IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 1 ÁREA 4 - ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING O IMPACTO DO ENDOSSO DE CELEBRIDADES NA COMPRA DE PRODUTOS DE BAIXO ENVOLVIMENTO POR ADOLESCENTES Keyla Copes Rodriguesi Filipe Campelo Xavier da Costaii RESUMO O estudo apresentado tem como propósito compreender a influência das celebridades na compra de produtos de baixo envolvimento por adolescentes. A partir do entendimento sobre as influências de grupos de referência, endosso e celebridades, foi realizado um experimento junto a uma amostra de adolescentes do ensino médio buscando avaliar a influência das celebridades na lembrança dos consumidores e analisar as associações que os mesmos fazem entre celebridade e produto anunciado. Os resultados indicam que em relação à lembrança da marca os anúncios que exibiam celebridades foram mais lembrados e que os atributos dos endossantes são transferíveis ao produto. As implicações acadêmicas e gerenciais do estudo, bem como novos caminhos para estudo do tema são discutidos. Palavras-chave: Adolescente. Celebridade. Endosso. i UNISINOS, Bacharel em Gestão para Inovação e Liderança, [email protected], Rua Luiz Manoel Gonzaga, 744 – Porto Alegre. ii UNISINOS, Professor, [email protected], Rua Luiz Manoel Gonzaga, 744 – Porto Alegre. IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 2 1 INTRODUÇÃO O consumidor está cada dia mais em foco, sua atenção e preferência são disputadas diretamente. Há uma busca constante para encontrar a maneira mais efetiva de comunicação e uma das ações utilizadas para atingir seus objetivos é a utilização de celebridades. As celebridades estão cada vez mais realizando propagandas para empresas, com o intuito de endossar suas marcas, desta forma transferindo a elas as suas características e atributos pessoais. Muitas empresas contratam-nas para endossar seus produtos, despendendo recursos significativos. Normalmente, as celebridades são do mundo artístico, como atores de televisão ou de cinema ou do mundo dos esportes e até mesmo executivos bem sucedidos. Sabe-se que essa é uma opção que pode ser bem sucedida e, conseqüentemente, lucro para a empresa, mas o oposto também pode ocorrer. Principalmente, quando não ocorre um “ajustamento” entre o endossante e o produto. O endossamento de celebridade na propaganda vem crescendo; por exemplo, em cada quatro comerciais nos EUA, um utiliza o endosso de celebridades (SHIMP, 2000). Conforme estudo elaborado pela Milward Brown Brasil (2006), do grupo IBOPE, as celebridades estão presentes em 12% das grandes campanhas publicitárias veiculadas em todo mundo. O Japão lidera o ranking de países que utilizam pessoas famosas em suas campanhas, chegando a 23% do total. No Brasil é em torno de 8%. Esse assunto é muito amplo e possui muitas lacunas. Cada vez mais aumenta a utilização de famosos na propaganda, mas o número de pesquisas nesse âmbito não. Foram identificados poucos estudos a respeito do tema no Brasil (CARNEIRO, 2002, ANDRADE, MAZZON e KATZ, 2006, SILVEIRA, 2007) e os resultados das pesquisas que foram encontradas ainda não são conclusivos, bem como há carência de estudos relacionados à como os consumidores percebem a utilização de celebridades em campanhas publicitárias. Como já colocado acima, há algumas dificuldades em relação à utilização de celebridades em campanhas, uma vez que se percebe que é algo que está ligado ao psicológico dos indivíduos, além de ser um fator social. Isso se deve ao fato de alguns consumidores não perceberem que estão sendo influenciados ou, pelo menos, não assumirem essa condição. Outro aspecto muito importante é o alto custo de campanhas com celebridades, os altos cachês. Tal situação revela mais um motivo para realizar-se um estudo para verificar como os consumidores estão percebendo o endosso por celebridades. IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 3 Dentre os públicos que são atingidos pelo uso de celebridades na propaganda, os adolescentes têm sido um dos alvos preferidos por estarem em um período de mudanças em suas vidas, no qual começam a fazer suas próprias escolhas e definirem suas preferências, que podem acompanhá-las na fase adulta. Os jovens, segundo a revista Vejaiii, estão, cada vez mais, com maior poder aquisitivo, ocupando renda própria em torno de 30 bilhões de