MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA – CAMPUS JÚLIO DE CASTILHOS - RS CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM AGRICULTURA ASSISTÊNCIA TÉCNICA NA CULTURA DA SOJA RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO Patricson Maidana Saralé Júlio de Castilhos, RS, Brasil 2010 2 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA – CAMPUS JÚLIO DE CASTILHOS - RS CURSO TECNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM AGRICULTURA ASSITÊNCIA TÉCNICA NA CULTURA DA SOJA por Patricson Maidana Saralé Relatório de Estágio de Profissional apresentado como requisito para obtenção do título de Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura do Instituto Federal Farroupilha – Campus Júlio de Castilhos - RS Orientador: Carlos Alberto Casali Júlio de Castilhos, RS, Brasil 2010 3 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 1 Estagiário 1.1 Nome: Patricson Maidana Saralé 1.2 Curso: Técnico Agrícola Com Habilitação Em Agricultura 1.3 Turma: Agricultura 1 1.4 Endereço: Rua Noemia Barros, 48 1.5 Município: Júlio de Castilhos, RS 1.6 CEP: 98130-000 1.7 Telefone: (55) 9923-5817 1.8 E-mail: [email protected] 2 Empresa 2.1 Nome: Maffini Assistência Técnica rural 2.2 Endereço: Avenida Medianeira 124 2.3 Município e Estado: Júlio de Castilhos - RS 2.4 CEP: 98130-000 2.5 Fone: (55) 3271-9020 2.6 Fax: (55) 3271-1166 2.7 E-mail: [email protected] 3 Estágio 3.1 Área de realização: Assistência Técnica na Cultura da Soja 3.2 Coordenador do curso: Ricardo Luis Shons 3.3 Professor Orientador: Carlos Alberto Casali 3.4 Supervisor de Estágio na Empresa: Anderson Maffini 3.5 Carga horária total: 458 horas 3.6 Data de início e término: 15 de dezembro de 2009 a 13 de março de 2010 4 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA – CAMPUS JÚLIO DE CASTILHOS - RS CURSO TÉCNICO AGRÍCOLA COM HABILITAÇÃO EM AGRICULTURA O Supervisor de Estágio, Anderson Maffini, o Orientador, Carlos Alberto Casali, e o Estagiário, Patricson Maidana Saralé, abaixo assinados, cientificam-se do teor do Relatório de Estágio Curricular Supervisionado do Curso Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura. ASSISTÊNCIA TÉCNICA NA CULTURA DA SOJA Elaborado por Patricson Maidana Saralé como requisito parcial para obtenção do título de Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura Anderson Maffini (Supervisor de Estágio) Carlos Alberto Casali (Orientador) Patricson Maidana Saralé (Estagiário) Júlio de Castilhos, 02 de setembro de 2010. 5 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS........................................................................................... 6 LISTA DE TABELAS.......................................................................................... 7 1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 8 2. DESCRIÇÃO DA EMPRESA.......................................................................... 10 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS................................................................... 11 4. SUCESSÂO DE CULTURA............................................................................ 12 5. MANEJO DA CULTURA DA SOJA................................................................ 14 5.1 A Dessecação Pré-Semeadura............................................................... 14 5.2 Semeadura............................................................................................... 15 5.3 Tratos Culturais....................................................................................... 16 5.3.1 Plantas Daninhas............................................................................. 17 5.3..1.1 Buva............................................................................................. 18 5.3.1.2 Corda de Viola.............................................................................. 19 5.3.1.3 Guanxuma..................................................................................... 20 5.3.2 Pragas e Controle............................................................................ 22 5.3.2.1 Tamanduá da soja........................................................................ 22 5.3.2.2 Lagartas........................................................................................ 23 5.3.2.3 Percevejos.................................................................................... 27 5.3.2.4 Ácaros........................................................................................... 29 5.3.3 Doenças e Controle......................................................................... 30 5.3.3.1 Míldio............................................................................................ 31 5.3.3.2 Ferrugem Asiática......................................................................... 32 5.4 Colheita.................................................................................................... 34 5.5 Produção de Sementes........................................................................... 34 6. CONCLUSÃO.................................................................................................. 36 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS............................................................... 37 6 LISTA DE FIGURA Figura 1: Buva (Conyza bonariensis)................................................................. 19 Figura 2: Corda de Viola (Ipomoea spp.)............................................................ 20 Figura 3: Guanxuma (Sida rhombifolia L)........................................................... 21 Figura 4: Tamanduá da soja (Sternechus subsignatus)..................................... 23 Figura 5: Lagarta da soja (Anticarsia gemmattalis)............................................ 24 Figura 6: Lagarta Falsa Medideira (Pseudoplusia includens)............................. 