implante de marca-passo para tratamento de bloqueio

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
ELAINE CRISTINA STUPAK
IMPLANTE DE MARCA-PASSO PARA TRATAMENTO DE BLOQUEIO
ATRIOVENTRICULAR DE TERCEIRO GRAU EM CÃO - RELATO DE
CASO
CURITIBA
2013
ELAINE CRISTINA STUPAK
IMPLANTE DE MARCA-PASSO PARA TRATAMENTO DE BLOQUEIO
ATRIOVENTRICULAR DE TERCEIRO GRAU EM CÃO – RELATO DE
CASO
Trabalho de conclusão de curso de
Medicina Veterinária da Universidade
Tuiuti do Paraná como requisito
parcial para obtenção do grau de
Médico Veterinário.
Professor Orientador Milton Mikio
Morishin Filho
CURITIBA
2013
TERMO DE APROVAÇÃO
ELAINE CRISTINA STUPAK
IMPLANTE DE MARCAPASSO PARA TRATAMENTO DE BLOQUEIO
ATRIOVENTRICULAR DE TERCEIRO GRAU EM CÃO – RELATO DE
CASO
Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título
de bacharel no curso de medicina veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 14 de novembro de 2013
_____________________
Bacharelado em Medicina Veterinária
Orientador
Prof. Milton Mikio Morishin Filho
UTP
Prof. Fabiana Monti
UTP
Dr. James Andrade
DEDICATÓRIA
Ao meu pai Claudio que sempre me incentivou a ir
atrás dos próprios sonhos.
A minha mãe Bernadete que sempre fez de tudo
para me apoiar nesse longo caminho.
A minha irmã Camila com quem sempre pude
contar nos momentos difíceis.
AGRADECIMENTOS
A minha mãe e meu pai, pois sem eles não seria possível completar mais
essa etapa da minha vida.
Agradeço o Professor Milton Mikio Morishin filho por aceitar ser meu orientar
no estágio curricular.
Aos Professores Bruno Watanabe Minto e Luiz Fernando Ibanez e aos
residentes Daniela Mattos, Aline Franciosi, Paula Pezzini, Guilherme Sembenelli,
Monica Wittmaack, Marcos Vinicius Sicca Guiduce e Cinthya Bueno, por tudo que
me ensinaram nesses dois meses de estágio.
A UFPR e a UNESP- Jaboticabal por terem me aceito no estágio curricular.
Ao meu amigo Marlon que esteve ao meu lado em toda minha graduação.
Aos residentes da UTP que colaboraram muito para minha formação.
RESUMO
O bloqueio atrioventricular de terceiro grau é uma cardiopatia que provoca
sinais clínicos graves, limitando a atividade do animal e diminuindo a
expectativa e qualidade de vida. Pode ser resultado de diferentes condições
primárias e caracteriza-se uma deficiência completa e persistente de
condução de impulso através do nodo atrioventricular, gerando incapacidade
total dos estímulos atriais chegarem aos ventrículos. Os sinais clínicos estão
associados a bradicardia, sendo os mais comuns intolerância a exercício e
síncope. O único tratamento eficaz para animais com bloqueio atrioventricular
completo sintomático é a colocação de um marca-passo cardíaco
permanente. Existem técnicas cirúrgicas epicárdicas e endocárdicas para
realizar
o
procedimento.
Cada
técnica
possui
suas
vantagens
e
desvantagens, porém ambas necessitam de uma equipe cirúrgica bem
treinada e avaliação pré-cirurgica completa do paciente. O presente trabalho
tem como objetivo revisar o bloqueio atrioventricular de terceiro grau em cães
e abordar o funcionamento, técnicas de implante e principais complicações
relacionadas à terapia de marca-passo cardíaco, assim como relatar um caso
de implante de marca-passo cardíaco em um cão com sucesso.
.
Palavras chave: Cardiopatia, estimulação artificial, esternotomia.
ABSTRACT
The third degree atrioventricular block is a disease that cause several clinical
signs, limiting the activity of the animal and decreasing the quality and life
expectancy.
Can
be
produced
by
different
primary
conditions
and
characterized a deficiency of complete and persistent impulse conduction
through the atrioventricular node, generating total inability of atrial stimuli
reach the ventricles. The clinical signs are associated with bradycardia, and
the most common signs are exercise intolerance and syncope. The only
effective
treatment
for
animals
with
complete
atrioventricular
block
symptomatic is the placement of a permanent pacemaker. There epicardial
and endocardial surgical techniques to perform the procedure. Each technique
has its advantages and disadvantages, but both require a well trained surgical
team and a complete evaluating of patients before surgery. This paper aims to
review the third degree atrioventricular block in dogs and addressing
operation, implant techniques and major complications related to the therapy
of cardiac pacemakers, as well as report a case of implantation of pacemaker
in a dog with success.
Key words: heart disease, artificial stimulation, sternotomy.
LISTA DE SIGLAS
ALT
Alanina aminotransferase
BAV
Bloqueio atrioventricular
bpm
Batimentos por minuto
ECG
Eletrocardiograma
FA
Fosfatase alcalina
FC
Frequência cardíaca
HV
Hospital Veterinário
HVUFPR
Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná
HVGLN
Hospital Veterinário Governado Laudo Natel
MG
Miligrama
KG
Quilograma
SRD
Sem Raça Definida
T8
Oitava vértebra torácica
T11
Décima primeira vértebra torácica
UTP
Universidade Tuiuti do Paraná
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.
CENTRO CIRÚRGICO HVUFPR......................................................... 14
FIGURA 2.
AMBULATÓRIO CLÍNICO DESTINADO A QUIMIOTERAPIA DE
PEQUENOS ANIMAIS NO HVUFPR......... .......................................... 16
FIGURA 3.
SALA DE PREPARO CIRÚRGICO HVUFPR ...................................... 17
FIGURA 4.
SALA DE PÓS-OPERATÓRIO HVUFPR ............................................ 18
FIGURA 5 . AMBULATÓRIO DO SETOR DE CLÍNICA CIRÚRGICA HVGLN ........ 25
FIGURA 6.
CENTRO CIRÚRGICO HVGLN ........................................................... 26
FIGURA 7. ECG DE UM CÃO COM BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR
COMPLETO. ............................................................................................................. 34
FIGURA 8.
GERADOR DE PULSO DUPLA CÂMARA BIPOLAR .......................... 37
FIGURA 9. ACIMA ELETRODO DE FIXAÇÃO PASSIVA E ABAIXO ELETRODO
DE FIXAÇÃO ATIVA ................................................................................................. 38
FIGURA 10. ECG DEMONSTRANDO BAV COMPLETO DE CÃO, MACHO,
QUATORZE ANOS, ORQUIECTOMIZADO, DA RAÇA TECKEL, ATENDIDO NA
CLÍNICA ESCOLA DA UTP....................................................................................... 46
FIGURA 11. RADIOGRAFIA VENTRO-DORSAL E LATERO-LATERAL DE CÃO
MACHO, QUATORZE ANOS, ORQUIECTOMIZADO, DA RAÇA TECKEL NO PÓSOPERATÓRIO DO IMPLANTE DO MARCAPASSO. É POSSÍVEL VISUALIZAR O
GERADOR DE PULSO E O ELETRODO POSICIONADO NO VENTRÍCULO ......... 48
FIGURA 12. ECG SETE MESES APÓS A IMPLANTAÇÃO DO MARCA-PASSO
CARDÍACO DE CÃO, MACHO, QUATORZE ANOS, ORQUIECTOMIZADO, DA
RAÇA TECKEL ......................................................................................................... 49
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1. NÚMERO DE NEOPLASIAS DIAGNOSTICADAS NO ATENDIMENTO
AMBULATORIAL NO HVUFPR, NO PERÍODO DE 05/08 À 30/08/2013 .................. 19
GRÁFICO 2. CIRURGIAS ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO NO HVUFPR
(N=20), ENTRE 05/08 À 30/08/2013..........................................................................20
