Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 ANÁLISE DE CONVERSORES CMM EM PONTE SEMICOMPLETA FRENTE A CURTOSCIRCUITOS NA LINHA CC JOSE R. LEBRE, EDSON H. WATANABE Laboratório de Eletrônica de Potência, COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro Ilha do Fundão,CEP: 21945-970, Caixa Postal:68515, Rio de Janeiro – RJ E-mails: [email protected], [email protected] Abstract Short-circuit on the DC line is the major deficiency of voltage sourced converters based high voltage direct current (HVDC) system. This paper describes a model of a MMC converter with chopper cells and semi-fullbridge cells and compares its performance when submitted to faults in DC line of a HVDC transmission system. The semi-fullbridge cell adopted needs three semiconductors switches instead of four and solves the redundancy problem from the operations modes of the fullbridge topology. This study is motivated by the actual tendency for investments in very high power multi-terminal HVDC transmission systems which demands robustness against short-circuits. Furthermore, for these multi-terminal systems, there is a demand for a good coordination between the elements of the protection system. Keywords HVDC, MMC, Multilevel converters, DC faults. Resumo O curto-circuito na linha c.c é a principal deficiência de sistemas CCAT (Corrente Contínua em Alta Tensão) baseados em conversores fonte de tensão (VSC). Este trabalho descreve um modelo de conversor CMM com submódulos em meia ponte e ponte semicompleta e compara o desempenho dessas topologias frente a curtos-circuitos no lado c.c de um sistema de transmissão em corrente contínua. O submódulo em ponte semicompleta adotado usa três chaves semicondutoras ao invés de quatro e resolve o problema da redundância de modos de operação da topologia em ponte completa. Esse estudo é motivado pela tendência atual por investimentos em sistemas de transmissão multiterminal em corrente contínua de alta potência que demandam grande robustez contra curtos-circuitos. Além disso, para sistemas multiterminais em corrente contínua existe a demanda por uma coordenação da proteção entre os diferentes pontos de conexão. Palavras-chave CCAT, CMM, Conversores multinível, Curto-circuito CC. rede, como STATCOMs e filtros ativos. A partir dessa topologia, é possível controlar três níveis na saída (estado positivo, negativo e zero). Porém, para aplicação no CMM, somente o estado positivo e o zero são demandados em regime permanente. Por isso, considera-se que alguns estados de operação do submódulo em ponte completa são redundantes, podendo ser eliminado o uso de uma das chaves, reduzindo a quantidade de componentes necessários para a realização do conversor. Sistemas comerciais de CMMs com submódulos em meia ponte (Gemmell, 2008) podem utilizar um tiristor ultrarrápido através do qual ao corrente de curto é desviada até que a proteção c.a atue. Em (Li, 2013) é proposto um método de supressão de defeitos no lado c.c com o uso de chaves bidirecionais baseadas em tiristores ultrarrápidos. Essa técnica fecha um curto-circuito entre os braços do conversor impedindo o sistema c.a de alimentar o curto no lado c.c, que decai até que o sistema possa ser novamente energizado. Em (Soto, 2010) e (Marquardt, 2010), a capacidade do conversor baseado em submódulos em ponte completa é abordada. No presente trabalho é apresentada a estrutura básica do conversor CMM usado no estudo, diferenciando a topologia típica em Meia Ponte da nova topologia proposta em Ponte Semicompleta. São apresentados também, o sistema de controle e as lógicas de operação adotadas para analisar o comportamento do CMM, tanto no desligamento como no religamento, quando o sistema CCAT é sujeito a um curto-circuito do lado c.c, mostrando as vantagens da topologia proposta. 