25 Figura 7: Lagarta Preta (Spodoptera cosmioides).............................................. 26 Figura 8: Percevejo verde da soja (Crinocerus sanctus).................................... 27 Figura 9: Percevejo marrom da soja (Euschistus heros).................................... 28 Figura 10: Acaro branco (Palyphagotarsonemus latus)..................................... 29 Figura 11: Acaro vermelho (Tetranychus ludeni)................................................ 30 Figura 12: Planta com sintoma de míldio............................................................ 31 Figura 13: Folha da soja com pústulas de ferrugem asiática............................. 32 Figura 14: Colheita............................................................................................. 34 7 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Cultivares de soja utilizada nas propriedades rurais assistidas durante o estágio................................................................................................. 16 8 1. INTRODUÇÃO A soja (Glycine spp.) é uma planta dicotiledônea, da sub família Papilionoideae, sendo a espécie cultivada a Glycine max (L) Merr. A soja é uma planta que varia de 60 a 150 cm de altura, herbácea, anual, ereta, pubescente, de pelos brancos, parda-queimada e tostados. O seu sistema radicular consta de uma raiz principal pivotante, que pode apresentar ramificações ricas em nódulos de bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico. As folhas são alternadas, de pecíolos longos e compostas de três folíolos grandes, geralmente ovais. As flores são axilares ou terminais, do tipo papilionada, brancas, violáceas, de acordo com a variedade. Os frutos, do tipo vagem, são achatados, curtos de cor cinzenta, amarela-palha ou preta, e encerram de duas a cinco sementes. Estas são, geralmente, elípticas e achatadas, de cor amarela, verde ou preta nas variedades cultivadas (CRIAR E PLANTAR). A origem da soja se prende a própria origem do povo chinês, sendo uma das bases de sua alimentação. Já a expansão mundial desta cultura foi após a segunda guerra mundial, estando relacionado ao aumento da demanda de proteínas para alimentação animal e de óleos vegetais para a alimentação humana. Os Estados Unidos, o Brasil, a Argentina e a China representam 90% da produção mundial. O primeiro registro da introdução de soja no Brasil foi em 1882, no Estado da Bahia, enquanto que as primeiras pesquisas foram feitas em 1914, na Escola Superior de Agronomia e Veterinária da Universidade Técnica, atual USP. Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, destacando-se os Estados do Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo como maiores produtores. O salto decisivo para o Brasil ter ingressado com a autoridade no cenário mundial da soja foi o emprego da tecnologia, representado pelo controle eficiente de plantas invasoras, pragas e doenças, além do uso eficiente de fertilizantes. Tudo isso, associado a condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento da cultura. A produção de soja no mundo atingiu na safra 2008/2009, 210,6 milhões de toneladas, sendo a área plantada de 96,3 milhões de hectares. Somente a América 9 do Sul produziu 95,3 milhões de toneladas em uma área de 41,5 milhões de hectares (EMBRAPA SOJA). O Brasil produziu 57,1 milhões de toneladas em uma área de 21,7 milhões de hectares, com produtividade de 2.659 kg/ha (USDA-CONAB), enquanto que no RS, a área colhida de soja foi de 3.821.290 ha de área colhida e, representando 17, 6 % da área colhida do Brasil. A produção foi 7.913.000 toneladas, representando 13,9% da produção nacional e o rendimento de 2.071 kg/ha (IBGE/PAM). Júlio de Castilhos está dentro dos principais municípios produtores de soja do RS. Em 2008, tendo uma área colhida de 75.000 ha, com 1.97% RS, produção de 157.500 t e com participação de 2,05% RS, um rendimento de 2.100 kg/ha e 104,00% de participação dos municípios do RS (IBGE/PAM – SEAPPA/DPFA). Devido à importância que a cultura da soja representa para o Estado do Rio Grande do Sul, particularmente ao município de Julio de Castilhos-RS, o presente Estágio Curricular Supervisionado, para obtenção do titulo de Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura do IFFarroupilha, Campus Júlio de Castilhos, foi realizado com o objetivo de acompanhar e desenvolver in loco, as atividades ligadas à assistência técnica da cultura da soja e, com isso, pensar reais possibilidades de crescimento quanto à área evidenciada. O Estágio foi realizado na Empresa “Maffini Assistência Técnica Rural”, sediada em Júlio de Castilhos-RS, no período de 15 de dezembro a 13 de março de 2009, totalizando 458 horas. 10 2. DESCRIÇÃO DA EMPRESA A Maffini Assistência Técnica Rural, de propriedade do Engenheiro Agrônomo Anderson Maffini, está localizada no município de Júlio de Castilhos-RS. Fundada em Maio de 2008, tem a finalidade de realizar projetos e prestar assistência técnica a um determinado grupo de produtores agrícolas da região. O departamento técnico da empresa presta serviço a seis produtores, totalizando uma área cultivada de 11.000 ha e, conta com um engenheiro agrônomo e um técnico agrícola, os quais prestam atendimento aos sojicultores, planejando suas safras para obterem cada vez melhores resultados, em equilíbrio com o ambiente. Os produtores procuram a assistência técnica para as culturas, priorizando encontrar benefícios e padronizações da produção, soluções para os problemas e, promovendo assim, a mais ampla defesa de seus interesses econômicos, operacionais, agronômicos e também ambientais. O manejo adotado pelos produtores é o Sistema Plantio Direto (SPD), devido ao melhor controle de erosão, maior armazenamento de água no solo, aumento da atividade biológica, teores de matéria orgânica e melhor estruturação do solo. Em conjunto, ressalta-se o aumento da vida útil das máquinas e implementos, a diminuição no consumo de petróleo e também o aumento de seqüestro de carbono. 