Eventos Adversos como Indicadores de Resultado

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Carla Rodrigues Mendes
Eventos Adversos como Indicadores de Resultado: Uma forma de
avaliar a assistência ao paciente com PICC.
FACULDADE MÉTODO DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO (LATO SENSU)
MBA GESTÃO EM SAÚDE E CONTROLE DE INFECÇÃO
HOSPITALAR
São Paulo
2015
Carla Rodrigues Mendes
Eventos Adversos como Indicadores de Resultado: Uma forma de
avaliar a assistência ao paciente com PICC.
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado à Faculdade Método de São
Paulo, como requisito parcial para
obtenção do título de Especialista em
Gestão em Saúde e Controle de
Infecção.
Orientadora:
Profª Ms Thalita Gomes do Carmo
São Paulo
2015
2
Mendes, Carla Rodrigues
M49e
Eventos adversos como indicadores de resultado: Uma forma de auxiliar a
assistência ao paciente. [manuscrito] / Carla Rodrigues Mendes
28f.,enc.
Orientador: Thalita Gomes do Carmo
Monografia: Faculdade Método de São Paulo
Bibliografia: f.28
1.
Eventos adversos 2. PICC 3. Enfermagem e indicadores de qualidade I.
Título
CDU: (043.2)
3
RESUMO
A melhoria da qualidade é um aspecto importante e está diretamente relacionado à
assistência à saúde. E quando se pensa em qualidade é preciso uma abordagem sistemática
para a análise de desempenho daquilo que se quer melhorar. Para isso é necessário utilizar
indicadores com a finalidade de medir a diferença entre uma situação que se espera atingir e a
situação atual. Tendo em vista que o uso do cateter central de inserção periférica (PICC) é
uma técnica recente na prática de enfermagem, a utilização de indicadores para avaliar se esta
prática está sendo realizada dentro dos padrões desejáveis é uma forma do profissional
mensurar a qualidade de sua assistência. Questão norteadora: quais os eventos adversos
mais incidentes relacionados à assistência ao paciente em uso de PICC? Objeto de Estudo
Avaliação da assistência prestada através de indicadores de resultado baseados em eventos
adversos. Objetivos: Descrever os eventos adversos mais prevalentes relacionados ao uso do
PICC baseado em literatura; Definir quais destes eventos adversos podem ser utilizados como
indicadores de processo; Sugerir taxas para avaliação de indicadores de resultado visando
avaliar a assistência prestada ao paciente com PICC. Os indicadores de resultado elaborados a
partir do EA/complicações serão essenciais na prestação de cuidados de qualidade ao paciente
e auxiliarão no desenvolvimento de padrões aceitáveis de segurança. O uso de dispositivos
intravenosos requer conhecimento, destreza e habilidade no manuseio pela equipe de
enfermagem e demais profissionais da saúde, reduzindo assim a ocorrência de EA e
prolongando a permanência do cateter. O comprometimento da equipe na utilização dos
indicadores de resultado como ferramenta para a melhoria da qualidade assistencial com
ênfase nos registros dos EA poderá subsidiar estudos futuros, contribuindo para o
aprimoramento e qualificação da prática de enfermagem na inserção, manutenção e avalição
da utilização do PICC, assim como para alcançar uma assistência de excelência.
Palavras-chave: Eventos adversos, PICC, Enfermagem e Indicadores de Qualidade.
4
ABSTRACT
Quality improvement is an important aspect and is directly related to health care. And when
they think of quality it takes a systematic approach to performance analysis of what do you
want to improve. For this it is necessary to use indicators in order to measure the difference
between a situation that is expected to be achieved and the current situation. Considering that
the use of peripherally inserted central catheter (PICC) is a recent technique in nursing
practice, the use of indicators to assess whether this practice is being held within the desirable
standards is one way of measuring the quality of your professional assistance. Guiding
Question: What adverse events more incidents related to PICC and that can be used as
indicators of outcome? Object of study: The occurrence of adverse events related to the use
of PICC as result indicator for evaluation of the assistance. Objectives: According to the
literature which describe the main adverse events related to the use of PICC; Set the result
indicators related to the occurrence of adverse events in the nursing care provided to patients
with PICC; Existing indicators in the literature suggest that relate to the present study. The
created result indicators from the EA/complications will be essential in providing quality care
to the patient and assist in the development of acceptable safety standards. The use of
intravenous devices requires knowledge, skill and ability in handling by nursing staff and
other health professionals, thereby reducing the occurrence of EA and prolonging the stay of
the catheter. The commitment of the team in the use of result indicators as a tool for
improving the quality of health care with emphasis on records and may provide future studies,
contributing to the improvement and qualification of the practice of nursing in insert,
maintenance and evaluation of the use of the PICC, as well as to achieve an excellence
service.
Key words: Adverse Events, PICC, Nursing and Quality Indicators.
5
SUMÁRIO
Questão norteadora: .................................................................................................................. 8
Objeto de Estudo: ...................................................................................................................... 8
Objetivos: .................................................................................................................................. 8
Relevância ................................................................................................................................. 9
REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................... 10
Qualidade .................................................................................................................................10
Indicadores de resultado ...........................................................................................................10
Eventos Adversos .................................................................................................................... 12
Cateter central de inserção periférica (PICC) ......................................................................... 12
METODOLOGIA ................................................................................................................... 14
APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................ 16
DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 21
Produção de taxas de eventos adversos. .................................................................................. 22
Indicador de resultado da assistência à saúde ao paciente em uso do PICC: Oclusão do PICC.
.................................................................................................................................................. 23
Indicador de resultado da assistência a saúde ao paciente em uso do PICC: Ruptura. ........... 23
Indicador de resultado da assistência a saúde ao paciente em uso do PICC: Infecção. .......... 24
Indicador de resultado da assistência a saúde ao paciente em uso do PICC: Infiltração......... 25
Indicador de Resultado: Migração/mau posicionamento do PICC. ........................................ 25
Indicadores Assistenciais ........................................................................................................ 26
Infecções relacionadas ao acesso vascular central (IAVC): ................................................... 27
Indicadores de Resultado ........................................................................................................ 28
CONCLUSÃO .........................................................................................................................29
6
INTRODUÇÃO
A melhoria da qualidade é um aspecto importante e está diretamente relacionado à
assistência à saúde. No que diz respeito às instituições hospitalares, o enfoque na qualidade
tem como objetivo oferecer à clientela serviços com qualidade total, livre de riscos e danos,
visando à satisfação e segurança do cliente/paciente (Nascimento, 2008).
Com a finalidade de reduzir os desvios que podem ocorrer na assistência e garantir a
qualidade nas instituições é necessário realizar a medição por meio de componentes
estruturais, metas, processos e resultados, seguido de alterações para a melhoria do
serviço/assistência.
