam o tempo de recuperação (SMELTZER; BARE, 2011; CARVALHO
et al., 2006).
Outros itens que precisam ser avaliados incluem as condições dos curativos e drenos, a
perviedade das linhas invasivas e a presença de dor. Sinais indicativos de dor incluem alteração
dos sinais vitais, presença de náuseas e vômitos e agitação. A avaliação e controle da dor é
importante pois ela pode ser subdimensionada em função da dificuldade de comunicação,
podendo levar à instabilidade em diversos sistemas (LAMAS; SILVA; SILVA, 2009).
No período do POI os sinais vitais devem ser verificados e registrados sistematicamente, sendo
de 30 em 30 minutos até a 4º hora e de 1 em 1 hora até completar as 24 horas. Exames de rotina
11
como gasometria, sódio, potássio, cálcio, glicemia, hematócrito e hemoglobina, ureia e creatinina,
estudos de coagulação, raio-x e eletrocardiograma são realizados diariamente. O conhecimento
acerca dos valores padrão e seus desvios garantem a identificação e abordagem precoces em
casos de necessidade (JOAO; FARIA JR, 2003).
O atendimento integral do paciente requer a atuação conjunta de diversos profissionais, sendo o
enfermeiro a base do cuidado e o elo de ligação entre as diversas especialidades. Compreender e
distinguir cada etapa do processo da doença, permite uma assistência mais completa e
humanizada.
A humanização na UTI tem sua implantação dificultada devido às suas características próprias,
sendo um ambiente extremamente “frio”, envolto por aparatos tecnológicos e dentro de um
contexto onde o paciente grave é exposto. O enfermeiro intensivista tem o objetivo de promover
um cuidado diferenciado e acolhedor, tanto para o paciente, como para seus familiares. Capacitar
os profissionais com base no conceito de saúde que valorize a vida humana e a cidadania se faz
necessário, fortalecendo e articulando as iniciativas de humanização já existentes.
12
4 CONCLUSÃO
Para uma assistência qualificada, o enfermeiro é de importância fundamental, pois o mesmo é o
profissional responsável pelos cuidados prestados nas 24 horas, avaliando as necessidades e
expectativas do paciente. É necessário salientar que nas situações em que o paciente é esclarecido
quanto ao procedimento realizado, ele mantém um vínculo de confiança e afinidade com a equipe
e passa por esse momento de forma mais calma, já que é capaz de compreender cada fase do
perioperatório, favorecendo, desse modo, sua recuperação.
Para que se obtenha sucesso nos cuidados implementados e avanço profissional, é necessário
implantar um protocolo de atendimento associado à sistematização da assistência de enfermagem
(SAE), com a finalidade de proporcionar à equipe respaldo legal e técnico, documentado e que
sirva como referência para as intervenções.
Dessa forma, protocolos que contemplem os cuidados de enfermagem citados acima tais como
monitorização contínua do paciente para controle hemodinâmico, verificação dos sinais vitais,
controle do débito urinário, parâmetros respiratórios, controle de glicemia capilar, avaliação
neurológica através da escala de coma de Glasgow ou escala de Ramsay, assim como os cuidados
com sondas, drenos e linhas venosas, padroniza os cuidados ofertados pela equipe de
enfermagem tornando a assistência mais qualificada e segura.
Observa-se uma escassez de publicações de enfermagem correlacionadas ao tema, porém não foi
encontrada literatura que apresentasse inconsonância quanto aos cuidados de enfermagem nas
diversas técnicas.
Entende-se que o presente estudo alcançou o objetivo apresentado porque identificou os cuidados
prestados pelos enfermeiros intensivistas aos pacientes no pós-operatório imediato de
revascularização do miocárdio.
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THE ROLE OF THE INTENSIVE CARE NURSE IN THE IMMEDIATE
POSTOPERATIVE MYOCARDIAL REVASCULARIZATION
ABSTRACT
The Myocardial revascularization surgery is constituted as a treatment for acute myocardial
infarction that is intended to restore blood flow, providing improved symptoms and increased
quality of life and prognosis. The postoperative period is the first 24 hours after the procedure in
which the patient is subjected to nursing care. The purpose of this article is to identify the care
offered by intensive care nurses to patients in the postoperative CABG immediately. It is an
integrative literature review, which analyzed 14 articles and two books. The nurse was shown as
a piece vital to effective assistance, because it is the professional mandated by the attention paid
in the first 24 hours, assessing their needs and expectations. The nursing team is based on the care
and these should be directed to provide the hemodynamic control and the prevention of
complications prologam hospitalization and increase the cost of care. One perceives a shortage of
nursing publications on the subject, so it was not identified literature to present discrepancy as to
nursing care in the various techniques
Keyword: Myocardial revascularization. Nursing care. Post-operative. Intensive care unit.
14
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