11 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS As atividades foram realizadas nas lavouras de soja dos seis produtores que a empresa Maffini presta assistência técnica, juntamente com o supervisor de estágio, o engenheiro agrônomo Anderson Maffini. O Estágio Supervisionado propiciou a participação em atividades de manejo da cultura da soja como vistoria das lavouras para detectação de plantas daninhas, pragas e doenças, bem como definir estratégias de como prevenir e combater esses problemas. Ressalta-se que no referido estágio não foi acompanhado a semeadura e a colheita da cultura da soja. A empresa Maffini sempre buscava solucionar os problemas das lavouras de soja de acordo com a capacidade operacional do produtor. As atividades realizadas durante o estágio serviu para por em prática os conhecimentos passados ao longo do curso, adquirindo experiência e desenvolvendo meu senso crítico. 12 4. SUCESSÃO DE CULTURAS Sistemas de manejo de solo compatíveis com as características de clima, de planta e de solo da região sul do Brasil são imprescindíveis para interromper o processo de degradação do solo e conseqüentemente, manter a atividade agrícola competitiva. Nesse contexto, o sistema plantio direto deve ser enfocado como um processo de exploração agropecuária que envolve diversificação de espécies ao longo do tempo, mobilização de solo apenas no sulco de semeadura e manutenção permanente da cobertura de solo. A adoção do sistema plantio direto objetiva expressar o potencial genético das espécies cultivadas mediante a maximização do fator ambiente e do fator solo, mas sem degradá-los. A consolidação do SPD está baseada na rotação de culturas orientada ao incremento da rentabilidade, à promoção da cobertura permanente de solo, assegurando as melhorias físicas, químicas e biológicas do solo, à geração de benefícios fitossanitários e à ciclagem de nutrientes. Segundo a EMBRAPA Soja, a rotação de culturas consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais, numa mesma área agrícola. As espécies escolhidas devem ter, ao mesmo tempo, propósitos comerciais e de recuperação do solo. As vantagens da rotação de culturas são inúmeras. Além de proporcionar a produção diversificada de alimentos e outros produtos agrícolas, se adotada e conduzida de modo adequado e por um período suficientemente longo, essa prática melhora as características físicas, químicas e biológicas do solo; auxiliam no controle de plantas daninhas, doenças e pragas; repõe matéria orgânica e protege o solo da ação dos agentes climáticos e ajuda a viabilização do Sistema de Semeadura Direta e dos seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária e sobre o ambiente como um todo. Os agricultores assistidos pela empresa Maffini utilizaram a rotação de cultura de trigo (Triticum spp.), aveia (Avena sativa e Avena strigosa) e cevada (Hordeum vulgare) antecedendo a cultura da soja. O trigo (Triticum spp.) é uma gramínea cultivada em todo mundo, sendo a segunda maior cultura de cereais. O grão de trigo é um alimento básico usado para fazer farinha e, com esta, o pão, na alimentação humana, dos animais domésticos e 13 como um ingrediente na fabricação de cerveja. O trigo também pode ser plantado como forrageira para a produção de feno ou pastoreio. A aveia branca (Avena sativa) e a aveia preta (Avena strigosa) têm importante papel no sistema de produção de grãos, principalmente no sul do Brasil, caracterizando-se por ser uma excelente alternativa para o cultivo de inverno e em sistemas de rotação de culturas, devido a sua rusticidade e elevada produção de matéria seca vegetal. Pode ser cultivada para grãos, possuindo alta qualidade tanto para alimentação humana como animal, ou como planta de cobertura do solo, ou pode ser utilizada como forrageira para produção de feno ou para pastoreio. A cevada (Hordeum vulgare) é uma gramínea cerealífera e representa uma das principais fontes de alimento para pessoas e animais. A seleção de espécies vegetais para uso em rotação deve basear-se na diversidade botânica. Plantas com diferentes sistemas radiculares, hábitos de crescimento e exigências nutricionais podem ter efeito na interrupção dos ciclos de pragas e doenças, na redução de custos e no aumento do rendimento da cultura principal, como a soja. 14 5. MANEJO DA CULTURA DA SOJA A boa prática agrícola é o conjunto de medidas adotadas pelo agricultor com o objetivo de produzir economicamente fibras e alimentos saudáveis, com qualidade e de forma a preservar a saúde das pessoas e do meio ambiente. A boa pratica agrícola é considerada um dos alicerces da agricultura sustentável, pois somente por meio dela os agricultores poderão preservar os recursos naturais para as gerações futuras. Dentre as práticas, destaca-se o manejo e conservação do solo para evitar erosões, o manejo integrado de pragas, a preservação de matas ciliares, e dos recursos hídricos, o correto uso dos produtos fitossanitários, a utilização de insumos seguindo a recomendação de técnicos, respeitar os períodos de carência (intervalo de segurança), utilizar equipamentos de proteção individual, calibrar adequadamente os implementos agrícolas, realizar a tríplice lavagem das embalagens, descartar adequadamente as embalagens vazias. Na empresa Maffini o controle das atividades desenvolvidas é feito por fichas individuais para cada produtor, contendo a gleba (área e localização), as variedades semeadas, a data de semeadura, a quantidade de nutrientes (dose e fórmula de adubo), o estado fenológico da cultura, as aplicações dos agrotóxicos (dose e data) e outras observações, se necessário. Este controle, além de organizar o trabalho, é um banco de dados que facilita monitorar as reais necessidades de cada lavoura, além de avaliar os resultados obtidos de um ano para o outro. Descrevem-se abaixo as principais atividades relacionadas ao manejo da soja desenvolvidas durante o estágio, bem como as observações consideradas pertinentes. 