GRÁFICO 3. INCIDÊNCIA DE RAÇAS DE CÃES QUE APRESENTARAM
NEOPLASIAS NO HVUFPR, DURANTE 05/08 ATÉ 30/08/2013.............................. 21
GRÁFICO 4. CASOS ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DO HVGNL (N=28), NO
PERÍODO DE 02/09 À 04/10/2013 ............................................................................ 28
GRÁFICO 5. PORCENTAGEM DE CASOS ATENDIDOS DE ACORDO COM O
DIAGNÓSTICO NO HVGLN (N=28), NO PERÍODO DE 02/09 À 04/10/2013 ........... 28
GRÁFICO 6. PORCENTAGEM DE CIRURGIAS ACOMPANHADAS NO HVGLN
(N=30), NO PERÍODO DE 02/09 À 04/10/2013 ........................................................ 29
GRÁFICO 7. PROCEDIMENTOS ACOMPANHADOS NO CENTRO CIRÚRGICO
DO HVGLN, NO PERÍOD DE 02/09 À 04/10/2013. .................................................. 29
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – PRINCIPAIS NEOPLASIAS TRATADAS COM QUIMIOTERAPIA NO
HVUFPR, DURANTE O PERÍODO DE 05/08 À 30/08/2013 .................................... 21
SUMÁRIO
1.
APRESENTAÇÃO LOCAL DO ESTÁGIO ....................................................... 13
1.1.
Áreas do HVUFPR .......................................................................................... 13
1.2.
Funcionamento ................................................................................................ 14
1.3.
Atendimento clínico ......................................................................................... 15
1.4.
Aplicação de quimioterápicos .......................................................................... 16
1.5.
Procedimentos cirúrgicos oncológicos ............................................................ 17
1.6.
Rotina do estagiário ........................................................................................ 19
1.7.
Casuística........................................................................................................ 21
2.
APRESENTAÇÃO LOCAL DO ESTÁGIO ....................................................... 23
2.1.
Áreas do HVGLN ............................................................................................. 23
2.2.
Funcionamento ................................................................................................ 24
2.3.
Atendimento clínico ......................................................................................... 25
2.4.
Procedimentos cirúrgicos ................................................................................ 26
2.5.
Rotina do estagiário ........................................................................................ 27
3.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 30
3.1.
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 30
3.2.
INDICAÇÕES PARA IMPLANTE DE MARCAPASSO .................................... 32
3.3.
BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR DE TERCEIRO GRAU ............................ 32
3.3.1. Aspectos gerais ............................................................................................... 32
3.3.2. Etiologia........................................................................................................... 33
3.3.3. Sinais clínicos .................................................................................................. 33
3.3.4. Diagnóstico...................................................................................................... 34
3.3.5. Tratamento ...................................................................................................... 35
3.3.6. Prognóstico ..................................................................................................... 35
3.4.
MARCAPASSO CARDÍACO ........................................................................... 36
3.4.1. Histórico .......................................................................................................... 36
3.4.2. Componentes .................................................................................................. 36
3.4.3. Códigos de identificação ................................................................................. 38
3.4.4. Telemetria ....................................................................................................... 39
3.5.
IMPLANTE DE MARCAPASSO ...................................................................... 39
3.5.1. Avaliação do paciente ..................................................................................... 39
3.5.2. Procedimento cirúrgico .................................................................................... 40
3.5.3. Implante de marcapasso endocárdico transvenoso ....................................... 41
3.5.4. Implante de marcapasso epicárdico ................................................................ 42
3.5.4.1 Abordagem cirúrgica transdiafragmática ....................................................... 42
3.5.4.2. Abordagem cirúrgica por toracotomia........................................................... 42
3.5.4.3. Abordagem cirúrgica por esternotomia......................................................... 43
3.5.5. Avaliação pós-operatória ................................................................................. 43
3.5.6. Complicações .................................................................................................. 44
4.
RELATO DE CASO ......................................................................................... 46
5.
DISCUSSÃO ................................................................................................... 49
6.
CONCLUSÃO .................................................................................................. 53
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54
13
1. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO
HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
O Hospital Veterinário da UFPR se localiza na Rua dos Funcionários, n° 1540,
no município de Curitiba, no estado do Paraná.
Presta serviços profissionais médicos-veterinários nas áreas de clínica
médica e clínica cirúrgica de pequenos e grandes animais e diagnósticos
laboratoriais à comunidade em geral. O Hospital Veterinário (HV) serve de local de
treinamento, de aperfeiçoamento e de pesquisa para professores e alunos de
graduação e de pós-graduação, para médicos veterinários e servidores técnicos
administrativos em todas as áreas relacionadas com a prática da Medicina
Veterinária. Também realiza e proporciona meios para a pesquisa e a investigação
científica.
O setor destinado ao atendimento de pequenos animais conta com as
especialidades
de
clínica
médica,
clínica
cirúrgica,
oncologia,
cardiologia,
oftalmologia, odontologia e diagnóstico por imagem. A equipe é composta por
professores, residentes, pós-graduandos, auxiliares, estagiários e por alunos do
curso de Medicina Veterinária da UFPR.
O estágio obrigatório curricular foi realizado na área de oncologia em
pequenos animais no período de 05/08/2013 até 30/08/2013, totalizando 160 horas.
1.1. ÁREAS DO HVUFPR
Na área do HV destinada ao atendimento de pequenos animais encontramse:

