Estratégias indianas para o desenvolvimento do setor de

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Estratégias Indianas para o Desenvolvimento do Setor de Biotecnologia
Vibha Dhawan
Instituto Tata de Pesquisa em Energia
Darbari Seth Block, Habitat Place, Lodhi Road, Nova Délhi - 110 003, Índia
A biotecnologia pode ser definida como a aplicação do conhecimento
nativo e/ou científico no gerenciamento de (partes de) microorganismos ou de
células e tecidos de organismos superiores, para que forneçam bens e serviços
para o uso dos seres humanos (Bunders et al., 1996). Nos últimos anos, tem
havido um progresso significativo nesse campo, e impactos dessa tecnologia são
agora visíveis na produtividade agrícola, produtos florestais, na melhoria da
saúde humana e no meio ambiente. O desenvolvimento de um grande número de
remédios, inclusive vacinas, com a intervenção de microorganismos fez com que
fosse possível conseguir tratamento de saúde a um preço acessível, assegurando,
assim, que o benefício das pesquisas cheguem às massas.
O investimento em biotecnologia foi bastante substancial nos últimos
anos, especialmente na parte desenvolvida do mundo. Muitos produtos úteis
foram descobertos e isso justifica os enormes investimentos feitos nesse
importante campo de pesquisa. Mais recentemente, houve um crescente
interesse dos países em desenvolvimento e deu-se início à pesquisa orientada
para a aplicação prática em diversos campos. Na maioria dos países em
desenvolvimento, há um sério debate em andamento sobre a escolha dos
caminhos de pesquisa em biotecnologia. O grande dilema existe porque é uma
tecnologia cara, e os resultados aparecem apenas depois de alguns anos de
gestação.

Traduzido por Leila Brum
As crescentes pressões advindas do aumento populacional, associadas às
cada vez maiores necessidades de alimentos, saúde, higiene e energia resultam
nas pressões cada vez maiores sobre os recursos finitos da terra. Quando a
agricultura começou, havia bastante terra disponível e, assim, as pessoas podiam
dar-se ao luxo de utilizar o método de cultivar uma nova área a cada ano. A
restauração da fertilidade do solo nunca foi um problema, pois havia tempo
suficiente entre dois ciclos agrícolas para o melhoramento do solo. As pressões
da população e outras influências bióticas, infelizmente, são muito maiores no
mundo em desenvolvimento em comparação ao mundo desenvolvido. A
revolução verde e outros avanços na ciência agrícola, sem dúvida, aumentaram a
produtividade, mas persiste o fato de que mesmo atualmente milhões de pessoas
em todo o mundo não fazem nem ao menos duas refeições ao dia. A situação é
particularmente séria na Ásia e na região africana abaixo do Saara.
No passado, para aumentar as produções agrícolas, fizemos uso intenso de
fertilizantes e pesticidas. Na realidade, o uso excessivo e indiscriminado de
fertilizantes resultou na poluição dos solos e das águas subterrâneas. A
industrialização também contribuiu para contaminar os lençóis freáticos e os
rios. Infelizmente, não podemos atribuir valores econômicos às perdas
ambientais e medir a sustentabilidade social. À medida que nos aproximamos do
novo século, somos confrontados com a tarefa de produzir alimentos e outros
produtos agrícolas usando cada vez menos terra per capita e menores recursos
hídricos de irrigação. As tecnologias da revolução verde dos anos sessenta foram
consideradas neutras em referência à sua relevância para agricultores com
diferentes tamanhos de propriedades. Eles, contudo, não eram neutros em
recursos, uma vez que mais insumos comprados no mercado foram necessários
para haver uma maior produção (pesticidas e fertilizantes). A biotecnologia
oferece a oportunidade de se integrar a neutralidade de recursos à neutralidade
de graduação na tecnologia, no desenvolvimento e na disseminação. O uso do
conhecimento nativo é uma necessidade urgente se o conceito de agricultura
sustentável tiver que se tornar uma realidade a nível do campo.
A biotecnologia nativa
Várias
práticas
tradicionais
em
diversas
comunidades
revelam
uma
biotecnologia nativa em ação. Sem saber, os agricultores têm assegurado a
retenção da fertilidade do solo e a proteção da base de recursos naturais há
séculos. O processo da troca de cultivo, comumente chamado de cultivo jhoom,
consistia em passar de um lote de terra para outro e voltar ao mesmo lote depois
de alguns anos. Uma vez que as interferências bióticas eram mínimas, por meio
do processo natural de regeneração a fertilidade do solo era restaurada. Uma vez
que os legumes sempre foram parte integral de nossa dieta (como fonte de
proteínas), sempre foram plantados juntamente com outras lavouras. As raízes
das plantas mais altas em associação simbiôntica com o Rhizobium (uma
bactéria) formam nódulos - lugares para a fixação do nitrogênio atmosférico,
assegurando, assim, a restauração da fertilidade do solo.
Nos sistemas tradicionais, onde os agricultores produziam o que quer que
fosse necessário para seu próprio uso, nunca se praticou a monocultura. Na
verdade, os pequenos agricultores cultivam cereais, batata, cebola, legumes,
algumas árvores agro-silvestres, tudo em uma pequena área. Pestes nunca foram
um problema sério. Já que guardavam uma parte da sua produção para a
semeadura do próximo ano, a manutenção da biodiversidade estava assegurada.
Também asseguravam a escolha das melhores sementes da última colheita. A
seleção natural, como o tamanho do grão / comprimento do sabugo / grandes
colheitas, cor, gosto e outras características desejáveis, como a resistência a
doenças, sempre foi praticada. Sempre houve troca de material para plantio entre
os agricultores. Na maioria das vezes, os resíduos agrícolas eram queimados no
campo, o que indiretamente servia de esterilizador e matava pequenas lagartas,
formigas e cupins.
Nossos antepassados reconheciam a importância de diversas plantas.
Durante muitas gerações essas plantas foram utilizadas por causa de suas
biomoléculas no tratamento de diferentes doenças animais e humanas. Por
exemplo, o açafrão-da-Índia tem sido utilizado como anti-séptico e analgésico
por diferentes comunidades do campo. A Ayurveda é totalmente baseada na
aplicação de moléculas de plantas. As substâncias ativas são extraídas de raízes,
folhas ou casca da planta. Normalmente esse conhecimento era confinado a
certas famílias nos vilarejos e passado adiante de uma geração para a outra.
Estamos agora nos tornando conscientes em documentar este conhecimento
nativo e usá-lo para as futuras gerações.
O processo de fermentação natural foi bastante usado para preparar
alimentos. Exemplos são a preparação de pão e de iogurte. O produto
fermentado é muito mais saudável e contém muitas vitaminas se comparado ao
produto não-fermentado. Em certas regiões, o arroz e os legumes são moídos
juntos e fermentados por algumas horas e, então, ou são cozidos no vapor (para
preparar idli) ou usados para fazer panquecas (normalmente chamadas de dosa).
Temos que nos basear nessas tradições e então fazer inovações
biotecnológicas aceitáveis para os pequenos agricultores. Uma vez que 70 por
cento da população da Índia mora na área rural e é, em sua maioria, inculta, seria
muito mais simples convencê-los a adotar alguma coisa que seja baseada nos
seus sistemas tradicionais. As tecnologias que têm sido usadas por séculos
podem ser tornadas mais eficientes pelo uso de novas intervenções, por
exemplo:
*
Composto ativado - pode ser ativado pelo uso de biogás. Além da rica
pasta orgânica, o agricultor teria biogás para usar na sua cozinha.
*
Compartilhamento simultâneo aperfeiçoado - uma alternativa melhor do
que a rotação de culturas é aperfeiçoar o compartilhamento simultâneo levando
a sistemas de plantações múltiplas envolvendo uma variedade muito grande de
plantas leguminosas, árvores, cereais, tubérculos, etc. em configurações
deliberadas.
*
Aperfeiçoar a fixação do nitrogênio - o agricultor está bem ciente da
capacidade que as plantas leguminosas possuem de fixar o nitrogênio.
Biotecnólogos poderiam ajudar pequenos agricultores a selecionar as melhores
combinações de leguminosas e grãos para usar essa capacidade. Inoculantes
microbianos eficientes para as variedades selecionadas e que podem crescer sob
diferentes zonas agro-climáticas podem ser produzidos em massa.
*
Uso de fungos micorrizais - Para muitas plantas, especialmente pinheiros,
há a prática de se coletar o solo embaixo de uma árvore em crescimento e usá-lo
para construir sementeiras. Este solo leva os esporos micorrizais que, ao
entrarem em contato com as raízes das mudas, formam associações
simbiônticas. Isso assegura um melhor estabelecimento e crescimento das
mudas. Micorrizos asseguram não apenas um melhor desenvolvimento dos
sistemas das raízes, como também tornam disponível para a planta a forma de
fósforo que não estava disponível. Essa seleção de micorrizos para diversas
lavouras adequadas a várias zonas agro-climáticas assegura uma melhor
produtividade.