5.1 Dessecação em pré-semeadura Comenta PITELLI (1985), que a busca por produtividade e o fator econômico na produção de grandes culturas esbarra na interferência das plantas daninhas, as quais tendem a aumentar o custo de produção, reduzir as margens de lucro e diminuir a qualidade do produto, concordando com CONSTANTIN & OLIVEIRA (2005). A eliminação das ervas daninhas no SPD é realizada com o emprego de 15 herbicidas na instalação da cultura, e quando necessário, depois da emergência da soja. No SPD, a aplicação de defensivos agrícolas capazes de eliminar plantas daninhas, denomina-se dessecação. O controle se dá principalmente com a aplicação de produtos a base de Glifosato. A dessecação de pré-semeadura foi realizada trinta dias antes da semeadura, se houvesse incidência de plantas invasoras, caso contrário, realizava-se a dessecação pós-semeadura. Segundo ALMEIDA (1991), o êxito do plantio direto dependerá da disponibilidade de herbicidas que sejam eficazes na dessecação e, após a instalação da cultura. A dessecação antecedendo o plantio direto é fundamental para um bom desenvolvimento das lavouras. A eliminação das plantas daninhas antes da semeadura permite que a cultura tenha um desenvolvimento inicial rápido e vigoroso. No SPD, se realiza a dessecação no momento oportuno, buscando obter o máximo de eficiência, isto é, evitar a ocorrência de áreas não dessecadas, como também utilizando espaçamento adequado entre linhas promovendo assim o rápido fechamento das entre linhas e diminuindo a incidência de luz para as plantas daninhas. 5.2 Semeadura Nos 11.000 ha assistidos pela empresa Maffini, a análise de solo ficava a critério do produtor, pois os mesmos sabem das condições reais das áreas a serem semeadas, ressaltando que durante a realização do referido estágio, esta etapa não foi observada, mas a empresa Maffini sempre buscou dar uma recomendação baseada em análises, junto com a decisão do produtor. A época de semeadura foi de outubro a dezembro, dependendo do cultivar. As sementes não foram inoculadas por motivos operacionais, tendo como um dos principais motivos o atraso da semeadura por fatores climáticos e a necessidade de efetuar a semeadura em períodos em que o clima favorecia. A densidade da semeadura variou de acordo com a capacidade germinativa, o vigor da semente e população de plantas desejada, que ficou entre 300.000 a 350.000. A profundidade de semeadura variou de 3 a 5 cm. 16 O espaçamento entre fileiras mais usado foi de 45 cm, mas o mais indicado é de 50 cm, pois permite um maior engalhamento, maior disponibilidade de luminosidade, melhor aproveitamento dos defensivos agrícola, já que atinge melhor a planta desde as folhas baixeiras até o ápice da planta, melhorando os resultados das aplicações de agrotóxicos. As cultivares usados pelos produtores estão descritas na tabela 1. Tabela 1. Cultivares de soja utilizada nas propriedades rurais assistidas durante o estágio. Cultivares Ciclo Origem 6001 Precoce Argentina Fundacep 55 Médio Tardio Brasil Coodetec 214 Média Brasil 8000 Tardio Argentina Titan Precoce Argentina Magna Precoce Brasil Tijereta Super precoce Argentina Fonte: Maffini Assistência Técnica Rural Nas propriedades assistidas, realizou-se a medição das áreas cultivadas, com uso de GPS, como também a medição das áreas para instalação de experimentos da empresa com novos defensivos e cultivares. Ressalta-se que o referido estágio se realizou no período em que a cultura já estava implantada, mas não se deixou de ter conhecimento sobre as etapas de semeadura. 5.3 Tratos Culturais Os tratos culturais são necessários para que a cultura possa manifestar o seu potencial de produção e, conseqüentemente, rentabilidade. São ações desenvolvidas nas lavouras, como controle de plantas daninhas, pragas e doenças, 17 utilizando herbicidas, inseticidas e fungicidas, para que planta se desenvolva com boa sanidade. Como forma de reduzir custos, otimizar os resultados deve-se sempre realizar o maior número de práticas simultaneamente. 5.3.1 Plantas Daninhas Um conceito amplo de planta daninha é dado por SHAW (1982), que as enquadra como toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada. Um conceito mais voltado às atividades agropecuárias é exaltado na definição proposta por BLANCO (1972), que define como planta daninha toda e qualquer planta que germina espontaneamente em áreas de interesse humano e que, de alguma forma, interfira prejudicialmente nas atividades agropecuárias do homem. Com significado negativo é conhecida como, planta daninha, planta invasora, inço, mato, como também tendo significado positivo, conhecido como plantas espontâneas e plantas indicadoras. As plantas daninhas crescem rápidas e são de fácil adaptação, sua floração e germinação têm intervalo curto e é de alta produção, prejudicando a cultura não só pela competição por luz, água, mas principalmente competição por nutrientes, em destaque o nitrogênio. As condições edafoclimaticas destacam o Brasil como país de grande potencial para o cultivo da soja, mas o clima tropical é também muito favorável à ocorrência de grande quantidade de plantas daninhas, que interferem no desenvolvimento e na produtividade das culturas. Os efeitos negativos detectados no crescimento e na produtividade da cultura da soja, decorrentes da presença das plantas daninhas, já foram observados por vários autores (CARVALHO & DURIGAN, 1995; SPADOTTO et al., 1994; BARROS et al., 2000). A competição entre as plantas daninhas e a cultura se processa até 50 dias. Dependendo do grau de infestação e do número de espécies presentes na área, além