Recepção

Cinco ambulatórios para atendimento clínico

Um ambulatório para atendimento oftálmico

Uma sala de emergência destinada ao pronto atendimento

Uma sala destinada ao pós-operatório

Bloco cirúrgico
14

Internamento de cães

Internamento de gatos

Sala de exame radiográfico

Sala de ultrassonografia

Sala de exames cardiológicos

Laboratório de patologia

Laboratório de análises clínicas
O bloco cirúrgico é composto pela sala de preparo, vestiários feminino e
masculino, dois centros cirúrgicos (FIGURA 1), área para lavagem das mãos,
expurgo e sala de esterilização de materiais.
FIGURA 01 – CENTRO CIRÚRGICO HVUFPR
Fonte: o próprio autor
1.2. FUNCIONAMENTO
O atendimento veterinário é realizado de segunda a sexta feira nos seguintes
horários: entre 08:00 até 12:00 horas e entre 14:00 até 18:00 horas. As consultas
marcadas eram previamente agendadas por telefone na recepção do HVUFPR. Os
funcionários da recepção eram responsáveis por encaminhar os pacientes para os
diversos setores de atendimento de acordo com a queixa apresentada.
15
Para todos os animais atendidos era aberta uma ficha clínica com um
número. Após a consulta essa ficha era arquivada e um cartão contendo o número
da ficha clínica era dado ao proprietário para que ele o apresentasse no retorno.
Também eram realizados atendimentos de emergência por todos os
residentes do HVUFR, que faziam um esquema de revezamento semanal no pronto
atendimento.
1.3. ATENDIMENTO CLÍNICO
Após receber a ficha do paciente pelo residente, o estagiário deveria verificar
se algum ambulatório estava disponível para realizar o atendimento e se dirigir até a
recepção para chamar o proprietário. Antes de entrar no ambulatório o estagiário
pesava o paciente.
No ambulatório, o estagiário realizava a anamnese e o exame físico do
animal. Todos os dados eram passados para o residente responsável, que
examinava o animal posteriormente e solicitava exames complementares quando
necessário. O exame citopatológico era realizado rotineiramente nos pacientes e o
material era enviado para o laboratório de patologia da UFPR, os resultados eram
liberados em aproximadamente três dias. Era permitido ao estagiário realizar o
exame citopatológico acompanhado do residente responsável.
Os exames complementares como ultrassonografia, radiografia e exames
cardiológicos eram previamente agendados no dia da consulta inicial.
O residente responsável pelo caso estabelecia o diagnóstico e o tratamento.
Nos casos onde o tratamento clínico era indicado, o residente orientava o estagiário
na prescrição das receitas. O estagiário era responsável por explicar as receitas ao
proprietário e o encaminhar até a recepção para agendar o retorno.
Nos casos onde o tratamento era cirúrgico, o residente explicava ao
proprietário como o procedimento iria ser realizado e todos os riscos relacionados a
ele. Após o residente conversar com o proprietário era realizada a consulta
anestésica por um residente da anestesiologia.
16
1.4. APLICAÇÃO DE QUIMIOTERÁPICOS
As quimioterapias eram realizadas no HVUFPR em dois dias específicos da
semana (segunda e quinta-feira) no período da tarde. As seções de quimioterapia
eram agendadas pelo residente responsável pelo caso.
O quimioterápico utilizado era encomendado em um laboratório particular
(ceqnep) com a dose manipulada especificamente para cada animal.
O
procedimento era realizado em um ambulatório específico, que já estava equipado
com todo o material necessário (FIGURA 2).
Não era permitido ao proprietário acompanhar o procedimento, exceto quando
o animal era agressivo. Para realizar a aplicação do quimopterápico todos os
participantes utilizavam equipamento de proteção individual adequado, composto
por: avental cirúrgico, gorro, máscara e luvas de procedimento. Era permitido ao
estagiário fazer o acesso venoso e aplicar o medicamento quimioterápico
juntamente com os residentes.
FIGURA 02 – AMBULATÓRIO CLÍNICO DESTINADO A QUIMIOTEPAPIA DE
PEQUENOS ANIMAIS NO HVUFPR.
Fonte: o próprio autor
17
1.5. PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS ONCOLÓGICOS
As cirurgias oncológicas eram realizadas pelos residentes da oncologia.
Durante dois dias na semana (terça e sexta-feira) um centro cirúrgico ficava
disponível para realizar as cirurgias no período da manhã e da tarde.
Para realizar o procedimento cirúrgico o animal deveria fazer exames
hematológicos como hemograma completo e bioquímicos (ALT, FA, creatinina,
uréia, albumina). Todos os pacientes passavam por exames radiográficos e
ultrassonagráficos para fazer a pesquisa de metástase antes do procedimento
cirúrgico, independente do tipo de neoplasia. Pacientes com mais de oito anos
passavam, obrigatoriamente, por exame cardiológico.
Os pacientes eram internados um dia antes no HVUFPR para realizar o jejum
hídrico e alimentar, também para evitar atraso do procedimento cirúrgico. O
proprietário deveria chegar até as 17:00 horas do dia anterior à cirurgia para fazer o
internamento e assinar o termo de autorização de cirurgia.
Na manhã do dia seguinte o anestesista fazia o acesso venoso e a medicação
pré-anestésica. A tricotomia do animal era realizada na sala de preparo cirúrgico
pelo estagiário e residente (FIGURA 3). Após realizar a tricotomia o paciente era
encaminhado para o centro cirúrgico, onde o anestesista já estava aguardando.
FIGURA 03 – SALA DE PREPARO CIRÚRGICO HVUFPR.
Fonte: o próprio autor.
18
A entrada no centro cirúrgico era permitida apenas após vestir pijama
cirúrgico, gorro, mascara e pró-pé. O paciente era, então, posicionado na mesa
cirúrgica e a indução anestésica era realizada por via intravenosa. A manutenção da
anestesia era realizada com gás inalatório, após intubação orotraqueal.
A antissepsia cirúrgica era realizada pelo estagiário com álcool 70% e iodo
1%. Para esse procedimento o estagiário deveria vestir uma luva estéril e utilizar
gaze estéril. O procedimento cirúrgico era realizado pelos residentes e auxiliado por
um estagiário. O residente se paramentava enquanto o estagiário realizava a
antissepsia, depois o estagiário se paramentava.
Após realizar o procedimento cirúrgico, o paciente permanecia no centro
cirúrgico até atingir a temperatura corporal de 36°C. Quando atingia a temperatura
adequada o animal era levado para sala de pós-operatório (FIGURA 4), onde ficava
até o momento da alta. Todos os nódulos ou tumores excisados eram enviados para
o laboratório de patologia da UFPR para realização do exame histopatológico.
O paciente era liberado pelo próprio residente ou pelo estagiário, que deveria
explicar as receitas e as recomendações do pós-operatório.
FIGURA 04 – SALA DE PÓS-OPERATÓRIO HVUFPR.
Fonte: o próprio autor
19
1.6. ROTINA DO ESTAGIÁRIO
O estágio curricular realizado no HVUFPR aconteceu no período de
05/08/2013 até 30/08/2013. Durante esse período acompanhei semanalmente
atividades ambulatoriais e atividades no centro cirúrgico.
No atendimento ambulatorial, pude acompanhar 41 casos oncológicos. O
diagnóstico dependia do resultado do exame citopatológico, exceto para neoplasias
mamárias onde esse exame não era realizado. Nesse caso a cirurgia era sempre
indicada em qualquer animal que apresentasse nódulo em mama e, após a cirurgia,
toda cadeia mamária era enviada para realizar o exame histopatológico. O
GRÁFICO 1. mostra o número de casos (n=41) das diferentes neoplasias
diagnosticadas nos pacientes atendidos no ambulatório.
GRÁFICO 01- NÚMERO DE NEOPLASIAS DIAGNOSTICADAS NO
ATENDIMENTO AMBULATORIAL NO HVUFPR, NO PERÍODO DE 05/08 À
30/08/2013.
Como se pode observar o tipo de neoplasia mais encontrada no atendimento
ambulatorial foi a neoplasia mamária (15 casos), seguida pelo mastocitoma (7
casos). O carcinoma inflamatório mamário, terceiro tipo de neoplasia mais vista, foi
separado das neoplasias mamárias porque seu diagnóstico era feito pelos sinais
clínicos e exame citopatológico.
No centro cirúrgico, os procedimentos oncológicos ocorriam duas vezes na
20
semana. Durante o período de estágio, fiquei por oito dias no centro cirúrgico, onde
pude acompanhar e auxiliar um total de 20 cirurgias oncológicas, sendo 11
mastectomias, 7 nodulectomias e 2 esplenectomias. A mastectomia foi a cirurgia
oncológica mais comumente realizada durante o período de estágio no HV como
mostra o GRÁFICO 2.
GRÁFICO 02 – CIRURGIAS ACOMPANHADAS DUARNTE O ESTÁGIO NO
HVUFPR (N=20) ENTRE 05/08/2013 E 30/08/2013.
As quimioterapias eram realizadas quando, após o resultado do exame
histopalógico, o tratamento cirúrgico não era considerado como curativo. Também
eram realizadas em pacientes que tinham neoplasias onde apenas a quimioterapia é
considerada como tratamento de escolha. Durante o período do estágio pude
acompanhar oito pacientes que estavam realizando o tratamento quimioterápico
como mostra o QUADRO 1.
Esses pacientes recebiam o quimioterápico conforme o protocolo estipulado
pelo residente responsável pelo caso.
21
QUADRO 1- PRINCIPAIS NEOPLASIAS TRATADAS COM QUIMIOTERAPIA NO
HVUFPR, DURANTE O PERÍODO DE 05/08 A 30/08/2013.
Neoplasia
Número de animais
Mastocitoma
4
Linfoma
3
Osteossarcoma
1
1.7. CASUÍSTICA
Foram atendidos, ao todo, 61 animais entre ambulatório e centro cirúrgico.
Destes, apenas um era da espécie felina e os outros 60 animais da espécie canina.
A maior incidência de neoplasias foi em animais sem raça definida (SRD) totalizando
17 animais, seguida de cães das raças pit bull, labrador, golden retriever e rottweiler,
como mostra o GRÁFICO 3. A média de idade dos animais atendidos foi de onze
anos.
GRÁFICO 03 – INCIDÊNCIA DE RAÇAS DE CÃES QUE APRESENTARAM
NEOPLASIAS NO HVUFPR, DURANTE 05/08 ATÉ 30/08/2013.
22
Quanto ao porte dos animais atendidos, 45% representavam animais de porte
médio (entre 10 até 30 Kg), 36,7% representavam animais de porte grande (mais
que 30 Kg) e apenas 18,3% eram animais de pequeno porte (até 10 Kg).
23
2. APRESENTAÇÃO DO LOCAL DO ESTÁGIO
HOSPITAL VETERINÁRIO GOVERNADOR LAUDO NATEL-UNESP
O Hospital Veterinário Governador Laudo Natel está localizado na Via de
Acesso à rua Prof. Paulo Donato Castellane, no município de Jaboticabal do estado
de São Paulo.
Foi inaugurado no dia 06 de maio de 1974 e tem como principais finalidades
contribuir para o ensino e treinamento dos alunos do curso de graduação e pósgraduação em medicina veterinária, oferecer treinamento através de estágios a
estudantes, propiciar meios e condições para o desenvolvimento de pesquisa,
permitir o treinamento de alunos do nível médio (Colégio Agrícola) em práticas
hospitalares, dar suporte estrutural e logístico ao desenvolvimento de atividades
práticas em cursos extracurriculares voltados ao trabalho médico-hospitalar.
O setor destinado ao atendimento de pequenos animais conta com as
especialidades
de
clínica
médica,
clínica
cirúrgica,
oncologia,
cardiologia,
oftalmologia, odontologia, obstetrícia, nutrição e diagnóstico por imagem.
A equipe é composta por professores, residentes, pós-graduandos,
auxiliares, enfermeiros, estagiários curriculares e por alunos do curso de Medicina
Veterinária da UNESP.
O estágio obrigatório curricular foi realizado na área de cirurgia em pequenos
animais no período de 02/09/2013 até 04/10/2013, totalizando 200 horas.
2.1. ÁREAS DO HVGLN
Na área destinada ao atendimento de pequenos animais encontravam-se:

Recepção

Dois ambulatórios do setor de clínica cirúrgica

Um ambulatório de preparo pré-cirúrgico

Quatro ambulatórios do setor de clínica médica

Um ambulatório do setor de odontologia

Um ambulatório do setor de oftalmologia
24

Um ambulatório do setor de oncologia

Um ambulatório destinado às emergências

Um ambulatório do setor de nefrologia

Dois ambulatórios do setor de cardiologia

Bloco cirúrgico

Sala destinada à fluidoterapia

Sala de enfermagem

Laboratório de nutrição
O bloco cirúrgico era composto pela sala de técnica cirúrgica, sala de
paramentação, duas salas para atividade cirúrgica, sala privativa para cirurgias
oftálmicas e vestiários.
Na parte externa do HV se encontravam:

Setor de imagem (Radiologia, Ultrassonografia, Tomografia).

Farmácia

Sala de esterilização.