E quando se pensa em qualidade é preciso uma abordagem sistemática para a análise
de desempenho daquilo que se quer melhorar. Para isso é necessário utilizar indicadores com
a finalidade de medir a diferença entre uma situação que se espera atingir e a situação atual,
ou seja, ele indicará se o que está sendo feito está ou não dentro da meta desejada. Em última
análise, um indicador permite quantificar dados relacionados à Melhoria de Qualidade
(Zambon, 2008).
Existem três tipos de indicadores envolvidos em qualidade: estrutura, processo e
resultado. Exemplificando estes termos para a área de assistência à saúde, os indicadores de
estrutura estão relacionados a quantidade e qualidade de equipamentos disponíveis em
determinado setor da unidade hospitalar; os indicadores de processo envolvem o que se faz
em um hospital, por exemplo, como certo procedimento é realizado. E os indicadores de
resultado medem o final da linha, ou seja, se a Estrutura e o Processo fizeram diferença: se
tenho uma taxa de mortalidade de meus pacientes compatível com a literatura para aquela
doença, por exemplo, (Zambon, 2008).
Neste contexto de avaliação dos serviços, onde se inclui a assistência de enfermagem,
se inserem os indicadores de resultado que constituem um importante instrumento gerencial,
tornando possível a avaliação objetiva da qualidade. São vários os indicadores utilizados em
hospitais, entre eles: taxa de mortalidade, tempo de permanência hospitalar, taxa de
readmissão imediata, taxa de infecção hospitalar, complicações cirúrgicas e percentual de
cesáreas. Porém outros indicadores vêm sendo incorporados como guias para monitorar a
qualidade, entre eles as taxas de eventos adversos (EA) (Nascimento, 2008).
Nas instituições hospitalares, falhas na assistência ao paciente podem ser encontradas
em várias situações, incluindo nos procedimentos relacionados à terapia intravenosa.
7
Diferentes estudos em unidades hospitalares têm explorado os EA por meio de sua
caracterização, bem como das consequências aos pacientes.
Segundo Nascimento, 2008:
Eventos adversos (EA) são ocorrências indesejáveis, porém preveníveis, de natureza
danosa ou prejudicial que comprometem a segurança do paciente que se encontra
sob os cuidados dos profissionais de saúde.
Tendo em vista que o uso do cateter central de inserção periférica (PICC) é uma
técnica recente na prática de enfermagem, a utilização de indicadores para avaliar se esta
prática está sendo realizada dentro dos padrões desejáveis é uma forma do profissional
mensurar a qualidade de sua assistência.
O cateter central de inserção periférica representa um grande avanço da terapia
intravenosa. Trata-se de um dispositivo com tempo de permanência longo e de fácil
instalação, associado à menor risco de complicações mecânicas e infecciosas.
Assim como existem inúmeras vantagens relacionadas ao uso deste dispositivo há
eventos adversos inerentes ao mesmo. Devido à dificuldade de mensurar a qualidade da
assistência, torna-se necessário o uso de mecanismos que facilitem este processo. Tendo em
vista esta problemática, tais eventos adversos podem ser utilizados como indicadores de
resultado da assistência prestada ao paciente em uso de PICC, pois sua ocorrência está
relacionada a maneira com que os procedimentos são realizados.
Questão norteadora:
Segundo a literatura, quais os eventos adversos mais incidentes relacionados à
assistência ao paciente em uso de PICC?
Objeto de Estudo:
Avaliação da assistência prestada através de indicadores de resultado baseados em
eventos adversos.
Objetivos:
Descrever os eventos adversos mais prevalentes relacionados ao uso do PICC baseado
em literatura;
Definir quais destes eventos adversos podem ser utilizados como indicadores de
processo;
Sugerir taxas para avaliação de indicadores de resultado visando avaliar a assistência
prestada ao paciente com PICC.
8
Relevância
A qualidade da assistência prestada ao paciente é um assunto de grande destaque
atualmente e a utilização do PICC vem crescendo nos últimos anos. A inserção do PICC pode
ser realizada por médicos neonatologistas e enfermeiros, sendo estes últimos, respaldados pela
Resolução 258/2001 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), qualificados e/ou
capacitados para tal. Torna-se este estudo relevante, pois são necessários meios para avaliar a
assistência prestada aos pacientes que utilizam este dispositivo, sendo esta avaliação possível
através da utilização dos eventos adversos como indicadores de resultado. Sendo muitos dos
eventos adversos evitáveis, quando a técnica de inserção e manutenção do PICC é realizada
da forma preconizada, estes são uma forma adequada de avaliar a assistência prestada. O
presente estudo é relevante por contribuir com o enriquecimento científico sobre a temática e
disponibilizar aos profissionais materiais para direcionarem sua assistência.
9
REVISÃO DE LITERATURA
Qualidade
A melhoria da segurança do paciente e da qualidade da assistência à saúde tem
recebido atenção especial atualmente em âmbito global.
Segundo Donabedian, 1978 apud ANVISA, 2011:
No campo relacionado com a assistência à saúde, definiu qualidade como “a
obtenção dos maiores benefícios com os menores riscos ao paciente e ao menor
custo”, focando na tríade de gestão de estrutura, processo e resultado.
O estudo da estrutura avalia as características dos recursos que se empregam na
assistência à saúde e considera os seguintes componentes: medidas que se referem à
organização administrativa da assistência à saúde; descrição das características das
instalações, da equipe multidisciplinar disponível, fundamentalmente em relação à sua
adequação com as normas vigentes; perfil dos profissionais empregados, seu tipo, preparação
e experiência (Reis, 1990).
A avaliação de processo descreve as atividades do serviço de assistência à saúde. Esse
tipo de avaliação está orientado, principalmente, para a análise da competência profissional no
tratamento dos problemas de saúde, isto é, o que é feito para o paciente com respeito à sua
doença ou complicação particular. A avaliação do processo compara os procedimentos
empregados com os estabelecimentos como normas pelos próprios profissionais de saúde.
Segundo Donabedian, a metodologia dos estudos de processo pode ser dividida de duas
maneiras: observação direta da prática e os estudos baseados nos registros médicos (Reis,
1990).
A avaliação do resultado descreve o estado de saúde do indivíduo ou da população
como resultado da interação ou não com os serviços de saúde. Como, em termos de saúde, os
resultados se devem a muitos fatores, a sua medida e avaliação constituem o que existe de
mais próximo em temos de avaliação do cuidado total (Reis, 1990).
Indicadores de resultado
Quando se pensa em melhoria de qualidade deve-se ter em mente a necessidade de
uma abordagem sistemática para a análise de desempenho daquilo que queremos melhorar.
