FEBRE MACULOSA 1.Características Clínicas e Epidemiológicas 1.1. Descrição A febre maculosa é uma doença infecciosa aguda, transmitida por carrapatos, caracterizada por início brusco, com febre alta, cefaléia, dores musculares intensas, e prostração, seguida de exantema máculo papular, que predomina nos membros, atingindo as palmas das mãos e plantas dos pés, que pode evoluir para petéquias, equimoses e hemorragias. As lesões hemorrágicas têm tendência à confluência e à necrose, principalmente nos lóbulos das orelhas e bolsa escrotal. Edema de membros inferiores e oligúria estão presentes nos casos mais graves. Hepatoesplenomegalia discreta também pode ser observada. Pacientes não tratados evoluem para um estado de torpor, confusão mental, alterações psicomotoras, e coma. Na fase terminal, aparece icterícia e convulsões. Cerca de 80% dos indivíduos, com forma grave, se não diagnosticados e tratados a tempo, evoluem para óbito. Tem-se descrito formas oligossintomáticas benignas. 1.2. Agente Etiológico Bactéria gram-negativa intracelular obrigatória denominada Rickettsia rickettsii. 1.3. Vetores No Brasil, carrapatos da espécie Amblyomma cajennense (carrapato estrela) são os principais transmissores. Entretanto, outras espécies de carrapatos devem ser consideradas como potenciais transmissoras da doença. 1.4. Modo de Transmissão Geralmente pela picada de um carrapato infectado. O carrapato tem que ficar aderido a pele, durante várias horas, e sugar o sangue, para que as Rickettsias sejam transmitidas e infectem a pessoa. 1.5. Período de Incubação De 2 a 14 dias. 2. Aspectos clínicos e Laboratoriais 2.1. Manifestações Clínicas A doença inicia-se bruscamente com sintomas inespecíficos como febre alta, cefaléia e mialgia. Entre o segundo e o sexto dias, podem surgir as manifestações cutâneas. Edema nos membros inferiores, e oligúria podem ser encontrados nos casos mais graves. Hepatoes-plenomegalia pouco acentuada pode ser observada. Diarréia e dor abdominal ocorrem eventualmente. Se não tratado, o paciente pode evoluir para um estágio torporoso, de confusão mental, com freqüentes alterações psicomotoras, choque, chegando ao coma profundo. Icterícia leve e convulsões podem ocorrer em fase terminal. Em geral, entre o segundo e o sexto dias da doença, surge o exantema máculopapular, predominando nos membros, acometendo palmas das mãos e plantas dos pés, em 50 a 80% dos pacientes. Com a evolução da doença, nos casos graves, o exantema vai se transformando em petequial, posteriormente hemorrágico, constituído principalmente por equimoses. No paciente não tratado, as equimoses tendem à confluência, podendo evoluir para necrose, principalmente nos lóbulos das orelhas, escroto e extremidades. A letalidade dessa forma da doença, quando não tratada, chega a 80%. No exantema da febre maculosa ocorre descamação, em geral no final da segunda semana. Em pacientes de pele escura, o exantema é de difícil visualização. O uso de antibióticos também pode interferir na evolução do exantema. Essas manifestações são o resultado da reprodução do agente, nas células endoteliais dos pequenos vasos sangüíneos. A multiplicação das Rickettsias causa edema, hemorragia, trombose e necrose. Há também infiltrado celular perivascular. Vasculites ocorrem também em outros órgãos, como sistema nervoso central, coração, músculos, rins, etc. 2.2. Diagnóstico Diferencial O diagnóstico diferencial é feito com outras doenças febris hemorrógicas, tais como: meningococcemia, leptospirose, dengue, febre purpúrica brasileira, sarampo, febre tifóide, febre amarela, Hantavirose, outras septicemias e doença de Lyme. 2.3. Diagnóstico Laboratorial O diagnóstico específico é dado por reações sorológicas, como a imunofluorescência indireta (RIFI), Western-blot