Setor de obstetrícia e reprodução

Laboratório de patologia clínica.
2.2. FUNCIONAMENTO
O atendimento veterinário é realizado de segunda a sexta feira nos seguintes
horários: entre 08:00 até 12:00 horas e entre 14:00 até 18:00 horas. Na recepção, os
proprietários pegavam uma senha e aguardavam para serem atendidos. O primeiro
contato era realizado com os funcionários da recepção, que eram responsáveis por
encaminhar os pacientes para os diversos setores de atendimento de acordo com a
queixa apresentada. Para cada animal era aberta uma ficha com um número (RG do
animal). Após a consulta, essa ficha era arquivada e um cartão contendo esse
número era dado ao proprietário para que ele o apresentasse no retorno.
.
25
2.3. ATENDIMENTO CLÍNICO
Após receber a ficha do paciente pelo residente, o estagiário deveria verificar
se algum ambulatório estava disponível para realizar o atendimento e se dirigir até a
recepção para chamar o proprietário. Antes de entrar no ambulatório o estagiário
pesava o animal.
No ambulatório cirúrgico (FIGURA 5), o estagiário realizava a anamnese e o
exame físico do paciente. Todos os dados eram passados para o residente
responsável,
que
examina
o
animal
posteriormente
e
solicitava
exames
complementares quando necessário. O estagiário era responsável por coletar
sangue e levar até o laboratório quando fosse solicitado.
Os exames complementares como ultrassonografia e radiografia, muitas
vezes, eram realizados no próprio dia do atendimento. Nesse caso, o estagiário era
responsável por encaminhar o paciente e auxiliar no momento do exame. Exames
cardiológicos eram previamente agendados pelo próprio residente.
O residente responsável pelo caso estabelecia o diagnóstico e o tratamento.
Nos casos onde o tratamento clínico era indicado, o residente orientava o estagiário
na prescrição das receitas. Após explicar as mesmas ao proprietário o estagiário
agendava o retorno para posterior avaliação do paciente.
FIGURA 05 – AMBULATÓRIO DO SETOR DE CLÍNICA CIRÚRGICA
HVGLN.
Fonte: o próprio autor
26
2.4. PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
As cirurgias eram realizadas pelos residentes e auxiliadas por um estagiário.
O residente era responsável por explicar ao proprietário como o procedimento seria
realizado e todos os riscos relacionados, além de fazer o agendamento da cirurgia.
Para realizar o procedimento cirúrgico o animal deveria fazer exames
hematológicos como hemograma completo e bioquímicos (ALT e Creatinina), que
era processados no laboratório de patologia clínica do HVGLN. Pacientes com mais
de sete anos passavam, obrigatoriamente, por exame cardiológico.
O proprietário deveria trazer o animal no dia da cirurgia em horário agendado
e se apresentar na recepção. A consulta anestésica era realizada por um residente
da anestesiologia que explicava os riscos relacionados ao procedimento anestésico.
A tricotomia do animal era realizada na sala de preparo cirúrgico pelos estagiários. O
anestesista fazia o acesso venoso e a medicação pré-anestésica nessa mesma sala.
Após realizar a tricotomia o paciente era encaminhado para o centro cirúrgico
(FIGURA 6), por uma porta de acesso exclusiva, onde o anestesista já estava
aguardando.
FIGURA 06 – CENTRO CIRÚRGICO DO HVGLN.
Fonte: o próprio autor
27
A entrada no centro cirúrgico era permitida apenas após vestir pijama
cirúrgico, gorro, mascara e pró-pé. O paciente era, então, posicionado na mesa
cirúrgica e a indução anestésica era realizada por via intravenosa. A manutenção da
anestesia era realizada com gás inalatório, após intubação orotraqueal.
A pré-antissepsia era realizada por um estagiário com clorexidine e álcool
70%. Para esse procedimento o estagiário deveria vestir uma luva de procedimento
e utilizar gaze estéril. O estagiário que iria auxiliar na cirurgia se paramentava antes
do residente para arrumar a mesa e fazer a antissepsia cirúrgica.
Depois de realizar o procedimento cirúrgico o paciente permanecia no centro
cirúrgico até atingir a temperatura de 36°C. Após atingir a temperatura o animal era
levado para sala do pré-operatório, onde permanecia com o proprietário até que o
anestesista o liberasse.
As receitas e as recomendações no pós-operatório eram explicadas pelos
estagiários. O retorno era agendado pelo estagiário juntamente com o proprietário.
2.5. ROTINA DO ESTAGIÁRIO
O estágio curricular realizado no Hospital Veterinário Governador Laudo Natel
aconteceu no período de 02/09/2013 até 04/10/2013. Durante esse período pude
acompanhar duas semanas de atividades ambulatoriais e três semanas de
atividades no centro cirúrgico. Nas duas semanas que permaneci no atendimento
ambulatorial, pude acompanhar 28 casos que estão descritos no GRÁFICO 4.
28
GRÁFICO 04 – CASOS ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DO HVGLN
(N=28), NO PERÍODO DE 02/09 À 04/10/2013.
De acordo com o diagnóstico final das doenças, pude separar os casos atendidos no
ambulatório como ortopédicos (15 casos), neurológicos (4 casos), neoplasias (3
casos) e outros (6 casos). O GRÁFICO 5 mostra que a grande maioria dos casos
atendidos no ambulatório eram ortopédicos (53,6%).
GRÁFICO 05 – PORCENTAGEM DE CASOS ATENDIDOS DE ACORDO
COM O DIAGNÓSTICO NO HVGLN (N=28), NO PERÍODO DE 02/09 À
04/10/2013.
Durante as três semanas que permaneci no centro cirúrgico tive a
oportunidade de acompanhar trinta cirurgias que foram divididas em cirurgias de
tecidos moles (13 casos), ortopédicas (12 casos) e neurológicas (5 casos). O
GRÁFICO 6 mostra que as cirurgias de tecidos moles foram as mais vistas no
29
período do estágio (43,3%), seguida das cirurgias ortopédicas (40%). As cirurgias
estão descritas no GRÁFICO 7.
GRÁFICO 06 – PORCENTAGEM DE CIRURGIAS ACOMPANHADAS NO
HVGLN (N=30), NO PERÍODO DE 02/09 À 04/10/2013.
GRÁFICO 07- PROCEDIMENTOS ACOMPANHADOS NO
CIRÚRGICO DO HVGLN, NO PERÍODO DE 02/09 À 04/10/2013.
CENTRO
30
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. INTRODUÇÃO
A medicina veterinária tem evoluído muito nos últimos anos nos campos de
diagnóstico e tratamento, através de constantes pesquisas e da incorporação de
métodos amplamente utilizados em medicina humana. A cardiologia veterinária é
uma especialidade que tem contribuído de maneira significativa para essa evolução,
sendo o implante de marca-passo, em pequenos animais, um exemplo importante
do uso da tecnologia em seu favor.
O bloqueio atrioventricular (BAV) de terceiro grau constitui uma falha total de
condução elétrica pelo nódulo atrioventricular e implica em uma doença
degenerativa ou infiltrativa intrínseca do nódulo (ETTINGER et al., 1997), sendo a
causa mais comum de bradiarritmias em cães, seguido pela doença do nó sinusal
(GENOVESE et al., 2013; WESS et al., 2006)
A terapia de marca-passo é indicada em medicina veterinária para tratar
bradiarritmias sintomáticas e está disponível em centros de referência. Esta técnica
foi utilizada pela primeira vez 1967 em um cão com insuficiência cardíaca
congestiva, devido ao bloqueio atrioventricular de terceiro grau (JOHNSON et. al,
2007). Com ela é possível melhorar o debito cardíaco e diminuir o risco de morte
cardíaca repentina associada a essas arritmias, mantendo a frequência cardíaca
acima de um valor predeterminado (MONNET, 2007).
Atualmente, a maioria dos marca-passos implantados em animais é doada,
pelo fabricante ou por médicos, a médicos veterinários que realizam o procedimento.
Os dispositivos cedidos geralmente não podem mais ser utilizados em humanos por
diversos motivos. O método de implantação de marca-passo preferido, tanto em
medicina humana quanto veterinária, é via transvenosa por ser menos invasivo e ter
um tempo de recuperação menor (TILLEY, 1992), contudo é necessário uma equipe
bem treinada e diversos equipamentos médicos para o sucesso da operação
(JOHNSON et al., 2007). A técnica de implantação epicárdica se torna uma
alternativa, podendo ser realizada por toracotomia, esternotomia ou por uma
31
abordagem transdiafragmática (GRAU, 2007). Devido os altos custos o número de
animais que tem acesso ao tratamento se torna limitado.
O presente trabalho tem como objetivo revisar o bloqueio atrioventricular de
terceiro grau em cães e abordar funcionamento, técnicas de implante e principais
complicações relacionadas à terapia de marca-passo cardíaco, assim como relatar
um caso de implante de marca-passo cardíaco em um cão.
32
3.2. INDICAÇÕES PARA IMPLANTE DE MARCA-PASSO
As principais indicações para o implante de marca-passo em pequenos animais
são as bradiarritimias sintomáticas e as alterações na condução elétrica que não
respondem a um tratamento e controle médico, incluindo a bradicardia sinusal, o
BAV de segundo grau avançado, o BAV de terceiro grau e a enfermidade do seio
doente. A decisão de implantar um marca-passo não deve ser baseada apenas no
resultado do eletrocardiograma, sendo necessária a existência de uma relação entre
os sinais clínicos e a arritmia (GRAU, 2007).
Os candidatos em potencial para o implante do marca-passo devem ser divididos
em três grupos. O primeiro representa os pacientes em que a estimulação artificial é
definitivamente indicada, incluindo pacientes com BAV de terceiro grau, BAV de
segundo grau avançado e enfermidade do seio doente. O segundo é composto por
animais onde a estimulação é provavelmente indicada, pois a relação entre os sinais
clínicos e a bradiarritmia nesses pacientes não é bem definida. Esse grupo inclui
alguns casos de síndrome do seio doente, bloqueio incompleto e bradicardia sinusal.