do decréscimo na produtividade. (o controle químico é feito através do uso de herbicidas). As épocas de aplicação dos herbicidas para a soja são na pré-semeadura, quando a pulverização se realizou antes do plantio, na pré-emergência, a aplicação 18 do produto realizada logo após a semeadura; antes da emergência de culturas e/ou das ervas invasoras; e na pós-emergência, a aplicação ocorre após a emergência da cultura e das plantas invasoras. Os herbicidas pós-emergentes foram preferidos, pois possibilitou avaliar o grau de infestação existente e, posteriormente, escolhermos o produto e a dosagem apropriada para solucionar os problemas específicos de cada propriedade. O controle de gramíneas com herbicidas pós-emergentes, em geral, realizou-se com sucesso. Contudo, as plantas de folhas largas apresentaram um controle mais difícil, destacando a buva, corda de viola e guanxuma. O controle das mesmas se realizou na dessecação pré e pós-semeadura conforme a necessidade, com a aplicação de glifosato. Quando solicitado pelo produtor, realizava-se a regulagem dos pulverizadores, além de observar o produto, a dosagem e a preparação da calda para aplicação, medidas estas preventivas tomadas, durante as atividades. 5.3.1.1 Buva (Conyza bonariensis) O ciclo germinativo da buva se dá no período de inverno e primavera. É de alta capacidade de disseminação e adaptável a diferentes ambientes (rústica). Causa prejuízos, pois tem alto poder competitivo, reduzindo o rendimento da soja. A buva, nos últimos anos, ganhou espaço expressivo na sojicultura. Conhecida popularmente como voadeira, a buva tem capacidade de produzir até 200 mil sementes viáveis por planta. É de fácil disseminação por ventos de até 80 km, além de dificultar a colheita, aumentando a umidade e as impurezas. A buva é a principal preocupação que acomete a lavoura de soja, seja pelos danos provocados à semente ou pela sua resistência aos herbicidas. O grande problema é que a buva era facilmente eliminada pelo glifosato. Porém, o gene do vegetal sofreu mutações e agora resiste ao produto, isto se deu ao uso incorreto do herbicida em anos anteriores, principalmente relacionado a subdosagens do produto. Atualmente, torna-se necessário combinar dois ou até três diferentes herbicidas para contê-las. Os produtos mais indicados foram o paraquat e o clorimuron. Ressalta-se dizer que existem herbicidas como 2-4-D para combater o problema, mas eles têm restrições de uso (Figura 1). 19 Figura 1: Buva (Conyza bonariensis) O manejo adequado e cuidado com as áreas a serem cultivadas, os simples fatos de deixar uma boa cobertura (palhada) da cultura de inverno, diminuiu consideravelmente a germinação da Buva. Verifica-se que os fatores que influenciam o sucesso do controle químico são as condições climáticas, estádios de evolução e condições de desenvolvimento da invasora, sendo necessária a sua avaliação. 5.3.1.2 Corda-de-viola (Ipomoea spp.) Planta herbácea trepadeira podendo atingir até 3 m de comprimento. Sua coloração e suas flores são de aparência vistosa. Raiz principal pivotante. Planta anual, com reprodução por sementes, principalmente durante a primavera e verão. Adapta-se em qualquer tipo de solo, freqüente em todas as regiões do Brasil, contendo mais de 140 espécies distribuídas por todo país. A corda de viola compete com culturas anuais, é extremamente agressiva e dificulta a colheita mecânica, conferindo altos teores de umidade aos grãos. Compõe a relação das espécies consideradas como de difícil controle por glifosato. Foram 20 necessárias 2 a 3 aplicações, exigindo assim a mistura de herbicidas de ação residual com o glifosato (Figura 2). Figura 2: Corda de viola (Ipomoea spp.) 5.3.1.3 Guanxuma (Sida rhombifolia L) A guanxuma (Sida rhombifolia L.) é uma importante espécie invasora de diversas áreas de exploração agrícola e que compreende cerca de 200 espécies espalhadas pelo mundo, muito presente em regiões temperadas e subtropicais. A guanxuma é considerada infestante devido à sua alta agressividade e capacidade de produzir elevado numero de sementes, mesmo em baixas densidades, interferindo decisivamente no desenvolvimento das culturas e provocando perdas de rendimento nas lavouras (FLECK et al., 2003; RIZZARDI et al., 2003). Existem relatos de que a guanxuma produz até 28,2 mil sementes m2 em um único ciclo de verão como infestante de soja (FLECK et al., 2003) (Figura 3). 21 Figura 3: Guanxuma (Sida rhombifolia) O problema de guanxumas pode ser maior em áreas de plantio direto quando a parte aérea das plantas é danificada, pois a mesma apresenta boa capacidade de rebrota. É uma planta agressiva infestante em diversas culturas anuais, principalmente em plantio direto. Dificulta a colheita mecânica em culturas anuais, devido à resistência do caule. Consideradas altamente competitivas com as culturas agrícolas, devido ao seu profundo sistema radicular, de alta disseminação e difícil controle. O controle é realizado com a aplicação de herbicida de 10 a 15 dias antes da semeadura, visando o controle em pós-emergência das plantas daninhas existentes na área, com altura de, no máximo, 10 cm. O manejo de controle de plantas daninhas, como a buva, a corda de viola e a guanxuma, baseou-se em acompanhar com atenção quaisquer mudanças nas populações de plantas daninhas presentes na lavoura. A utilização da prática de rotação de culturas favoreceu a alternância de herbicidas utilizados na área, como também a rotação de herbicidas, evitando utilizar por mais de duas ocasiões consecutivas os produtos que apresentem o mesmo mecanismo de ação. Recomenda-se misturar herbicidas com diferentes mecanismos de ação, ou fazer aplicações seqüenciais dos mesmos; usar de forma intensiva o manejo 22 integrado de plantas daninhas, principalmente quando houver constatação de escapes no controle químico de determinada espécie. 