Leitura - Conselho Brasileiro de Oftalmologia

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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
...o que os
especialistas
têm a dizer
sobre a saúde
ocular!
A Visão na Melhor Idade
Hábito de fumar e as doenças oculares
Oftalmopediatria
As secreções genitais da mãe podem infectar
os olhos do bebê na hora do parto
Linha Direta
Hemorragia subconjuntival,
conhecida como “derrame
nos olhos”, um problema
que assusta!
Índice
CONSELHO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA
Rua Casa do Ator, 1117 - cj. 21
Vila Olímpia - CEP: 04546-004 - São Paulo - SP
Tel.: (55 11) 3266.4000 / Fax: (55 11) 3171.0953
[email protected] - www.cbo.com.br
04
Palavra do Presidente
05
Editorial
06
Comportamento
11
Olhando de Perto
Diretoria Gestão 2015/2017
Homero Gusmão de Almeida
Presidente - Belo Horizonte – MG
José Augusto Alves Ottaiano
Vamos falar sobre doenças
oculares pouco divulgadas!
Blefaroplastia: a plástica que
melhora a expressão do olhar
Vice-presidente - Marília – SP
Keila Monteiro de Carvalho
Secretaria-Geral - Piracicaba - SP
João Marcelo de Almeida Gusmão Lyra
1º Secretário - Maceió – AL
Cristiano Caixeta Umbelino
Tesoureiro - São Paulo - SP
Produzido por
Selles Comunicação
Coordenação Editorial
Alice Selles
Projeto gráfico
Bianca Andrade
Editoração Eletrônica
Luiz Felipe Beca
Jornalista Responsável
Márcia Asevedo Mtb: 34.423/RJ
Quando a visão dupla pode ser
sintoma de doenças graves!
24
Papo de Consultório
Blefarite, hordéolo e calázio.
São a mesma coisa?
14
Oftalmopediatria
18
A Visão na Melhor Idade
21
As secreções genitais da mãe
podem infectar os olhos do
bebê na hora do parto
28
Prevenir é Melhor
32
Idioma do Especialista
36
Linha Direta
Prevenir e tratar doenças
oculares no trabalho é uma
tendência na Oftalmologia
Hábito de fumar e as doenças oculares
Ciência e Tecnologia
Nova tecnologia em cirurgia
ocular com recuperação em
menos tempo
Doutor, pode me explicar?
Hemorragia subconjuntival, conhecida
como “derrame nos olhos”, um
problema que assusta!
Palavra
do presidente
P
rezado leitor, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), entidade científica
que congrega os 18 mil médicos oftalmologistas do País, edita a revista Veja Bem
para divulgar ao público geral informações úteis para a preservação do mais importante sentido do ser humano: a visão.
A experiência de criar uma publicação voltada para aqueles que buscam assistência
oftalmológica em clínicas e consultórios de todo o Brasil foi plenamente vitoriosa e, em 2016, passará por aprimoramentos que permitirão a multiplicação de
seu alcance. As matrizes da revista serão disponibilizadas às clínicas, consultórios,
hospitais e associações estaduais de Oftalmologia, possibilitando a reimpressão e
levando a palavra da Prevenção da Cegueira e da Saúde Ocular a um número cada
vez maior de pessoas.
Homero Gusmão de Almeida
Presidente do Conselho
Brasileiro de Oftalmologia
Gestão 2015 -2017
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
“...reflita alguns minutos
sobre a grande dádiva
que é a capacidade de
enxergar o mundo...”
Para você que está prestes a ler as interessantes matérias que compõem esta edição,
temos um convite para que reflita alguns minutos sobre a grande dádiva que é a capacidade de enxergar o mundo que nos cerca. Esta dádiva, entretanto, requer cuidados,
atenção e permanente vigilância para impedir que várias ameaças acabem se materializando e reduzindo ou eliminando o maravilhoso sentido da visão.
Nesta luta para manter e restaurar a visão, cada paciente tem na informação correta e compreensível (proporcionada, entre outras fontes, por esta publicação que
tem em mãos) uma ferramenta imprescindível e no médico oftalmologista o seu
mais poderoso aliado.
Boa leitura!
“A qualidade de vida
de um indivíduo está
ligada aos sentidos do
corpo humano, e um
deles é a visão.”
Temos mais notícias! Entrevistamos oftalmologistas de diversas especialidades
para esclarecer as características, sintomas e tratamento de doenças oculares
que muitos se quer ouviram falar.
Já ouviu falar sobre Ergoftalmologia? Pois
é, dedicamos a seção Prevenir é Melhor;
Vamos falar também sobre as doenças
que atingem a pálpebra, na seção Papo de
Consultório. É importante diferenciar os
edemas que aparecem nessa área e tratar
corretamente! Quem não se assusta com
a vermelhidão nos olhos? Saiba mais na
seção Linha Direta.
Em nossas conversas com os especialistas surgiram muitas palavras novas,
algumas bem complicadas. Mas não se
assuste, fizemos uma lista delas e esclarecemos para você na seção O Idioma do
Especialista.
Nosso objetivo é que você se sinta bem à
vontade para ler e reler sobre pequenos
ou grandes sintomas e fique atento para
se defender das doenças oculares com
corretas atitudes preventivas.
Vamos lá?!
Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
A qualidade de vida de um indivíduo está
ligada aos sentidos do corpo humano, e
um deles é a visão. Mas não basta ter cuidados com a saúde dos olhos, é importante saber quais e os melhores tratamentos
para evitar o problema. Falando nisso, as
novas tecnologias estão cada vez mais
frequentes na Oftalmologia. Na seção Ciência e Tecnologia, vamos falar um pouco
mais sobre o equipamento que está revolucionando a cirurgia de córnea.
para abordar esse tema convidamos um
especialista para falar sobre o assunto.
Também vamos alertar as mamães sobre
a doença que afeta os olhos do recém-nascido, na hora do parto, caso o pré-natal não seja feito corretamente.
