RUBÉOLA CONGÊNITA Liú Campello de Mello Capítulo do livro Assistência ao Recém-Nascido de Risco, editado por Paulo R. Margotto, 2a Edição, 2004 Doença causada pelo vírus da rubéola (RV) do gênero Rubivírus e da família Togaviridae, causando infecção intra-uterina ou pós-natal. EPIDEMIOLOGIA: - Predomina na primavera e inverno - Eliminação de vírus pelos RN infectados: importante pela manutenção do vírus na comunidade entre períodos epidêmicos (podem eliminar o vírus 6-12 meses após o nascimento); - Reinfecção pode ocorrer após a rubéola natural ou nos já vacinados, a reinfecção raramente origina doença congênita. RUBÉOLA PÓS-NATAL É, em geral, benigna, auto-limitada e altamente contagiosa caracterizada por exantema máculo-papular. Pode ser sub-clínica em ½ a 1/3 dos casos. O diagnóstico é confirmado pela presença de anticorpos IgM anti-rubéola no soro. Sua importância está na possibilidade de infecção da gestante resultando na rubéola congênita. RUBÉOLA CONGÊNITA Resulta da infecção fetal pelo VR por passagem transplacentária. Quando ocorre nas primeiras 8 semanas de gestação, 75% apresentam infecção clínica nos 4 primeiros anos de vida. A Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) compreende um amplo espectro de manifestações clínicas cujo conhecimento se amplia a cada nova epidemia. TRANSMISSÃO Apresentam as seguintes taxas, de acordo com o período gestacional: a) 67 a 90% no primeiro trimestre b) 25 a 67% no segundo trimestre c) 35 a 100% no terceiro trimestre QUADRO CLÍNICO Varia desde recém-nascidos aparentemente normais a severamente acometidos com múltiplas anomalias. FORMA SUB-CLÍNICA: As manifestações tornam-se aparentes nos primeiros anos de vida ou se desenvolvem posteriormente. SÍNDROME DA RUBÉOLA CONGÊNITA Caracteriza-se por infecção crônica que se inicia no período intra-uterino e prolonga-se por meses ou anos após o nascimento. O VR causa inibição da mitose celular, o que explica o retardo do crescimento (RN PIG) e a desorganização da organogênese. A infecção maciça do feto no primeiro trimestre de gestação resulta em recémnascido com uma ou múltiplas anomalias como catarata, surdez e cardiopatias congênitas. O vírus pode continuar infectando todos os órgãos e tecidos do recém-nascido resultando em hepatite, pneumonia, pancreatite, miocardite, meningite e outros. Portanto, poderá haver a coexistência de lesões antigas e recentes. MANIFESTAÇÕES (3 CATEGORIAS): manifestações transitórias do RN: RCIU (retardo do crescimento intrauterino), púrpura trombocitopênica neonatal, anemia hemolítica, hepatite, colestase, rarefação metafisária, que regridem espontaneamente em 2/3 dos casos; b) manifestações permanentes: surdez (80 a 90%), doença cardíaca congênita (persistência do canal arterial - 30%; estenose de artéria pulmonar), microftalmia, catarata ( 6 a 45%), glaucoma, retinopatia pigmentar (“sal e pimenta”), retardo mental e psicomotor, microcefalia; c) manifestações tardias: Diabetes mellitus, panencefalite progressiva, hipo e hipertireoidismo. a) DIAGNÓSTICO: Suspeita-se da doença pela história materna, quadro clínico e laboratorial. LABORATORIAL INTRA-UTERINO: identificação do vírus em material de biópsia de vilo coriônico, amniocentese e cordocentese através de cultura e de técnicas como imuno-histoquímica e PCR. PÓS-NATAL: SOROLOGIA: é a mais usada, na prática e utiliza anticorpos IgM e IgG. Ac IgM: níveis detectáveis no feto