O terceiro grupo envolve animais onde a estimulação não é comumente indicada.
Nesses animais a bradiarritmia é documentada, mas não é responsável pelos sinais
clínicos e não afeta a sobrevivência do animal. Incluem-se neste grupo animais com
síncope de origem indeterminada, bradicardia sinusal, bloqueio sinoatrial sem sinais
clínicos significantes, contração atrial inefetiva e BAV de segundo grau
assintomático (TILLEY, 1992).
3.3. BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR DE TERCEIRO GRAU
3.3.1. Aspectos gerais
Os bloqueios atrioventriculares são definidos como atrasos ou paradas na
condução do impulso entre os átrios e os ventrículos (ETTINGER et al., 1997).
Podem apresentar caráter transitório, intermitente ou definitivo (NASCIMENTO et. al,
1997). O BAV de terceiro grau ou completo é uma deficiência completa e persistente
de condução de impulso através do nodo atrioventricular, gerando incapacidade total
dos estímulos atriais chegarem aos ventrículos (MONNET, 2007). Quando os
33
potenciais de ação atriais são bloqueados ao passarem através do nodo
atrioventricular, as contrações ventriculares são iniciadas por células localizadas
abaixo do nódulo atrioventricular que funcionam como marca-passos auxiliares. O
resultado é uma dissociação atrioventricular completa e o estabelecimento de um
ritmo de escape de origem ventricular (CUNNINGHAM, 2004).
O BAV de terceiro grau limita efetivamente a sístole ventricular a uma frequência
lenta e, dessa maneira, diminui a capacidade de débito cardíaco. Esse baixo débito
cardíaco mediado por bradicardia inicia os mesmos mecanismos neuroendócrinos
induzidos por outras causas crônicas de baixo débito cardíaco. Essa resposta é
inicialmente adaptável, resultando em expansão do volume sanguíneo, dilatação da
câmara ventricular e maior volume sistólico, que se opõem aos efeitos da
bradicardia. Com o tempo, a resposta neuroendócrina torna-se mal adaptável,
causando insuficiência cardíaca congestiva (MONNET, 2007).
3.3.2. Etiologia
O BAV de terceiro grau pode ocorrer por diversas causas incluindo defeitos
congênitos (estenose aórtica e doença septal ventricular), intoxicação digitálica
grave, intervenção cirúrgica, cardiomiopatia inflitrativa (amiloidose e neoplasia),
fibrose idiopática em cães idosos, cardiomiopatia hipertrófica, endocardite
bacteriana, hipercalemia e Doença de Lyme (TILLEY, 1992; ETTINGER et al., 1997).
O bloqueio cardíaco idiopático pode ser observado em cães de meia idade a idosos
e o bloqueio de terceiro grau congênito já foi documentado em cães (WARE, 2006).
3.3.3. Sinais clínicos
Os
sinais
clínicos
estão
associados
à
bradicardia
e
as
consequências
fisiopatológicas desse débito cardíaco baixo incluem fraqueza, letargia ou
intolerância a exercícios, colapso, síncope e morte súbita (GRAU, 2007; MONNET,
2007; FOSSUM, 2005). Também são relatados sinais gastrointestinais (inapetência,
vômitos, diarréia), tosse e convulsões (VISSER et al., 2013). Esses sinais tornam-se
graves quando a frequência cardíaca é, consistentemente, menor que 40
34
batimentos/minuto (WARE, 2006). A duração relativamente curta dos episódios
sincopais e a falta de atividade motora tônico-clônica ou de sinais pós-ictais ajudam
a distinguir uma síncope de ataques convulsivos neurológicos (FOSSUM, 2005).
Podem ser encontrados cães com BAV completo assintomático, principalmente
em cães idosos e com índole inativa, uma vez que o ritmo de escape que se
estabelece pode ser capaz de manter um débito cardíaco adequado para as funções
vitais do animal (BUOSCIO, 2006; ETTINGER et al., 1997). Em alguns cães, há
desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva secundária à bradicardia,
principalmente na presença de outra cardiopatia (WARE, 2006).
3.3.4. Diagnóstico
O diagnóstico ao eletrocardiograma (ECG) baseia-se na dissociação completa
das ondas P e dos complexos QRS-T. Pode estar presente um ritmo de escape
ventricular, que ocorre quando o ritmo é assumido pelos ramos ou fibras de Purkinje
ventriculares, lento (<40bpm), regular e não responsivo a administração de atropina
(FOSSUM, 2005).
A freqüência ventricular é mais lenta que a atrial, evidenciada por um maior
número de ondas P em comparação aos complexos QRS (TILLEY & SMITH, 2008)
como mostra a Figura 7, onde o ritmo de base é a arritmia sinusal, mas as ondas P
não são conduzidas. Deve-se diferenciar o BAV de terceiro grau no ECG de um BAV
de segundo grau avançado, de pausa atrial e de taquicardia ventricular (TILLEY,
1992).
FIGURA 07 – ECG DE UM CÃO COM BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR
COMPLETO.
Fonte: NELSON & COUTO, 2006.
35
O ecocardiograma é importante para avaliar o tamanho das cavidades,
espessura e movimento das paredes, aparência e mobilidade valvar e os grandes
vasos proximais. São achados comuns, devido ao menor débito cardíaco, o aumento
das câmaras cardíacas, efusão pericárdica, efusão pleural e efusão abdominal
(WARE, 2006).
3.3.5. Tratamento
A resposta a fármacos parassimpatolíticos ou simpatomiméticos tende a ser bem
decepcionante e potencialmente perigosa (ETTINGER et al., 1997). Antiarrítmicos
ventriculares são contraindicados porque tendem a suprimir o foco de escape lento
(TILLEY, 1992). Desta forma, o tratamento consiste em estimulação cardíaca
artificial, efetuada com sistema de estimulação conhecido como marca-passo. Tais
sistemas, na grande maioria das vezes, são usados para tratamento de
bradiarritmias e constam de dois componentes principais: gerador de pulsos e caboeletrodo (GAUCH et al., 1997).
A colocação de um marca-passo é indicada para o BAV de terceiro grau
permanente ou intermitente, irreversível, de qualquer etiologia ou localização, com
sintomas
definidos
de
baixo
débito
cerebral
e/ou
insuficiência
cardíaca,
consequentes à bradicardia (ANDRADE, 2000). Em geral, a terapia de marca-passo
melhora a sobrevivência e potencialmente previne ou retarda o desenvolvimento
secundário de insuficiência cardíaca congestiva ou morte súbita devido à
bradiarritimias (VISSER et al., 2013).
3.3.6. Prognóstico
O prognóstico será ruim, especialmente em animais com sintomatologia clínica,
caso o marca-passo não seja implantado (WARE, 2006).
A terapia com marca-passo é extremamente eficaz na prevenção dos sinais
clínicos e na restauração de uma atividade razoavelmente normal para animais com
bradicardia clinicamente relevante (FOSSUM, 2005). No caso de doença cardíaca
de base, o prognóstico pode ser ruim, ainda que a frequência cardíaca seja
36
controlada com o implante de marca-passo (TLLEY & SMITH, 2008).
3.4. MARCA-PASSO CARDÍACO
3.4.1. Histórico
A idéia de uma estimulação cardíaca elétrica é relativamente antiga (TILLEY,
1992). A estimulação cardíaca artificial nasceu no final dos anos 50, com o objetivo
primordial de eliminar os sintomas e reduzir a mortalidade dos pacientes com
bloqueios atrioventriculares avançados em humanos (ANDRADE et al., 2000).
Em 1967, a implantação de marca-passos cardíacos tornou-se uma forma de
tratamento para cães com BAV de segundo grau de alto grau, BAV de terceiro grau
ou outras bradiarritmias sintomáticas que não respondem à terapêutica médica
(VISSER et al., 2013). No século 21, a implantação de um marca-passo em
pequenos animais constitui um método de tratamento definitivo para pacientes com
bradiarritmias sintomáticas (GRAU, 2007).
Diferentes técnicas e equipamentos sofreram mudanças significativas nos
últimos anos e a indicação para terapia de marca-passo tem se tornado cada vez
mais constante em cães e gatos (TILLEY, 1992). Nos dias atuais a maioria dos
marca-passos são implantados transvenosamente usando um eletrodo endocárdico,
embora a colocação de um eletrodo epicárdico, via toracotomia ou laparotomia é por
vezes necessária, especialmente se fluoroscopia não está disponível (WESS et al.,
2006).
3.4.2. Componentes
O marca-passo é composto por basicamente dois componentes principais: um
gerador de pulso e um ou dois cabos-eletrodos. O gerador de pulso é um dispositivo
constituído de um micro-circuito eletrônico, alimentado por baterias (Figura 8). Estes
aparelhos são de alta tecnologia e responsáveis pela formação, processamento e
discernimento da liberação de um pulso elétrico (GAUCH, et al., 1997). A
longevidade das baterias pode alcançar de 7 a 14 anos em função da frequência
que é programada (GRAU, 2007). Variáveis como a taxa, a intensidade de saída
37
(tensão, corrente e largura de pulso), e a sensibilidade podem ser programadas
externamente, permitindo o ajustamento no pós-operatório (WESS et al., 2006).
FIGURA 08 – GERADOR DE PULSO DUPLA CÂMARA BIPOLAR.
Fonte: disponível em http://www.telegumund.com/60/basics-of-pacemaker
O eletrodo é composto por um fio elétrico isolado que conduz o estímulo do
gerador de pulso ao coração e os sinais intracardíacos ao gerador. Quanto à
posição, são classificados em unipolar (um eletrodo no coração e outro dentro do
invólucro do gerador de pulso) ou bipolar (ambos os eletrodos localizados no
coração). Deve-se atentar para a compatibilidade entre o eletrodo e o gerador de
pulso (BUOSCIO, 2006). Existem diferentes tipos de fixação da cabeça do eletrodo
ao miocárdio, podendo ser passiva ou ativa mediante estruturas retráteis (Figura 9).
(TILLEY, 1992). Em medicina veterinária relata-se cerca de 10% de casos de
deslocamento do eletrodo, podendo ocorrer devido à falta de experiência por parte
do cirurgião e pela maior mobilidade dos animais pós-implantação (GRAU, 2007).