Sendo que esta melhoria pode abranger desde algo individual até algo coletivo. Dentro dessa
sistematização, é preciso ter parâmetros para saber se um determinado objetivo de melhoria
foi alcançado ou não. Existem diversas formas de se avaliar algo. Podem ser avaliadas a
10
eficiência (alcance de objetivos com menor utilização de recursos), a eficácia (alcance de
objetivos propostos) ou a qualidade de um processo (alcance de objetivos realizados da
melhor forma possível).
Segundo Zambon, 2008:
Para isso é necessário o uso de indicadores. Um indicador é um parâmetro que
medirá a diferença entre a situação que se espera atingir e a situação atual, ou seja,
ele indicará se o que está sendo feito está ou não dentro da meta desejada.Em última
análise, um indicador permite quantificar dados relacionados à Melhoria de
Qualidade.
Um bom indicador precisa ter algumas características básicas tais como ser de fácil
entendimento (deve ser capaz de tirar suas conclusões, característica que é fundamental para
sua utilidade, pois para que o sistema de medição sirva de impulso para a melhoria, ele deve
ser compreendido por quem está envolvido nessa melhoria que se busca); ser econômico
(indicadores que são trabalhosos para serem calculados tendem a não funcionar, portanto, os
dados para seu cálculo também devem estar facilmente disponíveis); estar disponível (todos
os envolvidos devem ter acesso ao indicador que reflete seu trabalho. Além disso, essa
disponibilidade deve ser rápida e frequente, pois dados atrasados impedem que propostas de
melhoria sejam desenvolvidas a tempo de não permitir que aquilo que está errado perdure);
deve ser testado no campo (um indicador só é bom se foi testado e comprovado como útil na
prática) (Zambon, 2008).
É nesse contexto de avaliação de serviços, na qual se incluem a assistência de
enfermagem, que se inserem os indicadores de resultados que constituem importante
instrumento gerencial, sem os quais é impossível a avaliação objetiva da qualidade. Estes são
definidos como representações quantitativas ou qualitativas de resultados (Nascimento, 2008).
Os indicadores de resultado são ferramentas de avaliação interna e externa aos
serviços. Tem como utilidades mais comuns: avaliar se intervenções estariam alcançando o
resultado esperado; avaliar em que extensão os resultados foram alcançados; avaliar em que
extensão os profissionais adotaram práticas mais seguras; avaliar em que extensão o programa
levou a melhoria nos conhecimento e as atitudes de boas práticas; avaliar se os planejadores e
os participantes estão satisfeitos com o resultado; avaliar como os profissionais se sentiram
nas intervenções (APECIH).
11
Eventos Adversos
Os eventos adversos (EA) são considerados ocorrências indesejáveis, porém
preveníveis, de natureza danosa ou prejudicial que comprometem a segurança do paciente que
se encontra sob os cuidados dos profissionais de saúde (Nascimento, 2008).
Até recentemente os eventos adversos, os erros e os incidentes associados à assistência
à saúde eram considerados inevitáveis ou reconhecidos como um ato realizado por
profissionais mal treinados (ANVISA, 2011).
Segundo a ANVISA, 2011:
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que esses danos ocorram em
dezenas de milhares de pessoas todos os anos em diversos países. Dados do Instituto
de Medicina/EUA indicam que erros associados à assistência à saúde causam entre
44.000 e 98.000 disfunções a cada ano nos hospitais dos Estados Unidos (Kohn et
al., 2000). Na Europa, os estudos realizados sobre a Qualidade da Atenção
Hospitalar mostraram que um a cada dez pacientes nos hospitais europeus sofrem
danos evitáveis e eventos adversos ocasionados durante a assistência recebida.
Esses danos podem ser incapacitantes, com sequelas permanentes, além de levar ao
aumento do custo e da permanência hospitalar e, até mesmo, resultar em morte prematura
como consequência direta das práticas em saúde inseguras. Portanto é importante que sejam
avaliados com o intuito de serem prevenidos, garantindo assim o alcance de uma assistência
com qualidade e segura para o paciente.
Cateter central de inserção periférica (PICC)
O uso do cateter central de inserção periférica (CCIP) encontra-se em expansão,
devido aos resultados positivos de seu emprego e a utilização de materiais biocompatíveis, na
fabricação do cateter, proporcionando melhor gerenciamento dos riscos, com maior segurança
e conforto para o paciente (Baiocco, 2010).
O cateter central de inserção periférica (peripherally inserted central venous catheter –
PICC) é um dispositivo vascular de inserção periférica com localização central. Possui lúmen
único ou duplo e é constituído de poliuretano ou de silicone (os de silicone são mais flexíveis
e causam menor irritação à parede dos vasos e interação medicamentosa). Esses materiais são
bio e hemocompatíveis e menos trombogênicos, dificultando a agregação de microorganismos em sua parede, por esta razão podem permanecer por período prolongado, que vai
desde várias semanas até seis meses de terapia intravascular para administração de
antibióticos analgésicos, nutrição parenteral, quimioterapia e repetidas transfusões sanguíneas,
além de permitir monitorização hemodinâmica (Baggio, 2010).
12
A inserção do PICC é um procedimento complexo que exige capacitação técnica.
Porém pode ser inserido à beira leito por enfermeiros capacitados e médicos neonatologistas
habilitados. O enfermeiro tem competência técnica e legal para inserir e manipular o PICC,
amparado no Brasil pela Resolução nº 258/2001, do Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN), desde que submetido à qualificação e/ou capacitação profissional. Além disso, é
requerido que o enfermeiro possua embasamento teórico e habilidade técnica que suportem a
tomada de decisão clínica e a promoção de resultados assistenciais efetivos e positivos na
inserção do PICC, de acordo com a especificidade da terapia medicamentosa (Baggio, 2010).
Jesus, (2007) descreve as indicações e contraindicações deste dispositivo:
As indicações para o seu uso incluem terapias de duração prolongada (acima de uma
semana); administração de nutrição parenteral com concentração de dextrose maior
que 10%; infusão de medicamentos vesicantes, irritantes, vasoativos, de soluções
hiperosmolares ou com pH não fisiológico, a exemplo de alguns antibióticos e de
quimioterápicos antineoplásicos; administração de hemoderivados, medida de
pressão venosa central e coleta de sangue. As contra-indicações ao uso deste
dispositivo incluem administração de grandes volumes em bolo, lesões cutâneas ou
infecção no local da inserção, retorno venoso prejudicado, situações de emergência,
trombose venosa, coleta de sangue com cateteres de diâmetro menor que 3.8 Fr,
hemodiálise e recusa por parte dos familiares.
