Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 COMPARAÇÃO ENTRE A DRENAGEM LINFÁTICA MANUAL (DLM) E A HIDROTERAPIA EM GESTANTES COMPARISON BETWEEN MANUAL LYMPHATIC DRAINAGE (MLD) AND HYDROTHERAPY FOR PREGNANT WOMEN Cyntia FAGGION1; 2; Raydane da Silva CÂNDIDO1; 2; Juliana Aparecida Ramiro MOREIRA3. Centro Universitário Fundação Hermínio Ometto – FHO|Uniararas. 1 2 Graduanda do curso de Bacharelado em Estética. 3 Graduada em Fisioterapia; Especialista em Fisioterapia Dermato-Funcional e Estética; Mestranda em Ciências Biomédicas na linha de pesquisa em Mecanismos Biológicos Envolvidos na Gênese de Alterações Fisiológicas; Docente do curso de Bacharelado em Estética; Docente convidada do curso de Especialização em Dermato-Funcional e Estética; Docente convidada do curso de Especialização em Estética Facial e Corporal; Docente convidada do curso de Especialização em Farmacologia Clínica e Atenção Farmacêutica. Autora responsável: Juliana Aparecida Ramiro Moreira. Endereço: Av. Dr. Maximiliano Baruto, n. 500, Jardim Universitário – Araras/SP. CEP 13607-339, e-mail: <[email protected]>. RESUMO A gravidez é um período de intensas transformações físicas e emocionais. Todo o corpo da mãe se transforma para que possa abrigar o bebê, alimentá-lo e permitir seu desenvolvimento. É importante que esse momento seja também confortável, sendo administrados tratamentos que proporcionem prazer para a mãe e para o bebê. Essas transformações trazem consequências ao corpo materno, sendo prejudiciais à saúde e à estética, como no caso do edema. Esta revisão de literatura teve como objetivo a comparação entre os benefícios da drenagem linfática manual e da hidroterapia em gestantes. Foi realizada uma revisão bibliográfica, sendo utilizadas pesquisas de avaliação e ensaios clínicos entre os anos de 2000 e 2012. Entre os meses de fevereiro e maio de 2015, foram feitas pesquisas em livros, artigos, revistas e sites eletrônicos, tais como National Library of Medicine (Medline) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). O edema geralmente é causado em gestantes por causa do acúmulo de líquidos, e conforme a evolução da gestação, o edema aumenta, causando dores, cãibras noturnas e formigamento nos membros inferiores. No entanto, uma das técnicas utilizadas no tratamento contra o edema é a drenagem linfática manual, a qual é eficaz, pois aumenta o processamento da linfa no interior dos gânglios, facilitando a eliminação dos líquidos e reduzindo o edema. Outra proposta para o tratamento contra o edema gestacional é a hidroterapia, que tem como característica o baixo impacto e o aumento do retorno venoso em razão da pressão hidrostática. Os benefícios da atividade física em imersão foram destacados por fatores, como possibilidade de controle do edema gravídico, incremento da diurese e prevenção ou melhora dos desconfortos musculoesqueléticos. Concluiu-se que ambos os tratamentos apresentam respostas significativas relacionadas ao edema gestacional, colaborando para a prevenção e tratamento contra o acúmulo patológico de líquidos. A DLM e a hidroterapia dispõem de recursos distintos, porém eficazes, possibilitando à gestante a diminuição dos distúrbios causados pelas modificações ocorridas nesse período da vida da mulher grávida. Palavras-chave: Gestantes. Drenagem Linfática Manual. Hidroterapia. ABSTRACT Pregnancy is a time of profound physical and emotional change. The body of the mother changes to feed and shelter the baby, contributing to its growth. This period should be comfortable to deliver pleasant treatments to the mother and to the baby. These changes have consequences for the body of the mother, which are harmful to health and esthetic, as in the case of edema. 