5
L
evando em consideração a estatística (Organização Mundial de Saúde)
que estima quase 700 mil brasileiros
cegos, que se recebessem tratamento
precoce ou a informação correta, poderiam estar enxergando, podemos dizer
que muitas das doenças oculares são
desconhecidas.
EDITORIAL
Vamos falar sobre doenças
oculares pouco divulgadas!
Comportamento
por
Márcia Asevedo
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Blefaroplastia: a
plástica que melhora
a expressão do olhar
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Comportamento
A
s cirurgias plásticas estão em alta em tempos em que a
busca pela aparência perfeita tem sido o alvo de muitos
homens e mulheres. Neste contexto, a blefaroplastia promete melhorar a aparência das pálpebras superiores, inferiores ou
de ambas. Segundo a especialista Dra. Eliana Aparecida Forno, “a
cirurgia proporciona aparência rejuvenescida na área ao redor dos
olhos, fazendo com que o olhar pareça mais descansado e alerta”.
A blefaroplastia pode ser indicada a qualquer pessoa, independente de raça ou gênero, sempre que as pálpebras
apresentarem excessos tanto de pele como de gordura e
músculo orbicular. Jovens com bolsas palpebrais, mulheres com dificuldade para se maquiar, idosos com peso nas
pálpebras e diminuição de acuidade visual. Pessoas mais ou
menos vaidosas, mas que buscam uma melhor aparência.
As queixas podem variar entre estéticas e funcionais, pois
qualquer excedente pode gerar aspecto de cansaço, tristeza
e sonolência. Funcionalmente, são muito comuns as queixas
de cansaço à leitura, sensação de peso e até diminuição de
campo visual superior.
INDICAÇÕES
• Estéticas: sempre que alguma queixa estética tem possibilidade de melhora.
• Funcionais: quando por meio da cirurgia há melhora dos excessos e da abertura palpebral, e
consequentemente da sensação de peso, cansaço e campo visual.
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
A cirurgia pode ser indicada em qualquer idade. “Há muitos
anos tive a oportunidade de operar uma criança de seis anos
com Síndrome da Blefarocálase, que são inchaços repetitivos
das pálpebras provocando grande aumento e estiramento da
pele”, declarou a oftalmologista.
“É fundamental
uma boa avaliação
pré-operatória
para averiguar
algum fator que
aumente o risco
ou a dificuldade
da cirurgia.”
Sobre a cirurgia
A cirurgia geralmente é realizada com anestesia local sob sedação anestésica. Os exames pré-operatórios básicos são hemograma, glicemia e coagulograma. Em alguns casos, é necessário
solicitar avaliação cardiológica com risco cirúrgico.
A Dra. Eliana Forno esclarece: “as complicações mais frequentes
acontecem no caso de remoção excessiva de pele ou músculo
orbicular, levando à retração palpebral, ectrópio e oclusão incompleta das pálpebras (lagoftalmo) em vários graus. A complicação mais grave, e temida, é a cegueira, mas felizmente é uma
complicação rara”.
É importante sempre fazer um exame oftalmológico completo e, em alguns casos, avaliar o filme lacrimal. Depois,
uma minuciosa avaliação das quatro pálpebras observando
equivalência, abertura das fendas, tanto vertical como horizontal, sulco palpebral (rugas ao redor dos olhos), quantidade de pele em excesso, músculo e bolsas de gordura.
Observar a nutrição e a coloração da pele, presença de ou-
tras lesões ao mesmo tempo e também o movimento da
pálpebra. Ainda tem que ser observada a posição dos supercílios, pois a alteração no seu posicionamento também
influencia a posição palpebral.
No pós-operatório, o paciente deve fazer repouso e muitas compressas geladas, principalmente nos primeiros três
dias, quando o inchaço é bem maior; depois podem ser
mais espaçadas até a remoção dos pontos. Esse procedimento acalma e promove sensação de bem-estar ao paciente, porque o incômodo maior é o inchaço, já que não
há dor no pós-operatório nas blefaroplastias. Dentre as
medicações prescritas, são usadas pomadas oftalmológicas para os pontos da pele e colírios, dependendo do caso.
CONTRAINDICAÇÕES
• Pacientes com alto risco cirúrgico e que não podem interromper o uso de anticoagulantes;
• Doentes psiquiátricos;
• Quando a expectativa de resultado do paciente é maior do que se consegue com a cirurgia. Daí vem a
importância de uma consulta minuciosa e com bastante tempo para avaliar a psique do paciente.
Oftalmologistas com especialização em cirurgia plástica ocular e cirurgiões plásticos
com experiência em cirurgia palpebral podem realizar a blefaroplastia. Os médicos filiados à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular têm acesso a congressos e cursos
de atualização em cirurgia palpebral.
Fonte: Dra. Eliana Aparecida Forno é oftalmologista especializada em Cirurgia Plástica Ocular.
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Dra. Eliana Forno.
Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
“A blefaroplastia
também pode
ser realizada
para reposicionar
estruturas anatômicas,
proporcionando
maior graciosidade
às pálpebras”,
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Olhando
Quando a visão dupla pode ser
sintoma de doenças graves!
Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Márcia Asevedo
11
por
de perto
Olhando
de perto
O
s sentidos humanos são essenciais para interação entre as pessoas. Os olhos são responsáveis pelo sentido
da visão, possibilitando enxergar tudo que está à volta. Para que esse mecanismo funcione sem causar alterações, a
imagem que entra pela córnea – membrana transparente, localizada na frente da íris – deve ser formada na retina.
Na verdade, quem enxerga não é o olho, mas o cérebro, que
forma as imagens e determina relações com a memória, permitindo a identificação do objeto que está sendo visto, um copo,
cachorro ou uma pessoa.
Simplificando, abrir os olhos e focalizar uma imagem é algo tão
natural que não é percebido. Isso se dá pela perfeita ordenação
das áreas que fazem parte do sistema da visão, que trabalham
conjuntamente. Mas quando um dos componentes deste sistema
apresenta algum tipo de problema, pode ocorrer a visão dupla.