Recursos genéticos
Nos últimos anos, a nossa ênfase foi bastante direcionada para a seleção de
plantas de alta produtividade, e no processo estamos perdendo outros genes
importantes, tais como os genes de resistência a doenças. Há alguns anos, em
várias partes do mundo o arroz estava seriamente infestado com a doença
Grassy Stunt Virus. Felizmente, na região de Gonda, na Índia, o arroz silvestre
(Oryza nivara) foi encontrado portando genes de resistência. Ao cruzar essa
variedade silvestre com as variedades cultivadas, pudemos desenvolver as
variedades que são cultivadas hoje em dia. Assim, torna-se muito importante
conservar os recursos genéticos silvestres.
Energia renovável
A biotecnologia pode ter um papel importante na produção de combustíveis para
fontes renováveis. O metano, o etanol e o metanol são todos produzidos por
meio de reações bioquímicas, nas quais os micróbios têm um papel importante.
Ao selecionar o consórcio microbiano certo, a produção de biogás pode ser
assegurada o ano todo e, além do estrume animal, outros resíduos agrícolas
também podem ser usados.
Biopesticidas
Estima-se que um terço da produção agrícola global seja destruída anualmente
por mais de 20.000 espécies de pestes de campo e de estocagem. Os pesticidas
sintéticos são bastante usados para o controle. Os pesticidas sintéticos têm uma
vida de estocagem relativamente longa e, portanto, podem ser facilmente
transportados e estocados. Infelizmente estão causando uma estimativa de 3
milhões de casos de envenenamento por pesticida ao ano, cerca de 20.000 dos
quais são fatais (Dinham, 1993). A poluição do solo, da água e do ar com
conseqüências a longo prazo ainda desconhecidas para os seres humanos, a vida
silvestre e o meio ambiente, e o desenvolvimento de resistência a pesticidas
necessitam que sejam envidados esforços de pesquisa direcionados às
tecnologias não prejudiciais ao meio ambiente. Hoje em dia, no Sul da Ásia o
algodão é pulverizado de 15 a 16 vezes por temporada, em comparação a uma
década atrás, que era de 5 a 6 vezes (Ahmed e Stoll, 1996). Sabe-se que muitas
espécies de plantas possuem uma biomolécula ativa que age como pesticida. A
aplicação de sementes aperfeiçoadas, o uso de adubo unido à diversificação do
plantio, a eliminação manual de ervas daninhas e a rotação já deram excelentes
resultados. Uma outra estratégia, agora assunto de intensa pesquisa, é a do
controle biológico. Consiste em usar inimigos naturais, colocando um
organismo contra o outro (Mackauer et al., 1990). Talvez o mais conhecido
exemplo seja o uso, com sucesso, do zangão parasita Epidinocarsis lopezi para
controlar o bicho da farinha de mandioca na África tropical (IITA, 1990). Está
agora se tornando comum nos países desenvolvidos, e os ovos de muitos dos
insetos estão sendo vendidos comercialmente.
Segundo Grainge e Ahmad (1988), sabe-se atualmente que mais de 2400
espécies de plantas em todo o mundo possuem propriedades de controle de
pestes. A lista desses autores é baseada nos relatórios publicados, e é possível
que cresça à medida que as biomoléculas de outras espécies sejam exploradas.
Além disso, há uma riqueza de conhecimento nativo que continua confinado às
tribos e nunca é publicado. A maioria dos estudos que deram origem a esses
relatórios foram inspirados no conhecimento e práticas locais. Espera-se que a
lista aumente, uma vez que todo o conhecimento tradicional ainda não é
documentado. Além disso, muitas espécies que têm comparativamente menos
quantidades de biomoléculas ainda não foram exploradas. Conscientizando-se
da importância das biomoléculas não prejudiciais à ecologia, agora as pessoas
estão se tornando conscientes na exploração de várias espécies de plantas e em
testar as biomoléculas presentes nelas em relação a uma variedade de outras
pestes. A crescente preocupação com os efeitos maléficos do controle químico
está agora, em todo o mundo, dando início a um interesse renovado em agentes
de Controle Biológico de Peste. O principal fator limitador da exploração
comercial do controle biológico de peste tem sido o alto custo de extração e o
pouco tempo de estocagem das biomoléculas.
O conhecimento das propriedades medicinais das plantas provavelmente
precede a agricultura. Acha-se que começou quando os seres humanos ainda
eram caçadores e colhedores. As árvores e as florestas eram, e em alguns casos
ainda são, muito importantes para as sociedades tradicionais como fonte
primária de alimentos, guarida, medicamentos e outros produtos e serviços.
Foram veneradas durante séculos. Na Índia, Aranyani, a Deusa da Floresta, e
Vanadurga, a Deusa das Árvores, ainda são veneradas como fontes principais de
vida e fertilidade. Até mesmo com as crescentes pressões bióticas, as árvores em
volta dos templos nunca são cortadas. Em algumas comunidades, algumas
espécies de árvores são consideradas sagradas e são veneradas. A diversidade,
harmonia e natureza auto-sustentável da floresta são, assim, os princípios
organizacionais que guiam as sociedades tradicionais que tomam as florestas
como seu modelo evolucionário. Os cientistas aprenderam primeiramente as
propriedades das plantas para o controle de pestes com a observação da prática
de sociedades agrícolas tradicionais. Folhas secas de neem e rizomas secos de
açafrão-da-índia, por exemplo, têm sido usados durante séculos no nosso país
para a estocagem de grãos. A recente utilização do Texus baccata para o
princípio ativo do taxol para a cura do câncer gerou muito interesse. Isso
resultou na sua super-exploração, especialmente em países de poucos recursos.
É importante para nós assegurar que as plantas sejam exploradas em uma base
sustentável e sejam replantadas para suprirem necessidades futuras. As
biomoléculas deveriam ser extraídas ao máximo e plantas de elite marcadas
baseando-se na quantidade de biomoléculas exploráveis que elas contêm.
O Processamento de Alimentos
O processamento de alimentos assegura o valor agregado aos alimentos básicos,
tornando possível um mercado maior, criando empregos e maior renda para a
população rural.
Muitas práticas tradicionais de processamento de alimentos usadas em
países em desenvolvimento podem ser classificadas como biotecnologias. O
processo-chave envolvido é a fermentação. Alguns produtos tais como o queijo,
o pão, o vinho e a cerveja são agora produzidos em massa em escala industrial,
mas muitos outros ainda são feitos exclusivamente em pequena escala, a nível
dos vilarejos ou a nível familiar. Até mesmo quando produtos industriais
chegam ao mercado, as suas contrapartidas tradicionais continuam em produção
em muitas partes rurais. O processamento de alimentos pode melhorar a
qualidade da dieta das pessoas do campo. O processamento de laticínios é uma
técnica antiga, o conhecimento da fabricação do queijo e da manteiga estão
relatados em antigos escritos indianos datando de cerca de 3000 anos (Aguho e
Axtell, 1994).
Esse setor adequa-se idealmente às necessidades das pessoas pobres e em
particular das mulheres pobres. As pessoas que querem montar um pequeno
negócio de processamento de alimentos não precisam de muito dinheiro. A
maior parte do material está disponível na cozinha doméstica, e pode ser feito
pelas mulheres do campo em seu tempo extra.
A fermentação é um agrupamento complexo de processos, a matéria
prima básica que pode ser uma fruta, um vegetal, leite ou carne torna-se
substrato para o crescimento controlado de microorganismos especialmente
selecionados. Os fatores que determinam a seleção e o crescimento incluem
tratamentos tais como picar e ferver, adicionar ingredientes tais como sal,
açúcar, vinagre, e fatores ambientais tais como temperatura e umidade. Os
microorganismos certos florescem somente quando ocorre a combinação certa
de nutrientes, temperatura, umidade e acidez/alcalinidade. Eles então conseguem
reprimir outros organismos que poderiam causar envenenamento alimentar ou
estragar o processo. Administrar a fermentação para chegar ao desejado produto
final é, portanto, um trabalho que necessita bastante técnica.