37 http://www.uniararas.br/revistacientifica Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 The purpose of this review is the comparison between the benefits of manual lymphatic drainage and hydrotherapy for pregnant women. In 2012 and 2012, it was done a bibliographic review through evaluation research and clinical trials. Between February and May 2015, there were researches on books, articles, magazines and websites, such as National Library of Medicine (Medline) and Scientific Electronic Library Online (SciELO). Edema in pregnant women generally occurs by the accumulation of fluid, and it is increased according to the evolution of pregnancy, causing pains, night cramps and lower leg tingling. However, manual lymphatic drainage is one of the techniques used to treat edema, which one is effective, because it speeds up lymph flow inside lymph nodes, eliminating fluids and reducing edema. An alternative for the treatment of edema during pregnancy is hydrotherapy, which is a low-impact activity that increases venous return by water pressure. The benefits of water-based physical activities are notable due to factors as the possibility to control edema during pregnancy, an increase in diuresis and prevention or recovery related to musculoskeletal discomforts. It was concluded that both treatments have good results on edema during pregnancy, so they contribute to prevent and treat accumulation of fluid. MLD and hydrotherapy present different results, but both of them are effective at promoting to the pregnant women a decrease of disturbance caused by this time of changes in the life of pregnant women. Keywords: Pregnant Women. Manual Lymphatic Drainage. Hydrotherapy. INTRODUÇÃO A gravidez é um período de intensas mudanças físicas e emocionais. Todo o corpo da mãe se transforma para que possa abrigar o bebê, alimentá-lo e permitir seu desenvolvimento até a hora do nascimento, momento único na vida de qualquer mulher. É importante que esse acontecimento seja também confortável, sendo administrados tratamentos que proporcionem prazer para a mãe e para o bebê. Essas transformações trazem muitas consequências ao corpo materno, sendo prejudiciais tanto à saúde quanto à estética, como no caso do edema (FONSECA et al., 2009). Parte destas transformações ocorre em virtude da compressão das veias pélvicas e da veia cava inferior, as quais induzem a um aumento de até três vezes na pressão venosa dos membros inferiores, o que pode gerar edema (TOMIO e DELLANGELO, 2009). O edema geralmente é causado em gestantes pelo acúmulo de líquidos nos espaços intersticiais, e conforme a evolução da gestação, esse tipo de edema aumenta, causando dores, cãibras noturnas e formigamento nos membros inferiores. O edema gestacional pode ser também sinal de alguma disfunção patológica, como hipertensão, préeclâmpsia e até mesmo trombose. Desta forma, é necessário haver sempre acompanhamento médico (MACHADO et al., 2012). Os tratamentos contra o edema gestacional estão relacionados às terapias medicamentosas (segundo avaliação médica) e não medicamentosas. Entre as terapias não medicamentosas destacam-se: repouso com elevação de membros inferiores, fisioterapias, hidroterapias e drenagem linfática manual (MACHADO et al., 2012). O edema não é uma doença, é apenas o sintoma de algum distúrbio no corpo em que a pele fica inchada e brilhosa, parecendo firme, mas quando aplicada pressão sobre a pele, ela fica funda. É um acúmulo de quantidades anormais de líquidos nos espaços intercelulares, dificultando a permeabilidade capilar (GUIRRO e GUIRRO, 2004; OLIVEIRA, 2010). É um dos fatores que interferem na vida social da gestante, sendo mais comum nos pés, tornozelos e pernas, mas também pode ocorrer no rosto e nas mãos, causando inchaço e desconforto. Nesse período, ocorre o aumento da taxa de alguns hormônios, tais como o estrogênio e a progesterona (OLIVEIRA, 2010). No entanto, uma das técnicas utilizadas para o tratamento é a drenagem linfática manual, a qual é eficaz, pois aumenta a capacidade de processamento da linfa no interior dos gânglios linfáticos, facilitando a eliminação dos líquidos, assim, reduzindo o edema (GUIRRO e GUIRRO, 2004). A DLM é um dos tratamentos mais indicados para a gestante, porque auxilia na redução da retenção de líquido no corpo, melhora a oxigenação das células musculares e diminui os inchaços típicos da gravidez, que aparecem