SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO SUBSECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE SUPERINTENDÊNCIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E AMBIENTAL GERÊNCIA DE DOENÇAS TRANSMITIDAS POR VETORES E ZOONOSES - GDTVZ BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014 Gerência de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA FEBRE MACULOSA 2013/2014 Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2014. BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014 A Febre Maculosa/Rickettsiose (FM) é uma doença infecciosa, febril, aguda de elevada letalidade. É um dos agravos de notificação compulsória imediata (até 24 horas), segundo Portaria do GM/MS 1.271 de 6/6/2014. Caracteriza-se patologicamente por vasculite generalizada e é transmitida por artrópodes vetores como ácaros, carrapatos, piolhos e pulgas. Os carrapatos da espécie Amblyomma cajennense (“carrapato estrela”) são os vetores mais reconhecidos no ciclo de transmissão da FM e diferente dos animais vertebrados como cães e gatos que raramente apresentam rickettsemia, os carrapatos permanecem infectados por toda vida (18 a 36 meses), funcionando também como reservatórios. Estudos demonstram que equídeos, roedores como a capivara e marsupiais como o gambá apresentam papel importante no ciclo de transmissão da doença, funcionando com reservatórios ou amplificadores além de transportarem carrapatos possivelmente infectados. A transmissão geralmente ocorre quando o carrapato infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii permanece aderido ao hospedeiro por um período de 4 a 6 horas. Grande parte dos casos de óbitos pela FM ocorre em função da demora na suspeição diagnóstica e, portanto, no início do tratamento adequado. Na FM é importante levantar o histórico do paciente para contato com carrapatos ou história de viagem para áreas de fazendas e contatos com os animais supracitados, pois muitas vezes a pessoa não percebe a presença do carrapato no corpo. A elevada letalidade desta doença pode ser explicada por ser uma doença pouco conhecida e por apresentar sinais e sintomas característicos a vários outros agravos, como dengue e leptospirose, o que dificulta seu diagnóstico. Deve ser incluída no diagnóstico diferencial de síndromes febris agudas em especial as hemorrágicas e exantemáticas, particularmente entre os meses de abril e outubro, período considerado mais seco do ano e de maior risco para transmissão da doença, devido à presença de formas jovens (larvas e ninfas) dos carrapatos. Analisando o banco do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Estado do Rio de Janeiro (SINAN/RJ) durante os anos de 2013 e 2014, observamos que foram notificados 67 e 272 casos respectivamente. Porém, somando os dois anos, tivemos o total de 23 casos confirmados. No ano de 2013 dos casos notificados suspeitos apenas 9,0% foi confirmado e em 2014 somente 6,3%, considerando os dois critérios de confirmação (laboratorial e clínico epidemiológico). É possível visualizar facilmente esse baixo percentual de confirmação de casos nos Gráficos 1 e 2, bem como a distribuição dos casos por mês de início de sintomas. Apontando para maior ocorrência de casos no período esperado de maior transmissão da febre maculosa, que está entre os meses de abril a outubro. Gráfico 1 - Casos de Febre Maculosa (nº de casos notificados e confirmados), por mês de início de sintomas, no Estado do Rio de Janeiro, 2013. Fonte: SINAN/GDTVZ/SES-RJ, dados atualizados em 19 de dezembro de 2014 e sujeitos à revisão. 2|P á g i n a BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014 Gráfico 2 - Casos de Febre Maculosa (nº de casos notificados e confirmados), por mês de início de sintomas, no Estado do Rio de Janeiro, 2014. Fonte: SINAN/GDTVZ/SES-RJ, dados atualizados em 19 de dezembro de 2014 e sujeitos à revisão. No ano de 2013 a maioria dos casos confirmados o foi pelo critério laboratorial (66,7%), já em 2014 a maioria foi confirmada pelo critério clínico epidemiológico (52,9%). Quanto à distribuição dos casos confirmados segundo o sexo dos pacientes tanto no ano de 2013 quanto no ano de 2014 houve predomínio do sexo masculino, considerando os dois anos, houve um total de 69,6% de homens acometidos conforme Gráfico 3. Gráfico 3 – Percentual de Casos de Febre Maculosa segundo sexo dos pacientes, acumulado anos 2013 e 2014, Estado do Rio de Janeiro. Fonte: SINAN/GDTVZ/SES-RJ, dados atualizados em 19 de dezembro de 2014 e sujeitos à revisão. 