1 Introdução Para construção de sistemas CCAT (Corrente Contínua em Alta Tensão), existem várias topologias de conversores que transformam energia em corrente alternada para corrente contínua. Dentre eles, existem os chamados conversores do tipo fonte de corrente, como o LCC1 (Line Commutated Converter), e os do tipo fonte de tensão, como o Voltage Source Converter1 (VSC). Nos últimos anos ganhou força o Conversor Modular Multinível (CMM) (Marquadt, 2003), que possui vantagens quanto à robustez, confiabilidade e capacidade de transmissão de potência quando comparado aos VSC convencionais de dois e três níveis. Com relação aos conversores fonte de corrente, uma das principais desvantagens dos conversores fonte de tensão é a baixa robustez contra curtos-circuitos na linha c.c (Kim, 2009), uma das razões pelas quais o LCC ainda é o mais utilizado para sistemas de transmissão CCAT usando linha aérea. O CMM típico é constituído de submódulos em meia ponte e, assim como o VSC de dois e três níveis, depende de disjuntores c.a para bloquear a corrente em caso de curto-circuito na linha c.c, o que força a corrente de curto a passar pelo conversor, até que a proteção do lado c.a atue. Entretanto, forçando a corrente a passar através dos capacitores de um CMM, é possível melhorar o desempenho de sistemas CCAT contra curtoscircuitos no lado c.c. Para tanto, podem-se usar submódulos em ponte completa. Esta topologia de submódulo foi apresentada em (Peng, 1995), para aplicação em conversores ligados em derivação com a 2454 1 As siglas para conversores comutados pela linha e para conversores fonte de tensão são mais usadas em inglês (LCC e VSC). Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 em estado de by-pass. Se S1 e S2 estiverem desligadas em todos os submódulos, ainda assim o conversor pode atuar como um retificador, pela operação dos diodos enquanto a rede c.a não for desconectada. A Tabela 2 mostra os modos de operação de um submódulo em ponte semicompleta para operação em um CMM. Em regime permanente, o submódulo trabalha de forma semelhante à meia ponte, com S4 ligada durante toda a operação e D3 fica ocioso. 2 Topologia e Operação do CMM A Figura 1(a) apresenta a estrutura básica do CMM. Cada braço é formado por um número igual de submódulos em série com uma indutância, que na literatura é chamada de indutor buffer (Hagirawa, 2008), que serve para evitar altos di/dt nos instantes de chaveamento. Cada submódulo contém um conjunto de chaves e um capacitor c.c. O conversor CMM típico é composto por submódulos como os da Figura 1(b), em meia ponte. Na Figura 1(c) é apresentada a configuração em ponte semicompleta, que é o circuito utilizado neste trabalho. A soma da tensão dos capacitores no modo conectado de uma perna deve ser igual à tensão da linha c.c. Logo, para a realização do controle, é necessário que em cada instante, metade dos submódulos de cada perna esteja no modo conectado. Capacitor conectado Capacitor desconectado S1 S2 VT1 – VT2 (V) 1 0 0 1 Vc 0 Tabela 2. Modos não redundantes de operação do CMM em ponte semicompleta. S1 S2 S4 VT1 – VT2 (V) 1 0 0 1 1 1 Vc 0 Perna Braço v cc Tabela 1 Modos de operação do CMM em meia ponte. SM 1 SM 1 SM 1 SM 2 SM 2 SM 2 SM 3 SM 3 SM 3 SM 4 SM 4 SM 4 a b SM 1 SM 1 SM 1 SM 2 SM 2 SM 2 SM 3 SM 3 SM 3 SM 4 SM 4 SM 4 Capacitor conectado Capacitor desconectado 3 Comportamento dos Conversores CMM Frente a Curtos-Circuitos CC No momento que ocorre um defeito na linha c.c, a primeira ação de proteção é desligar as chaves semicondutoras dos conversores, de tal modo a protegê-las. Porém, como pode ser visto na Figura 2, durante um curto-circuito na linha c.c, o CMM atua como um retificador, alimentando o curto-circuito indefinidamente até que a proteção c.a atue, ou até que algum diodo de potência seja destruído, abrindo forçadamente o circuito. Além disso, as tensões nos capacitores são mantidas nos valores em que estavam no instante anterior ao desligamento das chaves. Submódulo c (a) S1 D1 T1 S1 C S2 D2 D1 T1 S2 CA D3 T2 C D2 S4 D4 T2 (b) (c) Figura 1 (a) Diagrama do circuito do CMM com 4. (b) submódulo em Meia Ponte; (c) submódulo em Ponte Semicompleta. A Tabela 1 mostra os modos de operação de um submódulo em meia