BREVE HISTÓRICO DO ROCK NACIONAL: ENTRE LETRAS E IDEAIS, UM INSTRUMENTO DE PROTESTO POLÍTICO Elocir Aparecida Corrêa Pires - UNIOESTE1 Maira Vanessa Bär - UNIOESTE2 INTRODUÇÃO O ato de denunciar e manifestar suas insatisfações políticas e sociais através da música vem sendo praticada no Brasil ao longo do tempo, mas se intensificou a partir dos anos de 1964 quando ocorreu o golpe militar. Por seu grande poder de assimilação, a música tem se enquadrado como um grande instrumento, não só para o mercado cultural, mas também para o campo da política. Nesse sentido para entender essa relação da música com a política é necessário analisar o contexto histórico, social e político do seu tempo. Neste intento, este trabalho busca analisar a relação entre a composição musical e a política governamental, manifesta pelos jovens associados ao gênero do rock. Trata-se de um breve histórico do rock nacional, apontando a importância deste estilo musical e da formação de bandas nacionais que fizeram parte deste momento. Este trabalho tem como metodologia a revisão bibliográfica mencionada por autores como Cervo e Bervian (1996), envolvendo o trabalho por meio de leituras críticas de publicações referentes ao tema. Autores como Rochedo (2011), Calado (1996) e Jaques (2009) foram utilizados para discutir o assunto. Em seguida será feita uma breve reflexão sobre a música brasileira e posteriormente um breve histórico do rock no Brasil e suas contribuições para a sociedade. 1 Graduanda em Pedagogia pela UNIOESTE e bolsista de Iniciação Científica CNPq. Integrante do Grupo de Pesquisa Formação de Professores em Ciências e Matemática. E-mail: [email protected]. 2 Graduada em Ciências Biológicas Licenciatura – UNIOESTE. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação/CECA/UNIOESTE e Bolsista CAPES. Integrante do Grupo de Pesquisa Formação de Professores em Ciências e Matemática. E-mail: [email protected]. 1 A MÚSICA BRASILEIRA Por meio das músicas podemos contar histórias, evocar sentimentos e emoções. A música é capaz de influenciar nossos comportamentos e muitas vezes a adotamos como referência em nossas ações cotidianas. Segundo Faria (2001, p. 4) “a música passa uma mensagem e revela a forma de vida mais nobre, a qual, a humanidade almeja, ela demonstra emoções não correndo apenas no inconsciente, mas toma conta das pessoas, envolvendo-as trazendo lucidez à consciência”. As influências musicais em nosso país se fizeram durante as primeiras formações de centros urbanos durante o Brasil colônia no século XVIII. Alguns instrumentos foram trazidos pelos colonizadores portugueses contribuindo para a formação de uma verdadeira mestiçagem com influência de músicas indígenas, européias, africanas, de escravos e imigrantes que chegaram ao nosso país nos séculos seguintes (ABREU, 2001). A música, (...) ocupa no Brasil um lugar privilegiado na história sociocultural, lugar de mediações, fusões, encontros de diversas etnias, classes e regiões que formam o nosso grande mosaico nacional. Além disso, a música tem sido, ao menos em boa parte do século XX, a tradutora dos nossos dilemas nacionais e veículo de nossas utopias sociais (NAPOLITANO, 2002, p.5). Para Ulhôa (1997), a Música Popular Brasileira (MPB) é composta por uma miscelânea de origens, tornando-se difícil a identificação das etnias e do social que faz parte da MPB. Entretanto, para Ulhôa (1997, p. 01) “O que dá sentido à música popular é o seu uso, o significado que passa a ter ao ser apropriada individualmente”. A MPB assim como os outros gêneros musicais, possuem suas raízes nas modinhas (caracterizadas como músicas que falavam sobre o amor, poesia, canção lírica) e no lundu (estilo sensual, buscava trazer sátiras e críticas do momento), que eram músicas feitas nos séculos anteriores ao século XX (LIMA, 2010). Já nas décadas de 1930 e 1940 o samba começa a se destacar e nesse mesmo período surge à música romântica inspirada pelas modinhas brasileiras e também o sertanejo, conhecido hoje como a música sertaneja raiz. Na década de 1950 intensifica-se o ritmo baião e posteriormente na década de 1960 a Bossa Nova e o Tropicalismo. Agregando tais ritmos, consolida-se a MPB em meados 1965. A partir do movimento Tropicalista que a corrente do rock torna-se sólida, a qual se expande pelas décadas de 1980 sendo expressiva na década de 1990 (Ulhôa, 1997). 