Um controle de qualidade inadequado é um dos principais fatores na
aplicação em larga escala de produtos de pequenas unidades de processamento
de alimentos. Geralmente se presume que produtos alimentares tradicionais são
anti-higiênicos. Já que não se coloca ênfase na embalagem, esses produtos não
atraem um bom mercado e um bom preço. Além disso, uma vez que a própria
matéria prima varia qualitativamente entre as diversas variedades, não se confia
no produto advindo de produções em pequena escala. Os competidores do setor
industrial, por outro lado, recolhem material de várias partes do país,
normalmente o melhor, e fazem embalagens atraentes sob condições
esterilizadas. Isso assegura um maior período de estocagem. Para as pessoas do
campo é difícil achar exatamente o que o mercado quer e o preço que está
disposto a pagar, e então adquirir os meios e aplicar as técnicas necessárias para
vender o produto. No passado, os produtores rurais de alimentos biotecnológicos
recolheram essa informação oralmente tomando o lugar do mercado. Com a
rápida escalada na técnica e na sofisticação dos mercados nos países em
desenvolvimento, esses canais informais não são mais suficientes. As iniciativas
mais promissoras nessa área são aquelas feitas pelas organizações nãogovernamentais. Na índia, as Comissões de Khadi e de Udyog nas aldeias foram
criadas como organizações de mercado para promover a produção de pequenos
grupos de produtores. Atualmente está investigando o potencial do achar
(vegetais em conserva), do mel e do papad (feito de dal).
Em alguns casos, produtos locais caíram em desuso, não por causa de sua
qualidade nutricional, mas apenas porque não tinham como competir com os
produtos industriais. Um exemplo clássico é a entrada das multinacionais na
produção de batatas fritas (chips). Na Índia, havia uma longa tradição no preparo
de batatas fritas finas (wafers). Uma grande fatia do mercado dessa indústria em
pequena escala foi, infelizmente, tomada pelos grandes industriais. Embalagens
atraentes, de cores vivas e brilhantes, propaganda e vários outros esquemas
promocionais são responsáveis pelas suas grandes vendas.
As políticas na maioria dos países discriminam ainda mais os
processadores de alimentos em pequena escala. Os padrões de qualidade e as
legislações favorecem as grandes empresas. É muito difícil para pequenos
empresários oferecerem seus produtos a crédito. As mulheres, que mais utilizam
o processamento tradicional de alimentos, raramente foram incluídas em
projetos de pesquisa e desenvolvimento. Enquanto as grandes casas industriais
podem estabelecer boas instalações para embalagem, para os pequenos
processadores não há instalações centrais onde eles possam ter o seu material
processado embalado de modo a conservar o seu frescor. Assim, os benefícios e
o valor agregado geralmente vão para os grandes industriais. O valor agregado
em algumas de nossas lavouras tradicionais, tais como a batata na forma de
batatas fritas (chips), e milho na forma de flocos de milho (cornflakes), é de
mais de cem vezes.
As tecnologias de processamento de alimentos são muitas vezes de
localização específica. São utilizadas por comunidades específicas que usam
tipos tradicionais de utensílios, madeira como combustível e outras ervas para se
adequar ao gosto local. Existem opções disponíveis para transferir algumas
dessas tecnologias até mesmo entre países. Com as oportunidades de viagem
cada vez maiores, as pessoas começaram a adaptar alimentos de vários países.
Há uma imensa oportunidade para um país como o nosso de produzir alguns dos
alimentos raros, especialmente picles, e entrar no mercado de exportação.
Contudo, um bom apoio do governo é necessário para intensificar o
processamento de alimentos em pequena escala e o seu marketing. Políticas que
encoragem pequenos negócios no setor privado seriam um bom ponto de
partida. A formação de cooperativas para assegurar uma produção guiada,
criando-se alguma infra-estrutura a nível dos vilarejos para assegurar o valor
agregado in loco, resultando, assim, no crescimento econômico de nossas
comunidades rurais. Isso criará oportunidades de empregos nas áreas rurais,
aliviando, assim, as cidades com as suas pressões populacionais cada vez
maiores.
Os recursos genéticos da lavoura
A seleção e a criação de plantas e animais para introduzir ou manter a
característica desejada tem sido praticada desde o berço da civilização. Milhares
de espécies em todo o mundo foram domesticadas. Isso resultou no acúmulo de
uma enorme riqueza de variabilidade genética, grande parte da qual ainda está
sendo mantida e administrada por agricultores locais. Criar e comercializar tal
riqueza de recursos biológicos é uma das grandes realizações do ser humano.
Mais recentemente, a reprodução de plantas está se tornando uma
profissão e muitas firmas particulares estão investindo enormes somas de
dinheiro para apressar esse processo. Contudo, os pesquisadores no campo da
reprodução de plantas se baseiam muito no conhecimento gerado pelos
agricultores para desenvolver ainda mais variedades por meio de pesquisas.
No sistema local, o agricultor adquire sementes guardando-as na sua
própria fazenda ou com os seus amigos agricultores. O armazenamento de
sementes envolve a seleção, tanto natural quanto consciente, e resulta no que se
pode chamar de conservação dinâmica dos tipos de terra, uma vez que a
conservação aqui está vinculada à evolução contínua. Os principais critérios de
seleção utilizados são a produção e a estabilidade da produção, evitar riscos, a
baixa dependência a insumos externos e um número de fatores de qualidade
associados ao estoque, características de cozimento e sabor.
O setor privado orientado para o lucro (as companhias de sementes)
concentra-se bastante na tecnologia de aumento da produção normalmente
ligada ao uso de produtos agroquímicos. Supre principalmente as necessidades
de grandes agricultores que podem se dar ao luxo de utilizar a irrigação e outros
insumos tais como o uso de maiores dosagens de fertilizantes e pesticidas. Os
agricultores de poucos recursos de distantes áreas chuvosas na realidade não são
beneficiados uma vez que não podem pagar os grandes insumos. Os agricultores
com pequenas instalações rurais e com recursos escassos ainda dependem do
sistema tradicional de produzir as suas próprias sementes.
Uma das maiores ameaças de se desenvolver variedades com as
características desejadas é que poderíamos acabar perdendo alguns genes
importantes, digamos, para algumas pestes desconhecidas. Pode acontecer que,
na tentativa de melhorar a produtividade por unidade, todo o nosso objetivo de
reprodução transfira-se para o alcance de uma produtividade maior e, já que
nessas áreas uma peste em particular não se encontra presente, após algumas
gerações os genes de resistência à peste/a doenças se percam. O aparecimento da
peste nessas áreas poderia resultar em uma severa infestação da doença e,
portanto, em sérias perdas econômicas. Assim, enquanto escolhemos e
desenvolvemos variedades que se ajustem às necessidades de hoje em dia, é
essencial que conservemos os recursos de germoplasma disponíveis conosco.
Duas abordagens complementares foram desenvolvidas: a conservação ex situ e
a conservação in situ.
Conservação ex situ
A conservação ex situ é efetuada por meio de bancos de genes, que estocam
espécimes de sementes ou outros materiais de plantio sob condições controladas
de temperatura e umidade. O objetivo é conservar tanto quanto for possível da
diversidade genética existente e assegurar a sua disponibilidade para as gerações
futuras. Os materiais são colhidos por meio da exploração das plantas e são
brevemente descritos (“Dados do Passaporte”) antes de serem estocados.
Uma característica importante dos bancos de genes é que eles congelam a
“evolução”. Porque os genótipos são tirados do seu ambiente natural e não estão
mais sujeitos à germinação ou à regeneração regular, a sua contínua adaptação
às mudanças ambientais é suspensa. Se devidamente estocados, os espécimes do
banco de genes podem ser reproduzidos sem qualquer mudança depois de um
longo período de conservação. Dependendo das condições de estocagem, a
conservação ex situ pode ser dividida nas três amplas categorias que se seguem:
 Estocagem a curto prazo
 Estocagem a médio prazo
 Criopreservação
O Escritório Nacional dos Recursos Genéticos Vegetais (National Bureau
of Plant Genetic Resources) em Nova Délhi, na Índia, criou instalações de
conservação ex situ para plantas medicinais e de lavoura. Até agora o Escritório
possui cerca de 150.000 espécimes de plantas medicinais e de lavoura em seu
banco de genes.
Berg (1995) argumenta que a conservação in situ representa uma melhor
opção, uma vez que possibilita ao germoplasma co-evoluir com as doenças e
pestes, com a mudança dos sistemas agrícolas e as condições climáticas. A
resistência a doenças geralmente é encontrada no germoplasma de áreas onde há
uma diversidade genética tanto da espécie de plantas quanto do patógeno em
questão, levando à co-evolução. Populações de cevada continuamente cultivadas
na presença de um patógeno obtiveram um maior nível de resistência do que
qualquer exemplar do banco de genes (Allard, 1990). Além disso, a informação
nos espécimes dos bancos de dados tende a ser restrita. Os dados de passaporte
incluem características padrões e nós realmente deixamos passar certos detalhes
importantes, especialmente para uso futuro.
Os bancos de genes também têm sido criticados no debate global sobre os
direitos de propriedade em relação a materiais genéticos. Para as comunidades
locais, as coleções de germoplasmas ex situ estão efetivamente extintas.