A visão dupla é a condição em que uma pessoa enxerga duas
imagens de um único objeto. É como olhar a imagem de uma
televisão com “fantasma”. Em geral, cada olho produz uma imagem dos objetos, mas o cérebro as une e as vê como se fossem
uma só. No caso da visão dupla, o processo não acontece dessa
forma, ao contrário, o cérebro não consegue reunir as imagens
e as vê como duplas.
“Na verdade, quem
enxerga não é o olho,
mas o cérebro, que
forma as imagens e
determina relações
com a memória...”
SITUAÇÕES
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
• Diplopia: é considerada monocular se a visão é dupla num único olho, mesmo se o outro
olho for fechado, e binocular (usado em conjunto), se a visão dupla só ocorre quando se está
olhando com os dois olhos e desaparece se um dos olhos for ocluído.
• Poliplopia: quando são percebidas três ou mais imagens superpostas de um único objeto.
Em alguns casos, esse distúrbio é relativamente leve; em outros, é necessário
procurar um oftalmologista urgente!
• Problemas com a córnea, em alguns casos, podem causar visão
dupla em apenas um olho. Ao cobrir o olho afetado, o desconforto pode sumir. A superfície danificada do olho distorce a luz recebida, causando visão dupla. Os danos podem acontecer de várias
maneiras: por infecções ou complicações raras em cirurgias.
• A catarata é a doença mais comum a provocar visão dupla.
Se o distúrbio estiver presente nos dois olhos, as imagens em
ambos estarão distorcidas. Uma cirurgia corrige a catarata e
elimina o problema de visão dupla.
• Outra causa de visão dupla são músculos extraoculares fracos. Quando isso acontece, o olho não pode se mover suavemente. Quando se visualiza direções controladas pelo
músculo “fraco”, a probabilidade do surgimento de visão
dupla é considerável.
SITUAÇÕES
• Astigmatismo: é um défice visual provocado, mais frequentemente, pela curva anormal da superfície da córnea.
• Ceratocone: a córnea torna-se gradualmente distorcida, mais fina e com a forma de um cone.
• Pterígio: engrossamento da conjuntiva (membrana fina que reveste o globo ocular e a parte interna das pálpebras).
• Catarata: o cristalino torna-se progressivamente menos transparente, o que perturba a visão.
• Luxação do cristalino: quando os ligamentos que mantêm o cristalino no seu lugar se rompem e o cristalino
sai do seu lugar ou se move.
• Massa ou inchaço da pálpebra: esta situação pode comprimir a parte anterior do olho.
• Olho seco: quando os olhos não produzem lágrimas suficientes ou de qualidade.
• Alguns problemas da retina: a visão dupla pode ocorrer quando a superfície da retina não é perfeitamente
regular, o que pode ter diversas causas.
• Diabetes: esta doença pode conduzir a problemas nos nervos que controlam os movimentos musculares do
olho. Por vezes, isso a visão dupla pode acontecer antes de a pessoa ter conhecimento que sofre de diabetes.
• Miastenia gravis: uma doença neuromuscular que faz com que os músculos se “cansem” facilmente e fiquem fracos.
• Doença de Graves: algumas pessoas com essa doença desenvolvem uma visão dupla devido ao inchaço e
espessamento dos músculos responsáveis pela movimentação dos olhos dentro da órbita.
• Traumatismo dos músculos oculares: os músculos da órbita (local onde fica o globo ocular) podem ser lesados
por um traumatismo facial, especialmente por uma fratura dos ossos da órbita.
“Para tratar a visão dupla é importante conhecer a
causa. Os oftalmologistas são os especialistas mais
indicados para adotar o melhor tratamento para
melhorar os movimentos dos olhos.”
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Fonte: Programa Harvard Medical School Portugal.
Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Qualquer problema que afete um ou mais dos músculos que controlam a movimentação e direção do olhar pode
causar uma diplopia binocular. Estes músculos são denominados músculos extrínsecos do olho, e este tipo de
problemas inclui:
• Estrabismo: um desalinhamento dos olhos que afeta cerca de 4% das crianças com menos de seis anos de idade.
• Lesão dos nervos que controlam os músculos extrínsecos do olho: estes nervos podem ser afetados por
uma lesão cerebral causada por uma infecção, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral, traumatismo
cranioencefálico ou tumor cerebral.
Oftalmopediatria
por
Márcia Asevedo
As secreções genitais
da mãe podem infectar
os olhos do bebê na
hora do parto
A
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
conjuntivite neonatal é uma infecção que envolve as pálpebras e a parte visível do olho.
Podendo ser ligeira ou grave, essa doença pode produzir pequenas ou grandes quantidades de pus no recém-nascido, geralmente infectado durante o seu nascimento, ao
atravessar o canal de parto, a partir do contato com secreções genitais maternas contaminadas.
Isso acontece porque os organismos causadores são geralmente as bactérias que vivem na vagina: a Clamydia, causa mais frequente de conjuntivite neonatal, e o Streptococcus pneumoniae, o
Haemophilus influenzae e a Neisseria gonorrhoeae (bactéria que causa gonorreia).
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Oftalmopediatria
Conjuntivite Gonocócica.
Atenta à importância do assunto, a revista Veja Bem ouviu a oftalmopediatra Islane Castro Verçosa sobre a conjuntivite neonatal, que tem um índice
de transmissão da mãe infectada para o recém-nascido de 30% a 50%.
Dra. Islane Castro Verçosa
Oftalmopediatra
Veja Bem: Quais são os sintomas?
Dra. Islane Verçosa: Existem três tipos de conjuntivite neonatal: a conjuntivite química, cujos sintomas aparecem horas após a instilação do colírio de nitrato de prata, ocasiona olho vermelho, sem secreção. A conjuntivite
gonocócica, que ocorre geralmente no terceiro dia após o nascimento com quadro de secreção abundante,
olhos vermelhos, edema de conjuntiva e vermelhidão das pálpebras. E a conjuntivite de inclusão (Clamydia
trachomatis), que ocorre a partir do sétimo dia após o nascimento, com reação papilar na conjuntiva do tarso
superior e inferior e discreta secreção das pálpebras.