reais por ano. Além disso, o público jovem possui um expressivo poder de persuasão, o que acaba influenciando as decisões nos domicílios. Estima-se que 66% do que é consumido nos domicílios passa pelo crivo dos adolescentes. Devido ao perfil dos jovens, faz-se necessário que as compras se tornem um processo mais divertido e interativo (TEICH, 2008). Nessa perspectiva, o presente estudo pretende verificar qual o impacto do endosso de celebridades sobre a percepção de marcas, do público adolescente, nos produtos de baixo envolvimento, que são produtos pelos quais os consumidores não se interessam em buscar muitas informações, pois normalmente são mais baratos, possuem similares e não agregam muito valor ou status. Decidiu-se usar esse tipo de produto na pesquisa, apesar do alto nível de persuasão dos adolescentes e do seu poder de compra, pois são os mais consumidos pelos adolescentes, principalmente, produtos como doces e refrigerantes. Para atingir o objetivo principal, o estudo busca (a) identificar o que os consumidores adolescentes mais lembram ao ver uma campanha com ou sem celebridade e (b) verificar as associações que os consumidores adolescentes fazem entre a imagem da celebridade e o produto anunciado. 2 CONSUMIDOR ADOLESCENTE E CELEBRIDADES O comportamento do consumidor adolescente é caracterizado por uma série de necessidades, que abrangem a associação, a experimentação, a independência, a responsabilidade e a aprovação dos outros, sendo o uso dos produtos um meio significativo para expressão de sua identidade (SOLOMON, 2002). A forma encontrada pelos adolescentes para definir sua identidade é o uso de produtos e marcas, aceitas e referendadas dentro do grupo de convívio como as adequadas. Enquanto estão no processo de adoção de seu conjunto de valores, auto-imagem, estilo de vida e padrões de consumo os adolescentes são influenciados por uma série de interesses externos. A capacidade de avaliação e julgamento do adolescente normalmente é limitada ou incompleta, apesar de acreditarem que já fora iii http://veja.abril.com.br/especiais/jovens_2003/p_080.html (Acesso em: 21 jan. 2009) IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 4 desenvolvido. Essa capacidade é fortemente dependente do conjunto de experiências acumuladas e, até a adolescência, tendem a ser incipientes (LACHER e COSTA 2008). Os adolescentes desejam adquirir tudo que os façam estar na moda para assim se manterem como membros de um grupo de referência. Ou seja, o jovem adolescente busca uma identidade perante o seu grupo de influência e para melhor compreensão do mundo a sua volta. Uma forma expressiva de acelerar esse processo é a identificação de celebridades como referência de comportamento. Em alguns momentos, não há uma visão clara do que é uma celebridade, o que pode levar a um conflito de conceitos. Conforme Carneiro (2002) o termo celebridade vem do latim celeber, que significa “muito freqüentado”. Mas essa definição tradicional não é elucidativa se considerar-se a essência do termo nos dias de hoje: o valor comercial da alta visibilidade (exposição). Já Shimp (2002, p. 272) define celebridade como “uma personalidade que é conhecida do público por suas realizações em áreas diferentes da classe do produto endossado”. O conceito de celebridade está totalmente ligado ao conceito de poder e de visibilidade. Em todo o mundo, a alta visibilidade está se tornando um produto vendável, com um valor de mercado inestimável (REIN, KOTLER e STOLLER, 1999). Para Shimp (2002), muitos consumidores se identificam com estrelas e geralmente os consideram heróis e heroínas por suas realizações, aparência física e personalidade. As celebridades são usadas na propaganda, porque seus atributos como beleza, talento, habilidades atléticas, poder, graça, coragem e apelo sexual, normalmente, são os atributos que as marcas que eles endossam desejam. As celebridades são utilizadas em quatro funções básicas: • Atores (a celebridade faz demonstração de um produto ou serviço); • Porta-vozes (a celebridade é contratada por um longo período de tempo para promover um produto ou serviço, que se identifica com ele); • Provadores de testemunho (após usarem um produto ou serviço em suas carreiras, podem atestar sua qualidade ou valor); e • Endossantes (sem mesmo ter utilizado um produto ou serviço, permitem a utilização