Materiais dos bancos de genes tornam-se disponíveis aos criadores de plantas no
setor público ou privado sem que seja dado qualquer crédito aos
agricultores/comunidades de onde vieram.
Conservação in situ
A conservação in situ envolve deixar as espécies no seu hábitat natural,
possibilitando que a adaptação e a evolução continuem. Essa abordagem foi
adaptada dos métodos usados no gerenciamento de recursos naturais para a
conservação de espécies semi-silvestres ou os parentes silvestres das espécies
usadas na lavoura. É especialmente apropriada para hábitats sob ameaça e para
áreas que ainda são cultivadas tradicionalmente, onde as plantações são
normalmente enriquecidas pela troca de genes com parentes silvestres e ervas
daninhas. Um dos maiores problemas que estamos enfrentando hoje em dia é
que a produtividade da terra em tais áreas permanece muito baixa. É, portanto,
financeiramente insustentável para o agricultor seguir esse método de
conservação. Contudo, deveria ser feito em pequena escala, especialmente nas
terras gerenciadas por cooperativas de agricultores, e pode-se até pensar em
conceder algum tipo de subsídio a esses agricultores.
O aperfeiçoamento do germoplasma
As abordagens sobre o aperfeiçoamento das lavouras no setor público formal
mudaram desde os primeiros dias da revolução verde. As necessidades dos
agricultores de poucos recursos que vivem em áreas infestadas pelas chuvas e
áreas distantes são agora reconhecidas. Várias organizações internacionais
tomaram para si esse desafio e organizaram/equiparam seus centros
exclusivamente para novas variedades de plantas com vistas aos produtos
bastante usados por agricultores de poucos recursos, tais como a mandioca, o
milho, o sorgo, o milhetes, o grão-de-bico, o feijão-de-corda e o guandu. Um
exemplo é o Instituto Internacional de Pesquisa em Lavouras nos Trópicos
Semi-áridos (International Crop Research Institute for Semi-Arid Tropics ICRISAT), em Hyderabad, Índia.
O desenvolvimento de novas tecnologias no setor formal depende bastante
da seleção e dos testes na instalação de pesquisa onde as condições ambientais
são irrealisticamentes favoráveis em comparação àquelas enfrentadas por
pequenos agricultores de poucos recursos. O terreno é normalmente plano e os
solos quase sempre basicamente mais férteis. Todo o conceito de revolução
verde estava associado ao uso de insumos de alto nível. Recentemente houve
uma decisão consciente envolvendo os agricultores. Muitos programas agora
convidam os agricultores às estações de pesquisa para verem os genótipos sendo
cultivados lá. Esses agricultores tem um papel ativo na seleção e dão as razões
para as suas escolhas. Isso define definitivamente as prioridades dos
agricultores, tornando-se um feedback para o programa de reprodução. É claro
que sempre há o perigo de que, se um grande número de agricultores não for
consultado, isso poderá dirigir o programa de reprodução na direção de uma
adaptação específica a um lugar ou a preferências que não são comuns em
outros lugares.
O programa de desenvolvimento e conservação da biodiversidade da
comunidade fundado por um consórcio de doadores ocidentais é a primeira
tentativa de explorar esse conceito a nível internacional (Clades et al., 1994). O
objetivo do programa é conservar não tanto as próprias lavouras dos
agricultores, mas o processo pelo qual os agricultores geram a diversidade
genética das lavouras. Os agricultores e suas comunidades locais são deixados
totalmente livres para escolher quais os vegetais ou variedades que eles
gostariam de conservar e desenvolver. Agora ativo em 30 produtos de lavouras
espalhados por 17 países em desenvolvimento, o programa é visto como uma
complementação à conservação ex situ em bancos de genes, e não uma
substituição a ela. Se a conservação in situ é relaxada a ponto de os fazendeiros
estarem livres para usarem velhos tipos de terras se assim o quiserem, então a
capacidade de congelamento dos bancos de genes torna-se útil como recurso.
Várias tentativas foram feitas em anos recentes para aumentar a influência
dos agricultores no projeto da nova tecnologia. Por exemplo, o programa do
Instituto Internacional de Pesquisa em Lavoura nos Trópicos Semi-Áridos para o
aperfeiçoamento do sorgo e do milhete, em conjunto com seus parceiros
nacionais do Zimbábue, desenvolveu sementeiras que representam a diversidade
morfológica dos genótipos de sorgo encontrados no país. Grupos de agricultores
são convidados regularmente para a instalação de pesquisa e solicitados a
identificar os seus genótipos preferidos, dando as suas razões. Os resultados são
sujeitos a uma análise detalhada depois da qual retornam aos programas de
criação nacionais e internacionais como uma diretriz para cientistas que tenham
a reprodução por objetivo (ICRISAT, 1995).
O desafio diante da conservação e desenvolvimento das lavouras é
encontrar caminhos para intensificar o conhecimento local e ligá-lo à ciência
mundial, e ao mesmo tempo assegurar que o controle daquele conhecimento
continue na comunidade. Esse desafio exige que os pesquisadores dirijam as
dimensões políticas de seu trabalho para promover reformas em importantes
áreas, como a dos direitos de propriedade intelectual. Ao mesmo tempo, as
organizações locais precisam ser fortalecidas para aumentar a capacidade dos
agricultores de administrar a conservação e o desenvolvimento locais, analisar o
mundo maior em que realizam seus trabalhos e exercer uma pressão efetiva nas
instituições e nos formuladores de políticas do setor formal.
Biotecnologia baseada cientificamente: uma avaliação do potencial
Será que a pesquisa em biotecnologia cientificamente baseada poderia beneficiar
os agricultores pobres em recursos nos países em desenvolvimento? Essa
questão é especialmente relevante dados os custos de investimento relativamente
altos e a natureza sofisticada de tal pesquisa, cuja capacidade é geralmente
muito mais baixa nos países em desenvolvimento do que no mundo
desenvolvido.
Algumas das tecnologias, tais como a fermentação, os biofertilizantes e os
agentes de biocontrole foram desenvolvidos séculos atrás, muito antes do
estabelecimento dos laboratórios modernos, e foram usados a nível da
comunidade.
Durante milhares de anos, a humanidade usou microorganismos para
produzir alimentos e bebidas, geralmente sem compreender os complexos
processos microbianos responsáveis pela sua produção. A preparação do vinho
em diversas partes do país tem sido especializada. A matéria prima, os utensílios
usados, etc. são tão diferentes que o produto final tem um sabor diferente e é
mais específico a áreas onde são produzidas; por exemplo, o aguardente Feni, de
Goa, é muito conhecido.
BIOTECNOLOGIA: ESTRATÉGIAS E SUCESSOS NA ÍNDIA
Micropropagação
Todos os organismos vivos começam a sua vida de uma única célula zigoto que
se divide e se diferencia para chegar a um organismo complexo. Isso significa
essencialmente que cada célula de um organismo vivo possui o mesmo make up
genético e no processo da diferenciação alguns genes tornam-se ativos enquanto
outros continuam adormecidos. Pensou-se há muito tempo atrás que, sendo
assim, cada célula deveria ser capaz de desenvolver um organismo inteiro, e isso
é verdade, especialmente no que concerne às plantas. Essa propriedade da
totipotência forma a base da micropropagação. É um método de propagação
vegetativa de plantas para produzir reproduções fiéis do tipo da planta
selecionada sob condições controladas independentemente das influências
sasonais num espaço relativamente pequeno. A técnica tem sido comercialmente
explorada desde os anos 70 na parte desenvolvida do mundo, e especialmente no
que concerne a alguns gêneros, tais como as orquídeas, esse é o único método
comercialmente viável de produzir plantas. No mundo em desenvolvimento,
embora muitos protocolos em escala de laboratório tenham sido desenvolvidos,
até uma década atrás não houve tentativa de comercialização. A principal
vantagem da micropropagação é a clonagem em larga escala dos genótipos
desejados sob condições livres de doenças. A técnica é especialmente relevante
para aquelas espécies/variedades que não podem ser convencionalmente
propagadas por meio de cortes ou onde os métodos convencionais de
propagação vegetativa são muito vagarosos para suprir a demanda do material
de plantio. Os benefícios comerciais das espécies dióicas (espécies com órgãos
sexuais masculino e feminino em indivíduos diferentes) podem ser aumentados
muitas vezes por meio da clonagem de plantas do sexo desejado.