2 MOVIMENTO HISTÓRICO DO ROCK NO BRASIL O gênero rock foi criado nos Estados Unidos segundo Rochedo (2011), logo após a Segunda Guerra Mundial. Apresentou-se como uma verdadeira revolução na música popular, influenciando a produção musical em todo o mundo. Traz uma proposta de ruptura com o tradicional, do usual e daquilo que pode vir a ser estabelecido como norma a ser seguida. Por esta característica, o rock está intimamente relacionado ao ato de protesto nem sempre em decorrência da letra de suas músicas, mas pelos comportamentos que acabam confrontando padrões e costumes. Por conta disso o rock é visto como rebeldia segundo Corrêa: O rock, caracteriza-se por ser um gênero de periferia e tem, sobretudo, nos movimentos sociais de protesto seu principal veículo de difusão. (...) Movimentos sociais de protesto são manifestações ocorridas fora desse centro de criação e buscam como instrumento de ruptura dos padrões convencionais, os gêneros musicais de periferia (CORRÊA, 1989, p. 39). No Brasil sua história inicia-se nos anos 1950 enfrentando fortes dificuldades para ganhar espaço entre os ritmos preferidos dos jovens daquela época, no entanto, sua explosão só acontece a partir de 1980 (ROCHEDO, 2011). Jaques (2007, p.33) sintetiza que o rock chega em nosso país em um contexto de “americanização” e “alienação” para uns, e da “modernização” e “atualização” para outros”. Rochedo (2011) descreve seu processo histórico em três momentos de grande contribuição para seu fortalecimento nos anos seguintes. O Primeiro momento da introdução do gênero em nosso país já mencionado acima é o período da década de 1950, tendo seus primeiros precursores cantores populares como, Nora Ney, Cauby Peixoto, Tonny e Celly Campello. Esse estilo musical nasce em nosso país influenciada pelas trilhas sonoras norte-americanas principalmente pela via do cinema, através do filme “The Blackboard Jungle” (1955). Obteve tanto sucesso que reuniu muitos adeptos e versões variadas de sua trilha sonora intitulada “Rock around the clock” ficando conhecida pela cantora Nora Ney em sua versão original (ROCHEDO, 2011). Nessa época tudo era assimilado dos rocks americanos. Apesar da rebeldia da juventude contra os padrões morais sociais vigentes na época, presentes principalmente nas vestes, o apelo das músicas não tinham caráter crítico político. De acordo com Ramos (2009), A maioria dos jovens das classes médias urbanas brasileiras de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro queriam, naquele momento, era consumir e imitar para pertencer a um mundo (o dos americanos) enriquecido e cheio 3 de uma tecnologia que já estava chegando ao seu alcance (RAMOS, 2009, p. 5). Para a autora, o rock nessa época era carregado pelo ritmo desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek (JK) sendo mais um objeto de consumo difundido pela “indústria cultural” estimulando a maioria dos jovens a viver o que era transmitido nas músicas e filmes. A partir dos anos 1960 é estreada em uma emissora de televisão o programa chamado Jovem Guarda apresentado por cantores como Wanderléia, Roberto Carlos e Erasmo Carlos. A Jovem Guarda, também chamada de “iê-iê-iê” influenciada pelos Beatles fazendo referência à frase “yeah-yeah-yeah” do refrão da música She Loves You (escrita por John Lennon e Paul McCartney, 1963), ditaram novas gírias e novo jeito de se vestir entre seus seguidores, onde as meninas usavam minissaias e os rapazes cabelo comprido (JAQUES, 2009). Apesar da aparente rebeldia, a jovem guarda não representou e não promoveu protestos na sociedade com suas composições musicais, estiveram assim, [...] distante da canção de protesto, da contestação e do debate que envolvia a esquerda cultural, [...] por um lado falava do amor, do beijo e do desejo sexual, sem, contudo, contestar os valores estabelecidos. [...] Por outro lado, expressava [...] o elogio ingênuo da sociedade de consumo [...] (ALVES, 1996, p. 78). Essa mesma década é marcada por grandes efervescências no campo político, onde Jânio Quadros renuncia em 1961 e o então vice-presidente João Gulart é empossado, demonstrando ideias de reformas sociais e econômicas que não agradavam a muitos. Assim, o governo passa a ser marcado por crises, conflitos sociais e políticos. Já os militares com discurso