Apesar de possuir inúmeras vantagens, existem EA/complicações potenciais inerentes
a este dispositivo. São elas: flebite, extravasamento da infusão, infecção, trombose,
deslocamento prematuro, sepse, embolia, oclusão e ruptura, podendo ser classificadas em
complicações locais, sistêmicas ou circunstanciais. Ocorrem com frequência inferior à de
outros cateteres de localização central, mas merecem atenção especial por parte dos
enfermeiros e demais profissionais responsáveis pela indicação de uso (Baggio, 2010).
13
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa. Este tipo de revisão inclui uma análise de
pesquisas importantes que dão suporte para a tomada de decisão e melhoria da prática clínica.
Este método permite a síntese de vários estudos publicados e possibilita gerar conclusões
sobre uma particular área de estudo. Além disso, tem como propósito inicial obter um
entendimento a respeito de um determinado fenômeno baseando-se em estudos anteriores
(Mendes; Silveira e Galvão, 2008).
Para a enfermagem este tipo de estudo se torna relevante, pois permite a construção de
conhecimento a partir da produção de um saber fundamentado para que assim os enfermeiros
possam realizar uma prática clínica de qualidade.
Segundo Pompeo (2008), para a construção de uma revisão integrativa é preciso
percorrer seis fases distintas. São elas: identificação do tema ou questionamento da revisão
integrativa, amostragem ou busca na literatura, categorização dos estudos, avaliação dos
estudos incluídos na revisão integrativa, interpretação dos resultados; e síntese dos
conhecimentos evidenciados nos artigos analisados.
A primeira etapa é considerada como norteadora para a condução de uma revisão
integrativa. Consiste na elaboração da questão de pesquisa. Assim a escolha de um tema que
desperte o interesse do revisor torna este processo mais encorajador.
A segunda etapa consiste no estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de
estudos/amostragem ou busca na literatura.
Após definido o tema ou problema, tem-se início a busca na literatura, sendo esta um
elemento importante para a realização de uma revisão integrativa de qualidade. A seleção dos
estudos para a avaliação crítica é fundamental, a fim de se obter a validade interna da revisão.
Além disso, é um indicador da confiabilidade, amplitude e poder de generalização das
conclusões da revisão (Galvão; Mendes e Silveira, 2008).
A partir disso o presente estudo será realizado nas bases de dados eletrônicas LILACS,
MEDLINE, SCIELO, BDENF E BVS, através de consulta pelos descritores: indicadores de
qualidade em assistência à saúde, eventos adversos, picc e assistência de enfermagem. Serão
incluídos na pesquisa artigos apresentados na íntegra, escritos em português, publicados no
período de 2006 à 2012. Serão excluídos os artigos que não se encontrarem dentro dos
critérios de inclusão.
14
Ao realizar-se a busca dos artigos evidenciou-se que a pesquisa realizada com os
descritores separadamente, resultava em artigos que não se encaixavam na temática. Houve
então a necessidade de agrupá-los a fim de que a busca fosse mais relevante.
Na terceira etapa são organizados os dados coletados, sendo definidas as informações
que serão extraídas dos estudos selecionados, utilizando um instrumento para reunir e
sintetizar as informações-chave. O intuito é formar um banco de dados de fácil acesso e
manejo.
A quarta etapa equivale à análise dos dados numa pesquisa convencional. Os estudos
devem ser analisados detalhadamente e de forma crítica, com a finalidade de procurar
explicações para os resultados diferentes ou conflitantes nos diferentes estudos pesquisados.
Ao se agruparem os descritores eventos adversos e PICC foi encontrado um artigo.
Agrupando os descritores PICC e enfermagem foram encontrados oito artigos. Com respeito
ao descritor indicadores de qualidade em assistência a saúde, selecionou-se na pesquisa os
assuntos relacionados à enfermagem e prática profissional sendo encontrados sete artigos.
Totalizaram-se 16 artigos encontrados a partir dos descritores pesquisados.
15
APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
Após análise criteriosa dos artigos encontrados, foram selecionados para realização do
trabalho oito artigos que mais se familiarizavam com o tema abordado.
Tabela 1: Lista dos artigos pesquisados nas bases de dados. Rio de Janeiro, 2013.
Base
de
Dados
Lilacs
Lilacs
Lilacs
Scielo.
Scielo
Título
Periódico
Área
Tipo de
pesquisa
Ano
Idioma
Objetivo
Cateter
central
de
inserção
periférica:
descrição e
da utilização
em
UTI
neonatal e
pediátrica.
Cateter
central
de
inserção
periférica: o
papel
da
enfermagem
na
sua
utilização
em
neonatologia
.
Rev.
Gaúcha de
Enfermage
m.
Enfermagem.
Documental
.
2010
.
Português
.
Descrever
a
utilização do PICC
em
uma
UTI
neonatal
e
pediátrica quanto à
inserção,
manutenção
e
remoção.
HU Revista.
Enfermagem.
Documental
.
2011
.
Português
.
Complicaçõe
s acerca do
cateter
venoso
central
de
inserção
Periférica
(PICC).
Eventos
adversos
relacionados
ao uso de
cateteres
venosos
centrais em
recémnascidos
hospitalizad
os.
Indicadores
de resultados
da
assistência:
análise dos
eventos
adversos
Revista
Ciência
Cuidado
Saúde.
Enfermagem.
Revisão
bibliográfic
a.
2007
.
Português
.
Verificar
a
utilização do PICC
em uma unidade de
terapia intensiva
neonatal,
caracterizar
o
perfil do recémnascido submetido
ao
PICC,
identificar
as
indicações do uso e
apresentar
os
motivos de retirada
do PICC.
Abordar
as
principais
complicações do
uso do
PICC.
Rev. LatinoAmericana
de
Enfermage
m.
Enfermagem.
Estudo
quantitativo
, descritivo
e
retrospectiv
o.
2010
.
Português
.
Rev. LatinoAmericana
de
Enfermage
m.
Enfermagem.
Estudo
quantitativo
e
retrospectiv
o.
2008
.
Português
.
e
Identificar
os
eventos adversos
relacionados
ao
uso de cateteres
venosos centrais
(CVC) em recémnascidos
internados
em
unidade
de
cuidados
neonatais.
Caracterizar
eventos adversos
(EA) nas unidades
de
terapia
intensiva,
semiintensiva e de
internação quanto
16
durante
a
internação
hospitalar.
à natureza, tipo,
dia da semana e
relação
funcionário/pacient
e no momento da
ocorrência;
identificar
as
intervenções dos
enfermeiros após o
evento e as taxas
de EA.
Diagnosticar
a
percepção
dos
enfermeiros de um
hospital
privado
sobre os processos
de qualidade em
enfermagem
aplicados
à
melhoria
da
assistência.