Veja Bem: Como é feito o diagnóstico?
Dra. Islane Verçosa: O diagnóstico pode ser feito pela observação clínica; se tiver secreção, pode ser feito o
exame laboratorial com o uso do esfregaço corado de exsudato conjuntival, e o uso do corante Giemsa em células epiteliais da conjuntiva, que permite o reconhecimento de inclusões intracitoplasmáticas da C. trachomatis,
técnica de difícil aplicação no nível primário de atendimento.
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Veja Bem: Quais são as dicas sobre prevenção?
Dra. Islane Verçosa: Cuidados no pré-natal, fazendo todos os exames e cuidados com a higiene da mãe. Uma medida muito utilizada nos partos vaginais é o uso do colírio de Iodopovidona 2,5%, que é ativo não apenas contra
agentes bacterianos mais importantes da conjuntivite neonatal e também contra a Clamydia trachomatis.
Veja Bem: Como é feito o tratamento?
Dra. Islane Verçosa: Para a conjuntivite química, que é provocada pelos sais de prata do colírio nitrato de prata,
a criança fica boa em alguns dias apenas com colírios de lágrima artificial (lubrificantes).
Para a conjuntivite gonocócica, é recomendado o uso da Penicilina cristalina 100.000UI/kg/dia de 12/12 horas
em crianças com até 7 dias de vida ou 6/6horas em crianças com mais de 7 dias de vida, e orienta-se aplicação
local de solução fisiológica de hora em hora.
Para a conjuntivite neonatal não gonocócica, não há evidência de que o tratamento tópico ofereça benefício
adicional e recomenda-se o uso de eritromicina, 50 mg/kg/dia de 6/6 horas por duas semanas.
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A
visão na melhor idade
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por
Márcia Asevedo
Hábito de fumar e as
doenças oculares
S
egundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo é a
principal causa de morte evitável em todo o mundo, responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis; 85% das mortes por doença pulmonar
crônica (bronquite e enfisema), por 30% dos diversos tipos de
câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim,
bexiga, colo de útero, estômago e fígado), por 25% da doença
coronariana (angina e infarto) e por 25% das doenças cerebrovasculares (acidente vascular cerebral).
O oftalmologista Paulo Elias C. Dantas alerta que o fumo está
associado a um fator de risco para oftalmopatia de graves, glaucoma, catarata e degeneração macular relacionada à idade, levando à cegueira irreversível em muitas delas.
Nos casos em que o fumante usa lentes de contato, existem
grandes chances de desenvolvimento de infiltrados de córnea,
quando comparado a usuários de lentes não fumantes. Pessoas
que usam lentes de contato e fumam têm risco maior de desenvolver uma doença chamada ceratite ulcerativa (um tipo de
infecção na córnea), independentemente do tipo de lentes de
contato que usam.
Doença do sistema nervoso associada a perdas características
de campo visual, em que a hipertensão ocular é fator de risco
maior, o glaucoma está associado à perda irreversível da visão.
“Segundo estudos recentes, há uma fraca correlação entre o hábito de fumar e o glaucoma”, esclarece o especialista. O hábito
de fumar pode ser um dos fatores ambientais que afetam negativamente o nervo óptico, aumentando o risco de glaucoma.
çada, traumatismo, inflamação intraocular persistente, radiação ultravioleta, diabetes mellitus, hipoparatireodismo,
administração prolongada de corticosteroides e índice de
massa corpórea elevado. A catarata apresenta relação epidemiológica com o hábito de fumar, na forma dose dependente e cumulativa.
“Catarata nuclear tem forte
associação com o hábito de fumar
cachimbo, maior até que com o de
fumar cigarros. Há quem defenda
que o excesso de fumaça do
cachimbo possa causar danos direto
ao cristalino, tanto pela entrada
direta dos produtos de combustão
e condensação do tabaco nos olhos
quanto pelo contínuo aumento da
temperatura próxima ao cristalino.”
Dr. Paulo Elias Dantas, oftalmologista.
Fonte: Dr. Paulo Elias C. Dantas é oftalmologista e professor de Oftalmologia do
Setor de Córnea e Doenças Externas do Departamento de Oftalmologia da Santa
Casa de São Paulo.
Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Na literatura médica são citadas várias alterações da superfície ocular em fumantes, como diminuição do tempo de quebra
do filme lacrimal (tempo em que a lágrima permanece íntegra
no olho), mudanças na camada lipídica do filme lacrimal (parte oleosa da lágrima), diminuição da produção basal de lágrima
(necessária para lubrificação dos olhos no auxílio em mantê-los
livres da poeira), diminuição da sensibilidade da córnea e da
conjuntiva, diminuição da concentração de fluído lacrimal e desenvolvimento de tecido adiposo na conjuntiva.
O paciente que fuma e é diabético está ainda mais vulnerável. Isso porque há um efeito aditivo negativo do ato
de fumar que se associa às alterações vasculares induzidas
pelo próprio estado hiperglicêmico. O tabagismo é mais
um dos muitos fatores de risco, que incluem idade avan-
19
A fumaça do tabaco é considerada o mais importante poluidor de ambientes fechados no mundo desenvolvido. Há mais de 4.000 substâncias
na composição da fumaça do tabaco; a maioria
cancerígena, como o 1,3-butadieno, o acrilonitrilo, o benzeno, o benzopireno e hidrocarbonetos
aromáticos policíclicos. As substâncias indutoras
de inflamação mais importantes e identificadas
na fumaça do tabaco são a acroleína, o formaldeído e solventes como o estireno e o fenol. Dependendo do tipo de tabaco usado, encontram-se também metais como o níquel, o cádmio, o
arsênico e ferro, que, inalados em quantidades
abundantes e cumulativas, são potencialmente
tóxicos aos humanos.