ponte. Quando S1 está ligada, o capacitor do submódulo correspondente está conectado, seja carregando através de D1, ou descarregando através de S1. Com S2 ligada, o submódulo fica Figura 2 Exemplo de caminho da corrente para CMM atuando como retificador durante um curto-circuito na linha c.c. 2455 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 Conversores com submódulos em ponte semicompleta têm comportamento diferente quando submetidos a um curto-circuito na linha c.c. Não há necessidade de atuação do sistema de proteção c.a. O comportamento do CMM frente a um curto-circuito c.c pode ser dividido em três estágios: antes da detecção do curto; decaimento da corrente após o desligamento das chaves; bloqueio após a desenergização das indutâncias dos braços. Do instante do curto-circuito até a sua detecção o CMM opera como se não houvesse curto, porém com a corrente crescente. A partir da detecção do curto-circuito, as chaves são cortadas. Após o corte das chaves, as correntes nos braços conservam o sentido devido à inércia de corrente dos indutores de buffer. Logo, os pares de diodos D2/D3 e D1/D4 conduzem, como mostrado na Figura 3, até que a energia presente nos indutores dos braços decaia a zero. Com isso, todos os capacitores sofrem uma variação de tensão, que depende do nível de corrente no braço no instante de desligamento das chaves. No entanto, como a corrente nos braços pouco ultrapassa a corrente nominal até o bloqueio, esta variação é pequena (poucos por cento da tensão nominal do capacitor). Devido ao sentido da corrente de curto-circuito, na maioria dos casos, a corrente será positiva no sentido de baixo para cima da Figura 3 no momento em que as chaves são desabilitadas. Após o decaimento das correntes nos braços, a nova configuração do circuito impede que haja fluxo de cargas do lado c.a do sistema para a linha c.c. A Figura 4(a) e a Figura 4(b) mostram a configuração equivalente de duas partes do sistema após o desligamento das chaves, onde Vbraço é a soma de todas as tensões dos capacitores em um braço. Além disso, a tensão nominal do elo c.c é igual à Vbraço, pois é controlada com metade dos submódulos de cada perna do conversor. Isso mostra que, após o desligamento das chaves, existe uma tensão duas vezes maior que a tensão nominal do elo c.c entre os terminais de linha c.a e o curto-circuito. Porém, como a tensão do elo usualmente é projetada para ter um valor próximo do valor de pico da tensão de linha c.a, o curto-circuito fica totalmente isolado. CA i+a i-a a Vcb Vbraço Vab Vbraço b i-c Vbraço (a) (b) Figura 4 (a) Limitação do fluxo de cargas entre um braço superior e um inferior. (b) Limitação do fluxo de cargas entre dois braços inferiores. 4 Resultados de Simulação 4.1 Configuração do Sistema Para demonstrar a diferença do uso das duas topologias de submódulos foram feitas simulações no Simulink - Matlab de um sistema de transmissão CCAT ponto a ponto simétrico. O sistema consiste em duas barras c.a que estão interconectadas por uma linha c.c através de transformadores em delta-estrela e de conversores CMM, como na Figura 5. Estes são compostos por 4 submódulos de 10 kV em cada braço, o que resulta em 40 kV de tensão na linha c.c, supondo que não há submódulos reservas. A Tabela 3 resume os dados do sistema simulado. vdq1, idq1, p1 ,q1 T1 Sistema 1 CMM 1 + A B C - icc2 icc1 Cabo Vcc Cabo B1 CMM 2 vdq2, idq2, p2 ,q2 + A T2 Sistema B 2 C B2 Figura 5 Sistema CCAT ponto a ponto. Tabela 3 Parâmetros do sistema simulado. Tensão c.c nominal Potência nominal Corrente c.c nominal Submódulos por braço Tensão nominal dos capacitors Capacitância por Submódulo Indutância por braço Tensão c.a nominal SCR do sistema c.a Reatância do sistema c.a Relação de transformação Frequência nominal Frequência do PWM do CMM Impedância de acoplamento c.a Constante de inércia do CMM Resistência da linha c.c Indutância da linha c.c Capacitância da linha c.c Comprimento da linha i+c i+b i-b Vbraço c Figura 3 CMM em ponte semicompleta sem chave