3|P á g i n a BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014 Com relação ao registro dos casos confirmados para contato com animais que foi informado no SINAN/RJ é possível observar predomínio de contato com carrapato e capivara, conforme demonstra o Gráfico 4. Entretanto, há uma quantidade importante de casos com informação ignorada ou em branco para a história de contato dos pacientes com animais, o que prejudica a análise e as medidas de prevenção e controle da doença. Por exemplo, para a história de contato com a capivara, um animal importante no ciclo da doença, há 30,4% de casos sem informação, o mesmo percentual se repete para cães e gatos. Gráfico 4 – Casos confirmados de Febre Maculosa segundo história de contato com animais registrada/informada no SINAN/RJ, acumulado dos anos 2013 e 2014, Estado do Rio de Janeiro. Fonte: SINAN/GDTVZ/SES-RJ, dados atualizados em 19 de dezembro de 2014 e sujeitos à revisão. Quanto à internação dos pacientes, em 2013 dos 6 casos confirmados quase todos se internaram ou 5 deles (83,3% de internação); no ano de 2014 foram 17 casos confirmados dos quais 9 ou 52,9% se internaram. Já em relação à evolução dos casos, 3 evoluíram para óbito em 2013, correspondendo a uma letalidade de 50,0%; em 2014 foram 4 óbitos registrados pela febre maculosa no estado, com uma letalidade de 23,5%. Não houve registro de casos em gestantes nestes dois anos analisados. Para a distribuição dos casos confirmados de acordo com a faixa etária analisando o acumulado durante os anos de 2013 e 2014, obervamos maior concentração nas faixas etárias de 40 a 49 anos, e de 60 a 69 e 20 a 29 anos de idade, seguidas pelas demais faixas etárias conforme Gráfico 5. O que pode demonstrar, entre outros fatores, o maior risco de ocorrência da febre maculosa em pessoas dessas faixas etárias, bem como do sexo masculino (Gráfico 3) em nosso estado. 4|P á g i n a BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014 Gráfico 5 – Casos confirmados de Febre Maculosa segundo faixa etária dos pacientes, acumulado dos anos 2013 e 2014, Estado do Rio de Janeiro. Fonte: SINAN/GDTVZ/SES-RJ, dados atualizados em 19 de dezembro de 2014 e sujeitos à revisão. A distribuição dos casos confirmados de acordo com o município de infecção durante os anos de 2013 e 2014 pode ser vista no Mapa 1. Mapa 1 – Número de casos confirmados de Febre Maculosa conforme município de infecção, acumulado dos anos 2013 e 2014, Estado do Rio de Janeiro. Porciúncula Varre Sai Natividade Itaperuna Casos confirmados FM Zero Um 2 3 4 Três Rios Quatis Nova Friburgo Barra Mansa S. J. de Meriti Rio de Janeiro Fonte: SINAN/GDTVZ/SES-RJ, dados atualizados em 19 de dezembro de 2014 e sujeitos à revisão. 5|P á g i n a BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014 A análise dos casos de acordo com o Local Provável de Infecção (LPI) demonstrada no Mapa acima é fundamental para o direcionamento das ações de prevenção e controle da doença, envolvendo seus vetores e reservatórios. Entretanto, ao levantarmos tais informações no SINAN chama atenção a perda de dados, uma vez que 17,4% dos casos não dispõem da informação sobre o LPI. A análise e divulgação do perfil epidemiológico da febre maculosa no estado, não somente nestes dois anos em questão, mas historicamente, demonstram um baixo percentual de confirmação dos casos. Tal fato nos leva a refletir sobre a dificuldade na suspeição clínica da doença bem como na realização da coleta de 2 amostras pareadas com intervalos determinados (14 a 21 dias), questões que podem estar interferindo, sem dúvida, na confirmação dos casos. Porém, acima destes fatores está a vigilância em saúde, que de maneira contínua deve lembrar e alertar os serviços de assistência ao paciente, as unidades de saúde, a cada época do ano, antes do período de maior ocorrência da doença (abril a outubro) para seus sinais e sintomas e, para a probabilidade de aumento na sua ocorrência com intensificação na vigilância da mesma, bem como suas medidas de prevenção e controle. Cristina Giordano / Gerente de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses. Paula Almeida / Médica Veterinária Para mais informações contate a Área Técnica responsável. Gerência de Doenças Transmitidas por Vetores e Zoonoses: Rua México, 128 Sala 414 – Castelo – Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 2333.3878 / 2333.3881 E-mail: [email protected] Contatos: Ângela Veltri, Carlos Henrique, Jane Maia, Maria Inês, Paula Almeida, Solange Nascimento. Gerente: Cristina Giordano REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS Nº 1.271, de 6 de junho de 2014. Define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. BRASIL. Guia de Vigilância em Saúde. Volume Único. Portal Saúde. Ministério da Saúde. Disponível em <http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/27/guia-vigilancia-saude-linkado-27-11-14.pdf> 6|P á g i n a