de seu nome e de sua imagem). Conforme Rein, Kotler e Stoller (1999, p.46.), “um endossante traz para o produto duas vantagens: reconhecimento de um nome (o endosso de um produto por um nome famoso chama a atenção) e a associação com um nome (as qualidades da celebridade são freqüentemente interligadas com as do produto)”. Shimp (2002) afirma que quase um quarto IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 5 de todos os comerciais usa celebridades como endossantes e que as celebridades são muito procuradas como porta-voz de produtos. Os endossantes, pessoas famosas ou comuns, influenciam os consumidores através dos atributos de atratividade e credibilidade, sendo que, segundo Shimp (2002, p. 289), a “credibilidade funciona através de um processo de internalização e a atratividade opera através de um mecanismo de identificação”. De acordo com Engel, Blackwell e Miniard (2000, p.365), “endossadores de produtos podem ajudar a determinar o grau de persuasão do anúncio de várias maneiras. Celebridades podem servir como mecanismo para atrair a atenção”. Os endossadores realizam uma transferência para moldar a interpretação dos consumidores dos anúncios, fazendo assim com que os consumidores passem a ver o produto como mais potente ou mais elegante, devido a sua associação a endossadores que tenham esse significado. Quanto mais os consumidores acreditam nele, mais receptivos estarão aos apelos do anúncio. Para se escolher um endossador eficiente, deve-se considerar não apenas suas características, mas a relação entre este e o produto e analisar se ambos combinam. Shimp (2002) acrescenta que o endosso feito por celebridades é especialmente eficaz quando a motivação dos consumidores é relativamente baixa para processar os argumentos da mensagem. Como pode ser visto na figura abaixo. Figura 1: O endosso 1,8 1,8 1,2 Endossadores Famosos 0,6 0 Endossadores Não-Famosos -0,6 -1,2 1,2 Argumentos Fortes 0,6 0 Argumentos Fracos -0,6 -1,2 Baixo Envolvimento Alto Envolvimento Baixo Envolvimento Alto Envolvimento Fonte: Richard E. Petty, john T. Cacioppo e David Schumann (apud Engel, Blackwell e Miniard l,2000, p.364) Pode-se analisar na figura 1 a grande diferença de quando se deve utilizar uma celebridade ou alguém não famoso. Analisando em conjunto, os dois gráficos demonstram que para produtos de baixo envolvimento a celebridade é uma grande força na divulgação de um produto ou marca, e os argumentos devem ser fortes, mas demonstram também que os fracos funcionam até certo ponto. Entretanto, nos produtos de alto envolvimento, a utilização das celebridades decresce, enquanto a das pessoas não ligadas à mídia permanece constante e em certo ponto estabelecendo-se acima do emprego da celebridade. Em relação aos argumentos, percebe-se que devem ser argumentos fortes, pois a diferença entre estes é IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 6 grande. Desse modo, para obter um resultado adequado, não adianta utilizar uma celebridade se esta não utilizar argumentos fortes para atingir o público alvo. 3 METODOLOGIA O estudo consiste no desenvolvimento de um experimento para identificar as influências das celebridades na compra de produtos de baixo envolvimento por adolescentes. No método experimental procura-se explicar o comportamento individual em termos de uma série de ações destinadas a satisfazer desejos e necessidades humanas, visto que, por exemplo, os consumidores não apresentarão as mesmas reações mediante um apelo promocional, pois não apresentam as mesmas motivações, ou seja, forças internas que o conduzem a uma ação individual, e podem ser primárias/fundamentais ou secundárias/adquiridas através da aprendizagem. Antes da realização do experimento, fez-se necessário formar um grupo de foco para definir as variáveis independentes que seriam analisadas no experimento. Para o estudo proposto, foi realizado um grupo de foco com 9 adolescentes do ensino médio de uma escola pública. O principal objetivo era identificar as celebridades e as marcas/produtos de baixo envolvimento mais lembrados pelos adolescentes, para posteriormente serem utilizadas na etapa experimental. Entre os produtos citados como preferência do grupo escolheu-se o chicle e o chocolate. O grupo foi unânime ao identificar as suas marcas de referência, que são respectivamente, Trident e