Argilas – Introdução As argilas têm significados diferentes para diferentes grupos de pessoas. Para o agricultor as argilas são o ambiente mecânico e químico onde a maioria das plantas cresce. Para o ceramista são a matéria prima das suas obras, há mais de 4 mil anos. Para o editor, conferem a suavidade à superfície do papel em impressões de alta qualidade. Como fim médico, podem ser um alívio para a diarreia, e para o sondador, são um componente das lamas de perfuração. Para a maioria das pessoas representam apenas a incómoda lama nos sapatos. Na área da geologia, o termo argila pode ter vários sentidos: Designa um dimensão granulométrica, inferior a 0.002 – 0.004 mm Designa o nome de um grupo de minerais conhecidos como minerais argilosos Designa uma rocha composta essencialmente por minerais argilosos Argila como mineral Os minerais argilosos são materiais extremamente finos ( granulometria considerada inferior a 2 m ) que só podem estudados pormenorizadamente com recurso a equipamento de raios-X , microssonda elctrónica ou outros aparelhos sofisticados. São essencialmente aluminossilicatos hidratados, nos quais o magnésio ou o ferro podem substituir total ou parcialmente o alumínio, com elementos alcalinos ou alcalino-terrosos. Deste modo a sua composição química é variável, tal como a natureza dos catiões intercamadas e o teor em água. Os diferentes minerais argilosos têm diferentes propriedades de desidratação, limites de rotura estrutural, produtos de decomposição, capacidades de troca catiónica (CTC), e outras propriedades úteis e com interesse económico. Os minerais argilosos baseiam-se em duas estruturas atómicas – o octaedro alumina- magnésia e o tetraedro de sílica. Quando a alumina está presente, apenas dois terços das posições estão preenchidas, formando-se a estrutura da gibbsite com fórmula química Al2(OH)6. Com o Mg todas as posições estão preenchidas formando a estrutura da brucite com fórmula química Mg3(OH)6. Os tetraedros agrupam-se segundo uma malha hexagonal, que se repete indefinidamente, formando um folha tetraédrica com composição Si4O6(OH)4. As cadeias são ligadas entre si por átomos de Al e/ou Mg, cada um rodeado por seis oxigénios “activos”. Estas duas estruturas podem formar camadas compósitas, produzindo uma grande variedade de aluminossilicatos hidratados em camada (folha) ou em cadeia (fitas). Na sistemática dos minerais argilosos cristalinos consideram-se 7 grupos; a cada grupo pertencem várias espécies, o que perfaz na totalidade cerca de 50 minerais argilosos. Seis destes grupos estão organizados estruturalmente em folhas e camadas, onde se incluem minerais como a caulinite e minerais associados, a montmorilonite e outros minerais do grupo da esmectite, a ilite e as hidromicas; o sétimo, com estrutura em fita, engloba a paligorsquite (atapulgite) e a sepiolite. Os grupos assim divididos são: 1. Grupo da caulinite ou das candites a. b. Subgrupo da caulinite (ex. caulinite e haloisite) Subgrupo da serpentina (ex. antigorite e crisótilo) 2. Grupo da ilite 3. Grupo da montmorilonite ou das esmectites a. b. Subgrupo trioctaédrico (ex. montmorilonite) Subgrupo dioctaédrico (ex. saponite, hectorite) 4. Grupo da clorite 5. Grupo da vermiculite 6. Grupo dos interestratificados 7. Grupo da paligorsquite e sepiolite ou das hormites Grupo das Candites A estrutura da caulinite resulta da combinação, indefinida, da folha tetraédrica e da folha octaédrica da gibbsite. Pode haver uma ligeira substituição isomórfica, e a estrutura não expande em contacto com a água. Tem baixa CTC ( metade relativamente à ilite e um quinto em relação à montmorilonite). Tem capacidade de troca aniónica (CTA) relativamente elevada. O empilhamento das camadas pode ser desordenado, com pequenos desvios segundo a direcção b, formando-se assim as “caulinites desordenadas”, constituintes comuns das argilas refractárias. Grupo da Ilite (nota breve) Esta argila tem estrutura semelhante à das micas, mas como tem menos catiões inter-camadas as suas ligações são mais fracas e existe maior irregularidade no empilhamento. A ilite é o mineral argiloso mais abundante nos xistos argilosos e nos argilitos, e ocorre noutras rochas sedimentares, incluindo o calcário. Pode formar-se pela alteração dos silicatos, particularmente do feldspato, pela modificação diagenética de outras argilas, pela degradação da moscovite ou ainda pela recristalização de sedimentos coloidais. Grupo das Esmectites Esmectite é uma designação geral para um grupo de minerais que têm a mesma estrutura mas que diferem no conteúdo iónico metálico. As esmectites distinguem-se em duas espécies, dioctaédricas e trioctaédricas, com base na ocupação das posições octaédricas ser incompleta (2) ou totalmente preenchida (3). Os membros são: Esmectites dioctaédricas Esmectites trioctraédricas Montmorilonite Beidellite Nontronite Hectorite Saponite Montmorilonite As montmorilonites podem decompor-se nas variedades sódicas e cálcicas. As primeiras são designadas por bentonites expansivas, as segundas por bentonites não expansivas. Têm grande CTC. As partículas são lamelares, mas tendem a apresentar formas alongadas se a substituição for intensa. Hectorite É uma argila com lítio e magnésio, com a mesma estrutura que a saponite; forma-se pela substituição parcial do magnésio pelo lítio, e pela substituição do OH pelo F, em mais de dois terços. Distingue-se das outras esmectites pelos elevados teores em Mg, Li e F e baixos em Al. O termo hectorite é aplicado a um