redundante. Durante o processo de extinção do curto-circuito, as correntes atravessam os capacitores sempre de modo a carregá-los. 2456 40 kV 25 MW 625 A 4 10 kV 4700 µF 3 mH 230 kV 5,66 51,92 Ω 10:1 60 Hz 2 kHz 0,01 + j0,15 pu 225,6 ms 0,0398 Ω/km 0,00104 H/km 0,0113 µF/km 50 km Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 4.2 Controle do CMM vd1 Para controlar a tensão na linha c.c e o fluxo de potência do sistema foi utilizado um controle desacoplado baseado em (Haileselassie, 2008), com dois laços de realimentação, um para correntes de referência e outro para as tensões de referência nos eixos estacionários que fornecem o sinal de controle para a modulação. A convenção de sentido de corrente considera positiva a corrente que sai do conversor. Para otimizar a resposta, foram inseridos incrementos na referência de sinal baseado no controle descrito em (Guan, 2011). A partir da transformada de Park com potência constante, tem-se que: Vcc* PI2 3/2 P2* 3/2 (c) PI4 Q2* 3/2 (5) (d) onde corresponde a corrente de referência do conversor que controla o fluxo de potência e éa corrente de referência do conversor que controla a tensão no elo. A equação (4) é acrescentada em (5) para acelerar o controle de tensão na linha c.c. Para a corrente de referência do eixo em quadratura , a diferença entre os dois conversores é a potência reativa de referência desejada em cada barra CA: (7) (8) A Figura 6 apresenta o diagrama de blocos do sistema de controle. Os comandos “Reset” atuam no momento de religar o sistema, pois o mesmo ficaria com o controle saturado se mantivesse o sinal acumulado desde o curto-circuito. As variáveis vd1, vq1, id1, iq1, q1, vd2, vq2, id2, iq2 p2 e q2 são medidas nas barras B1 e B2, respectivamente (Figura 5). A tensão c.c vcc é medida nos terminais do CMM 1. O conversor CMM 1 é o responsável pelo controle da tensão na linha c.c e pela potência reativa na barra do Sistema 1. Enquanto isso, o conversor CMM 2 é responsável pelo controle do fluxo de potência transmitido pela linha e pela potência reativa do Sistema 2. Com isso a potência real na barra do Sistema 1 é igual à potência na barra do Sistema 2 somadas as perdas na linha c.c. A Tabela 4 mostra os ganhos adotados na simulação. Todos os valores estão em pu. Tabela 4 Ganhos utilizados na simulação. Kp5 0,2 Ki5 2 Kp6 0,2 Ki6 2 Kp7 0,2 Ki7 2 vd2 PI7 vd2* id2 R iq2 iq2* L vq2 PI8 vq2* Reset iq2 R id2 L As tensões de referência são enviadas para um sistema de modulação do tipo PDPWM (phase disposition pulse width modulation) (Carrara, 1992), com 2 kHz de frequência de chaveamento. Este método é usado devido ao pequeno número de submódulos no estudo. Com o uso de mais submódulos os métodos de modulação tendem a ter menos chaveamentos por ciclo, proporcionando consideravelmente menos perdas (Qingrui, 2011). Para balanceamento da tensão nos capacitores de cada conversor foi utilizada a lógica de que cada capacitor deve conduzir nos dois sentidos de corrente o mesmo intervalo de tempo. Logo, a cada mudança de nível na saída do controle de modulação, os submódulos são acionados de acordo com o valor de tensão instantânea e o sentido da corrente no braço em que o submódulo está inserido. Em regime permanente, as tensões de linha na saída c.a do conversor são conforme mostrado na Figura 7(a), com nove níveis. A corrente c.a, com baixo conteúdo harmônico é obtida conforme mostrado na Figura 7(b). As tensões e as correntes nos capacitores em regime permanente são conforme mostrado nas Figura 7(c) e Figura 7(d). As correntes possuem valor médio diferente de zero devido a componente c.c da corrente que circula entre os conversores. As tensões de referência são obtidas da seguinte forma: Kp4 0,2 Ki4 2 R L Reset Reset 2/(3*vd2) vq1* Figura 6 Diagrama dos blocos dos controladores da (a) tensão c.c; (b) potência reativa no CMM 1; (c) potência real no CMM 2; (d) potência reativa no CMM 2. (6) . PI6 id2* , para cada q2 vq1 iq1 Reset 2/(3*vd2) L Reset id1 PI3 vd1* R iq1* Reset 2/(3*vd1) p2 (4) Kp3 