Nestlé. Desta forma, foram escolhidos produtos similares aos indicados, mas que não são comercializados no Brasil, o chicle Stride e o chocolate Caramilk para a realização do experimento. Em relação a celebridades, escolheu-se a atriz Grazielli Massafera e o jogador de futebol David Beckham, devido terem sido as celebridades mais comentadas. Na fase experimental, foram realizadas 06 sessões em salas (experimento de laboratório) em seis instituições de ensino, tendo como público-alvo alunos do primeiro, segundo e terceiro ano do ensino médio, do sexo feminino e masculino para participarem do experimento. Cada seção teve uma média de 14 pessoas, totalizando uma amostra de 85 adolescentes. Cada participante recebia um envelope, aleatoriamente escolhido, com um anúncio e um questionário. Primeiramente o respondente retirava o anúncio, olhava-o por 30 segundos, após guardava-o no envelope, retirava o questionário e respondia-o. Foi solicitado que nenhum integrante da amostra falasse ou olhasse paro o outro durante o experimento. Os participantes não tinham conhecimento dos procedimentos, nem do tempo que tinham para IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 7 realizar cada etapa. Esse procedimento foi realizado para não afetar a confiabilidade do experimento. Foram desenvolvidos 06 anúncios que representam a variável independente do estudo, sendo divididos em dois tipos, os com celebridades e os sem celebridades, para que o experimento possa analisar as diferenças de avaliação dos anúncios. Foram desenvolvidos novos anúncios para que não houvesse nenhum tipo de familiaridade do espectador com o anúncio, para assim não afetar em sua percepção e suas respostas. Nesse mesmo sentido, justifica-se a utilização de produtos não comercializados no Brasil, pois dessa maneira não há uma lembrança prévia do produto. Como já citado acima, foram utilizadas duas celebridades (Grazielli Massafera e David Beckham) e uma mulher desconhecida e dois produtos (Stride e Caramilk). Os anúncios possuem a seguinte mensagem: o que é o que é? Uma delícia de morder, você sempre quer ter com você; as pessoas querem emprestado; é tudo de bom; além de tudo é um doce/chicle. Todos os anúncios são do mesmo formato, como pode ser visto nos exemplos abaixo. Figura 2: Anúncios Elaboração: Agência de publicidade O questionário foi desenvolvido a partir dos estudos de Petroll (2003) e Carneiro (2002), tendo questões sobre a lembrança do produto, da marca e da mensagem da campanha, descrição da figura do anúncio, avaliação do anúncio e da pessoa do anúncio. Em relação ao anúncio, foram avaliadas a confiabilidade da mensagem, o interesse despertado ao produto, se é agradável de ver e se tem qualidade. Em relação à pessoa do anúncio, questionamentos foram sobre se passa confiabilidade, se chama atenção para o produto, se tem prestígio pessoal, se tem poder de influência sobre o público e se tem conhecimento sobre o produto anunciado. Em relação ao anúncio, 30 estudantes foram expostos aos anúncios da Grazielli Massafera, 27 do David Beckham e 28 com o do desconhecido. IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 8 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Nessa seção, busca-se analisar os dados coletados e entender como o endosso de celebridades afeta a compra de produtos de baixo envolvimento por adolescentes. Com esse intuito, são contrapostos os resultados obtidos com os anúncios com fontes desconhecidas e os resultados obtidos com os anúncios com celebridades. A comparação das respostas desses dois grupos foi feita com base no teste t, comparando-se as médias dos grupos, nas questões de avaliação. Quanto ao produto anunciado, a maior parte dos respondentes após ver o anúncio lembrou qual era o produto anunciado, correspondendo a um percentual de 80%. Deste valor, os que analisaram o anúncio com o desconhecido foram os que mais se lembraram do produto, apesar da diferença não ser tão significativa, como se pode acompanhar na tabela 1. Tabela 1 – Lembrança do produto Qual é o PRODUTO anunciado? Não Personagem Lembrou Confundiu lembrou 23 3 4 Grazi Massafera 76,70% 10% 13,30% 20 2 5 David Beckham 74,10% 7,40% 18,50% 25 0 3 Desconhecido 89,30% 0% 10,70% 68 5 12 Total 80,00% 5,90% 14,10% TOTAL 30 100% 27 100% 28 100% 85 100% Fonte: Dados da pesquisa Quando se analisa separadamente, percebe-se