de que era necessário combater a subversão em nome da ordem democrática, tomam o poder em 1º de abril de 1964. Nesse cenário as críticas à Jovem Guarda eram crescentes. A Música Popular Brasileira (MPB), outra representação musical de grande cunho contestador na época, sinalizava que a mesma não tinha compromisso com questões políticas vigentes, sem comprometimento mexendo com a mente dos jovens. No final da década de 1960 ocorre o movimento Tropicália, o qual tinha como um dos líderes Caetano Veloso. Tal movimento misturou gêneros musicais como, rock, bossa nova samba entre outros. Ganhou expressividade no Brasil e trouxe uma nova estética musical, com seus representantes cabeludos, vestes extravagantes e suas guitarras barulhentas (ZEMANOVÁ, 2009). Dessa forma, demonstravam uma rebeldia que não agradava os que 4 estavam no poder. Suas músicas passam a ter um caráter revolucionário do ponto de vista de muitas pessoas e suas representações musicais passam a ser encaradas como uma ameaça à ordem social. De acordo Holanda (2004) o movimento tropicalista dá início a uma fase de se “pensar a necessidade de revolucionar o corpo e o comportamento, rompendo com o tom grave e a falta de flexibilidade da prática vigente” (2004, p.70). Buscavam através da zombaria, deboches e ironia em suas letras alcançar a eficácia crítica. Alguns artistas, cantores e compositores ligados ao movimento, foram presos como, por exemplo, Caetano Veloso e Gilberto Gil, os quais passaram dois meses na prisão e posteriormente foram convidados a sair do país, sendo exilados na Europa por aproximadamente dois anos (ZEMANOVÁ, 2009). Apesar de o movimento ser proibido, muitos continuaram com suas trajetórias, como por exemplo, os Mutantes (JAQUES, 2009). Com o presidente general Costa e Silva no poder, em dezembro de 1968 o mesmo assina o Ato Inconstitucional n.º 5 (AI-5) o qual dava liberdade ao mesmo para suspender qualquer direito político do cidadão, inclusive colocar a música sob censura. Nesse período muitos artistas tiveram suas músicas proibidas ou precisaram fazer modificações nas letras, nos versos musicais que apresentam mensagens que criticavam a ordem vigente do país. Segundo Chacon (1982, p.21) “Proibidas de serem tocadas nos meios de comunicação, essas canções servem de índice para o receio do Estado de que elas divulguem e catalizem os problemas que a sociedade vive”. Em meio a essa efervescência no meio político os representantes do rock também começam a sofrer as conseqüências da repressão, foi o que aconteceu quando os Mutantes tiveram sua música Dom Quixote em 1969 censurada. Para os militares a música tentava passar nas entrelinhas uma mensagem revolucionária contra a ordem, visando à derrubada do governo. Por isso, tiveram que cortar vários versos da música como “dia há de chegar / a vida há de parar / para o Sancho descer / pro Quixote vencer” “e armadura e espada a rifar” (CALADO, 1996, p.147). O comportamento rebelde e transgressor dos roqueiros, não agradava os militares. Mesmo com a forte censura, as manifestações se intensificam juntamente com movimentos musicais que se apresentavam em festivais e as canções de protesto começam a ganhar força nesse cenário como ferramenta de contestação das arbitrariedades impostas para a população brasileira. Ao mesmo tempo em que os governos militares se tornam mais rígidos, as censuras se intensificam, sendo reprimido tudo aquilo ou aquele que era contra o governo. A censura se instaura em todos os campos que por ventura tivessem o olhar contestador, como aos estudantes e artistas da época que apresentavam suas manifestações 5 através das atividades artísticas na televisão, rádio e no teatro. Muitos foram os perseguidos, presos, torturados e exilados na tentativa de se eliminar qualquer cultura crítica ao regime imposto. Segundo Costa e Mello (1999, p. 359) “Os artistas ligados ao teatro, cinema ou música procuravam meios de burlar os censores utilizando-se principalmente de metáforas”. Com o propósito de se alcançar a hegemonia absoluta os representantes do regime através do AI-5 passaram a combater qualquer engajamento artístico que contrariasse sua ideologia. No entanto isso não impediu que as militâncias continuassem por alguns grupos, mesmo que fossem as escondidas. No campo da produção cultural Habert (1992) enfatiza