Lilacs
Percepção
dos
enfermeiros
sobre
os
resultados
dos
indicadores
de qualidade
na melhoria
da
prática
assistencial.
Rev.
Brasileira de
Enfermage
m.
Enfermagem.
Estudo
descritivoexploratório
.
2010
.
Português
.
Lilacs.
Prevalência
e motivos de
remoção não
eletiva
do
cateter
central
de
inserção
periférica
em neonatos.
Validação de
conteúdo de
indicadores
de qualidade
para
avaliação do
cuidado de
enfermagem.
Rev.
Gaúcha de
Enfermage
m.
Enfermagem.
Estudo
transversal.
2010
.
Português
.
Descrever
a
prevalência
de
remoção
não
eletiva do cateter e
seus motivos.
Rev. da
Escola de
Enfermage
m da USP.
Enfermagem.
Pesquisa
metodológi
ca
e
aplicada, do
tipo
quantitativa
.
2009
.
Português
.
Submeter
dez
Indicadores
de
Qualidade
do
Cuidado
de
Enfermagem
na
Prevenção
de
Eventos Adversos
à validação de
conteúdo.
Scielo.
A tabela abaixo relaciona-se aos temas abordados nos artigos selecionados.
Tabela 2: Lista das principais assuntos encontrados nos artigos pesquisados. Rio de Janeiro, 2013.
Título do artigo
Assuntos abordados
Cateter central de inserção periférica: descrição e da
utilização em UTI neonatal e pediátrica.
Complicações/ Eventos adversos: Obstrução, infiltração,
suspeita de contaminação, tração, ruptura, retirada
acidental, flebite, cianose e migração.
Cateter central de inserção periférica: o papel da
enfermagem na sua utilização em neonatologia.
Complicações/ Eventos adversos: Rompimento do
cateter, flebite, extravasamento, obstrução, hematoma,
pneumotórax.
Complicações acerca do cateter venoso central de
inserção Periférica (PICC).
Complicações/ Eventos adversos: Mau posicionamento,
oclusão, trombose, flebite, sepse, dificuldade de
remoção ruptura, infecção local, embolia por cateter.
17
Eventos adversos relacionados ao uso de cateteres
venosos centrais em recém-nascidos hospitalizados.
Complicações/ Eventos adversos: Oclusão, ruptura,
infiltração, sepse clínica, cultura da ponta do cateter
positiva, suspeita de infecção, localização inapropriada
da ponta do cateter, sepse com cultura positiva, remoção
acidental do cateter e trombose.
Indicadores de resultado da assistência: análise dos
eventos adversos durante a internação hospitalar.
Eventos adversos segundo a natureza: sonda
nasogástrica, queda, erros de medicação, cateter venoso
central, tubo endotraqueal/traqueostomia.
Percepção dos enfermeiros sobre os resultados dos
indicadores de qualidade na melhoria da prática
assistencial.
Indicadores para melhoria da prática assistencial: falhas
técnicas de enfermagem, índice de eventos adversos
graves, sistema de classificação de paciente, índice de
lesão de pele, índice de satisfação dos pacientes e índice
de falhas de anotação da enfermagem.
Prevalência e motivos de remoção não eletiva do
cateter central de inserção periférica em neonatos.
Complicações/ Eventos adversos: Obstrução, ruptura,
edema do membro, suspeita de infecção, tração
acidental, má perfusão e extravasamento.
Indicadores para avaliação do cuidado de enfermagem:
Validação de conteúdo por indicadores de qualidade
fundamentados na concepção de eventos adversos.
Validação do conteúdo de indicadores de qualidade
para avaliação do cuidado de enfermagem.
A quinta etapa se refere à interpretação dos resultados. Nesta etapa é realizada uma
comparação com o conhecimento teórico, são identificadas as conclusões e implicações que
resultam da revisão (Galvão; Mendes e Silveira, 2008).
O quadro abaixo apresenta os principais assuntos abordados nos artigos pesquisados e
a frequência em que se encontram.
Tabela 3: Agrupamento dos artigos por temática principal e frequência. Rio de Janeiro, 2013.
Assuntos principais
Número de artigos
Frequência (%)
Eventos adversos / complicações
relacionados ao PICC
Indicadores de qualidade
Utilização do PICC quanto à
inserção, manutenção e retirada.
Assistência de enfermagem a
pacientes em uso de PICC
Total
03
37,5%
03
01
37,5%
12,5%
01
12,5%
08
100%
Conforme explicitado na tabela 3, os assuntos Eventos adversos/complicações
relacionadas ao PICC e Indicadores de qualidade ocorrem em frequência de 37,5%, ou seja,
foram encontrados 3 artigos que abordam cada assunto durante a pesquisa. Uma frequência
menor (12,5%) relaciona-se aos demais assuntos que representam apenas um dos artigos
encontrado.
18
Os artigos foram segregados por ano de publicação. Conforme segue a tabela abaixo.
Tabela 4: Ano de publicação dos artigos e frequência. Rio de Janeiro, 2013.
Ano de publicação
Número de artigos
2007
2008
2009
2010
2011
Total
Frequência (%)
01
01
01
04
01
08
12,5%
12,5%
12,5%
50%
12,5%
100%
Observou-se um maior número de publicações no ano de 2010 com uma frequência de
50% dos artigos pesquisados. Sendo que os demais apresentaram uma frequência de 12,5%.
Estes dados atestam que no ano de 2010 houve uma maior incidência de publicações sobre a
temática.
Tabela 5: Bases de dados dos artigos pesquisados de 2006 a 2012 e frequência. Rio de Janeiro, 2013.
Base de Dados
Número de artigos
Frequência (%)
Lilacs
05
62,5%
Scielo
03
37,5%
08
100%
Total
No que tange as bases de dados pesquisadas, observa-se um maior incidência de
artigos encontrados na base Lilacs que apresenta uma frequência de 62,5% dos artigos,
enquanto na base Scielo a frequência apresenta-se em 37,5% dos artigos.
A partir da tabela 2 foram selecionados os eventos adversos/complicações encontrados
nos cinco dos oito artigos pesquisados. Tais eventos adversos estão explicitados na tabela
abaixo.
Tabela 6: Frequência de Eventos adversos/ complicações encontrados nos artigos. Rio de Janeiro, 2013.
Eventos Adversos/ Complicações
Número*
Frequência (%)
Obstrução/oclusão
05
100%
Ruptura
05
100%
Infecção confirmada ou suspeita
04
80%
Tração
03
60%
Flebite
03
60%
Migração/mau posicionamento
03
60%
Infiltração
02
40%
Cianose/má perfusão
02
40%
Retirada acidental
02
40%
Extravasamento
02
40%
Trombose
02
40%
Sepse
01
20%
Embolia
01
20%
Edema de membro
01
20%
Hematoma
01
20%
Pneumotórax
01
20%
*O número de artigos considerados para montagem desta tabela foi de cinco, tendo em vista que apenas estes
abordam a temática.
