a observação e a intervenção na construção dos saberes e

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A OBSERVAÇÃO E A INTERVENÇÃO NA CONSTRUÇÃO DOS
SABERES E NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA ESCRITA
OLIVEIRA, Michele do Amaral de – UPF
[email protected]
Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: CAPES
Resumo
No que diz respeito à intervenção em sala de aula, o professor, que é o mediador na
construção do processo de aquisição da escrita, deve ser observador do fazer e do pensar
dos alunos, das hipóteses por eles criadas. É o olhar minuncioso que se torna necessário, o
olhar para os pequenos atos e breves falas que devem ser explorados. Não se pode perder a
oportunidade de explorar a curiosidade do aluno. Para que a intervenção não seja algo que
venha a inibir os alunos a manifestarem suas compreensões sobre o processo de aquisição
da língua escrita, o professor deve oportunizar a produção de textos espontâneos, sobre
temas que estejam contextualizados em seus cotidianos, sempre mostrando a função desse
sistema e motivando o aluno a explorá-lo. Através do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência – PIBID, sub-área Pedagogia, realizou-se uma pesquisa de cunho
qualitativo em classes de alfabetização de escolas públicas na cidade de Passo Fundo, a
observação foi delimitada pelas seguintes categorias: Espaço Escolar, Infância e
Compreensão do Processo de Alfabetização. As observações foram registradas através de
memórias, as quais foram socializadas semanalmente em encontros de estudos na
Faculdade de Educação onde todos os bolsistas PIBID do curso de pedagogia relatam suas
observações e intervenções. Com base nas memórias, através de análise documentada,
vários elementos foram se evidenciando. Acredita-se em um processo de alfabetização
através de práticas de letramento, onde as práticas leitoras estarão sendo desenvolvidas em
todas as instâncias, ou seja, dentro ou fora dos espaços escolares. Portanto, a partir do
processo de observação das três categorias e da fundamentação teórica, percebeu-se a
necessidade de intervenções as quais iniciaram de forma planejada e sistemática, sob
supervisão e compreensão da professora titular da turma.
Palavras-chave: Alfabetização. Observação. Intervenções.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo socializar o processo de pesquisa e docência
realizado com alunos bolsistas, do curso de pedagogia, da Universidade de Passo Fundo, os
quais através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação á Docência, estão inseridos
em sala de aula de turmas de alfabetização, com o propósito de contribuir com o processo
de construção dos saberes e aquisição da linguagem escrita dos alunos, e através dos
pressupostos da alfabetização lapidar seu processo de formação docente.
Ao entrar numa sala de aula, de uma turma em processo de alfabetização, o
professor em formação passa a ser observador de um processo de construção dos saberes e
aquisição da linguagem escrita.
Nessa direção, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID1
veio complementar a formação dos licenciandos em pedagogia, colocando os acadêmicos
em contato direto com turmas de séries iniciais do ensino fundamental, em escolas públicas
do município de Passo Fundo, onde se inicia, principalmente, a aquisição da linguagem
escrita.
A partir de estudos realizados em encontros semanais na Faculdade de Educação da
Universidade de Passo Fundo, percebeu-se como se dá o processo de apropriação da
escrita, sendo assim possível planejar a intervenção pedagógica.
A observação: O olhar do professor sobre a construção dos saberes do aluno
A
observação
é
uma
etapa
fundamental
no
fazer
pedagógico.
O
professor/observador é aquele que planeja sua intervenção de modo a contribuir para a
construção dos saberes do aluno, pois estará contemplando em seu planejamento as
necessidades dos alunos, por ele detectadas. Toda fala do educando deve ser observada e
escutada pelo educador, através de um olhar investigador, com o propósito de estimular o
aluno a criar suas hipóteses sobre o que como se constrói o conhecimento.
Considerando a realidade do PIBID, percebeu-se desde o início a necessidade de se
delimitar o que observar na escola, sendo assim, possível organizar a primeira etapa do
trabalho.
Perceber como os alunos agem sobre seu objeto de aprendizagem, no caso, a língua
escrita, é algo que muitos alunos de licenciatura em Pedagogia só conhecem em leituras
durante o curso, e não através de práticas em sala de aula. Por isso, a importância de
observar o comportamento e o aprendizado do aluno, não é uma atividade única e
exclusiva de alunos de licenciaturas e sim de professores atuantes, nos mais diversos níveis
da educação.
1
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência teve início no segundo semestre de 2010, e conta
com vinte bolsistas do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, da Universidade de Passo Fundo.
Segundo Weisz (2006, p.94),
Como um observador privilegiado das ações do aprendiz, o professor tem
condições de avaliar o tempo todo, e é essa avaliação que lhe dá indicadores para
sustentar sua intervenção. Mas isso é diferente de planejar e implementar uma
atividade para avaliar a aprendizagem.
É no olhar do professor que o aluno vai encontrar o alicerce para seu
desenvolvimento escolar, é nele que a criança vai confiar e buscar conforto nas suas
inquietações e angústias.
As primeiras perguntas antes de relatar a observação são: Porque observar? E o que
observar?
