Banco de Tecidos Humanos – Pele Dr. Roberto Corrêa Chem Case participante do Prêmio Top Cidadania 2016 Organização: Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais Responsável pelo Projeto: Paulo Renê Bernhard Porto Alegre, 13 de junho de 2016. ÍNDICE 1. Resumo ....................................................................................................................... 1 2. Introdução ................................................................................................................... 2 3. Projeto ......................................................................................................................... 6 3.1. Objetivos.................................................................................................................... 6 3.2. Local .......................................................................................................................... 7 3.3. População Beneficiada .............................................................................................. 8 3.4. Metodologia ............................................................................................................. 11 3.5. Articulação e Participação do Público beneficiado .................................................. 13 3.6. Orçamento de Recursos e Fontes de Financiamento ............................................. 14 3.7. Recursos Humanos ................................................................................................. 16 3.8. Parcerias ................................................................................................................ 17 3.9. Principais resultados obtidos .................................................................................. 18 3.10. Processo de Avaliação ......................................................................................... 21 3.11. Proposta de continuidade da ação ....................................................................... 22 3.12. Ações que evidenciem a preocupação com o Desenvolvimento Sustentável ....... 25 4. Conclusão ................................................................................................................. 26 5. Bibliografia ................................................................................................................ 28 1. Resumo O Banco de Pele tem como funções principais captar, processar, realizar o controle de qualidade, armazenar e disponibilizar finas lâminas de pele alógena humana para os centros de tratamento de queimados e politraumatizados de todo o país. A pele alógena funciona como um curativo biológico temporário para cobertura de lesões cutâneas superficiais a profundas. Sua principal indicação clínica é para os casos em que uma extensa área de superfície corporal está comprometida, como em queimaduras graves e em grandes traumas, inviabilizando a realização do autoenxerto. Esse foi o primeiro Banco de Pele criado no Brasil, e sua metodologia serviu de exemplo para a criação de outros Bancos de Pele no Brasil. 1 2. Introdução O Banco de Tecidos Humanos - Pele Dr. Roberto Corrêa Chem, localizado no Hospital Dom Vicente Scherer do Complexo da Santa de Misericórdia de Porto Alegre, é o primeiro Banco de Tecidos do Brasil e o único do Estado do Rio Grande do Sul. Inaugurado em junho de 2005 com a finalidade de disponibilizar pele alógena a todos os centros de tratamento de queimados e politraumatizados do Brasil, o Banco de Pele de Porto Alegre foi o único em funcionamento efetivo até 2012, sendo, até os dias de hoje, o Banco com maior atividade no país. Além da capital gaúcha, existem mais dois bancos de pele em atividade no Brasil: em Curitiba e em São Paulo, ambos utilizando a expertise do Banco de Pele de Porto Alegre. Em 2007, o Banco de Pele obteve a autorização legal do Ministério da Saúde para realizar a retirada de pele a partir de doadores falecidos (doadores de múltiplos órgãos). Esse foi um grande marco conquistado pelo Banco, pois a autorização para a retirada de outros órgãos para doação já existia, porém, a pele, que é o maior órgão humano, ainda não podia ser retirada para doação. Em 2009, o Ministério da Saúde incluiu na Tabela de Habilitações do Sistema de Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde a habilitação referente ao Banco de Pele Humana, iniciando, a partir de então, o repasse de verba pelo Sistema Único de Saúde para os procedimentos de retirada de pele para transplante e de processamento de pele em glicerol realizados pelo Banco de Pele. O nome do Banco de Pele da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA) é