Com o passar do tempo ocorreu um enorme avanço tecnológico na fabricação
dos geradores, com a utilização de microcircuitos integrados, baterias de lítio,
fechamento hermético, multiprogramabilidade, telemetria bidirecional e sensores
biológicos. A evolução também foi observada na tecnologia dos cabos-eletrodos,
desenvolvidos com menor calibre, maior flexibilidade, maior resistência, melhor
histo-compatibilidade e fácil implantação por via venosa, tanto em câmaras atriais
como ventriculares (ANDRADE et al., 2000).
38
FIGURA 09 – ACIMA UM ELETRODO DE FIXAÇÃO PASSIVA E ABAIXO UM
ELETRODO DE FIXAÇÃO ATIVA.
Fonte: disponível em <washingtonhra.com/20.html>
3.4.3. Códigos de Identificação
Devido a grande quantidade de marca-passos existentes é estabelecido um
sistema de nomenclatura que permite identificar, mediante três a cinco letras, o tipo
de marca-passo e as funções que oferece (GRAU, 2007). As letras se encontram
gravadas no gerador de pulso acondicionado. A primeira letra indica o lugar de
implantação seja ventrículo (V) ou átrio (A). A segunda letra descreve a câmara que
esta sendo estimulada, V, A ou as duas câmaras (D); um O indica um marca-passo
de frequência fixa, que não apresenta circuito de monitoração. A terceira letra indica
o tipo de resposta do marca-passo ao impulso monitorado: inibição (I), disparo (T) ou
nenhuma (O). A letra D encontrada em alguns geradores de pulso indica uma
marcação ventricular ou atrial dupla (FINGEROTH & BIRCHARD, 1996). A quarta
letra indica a programação: programável (P), multiprogramável (M), com controle
telemétrico (C), com resposta a frequência cardíaca (R) ou nenhuma (O). Já a última
letra indica a função anti-taquiarrítmica: anti-taquiarrítmico (P), shock (S), função
dupla (D) e sem função (O) (GRAU, 2007).
O modo mais comumente utilizado para as bradiarritimias na medicina veterinária
é a marcação VVI; ou seja, o marca-passo envia impulsos eletrônicos ao ventrículo,
monitora os impulsos ventriculares espontâneos e responde a um impulso intrínseco
por meio da inibição do gerador de pulso. Na presença de um batimento espontâneo
39
há inibição do estímulo elétrico que seria liberado pelo gerador de pulso, evitando a
ocorrência de ritmos competitivos entre o coração e o marca-passo quando houver
atividade intrínseca espontânea (FOSSUM, 2005; BUOSCIO, 2006).
3.4.4. Telemetria
O marca-passo poder ser programado, de acordo com as necessidades de cada
paciente, antes e depois da sua implantação por sistemas externos. A programação
é feita colocando o programador sobre o gerador de pulso e acionando um comando
para efetuar a comunicação entre eles, sendo que a quantidade de parâmetros
passíveis de programação varia de acordo com o modelo do marca-passo (GRAU,
2007).
A frequência cardíaca deve ser programada para 70 a 110 bpm, dependendo do
tamanho do animal. A voltagem deve ser cerca de duas vezes o limiar capaz de
produzir uma contração miocárdica (limiar de captura), sendo entre quatro e cinco
volts geralmente adequada (FOSSUM, 2005).
A impedância do eletrodo, a presença de condução retrógrada, a vida útil
restante da bateria e os limiares de estimulação do paciente também podem ser
verificados por telemetria. Em algumas ocasiões, o marca-passo pode ser revisado
antes da implantação e seu funcionamento pode ser controlado mediante
eletrocardiograma (GRAU, 2007).
3.5. IMPLANTE DE MARCAPASSO
3.5.1. Avaliação do paciente
Antes da implantação do marca passo permanente, realiza-se uma avaliação
diagnóstica completa, incluindo exame físico rotineiro, hematologia, radiografia
torácica, ecocardiografia e eletrocardiografia. Deve-se procurar outra cardiopatia
associada e descartar qualquer causa subjacente de bradarritmia como doenças
neurológicas, metabólicas ou endócrinas (MONNET, 2007).
Devem ser descartadas causas reversíveis de BAV como Doença de Lyme,
hipervagotonia, isquemia e desequilíbrio metabólico ou eletrolítico (TILLEY, 1992).
40
Doenças infecciosas transmitidas por vetores, incluindo Bartonella spp. e
Trypanosoma cruzi têm sido raramente relatadas em cães com bradiarritimias
(SAUNDERS et al., 2013).
Na avaliação também se deve determinar as características do dispositivo como
tipo de marca-passo, indicação e data de instalação, data de revisão, modo de
programação e condição da bateria (AIDAN et al., 2009).
3.5.2. Procedimento cirúrgico
O implante do dispositivo é feito sob anestesia geral. O protocolo anestésico
deve adaptar-se a cada paciente conforme a doença presente e o quadro do animal
no momento da cirurgia (GRAU, 2007). A medicação pré-anestésica em animais
com bradicardia para a colocação do marca-passo pode ser feita com baixas doses
de acepromazina e agentes opióides, dando preferência à meperidina, que promove
ligeira taquicardia por bloquear o nervo vago (FANTONI, 2009). O uso de um marcapasso temporário pode ser necessário antes da indução anestésica para maior
segurança, devido à probabilidade de os animais desenvolverem arritmias fatais
(WESS et al., 2006). A sua colocação é realizada, após sedação, pela inserção do
cabo-eletrodo através de um cateter de grande calibre posicionado na veia safena
lateral ou jugular contralateral sendo, em seguida, direcionado ao ventrículo direito
preferencialmente com auxílio de fluoroscópio. O cabo é então conectado a um
gerador de pulso externo ajustado para manutenção da frequência cardíaca durante
a indução anestésica, geralmente em uma taxa de 80 a 100 bpm (JOHNSON et al.,
2007).
Existem diversas abordagens para implantação de um marca-passo permanente
em cães, epicárdicas e endocárdicas. Enquanto a toracotomia ou laparotomia é
necessária para a implantação de um eletrodo epicárdico, a fluoroscopia é utilizada
para orientar a passagem transvenosa e colocação de um eletrodo endocárdico no
ventrículo direito, local mais comumente utilizado para estimulação ventricular
(WESS et al., 2006). No bloqueio atrioventricular, é necessário que o marca-passo
seja colocado no ventrículo, pois o controle do ritmo atrial poderia não ser benéfico,
41
já que os potenciais de ação atriais continuariam não sendo conduzidos para os
ventrículos (CUNNINGHAM, 2004).
A indicação mais comum para a escolha de um sistema de estimulação
epicárdica ou endocárdica é o tamanho dos cães, pois, muitas vezes, em cães
pequenos o acesso venoso não pode ser realizado (VISSER et al., 2013).
Indica-se antibioticoterapia no período perioperatório durante a implantação do
marca-passo para reduzir o risco de infecções associadas ao implante (FOSSUM,
2005). Os antibióticos devem ser administrados por via intravenosa de acordo com a
preferência do médico veterinário (WESS et al., 2006). Visser et al., (2013)
recomendam a aplicação intravenosa de cefazolina ( 22 mg / kg) ou a ampicilina
com sulbactam (30 mg/kg) na indução da anestesia e a cada 90 minutos até que o
fechamento da ferida cirúrgica. Os antibióticos devem ser fornecidos por sete a dez
dias após a cirurgia (JOHSON et al., 2007).
3.5.3. Implante de marcapasso endocárdico transvenoso
Os eletrodos de estimulação permanentes são colocados transvenosamente no
ápice do ventrículo direito devido à facilidade de colocação e alta taxa de sucesso
(VISSER et al. 2013). Estudos mais recentes têm mostrado relativamente baixa
morbidade e taxa de complicações associada à estimulação cardíaca transvenosa
permanente em cães, tornando-se o método de estimulação de escolha em
medicina veterinária (WESS et al., 2006).
Em estudo realizado por Genovese et al., (2013), os cães que passaram por
procedimento para colocação de um marca-passo endocárdico foram anestesiados
e colocados em decúbito lateral esquerdo na mesa cirúrgica. A incisão foi feita na
pele sobre a veia jugular direita, que foi posteriormente isolada via dissecção romba.
O eletrodo foi avançado através da veia jugular sob orientação fluoroscópica para a
localização cardíaca adequada, em função do tipo de marca-passo. O eletrodo é
então ligado a um gerador, colocado em uma bolsa subcutânea na região cervical,
local mais comumente utilizado.
42
3.5.4. Implante de marcapasso epicárdico
Ocasionalmente, contra-indicações clínicas para estimulação transvenosa são
encontradas e a estimulação no epicárdio serve como uma alternativa adequada
(VISSER et al., 2013). Essa técnica tem a vantagem de oferecer maior segurança na
colocação do eletrodo e fixação do mesmo, porém é uma intervenção mais
agressiva, com um risco anestésico e tempo de recuperação maior (GRAU, 2007).
Para implantar um eletrodo epicárdico, o acesso cirúrgico pode ser realizado por três
abordagens diferentes: via transdiafragmática, toracotomia lateral ou esternotomia
(TILLEY, 1992).
3.5.4.1. Abordagem cirúrgica transdiafragmática
A técnica cirúrgica foi descrita por Fossum (2005).
Deve-se realizar uma celiotomia que se estenda cranialmente até o nível da
cartilagem xifóide. Uma incisão é feita na linha média vertical no diafragma para
exposição do ápice cardíaco. O pericárdio deve ser aberto e retraído delicadamente
com uma pinça tecidual para expor o ápice do ventrículo esquerdo. Implante um
eletrodo rosqueado no interior do ápice ventricular esquerdo girando a ponta do
eletrodo em um número especificado de rotações. O fio guia deve ser trazido para o
interior da cavidade abdominal, através da incisão diafragmática e conectado ao
gerador de pulso, usando uma chave de fenda pequena. O gerador de pulso deve