que a diferença continua não sendo significativa. Os anúncios com o desconhecido foram os que tiveram mais respostas corretas, ou seja, as pessoas lembraram mais do produto, quando o mesmo estava sendo anunciado por um desconhecido. Tabela 2 - Lembrança do produto: sexo Lembrou David Beckham Desconhecido Total Feminino Grazi Massafera 12 75% 10 76,92% 13 86,66% 35 79,54% Masculino Personagem Qual é o PRODUTO anunciado? Não Não Confundiu TOTAL Lembrou Confundiu TOTAL lembrou lembrou 3 1 16 11 0 3 14 18,75% 6,25% 100% 78,57% 0% 21,42% 100% 1 2 13 10 1 3 14 7,69% 15,38% 100% 71,42% 7,14% 21,42% 100% 0 2 15 12 0 1 13 0% 13,33% 100% 92,30% 0% 7,69% 100% 4 5 44 33 1 7 41 9,09% 11,36% 100% 80,48% 2,43% 17,07% 100% Fonte: Dados da pesquisa IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 9 Com a análise dos resultados acima, percebe-se que para lembrança do produto, a utilização de celebridades não proporciona um resultado positivo em relação ao desconhecido. Além de percebermos que nem todos prestaram atenção a mensagem, pois no anúncio, ao final da mensagem estava explícito qual era o produto que estava sendo divulgado. Quando perguntadas sobre a marca do produto anunciado, apenas 44,70% das pessoas acertaram qual era a marca anunciada. Isso pode ter ocorrido devido ao fato de o nome da marca ser mais difícil de ser lembrado, principalmente, por ter sido o primeiro e único contato do adolescente com esta. Analisando a diferença entre a celebridade e o desconhecido, percebe-se que nos anúncios que havia celebridade a marca foi mais lembrada, do que nos anúncios no qual o personagem era desconhecido. Novamente, ao contrário do que ocorreu na lembrança do produto, no qual os anúncios com o desconhecido o produto foi mais lembrado. Engel, Blackwell e Miniard (2000, p.365) já apontavam que os endossadores de produtos podem ajudar a determinar o grau de persuasão do anúncio de várias maneiras e as celebridades podem servir como mecanismo para atrair a atenção, como ocorreu. Tabela 3 - Lembrança da marca Qual é o nome da MARCA do produto anunciado? Personagem Grazi Massafera David Beckham Desconhecido Total 15 50% 13 48% 10 36% 38 5 16,66% 6 22% 8 29% 19 Não TOTAL lembrou 10 30 33% 100% 8 27 29,62% 100% 10 28 36% 100% 28 85 44,70% 22,35% 32,94% Lembrou Confundiu 100% Fonte: Dados da pesquisa O público masculino lembrou mais da marca do que o público feminino, respectivamente, 53, 65% e 36,36%. Provavelmente, um dos motivos tenha sido devido haver dois personagens do sexo feminino, o que poderia chamar mais atenção para o anúncio, além do personagem do sexo masculino, ser um esportista do futebol, mais próximo ao perfil masculino. Shimp (2002) afirma que as pessoas mais capazes de convencer os outros a seguirem um curso de ação específico são aquelas vistas como confiáveis e conhecedoras de IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 10 um determinado assunto, como a eficácia de uma marca. Assim, tem-se mais probabilidade de adotar um comportamento ou praticar uma ação quando o influenciador, a pessoa que promove essa ação, for encantador. Entre várias manifestações de afeição, as mais importantes na comunicação de marketing são a atração física e a similaridade. Quanto mais os consumidores acreditam na pessoa, mais receptivos estarão aos apelos do anúncio. Os dados citados acima podem ser acompanhados na tabela 4. Tabela 4 - Lembrança do produto: sexo David Beckham Desconhecido Total Feminino Grazi Massafera Masculino Personagem Qual é o nome da MARCA do produto anunciado? Não Não Lembrou Confundiu TOTAL Lembrou Confundiu TOTAL lembrou lembrou 7 2 7 16 8 3 3 14 43% 12,50% 43,75% 100% 57,14% 21,42% 21,42% 100% 5 4 4 13 8 2 4 14 38% 30,76% 30,76% 100% 57,14% 14,28% 28,57% 100% 4 6 5 15 6 2 5 13 26,66% 40% 33,33% 100% 46,15% 15,38% 38,46% 100% 16 12 16 44 22 7 12 41 36,36% 27,27% 36,36% 100% 53,65% 17,07% 29,26% 100% Fonte: Dados da pesquisa Quanto à lembrança da mensagem, muitos dos adolescentes não responderam qual era a mensagem do anúncio. Outros se fixaram no que o anúncio dizia, tentaram descrever exatamente o que estava escrito, sendo que uns apenas colocaram a primeira frase, outros tentaram colocar a mensagem completa, com os pedaços que lembravam. Por exemplo: “O que é o que é?” e “O que é o que é?