19
Observa-se uma incidência maior dos seguintes eventos adversos/complicações:
obstrução/oclusão e ruptura que apresentam uma frequência de 100%, ou seja, foram
encontrados em todos os artigos pesquisados, seguido pela infecção confirmada ou suspeita
que demonstra uma frequência de 80%.
20
DISCUSSÃO
Esta corresponde à sexta etapa onde é realizada a síntese do conhecimento apresentado
nos artigos analisados ou apresentação da revisão integrativa. Desta forma, para que o leitor
possa ter condições de avaliar a pertinência dos procedimentos realizados, assim como
declarar possíveis limitações metodológicas na elaboração da revisão, se torna necessário que
a mesma contenha detalhes das pesquisas primárias (Galvão; Pompeo e Rossi, 2008).
Tendo como objeto de pesquisa os eventos adversos/complicações relacionados aos
pacientes em uso de PICC serão utilizados os dados descritos na Tabela 6 que englobam
também a temática qualidade.
Dos artigos pesquisados três abordavam a temática qualidade tendo como subsídio
para avaliação da mesma os indicadores.
A avaliação da qualidade da realização de certo procedimento é uma etapa importante
da assistência e pode ser realizada a partir da análise dos eventos adversos pertinentes ao
procedimento envolvido, neste caso à assistência de enfermagem aos pacientes em uso do
PICC.
A monitorização de eventos adversos insere-se em um contexto não punitivo, com
orientação e incentivo aos profissionais para o registro voluntário de falhas, objetivando uma
maior segurança dos pacientes hospitalizados (Nascimento, 2008).
Segundo Franco, 2010:
Para avaliar a qualidade da assistência é necessário traduzir os conceitos e definições
gerais, da melhor maneira, critérios operacionais, parâmetros e indicadores,
validados e calibrados pelos atributos da trilogia estrutura, processo e resultado. A
maneira como os indicadores são organizados e coletados, influencia na criação da
cultura para a excelência do desempenho. A transparência na divulgação dos
resultados e o uso de critérios objetivos para reconhecimento das pessoas impulsiona
a motivação de toda a equipe para a busca do sucesso organizacional.
A avaliação da qualidade do cuidado de enfermagem por meio de indicadores pode ser
utilizada no sentido de reforçar o desejo natural dos profissionais da saúde em melhorar o
cuidado ao mesmo tempo em que funciona como uma forma de compreender a qualidade
deste cuidado (Vituri, 2009).
No que tange os eventos adversos relacionados ao PICC foram selecionados os
principais a partir da literatura pesquisada, a fim de utilizá-los como indicadores de resultado
da assistência de enfermagem prestada.
21
Os indicadores de resultado da assistência de enfermagem aos pacientes em uso de
PICC selecionados foram:
1. Obstrução/oclusão do cateter;
2. Ruptura do cateter;
3. Infecção do cateter;
4. Infiltração do cateter;
5. Migração/mau posicionamento do cateter.
Um indicador sinaliza ou demonstra o que ou como está uma situação ou como ela está se
alterando, e se pontualmente medido, revela um retrato “situacional”, conhecido como
prevalência. Quando se utilizam dados de eventos novos, ou longitudinal, é conhecido como
incidência. Além disso, avaliam a qualidade e efetividade da assistência. Incluem parâmetros
como melhoria da saúde, e redução de eventos indesejáveis (Pereira, APECIH).
As taxas de incidência e prevalência refletem uma das faces dos eventos adversos
associados à assistência à saúde. Sendo assim, estas taxas são uma das categorias de
indicadores de segurança para o paciente. Não basta apenas apresentar taxas. O
desenvolvimento de um processo de vigilância com a monitorização das taxas é um dos
passos essenciais na identificação dos problemas e prioridades e também na avaliação da
efetividade da atividade de controle dos eventos adversos/complicações (Pereira, APECIH).
Produção de taxas de eventos adversos.
Apesar da utilização extremamente comum do termo "taxa”, no campo da
epidemiologia tenta-se cada vez mais limitar ou restringir seu uso com um sentido mais
específico. Pode-se referir a uma taxa de ocorrência de um dado evento incidente em termos
da sua tendência em um período de tempo. No entanto, quando se trata da medida calculada
pelo(a) pesquisador(a), o sentido específico se refere a um evento que reúne certas
características: o numerador expressa um número simples de eventos em uma dimensão; em
epidemiologia, geralmente corresponde ao número de pessoas que desenvolveram um evento
incidente; o denominador inclui, de alguma maneira, a dimensão de tempo; note-se que no
coeficiente de incidência o tempo constitui uma referência básica mas ele não está incluído no
cálculo da medida resultante; a medida resultante da divisão expressa a magnitude de
mudança em relação ao tempo, sendo matematicamente uma medida de função que segue o
22
modelo da teoria do limite e que expressa mudança instantânea no tempo (Merchán-hamann,
2000).
Segundo Pereira, APECIH:
O risco de um fenômeno é a chance dele ocorrer em uma dada população em época
determinada. Se tratar de uma complicação da assistência, significa a probabilidade
deste fato incidir naquela população em uma unidade de tempo plausível, seja ela
calculada retro ou prospectivamente. Pode se calcular a incidência de infecções (ou
de outro fenômeno que se pretenda) por dia de internação o qual por ser quase
sempre baixo é convertido em valor absoluto mais alto para que se tenha pelo menos
um número inteiro antes do ponto decimal, como densidade a cada 100 ou 1000
pessoas-dia ou paciente-dia.
Indicador de resultado da assistência à saúde ao paciente em uso do PICC: Oclusão do
PICC.
A oclusão, que possui uma ocorrência de 100% nos artigos pesquisados, é definida
como uma obstrução parcial ou completa do cateter impedindo ou dificultando a aspiração do
sangue, levando à perda da permeabilidade do cateter. Esta pode ser dividida em mecânica,
trombótica e não trombótica. A mecânica é causada por dobras ou compressão do lúmen do
cateter, o que em geral resulta da migração da extremidade do cateter por um vaso de menor
lúmen, ou por compressão da ponta do cateter entre a clavícula e a primeira costela, mesmo
que a extremidade esteja situada na veia cava superior. Este fenômeno chama-se síndrome de
“pinch-off”. A obstrução trombótica ocorre pelo desenvolvimento de coágulos interna e
externamente ao cateter devido a um trauma na parede do vaso, estenose ou estados de
hipercoagulopatias causadas por câncer ou diabetes.