5.3.2 Pragas e Controle A cultura da soja está sujeita ao ataque de insetos durante todo o seu ciclo. Os insetos têm suas populações controladas naturalmente por predadores, parasitóides e por doenças. Porém, quando atingem populações elevadas, acima dos níveis críticos, são capazes de provocar perdas significativas na produtividade da cultura e necessitam ser controlados. Durante o estágio foram encontradas as seguintes pragas: Tamanduá da soja (Sternechus subsignatus); Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis); Lagarta falsa medideira (Pseudoplusia includens); Lagarta preta (Spodoptera cosmioides); Percevejo verde (Nezara viridula); Percevejo marrom (Euschistus heros). O controle das pragas durante o estágio baseou-se em controle químico, observando, antes da adoção de qualquer medida de controle de uma praga agrícola, a sua correta identificação, pois o reconhecimento da espécie é de fundamental importância para o manejo adequado e eficiente das populações. 5.3.2.1 Tamanduá da soja (Sternechus subsignatus) Os adultos medem 8,0 mm, de cor preta ou castanho-escura, com duas faixas longitudinais de cada lado da cor amarela. Para realizar a postura a fêmea faz um anelamento na haste principal, cortando todas a epiderme. Possui uma geração por ano, que se inicia em outubro, quando surgem os primeiros adultos, atingindo o pico populacional no final de dezembro (Figura 4). 23 Figura 4 - Tamanduá da soja (Sternechus subsignatus) Os danos e sintomas são o caule da planta raspado e os tecidos desfiados. Quando atinge a gema apical o dano é irreversível. As larvas se alimentam da medula da haste principal e provocam o surgimento da galha, a qual dificulta a circulação de seiva e torna a planta frágil. As medidas de controle em áreas de atividade do estágio, com surtos de Tamanduá da soja realizou-se, o controle de 1 a 2 aplicações, no período da manhã e tarde e recomendado aplicação nas bordaduras da lavoura, com produto a base de Fipronil 30 g. 5.3.2.2 Lagartas A lagarta da soja (Anticarsia gemmattalis) é o inseto desfolhador que mais ataca a cultura da soja. O adulto é uma mariposa com 30 a 40 mm de tamanho/comprimento, possui cor acinzentada a marrom apresentando uma linha escura da asa anterior até a posterior, possui hábito noturno e os ovos são colocados em qualquer parte da planta. As lagartas são de cor verde com três listras claras dispostas longitudinalmente no dorso, e com quatro pares de patas abdominais e não medem palmo. 24 Seu pico de população ocorre de janeiro a março, conforme a região e o seu ciclo biológico total são de 30 a 34 dias (Figura 5). Figura 5 - Lagarta da soja (Anticarsia gemmattalis) No momento do controle da lagarta da soja a aplicação de inseticida se realizou quando o número lagartas pequenas, menores de 1,5 cm, atingiu 40 lagartas, por batida de pano. A lagarta Falsa medideira (Pseudoplusia includens) apresenta coloração verde, com listas brancas no dorso e pode apresentar pontos escuros no corpo. Ao se deslocar, este inseto tem um movimento característico de medir palmo, daí a sua denominação. Alimenta-se de folhas, mas não das nervuras, conferindo um aspecto rendilhado à lavoura (Figura 6). 25 Figura 6 - Lagarta Falsa Medideira (Pseudoplusia includens) A parte posterior do corpo é mais abaulada que a anterior. O ciclo da falsa medideira pode durar cerca de 15 dias e, durante esse período, ela pode consumir até 200cm² de área foliar da soja. O controle químico dessa lagarta ocorreu sozinho ou associada à lagarta-dasoja, sendo realizado quando foram encontradas, em média, 40 lagartas grandes maiores 1,5 cm por pano-de-batida (duas fileiras de plantas), ou se a desfolha estivesse atingido 30% antes da fase do florescimento, ou 15%, tão logo apareceram as primeiras vagens. Atualmente os danos da lagarta mede-palmo são bem inferiores aos da lagarta-da-soja, mas como as duas ocorrem na mesma época, essa praga é considerada praga principal (DIEHL & JUNQUETTI, 2008). A lagarta-preta (Spodoptera cosmioides) ocorre em grupos de populações elevadas e com danos severos no desfolhamento de plantas, se posiciona na parte mediana das plantas, dificultando o controle com a aplicação de inseticidas (Figura 7). 26 Figura 7 - Lagarta Preta ( Spodoptera cosmioides ) Como inseto praga encarado recentemente como um problema sério, não existem produtos na cultura da soja registrados para o controle desta espécie. Normalmente o produtor lança mão de defensivos para outras lagartas que atacam a cultura. Associado a falta de moléculas registradas para o controle do problema, a ação da praga ocorre em vários momentos do desenvolvimento da cultura. Quando as plantas já se encontram com maior porte, a eficácia da pulverização de qualquer inseticida fica comprometida, devido à alta área foliar da cultura que impede o contato do produto com a praga. Com isso, o composto não consegue cobrir totalmente a biomassa da planta, deixando locais sem proteção e suscetíveis ao ataque da praga. Além disto, as lagartas agem de baixo para cima porque iniciam o ataque assim que os ovos depositados pelas mariposas eclodem, tendendo a manterem-se protegidas dos inimigos nos locais mais escondidos das plantas (NUNES, 2010). No referido estágio efetuou-se nas lavouras o uso dos inseticidas os quais foram usados no estádio vegetativo da planta, com o Dimilim (diflubenzuron 250 g), na dose de 80 a 120 gr/ha, efetuando-se 2 a 3 aplicações, sendo o resultado do controle eficiente, observado nas atividades do estágio. Já no estádio reprodutivo da soja, houve 2 aplicações de Curiom (profenofós mais lufenuron) na dose de 300 ml/ha. 27 As medidas de controle foram tomadas em conjunto para todas as lagartas. Cabe ainda dizer, que se observou que todos inseticidas usados foram eficientes no controle das referidas pragas. Ressalta-se que a lagarta preta é resistente aos tratamentos, pois não há inseticidas específicos para tal praga, sendo a mesma não controlada com o uso dos inseticidas para as outras lagartas, pois ela localiza-se na parte mediana da planta, sendo assim o difícil tratamento. 