/ - é gostoso de morder/ - você quer ter/ - todo mundo quer emprestado...” Alguns adolescentes descreveram mais a mensagem que interpretaram ao ver o anúncio, como: “Que é algo que todos gostam e querem ter sempre junto consigo”, “O produto é tão “bom” entre outras definições, quanto a moça que faz sua propaganda”, “Que o produto é como o homem, todos querem ter”, “Propaganda do produto tentando comparar com a mulher”, “A mensagem é de uma coisa maravilhosa, cobiçada e sempre bem vinda”, “Bom a mensagem é que é um produto bom, gostoso e que todos querem experimentar”, “A propaganda mostra que o chocolate, se for consumido, é tão bom quanto a mulher é bonita”, “É bom de ter ao seu lado, é bom de pedir emprestado, todo mundo quer morder, além disso é um doce”, “chama atenção não pelo produto, mas sim pela pessoa que esta “anunciando”, “é algo muito bom e que você gostaria de ter sempre com você, como as mulheres”. A maior IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 11 parte dos adolescentes ligou as qualidades físicas do anunciante ao produto, descrevendo que o anúncio passava a idéia de comparação. A capacidade de avaliação e julgamento do adolescente normalmente é limitada ou incompleta, apesar de acreditarem que já fora desenvolvido. Essa capacidade é fortemente dependente do conjunto de experiências acumuladas e, até a adolescência, tendem a ser incipientes (LACHER e COSTA 2008). Analisando as médias das questões que avaliam o anúncio, verificou-se que apenas as questões nas quais questionava se o anúncio despertava interesse pelo produto e se era agradável de ver teve médias diferentes o suficiente entre os dois grupos para se afirmar que há diferença. Esse resultado mostrou que nas duas questões os anúncios que apresentaram maiores médias foi os que não utilizavam celebridades. No primeiro (desperta interesse pelo produto) os anúncios com celebridades tiveram média 3,38 e os que não utilizavam celebridades tiveram média 3,96. No outro (se o anúncio era agradável de ver) as médias dos anúncios com celebridades foi de 3,35 e dos anúncios sem celebridades foi de 3,96. Tabela 5 – Anúncio ANÚNCIO Passa confiabilidade à mensagem Desperta interesse pelo produto Agradavél de ver Tem boa qualidade Personagem Desconhecido Celebridade Desconhecido Celebridade Desconhecido Celebridade Desconhecido Celebridade Média Teste T 3,07 0,594051 3,21 0,5991943 3,96 3,38 0,0680297 0,0380128 3,96 3,35 0,0605244 0,042587 3,75 3,5 0,347271 0,2802694 Fonte: Dados da pesquisa As mesmas diferenças citadas acima aconteceram no público masculino. Em relação ao despertar interesse pelo produto, o desconhecido teve média de 4,23 e a celebridade média de 3,35. Na questão agradável de ver, o desconhecido teve média de 4,69 e a celebridade de 3,46. IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 12 Tabela 6 - Anúncio: sexo ANÚNCIO Passa confiabilidade à mensagem Desperta interesse pelo produto Agradavél de ver Tem boa qualidade Personagem Desconhecido Celebridade Desconhecido Celebridade Desconhecido Celebridade Desconhecido Celebridade Feminino 3 3,48 3,733 3,41 3,33 3,24 3,66 3,68 0,1683014 0,1947898 0,4705723 0,4269973 0,8357263 0,8235818 0,9461561 0,9398185 Masculino 3,15 2,92 4,23 3,35 4,69 3,46 3,84 3,32 0,5626918 0,5637377 0,0605408 0,0229824 0,0083994 0,0007965 0,1827012 0,1186861 Fonte: Dados da pesquisa Para Samara e Morsch (2005) quando os consumidores vêem num anúncio uma pessoa com que se identificam ou que aspiram ser, isso acrescenta outra dimensão à imagem e à significação do produto. É baseada nesse tipo de influência de grupo de referência a presença de pessoas altamente visíveis e admiráveis na propaganda de muitas categorias de produtos. Na avaliação da pessoa do anúncio, não se pode comprovar estatisticamente que as médias são diferentes o suficiente entre os dois grupos para se afirmar que há diferença na percepção dos respondentes entre os anúncios com celebridades e os sem celebridades, como pode ser visto na tabela 7. Tabela 7 - Pessoa do anúncio Personagem PESSOA Desconhecido Celebridade Desconhecido Chama atenção para o produto Celebridade Desconhecido Tem prestígio pessoal Celebridade Tem poder de influência sobre o Desconhecido produto Celebridade Desconhecido Tem conhecimento sobre o produto Celebridade Passa confiabilidade Média Teste T 3,28 0,8179273 3,21 0,81647 3,96 0,6126958 3,78 0,6118321 3,64 