Pelo desejo de aprender, de conhecer o aluno, suas inquietações, suas angústias, que
hipóteses criam sobre a construção do conhecimento, principalmente sobre a aquisição da
linguagem escrita, nos propomos à olhar o cotidiano da alfabetização minuciosamente.
A observação, então, foi delimitada por três categorias norteadoras: Espaço Escolar,
Infância e a Compreensão do Processo de Alfabetização.
O primeiro contato com a escola foi para que se observasse como é a escola, seus
espaços de aprendizagens, que concepções ela tinha sobre o processo de alfabetização e
quais eram os sujeitos que nela estavam inseridos.
O segundo momento de observação foi em sala de aula, no contato direto com os
“objetos de aprendizagem”, pois seguindo o pensamento de Esther Pillar Grossi (1992) de
que só ensina quem aprende, os bolsistas estão nas escolas também para aprender com os
alunos.
Os olhares voltaram-se então para a infância, quem são as crianças encontradas
dentro das salas de aula, como aprendem, como se relacionam com seus pares, como
constroem o conhecimento. Além disso, acredita-se na importância de intensificar práticas
de letramento, garantir o ambiente alfabetizador para que o aprendizado se dê de forma
prazerosa. A partir disso e dos estudos realizados nos encontros semanais percebeu-se as
necessidades dos alunos, assim facilitando o planejamento e a sistematização da
intervenção pedagógica e ambientação dos espaços de aprendizagem.
A intervenção: O papel do professor como mediador do processo de aquisição
da escrita
Após fundamentar os registros de observação, através de leitura e discussões nos
estudos semanais, começou o planejamento da intervenção, de forma que ela seja
significativa e prazerosa para o aprendizado do aluno.
O professor deve oportunizar ao aluno atividades de produção escrita que tenha
significado, “ele deve criar situações que permitam ao aluno vivenciar os usos sociais que
se fazem da escrita, as características dos diferentes gêneros textuais, a linguagem
adequada a diferentes contextos comunicativos” (FERNANDES, 2008, p. 18). Portanto, é
fundamental que o repertório de leitura da criança seja diversificado e a produção de textos
espontâneos seja oportunizada.
Desde antes do período pré escolar é possível que a criança tenha contato com a
escrita, e os primeiros a iniciarem o contato da criança com a leitura e a escrita são os pais
ou responsáveis, lendo histórias, convites, realizando a lista do mercado com a criança, etc.
O professor, na escola, vai ser o responsável por criar um ambiente onde a
aprendizagem se dê de forma natural e científica, através das relações entre aluno e aluno e
de professor e aluno. Uma sala letrada, com cartazes, produções dos alunos, textos de
diversos gêneros é muito importante para o contato dos alunos com a linguagem escrita.
Contudo, não basta o aluno estar cercado de textos e não saber seu significado, não
compreender o que diz aquelas palavras nas paredes.
A alfabetização deixou de ser considerada uma atividade mecânica e motora, onde
as crianças reconhecem as letras e as reproduzem. Mais do que conhecer as letras e as
palavras, os alunos devem compreender a linguagem, e sua função social.
O trabalho de pesquisa encontra-se na fase de intervenção, obviamente que a fase
de observação permanece durante todo o processo, mas começou a participação nas
atividades dos alunos, planejando para eles.
A proposta está enriquecendo as escolas, com materiais que foram adquiridos
pensando nos alunos e sua aprendizagem, contribuindo, assim, com o processo de
construção dos saberes e aquisição da linguagem escrita, também está se planejando
sequências didáticas para aprender a ler e escrever.
O planejamento das atividades de ambientação e aprendizagem da língua escrita é
realizado de forma conjunta, entre as bolsistas, a professora da turma e a professora
coordenadora do grupo de bolsistas do curso de pedagogia.
A partir das bases teóricas de Ferreiro e Teberosky (1989) realizou-se tomas, onde
se percebeu em que nível de desenvolvimento de aquisição da linguagem escrita as
crianças se encontram.
Para que a criança aprenda linguagem escrita de forma mais prazerosa e
produtiva, é preciso proporcionar um clima gostoso e descontraído na classe,
onde seu ritmo será sempre respeitado, seu desenvolvimento, como um todo,
será estimulado e lhe serão fornecidos os meios e as condições necessárias para
que também realize seus tateios no campo da escrita. (SOUZA, 2006)
As intervenções devem ser um processo planejado e sistemático, pois deve ser
motivadora da aprendizagem do aluno, oportunizando que o aluno manifeste suas
compreensões sobre a aprendizagem.
A aquisição da linguagem escrita: o processo de alfabetização
A aprendizagem da linguagem escrita é favorecida quando o aluno entra em contato
com esse sistema, através de textos de seu cotidiano, onde ele se utilizará de seus
conhecimentos já existentes. Assim sendo,
se a alfabetização for conduzida de forma a demonstrar que a leitura e a escrita
têm função aqui e agora, e não apenas num futuro distante, é provável que o
indivíduo se sinta mais motivado para o esforço que a aprendizagem exige.
(CARVALHO, 2005, p.14).