ser colocado em uma bolsa criada entre os músculos abdominal transverso e
oblíquo abdominal interno. Não suturar o pericárdio. O diafragma e o abdômen
devem ser suturados de maneira rotineira.
3.5.4.2. Abordagem cirúrgica por toracotomia
Mediante a uma toracotomia lateral esquerda ou direita, a no do quinto espaço
intercostal, visualiza-se o coração e realiza-se uma pericardiotomia perto do ápice
do coração, com a finalidade de expor a superfície epicárdica ventricular. A
implantação do eletrodo deve ser feita no ventrículo esquerdo ou direito evitando ao
máximo a vascularização. A fixação do marca-passo deve ser ativa e realizada
43
mediante suturas diretamente sobre o miocárdio. Prepara-se, então, um túnel
subcutâneo por qual o eletrodo será passado até chegar a última costela, onde será
feita uma bolsa com a musculatura para alojar a bateria e realizar a conexão. A
toracotomia é suturada de maneira rotineira (TILLEY, 1992; GRAU, 2007).
3.5.4.3. Abordagem cirúrgica por esternotomia
Para realizar a esternotomia realiza-se uma incisão desde, aproximadamente, a
sexta esternebra até a região de cicatriz umbilical. A pericardiotomia deve ser
realizada no ápice do coração. O eletrodo epicárdico é implantado no ventrículo
esquerdo ou direito. Uma vez colocado o eletrodo, é feita uma incisão no diafragma
por onde ele passará até situá-lo na cavidade abdominal, na qual será conectado ao
gerador. O gerador pode ser alojado em uma bolsa subcutânea na parede
abdominal ou, em animais extremamente pequenos, onde não é possível acomodálo, pode ser deixado livre na cavidade abdominal (TILLEY, 1992; GRAU, 2007).
3.5.5. Avaliação pós-operatória
Depois da cirurgia, os animais devem sofrer monitoração eletrocardiográfica
continua durante 24 a 48 horas, para confirmar função adequada do marca-passo e,
depois disso, a cada três a seis meses (WESS et al., 2006; FOSSUM, 2005).
Johnson et al., (2007) indicam que os cães fiquem hospitalizados por um período
mínimo de três dias antes da sua alta. A sedação e o confinamento podem ser
necessários em animais nervosos, com a finalidade de diminuir o risco de
deslocamento do marca-passo (GRAU, 2007). O nível de atividade deve ser
restringido por um período de quatro a seis semanas após o implante (BURRAGE,
2012).
Devem-se tirar radiografias dentro de 12 a 24 horas de cirurgia para avaliar grau
de pneumo ou hidrotórax residuais e para documentar as localizações da sonda e do
gerador de pulso para futura referência (FINGEROTH & BIRCHARD, 1996).
A freqüência cardíaca não deve cair abaixo da freqüência pré-determinada do
marca-passo. Os marca-passos geralmente são ajustados na freqüência de impulso
44
entre 80 e 100 bpm, de acordo com o tamanho do animal e o nível de atividade
projetado. Com freqüência, observam-se contrações prematuras ventriculares
depois da cirurgia, por causa de agressão miocárdica associada à implantação de
derivação (MONNET, 2007).
Deve-se estar atento a sinais de intolerância que indiquem uma disfunção do
dispositivo ou agravamento da doença cardíaca associada. É importante arquivar os
exames do paciente, como ECG e radiografias torácicas e instruir o proprietário
acerca dos cuidados necessários (AIDAN et al., 2009).
3.5.6. Complicações
No contexto perioperatório uma das principais causas de disfunção no marcapasso é o bisturi elétrico que pode causar inibição da estimulação do marca-passo,
podendo levar à assistolia e risco de dano ao marca-passo. A anomalia mais
frequente ocorre quando a corrente do bisturi é interpretada pelo estimulador como
uma atividade cardíaca espontânea (AIDAN et al., 2009).
No período pós-operatório, as complicações de implante de marca-passo podem
ser classificadas como menores ou maiores. Em um estudo retrospectivo de 105
cães,
13%
desenvolveram
complicações
graves
e
11%
desenvolveram
complicações menores (WESS et al., 2006). Outro estudo de realizado por Johson
et al., (2007), com 104 cães, nos quais os marca-passo foram implantados por
operadores experientes, demonstrou menores taxas de complicação, sendo que
apenas 14% dos cães desenvolveram complicações maiores e 22% desenvolveram
complicações menores. Da mesma forma, um estudo com 154 cães relatou uma
taxa de complicação maior de 33% e uma taxa de complicação menor de 31%
(OYAMA et al., 2001).
As complicações menores incluiram seroma ou formação de hematoma no local
do gerador. A formação de seroma foi a complicação menor mais comum no pósoperatório (GENOVESE et al., 2013; JOHNSON et al., 2007; OYAMA et al., 2001).
As principais complicações maiores incluiram o deslocamento do eletrodo,
perfuração cardíaca pelo eletrodo do marca-passo, infecção, deiscência incisional,
45
arritmia, parada cardíaca durante a implantação, trombose ou tromboembolismo e
morte súbita (WESS et. al, 2006; JOHNSON et al., 2007; GENOVESE et al., 2013).
O deslocamento do eletrodo de estimulação no marca-passo epicárdico foi a
complicação mais comum encontrada por Visser et al., (2013) no período pósoperatório. O tempo entre a implantação para o deslocamento variou entre 18 dias a
10 meses.
A síndrome do marca-passo é descrita como uma complicação de marca-passos
ventriculares que provoca a aparição de uma ICC como consequência de uma falta
de coordenação entre a contração atrial e ventricular. O tratamento constitui a
implantação de um marca-passo de dupla câmara (GRAU, 2007). Estudos têm
mostrado melhora hemodinâmica e benefícios na qualidade dos da vida em pessoas
com marca-passo de dupla câmara, em comparação com a estimulação ventricular
direita, em que sincronismo atrioventricular e a contribuição da contração atrial para
o enchimento ventricular são preservadas. Além disso, os marca-passos com
diferentes locais de estimulação ventricular, ou além do ápice do ventrículo direito,
permitem uma seqüência de ativação ventricular mais fisiológica, melhorando a
hemodinâmica. (GENOVESE et al., 2013).
Relatos de complicações tardias incluindo neoplasia cardíaca no coração direito
em conjunto com a presença de um eletrodo de estimulação intravenoso, estenose
de tricúspide, infecções, a formação de trombo maciço (síndrome da veia cava), têm
sido associadas com utilização da estimulação no ápice do ventrículo direito
(VISSER et al., 2013).
46
4. RELATO DE CASO
Um cão, macho, de quatorze anos de idade, orquiectomizado, da raça teckel, foi
atendido na Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do
Paraná, com histórico de intolerância ao exercício, apatia, tosse e bradicardia, com
dois dias de evolução. Ao exame clínico, o animal apresentava-se apático, mucosas
levemente hipocoradas, tempo de preenchimento capilar 3 segundos, temperatura
36,8 C e frequência cardíaca de 18 batimentos/min. No momento da consulta, foi
realizada a aplicação de atropina por via intravenosa (0,04 mg/Kg), porém sem
sucesso.
A radiografia demonstrou aumento da silhueta cardíaca e desvio traqueal,
pulmão com aumento do padrão interstício-bronquial difuso, sugerindo edema. A
avaliação eletrocardiográfica revelou complexos QRS negativos, de origem
ventricular, não associados às ondas P, com frequência atrial de 162 batimentos por
minuto e ventricular de 18 a 20 bpm, compatível com BAV de terceiro grau (FIGURA
10). O exame ecocardiográfico revelou endocardiose leve de mitral e discreta de
tricúspide, sem repercussão hemodinâmica, que já estava sendo acompanhada há
dois anos, sem evolução.
FIGURA 10 – ECG DEMONSTRANDO BAV COMPLETO DE CÃO, MACHO,
QUATORZE ANOS DE IDADE, ORQUIECTOMIZADO, DA RAÇA TECKEL,
ATENDIDO NA CLÍNICA ESCOLA DA UTP.
Fonte: o próprio autor
Valores de hemograma e bioquímica sérica (ALT, albumina, creatinina, FA) não
apresentaram alterações dignas de nota.
O tratamento de escolha foi a implantação de um marca-passo cardíaco, que foi
47
realizado dois dias após consulta inicial. O marca-passo foi doado pela empresa
Alpha Medical e era do modelo VVI (ventricular, ventrículo, inibição).
A técnica escolhida para a implantação do marca-passo foi a epicárdica, através
de mini toracotomia esternal. O procedimento foi realizado no centro cirúrgico da
Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. A indução
anestésica foi realizada com etomidato (1,5 mg/kg) e diazepam (0,5 mg/Kg). No
transoperatório foi aplicado meperidina intamuscular (4 mg/Kg), meloxicam (0,1
mg/Kg) e morfina (0,6 mg/Kg) para analgesia. O cão ficou em infusão contínua de
dobutamina (10 µg/Kg/minuto), para aumentar a força de contração do coração, até
a colocação do marca-passo. O paciente foi tricotomizado da região cervical até a
região de cicatriz umbilical e, em seguida, realizou-se pré antissepsia com
clorexidine degermante 2% e álcool 70%, para retirada do degermante com o
paciente em decúbito dorsal. Para antissepsia cirúrgica foi utilizado clorexidine
alcóolico a 0,2%. Após a fixação dos panos de campo cirúrgicos realizou-se a
incisão de pele em região xifóidea, a divulsão do subcutâneo e localização da região
a realizar-se a toracotomia. A mini toracotomia esternal foi realizada utilizando serra
oscilatória, abrangendo inserção de costela referente a T8 até T11, posicionando o
afastador de Finochietto e afastando parede torácica até visualização completa de
coração.
Observou-se pequena efusão pleural que foi drenada com aspirador cirúrgico a
vácuo. Foi então realizada a pericardiotomia no ápice do coração e o eletrodo
implantado no ápice cardíaco mais voltado para a região ventricular direita, por meio
de rosqueamento, sendo sua fixação ao miocárdio reforçada por meio de sutura em