que: [...] várias foram as formas de resistência que os autores críticos usaram para se contrapor à política e ideologia do regime e fazer chegar ao público suas mensagens, driblando a tesoura e o camburão num jogo de gato-e-rato. Entrelinhas, duplo sentido, trocadilhos, mensagens cifradas [...] humor e sátira foram afiados instrumentos de críticas [...] (p. 38-39). Em relação ao rock dos anos de 1970 seus representantes diferentemente da jovem guarda da década de 60 partiam de uma expressão mais contestadora e o ato de ouvir rock, Passou a ser uma forma de contestar, de procurar um novo objeto, um novo ideal – não apenas a música, mas a carga de símbolos com que poderia ser vestida, as possibilidades de ruptura com os discursos conservadores de direita e de esquerda (BRANDÃO e DUARTE, 1995, p.87). O rock nesse período tinha um envolvimento contestador das ações políticas da ditadura, apesar de não estar ligado nem com a política da esquerda nem com a da direita traziam em suas letras reivindicações política e críticas a organizações governamentais. Ao final da década de 1970 para a década de 1980, a política brasileira passa a ter uma abertura para a redemocratização. Entre outros acontecimentos, em 1979 é permitido o retorno dos indivíduos exilados ao país e também a liberação dos que se encontram presos devido às censuras. Em 1984, ocorre à campanha para as “Diretas Já” depois de se viver um extenso período de censura, começa um processo de reestabilização democrática e consequentemente da liberdade de expressão. O resultado dessa abertura democrática foi à busca por reformas políticas sociais alavancadas por diversas esferas da sociedade e uma delas se deu através da musica incluindo o rock. Surge o BRock sigla que passa a representar a união de Brasil e Rock (DAPIEVE, 1995) evocando o compromisso de se produzir um rock genuinamente brasileiro. Os principais representantes desse gênero são Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso no Rio de 6 Janeiro, Legião Urbana e Capital Inicial em Brasília, Titãs e Ultraje a Rigor em São Paulo. O surgimento do BRock é encorajada principalmente pelo fim da ditadura militar. Os músicos da época se sentiram mais livres e tomaram a liberdade de tematizar em suas letras o contexto e os problemas sociais e políticos que viviam a população brasileira até aquele momento legitimando o rock no Brasil. As primeiras bandas de rock no Rio de Janeiro surgiram no interior de muitas casas e garagens. Como não havia dinheiro para gravar em estúdios, os roqueiros gravavam as músicas em fitas demos e assim a enviavam para a rádio Fluminense FM, que as reproduziam. Dessa forma, grandes sucessos apareceram e foram contratados por gravadoras, sendo aos poucos disseminados pelas rádios e programas televisivos em todo o Brasil (ROCHEDO, 2011). O rock em Brasília deu-se pela iniciativa de alguns adolescentes - que eram filhos de políticos, diplomatas e professores universitários - que na década de 1980 já eram inspirados pelo rock internacional. De acordo com relatos de Phillipe Seabra vocalista da banda Plebe Rude, na grande capital não havia muitas atividades destinadas aos jovens, assim, formavamse grupos de amigos que discutiam sobre as músicas internacionais. Os colégios, cursinhos e as universidades foram os espaços encontrados para compor as primeiras músicas e assim a constituição das primeiras bandas (ROCHEDO, 2011). Em Brasília, segundo relatados de alguns músicos, a repressão era maior pelo poder político instaurado na capital. Festas eram invadidas por polícias e blitz ocorriam com frequência, principalmente antes das festas, em que a maioria dos participantes já estavam bêbados ou drogados. Muitas músicas surgiram da repressão sofrida e da vigilância de policiais como, por exemplo, “Faroeste Caboclo (Renato Russo)”, “Que país é esse (Renato Russo)” (ROCHEDO, 2011). Já em São Paulo, alguns jovens compositores e músicos tiveram o espaço de apresentar seus trabalhos em diversas casas noturnas e teatros. Mandavam suas músicas para as rádios e assim algumas bandas foram contratadas por algumas gravadoras. Algumas bandas de sucesso nacional que apareceram nesse momento além de Titãs e Ultraje a Rigor, foram Ira e RPM (ROCHEDO, 2011). O jornalista Dapieve em 2009 em entrevista a Rochedo (2011, p. 41) relata