Atividades como: escrever bilhetes para os pais, cartazes, jornais, murais de
recados, lista de materiais, receitas e convites podem favorecer o processo de
alfabetização, criando situações de escrita onde o aluno pode refletir sobre seu uso. A
leitura de uma história infantil pela professora, por exemplo, recontada pelos alunos
oportuniza aos alunos refletirem sobre a diferença entre a linguagem escrita e falada.
Na alfabetização surge o tema letramento, o qual gera desconfiança aos professores
tradicionais, acostumados a alfabetizar pelo livro didático. O letramento não se trata de um
método de alfabetização, como o fônico ou o analítico, mas é entendido por muitos autores
como o uso da língua escrita, ou seja, quando os sujeitos se envolvem nas mais numerosas
práticas sociais de leitura e de escrita, com os mais variados gêneros de texto.
Segundo os PCN “O letramento é entendido como produto da participação em
práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia” (MEC Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997).
Conforme a teoria piagetiana, acredita-se que o conhecimento se constrói na
interação do sujeito com o objeto de aprendizagem. No caso da alfabetização o
conhecimento é adquirido através do contato do aluno com atividades de leitura e escrita.
Segundo Fernandes (2008), o professor é referência quando o assunto é construção
do conhecimento infantil, principalmente no que diz respeito à conhecimentos escolares. A
partir das teorias de Piaget e Vygostsky, sobre como se dá a construção do conhecimento
na criança, tivemos também grandes contribuições, com Emilia Ferreiro e Ana Teberosky
em seus estudos sobre os níveis de desenvolvimento na aquisição da língua escrita.
Para Ferreiro e Teberosky (1989, p.26),
O sujeito que conhecemos através da teoria de Piaget é um sujeito que procura
ativamente compreender o mundo que o rodeia, e trata de resolver as
interrogações que este mundo provoca. Não é um sujeito que espera que alguém
que possui um conhecimento o transmita a ele, por um ato de benevolência. É
um sujeito que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os
objetos do mundo, e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao
mesmo tempo que organiza seu mundo.
Acredita-se em uma pedagogia construtivista, na educação centrada no aluno, em
seu contexto, suas necessidades, suas curiosidades, onde o professor é mediador da relação
entre o aluno e seu objeto de aprendizagem, devendo assim, criar situações onde possam
refletir e formular hipóteses sobre o seu aprendizado.
Estudar o contexto do aluno através de investigações de documentos como o
Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar, se fez necessário para compreender
em que condições socioculturais as crianças estão inseridas.
O contexto do aluno é um fator que interfere no aprendizado, pois a educação se dá
em todos os âmbitos que o aluno está inserido, seja em espaço formal de ensino ou fora
dele. O que se faz necessário é que ele seja estimulado a aprender em todos os momentos
do seu cotidiano. Portanto, reitera-se as práticas de letramento, no ato pedagógico como
facilitadoras da aprendizagem.
Vygotsky (2001) acredita que a criança é alfabetizada desde o ventre da mãe,
quando recebe um nome e essas letras e palavras passam a fazer parte do diálogo afetuoso
entre a mãe e bebê.
Sendo assim, hoje se investe numa concepção de alfabetização onde os sujeitos
compreendem a linguagem escrita, não somente como um código, mas num contexto onde
as práticas de letramento propiciem aos alunos a reflexão sobre sua função e usos.
Conclusão
Criar um ambiente onde todos os alunos possam se apropriar da linguagem escrita,
mesmo tendo ritmos diferentes de aprendizagem, é um desafio para o professor nas classes
de alfabetização. E a proposta do PIBID é corroborar o trabalho docente, contribuindo para
a formação dos bolsistas e a aprendizagem dos alunos das escolas as quais o programa está
inserido.
Afirma-se então, o compromisso dos bolsistas, do curso de pedagogia do Programa
Institucional de Iniciação à Docência, com a educação pública, em especial com as
crianças que estão em processo de aquisição da linguagem escrita, pois elas estão
construindo um conhecimento que vai perdurar por toda a vida.
Neste sentido, foi evidenciado que com práticas de alfabetização os sujeitos terão
acesso à busca de cultura e inserção à meios culturais onde a leitura e a escrita são as bases
para a construção de novos conhecimentos.
Referências
CARVALHO, Marlene. Guia Prático do alfabetizador. 5. ed. São Paulo: Ática, 2005.
FERNANDES, Maria. Os segredos da alfabetização. São Paulo: Cortez, 2008.
FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. 2. ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1989.
GROSSI, Esther Pillar, BORDIN, Jussara. (orgs.) Paixão de aprender. 6. ed. Petrópolis:
Vozes, 1992.
MEC. Parâmetros curriculares nacionais de língua portuguesa. 1º e 2º ciclos. Brasília,
1997.
SOUZA, Andréia Maria Rodrigues de. A importância da intervenção pedagógica na
aquisição da linguagem escrita. [S.I : s.n], 2006
VYGOTSKY, Lev Semenovitch. A construção do pensamento e da linguagem. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
WEISZ, Telma. O Diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2. ed. São Paulo: Ática,
2006.
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