A Índia tem sido pioneira em muitas das descobertas no campo da cultura
de tecidos. Um trabalho pioneiro no desenvolvimento da cultura de antera e a
polinização in vitro foi feito na Universidade de Délhi, na década de 60. Um
grande número de protocolos de micropropagação em escala de laboratório foi
desenvolvido em diversos laboratórios indianos. A primeira notícia sobre a
propagação com êxito de uma Tectona grandis de 100 anos, uma árvore de
madeira dura, é creditada a cientistas indianos do Laboratório Químico
Nacional, em Pune. Infelizmente, ficamos atrasados na comercialização dessas
tecnologias. As principais razões para isso foram uma certa falta de infraestrutura, da necessária interação entre os cientistas e de instalações industriais.
O Departamento de Biotecnologia do Governo da Índia tomou a iniciativa
corajosa de criar duas instalações em escala piloto para a produção em massa de
material de plantio de primeira qualidade já em 1989. As instalações foram
montadas no Laboratório Químico Nacional, em Pune, e no Instituto Tata de
Pesquisa em Energia (TERI), em Nova Délhi. A instalação do Instituto Tata de
Pesquisa em Energia, embora projetada em nosso país, compara-se aos mais
sofisticados laboratórios do mundo desenvolvido. Já produziu mais de 3 milhões
de plantas de diversas espécies. Depois da demonstração de campo, os
silvicultores, inicialmente bastante céticos com relação a esta tecnologia, estão
agora se convencendo da uniformidade clônica e da superioridade das plantas
criadas pela cultura de tecido em comparação às suas contrapartidas
convencionais. As plantas-mães são selecionadas com o maior cuidado para
apresentarem as características desejadas (tais como resistência a doenças,
tronco reto, maior produção de biomassa, etc.) e então são multiplicadas por
meio da abordagem mais conservadora da cultura de tecidos (método de
intensificação dos galhos axilares). Nessa instalação, as espécies que estão sendo
atualmente multiplicadas são:

Espécies com variabilidade marcante na população nascida de
sementes. Com o eucalipto, um estudo mostrou que no estado de Haryana
65 por cento da produção total vem de 16 por cento das árvores. A
clonagem de elites desses 16 por cento vai definitivamente aumentar a
produtividade de biomassa por unidade. Além disso, sendo o eucalipto
uma espécie importante para a indústria do papel e da polpa, o material
clônico pode fornecer entre 90 e 95 por cento de recuperação da polpa em
comparação com a rotineira recuperação de 50 por cento, feita por meio
da população reproduzida por semente. Uma vez que na Índia estamos
importando muita polpa e papel, é imperativo desenvolver nossas próprias
plantações para suprir as atuais necessidades e planejar para o futuro.

Espécies em que os métodos convencionais são por demais vagarosos
para suprir as demandas do material de plantio. O bambu, uma das
espécies mais versáteis, está sendo super-explorado. A Índia foi
abençoada com uma enorme variedade de bambus e a vida de muitas
comunidades
rurais
depende
dessas
importantes
plantas.
Convencionalmente, a maioria das espécies de bambu multiplica-se por
meio da plantação de pedaços cortados e alguns por meio de sementes. Na
maioria dos bambus, a produção de sementes é bastante inconstante e
algumas espécies levam cerca de 40 anos para produzir; e há ainda umas
poucas espécies, tais como a Bambusa vulgaris, que nunca se soube terem
produzido sementes. Para prover as necessidades atuais de material de
plantio, o método convencional de propagação por meio de rizomas e
cortes das plantas são inadequados. A propagação da cultura de tecidos
dos colmos selecionados assegurará a qualidade da produção do material
de plantio em condições livres de doenças. Nas instalações do Instituto
Tata de Pesquisa em Energia, a Bambusa tulda e o Dendrocalamus
strictus foram multiplicados em massa com sucesso e plantados no campo
com mais de 95 por cento de êxito.

Espécies em que a regeneração convencional não é possível. As
crescentes pressões populacionais e as interferências bióticas a elas
associadas resultaram em situações em que a regeneração natural de até
mesmo as principais espécies está se tornando difícil. A Anogeissus
pendula, uma das espécies principais de Aravallis, nos estados de Haryana
e Rajasthan, é um exemplo. No passado, espalhava-se por toda parte e era
prolífica produtora de sementes,e agora está se tornando extinta. Os
galhos são torcidos para servir de alimento, o que resulta numa pobre
produção de sementes. Além disso, por causa da baixa viabilidade de
sementes (menos de 1 por cento), o cultivo de mudas torna-se muito
difícil. Quaisquer mudas silvestres ou cultivadas que germinem, estão
sujeitas a duras interferências bióticas, principalmente a utilização como
pastagem. Com a exceção das áreas reservadas em volta dos templos, não
houve notícia de regeneração no estado de Haryana nos últimos 30 anos.
No Instituto Tata de Pesquisa em Energia, mais de 400.000 plantas foram
cultivadas por meio da tecnologia da cultura de tecidos. Um campo de
plantação com um ano de vida plantado nos montes áridos de Aravallis
com praticamente nenhuma irrigação de solo e cuidado sobreviveu com
mais de 90 por cento de sucesso. Esses resultados também invalidam o
mito de que as plantas propagadas por meio da cultura de tecido
cultivadas sob condições sofisticadas talvez não sobrevivam no campo.

A Multiplicação de plantas do sexo desejado. O mamão papaia é uma
fruta de lavoura importante em nosso país. As variedades atualmente
sendo cultivadas são dióicas. Como resultado, apenas 50 por cento das
progênies cultivadas com sementes deram frutos. Para fins de polinização,
5 a 10 por cento das plantas do sexo masculino são adequadas.
Semelhantemente, no aspargo, preferem-se as hastes masculinas como
verdura. A multiplicação da cultura de tecidos de plantas de alta
produtividade do sexo desejado irá aperfeiçoar significativamente a
produção.

A Multiplicação de lavouras não tradicionais. Com o desenvolvimento
de variedades neutras, o cultivo de morangos foi levado a grandes áreas da
Índia, inclusive às planícies. Embora as plantas possam ser facilmente
cultivadas nas planícies, elas não podem ser guardadas para a plantação
do próximo ano devido às altas temperaturas nos meses de verão. No
passado, os agricultores importaram grande número de estolhos para
cultivar plantações comerciais. Para um pequeno agricultor, conseguir um
pequeno número de cortes é muito difícil. A multiplicação dessas novas
lavouras por meio da tecnologia da cultura de tecidos assegurará a
disponibilidade de lavouras não tradicionais aos pequenos agricultores.

A Multiplicação de espécies horticulturais. Grandes áreas na Índia são
cultivadas com espécies horticulturais. Na realidade, estamos em segundo
lugar na produção mundial de frutas. Contudo, nossos níveis de produção
estão bem abaixo da média mundial. Conseqüentemente, apesar de haver
enormes áreas de produção de frutas, a disponibilidade média de frutas
por pessoa é de apenas 65g ao dia por pessoa em contrapartida às
necessidades básicas mínimas de 80g ao dia por pessoa. Não nos
localizamos em nenhum lugar no mercado internacional em conseqüência
das frutas abaixo do padrão. Apesar dos avanços feitos nos diversos
campos da agricultura, em algumas das lavouras mais importantes, como
a da maçã, a produtividade na realidade diminuiu drasticamente. Isso se
dá principalmente porque os pomares ficaram muito velhos e muitas
árvores estão infestadas de doenças. Em vários casos, o material de
qualidade para o plantio não se encontra disponível.
A eliminação de vírus combinada com a multiplicação dos genótipos
desejados de variedades selecionadas pode revolucionar o setor da horticultura.
Em plantas propagadas vegetativamente, o vírus é um grande problema e é
sabido que apenas a submilimétrica zona do meristema está livre dos vírus.
Técnicas convencionais da terapia de calor combinadas com técnicas modernas
como o enxerto in vitro são bastante adotadas para se conseguir plantas livres de
vírus. A planta assim obtida pode então ser multiplicada em massa por meio de
técnicas de cultura de tecidos. O trabalho foi iniciado no Centro de Pesquisa
Nacional em Frutas Cítricas, em Nagpur, para o desenvolvimento de variedades
de frutas cítricas resistentes a vírus, e na Universidade de Y.S. Parmar, em
Solan, com maçãs. Chegou a hora em que precisamos comercializar essas
tecnologias e alcançar o nível dos agricultores. O Conselho Indiano de Pesquisa
Agrícola identificou a banana, a maçã, frutas cítricas, a manga e a goiaba como
frutas prioritárias para uma pesquisa futura.