a partir de 22 semanas de gestação, significando infecção congênita. Continua a ser sintetizado pelo RN após o nascimento por 2 a 6 meses e, raramente, até 18 a 24 meses. Ac IgG: transferência maciça da mãe para o feto nas últimas semanas de gestação. Após o nascimento, os títulos no RN são iguais ou menores que o da mãe e atingem níveis mínimos entre 3 a 5 meses de vida em RN não infectados. Em RN infectados, persistem positivos entre 6 a 12 meses, constituindo um dos recursos para o diagnóstico da infecção congênita. TESTES SOROLÓGICOS INIBIÇÃO DE HEMAGLUTINAÇÃO (IHA) considerado teste de referência Anticorpos: a) IgG : alta sensibilidade e especificidade b)IgM: baixa sensibilidade, sendo substituída por testes imunoenzimáticos. Resultados: são considerados títulos positivos a partir de 1/8 Interpretação: título de IgG do RN > que o materno e /ou + entre 6 a 12 meses de vida é sugestivo de infecção congênita. IMUNOENZIMÁTICOS (EIA) ELISA e ELFA têm sido as técnicas preferidas pela alta sensibilidade e especificidade (90%). Anticorpos: IgM e IgG são detectados Resultado: em índices (valores considerados positivos, duvidosos e negativos são fornecidos pelo laboratório) Interpretação: IgM positivo significa, quase com certeza, infecção congênita. DADOS LABORATORIAIS NO DIAGNÓSTICO DA RUBÉOLA E DA SINDROME DA RUBÉOLA CONGÊNTA INFECÇÃO PRIMÁRIA -IgM + a partir de 1 a 3 dias após início da doença - IgM + até: IHA 1 a 2 meses ELISA 2 a 6 meses - IgG + a partir de 1 a 3 dias de doença - IgG + indefinidamente. RUBÉOLA CONGÊNITA - IgM + desde o nascimento - IgG materno presente após 6 meses Rubéola pós-natal ou adquirida. Sorologia diante de um caso suspeito ou após contágio Caso Sorologia 1ª amostra 2ª amostra Conclusão (2 semanas após) 1 IH Negativo até1/8 Inalterado Susceptível ELISA IgM Negativo Inalterado 2 IH Negativo Positivo Primoinfecção ELISA IgM Negativo Positivo 3 IH > = 1/16 Inalterado Imune e sem ELISA IgM Negativo Inalterado reinfecção 4 IH >= 1/16 Aumento do título (1/64, 1/256 ou mais) ELISA IgM Negativo Negativo Obs.: A positividade da IH (IgG) na 1ª amostra até o 12ª dia significa imunidade Reinfecção CONDUTA: * Vacinação: RA 27/3 (AlmevaxR): isolada ou associada às vacinas anti-sarampo e anticaxumba (MMR2) - é a cepa que confere maior proteção contra a reinfecção. Eficácia: produz rara conversão em cerca de 95% dos indivíduos susceptíveis. Indicação: a) crianças de 1-12 anos de ambos os sexos b) adolescentes do sexo feminino e mulheres em idade fértil (de preferência após resultados negativos da RIH (menor ou igual a 1/8) Quando vacinadas devem evitar gravidez durante o prazo mínimo de 90 dias Mulheres grávidas e susceptíveis deverão receber a vacina nos primeiros dias após o parto Não há necessidade de reforço Recomenda-se a imunização de filhas de grávidas Não constitui contra-indicação o relato de rubéola anterior (confusão com echoviroses) * Imunização Passiva (Gamaglobulina Comum): - Não evita a viremia e nem as embriopatias; - Uso restrito para mulheres que estiveram em contato com rubéola e não desejam interromper a gestação (proteção fetal não é garantida). A gamaglobulina não impede a viremia Dose: 20 ml IM Bibliografia Margotto PR. Rubéola/Sífilis. Boletim Informativo Pediátrico 9BIP)-Brasília, N0 24, 1982 Cooper LZ, Prelud SR, Alford CA. Rubella. IN: Remington JS, Klein JO. 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