Um estudo da ação do humor aquoso (líquido incolor entre
a cavidade do olho, a córnea e o cristalino) demonstrou
um aumento de até 5 mmHg na pressão intraocular imediatamente após fumar. Isso indica que é possível que os
vasoconstrictores seletivos gerem um aumento da pressão
dos vasos epiescleral, impedindo o fluxo normal de escoamento do humor aquoso.
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Ciência
Nova tecnologia em cirurgia
ocular com recuperação em
menos tempo
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Márcia Asevedo
21
por
e tecnologia
Ciência
e tecnologia
S
er submetido a uma cirurgia ocular por si só é uma
questão bastante delicada. Com o surgimento crescente de novas tecnologias, os procedimentos cirúrgicos têm atingido níveis satisfatórios, mas usar o melhor
método representa um desafio. Dados do Ministério da
Saúde mostram que os transplantes de córnea no Brasil
estão crescendo. De 2001 a 2006, houve um aumento de
quase 23% nos procedimentos, e o ano de 2006 fechou
com cerca de 10 mil implantes.
O femtossegundo é uma nova tecnologia a laser que tem
contribuído para o aumento desse número. Utilizado em
cirurgias corneanas com excelentes resultados, permite
uma recuperação mais rápida, de 04 meses; enquanto que
na cirurgia tradicional a recuperação é de aproximadamente 12 meses.
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Caracterizado pela capacidade de realizar incisões precisas
e seguras, que não podem ser atingidas manualmente, o
femtossegundo é um bisturi a laser que tem infinitas possibilidades cirúrgicas oculares, tanto de córnea quanto de
cristalino. O uso do laser na córnea pode ser feito para as
cirurgias refrativas ou para os transplantes.
O risco de complicações intraoperatórias com a lâmina é
de cerca de 1:1.000 enquanto com o microcerátomo — instrumento mecânico usado para fazer corte superficial da
córnea — é de cerca de 1:5.000. Quando uma complicação
ocorre com o laser, não deixa sequelas, ao contrário da lâmina. O uso do microcerátomo está entrando em completo
desuso na maior parte do mundo.
O oftalmologista Wallace Chamon disse que atualmente
existe uma nova abordagem utilizando o laser de femtossegundo para corrigir miopia e astigmatismo sem a necessidade do uso de um excimer laser — radiação luminosa
especial que faze micropolimento da superfície da córnea.
“Esta tecnologia ainda está em desenvolvimento, mas é
promissora”, diz o especialista.
“O outro tipo de cirurgia que
pode ser realizada com essa
tecnologia é a de catarata, pois
proporciona maior segurança para
o endotélio — camada celular
interna dos vasos sanguíneos —
quando comparada com
técnicas convencionais”,
explica o oftalmologista.
O uso desse laser está revolucionando a cirurgia de catarata
e provavelmente será o padrão dessas cirurgias nos próximos
anos. Ele é aprovado para esta finalidade em todo o mundo e
deverá auxiliar a facoemulsificação por ultrassom.
Fonte: Dr. Wallace Chamon é oftalmologista e professor adjunto da Escola Paulista de Medicina – EPM (UNIFESP).
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Papo
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por
de consultório
Márcia Asevedo
Blefarite, hordéolo e calázio.
São a mesma coisa?
A causa exata da blefarite ainda é desconhecida, e sabe-se que ocorre por um conjunto de vários fatores, como predisposição individual,
distúrbios de ansiedade, alteração da flora bacteriana e condições inflamatórias da pele como seborreia, acne rosácea e dermatite atópica.
Pessoas que apresentem quadros muito intensos devem ser investigadas quanto à associação com carências nutricionais, alterações hormonais e até mesmo a deficiência seletiva de imunoglobulinas.
A Revista Veja Bem convidou o Dr. Rodrigo Ferreira de Almeida, oftalmologista, para dar mais informações sobre as três condições que podem afetar as pessoas em qualquer idade. Estima-se que quase 40%
das consultas oftalmológicas nos Estados Unidos sejam motivadas por
sinais e sintomas relacionadas à blefarite, ao hordéolo ou ao calázio.
Dr. Rodrigo Ferreira de Almeida
Oftalmologista
Veja Bem: Hordéolos e calázios causam danos à visão?
Dr. Rodrigo: Não, nenhuma das duas condições afeta a função visual, a não ser quando estão muito volumosos e
podem diminuir o campo visual de forma temporária, mas com recuperação do mesmo após o tratamento adequado. Em crianças, os hordéolos devem ser acompanhados mais atentamente, pois podem evoluir para infecções
da pálpebra e da órbita que podem ser mais graves.
Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Veja Bem: Como se dá a evolução do problema?
Dr. Rodrigo: A evolução da blefarite é, na maioria das vezes, arrastada e os sintomas passam por fases de melhora e piora ao longa da vida. Se não tratada, a blefarite mantém um ciclo de inflamação que leva a hordéolos de
repetição com muito desconforto para o seu portador e necessidade de cirurgias para a remoção de calázios. Ao
longo dos anos, ocorre piora progressiva da função das glândulas palpebrais que podem assim ter a sua produção
de gordura interrompida e evoluir para disfunção da produção lacrimal que, em última análise, pode evoluir para
quadros mais graves inclusive com acometimento da função visual.
25
S
ão condições relacionadas entre si, mas com características diferentes. A blefarite é a inflamação crônica das
pálpebras e pode acometer pessoas em todas as faixas
etárias. Esta inflamação pode afetar as glândulas externas da
pálpebra que se situam em torno dos cílios e principalmente as
glândulas internas, conhecidas como glândulas de Meibomius,
responsáveis pela produção da camada de gordura que faz parte
da lágrima e a impede que se evapore muito rápido, possibilitando, assim, a adequada lubrificação para a superfície ocular. Os
principais sinais e sintomas da blefarite são a vermelhidão das
margens palpebrais e do próprio olho, presença de pequenas
crostas ou “caspas” nos cílios, aumento de secreção e lacrimejamento, ardor, sensação de ressecamento ou de areia nos olhos.