No passado recente, com o desenvolvimento de variedades neutras de
morangos, a área em acres usada para a produção de morangos aumentou em um
condado. Enquanto pode ser cultivado com sucesso nas planícies, o clima não é
muito apropriado para a produção de estolhos e normalmente durante o verão e
na estação chuvosa as plantas morrem. Assim, os agricultores são forçados a
comprar material de plantio todos os anos, normalmente em outras regiões. As
bananeiras cultivadas pela cultura de tecidos estão sendo atualmente
multiplicadas em mais de uma dúzia de companhias especializadas em cultura
de tecidos. Uma vez que a produtividade média de plantas criadas pela cultura
de tecidos é 2,5 vezes maior do que a convencional, os agricultores estão
dispostos a pagar 3 a 4 vezes o custo das plantas criadas pela cultura de tecidos
em comparação às cultivadas pelo plantio de brotos.
Algumas lavouras importantes tais como a batata e a cana-de-açúcar são
tradicionalmente propagadas vegetativamente. A maior limitação da propagação
vegetativa é que com os ciclos repetidos da propagação vegetativa um grande
número de pestes e doenças se acumulam. A produção de plantas pela cultura de
tecidos assegurará mais saúde. No caso da cana-de-açúcar, foi documentado que
as plantas da cultura de tecidos possuem mais rebentos em comparação às
plantas cultivadas pela poda convencional. Além disso, nas variedades
existentes da cana-de-açúcar, a quantidade de açúcar varia de 9 a 14 por cento.
A multiplicação das variedades com maior quantidade de açúcar e maior número
de rebentos por unidade de área ajudará os agricultores a conseguir maiores
ganhos econômicos. Várias empresas açucareiras e empresários particulares
estão agora multiplicando a cana-de-açúcar por meio da cultura de tecidos. Na
realidade, o governo está fornecendo assistência no montante de um milhão de
rúpias para instalar uma infra-estrutura para a produção da cana-de-açúcar.
A semente da batata padrão foi defendida como uma tecnologia viável
para aperfeiçoar o cultivo de batatas. Contudo, essa tecnologia é aplicável a
variedades selecionadas e não pode ser aplicada a algumas das variedades
bastante utilizadas no processamento de alimentos (fabricação de chips). A
propagação da cultura de tecidos e a transferência direta de plantas com raízes
para a produção no campo ou a produção do microtubérculo em culturas para
fácil transporte assegura retornos econômicos mais altos para os pequenos
agricultores.
A emergente indústria da floricultura está se baseando bastante no
material de plantio estrangeiro. Tradicionalmente, a floricultura sempre foi uma
indústria em pequena escala em nosso país, mas encontra-se agora ameaçada à
medida em que grandes atores estão entrando no mercado. O pequeno produtor
não tem acesso às variedades internacionais e, assim, não tem certeza de até
mesmo ser capaz de vender seu produto. Até mesmo as grandes indústrias de
floricultura não estão lucrando muito, uma vez que estão comprando material de
plantio estrangeiro a preços exorbitantes. Uma vez que a multiplicação de
plantas é um processo de intensa mão-de-obra e com salários baixos na maioria
dos países em desenvolvimento, a propagação de plantas tanto por meio da
cultura de tecidos quanto pelos métodos convencionais deveria ser utilizada
extensamente. Muitos dos produtores estão tendo as suas variedades
multiplicadas em laboratórios específicos, concedendo a esses últimos direitos
exclusivos de multiplicação. As plantas podem ser produzidas a custos muito
mais baixos em comparação aos países que possuem altos salários, resultando
em que toda a proposição de cultivo de flores se torne comercialmente viável.
Algumas dessas tecnologias podem ser aplicadas a nível dos vilarejos. Na
Tailândia, os grandes produtores de orquídeas possuem pequenos laboratórios de
cultura de tecidos ligados a suas unidades. Algumas das unidades menores têm
as suas plantas multiplicadas em companhias comerciais de cultura de tecidos,
uma vez que os produtores formaram um consórcio em que todos eles cultivam
a mesma variedade sob condições mais ou menos semelhantes, assegurando um
fornecimento contínuo de flores para o comércio internacional. Tais iniciativas
estão se tornando cada vez mais importantes para o nosso país. No sul da Índia,
foi formado o Clube Vatika. Membros do clube são principalmente donas de
casa que cultivam orquídeas em seus jardins. O material de plantio é fornecido a
elas por uma organização que também cuida da comercialização. Algumas
grandes companhias estão agora cultivando orquídeas pelo método da rede de
sombra. Em comparação à estufa, o seu custo de produção é muito mais baixo.
Uma vez que há uma riqueza de orquídeas raras no nordeste do país, o
fornecimento de material de plantio superior e de orientação técnica sobre o
cultivo irá melhorar a economia rural.
Biofertilizantes
Para se alcançar o potencial total de uma planta, é importante dar
nutrientes adequados para o seu crescimento. Já foi bastante documentado que
além do material de plantio de qualidade superior, a aplicação de fertilizantes
adequados em quantidades desejáveis é igualmente importante. No passado, o
Governo da Índia ofereceu vários tipos de subsídios para assegurar que
fertilizantes estivessem ao alcance financeiro até mesmo do agricultor marginal.
Em alguns casos, isso resultou no uso excessivo de fertilizantes. Contudo,
atualmente a indústria está passando por uma crise por causa da escalada dos
custos de vários insumos e serviços, tais como nafta, combustível, óleo, gás,
energia, transporte e frete. O sentimento geral entre os agricultores era que, ao
adicionarem mais fertilizantes, eles conseguiriam uma maior produção na
lavoura. Os aspectos negativos do uso excessivo de fertilizantes nunca foram
considerados. Agora foi reconhecido que precisamos popularizar o sistema de
fornecimento de nutrientes de plantas integrado, em que o biofertilizante poderia
ser um dos componentes, além do fertilizante, dos resíduos de colheitas, do
adubo orgânico e vegetal. Biofertilizantes são inoculantes microbianos de
bactérias, algas ou fungos, individualmente ou em combinação, que aumentam a
disponibilidade de nutrientes para a planta. O rizóbio fixa o nitrogênio
atmosférico simbionticamente com as raízes de plantas leguminosas. A
aplicação de azatobachta, azoespírilo, algas verde-azuladas e arzola pode
reduzir significativamente o insumo de fertilizantes, especialmente o do
nitrogênio. A associação micorrizal melhora a rede das raízes e faz com que a
forma de fósforo que não estava disponível antes, torne-se disponível para a
planta.
Biocontrole
Está bem documentado e estabelecido que pesticidas químicos significam uma
séria ameaça para o meio ambiente, com sérias implicações para a saúde. O
controle biológico por meio do emprego de inimigos naturais está se tornando
uma possível alternativa. Apesar de ter muitas vantagens sobre os fertilizantes
químicos, o uso de biopesticidas não está se tornando popular. Existem muitas
forças que restringem a aplicação em larga escala. Diferentemente dos produtos
químicos, os biopesticidas representam um sistema vivo, e assim o seu
desempenho é bastante dependente das condições meteorológicas. Eles têm
pouco tempo de vida em estoque , portanto, não estão rapidamente disponíveis.
Além disso, são mais caros do que os produtos químicos sintéticos.
Em 1990, o Departamento de Biotecnologia do Governo da Índia lançou
um
projeto
multicêntrico
sobre
o
“Desenvolvimento
Tecnológico
e
Demonstração dos Biofertilizantes - algas verde-azuladas (incluindo arzola e
rizóbio)”. O projeto teve muito êxito e mais tarde foi ampliado para “projeto
Mission Mode”. Foi implementado por dezessete centros espalhados em todo o
país.
Para
conservar
a
biodiversidade
dos
mais
importantes
fungos
simbiônticos, um micorrizo, um banco de germoplasma foi instalado no Instituto
Tata de Pesquisa em Energia com o objetivo de identificar e produzir variedades
promissoras tanto dos fungos ectomicorrizais, quanto dos endomicorrizais. O
centro estabeleceu coleções não apenas da Índia, mas de várias partes do mundo.
Atualmente, mais de 500 variedades de micorrizos estão sendo mantidas
juntamente com os devidos registros para uso futuro. A tecnologia de produção
de inoculação também foi estabelecida para produzir várias culturas de raízes de
VAM (vasicular arboruscular mycorrhizae). Os estudos são complementados
ainda mais pela otimização do nível de aplicação do fósforo com VAM. Para
promover a comunicação entre os micorrizologistas, uma rede foi estabelecida
no Instituto Tata de Pesquisa e Energia. Ela está em operação desde 1988.
Sericultura
Durante séculos a seda tem sido tradicionalmente produzida por bichosda-seda que se alimentavam em grande escala das folhas de amora. Descobriu-se
que tanto a quantidade como a qualidade da seda dependia da variedade do
inseto e das amoreiras. Os clones de amoreiras selecionadas por sua rica
folhagem de qualidade desejada podem aumentar significativamente a produção
e a qualidade da seda . Há uma necessidade urgente de se melhorar as amoreiras
para se ser capaz de produzir seda a um preço competitivo e com uma qualidade
de padrão internacional. Além disso, já se iniciou um trabalho para desenvolver
o hormônio peptídeo sintético com vistas a aumentar a secreção da glândula da
seda nos bichos-da-seda (Bômbix mori) para uma maior produção.