bolsa de tabaco com fio de polipropileno 4-0. O marca-passo foi programado para
uma frequência de estímulo de 110 bpm e, após confirmação de seu funcionamento
adequado, este foi acoplado ao eletrodo definitivamente. O eletrodo e o gerador
ficaram exteriorizados, para fixação após sutura do esterno. Foi aplicado dreno
torácico número 10 utilizando-se o oitavo espaço intercostal e fixado na pele
utilizando-se sutura do tipo sapatilha chinesa com nylon 2-0. O gerador foi envolvido
entre a musculatura lateral torácica esquerda, entre a oitava e nona vértebras
48
torácicas, após divulsão e sutura com fio ácido poliglicólico 2-0 (FIGURA 11).
Para toracorrafia utilizou-se fio ácido poliglicólico 2, em padrão sultan,
envolvendo o esterno. A sutura da musculatura foi realizada com fio 2-0, em padrão
simples contínuo, ancorando-se na sua fáscia muscular e a sutura do subcutâneo foi
realizada com fio 2-0, em padrão cushing. Finalizou-se o procedimento com a sutura
de pele com o fio nylon 3-0, em padrão simples separado.
O paciente realizou pós-operatório em unidade de terapia intensiva (UTI). A
frequência cardíaca foi monitorada constantemente por 48 horas através de monitor
multiparamétrico que revelou 110 bpm, sem variações do ritmo. A radiografia
torácica (FIGURA 11), exames eletrocardiográfico e ecocardiográfico foram
realizados 48 horas após a implantação do marca-passo. O dreno torácico foi
retirado 24 horas após a implantação do marca-passo, quando se verificou pressão
negativa.
FIGURA 11 – RADIOGRAFIA VENTRO-DORSAL E LATERO-LATERAL DE CÃO,
MACHO, QUATORZE ANOS DE IDADE, ORQUIECTOMIZADO, DA RAÇA TECKEL
NO PÓS-OPERATÓRIO DO IMPLANTE DO MARCAPASSO. É POSSÍVEL
VISUALIZAR O GERADOR DE PULSO E O ELETRODO POSICIONADO NO
VENTRÍCULO.
Fonte: o próprio autor
49
A analgesia foi feita com morfina intramuscular (0,5 mg/Kg), nas primeiras 48
horas após implantação. Após esse período, o analgésico utilizado foi o cloridrato de
tramadol (3 mg/Kg). A antibioticoterapia foi realizada utilizando ampicilina com
sulbactam (20 mg/Kg), por via intravenosa. O animal desenvolveu seroma na região
da incisão, que se resolveu em quatro dias coma utilização de bandagem
compressiva.
Três e sete meses após a implantação realizou-se eletrocardiografia e
ecocardiografia de controle, observando-se FC atrial média de 160bpm e frequência
ventricular de 110 bpm (FIGURA 12).
FIGURA 12 – ECG SETE MESES APÓS IMPLANTAÇÃO DO MARCA-PASSO
DE CÃO MACHO, QUATORZE ANOS DE IDADE, ORQUIECTOMIZADO, DA
RAÇA TECKEL.
Fonte: o próprio autor
Sete meses após a cirurgia o paciente apresentou uma piora do quadro
respiratório, sendo os principais sinais clínicos tosse e dispnéia. Como causas
cardíacas foram descartadas através de ECG, ecocardiograma e radiografia de
tórax, optou-se por fazer uma lavado bronquial com exame citopatológico e cultura
fúngica
e bacteriana
do material coletado.
A
cultura bacteriana
revelou
contaminação por Staphylococcus e o exame citopatológico revelou grande
quantidade de neutrófilos. O paciente foi internado para tratamento de pneumonia,
mas veio a óbito sete dias após o diagnóstico.
5. DISCUSSÃO
Segundo a literatura consultada, a implantação de marca-passo é o tratamento
de escolha para cães com bloqueio atrioventricular de 3° grau, especialmente em
50
animais sintomáticos (GRAU, 2007).
O
BAV
de
terceiro
grau
corresponde
a
apenas
2%
dos
bloqueios
atrioventriculares que ocorrem em cães (ETTINGER et al., 1997). Em estudo
realizado por Genovese et al., (2013), com 54 cães, o BAV de terceiro grau foi a
indicação mais comum para a estimulação cardíaca (77,8%). Estudo semelhante
realizado por Johnson et al., (2007) o diagnóstico de BAV de terceiro grau totalizou
64% dos 104 cães que necessitavam de implante de marca-passo.
A intolerância a exercícios, apatia e tosse são sinais clínicos comumente
encontrados em animais com BAV completo (MONNET, 2007; WARE, 2006). O
tratamento com fármacos não é válido. Em cães com ritmo ventricular muito lento,
as drogas simpatomiméticas, como o isoproterenol ou a epinefrina, podem ser
utilizadas, mas não aumentam ou mantém a frequência cardíaca em níveis
desejáveis por várias horas ou dias em pacientes sintomáticos (TILLEY, 1992). No
caso descrito o paciente não respondeu a aplicação de atropina, sendo, após o
diagnóstico, optado pela intervenção cirúrgica antes que o quadro do animal
piorasse.
A esternotomia foi a técnica cirúrgica escolhida para se acessar o coração. O
eletrodo foi implantado em região de ápice de ventrículo direito. A técnica epicárdica
foi escolhida, pois o posicionamento e fixação do eletrodo são mais confiáveis desta
forma do que no método transvenoso (VISSER et al., 2013). Um fator limitante para
realizar a técnica endocárdica foi a indisponibilidade de um fluoroscópio, aparelho
necessário para realizar a técnica endovenosa (WESS et al., 2006). O eletrodo
implantado no paciente do relato possuía formato de rosca, que possibilita rápida e
fácil implantação (GRAU, 2007).
Várias abordagens cirúrgicas têm sido descritas para a colocação de marcapasso epicárdico permanente em cães, incluindo toracotomia e uma abordagem
transdiafragmática. Este último método ganhou aceitação desde os relatos iniciais e
é o método preferido de posicionamento do eletrodo epicárdico em cães e gatos
(VISSER, et al. 2013). A técnica transdiafragmática tem sido relatada como sendo
um procedimento cirúrgico simples, que requer menor tempo de execução e
51
ocasiona menor dor pós-operatória, estando associada a baixa incidência de
complicações (TILLEY, 1992).
No caso relatado a toracotomia esternal foi escolhida por permitir uma boa
visualização do ventrículo direito e pela equipe cirúrgica estar melhor adaptada a
esta técnica. No pós-operatório imediato o paciente apresentou sinais de dor, que
foram controlados com a administração de morfina. Como as técnicas para
implantação de marca-passo epicárdico são consideradas mais agressivas,
consequentemente, o tempo de recuperação dos pacientes é maior (GRAU, 2007).
As técnicas de implantação de marca-passo por esternotomia descrevem uma
incisão no diafragma para passar o eletrodo e conectá-lo ao gerador, que pode ficar
livre na cavidade abdominal ou ser colocado em uma bolsa feita no subcutâneo da
parede abdominal (TILLEY, 1992; GRAU, 2007). Na técnica utilizada o eletrodo foi
conectado ao gerador pela incisão da esternotomia. Dessa forma, evitou-se injúria
sobre o músculo diafragma, o que poderia gerar um maior desconforto respiratório
ao paciente no pós-operatório e, consequentemente, distúrbios ácido básicos. O
gerador foi alojado na região torácica lateral esquerda, envolvido pela musculatura,
apesar de existir a possibilidade de complicações neste local de fixação, como
relatado por Freitas et al.,(2002), visando diminuir as possibilidades de complicações
relacionadas ao fio do eletrodo e o próprio gerador proporcionar algum grau de lesão
aos órgãos abdominais. Após o óbito do paciente foi possível verificar através da
necropsia a eficiência desta fixação sem complicações.
Durante a realização da toracotomia, observou-se a presença de efusão pleural e
ascite que foram drenadas. A efusão pleural e ascite são relatadas como
consequência do baixo débito cardíaco, gerando uma insuficiência cardíaca
congestiva (MONNET, 2005).
A formação do seroma é uma complicação considerada leve e comumente
ocorre no pós-operatório (OYAMA et al., 2001). Diante desse quadro, apesar de
muitas vezes essa complicação se resolver sozinha, optou-se pela utilização de
bandagem compressiva como indicado por Burrage (2012).
Foi optado por realizar radiografia torácica, eletrocardiografia e ecocardiografia
52
após três e sete meses, considerando período adequado para monitoramento desse
paciente como recomendado por Fingeroth & Birchard (1996).
Diante do sucesso na implantação e funcionamento do marca-passo determinouse o prognóstico para o paciente como bom (TLLEY & SMITH, 2008). Johnson et
al., (2007) afirmam que cães que não tem outras doenças de origem cardíacas tem
sua taxa de sobrevida média cinco anos e nove meses. O paciente do presente
relato apresentou complicações do sistema respiratório sete meses após o
procedimento cirúrgico, vindo a óbito devido estas complicações.
53
6. CONCLUSÃO
O implante de marca-passo cardíaco epicárdico é uma intervenção terapêutica
interessante, já que a maioria dos animais com BAV completo sintomático
apresentam resolução dos sinais clínicos após a colocação do dispositivo.
A colocação do marca-passo resgata a qualidade de vida do paciente, fazendo
com que retome atividades de lazer com o proprietário que seriam restringidas, já
que os sinais clínicos são exacerbados durante o exercício físico.
A técnica de implantação de marca-passo epicárdica é considerada mais
invasiva, porém apresenta certas vantagens quando comparada a técnica
endocárdica
É importante que existam profissionais treinados e equipamentos disponíveis
para realização do procedimento em pacientes veterinários, para evitar ao máximo
possíveis complicações no pós-operatório.
No caso relatado a técnica de implantação por esternotomia não apresentou
sérias complicações. O cão apresentou boa recuperação no período pós-operatório
e resolução dos sinais clínicos, comprovando a eficiência do tratamento cirúrgico na
implantação do marca-passo como tratamento definitivo do BAV completo.
54
REFERÊNCIAS
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