5.3.2.3 Percevejos O percevejo verde, assim como os demais percevejos, ataca a cultura da soja, podendo provocar a retenção foliar, e apesar das vagens estarem prontas para colheita, às folhas permanecem verdes. Também pode causar enrugamento do grão devido à sucção realizada e pode ser um transmissor de doenças fúngicas aos grãos, especialmente a Mancha de Levedura (Figura 8). Figura 8 - Percevejo-verde-da-soja Seus ovos são colocados na face inferior da folha. Nos estádios iniciais as ninfas vivem aglomeradas e, a partir do terceiro instar as ninfas já sugam o grão. Os 28 adultos são de cor verde, com o tamanho em cerca de 15 mm e vivem por até 70 dias. No ato da alimentação, os percevejos injetam toxinas nos grãos e nos orifícios deixados pelo aparelho bucal dos insetos penetram microorganismos que determinam o chochamento dos grãos causando depreciação do produto no ato da comercialização. Além disso, as toxinas atingem as plantas determinando uma redução em sua produtividade. O percevejo-marrom-da-soja (Euschistus heros) é conhecido por ser uma das mais agressivas pragas da cultura da soja. Causa prejuízos com sucção de seiva dos ramos, hastes ou vagens. Caso ataque as vagens, pode causar prejuízos de até 30% do potencial produtivo (Figura 9). Figura 9 - Percevejo-marrom-da-soja ( Euschistus heros) O percevejo marrom apresenta seus danos e sintomas na planta e nos grãos em linhas gerais semelhantes aos descrito anteriormente. As ninfas inicialmente são claras e vivem aglomeradas, posteriormente verdes acinzentadas a marrom clara. Os adultos medem 15mm, de cor marrom, e são facilmente reconhecidos pela presença de espinhos pontiagudos nas expansões do corpo. 29 As vistorias/amostragens foram realizadas com batida de pano desde a época de formação da vagem até a maturação fisiológica. Controlada sempre que se ocorreu 4 ou mais percevejos adultos por amostragem, em áreas de produção comercial, já em lavouras de produção de semente 2 por amostragem. Após as batidas de pano, caso encontrado o número de insetos suficientes para efetuar o controle, recomendava-se à aplicação de inseticida, principalmente o Engeo Pleno (tiametoxam mais lambdacyalothrin) na dose de 200 ml/ha. Verificaram-se nas referidas atividades do estágio supervisionado que o controle com este produto foi eficiente. 5.3.2.4 Ácaros O ácaro, por ser muito pequeno, necessita do auxilio de uma lupa para ser visto e normalmente se localiza na parte inferior da folha. O ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus) mede cerca de 0,14 a 0,17mm de comprimento e a fêmea tem coloração branca a amarelado-brilhante, e não tecem teias. O ataque se dá nas folhas mais novas, ocorrendo inicialmente um escurecimento (Figura 10). Figura 10 - Acaro Branco (Polyphagotarsonemus latus) 30 Pode atacar também os ponteiros da soja, que quando intenso, pode causar a seca e queda das folhas, favorecido por temperatura e umidade elevadas. O ácaro vermelho (Tetranychus ludeni) mede cerca de 0,26 a 0,5mm de comprimento e as fêmeas são de cor vermelho intenso; já os machos e as formas jovens são amarelo-esverdeados, os ovos são amarelados ou vermelho opacos, formam colônias densas na página inferior das folhas, ficando amareladas e ocasionando a queda (Figura 11). Figura 11 - Ácaro Vermelho (Tetranychus ludeni) Geralmente, os ácaros ocorrem em reboleiras, formando manchas nas plantas. Quando necessário, o seu controle pode ser feito só nestas reboleiras, sem necessidade de pulverizar toda a lavoura, assim minimizando os custos de produção (OLIVEIRA, 2003). Os ácaros que foram observados durantes às atividades de estágio, são o branco (Polyphagotarsonemus latus) e o vermelho (Tetranychus ludeni). O controle foi feito só nas reboleiras com uma alta dose de inseticida a base de metamidofós. 5.3.3 Doenças e controle Entre os principais fatores que limitam o rendimento e a lucratividade da produção de soja, destacam-se as doenças da cultura. Mundialmente são listadas 31 mais de 100 doenças na cultura da soja (SINCLAIR & BACKMAN, 1989), das quais aproximadamente 50 já foram identificadas no Brasil. Durante o estágio observou as doenças de Míldio e Ferrugem Asiática. 5.3.3.1Míldio (Peronospora manshurica) A doença inicia o seu desenvolvimento nas folhas baixeiras, podendo se desenvolver e atingir toda a parte aérea. Os primeiros sintomas aparecem sobre as folhas na forma de pontuações amarelas, que evoluem em diâmetro e atingem até 5 mm e, mais tarde acabam por necrosar. Na face abaxial das folhas amarelas, surgem as estruturas de frutificação do fungo, de aspecto cotonoso e coloração levemente rosada a cinza. As vagens infectadas apresentam deterioração das sementes ou uma infecção parcial, onde se desenvolve no tegumento uma crosta pulverulenta de coloração bege a castanho-claro, formado de micélio e esporos. Condições favoráveis à doença são temperaturas amenas, entre 10 a 25°C e umidade elevada, principalmente na fase vegetativa (BALARDIN, 2002). Para o seu controle, recomenda-se o uso de cultivares resistentes e a aplicação de fungicidas, além do tratamento das sementes infectadas. Esta doença (Figura 12) foi detectada em algumas lavouras durante o estágio, mas não causou grandes prejuízos, pois ocorreu em casos isolados e, o uso de fungicidas para outras doenças (ferrugem asiática) a controlou. Figura 12 - Planta com sintomas de míldio 32 5.3.3.2 Ferrugem Asiática (Phakospsora pachyrhizi) É uma doença encontrada extensivamente em diversas regiões de produção de soja no mundo, onde ela pode causar perdas de até 90%. Essa doença foi identificada na região do planalto do RS, causando perda