O quadro pode variar de leve a quadros mais intensos. O hordéolo e o calázio, muitas vezes, são consequências da blefarite que
não é identificada e, por isso, não é tratada. O hordéolo ocorre
quando uma das glândulas citadas acima sofre um processo infeccioso agudo pela invasão de uma bactéria presente na pele
palpebral. O calázio, por sua vez, ocorre por uma retenção em
forma de cisto após o quadro agudo e não apresenta mais os
sinais inflamatórios, mas apenas uma nodulação palpebral.
Papo
de consultório
Veja Bem: Qual é o perigo de contágio?
Dr. Rodrigo: Não há perigo de contágio. A infecção ocorre por bactérias da própria pele do indivíduo que fazem
parte da flora bacteriana da grande maioria das pessoas.
Veja Bem: Qual o tratamento indicado para hordéolo e calázio?
Dr. Rodrigo: O hordéolo, por ser uma infecção aguda, deve ser tratado como tal. Na grande maioria dos casos,
colírios e pomadas oftalmológicas com associação de antibióticos e anti-inflamatórios são prescritos para serem
usados de sete a quinze dias. Calor local, quando há possibilidade de drenagem da secreção retida dentro da
glândula, pode ser usado. Essas infecções são, em geral, autolimitadas e o tratamento é instituído para acelerar o
processo, trazer conforto e evitar complicações. Quadros muito intensos e com várias áreas da pálpebra acometidas devem ser acompanhados de perto e antibióticos orais devem ser instituídos em casos selecionados, como
em crianças e idosos.
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O calázio pode e deve ser acompanhado nos primeiros três a seis meses de evolução, já que a grande maioria
regride sem a necessidade de qualquer tratamento. Lesões maiores que, por ação mecânica, causam a queda da
pálpebra superior ou eversão da pálpebra inferior, ou mesmo as que causam constrangimento por sua aparência,
podem ser submetidas à cirurgia para sua remoção. A cirurgia é realizada sob anestesia local e não deixa cicatrizes
na pele palpebral.
Veja Bem: Quais as dicas para evitar o problema?
Dr. Rodrigo: As pessoas portadoras de blefarite devem ser acompanhadas periodicamente pelo oftalmologista, de
acordo com a frequência e intensidade de seus sintomas e para reorientação e manutenção de seu tratamento. A
higiene palpebral diária é fundamental para o controle dessa condição. A blefarite bem controlada pode evitar episódios de hordéolos e calázios, diminuindo a necessidade de tratamentos clínicos e cirúrgicos, além de preservar
a integridade da superfície ocular essencial para a função visual normal. A partir do momento em que o paciente
adquire consciência de sua condição, torna-se aliado do profissional que o assiste com melhora da efetividade de
seu tratamento.
O Dr. Rodrigo Ferreira de Almeida é oftalmologista com foco em: Blefaroplastia — Correção de Ptose, Entropio e
Ectrópio. Remoção de tumores palpebrais com reconstrução palpebral. Vias lacrimais (dacriocistorinostomia); Ptose.
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Prevenir
por
é melhor
Dra. Tânia Shaeffer
médica oftalmologista
Prevenir e tratar doenças
oculares relacionadas ao
trabalho é uma tendência
na Oftalmologia
A
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
s novas tecnologias representam um avanço para sociedade, mas seu uso indiscriminado pode trazer uma série de complicações, principalmente para a saúde da visão. O preocupante é que o uso de tablets, computadores e celulares
acontece mais precocemente, que sem dúvida pode trazer comprometimento ocular
a partir da infância. As diferentes condições do ambiente de trabalho, como umidade
relativa do ar, ventilação, temperatura e iluminação podem afetar diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores. Aqueles que desenvolvem tarefas que exigem maior
atenção são os mais prejudicados.
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Prevenir
é melhor
A ergoftalmologia atua com foco na prevenção e administração
do desconforto e de doenças oculares que tenham uma relação com o ambiente de trabalho, visando à máxima eficácia
com máxima eficiência da função visual. Trata-se de uma área
da ciência multidisciplinar que estuda os ambientes de trabalho,
propondo o melhor relacionamento entre o trabalho e a visão.
Para o oftalmologista, o entendimento desta área da ciência traz
uma melhor compreensão sobre queixas dos pacientes que não
apresentam correlação clínica, mas que tinham sua etiologia no
ambiente de trabalho.
Aplica-se para promover uma conformidade do ambiente de trabalho, que deve ser planejado antecipadamente. Quando não é
possível, e o ambiente não apresenta as condições ideais, os erros
devem ser detectados e corrigidos. Algumas providências podem
ser tomadas em relação aos cuidados com os olhos e com a postura corporal durante o uso de computadores, leituras prolongadas ou tarefas repetitivas, nos diferentes ambientes.
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
A ergoftalmologia também recomenda especial atenção com relação às salas mal iluminadas ou focos de luz no campo de visão, que
alteram o ritmo de abertura das pupilas. Neste tipo de ambiente,
tem-se como resultado um maior cansaço e fadiga dos músculos
dos olhos. Em ambientes com luz azul, presente nas lâmpadas de
halogênio metálicos e muito difundidas em ambientes de trabalho, aumenta-se o risco de degeneração macular.
As empresas precisam estar atentas à importância de investirem
na saúde ocular de seus funcionários. Dependendo das condições do ambiente de trabalho, a visão pode sofrer prejuízos, que
muitas vezes são irreversíveis. Por outro lado, está comprovado
que o cansaço e o desconforto nos olhos diminuem o rendimento dos profissionais. Por isso, é mais do que lógico afirmar que a
empresa que cuida dos olhos do trabalhador aumenta sua produtividade.
Para amenizar os efeitos do uso do computador sobre a visão,
planejamento do ambiente de trabalho e lazer onde se insere o
uso continuado da visão deve ser o primeiro passo. A conscientização dos arquitetos e engenheiros que planejarão ambiente de
trabalho é fundamental, bem como de todos os participantes da
CIPA, médicos do trabalho, enfermeiros e psicólogos. Por isto o
caráter multidisciplinar da ergoftalmologia.