argila esmectítica com mais de 1% de Li2O e 4% de F. A hectorite tem uma grande CTC. O lítio distorce a rede cristalina, limitando o crescimento dos cristais em largura, mas permitindo o seu desenvolvimento em comprimento (característicos cristais capilares).Tem excelentes propriedades de gelificação que são utilizadas em produtos que vão desde a pintura por electrodeposição até às lamas de perfuração e cosméticos. Saponite É uma argila expansiva com fraca CTC, parecida com a bentonite sódica, excepto no facto de algum magnésio ter sido substituído por alumínio tal como o sódio permutável. Grupo das hormites O grupo das hormites é aplicado para a atapulgite e sepiolite devido à sua composição aluminossilicatada magnesiana, à sua estrutura em canais abertos, formando cristais alongados, e pela sua ocorrência conjunta na natureza. A atapulgite é conhecida também como paligorsquite. È um aluminossilicato hidratado com forma alongada e uma fórmula ideal com Mg substituindo parcialmente Al e, eventualmente, Fe. A estrutura consiste em cadeias duplas de tetraedros de sílica paralelas ao eixo do alongamento e ligados pelos oxigénios nos seus vértices longitudinais. A sepiolite é um silicato de magnésio em que o alumínio desempenha um papel muito pequeno. A estrutura é semelhante à da atapulgite, excepto no facto de ter tetraedros regularmente intercalados ao longo da cadeia, aumentando a célula unitária em 50%. Grupo dos interestratificados (nota breve) Compreende modelos estruturais variados que são intermédios ou misturas dos 5 grupos com estrutura em camada. Existem minerais argilosos cujas estruturas são construídas com camadas próprias do grupo da ilite, intercaladas regular ou irregularmente por estruturas do grupo da montmorilonite. A estrutura dos interestratificados regulares tem organização periódica própria das espécies minerais reais e portanto essas estruturas são designadas por nomes específicos, tais como: rectorite, sudoite, corrensite, etc.…Nos interestratificados irregulares entram as designações (iniciais) correspondentes aos minerais intervenientes pela ordem da sua importância. Nota: O grupo da vermiculite será tratado separadamente e o grupo da clorite não será tratado no âmbito de Jazigos Minerais uma vez que não tem, por si só ou em rocha, importância económica. Argila como rocha A designação argila em rochas (rochas argilosas) inclui os solos, os xistos argilosos e os argilitos. Pode abranger apenas agregados monominerais, mas geralmente o termo reporta-se a mais de um mineral argiloso, ao que se juntam materiais não argilosos, tais como quartzo, calcite, feldspato, pirite, compostos orgânicos e sais solúveis na água. O tipo de rocha depende da presença e da abundância relativa e composição daqueles componentes. Estes factores, a que se juntam a forma e a distribuição do calibre das partículas, são determinantes nas propriedades da rocha. A maioria das argilas são plásticas quando húmidas, embora existam excepções tais como a haloisite e a argila compacta ou dura (“flint”). As rochas que contêm minerais argilosos podem ser classificadas de acordo com : a mineralogia ( ex. cauliníferas) a composição química (ex. teor elevado de alumina) as propriedades físicas (ex. plásticas) a utilização industrial (ex. como carga de produtos – “filler”) a localização geográfica (ex. argilas da região de Pombal) Modos de Ocorrência dos principais minerais argilosos Minerais argilosos – ocorrência típica Atapulgite Filões hidrotermais, serpentina ou rochas graníticas alteradas Caulinite Alteração meteórica ou hidrotermal dos feldspatos e de outros aluminossilicatos Hectorite Produto de alteração da clinoptilolite em depósitos bentoníticos Ilite Abundante nos xistos argilosos e noutros depósitos sedimentares; depósitos hidrotermais; zonas de alternância próximo de nascentes termais; pegmatitos Haloisite Alteração meteórica aluminossilicatos Montmorilonite Depósitos argilosos bentoníticos; solos, rochas sedimentares e metamórficas; depósitos hidrotermais Sepiolite Produto de alteração da serpentina ou magnesite; mineral autigénico em sedimentos lacustres; pequenos veios de calcite no calcário ou hidrotermal dos feldspatos e outros MINERAIS ARGILOSOS (SISTEMÁTICA) 1. Grupo da caulinite ou das candites a. Subgrupo da caulinite (ex. caulinite e haloisite) b. Subgrupo da serpentina (ex. antigorite e crisótilo) 2. Grupo da ilite 3. Grupo da montmorilonite ou das esmectites a. Subgrupo trioctaédrico (ex. montmorilonite) b. Subgrupo dioctaédrico (ex. saponite, hectorite) 4. Grupo da clorite 5. Grupo da vermiculite 6. Grupo dos interestratificados 7. Grupo da paligorsquite e sepiolite ou das hormites Modos de Ocorrência dos principais minerais argilosos Minerais argilosos – ocorrência típica Atapulgite Filões hidrotermais, serpentina ou rochas graníticas alteradas Caulinite Alteração meteórica ou hidrotermal dos feldspatos e outros aluminossilicatos Hectorite Produto de alteração da bentoníticos Ilite clinoptilolite em depósitos Abundante nos xistos argilosos e noutros depósitos sedimentares; depósitos hidrotermais; zonas de alternância próximo de nascentes termais; pegmatitos Haloisite Alteração meteórica ou hidrotermal dos feldspatos e outros aluminossilicatos Montmorilonite Em depósitos argilosos bentoníticos; solos, rochas sedimentares e metamórficas; depósitos hidrotermais Sepiolite Produto de alteração da serpentina ou magnesite; mineral autigénico em sedimentos lacustres; pequenos veios de calcite no calcário