principalmente no primeiro e no último trimestre da gestação. A drenagem ativa a circulação, que fica mais lenta por causa do aumento de sangue no corpo da gestante (FONSECA et al., 2009). Sendo uma técnica de massagem que ajuda o sistema linfático a trabalhar em ritmo mais 38 http://www.uniararas.br/revistacientifica Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 acelerado, a DLM é realizada manualmente e tem duração de 60 minutos, aplicando-se uma pressão leve e contínua sobre a pele para que a linfa possa transitar pelos capilares linfáticos, seguindo para os vasos linfáticos e depois para os troncos linfáticos, que são mais volumosos e levam a linfa para veias de médio e grande calibre. O sistema linfático não possui um órgão central bombeador, mas possui válvulas que, com a ajuda da drenagem, levam a linfa para apenas uma direção. O canal linfático direito drena ¼ (um quarto) da linfa total do organismo, já o canal torácico esquerdo drena os ¾ (três quartos) da linfa total do organismo (OLIVEIRA, 2010). Para uma aplicação correta, deve-se ter conhecimento e respeitar a anatomia e a fisiologia do sistema linfático, preservando a integridade dos tecidos superficiais. É fundamental que a DLM seja realizada de maneira suave, rítmica, lenta, sem causar dor, danos ou lesões ao paciente (RIBEIRO, 2004). O sistema linfático é composto por linfa, capilares linfáticos, vasos linfáticos, ductos linfáticos, troncos linfáticos e órgãos linfoides. Esse sistema faz com que a linfa siga em direção aos linfonodos através das válvulas que são movidas por contrações involuntárias do sistema autônomo, permitindo, desta forma, que o acúmulo de líquido no espaço intersticial diminua e ative a sua função no sistema imunológico (ELWING e SANCHES, 2010). Segundo Borges (2010), a DLM é um dos recursos terapêuticos manuais mais utilizados por profissionais de saúde e estética na atualidade. Diversas técnicas foram desenvolvidas a partir da técnica original do Dr. Emil Vodder, as quais foram reconhecidas e colocadas em prática, proporcionando melhores resultados em diversos procedimentos e evitando complicações. É de suma importância que o profissional tenha todo o domínio sobre processos patológicos e o estágio em que eles se encontram, assim como no que diz respeito ao tratamento realizado. Outra proposta para o tratamento contra o edema gestacional é a hidroterapia, pois ela tem como características o baixo impacto articular e o aumento do retorno venoso em decorrência da pressão hidrostática. De modo específico, os benefícios da atividade física em imersão foram destacados pela possibilidade de controle do edema gravídico, incremento da diurese e prevenção ou melhora dos desconfortos musculoesqueléticos (ALVES, 2012). A prática de atividade física regular é essencial a todas as mulheres, principalmente na fase de gestação, quando ocorrem inúmeros desconfortos por causa das mudanças que o corpo acaba sofrendo. Com intensidade moderada, a hidroterapia é uma atividade adequada e indicada para essa fase da vida da mulher, pois ao se inserir no meio aquático, em virtude dos efeitos da imersão, o organismo é submetido a diferentes sensações e forças físicas, provocando alterações fisiológicas que afetam quase todos os sistemas (ALVES, 2012). Além das reações descritas anteriormente, foram relatados maior gasto energético, aumento da capacidade cardiovascular, relaxamento corporal e controle do estresse. As atividades realizadas em uma sessão de hidroterapia são: alongamento, aquecimento, resistência, exercícios localizados e relaxamento com exercícios respiratórios (PREVEDEL et al., 2003). Assim, edema é um dos problemas que mais acometem as grávidas, atingindo principalmente os membros inferiores, causando dores e desconforto, impedindo que a gestante realize suas atividades normalmente. Os benefícios da drenagem linfática manual e da hidroterapia são: aumento da capacidade do processamento do retorno venoso e linfático, alívio da dor, diminuição do edema e relaxamento (nesse caso, é necessário que haja um acompanhamento para manter o edema controlado, justificando, assim, a importância da realização desta revisão de literatura). OBJETIVO Esta revisão de literatura teve como objetivo a comparação entre os benefícios da drenagem linfática manual e da hidroterapia em gestantes. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi fundamentado em uma revisão bibliográfica, sendo utilizadas pesquisas sobre estudo de avaliação e ensaios clínicos entre os anos de 2000 e 2012. Entre os meses de fevereiro e maio de 2015, foram feitas pesquisas em livros, artigos, revistas e sites eletrônicos, tais como National Library of Medicine (Medline) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). 39 http://www.uniararas.br/revistacientifica Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 REVISÃO DE LITERATURA A gravidez é um período de intensas transformações físicas e emocionais. Todo o corpo da mãe se transforma para que ela possa abrigar o seu bebê, alimentá-lo e permitir o seu desenvolvimento até a hora do nascimento (FONSECA et al., 2009). É uma fase em que a mulher se encontra fragilizada em virtude das muitas transformações às quais seu corpo é submetido. As mudanças hormonais são consideradas as principais causadoras de alterações anatômicas, cardiovasculares, pulmonares, bem como no que se refere ao edema e ao ganho de peso. Tais problemas podem afetar o sistema musculoesquelético e a postura (RIBAS e GUIRRO, 2007). O aumento do útero, das mamas, do volume sanguíneo e a retenção hídrica são modificações responsáveis pelo ganho de peso durante a gestação. A média recomendada de ganho de peso durante esse período é de 12 quilos, podendo haver grande variação (RIBAS e GUIRRO, 2007). Entre as modificações desse período, pode-se observar ainda o aumento da taxa de hormônios responsáveis pela retenção hídrica, gerando a elevação do volume sanguíneo que varia entre 30% e 50%. Durante a gravidez, o organismo tem capacidade para reter 8 litros de água (PEREIRA e BACHION, 2005; BIM, PEREGO e PIRES-JR., 2002). Essas alterações trazem muitas consequências ao corpo materno, muitas vezes prejudicando não só a saúde, mas também a estética, pois nessa fase as mães passam por muitos conflitos psicológicos (medo, ansiedade, traumas, depressão, baixa autoestima). Essas alterações corporais, sendo elas sutis ou marcantes, estão entre as mais acentuadas que o corpo humano pode sofrer. Nessa fase, um conjunto de fenômenos fisiológicos contribui para a evolução e acomodação de um novo ser (COSTA et al., 2010). No sistema urinário, há dilatação do útero, ocorrendo um desenvolvimento maior de infecções no período gestacional. Já no sistema pulmonar, apresentam-se congestão tissular e hipersecreção em virtude das alterações hormonais, havendo ainda aumento de 15% a 20% no consumo de oxigênio. Destacam-se também as transformações identificadas no sistema musculoesquelético, no qual acontece um remanejamento do cálcio materno para o feto, ocasionando também a hipermobilidade articular em razão da frouxidão ligamentar que pode predispor a gestante a lesões articulares e ligamentares (BIM, PEREGO e PIRES-JR., 2002). Nesse período, a presença do hormônio relaxina ovariana provoca o relaxamento dos tecidos conjuntivos e colágeno, induzindo a maior mobilidade das articulações que, com o aumento do útero e das dimensões pélvicas, há ocorrência de separação da sínfise púbica, diástase dos músculos retos e abdominais e instabilidade das articulações sacro-ilíacas (PEREIRA e BACHION, 2005). Ainda sobre modificações endócrinas que acontecem durante a gestação, destacam-se também outros quatro hormônios que desempenham papel fundamental para a mãe e para o feto. Dois destes são os hormônios sexuais femininos estrogênio e progesterona, os quais são secretados pelo ovário durante o ciclo menstrual normal, passando a ser secretados em grandes quantidades pela placenta durante a gestação. Outros dois importantíssimos hormônios são a gonadotrofina coriônica e a somatomamotropina coriônica humana (FONSECA et al., 2009). O nível de estrogênio durante