Experiências para intensificar a produção da seda tasar tropical por meio
da manipulação da planta anfitriã - o estudo das plantas e insetos - foram
iniciadas em vários centros sob diferentes projetos patrocinados pelo
Departamento de Biotecnologia e pela Comissão Central da Seda (Central Silk
Board). Os projetos abordam diversos aspectos, como o estudo da planta
anfitriã, o bicho-da-seda muga, genes associados da biosíntese da proteína, a
criação das lagartas em culturas de callus, etc.
Aquacultura
A tecnologia da aquacultura de camarões graúdos pode ser adotada em
diferentes zonas agro-climáticas do país em uma base comercialmente viável.
Os dois principais componentes são: i) água doce e ii) água salobra/cultura de
camarões marinhos graúdos. A tecnologia de cultura de espécies tais como
Penaeus monodon, P.merguiensis, Macrobrachium rsenbergii e M.malcolmsoni
foi demonstrada nos estados de Orissa, Madhya Pradesh, Bengala Ocidental,
Gujarat, Tamil Nadu, Pondicherry e Ilhas Andaman & Nicobar. O Instituto
Central de Aquacultura em Água Doce (CIFA), em Bhubaneswar, desenvolveu
uma tecnologia de cultura e de incubadora de camarões gigantes de água-doce.
Aperfeiçoamento do gado por meio da tecnologia de transferência de
embriões e atividades-fim.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento da Indústria de Laticínios, em
Anand, estabeleceu 4 centros regionais e 14 centros a nível estadual para
popularizar o programa de aperfeiçoamento do gado. A tecnologia de
transferência de embriões
foi adotada na maioria das partes do país, pois
melhora a taxa de concepção (até 47 por cento) e reduz significativamente a taxa
de abortos. Os novilhos nascidos pela tecnologia de transferência de embriões
produziram mais leite - até 3000 litros de leite por lactação.
Aves domésticas
O projeto demonstrativo sobre aves domésticas foi implementado por vários
institutos, e foram criados 22 centros de demonstração com o objetivo de
aumentar as taxas de crescimento. Um aumento significativo no peso, de 1,7kg
para 2,2kg, está sendo obtido agora em apenas sete semanas de crescimento.
Biotecnologia medicinal
No campo da biotecnologia medicinal, programas de relevância nacional foram
introduzidos. As doenças que afetam o homem, particularmente tendo em mente
a prevenção, controle e detecção de doenças comuns, tais como doenças
transmissíveis, oncologia, o desenvolvimento de novas drogas e sistemas de
distribuição de remédios específicos. A neurociência também foi apoiada.
Doenças micobacteriais; um banco do DNA de microbactérias da tuberculose
H37RV e amsamigmatis para a cápsula modificada de bactéria plásmica foram
gerados na Universidade de Délhi. Sondas de DNA para a detecção de
tuberculose pulmonar foram desenvolvidas pelo Instituto Nacional de
Imunologia e pelo Instituto Indiano de Ciências Médicas (All India Institute of
Medical Sciences - AIIMS). Alguns genes de risco em doenças infecciosas (lepra
e tuberculose pulmonar) foram identificados no Instituto Indiano de Ciências
Médicas, de Nova Délhi, pelo uso da análise extensa do HLA por meio da
FDNA-RFLP e oligonucleotídeos.
Um programa multi-institucional com o principal objetivo de desenvolver
vacinas contra a cólera para uso a curto prazo sob condições epidêmicas e a
longo prazo para o controle da transmissão de infeções foi desenvolvido por sete
institutos diferentes. Com casos cada vez mais numerosos de malária, a pesquisa
nessa área foi intensificada.
Pesquisa e produção de vacinas
A incidência de doenças transmissíveis na Índia tem sido a mais alta do mundo,
contribuindo, assim, significativamente para a mortalidade e a deficiência
particularmente de crianças com idade inferior a 5 anos. Os recentes casos de
praga em Surat e de dengue em várias partes do país tiraram muitas vidas
preciosas. A incidência de pólio, especialmente na área rural, encontra-se
novamente acima dos limites aceitáveis.
Há uma necessidade urgente de se promover pesquisas e fortalecer as
atividades em curso para assegurar a auto-suficiência em algumas das principais
vacinas EPI. Nos últimos anos, várias companhias instalaram unidades de
produção de vacinas, sendo algumas das mais importantes:

Bharat Immunologicals and Biologicals Corporation Ltd., Bulandshahar

Indian Vaccines Corporation Ltd. (IVCOL), Gurgaon, Haryana
Além disso, o Programa de Ação Indo-Americano de Vacinas promove
pesquisa altamente objetivada e aplicada no aperfeiçoamento de vacinas,
imunodiagnósticos e outras técnicas relacionadas com a saúde e a entrega de
vacinas seguras e eficientes, pelos esforços conjuntos de cientistas importantes
da Índia e dos Estados Unidos. Com mais de uma dúzia de projetos nas áreas da
cólera, tifo, pólio, E.coli, rotavirus, diarréia, hepatite B, C e E, e infecções
respiratórias agudas, foram obtidos resultados encorajadores, alguns dos quais
estão sendo comercializados.
A poluição ambiental preocupa muito os cientistas em todo o mundo.
Vários poluentes orgânicos lançados por diferentes indústrias estão provando ser
seriamente perigosos para a saúde. Os corantes da indústria têxtil são os maiores
poluentes. Os resíduos dessas indústrias são normalmente resistentes a
tratamento
biológico.
Sabe-se
que
muitos
dos
microorganismos
(bactérias/fungos) degradam lixos industriais e outros componentes aromáticos.
Já foram dados passos em vários laboratórios de pesquisa para isolar esses
organismos dos exemplares coletados em instalações de tratamento de lixo e
definir a suas condições culturais. O consórcio assim desenvolvido é então
usado para o tratamento de efluentes e resíduos.
Tanto quanto a terra, os oceanos são poluídos com vários milhões de
toneladas de óleo a cada ano. Remédios convencionais de degradação química e
queima são não apenas caros mas também poluem o meio ambiente. A
degradação microbiana é uma tecnologia alternativa promissora. Vários
institutos, como o Instituto Tata de Pesquisa em Energia, a Universidade de
Goa, a NIO, em Goa; a Universidade M.S., em Baroda; e o Laboratório Químico
Nacional, em Pune, estão trabalhando para desenvolver consórcios que
consigam degradar uma maior quantidade de óleo bruto em umdeterminado
tempo. Os consórcios desenvolvidos por vários desses centros, inclusive o
Instituto Tata de Pesquisa em Energia, estão sendo testados em escala piloto nas
principais refinarias.
Imunodiagnósticos
O Instituto Central para Pesquisa sobre Drogas (Central Drug Research
Institute), em Lucknow, desenvolveu um teste imunodiagnóstico para a malária
baseado na detecção da desidrogenação do lactato. Os estudos estão a caminho
de desenvolver imunodiagnósticos para:

Desenvolvimento de protótipos para doenças de animais e aves
domésticas

Desenvolvimento para doenças viróticas de cães

Detecção do anticorpo do HIV em sérum ou plasma humano

Vírus de imunodeficiência humanos, etc.
Atividades do G-15
Tem havido grande progresso no prosseguimento de diversos projetos sobre o
estabelecimento de um banco de genes para plantas medicinais e aromáticas nos
países do G-15. Como coordenador geral e regional, o Departamento de
Biotecnologia (DBT) tem interagido com todos os países. Bancos de genes
nacionais para plantas medicinais e aromáticas foram instalados no Escritório
Nacional dos Recursos Genéticos Vegetais, em Nova Délhi; no Instituto Central
de Plantas Medicinais e Aromáticas, em Lucknow; e no Instituto de Pesquisa e
Jardim Botânico Tropical, em Trivandrum.
O banco de genes do Instituto Central de Plantas Medicinais e Aromáticas
possui uma coleção de mais de 200 plantas vivas e espécimes de sementes de 20
variedades. No Escritório Nacional dos Recursos Genéticos Vegetais, uma
viagem exploratória aos frios desertos de Lahaul-Spiti e Kinnaur, no Himalaia,
resultou na coleção de um grande número de plantas medicinais, algumas das
quais estão a ponto de se extinguirem. Um grande número de espécies estão
sendo mantidas nos crio-bancos. Desde o seu início no Instituto de Pesquisa e
Jardim Botânico Tropical, várias explorações foram feitas aos estados do sul da
Índia. O repositório consiste na manutenção em campo de culturas de
tecidos/banco de sementes/sementeiras.