que é dessa forma que o rock alcança seu espaço no Brasil, sendo uma conquista dos artistas, provando “(...) que o rock podia ser um gênero da música brasileira e não meramente uma coisa tomada dos americanos”. Como era um tempo de abertura política, os músicos não precisavam mais de metáforas, falar por entre linhas, por meio da linguagem musical podiam expor suas 7 contestações político-sociais, isso pode ser percebido nas falas de Bruna Gouveia do Grupo Biquíni Cavadão quando entrevistada por Rochedo, Durante anos as metáforas eram veladas. Mas de repente você pode ser direto. Você não vai falar simplesmente, você vai gritar! Que outro ritmo poderia casar com essa vontade de você vomitar as idéias? O rock. O rock cai de repente ali, naquele momento como voz inicial. A voz da juventude. (2011, p.42). A música passava ser tradutora das insatisfações e expressões culturais de uma geração marcada pela ditadura que agora começa a sentir o gosto da liberdade de expressão. Uma musica que toma bastante repercussão entre os jovens em meio ao processo de reabertura política é à música “Inútil” do grupo Ultraje a Rigor composta em abril de 1983, deixando explícito em alguns de seus versos suas insatisfações. Frases composta na música como: “A gente não sabemos / Escolher presidente” mostrando a recriminação feita pelo governo vigente e ao mesmo tempo à vontade pela liberdade e o anseio por um país democrático, canção inclusive tema do movimento pelas “diretas já”. A letra da canção é uma verdadeira ironia às declarações do então presidente da república João Figueiredo quando retrata que o povo brasileiro. Expressada através da música, os jovens denunciavam a situação de insatisfação em que vivia a população naquele tempo. Foi nesse contexto que o gênero rock se firmou no Brasil contextualizado não só como uma concepção artística, mas, sobretudo como representação de pensamentos e ideais que traduziam a realidade econômica, social e política dos brasileiros na época. Como destacado por Juça (2001, apud, ROSTOLDO, 2006, p. 45) podemos concluir que a arte o que inclui também a música principalmente a de protesto “é um instrumento de grande relevância na inovação e interação entre todas as contradições. É também uma das principais alavancas do desenvolvimento social”. CONSIDERAÇÕES FINAIS A imagem passada pelo autoritarismo do regime militar durante a ditadura no Brasil era a de um governo politicamente estável, uma nação governada por uma rígida moral e bons costumes, de um país que caminhava rumo à prosperidade em pleno desenvolvimento. Qualquer denúncia à tortura, perseguição política ou à falta de liberdade, era duramente combatida, proibida, omitindo-se o que realmente acontecia nos calabouços da ditadura, ou, no jogo de poder que assolava a nação. Segundo o historiador Napolitano (2004, 8 p. 105) o campo da cultura passa alvo de vigilância, “(...) vista como suspeição a priori, meio onde os “comunistas” e “subversivos” estariam particularmente infiltrados, procurando confundir o cidadão “inocente útil”. Após esse período, a música foi um dos meios de transmissão do grito pela liberdade em busca da democracia, acreditando que esta deveria ser também, uma forma de conscientizar às pessoas, de ser revolucionária e não só capaz de servir a cultura lúdica, mas mover as massas para a revolução social e política. Dessa forma, através de bandas e letras marcantes, o gênero rock foi se intensificando, sendo até hoje muito expressivo na sociedade, aonde muitas músicas são tocadas e cantadas principalmente em movimentos de protestos políticos. Referências Bibliográficas ABREU, M. C. Histórias da Música Popular Brasileira, uma análise da produção sobre o período colonial. In: Jancsó, I; Kantor, I. (Org.). Festa: Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa, vol I e II. São Paulo: Edusp; Fapesp; Imprensa Oficial; Hucitec, 2001, v. II, p. 683-705. ALVES, J. F. A invasão Cultural Norte-Americana. 27ª ed. São Paulo: Moderna, 1996. BAPTISTA, A.; LEE, R.; DIAS, S. Dom Quixote. Intérprete: Os Mutantes, 1969. BRANDÃO, A. C.; DUARTE, M. F. Movimentos Culturais de Juventude. 14ª ed. São Paulo: Moderna, 1995. BRASIL. Senado Federal – Subsecretaria de Informações. Ato Institucional nº. 5 de 13 de Dezembro de 1968. 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