uma homenagem ao Dr. Roberto Corrêa Chem, idealizador, mentor e fundador do Banco. Esse foi um dos seus projetos de vida, na qual o mesmo pode ver este sonho se tornar realidade. Infelizmente, não contamos mais com a presença física do 2 Dr. Roberto Chem, mas seu espírito científico ficou marcado em todos que puderam trabalhar com ele. Desde o ano de 2010, o Banco tem como diretor técnico o médico Eduardo Mainieri Chem, filho de Roberto, que dá continuidade a esse importante trabalho, ajudando a salvar vidas em todo o território brasileiro. O sonho da criação do Banco de Pele foi materializado na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS, por intermédio da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, coordenado por Jorge Luiz Buneder. O Banco de Pele compõe o Projeto da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais da FIERGS, que conta hoje com 14 Bancos Sociais. O Banco de Pele tem como funções principais realizar a captação, o processamento, o controle de qualidade, o armazenamento e a disponibilização de finas lâminas de pele humana alógena (obtida de um indivíduo da mesma espécie, geneticamente distinto) com finalidade de transplante. A pele alógena funciona como um curativo biológico temporário para cobertura de lesões cutâneas superficiais a profundas. Sua principal indicação clínica é para os casos em que uma extensa área de superfície corporal está comprometida, como nas queimaduras graves ou nos grandes defeitos cutâneos provocados por trauma. Um dos fatores mais críticos no manejo e reparo de lesões em pacientes com grandes perdas cutâneas é a adequada cobertura da área lesada de modo a evitar maiores perdas de sangue e líquidos, além de minimizar o risco de infecções bacterianas oportunistas. O tratamento cirúrgico padrão-ouro nesses casos é o enxerto de pele autóloga (do próprio paciente). No entanto, essa abordagem fica bastante limitada quando grandes extensões de pele foram acometidas pela queimadura, ou grandes áreas foram lesadas por traumas físicos, pela restrição de sítios doadores de pele do próprio paciente. Nesses casos, a utilização de pele alógena é um tratamento providencial e pode 3 representar a diferença entre a vida e a morte desses pacientes, havendo redução da mortalidade de grandes queimados quando se dispõe dessa alternativa. Observações da evolução clínica de pacientes com queimaduras de espessura total permitiram concluir que, quanto mais precocemente for realizada a retirada dos tecidos necrosados e enxertia de tecido saudável, melhor poderá ser a recuperação da queimadura. Importante ressaltar que a pele retirada de um doador falecido não causa deformidades no corpo do doador, como mutilação ou sangramento (figura 1). As regiões de onde se retira a pele (figura 2) são áreas passíveis de serem escondidas no processo de velação do corpo e são reconstituídas com apósitos e ataduras ao final do processo de captação da pele. Figura 1. Doador de pele humana: aspecto da região doadora após a retirada. 4 Figura 2. Regiões do corpo das quais se retira a pele no processo de captação. 5 3. Projeto - Case Banco de Tecidos Humanos - Pele 3.1. Objetivo Geral O Banco de Pele tem como objetivo principal disponibilizar pele alógena humana para utilização clínica. 3.2. Objetivos específicos: a) Realizar a seleção dos potenciais doadores de pele; b) Realizar a captação de pele dos doadores; c) Realizar todas as etapas de processamento da pele alógena humana; d) Assegurar a qualidade e a segurança biológica do tecido disponibilizado para uso clínico; e) Armazenar a pele alógena humana até que esta seja destinada para uso clínico; f) Disponibilizar a pele alógena humana para todos os centros de tratamento de queimados e politraumatizados do Brasil. 6 3.2. Local O Banco de Pele está instalado na Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre - ISCMPA, no 7º andar do Hospital Dom Vicente Scherer. A estrutura do Banco de Pele conta com uma área total aproximada de 103,85 m². Esta área inclui a área técnica (03 salas de processamento, antecâmara, circulação, sala de utilidades e sala de armazenamento), a área administrativa, vestiário/banheiro e sala de recepção de tecidos. Os principais equipamentos que compõem a estrutura/rotina do Banco de Pele são: dermátomos, refrigeradores, freezer, banho-maria e capelas de fluxo laminar. Figura 3. Processamento da pele alógena sendo realizado na área técnica do Banco de Pele. 7 3.3. População Beneficiada Os beneficiados com o Banco de Pele são pacientes de todas as raças, sexo, idade, e classe social, situados no território brasileiro, com queimaduras graves ou que possuam