Programa de Gerenciamento de Recursos Agrícolas voltado ao Agricultor
(Farmer Centered Agricultural Resource Management Programme - FARM)
Sub-programa de Biotecnologia e Biodiversidade Asiática
Em 1993, o PNUD, a FAO e a UNIDO lançaram um programa regional de
gerenciamento de recursos agrícolas centrado no agricultor, com a participação
de oito países da região asiática, incluindo China, Índia, Indonésia, Nepal,
Filipinas, Sri Lanka, Tailândia e Vietnã. O Departamento de Biotecnologia do
Governo da Índia foi designado como a agência que iria coordenar, implementar
e monitorar o Sub-programa de Biotecnologia e Biodiversidade Asiática.
O programa FARM é uma iniciativa asiática única para a agricultura
sustentável e o desenvolvimento rural. O programa é direcionado para as
comunidades e agricultores de poucos recursos, com o objetivo geral de
melhorar a conservação, o gerenciamento e a utilização dos recursos naturais por
meio de abordagens participativas. O programa procura fornecer informações
sobre as novas biotecnologias e avaliá-las para determinar o seu potencial de
contribuição para o gerenciamento dos recursos naturais na Ásia. Também
estabeleceu uma rede de Bioinformática Asiática que liga instituições de
pesquisa selecionadas, usuários finais em potencial de novas biotecnologias com
relevância particular às necessidades dos agricultores pobres em recursos das
áreas chuvosas. Esse programa conseguiu uma cooperação excelente e pode se
considerar que obteve muito sucesso. A interação total entre os cientistas e
institutos
implementadores
teve
um
impacto
significativo
sobre
o
desenvolvimento sustentável e beneficiou muito as comunidades agrícolas nos
países membros.
Regulamentos e diretrizes da biossegurança
A modificação genética de espécies de plantas está se tornando muito comum.
Os genes para traços específicos foram identificados, isolados, clonados e então
inseridos no genoma de outra espécie/gênero. Diversos transgênicos foram
lançados em todo o mundo. Em alguns países tornou-se uma tecnologia
aceitável e os produtos transgênicos estão disponíveis em supermercados,
assinalados é claro como produtos da engenharia genética. Em alguns países,
por outro lado, tem havido muita oposição, e foram levantadas questões sobre os
efeitos a prazo do uso de transgênicos, enquanto falamos que os genes já
existem na natureza, e sobre a sua expressão em diferentes organismos e efeitos
sobre a saúde dos animais e seres humanos. Assim, enquanto a tecnologia do
DNA recombinante não oferece nenhuma ameaça aos vegetais ornamentais,
precisamos avaliá-la cuidadosamente em se tratando das plantas comestíveis. O
Departamento de Biotecnologia formulou as diretrizes de segurança do DNA
recombinante já em 1990 e, enquanto os institutos estão livres para trabalhar em
transgênicos no laboratório, o seu campo de avaliação precisa ser monitorado.
Diversos institutos autônomos foram instalados com o objetivo de fazer
pesquisa biotecnológica, incluindo o Instituto Nacional de Imunologia, em Nova
Délhi, e o Instituto Nacional para o Tecido Animal e Cultura de Células, em
Pune. O Centro Internacional de Biotecnologia e Engenharia Genética tem
instalações em dois países, uma na Itália e outra em Nova Délhi.
O Desenvolvimento dos Recursos Humanos
Enquanto a pesquisa biotecnológica no país foi intensificada, e em algumas
áreas
já estamos chegando
ao
estágio
de industrialização, estamos
experimentando também falta de mão-de-obra treinada. O Departamento de
Biotecnologia do Governo da Índia tomou para si a questão do desenvolvimento
de mão-de-obra muito seriamente. Foram iniciados programas de PósGraduação e Pós-Doutorado, e agora mais de doze institutos oferecem M.Sc. em
biotecnologia
básica,
biotecnologia
agrícola,
biotecnologia
medicinal,
biotecnologia veterinária e marinha, além de M.Tech/M.Sc.(Téc.). Em média,
500 estudantes são treinados a cada ano nos campos da biologia celular, biologia
molecular, química das biomoléculas, tecnologia do DNA recombinante, cultura
de tecidos, química das enzimas e proteínas, imunotecnologia, engenharia
bioquímica e de processamento, e modelagem por computador de estruturas
moleculares. Durante os meses do verão, os estudantes fazem cursos de
treinamento em alguma instalação industrial para maior experiência. Cursos de
treinamento de pouca duração também são organizados de vez em quando para
oferecer treinamento àqueles que se especializaram em outros campos de
pesquisa.
Foram envidados esforços para desenvolver ligações estreitas com as
indústrias por meio da indicação de representantes industriais nos comitês de
aconselhamento dos programas, de convites ao pessoal das indústrias para dar
palestras, pelo treinamento de estudantes nas indústrias durante as férias, e assim
por diante. São feitas sessões de debates livres de tempos em tempos para
reestruturar/revisar os currículos dos diferentes cursos para assegurar que o
programa esteja em sintonia com as necessidades da indústria de hoje em dia.
Cooperação internacional
Programas Internacionais de Cooperação em Ciência e Tecnologia na área da
biotecnologia foram iniciados com vários países desenvolvidos e em
desenvolvimento. A cooperação inclui partilhar com outros países o
conhecimento de desenvolvimentos recentes que aconteceram no campo da
biotecnologia e as suas implicações sobre os processos da industrialização e da
modernização como um todo. A cooperação inclui projetos cooperativos
conjuntos e a troca de informações.
A Índia tem programas de cooperação em andamento com a República
Federal da Alemanha, Suíça, Suécia, Estados Unidos, Reino Unido e Rússia,
enquanto programas de cooperação com o Japão, Polônia, China, Israel, Cuba e
Mongólia estão sendo finalizados. Novas iniciativas foram feitas com o Sri
Lanka, Tailândia, Vietnã, Austrália, Brasil, Países Baixos e México. O progresso
feito em alguns dos projetos está listado abaixo:
Indo-Chinesa
As propostas em discussão são as seguintes:
 Desenvolvimento e avaliação de novos métodos para o controle da fertilidade;
 A micropropagação do Ginseng de Boswellia e Panax;
 A transferência de genes de propriedades desejáveis nos vegetais da lavoura;
 Diagnósticos e desenvolvimento de vacina contra a hepatite A, B e C;
 Biotecnologia de embriões;
 Aquacultura com referência particular à geração de peixes transgênicos e
campos de peixes alimentados por esgotos.
Indo-Cubana
 Treinamento de cientistas cubanos na Índia em áreas de biotecnologia,
pesquisa médica e informação técnica e científica;
 Treinamento de cientistas indianos em Cuba no campo da aquacultura e subprodutos da indústria do açúcar;
 Troca de informação para considerar trabalho de pesquisa e desenvolvimento
em produção de insulina;
 Explorar a possibilidade de joint ventures em áreas como a de produtos
biológicos, kits de diagnóstico, enzimas industriais e cultura de tecido de
plantas.
Indo-Alemã
 Estudos sobre genes de fixação do nitrogênio de microorganismos nãosimbióticos e sua expressão;
 Transporte e excreção de amônia por cianobactéria e o seu uso prático na
agricultura.
Indo-Israelense
A biotecnologia de vegetais de lavoura foi identificada como a principal área de
cooperação. Outras áreas de interesse são os imunodiagnósticos, a biotecnologia
industrial e a biotecnologia ambiental.
Indo-Polonesa
As principais áreas de colaboração identificadas são a biotecnologia de plantas
medicinais,
o
controle
biológico
de
pestes,
a
biotransformação,
o
bioprocessamento, a biologia molecular de plantas e microorganismos, o
desenvolvimento de vacinas, diagnósticos e drogas, tanto para humanos quanto
para animais.
Indo-Suíça
Quatro projetos principais estão em andamento com a Suíça.
 O mecanismo de imuno-secreção na lepra, na Universidade de Madurai
Kamraj e no Instituto de Bacteriologia Veterinária, Universidade de Berna;
 A aplicação do DNA recombinante e tecnologias de hibridoma para o
desenvolvimento de imunogenes e diagnósticos úteis em pesquisa sobre FMD
em IVRI, nos Institutos de Imunologia em Bangalore e Basil;
 Manipulação genética de plantas na Universidade M.S., em Baroda e no
Instituto de Biotecnologia, Zurique;
 Instalações com infra-estrutura para processos avançados de biotecnologia na
Universidade de Anna, Madras, e no Instituto de Biotecnologia, Zurique.
Agradecimentos
Gostaria de agradecer ao Dr. R.K.Pachauri, Diretor do Instituto Tata de Pesquisa
em Energia, Nova Délhi.
Referências
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