de até 48% no rendimento. Os sintomas são visíveis, principalmente, desde o florescimento pleno até o final do ciclo, devido ao longo período de molhamento e temperatura amena necessário para infecção e esporulação da ferrugem. As lesões mais comuns se mostram inicialmente verde-acinzentadas, que progridem para marrom escuro e marrom avermelhado. Pústulas globosas mostramse visíveis principalmente na face inferior dos folíolos (Figura 13). Figura 13 - Folha de Soja com Pústulas de ferrugem asiática A ferrugem apresenta severidade elevada durante período longo de molhamento foliar, associado á temperatura média diária de 28°C. O patógeno não é disseminado através da semente, apresentando sua dispersão facilitada pela ação da chuva. (BALARDIN, 2002). Plantas severamente infestadas com a ferrugem asiática da soja apresentam desfolha precoce, o que compromete a formação e o enchimento de vagens além do 33 peso final dos grãos. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho do grão e, conseqüentemente, maior a perda de rendimento e de qualidade (YANG et al., 1991). Como não existem cultivares de soja imunes às raças do patógeno da ferrugem, o seu controle foi realizado com aplicações de fungicidas dos grupos triazóis e estrobirulinas, pois apresentam uma boa eficácia no controle da doença. Nas lavouras, foram realizadas visitas para acompanhamento do estádio de desenvolvimento da cultura e da ferrugem. A primeira aplicação de fungicida se realizou com a cultura em estádio R1, com a aplicação de Priori Xtra (Azoxistrobina mais cyproconazole) na dose de 300 ml/ha. A segunda aplicação se realizou no período de residual do produto, que é de 21 dias, em alguns casos, esse residual foi diminuído devido às condições climáticas estarem muito favoráveis às disseminações da doença, como também a terceira aplicação foi realizada no período residual do produto. Após cada aplicação, monitoravam-se as lavouras, fazendo-se coletas de folhas, para análise em laboratório da empresa, onde era avaliado o nível de desenvolvimento da doença e necessidade de novas aplicações. No controle da ferrugem asiática, devem ser consideradas estratégias como: utilização de cultivares mais precoces, semeadas no início da época recomendada para cada região; evitar o prolongamento do período de semeadura; monitorar constantemente as lavouras; e observar se há condições de temperatura (14 a 28°C) e umidade relativa favorável ao patógeno (YORINORI & WILFRIDO, 2002). Em cultivares de ciclo precoce, os fungos têm menos tempo para causar redução da produtividade, em razão da cultura ficar menos tempo no campo. A resistência genética a doenças pode ser definida como a habilidade do hospedeiro em impedir o crescimento e o desenvolvimento do patógeno (PARLEVLIET, 1997). A resistência tem como característica a redução da taxa da epidemia, por meio da diminuição do número e tamanho das lesões, da diminuição da produção de esporos e do aumento do período latente. Isso faz com que a população do patógeno seja reduzida, diminui a quantidade de inóculo e, conseqüentemente, a intensidade da doença (WANG & HARTMAN, 1992). Durante a realização das atividades desenvolvidas no estágio curricular supervisionado, comprovou-se a eficiência de todas as medidas adotadas pela empresa Maffini, onde tudo que foi observado e aprendido teve importância para o 34 futuro profissional. Realizava-se semanalmente o levantamento de estoque de produtos da empresa, em fichas individuais que constava o nome comercial, a data da entrada, a quantidade, o número da nota fiscal, a data de saída, produtor que adquiriu, quantidade vendida, vendedor do produto e quanto restava no estoque da empresa. 5.4 Colheita A colheita constitui uma importante etapa no processo produtivo da soja, principalmente pelos riscos de perda de grãos com intempéries que a lavoura está sujeita quando se encontra madura. A colheita deve ser iniciada tão logo a soja atinja o estádio R8 (ponto de colheita), a fim de evitar perdas na qualidade do produto. A debulha natural é característica de algumas cultivares e adquire maior importância quando o ciclo das operações de colheita é retardado. Nas referidas propriedades observadas durante o estágio foi colhido uma média de 3000 kg/ha, que são cinqüenta sacas de soja/ha (Figura 14). Figura 14 – Colheita 5.5 Produção de Sementes O produtor que deseja produzir sementes de soja de alguma cultivar para seu uso próprio deve declarar em documento, o qual deve ser levado ao Ministério da 35 Agricultura para seu reconhecimento e, posteriormente autorizado para a retirada das referidas sementes. Esta documentação é para que o produtor possa guardar para a safra seguinte um estoque de sementes para a sua utilização, pois como ele não é um produtor de sementes fiscalizada, o mesmo não pode estocar e nem comercializá-la. Mas, o documento de declaração de sementes permite a estocagem. 36 6. CONCLUSÃO O Estágio Curricular Supervisionado do Curso de Técnico Agrícola com Habilitação em Agricultura foi de grande valia para a formação profissional, proporcionando o aprendizado de várias situações diferentes. Na região de abrangência da empresa Maffini, tive a oportunidade de presenciar os mais diversos casos de plantas invasoras, doenças e pragas da cultura da soja, bem como de conhecer e trocar conhecimentos com produtores e funcionários, das mais diversas áreas ligadas à agricultura. Por todos os fatores citados e, após a comprovação de que teoria e prática andam juntas, concluo que é de grande importância à realização do estágio, pois permite executar os conhecimentos teóricos adquiridos no decorrer do curso. 37 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA, F.S. Controle de plantas daninhas em plantio direto. Londrina: IAPAR, 1991. 34p. (IAPAR Circular, 67). 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