0,5 Ki3 5 id1 iq1 (b) (3) Kp2 0.2 Ki2 2 id2* q1 Q1* PI5 Reset (a) (2) Kp1 10 Ki1 10 Reset vcc (1) A corrente de referência do eixo direto conversor é calculada por: id1* PI1 4.3 Resposta do CMM em Meia Ponte Kp8 0,2 Ki8 2 Para a simulação, os capacitores começam carregados, de tal modo que um transitório inicial ocorre devido à energização inicial da linha. Uma rampa de potência é dada até que o sistema se aproxime do 2457 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 regime permanente e então, no instante t = 1 s, ocorre um curto-circuito de baixa impedância (1 Ω) entre os dois polos da linha de transmissão c.c no extremo próximo ao conversor que controla o fluxo de potência. Então, quando a corrente na linha c.c atinge 1,6 vezes a corrente nominal em algum dos extremos, considera-se que há um curto na linha. Então é iniciado o processo de proteção e religamento. A primeira ação é desligar todas as chaves dos conversores para evitar que a corrente de curto passe pelos IGBTs. pelo solo (MRTB - Metalic Return Transfer Breaker) que força a extinção do curto-circuito mais rapidamente (Hara, 2001). Após a extinção do curtocircuito, se espera mais 200 ms de tempo morto (Sunabe, 2000) para desenergização da linha e então é enviado o comando para o disjuntor religar, ao qual é dado mais 20 ms de atraso. Neste instante é dado o comando para religar os conversores. A Figura 8 mostra as correntes c.c medidas no ponto de conexão dos conversores com a linha. A partir do instante em que se dá o defeito, os sistemas c.a de ambos os lados da linha fornecem energia, sendo o CMM 2 o que sofre o maior efeito por se encontrar mais próximo ao curto-circuito. Até o momento em que a proteção c.a atua, os diodos de potência devem suportar a corrente de curto cerca de 10 vezes maior que a nominal. A corrente proveniente do CMM 1 demora mais a decair após a abertura da proteção c.a devido a maior impedância vista do defeito. A Figura 9 mostra a tensão na linha c.c medida no conversor CMM 1. Durante o tempo de espera para a atuação da proteção c.a, a tensão oscilou na frequência da linha com valores abaixo da tensão nominal. No momento do religamento, ocorre uma breve sobretensão na linha devido ao carregamento da mesma. A Figura 10 compara a potência real das barras c.a, que flui do Sistema 1 para o Sistema 2. Como após a identificação do defeito o controle dos conversores é desligado, o fluxo de potência no conversor CMM 2 se inverte para alimentar o defeito. No instante de religamento percebe-se um transitório diferente do registrado no início da simulação. Isso ocorre devido ao esforço do controle para regular a tensão dos capacitores de volta para o patamar préfalha, pois, como é mostrado na Figura 11, as tensões nos capacitores são mantidas no patamar em que estavam no momento em que o controle desativou e bloqueou as chaves. Tensões na saída do conversor CMM 1 Tensão (kV) 50 0 -50 2.9 (a) 2.92 2.94 2.96 2.98 Tempo (s) Correntes na saída do conversor CMM 1 3 Corrente (A) 1000 0 -1000 2.9 (b) 2.92 2.94 2.96 2.98 Tempo (s) Tensões nos capacitores dos submódulos 3 Tensão (kV) 10.5 10 9.5 2.9 (c) 2.92 2.94 2.96 2.98 Tempo (s) Correntes nos capacitores dos submódulos 3 6000 Icc 1 500 0 2000 0 -500 -2000 -1000 2.9 (d) Icc 2 4000 Corrente (A) Corrente (A) 1000 2.92 2.94 2.96 Tempo (s) 2.98 0 0.5 1 3 1.5 Tempo (s) 2 2.5 3 Figura 8 Correntes c.c na saída dos conversores em meia ponte. Figura 7 (a) Tensões na saída c.a do CMM 1 em regime permanente. (b) Correntes na saída c.a do CMM 1. (c) Tensão nos capacitores. (d) Corrente que atravessa os capacitores de um braço superior do conversor que controla a tensão. Tensão (kV) 60 Segue-se que, após o curto-circuito, a proteção c.a demora 150 ms para atuar (ONS, 2001), abrindo o circuito e permitindo a desenergização da linha c.c. No momento em que a corrente chega ao patamar de 5 A, é considerada a extinção do curto-circuito. Então, uma chave é acionada para conectar os polos em cada extremidade através de uma resistência, o que termina de descarregar a linha c.c. Para sistemas bipolares é possível o uso do disjuntor de retorno 40 20 0 0 0.5 1 1.5 Tempo (s) 2 2.5 Figura 9 Tensão na c.c medida junto ao CMM 1. 