e Elisa. Devem ser colhidas duas amostras, uma no ato da suspeita e outra com intervalo de 14 dias. Também pode ser feito o diagnóstico através de cultura específica para rickettsias, realizada com amostra de sangue ou biópsia de pele (área de exantema ou petéquia), as quais também devem ser coletadas no momento da suspeita. Biópsia de pele (fragmento de área com exantema), das petéquias ou vísceras (pós-morten), material de necrópsia, também podem ser encaminhados ao laboratório em formol para realização de imunohistoquímica e identificação do agente infeccioso (Anexo). 2.4. Tratamento A droga de escolha para pacientes com sinais e sintomas clínicos da FM é a doxiciclina, que deve ser utilizada em casos leves e moderados de manejo ambulatorial. Nos casos mais severos, que requerem internação e utilização de antibioticoterapia por via endovenosa,o cloranfenicol é a escolha. Quando da suspeita de FM, o tratamento com antibióticos deve ser iniciado imediatamente, não se devendo esperar a confirmação laboratorial do caso. Se o paciente é tratado entre os primeiros 4-5 dias da doença, a febre geralmente regride dentro de 24-72 horas depois do uso apropriado de antibióticos. Não é recomendada a antibioticoterapia profilática para pessoas não doentes que tenham sido recentemente picadas por carrapatos, pois apenas contribui para atrasar o início dos primeiros sintomas, caso venham a desenvolver a doença.6 O esquema terapêutico indicado está apresentado a seguir: AdultoAdultos Doxiciclina 100mg de 12 em 12 horas, por via oral Cloranfenicol 500mg de 6/6 horas, por via oral mantendo-se por três dias após o término da febre Em casos graves, recomenda-se 1,0g (um grama) por via endovenosa, a cada 6 horas, até a recuperação da consciência e melhora do quadro clínico geral, mantendo-se o medicamento por mais de sete dias, por via oral, na dose de 500mg de 6/6 horas Criançasiançasianças Cloranfenicol 50 a 100 mg/kg/dia, de 6/6 horas, até a recuperação da consciência e melhora do quadro clínico geral, nunca ultrapassando 2g por dia, por via oral ou venosa, dependendo das condições do paciente Doxiciclina Em crianças acima de 8 anos peso menor que 45kg: 4mg/kg/dia, divididos em duas doses. F 3. Aspectos Epidemiológicos Pelo que se conhece, até o momento, em nosso país, a febre maculosa é a mais comum e mais letal das rickettsioses existentes em nosso meio. É transmitida ao homem por carrapatos da espécie Amblyomma cajennense, encontrados com freqüência no boi e no cavalo. Estes carrapatos se infectam ao sugarem animais silvestres, e mantêm o ciclo por meio de transmissão transovariana. Portanto, além de transmissores, são também reservatórios. No Brasil, a ocorrência da febre maculosa tem sido registrada em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e, mais recentemente, em Santa Catarina. No período de 1995-2003, foram registrados 263 casos da doença, com taxa de letalidade de 28%. Em Valinhos no período de 2000-2009, foram registrados 32 casos da doença, com 10 óbitos e taxa de letalidade de 38,46%, tem sido comum casos isolados da doença ou de grupos de pessoas que freqüentaram o mesmo ambiente e foram picadas pelo carrapato. As regiões com casos confirmados em nosso município são: Projeto Peixe e CLT – Pinheiros Fonte Sônia Reforma Agrária Chácara Francisco Urso – Bairro São Cristóvão Margens do Rio Atibaia Contendas Vale Verde Vila Pagano Dois Córregos Alpinas Parque dos Cocais Parque da Floresta Frutal Parque Valinhos Parque Portugal Capuava São Bento Pessoas que tem história de contato com carrapatos, moram nas áreas de foco ou ter estado nestas áreas para atividades esporádicas (pescarias, acampamentos...) devem ser consideradas como casos suspeitos mesmo que os sintomas sejam inespecíficos.