A oclusão não-trombótica pode
acontecer devido à cristalização intraluminal de medicamentos incompatíveis ou nutrição
parenteral (Jesus, 2007).
Outra publicação não recomenda a utilização de sangue e derivados devido ao risco de
hemólise e obstrução do cateter, além de não recomendar o recolhimento de sangue do
cateter, pois há risco das paredes do cateter colapsarem durante o refluxo, devido ao seu
pequeno calibre (com exceção dos PICCs com válvula Groshong).(Franceschi, 2010).
Indicador de resultado da assistência à saúde ao paciente em uso do PICC: Ruptura.
Os cateteres de pequeno calibre, principalmente os de silicone, podem romper-se ou
quebrar-se facilmente se manuseados de forma inadequada. Segundo os fabricantes o que
23
pode favorecer este acontecimento é a utilização de seringas menores que 10 ml, pois as
mesmas exercem pressões excessivas que o cateter não suporta. Também pode ocorrer
perfuração do PICC pela utilização de agulhas através do plug adaptador macho pela
manipulação incorreta (Jesus, 2007).
De acordo com Motta (2011), o rompimento do cateter é o maior motivo de retirada do
PICC em neonatos de um hospital em Minas Gerais. Isto comprova a importância da
manutenção dos cuidados inerentes ao cateter com a finalidade de que este evento adverso
não ocorra.
Indicador de resultado da assistência à saúde ao paciente em uso do PICC: Infecção.
A infecção pode estar relacionada à contaminação microbiana da infusão ou do cateter
sendo esta a fonte mais comum das infecções locais. Este indicador aparece em 80% dos
artigos selecionados, demonstrando sua relevância.
As infecções primárias de corrente sanguínea (IPCS) estão entre as mais comumente
relacionadas à assistência à saúde. Estima-se que cerca de 60% das bacteremias nosocomiais
sejam associadas a algum dispositivo intravascular. Dentre os mais frequentes fatores de risco
conhecidos para IPCS, podemos destacar o uso de cateteres vasculares centrais,
principalmente os de curta permanência (ANVISA, 2010).
A contaminação de cateteres venosos centrais pode acontecer através da invasão direta
dos microrganismos existentes na pele e no local de penetração do cateter, por manipulação
inadequada de soluções parenterais e conexões do cateter ou contaminação endógena. Os
eventos infecciosos podem ser divididos em três categorias: sepse com hemocultura positiva,
sepse clínica e suspeita de infecção. Considerou-se sepse com hemocultura positiva aquelas
que apresentaram confirmação laboratorial e os pacientes receberam tratamento com
antibióticos. Foram denominados sepse clínica os casos em que ocorreram indícios clínicos da
sepse, mas sem confirmação laboratorial e os pacientes receberam tratamento com
antibioticoterapia. A suspeita de infecção foi considerada nos casos em que não houve
confirmação laboratorial e o paciente não recebeu tratamento com antibióticos (Franceschi,
2010).
Segundo Franceshi, 2010:
A literatura demonstra que há micro-organismos mais prevalentes na sepse primária
relacionada ao cateter. Os cocos gram-positivos são responsáveis por 65% das
24
infecções, sendo os mais prevalentes o Staphylococcus epidermidis (31%) e o
Staphylococcus aureus (14%). Os bacilos gram-negativos são responsáveis por 30%
das infecções, sendo os mais prevalentes o Pseudomonas sp (7%) e o Escherichia
coli (6%). A infecção por Cândida sp é responsável pelos demais 5% de infecções
relacionadas ao cateter. Em relação ao PICC as quatro culturas de ponta de cateter
positivas apresentaram a colonização de Staphylococcus sp coagulase negativo.
Indicador de resultado da assistência à saúde ao paciente em uso do PICC: Infiltração.
A infiltração é representada pelo extravasamento de solução ou medicação ao redor do
sítio de inserção do cateter. Ela pode ocorrer devido à tração ao à flebite. Como este cateter
não é suturado na pele, mas sua estabilização é realizada através do curativo, a infiltração
pode ser resultante da tração, pois o cateter deixa de ter localização central. A flebite tem
causa multifatorial e sua origem pode ser mecânica, química ou bacteriana, sendo esta uma
complicação evitável (Baggio, 2010).
Quadro 1: Escala de avaliação do grau de flebite.
Intensidade
Sinais e sintomas
1
Eritema no sítio de inserção com ou sem a
presença de dor.
2
Dor, eritema ou edema no sítio de inserção do
cateter.
3
Dor, eritema ou edema, formação de estria e
cordão venoso palpável.
4
Dor, eritema ou edema, formação de estria, cordão
venoso palpável e drenagem de secreção purulenta.
Jesus VC, Secol SR (2007).
Indicador de Resultado: Migração/mau posicionamento do PICC.
A migração do cateter é uma complicação comum e pode ocorrer tanto durante a
inserção como na manutenção do PICC. Esta pode ocorrer interna ou externamente. A
migração externa pode resultar na perda do dispositivo central, aumentando o risco de
trombose e flebite química ou mecânica. Na migração interna, o PICC pode enrolar-se no
interior do vaso, avançar para o átrio direito ou para uma das veias tributárias, ou não
progredir o suficiente para alcançar a veia cava superior (Jesus, 2007).
25
A identificação dos eventos adversos por meio dos indicadores de resultado da assistência
de enfermagem favorece a identificação de possíveis falhas no processo de cuidado e o
planejamento de metas para melhora, qualidade, da assistência.
As taxas criadas auxiliam na identificação de tais eventos para que seja realizada
posteriormente uma avaliação do estado real em que se encontra a prestação de tal cuidado e
traçar meios de melhoras visando sempre a prevenção.
Indicadores Assistenciais
Um indicador pode ser definido como uma unidade de medida de uma atividade, com
a qual está relacionado, ou ainda, uma medida quantitativa que pode ser empregada como um
guia para monitorar e avaliar a assistência e as atividades de um serviço. Seu emprego
possibilita aos profissionais de saúde monitorar e avaliar os eventos que acometem os
usuários, os trabalhadores e as organizações, apontando, como consequência, se os processos
e os resultados organizacionais vêm atendendo às necessidades e expectativas dos usuários
(NAGEH, 2012).
O Manual de Indicadores de Enfermagem do Núcleo de Apoio à Gestão Hospitalar
(NAGEH, 2012) propõe oportunizar aos profissionais de saúde indicadores passíveis de serem
empregados em seus processos de trabalho. A partir dos indicadores apresentados neste
manual foram sugeridos dois que podem ser utilizados para avaliação de eventos adversos
relacionados a assistência ao paciente em uso de PICC.