2458 3 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 1500 1000 50 Corrente (A) Potência (MW) 100 0 -50 P1 0 0.5 1 1.5 Tempo (s) 2 2.5 Icc 1 0 Icc 2 -500 -1000 P2 -100 500 -1500 3 Figura 10 Potência real nas barras c.a. 0 0.5 1 1.5 Tempo (s) 2 2.5 3 Figura 12 Correntes c.c dos conversores em ponte semicompleta. 1.05 1500 Corrente (A) Tensão (pu) 1000 1 500 Icc 1 0 Icc 2 -500 -1000 0.95 0 0.5 1 1.5 Tempo (s) 2 2.5 -1500 0.999 3 Figura 11 Tensão nos capacitores. 1 1.001 1.002 Tempo (s) 1.003 1.004 Figura 13 Detalhe das correntes c.c no momento do defeito. 4.4 Resposta do CMM em Ponte Semicompleta Tensão (kV) 50 Com o uso do CMM provido de submódulos em ponte semicompleta, a corrente c.c proveniente do sistema c.a é bloqueada quase que instantaneamente após o curto-circuito. Então, em menos de 2 ms a corrente presente na linha é descarregada, como pode ser visto na Figura 12, e, com mais detalhe, na Figura 13. No momento em que o curto-circuito é considerado extinto, aciona-se uma chave que conecta os polos do sistema através de uma resistência nas duas extremidades para terminar de descarregar a linha. Com efeito, não há necessidade de atuação do sistema de proteção c.a. A Figura 14 mostra a tensão na linha c.c que, no momento do desligamento dos conversores, sofre um transitório para aproximadamente -1 p.u. Este ocorre devido à inércia de corrente dos indutores dos braços do conversor, que conectam os capacitores invertidos no circuito. No detalhe, a Figura 15 mostra o comportamento da tensão durante o transitório. A Figura 16 e a Figura 17 mostram as correntes nos diodos D2 e D3 de um submódulo. Essa corrente de decaimento dos diodos passa pelos capacitores, provocando um pequeno carregamento. O transitório de religamento é mostrado na Figura 18, que mostra a potência real nas barras c.a. Dessa vez, como o defeito é sanado rapidamente, não ocorrem sobrecorrentes no lado c.a nem reversão de fluxo de potência do CMM 2. A Figura 19 mostra as tensões nos capacitores de um braço do conversor CMM 1. O transitório de desligamento foi de baixa potência e não fez a tensão ultrapassar o pico do ripple. Enquanto a ponte semicompleta demora poucos milissegundos para eliminar o defeito, o sistema em meia ponte demanda o tempo do sistema de proteção c.a, tanto para desligar como para ligar. Além disso, o decaimento da corrente de curto-circuito começa num patamar mais elevado, fazendo o tempo de religamento ser maior. 0 -50 -100 0 0.5 1 1.5 Tempo (s) 2 2.5 3 Figura 14 Tensão no elo c.c medida nos terminais do conversor CMM 1. Tensão (kV) 100 50 0 -50 -100 0.999 1 1.001 1.002 Tempo (s) 1.003 1.004 Figura 15 No detalhe, o comportamento transitório da tensão medida no CMM 1 durante o descarregamento da linha c.c após o curto-circuito. Corrente (A) 1500 1000 500 0 -500 0.999 1 1.001 1.002 Tempo (s) 1.003 1.004 Figura 16 No detalhe, a corrente em D2 durante o transitório de desligamento em um dos submódulos do CMM 1. 2459 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 dado pode ser a solução para futuros sistemas de transmissão em c.c multiterminais que também poderão ser construídos com linhas aéreas no lugar de cabos blindados. Corrente (A) 1500 1000 500 0 Agradecimentos -500 0.999 1 1.001 1.002 Tempo (s) 1.003 1.004 O primeiro autor agradece a Capes pela bolsa de mestrado. O segundo autor foi apoiado pelo CNPq (Proc. 305114/2009-3) e pela FAPERJ (E26/ 102.974/2011). Figura 17 No detalhe, a corrente em D3 durante o transitório de desligamento em um dos submódulos do CMM 1. Potência (MW) 50 Referências Bibliográficas 25 Carrara, G., Gardella, S., & Marchesoni, M. (1992). A new multilevel PWM method: a theoretical analysis. Power Electronics, IEEE Transactions on , 7 (3), pp. 497-505. Gemmell, B., Dorn, J., Retzmann, D., & Soerangr, D. (2008). Prospects of multilevel