COM A POPULARIZAÇÃO DAS NOVAS
TECNOLOGIAS, AS PRINCIPAIS
QUEIXAS DOS PACIENTES SÃO:
Olho seco, ardência, visão embaçada, sensação de areia nos olhos, além de cansaço visual durante a leitura.
Não existe uma comprovação científica sobre o aumento da
miopia pela leitura excessiva ou uso de computadores, existem
apenas evidências e muitos são os especialistas em todo mundo que passaram a estudar atentamente este fenômeno. Olho
seco funcional, por exemplo, é descrito como uma das entidades comuns em microclima ou macroclima de trabalho, onde
os olhos são submetidos aos mais variados agentes agressores
emanados em decorrência da umidade, temperatura e velocidade do ar ambiente.
A astenopia ocupacional é um fenômeno multifatorial que decorre das condições irregulares do ambiente de trabalho. É uma
síndrome caracterizada por sintomas multifatoriais decorrentes
de alterações da superfície ocular, determinada por alteração
do filme lacrimal durante a jornada de trabalho, por exemplo,
ou por alterações decorrentes da motilidade ocular, por esforço acomodativo devido às atividades oculares intensas; assim
como a cefaleia, distúrbios visuais, tais como visão dupla, visão
borrada, sensação de areia nos olhos, entre outros.
Estes pacientes, muitas vezes poliqueixosos, vão ao consultório
médico oftalmológico e, após o exame minucioso, o oftalmologista não registra alterações clínicas sem considerar as condições de trabalho do paciente. Foi confirmado que há alteração
do filme lacrimal durante a jornada de trabalho, fator este determinante da maioria dos sintomas de astenopia.
A fadiga visual é um mal que atinge um número cada vez maior
de pessoas. Não há um perfil específico, crianças, jovens, adultos e idosos podem ser acometidos por esse problema, na medida em que a visão não seja preservada.
Medidas pessoais podem ser tomadas no sentido de amenizar
as dificuldades causadas por ambientes não planejados. Observar as condições de iluminação e ventilação e temperatura do
local e tentar minimizar os erros. Para o trabalhador, no caso de
uso do computador, o recomendado é que a cada 50 minutos o
usuário faça um pequeno intervalo, redirecionando o olhar para
um ponto distante, ao infinito, com finalidade de relaxamento
da musculatura intrínseca do olho. Também é recomendado
piscar com mais frequência, para permitir um espalhamento da
lágrima sobre a superfície ocular, determinando sua renovação
para a proteção da mesma.
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Causas multifatoriais oriundas das mais variadas fontes, tais
como alterações da umidade relativa do ar, velocidade do ar e
temperatura. Determinando a origem de agentes agressores;
alterações de iluminação do ambiente de trabalho, todos estes
fatores que devem ser planejados e controlados dentro de princípios que preservem a saúde ocular do trabalhador.
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“A fadiga visual é um mal que
atinge um número cada vez maior
de pessoas. Não há um perfil
específico, crianças, jovens, adultos
e idosos podem ser acometidos por
esse problema, na medida em que a
visão não seja preservada.”
idioma
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Por
do esPeCialista
márCia asevedo
Doutor, pode me explicar?
C
omo saber se tudo que é preciso compreender em uma consulta médica fica claro
ao sair do consultório? Esse é um momento em que o médico e o paciente têm a
oportunidade de fazer circular a informação, que, com toda certeza, vai além desse
atendimento.
Nesta seção queremos ajudá-lo a tirar algumas dúvidas sobre termos técnicos, que nem
sempre levam a uma total compreensão de um diagnóstico ou prescrição médica. Não
pretendemos esgotar assunto, mas incentivá-lo a buscar mais informações para conhecer
alguns termos da Medicina; neste caso, da Oftalmologia.
Vamos lá?!
1. CAMADA LIPÍDICA DO FILME LACRIMAL: é a camada mais externa, chamada de óleo ou
lipídica, protege e previne a evaporação da lágrima. É formada pela secreção de uma glândula chamada Meibómio, tem a função de cobrir a camada aquosa, criando uma barreira
que impede que as lágrimas caiam descontroladamente pelo rosto, também servindo para
atrasar a evaporação no olho.
4. METAPLASIA ESCAMOSA: é uma alteração reversível na qual um tipo celular adulto (epitelial ou mesenquimal) é substituído por outro tipo celular adulto. A metaplasia em células
do tecido conjuntivo forma uma cartilagem, tecido adiposo ou osso em tecidos que originalmente não possuem esses elementos.
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3. LISOZIMA DA LÁGRIMA: enzima que combate micro-organismos patogênicos – organismos causadores de infecções –, como as bactérias.
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2. LÁGRIMA BASAL: tem a função de lubrificar os olhos e ajudam a mantê-los livre de poeira. Em sua formação são encontrados: água, mucina, lípidos, lisozima, lactoferrina, lipocalina, lacriti n, imunoglobulinas, glicose, ureia, sódio e potássio. Algumas das substâncias
no fluido lacrimal (tais como a lisozima) tem habilidades para barrar infecções bacterianas,
funcionando como um componente do sistema imunológico do organismo.
idioma
do esPeCialista
5. INFILTRADOS DE CÓRNEA: derramamento de líquido na córnea – tecido transparente, fino e resistente localizado na parte anterior do olho.
6. CERATITE ULCERATIVA: doença causada por infecção, trauma, lágrimas ou incapacidade de fechar as pálpebras completamente. Atinge as camadas externas da córnea, e a consequência desta doença é a possível formação de úlceras graves na córnea.
7. NEUTRÓFILOS: são células sanguíneas leucocitárias (glóbulos brancos) responsáveis pela defesa do organismo, sendo sempre as primeiras a chegarem nas áreas de inflamação.