grandes defeitos cutâneos provocados por trauma. O tecido conservado no Banco de Pele da ISCMPA está à disposição de todos os centros de tratamento de queimados do país, sendo essa disponibilização gerenciada pela Central Nacional de Transplantes (CNT) através das Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO) de cada Estado. Para solicitar pele para transplante, o médico transplantador deverá entrar em contato com o Banco de Pele para verificar a disponibilidade de estoque de acordo com a sua necessidade. O próximo passo é encaminhar para a CNCDO do seu Estado um formulário contendo os dados do paciente a ser transplantado, a quantidade de pele requerida e os dados do hospital onde será realizado o transplante. Tanto o médico como o hospital de transplante deverão ser cadastrados no Sistema Nacional de Transplantes (SNT). A CNCDO entra em contato com o Banco de Pele e emite uma autorização para a realização do transplante. O Banco de Pele separa, a partir do estoque de tecido liberado, a quantidade de pele solicitada e organiza o seu envio para o local do transplante (figuras 4 e 5). O transporte pode ser feito por via terrestre ou aérea de acordo com a distância do centro de transplante. Em caso de envio aéreo, a CNT solicita à companhia aérea a realização do transporte de forma gratuita. Figura 4. Pele sendo transportada para o local de transplante. 8 Figura 5. Fluxograma para a solicitação de pele alógena para transplante. Uma vez que os custos referentes à captação e ao processamento do tecido são subsidiados exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), não há qualquer custo 9 para o paciente receptor da pele alógena, bem como para o médico transplantador e para o hospital onde será realizado o transplante. O Banco de Pele já realizou o envio de pele para diversos Estados do País, como Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rondônia e Minas Gerais (figura 6). Figura 6. Destinos da pele doada pelo Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre. 10 3.4. Metodologia O Banco de Pele tem como funções principais realizar a captação, o processamento, o controle de qualidade, o armazenamento e a disponibilização de finas lâminas de pele humana alógena com finalidade de transplante. A triagem clínica e sorológica dos potenciais doadores, bem como a entrevista familiar para a obtenção da autorização e consentimento para doação, são os passos iniciais para a obtenção da pele alógena. Estando a triagem inicial em conformidade com o regulamento técnico do Banco de Pele e tendo o aceite familiar para a doação, a equipe do Banco realiza a captação da pele em bloco cirúrgico (figura 7). Após a retirada, a pele é acondicionada em glicerol e encaminhada ao Banco de Pele, para posterior processamento. No Banco de Pele, é realizado o processamento da pele, que é dividido em 3 fases subsequentes, com a finalidade de torná-la estéril. Após a confirmação de esterilidade da pele, realizada a partir de análises microbiológicas do tecido, a pele é liberada para o uso clínico (figura 8). Além disso, no Banco são realizados o controle de qualidade e o armazenamento da pele, a qual permanece sob refrigeração até o momento de ser enviada para transplante. Figura 7. Captações de pele realizadas em bloco cirúrgico. 11 Figura 8. Pele alógena liberada para o uso clínico. 12 3.5. Articulação e participação do público beneficiado Os beneficiados com o Banco de Pele são pacientes de todas as raças, sexo, idade, e classe social, situados no território brasileiro, com queimaduras graves ou que possuam grandes defeitos cutâneos provocados por trauma. O público beneficiado com o trabalho realizado pelo Banco de Pele não participa ativamente das etapas que envolvem todo o processo de doação e disponibilização da pele. FIGURA 9: Doutor Roberto Chem com crianças transplantadas. 13 3.6. Orçamento de Recursos e Fontes de Financiamento O Banco de Pele é um Serviço gerado a partir de um projeto realizado em parceria com a iniciativa privada e viabilizado pela Lei de Solidariedade nº 11853/02. Todo o incentivo financeiro inicialmente aplicado para a construção da área física, bem como para a aquisição de equipamentos e materiais necessários, foi proveniente da Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP S.A., doado na ordem de R$:1.000.000,00. A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS, através da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais viabilizou junto ao Ministério da Saúde a criação da portaria Número 1 para captação de pele. A partir de 2009, através da PORTARIA Nº 2.620, DE 21 DE OUTUBRO DE 2009, os procedimentos realizados