VSC technologies for power transmission. Transmission and Distribution Conference and Exposition, 2008. T #x00026;D. IEEE/PES , pp. 1-16. Guan, M., Xu, Z., & Chen, H. (2011). Control and modulation strategies for modular multilevel converter based HVDC system. In IECON 2011-37th Annual Conference on IEEE Industrial Electronics Society , pp. 849-854. Haileselassie, T. M. (2008). Control of multiterminal VSC-HVDC systems. Hara, S., Hirose, M., Hatano, M., Kinoshita, S., Ito, H., & Ibuki, K. (2001). Fault protection of metallic return circuit of Kii channel HVDC system. ACDC Power Transmission, 2001. Seventh International Conference on , pp. 132-137. 28-30 November 2001. Kim, C., Sood, V., Jang, G., Lim, S., & Lee, S. (2009). HVDC transmission: power conversion applications in power systems. John Wiley & Sons. Lesnicar, A., & Marquardt, R. (2003). An innovative modular multilevel converter topology suitable for a wide power range. (IEEE, Ed.) Power Tech Conference Proceedings, 2003 IEEE Bologna , pp. vol.3, no., pp.6 pp. Vol.3, 23-26 June 2003. Li, X., Song, Q., Liu, W., Rao, H., Xu, S., & Li, L. (2013). Protection of nonpermanent faults on DC overhead lines in MMC-based HVDC systems. Power Delivery, IEEE Transactions on , 28 (1), 483-490. Marquardt, R. (2010). Modular Multilevel Converter: An universal concept for HVDC-Networks and extended DC-Bus-applications. Power Electronics Conference (IPEC), 2010 International , pp. 502-507. 21-24 June 2010. ONS, Procedimentos de Rede. (2001). Submódulo 23.3–Diretrizes e Critérios para Estudos Elétricos. Peng, F. Z., Lai, J.-S., McKeever, J., & VanCoevering, J. (1995). A multilevel voltagesource inverter with separate DC sources for static VAr generation. Industry Applications Conference, 1995. Thirtieth IAS Annual Meeting, IAS '95., Con- 0 P1 P2 -25 0 0.5 1 1.5 Tempo (s) 2 2.5 3 Figura 18 Potências reais em cada barra c.a. Tensão (kV) 1.05 1 0.95 0 0.5 1 1.5 Tempo (s) 2 2.5 3 Figura 19 Tensão nos capacitores. 5 Conclusões Os resultados obtidos nas simulações mostram como a topologia em ponte semicompleta bloqueia curtos-circuitos na linha c.c de forma praticamente instantânea, ao passo que o sistema em meia ponte demanda a operação do sistema de proteção c.a, além de outros dispositivos, como tiristores ultrarrápidos e disjuntores MRTB. Também por sua operação rápida, o sistema em ponte semicompleta evita o alto crescimento da corrente de curto-circuito que ocorre até a proteção c.a atuar no caso do sistema em meia ponte. Com isso, a recuperação do sistema em ponte semicompleta praticamente só depende do tempo estimado de deionização da linha após a eliminação do defeito, que no caso foi assumido como 200 ms. Considerando a eliminação da redundância de uma chave em relação à ponte completa, a topologia adotada tem o incremento de dois diodos e apenas uma chave potência em relação ao sistema em meia ponte. Entretanto, dispensa-se o uso de outros dispositivos de proteção, como os tiristores ultrarrápidos. Há tempos fala-se na literatura sobre a importância de sistemas CCAT multiterminais. No entanto, estes sistemas ainda não foram implementados com conversores fonte de tensão por não existirem disjuntores c.c viáveis no mercado. O conversor aqui estu- 2460 Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 ference Record of the 1995 IEEE. vol.3, no., pp. 2541-2548, 8-12 Oct. 1995. Qingrui, T., Zheng , X., & Lie , X. (2011). Reduced Switching-Frequency Modulation and Circulating Current Suppression for Modular Multilevel Converters. Power Delivery, IEEE Transactions on, 26 (3), pp. 2009-2017, July. Soto-Sanchez, D., & Green, T. (2011). Control of a modular multilevel converter-based HVDC transmission system. In Power Electronics and Applications (EPE 2011), Proceedings of the 2011-14th European Conference on , 1-10. Sunabe, K., Goda, Y., Tanaka, S. (2000). Influence of starting voltage waveform on time sequence to restart DC transmission lines. Electrical Engineering in Japan, 133, n. 4, 2000. 63-70. 2461