8. NEUROTRÓFICO: que promove o crescimento ou a regeneração do sistema nervoso.
9. NEUROTROFINAS: família de proteínas que induzem a sobrevivência, desenvolvimento e a função dos neurônios.
10. CRONIFICAR: tornar-se crônico.
11. HUMOR AQUOSO: líquido incolor constituído por água
(98%) e sais dissolvidos (2%) – predominantemente cloreto
de sódio – que preenche as câmaras oculares (cavidade do
olho, entre a córnea e o cristalino).
12. EPIESCLERAL: relativo à camada de tecido que situa-se
entre a conjuntiva e a camada de tecido conectivo que forma
o branco do olho (esclera).
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13. ESTADO HIPERGLICÊMICO: são as complicações metabólicas
mais importantes do diabetes mellitus.
14. HIPOPARATIREODISMO: é uma doença que ocorre quando um tipo de hormônio (PTH – paratormônio), que é produzido pelas glândulas paratireoides, não
funciona ou não é mais gerado. O resultado da falta desde hormônio é a queda
dos níveis de cálcio no sangue, causando vários sintomas e os mais; os mais
comuns são: dormência nas mãos, pés e extremidades, câimbras, dores e espasmos musculares, fadiga ou fraqueza musculares, arritmia cardíaca e a falta
de desenvolvimento do esmalte dentário.
15. MÚSCULO ORBICULAR: músculo que contorna toda a circunferência da órbita (cavidade da face onde estão o bulbo do olho,
músculos, nervos, vasos e o aparelho lacrimal). Divide-se em três
porções: palpebral, orbital e lacrimal. Sua ação consiste no fechamento ativo das pálpebras.
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Linha Direta
por
Márcia Asevedo
Hemorragia subconjuntival,
conhecida como “derrame
nos olhos”, um problema
que assusta!
I
magine a cena: você acorda, se dirige ao banheiro
e ao olhar no espelho se depara com uma grande
mancha vermelha na parte branca do olho. Possivelmente causaria um grande susto!
O oftalmologista José Augusto Alves Ottaiano explica
que isso acontece quando um dos vasos da conjuntiva
(membrana transparente que reveste a parte interna
das pálpebras e o branco do olho) se rompe. Em 80% dos
casos acontece em pessoas com pressão alta, diabéticos
ou por microtraumas causados pelo paciente. O quadro,
popularmente conhecido como “derrame no olho”, é
diagnosticado como hemorragia subconjuntival.
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O especialista alerta que o esforço excessivo, como
tossir repetidamente ou o movimento de náuseas e
vômito, pode causar aumento da pressão venosa, o
que também propicia o surgimento dessa hemorragia subconjuntival, pois são movimentos que requerem muita força e podem romper os pequenos
vasos do olho.
A conjuntiva tem muitos vasos, que são muito pequenos, e quando são rompidos acontece um extravasamento de sangue, que dá uma aparência preocupante
para o paciente. Porém, na maioria das vezes, a situação não é considerada uma emergência, segundo
informações do Dr. Ottaiano. “Embora, na grande
maioria das vezes, não tenha grandes consequências,
o paciente se assusta muito em função da hemorragia”, explica o oftalmologista.
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Veja Bem | 08 | ano 03 | 2015
Linha Direta
Uma pancada na perna, ou em outra parte do
corpo, tem a tendência de causar uma mancha
roxa no local atingido. Mas não causa grande
espanto porque a pele é mais grossa do que a
da conjuntiva, com isso não é possível observar diretamente sangue. Como a conjuntiva é
transparente, o sangue é visto diretamente.
Ainda como tratamento, são usados alguns colírios, principalmente os que têm pequena dose de vaso constritor, para contrair o vaso, que é para esse tipo de hemorragia.
O mais indicado, no aspecto de tratamento, é que o indivíduo,
ao perceber a vermelhidão no olho, coloque uma compressa fria
no local porque contrai os vasos. É IMPORTANTE procurar o oftalmologista porque ele está habilitado para fazer o diagnóstico.
Os casos não são, necessariamente, iguais e nem sempre uma
hemorragia subconjuntival é simples! Pode ocorrer o diagnóstico diferencial de outras situações. É importante paciente procurar um especialista para saber.
A hemorragia subconjuntival, na grande maioria das vezes, não
interfere na qualidade da visão e, embora não seja considerada
uma emergência médica, sempre que o quadro aparecer é importante consultar um oftalmologista. Isso porque outras alterações podem ser semelhantes a essa hemorragia e apresentar
gravidade. O médico explica que, em Medicina, emergência é
relacionada ao risco de vida. Mesmo que a hemorragia subconjuntival não tenha essa característica, a recomendação é procurar um especialista porque o paciente, normalmente, não sabe
definir o problema.
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Os riscos de rompimento de vasos no olho são mais frequentes em pessoas com um pouco mais de idade, principalmente
os hipertensos e diabéticos porque eles já têm uma fragilidade
vascular maior. Ao coçarem o olho, por microtrauma, trauma no
travesseiro e oscilação da pressão arterial – durante a noite ou
a qualquer outra hora –, podem romper algum vaso causando o
extravasamento de sangue na conjuntiva.
Na maioria das vezes não dá sintoma. Normalmente, se já existe
um quadro de vermelhidão ocular decorrente de outras consequências, como processo inflamatório, ela vem associada com
dor e até secreção, no caso de conjuntivite.
Como tratar o problema
A hemorragia subconjuntival não causa danos irreversíveis. Normalmente, em 100% dos casos, essa situação se reverte espontaneamente; mesmo se o volume de sangue for muito exagerado, em duas semanas, ele é absorvido espontaneamente.
“A hemorragia
subconjuntival, na
grande maioria das
vezes, não interfere
na qualidade da
visão e, embora não
seja considerada
uma emergência
médica, sempre que
o quadro aparecer é
importante consultar
um oftalmologista. Isso
porque outras alterações
podem ser semelhantes
a essa hemorragia e
apresentar gravidade”.
Fonte: Dr. José Augusto Alves Ottaiano – mestre e doutor em oftalmologia; responsável pelo serviço de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Marília; atual vice-presidente do CBO.
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