O indicador incidência de perda de cateter central de inserção periférica (PICC) é
definido como a relação entre o número de perda de Cateter Central de Inserção Periférica e o
número de pacientes/dia com PICC, multiplicado por 100.
Equação para cálculo:
Incidência de perda de cateter central de inserção periférica =
nº de perda de cateter central de inserção periférica
__________________________________________________ x 100
nº de pacientes/dia com cateter central de inserção periférica
Observações:
• Considerar perda acidental decorrente de:
- Retirada pelo próprio paciente;
26
- Perda do cateter por ocasião de manipulação ou transporte;
- Perda do cateter por problemas relacionados ao material (rompimento, perfuração, entre
outros).
• Considerar fatores de risco para perda acidental de PICC:
Ventilação de alta frequência, qualidade do material do cateter, manuseio inadequado,
curativo inadequado, obstrução (terapia medicamentosa), PICC em localização periférica e
frequência no manuseio do PICC.
Infecções relacionadas ao acesso vascular central (IAVC):
Segundo a Anvisa (2009) elas são definidas como a presença de sinais locais de
infecção (secreção purulenta ou hiperemia), em pacientes sem diagnóstico concomitante de
infecção primária de corrente sanguínea (IPCS).
A vigilância epidemiológica deve ser sistemática, realizada de forma contínua ou
periódica, e para aplicação correta dos parâmetros de vigilância é importante definir alguns
termos:
Cateteres centrais: inclui cateteres posicionados no sistema circulatório central, incluindo os
seguintes vasos: artérias pulmonares, aorta ascendente, artérias coronárias, artéria carótida
primitiva, artéria carótida interna, artéria carótida externa, artérias cerebrais, tronco
braquiocefálico, veias cardíacas, veias pulmonares, veia cava superior e veia cava inferior.
Em unidades de pacientes imunodeprimidos, a CCIH poderá calcular a densidade de
incidência de IPCS em pacientes com cateteres de longa permanência (Anvisa, 2009)..
Paciente-dia: unidade de medida que representa a assistência prestada a um paciente
internado durante um dia hospitalar. O número de pacientes-dia de um serviço em um
determinado período de tempo é definido pela soma do total de pacientes a cada dia de
permanência em determinada unidade (Anvisa, 2009).
Paciente com Cateter Central-dia: unidade de medida que representa a intensidade da
exposição dos pacientes aos cateteres centrais. Este número é obtido através da soma de
pacientes em uso de cateteres centrais, a cada dia, em um determinado período de tempo.
Quando o paciente tiver mais do que um cateter central, este deverá ser contado apenas uma
vez, por dia de permanência na unidade.
27
Indicadores de Resultado
O principal indicador de resultado a ser calculado é o indicador de ocorrência de IPCS
laboratorial. Ele deve ser calculado da seguinte forma (Anvisa, 2009).:
IPCS Laboratorial =
Nº de casos novos de IPCSL no período
___________________________________________X 1000
Nº de pacientes com cateter central-dia no período
Não é recomendada a consolidação mensal de dados caso o denominador (número de
pacientes com cateter central-dia no período) seja sistematicamente baixo, inferior a 50. Nesta
situação, é preferível análise bimestral ou trimestral. O indicador de IPCS clínica pode se
calculado, e sua fórmula é (Anvisa, 2009):
IPCS Clínica =
Nº de casos novos de IPCSC no período
___________________________________________ X 1000
Nº de pacientes com cateter central-dia no período
Um dado que deve ser utilizado para ajudar na interpretação dos indicadores de
infecção, é a taxa de utilização de cateteres venosos centrais. Ele indica o grau que a amostra
analisada esta exposta ao risco de infecção. Por exemplo, uma taxa de utilização de 80%
indica que, em média, os pacientes presentes naquela unidade no período estudado estiveram
em uso de cateter central durante 80% do tempo de permanência. Esta taxa é calculada da
seguinte forma (Anvisa, 2009):
Taxa de utilização =
Nº de pacientes com cateter central-dia no período
________________________________________
Nº de pacientes-dia no período
28
CONCLUSÃO
A qualidade na assistência à saúde é uma meta alcançável, se praticada de forma
responsável, por profissionais capacitados e que possuam meios de avaliar ou mensurar a
forma como a realizam.
Sabendo-se que o resultado desta assistência é vivenciado pelo paciente, a
responsabilidade do profissional é aumentada, pois, além de ter que exercer o cuidado com a
finalidade de atingir metas estabelecidas pela instituição, este deve ter como principal
motivação para a prestação do cuidado o bem estar e segurança do paciente/cliente.
A utilização do PICC surgiu como um avanço na terapia intravenosa, trazendo
inúmeras vantagens para esta prática, porém existem possíveis eventos adversos/complicações
relacionados. Sendo alguns destes inerentes a própria assistência à saúde prestada e outros a
doença ou complicações do próprio paciente.
Os indicadores de resultado são uma forma de avaliarmos um processo em sua parte
final, quais são as repercussões após a implementação de uma prática. Como em sua maioria
algumas práticas assistenciais possuem complicações, é de grande relevância a avaliação dos
eventos adversos/complicações relacionados à assistência ao paciente com PICC como forma
de indicar quais as possíveis falhas que ocorrem durante o processo de cuidado e traçar metas
com a finalidade de melhoria das ações realizadas na prevenção. Pois segundo os artigos
analisados, a maioria destes eventos adversos/complicações são preveníveis.
Segundo a literatura abordada neste trabalho os indicadores baseados nos eventos
adversos/complicações reforçam a relevância do assunto e sua importância, pois por meio
destes é possível indicar a existência do problema, quais são estes e definir um processo
efetivo de como diminuir a incidência destes (Pereira, APECIH).
A utilização de indicadores de resultado criados a partir do EA/complicações auxiliará
no desenvolvimento de padrões aceitáveis de segurança. Em conjunto com as Boas Práticas
na assistência à pacientes com dispositivos intravenosos (técnica correta tanto na inserção
como na manutenção do PICC, a capacitação e a educação permanente dos profissionais,
estratégias que visam qualificar a assistência), os indicadores de resultado serão aliados na
prevenção de possíveis complicações evitáveis relacionadas ao uso de PICC.
A implementação e monitoramento de ferramentas de qualidade requerem envolvimento
e comprometimento por parte da equipe assistencial. É essencial
conscientizar os
profissionais encvolvidos sobre a importância da utilização dos indicadores de resultado como
ferramenta para a melhoria da qualidade assistencial, cuja continuidade com ênfase nos
29
registros dos EA poderá subsidiar estudos futuros, contribuindo para o aprimoramento e
qualificação da prática de enfermagem na inserção, manutenção e avalição da utilização do
PICC, assim como para alcançar uma assistência de excelência.
30
REFERÊNCIAS
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