0,4672187 3,85 0,4778001 4,17 0,7183831 4,26 0,7036616 2,42 0,9322377 0,16 0,935012 Fonte: Dados da pesquisa Quando se analisa por sexo, a questão que questionava se tinha poder de influência sobre o público apresentou médias diferentes no sexo feminino. Nesse caso, a celebridade IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 13 teve média maior que o desconhecido, 4,45 contra 3,93, respectivamente. Quando as pessoas respondem esse tipo de pergunta, não necessariamente, estão se auto-avaliando, mas sim avaliando o outro, ou seja, nessa questão os adolescentes podem não se sentirem influenciados, mas sim, acham que uma celebridade influencia as demais pessoas. Como já foi citado por um adolescente ao descrever o anúncio: “Um homem com boa aparência, famoso, com influência e leva as pessoas a comprar. Beckham”. Tabela 8 - Pessoa do anúncio: sexo PESSOA Personagem Passa confiabilidade Desconhecido Celebridade 2,93 3,44 0,2039119 0,2118982 3,69 2,96 0,1651795 0,155425 Chama atenção para o produto Desconhecido Celebridade 3,93 4,34 0,3132349 0,3486235 4 3,21 0,1491748 0,1530028 Tem prestígio pessoal Desconhecido Celebridade 3,66 3,79 0,7661747 0,772706 3,61 3,92 0,4669766 0,4804877 Tem poder de influência sobre o produto Desconhecido Celebridade 3,93 4,55 0,0266978 0,0512844 4,46 3,96 0,1903299 0,1062678 Tem conhecimento sobre o produto Desconhecido Celebridade 2,46 2,65 0,6395102 0,653728 2,38 2,14 0,5786072 0,6060408 Feminino Masculino Fonte: Dados da pesquisa Não se pode comprovar, estatisticamente, que em relação à avaliação da pessoa do anúncio há diferença entre as médias dos dois grupos. Apenas, quando se separa por sexo, pode-se provar que no sexo feminino, na questão sobre influência sobre o público a celebridade apresentou média maior do que o desconhecido. A tabela seguinte, contendo a amostra total, não apresenta médias diferentes o suficiente para comprovar diferença na população. Fazendo uma análise geral, percebe-se que a média do quanto o entrevistado gosta do anúncio, do produto e do personagem, ficou em torno de 7. Solomon (2002) explica que os adolescentes modernos foram criados com a Televisão e tendem a ser mais sábios comparando-os com gerações mais velhas. As mensagens devem ser vistas como autenticas e não condescendentes. O autor ainda coloca que os adolescentes decidem rapidamente se é legal ou não, se querem ou não determinado produto. IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 14 Tabela 9 - O quanto você gosta do anúncio, do produto e do personagem O quanto você gosta do ... Personagem Média Teste T 7,07 6,62 7,39 7,08 7,14 7,2 0,40567 0,39828 0,62221 0,65688 0,93766 0,93926 Desconhecido Celebridade Desconhecido PRODUTO Celebridade Desconhecido PERSONAGEM Celebridade ANÚNCIO Fonte: Dados da pesquisa Quando se analisa por sexo, percebe-se diferença. As médias masculinas para o anúncio, após passarem pelo Teste T, mostraram que os adolescentes gostaram mais do anúncio com um desconhecido (média 8,23), do que com celebridades (média 6,69). Isso pode estar relacionado com a questão dos anúncios de celebridade conter um homem, dividindo a média com a atriz, já o desconhecido era do sexo feminino. Em relação ao personagem, percebe-se diferença em ambos os sexos. No sexo feminino, os anúncios que havia celebridades obtiveram uma média maior (7,75), do que os anúncios com desconhecidos (4,73). O oposto ocorreu no caso do sexo masculino, as celebridades obtiveram média de 6,62, já o anúncio com o desconhecido obteve média de 9,92. Isso pode ter ocorrido devido ao sexo dos personagens, ou seja, duas mulheres e um homem, como colocado acima. Tabela 10 - O quanto você gosta do anúncio, do produto e do personagem: sexo O quanto você gosta do ... Personagem Desconhecido Celebridade Desconhecido PRODUTO Celebridade Desconhecido PERSONAGEM Celebridade ANÚNCIO Feminino 6,06 6,55 8,13 7,79 4,73 7,75 0,5218 0,53493 0,71758 0,75956 Masculino 8,23 6,69 6,53 6,35 0,00157 9,92 0,00293 6,62 Fonte: Dados da pesquisa 0,0407 0,0103 0,8047 0,7941 0,0019 4E-05 IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 15 Fazendo uma análise geral, percebe-se que a média do quanto o entrevistado gosta do anúncio, do produto e do personagem, ficou em torno de 7. Quando se analisa por sexo, percebe-se que os jovens do sexo masculino gostaram mais do anúncio com um desconhecido, do que com celebridades. Em relação ao personagem, há diferença em ambos os sexos. No sexo feminino, os anúncios que havia celebridades obtiveram uma média maior, do que os anúncios com desconhecidos. O oposto ocorreu no caso do sexo masculino, as celebridades obtiveram médias menores do que os anúncios com o desconhecido. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo procurou verificar o impacto do endosso de celebridades na compra de produtos de baixo envolvimento por adolescentes. Para isso buscou identificar o que os consumidores adolescentes mais lembram ao ver uma campanha com ou sem celebridade e verificar as associações que os consumidores adolescentes fazem entre a imagem da celebridade e o produto anunciado. Ao avaliar as marcas e os produtos percebeu-se que não houve diferença entre os anúncios que continham um desconhecido ou uma celebridade. Além de nos atributos de despertar interesse pelo produto e ser agradável de ver, os anúncios que não tinha celebridades obtiveram médias maiores do que os que o endossador era uma celebridade. O estudo também comprova que os anúncios nos quais havia celebridades a marca foi mais lembrada, do que nos anúncios no qual o personagem era desconhecido. Pode-se perceber que muitos dos adolescentes se influenciam, ou pelo menos acham que os outros se influenciam, com as celebridades. Apesar disso não aparecer explicitamente na avaliação do anúncio, foi citado em uma das questões. Outro fator que ficou claro no estudo é a questão da relação entre o personagem e o produto, a maior parte dos entrevistados ligou os atributos da celebridade aos do produto. Para a amostra como um todo, a utilização de celebridades na propaganda tem um impacto favorável sobre a lembrança da marca e a quando se deseja ligar as características da celebridade ao produto, porém não influencia a avaliação do anúncio propriamente dito. Não se pode deixar de salientar que esses resultados são limitados por uma série de fatores específicos da pesquisa, entre estes se destaca: as peças publicitárias utilizadas, as marcas, os produtos anunciados e as celebridades envolvidas. Escolher uma celebridade correta é uma tarefa difícil, segundo Kotler (1998), pois necessita ser uma influência positiva, ter alto reconhecimento e estar diretamente relacionada ao produto. Além disso, o fato de a IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 16 pesquisa ter utilizado exclusivamente a mídia impressa traz importantes limitações para os resultados obtidos. Para estudos futuros, recomenda-se a utilização de uma combinação de mídias, o que poderá gerar diferentes resultados. A mídia televisiva é um grande influenciador e não foi utilizada nesse experimento. Considera-se que a utilização de artistas em anúncios vinculados à televisão tenha impacto relativamente mais favorável do que apenas na mídia impressa. Apesar de suas limitações o presente estudo traz informações importantes para futuros estudos. Essa área de pesquisa se torna cada vez mais importante devido ao número de celebridades que endossam produtos e do valor movimentado nessa indústria. IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 1 THE CELEBRITY ENDORSEMENT IMPACTO ON THE ADOLESCENT LOW-INVOLVEMENT PRODUCT BUYING ABSTRACT This study is to understand the influence of celebrities on the purchase of low involvement by adolescents. From the understanding about the influences of reference groups and celebrity endorsement, an experiment has been conducted with a group of high school adolescents in order to evaluating the influence of celebrities on consumer’s memory and analyzing the associations they do between celebrity and an advertising product. The results have indicated about the remind of the brand, the advertisements that showed a celebrity were most remembered and the attributes of the endorsers are transferable to the product. The academic and managerial implications of the study, as well as new ways to study the subject are discussed. Keywords: Adolescent. Celebrity. Endorsement. IV Simpósio Internacional de Administração e Marketing VI Congresso de Administração da ESPM São Paulo, 14 e 15 de outubro de 2009 1 REFERÊNCIAS ANDRADE, Josmar; MAZZON, José Afonso; KATZ, Sérgio . Você viu o vídeo do Ronaldinho? 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