pelos Bancos de Pele Humana foram incluídos na Tabela de Habilitações do Sistema de Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde, e na Tabela de Medicamentos e OPM do SUS. Dessa forma, os procedimentos de avaliação do potencial doador, retirada de pele para transplante e processamento de pele em glicerol possuem remuneração específica. Atualmente, a receita do Banco de Pele é proveniente exclusivamente do repasse SUS para os procedimentos realizados pelo Serviço. Os valores repassados pelo SUS para os procedimentos realizados pelo Banco de Pele estão discriminados da seguinte forma (fonte SIGTAP): - Procedimento 05.03.03.010-4 - RETIRADA DE PELE PARA TRANSPLANTE Serviço hospitalar: R$ 370,00 Serviço profissional: R$ 800,00 Total hospitalar: R$ 1.170,00 14 - Procedimentos 05.04.04.002-2 – PROCESSAMENTO DE PELE EM GLICEROL (ATÉ 500 CM²) INFANTIL e 05.04.04.001-4 - PROCESSAMENTO DE PELE EM GLICEROL (ATÉ 1000 CM²) PARA ADULTO Serviço ambulatorial: R$ 259,13 (para cada 100 cm² de pele enviada) 15 3.7. Recursos Humanos O Banco de Pele conta com três colaboradores contratados Eduardo Mainieri Chem (Cirurgião plástico, Diretor técnico do Banco), Aline Francielle Damo Souza (Biomédica) e Luana Pretto (Biomédica). Além desses profissionais, o Banco de Pele ainda conta com quatros médicos cirurgiões plásticos colaboradores voluntários: Pablo Fagundes Pase, Paulo Pereira de Souza Favalli, Rodrigo Dornelles e Rafael Netto. Figura 10. Colaboradores do Banco de Pele da ISCMPA. 16 3.8 Parcerias com outras organizações As principais parcerias realizadas pelo Banco de Pele ao longo dos anos foram com Universidades. Atualmente, o Banco de Pele tem parcerias envolvendo projetos de pesquisa científica com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e com a Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA). Além disso, o Banco tem uma parceria desde sua criação com o Sistema FIERGS, mantenedor da Fundação Gaúcha dos Bancos Sociais, o qual acolhe o Projeto dos 14 Bancos Sociais e é um dos principais articuladores. Figura 11. Criação do Banco de Pele em evento realizado na FIERGS. 17 3.9. Principais Resultados Obtidos A produtividade do Banco de Pele é avaliada através de quatro parâmetros principais: número de doadores, número de envios de pele (pode haver mais de 1 envio para o mesmo receptor), quantidade de pele (cm²) liberada (em estoque) e quantidade de pele (cm²) doada para transplante (gráficos 1 e 2). Quantitativos - Desde o início das captações de pele de doador falecido (2008) até a presente data (junho/2016), o Banco de Pele realizou 270 captações de pele e 214 envios de pele para as mais diversas localidades do Brasil (figura 6). Além disso, neste mesmo período, o Banco de Pele liberou para transplante 207.502,80 cm² de pele e doou 205.136,39 cm² de pele alógena para transplante. - A pele doada neste mesmo período foi destinada para 26 cidades brasileiras, e distribuída entre 36 diferentes hospitais do país. Além do RS, o Banco de Pele já enviou pele alógena para os Estados de SC, PR, SP, RJ, MG, GO, MT, BA, PE, CE, PA e RO. Qualitativos - A pele alógena disponibilizada pelo Banco de Pele, por suas propriedades naturais de curativo biológico, auxilia na manutenção da homeostase do paciente (ao reduzir a perda de água e eletrólitos através da ferida), protege o leito da ferida contra infecções bacterianas, estimula a cicatrização do leito receptor e reduz a dor do paciente. Por todas estas propriedades, a pele fornecida pelo Banco de Pele pode acelerar o processo de recuperação das lesões e ter um impacto importante sobre o prognóstico e sobrevida dos pacientes acometidos, salvando vidas. 18 - O Banco de Pele disponibiliza pele alógena para todos os centros de queimados e politraumatizados do Brasil. Além disso, todo o trabalho realizado pelo Banco de Pele é custeado pelo SUS, sendo que nem o paciente, nem o hospital e nem o médico transplantador terão qualquer custo ao utilizar a pele alógena fornecida pelo Banco. - O Banco de Pele, inserido no contexto de transplantes do Ministério da Saúde, contribui para menores custos hospitalares com o tratamento de pacientes que façam uso da pele alógena, devido à redução nas trocas de curativos, além de contribuir para a redução do tempo de internação hospitalar. - Ao longo dos anos, o Banco de Pele tem fidelizado parcerias com alguns médicos transplantadores, que relatam uma melhora significativa na lesão dos pacientes quando fazem uso da pele alógena, em detrimento de outros métodos e curativos sintéticos. Gráfico 1: Produtividade do Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre (pele alógena liberada e doada para transplante) ao longo dos anos (2008-2016*). *2016: dados parciais até junho. Pele liberada e pele doada para transplante 40000 35000 30000 25000 20000 15000 10000 5000 0 2008 2009 2010 2011 Pele liberada 2012 2013 Pele doada 2014 2015 2016 19 Gráfico 2: Produtividade do Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre (captações e envios de pele alógena) ao longo dos anos (2008-2016*). *2016: dados parciais até junho. Captações e Envios de Pele Alógena 60 50 40 30 20 10 0 2008 2009 2010 2011 2012 Captações (doadores) 2013 2014 2015 2016 Envios (receptores) 20 3.10. Processo de Avaliação O desempenho de produtividade do Banco de Pele é avaliado mensalmente através de um Demonstrativo de Análise Econômica (DAE) disponibilizado pela Santa Casa para que cada setor faça uma análise crítica de seus resultados. Os dados que compõem o DAE são fornecidos semanalmente pelo Banco de Pele para o setor de Controladoria da Santa Casa, e são referentes ao número de doadores, número de envios de pele, quantidade de pele disponibilizada e quantidade de pele enviada para transplante no período. 21 3.11. Proposta de Multiplicação ou Continuidade da ação Além de disponibilizar pele alógena para transplante para todo o território brasileiro, o Banco de Pele ministra treinamentos para equipes de todo o país que tenham como objetivo o estabelecimento de outros Bancos de Pele. Inaugurado em junho de 2005, sendo o primeiro Banco a ser criado no país e manteve-se como o único em funcionamento efetivo até o ano de 2012. Todos os processos, desde a captação até a disponibilização de lâminas de pele alógena para as Unidades de Queimados de todo o Brasil, são executados rigorosamente de acordo com as normas de qualidade e segurança requeridas. Dessa forma, o Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem tornou-se referência nacional para outros Bancos de Pele que foram sendo criados ao longo dos anos, tendo participação ativa na formação de profissionais capacitados para a operação de suas atividades em Banco de Pele. Até o ano de 2013 foram três treinamentos ministrados para os grupos do IMIP de Pernambuco, Hospital Evangélico de Curitiba e Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Atualmente existem projetos para o estabelecimento de Bancos de Pele em outras localidades do país, como por exemplo, no Rio de Janeiro. Para poder beneficiar um número cada vez maior de pacientes grande queimados, politraumatizados e com outras complicações clínicas que envolvam perdas cutâneas, o Banco de Tecidos Humanos quer tornar realidade o uso de membrana amniótica no Brasil. O transplante de pele alógena é o procedimento padrão no tratamento de pacientes que sofreram grandes perdas cutâneas. No entanto, o número de doadores falecidos é um fator limitante para suprir a demanda de pele alógena solicitada para transplante. Dessa forma, se faz necessária a busca por outro substituto dérmico que cumpra as funções de auxílio na regeneração das lesões, que tenha boa disponibilidade e que represente baixo custo para seu processamento e manutenção. 22 A membrana amniótica pode ser facilmente captada ao final do parto, uma vez que é rotineiramente desprezada. Além disso, apresenta baixo custo e é capaz de assegurar condições ideais ao leito da ferida. A membrana amniótica favorece o processo de cicatrização ao mesmo tempo em que diminui a dor local, pois protege as terminações nervosas e reduz as chances de inflamação, como demonstrado na literatura internacional nas últimas décadas. Ao contrário de países como Argentina e Uruguai, o Brasil ainda não possui regulamentação para a distribuição da membrana amniótica pelos Bancos de Tecidos. Faz-se necessária uma legislação para captação, preservação e disponibilização da membrana amniótica para transplante, para que todo o processo seja realizado de maneira semelhante ao processamento da pele alógena de forma a garantir a segurança devida para os receptores do tecido. No momento em que os Bancos de Tecidos do Brasil tiverem uma regulamentação a qual seguir, equipes de obstetras, bem como enfermeiras de centros obstétricos, podem começar a acompanhar gestantes potenciais doadoras do tecido. Como a captação de membrana amniótica ocorre ao final do parto, preferencialmente de partos cesárea, devido aos cuidados com assepsia e risco de possíveis contaminações microbianas, e não oferece riscos para a gestante, haverá aumento na disponibilidade de curativos biológicos para pacientes queimados de forma rápida e com baixo custo visando o benefício de grandes queimados e de pacientes com grandes perdas cutâneas. De janeiro a dezembro de 2015, o Serviço da Maternidade da Santa Casa de Porto Alegre realizou 1.604 cesarianas, uma média de 134 partos por mês. Estimando-se que o Banco de Tecidos realizasse a captação de membrana amniótica de 80% dos partos, ao final de 2015 os estoques deste tecido seriam de aproximadamente 1.026.560 cm². Dessa forma, a captação da membrana amniótica aumentaria a disponibilidade de tecidos para 23 transplante em mais de 120 vezes. Com esta quantidade de tecido em estoque, seria possível atender, além de grande e gravíssimos queimados, pacientes com traumas menores e não tão profundos, utilizando-a como um curativo em zonas doadoras de enxerto de pele autógeno ou até mesmo como curativo biológico temporário em queimaduras de segundo grau profundas em crianças, por exemplo. Além disso, o tecido poderia ser fornecido para utilização na oftalmologia, para reparos de lesões oculares. Devido ao envio de membrana amniótica pelos bancos de tecidos da Argentina e do Uruguai, o Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem teve uma experiência bastante positiva com o uso deste recurso biológico no tratamento de pacientes com queimaduras cutâneas. Para que o fornecimento deste curativo biológico de grande valia para os Centros de Queimados do país seja continuado, é preciso que haja regulamentação para captação, processamento e envio deste tecido. O Banco de Tecidos Humanos Dr. Roberto Corrêa Chem está buscando, de forma ativa, a aprovação de uma lei que permita ao Banco disponibilizar membrana amniótica para transplante alógeno de modo a suprir a demanda nacional de atendimento a pacientes grandes queimados e com grandes perdas cutâneas. 24 3.12 Ações que evidenciem a preocupação com desenvolvimento sustentável da Comunidade O Banco de Pele disponibiliza pele alógena para todos os centros de queimados e politraumatizados do Brasil. Além disso, todo o trabalho realizado pelo Banco de Pele é custeado pelo SUS, sendo que nem o paciente, nem o hospital e nem o médico transplantador terão qualquer custo ao utilizar a pele alógena fornecida pelo Banco. Dessa forma, o Banco de Pele, inserido no contexto de transplantes do Ministério da Saúde, contribui para menores custos hospitalares com o tratamento de pacientes que façam uso da pele alógena, devido à redução nas trocas de curativos, além de contribuir para a redução do tempo de internação hospitalar. 25 4. Conclusão Há onze anos o Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem disponibiliza pele alógena para transplante às Unidades de Queimados de todo o Brasil, seguindo rigorosamente às normas de qualidade e segurança. Até o ano de 2012, era o único banco de tecidos em atividade no país e até os dias de hoje é referência para outros serviços, ministrando treinamentos aos bancos que estão surgindo. Durante este período, o Banco de Pele da Santa Casa beneficiou mais de duas centenas de pacientes vítimas de queimaduras graves, além de ter atuado de forma ativa, não medindo esforços, no auxílio às vítimas da tragédia da Boate Kiss, de Santa Maria. Buscando o constante aprimoramento dos seus processos, bem como a extensão no beneficiamento de pacientes vítimas de grandes perdas cutâneas, o Banco de Pele conta com vários projetos de pesquisa em parceria com grandes Universidades, bem como projetos internos que representam a base para o seu progressivo crescimento e para a melhoria da qualidade e do alcance do Serviço prestado à comunidade. Um dos grandes projetos idealizado pelo Serviço é o estabelecimento de um Centro de Medicina Regenerativa vinculado ao Banco de Tecidos Humanos. Com a agregação deste projeto, a pesquisa e a utilização das mais modernas tecnologias como cultura de tecidos e células-tronco, poderão completar o elenco de tecnologias de ponta, tanto no tratamento de pacientes, como no desenvolvimento de tecnologias que poderão ser agregadas ao arsenal terapêutico atual. As potencialidades de desenvolvimento deste assunto transcendem o dia a dia do exercício médico e expandem os limites para a Medicina do futuro. Dessa forma, o Banco de Pele da ISCMPA caracteriza-se por ser um Serviço de qualidade à disposição da sociedade e que possui um grande potencial de crescimento 26 com vistas a ampliar o espectro de condições clínicas em que possa atuar, beneficiando um número cada vez maior de indivíduos, fornecendo produtos com tecnologia agregada e com garantia de qualidade assegurada. 27 5. Bibliografia 1. Kagan RJ, Robb EC, Plessinger RT. Human skin banking. Clin Lab Med. 2005; 25 (3):587-605; 2. Liu J, Sheha H, Fu Y, Liang L, Scheffer C and Tseng. 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