a gravidez fica trinta vezes maior do que o normal, provocando rápida proliferação da musculatura uterina, dilatação do orifício vaginal e do canal pélvico, facilitando a passagem do feto, sendo responsável também pelo aumento do número de células adiposas e glandulares nas mamas. A progesterona está relacionada ao preparo do útero para receber o óvulo fertilizado e da mama para a secreção do leite, atuando também na musculatura uterina para que não haja contrações antes do tempo. A gonadotrofina coriônica tem sua concentração máxima durante a oitava semana aproximadamente, sendo essencial para impedir a involução do corpo lúteo. No período tardio da gravidez, a taxa desse hormônio cai até valores muito menores. A somatomamotropina coriônica humana diminui a utilização de glicose pela mãe, deixando mais disponível para o feto, além da maior mobilização de ácidos graxos dos tecidos adiposos da mãe de modo que ela use essa gordura para sua própria energia em vez de utilizar a glicose (FONSECA et al, 2009). Uma das causas do acúmulo de água na gravidez é o nível elevado de estrogênio, pois ele retém o sódio e eleva a permeabilidade capilar. É também significativo que por meio da pressão do feto 40 http://www.uniararas.br/revistacientifica Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 em desenvolvimento sobre os vasos pélvicos ocorra uma leve fleboestase e linfoestase dos membros inferiores (ELWING e SANCHES, 2010). Como vimos, durante o ciclo gestacional ocorrem muitas alterações no corpo da mulher, como o edema, que é o resultado do desequilíbrio entre o aporte de líquido retirado dos capilares sanguíneos pelos processos de filtragem e a drenagem (SILVA, ZANETTI e MATSUTANI, 2006). O edema é o acúmulo de quantidades anormais de líquidos nos espaços intercelulares, dificultando a permeabilidade capilar, sendo um dos sinais mais comuns e desconfortáveis durante o período gestacional, pois ele é frequentemente associado a sintomas, como dor, cansaço, sensação de peso, além do componente estético que tanto incomoda as mulheres (ZUGAIB e RUOCCO, 2005; GUIRRO e GUIRRO, 2004). O edema se forma em primeiro lugar nos pés e nas pernas, correspondendo à força da gravidade (ELWING e SANCHES, 2010). Conforme a evolução da gestação, o edema vai se agravando ainda mais, causando dores e formigamentos nos membros inferiores e cãibras noturnas após períodos em pé. Caso a pessoa não seja submetida a tratamento, poderá ocorrer trombose. O edema pode ainda ser um sinal de possíveis patologias, como hipertensão e préeclâmpsia (MACHADO et al., 2012). O edema é sensível a alterações circadianas, podendo seu volume ser alterado em função de fatores, como postura mantida, temperatura, atividade física, flutuações hormonais, acessórios de vestuário e ingestão de sal (OLIVEIRA, 2006). Guirro e Guirro (2004) comentam que a maioria das gestantes desenvolve o edema em algum período da gravidez em razão do aumento dos líquidos orgânicos, ocorrendo principalmente nos membros inferiores quando existe a dificuldade do retorno venoso ao coração e a compressão da veia cava pelo útero gravídico. O edema é um acúmulo patológico de líquidos localizados principalmente nos tecidos conjuntivos intersticiais subcutâneos e modifica os contornos do corpo, apresentando uma depressão e uma elevada turgidez do tecido, podendo atingir todo o corpo (generalizado) ou somente partes (localizado) (ELWING e SANCHES, 2010). O acúmulo generalizado de água de até 8 litros na gravidez é fisiológico, o que corresponde a um aumento de peso que pode chegar a 12 quilos até a data do nascimento do bebê. Essa elevada reserva de água é necessária para que a grávida garanta uma troca contínua de líquidos com o feto por meio da placenta; caso contrário, podem ocorrer danos ao feto. Portanto, uma leve depressão nos pés e nas pernas é fisiológica, e ganhos de peso acima disso são resultantes do excesso de armazenamento de gorduras ou de edemas mais graves. No edema da gravidez, exclui-se sempre aquele que é causado por uma doença renal ou hepática (ELWING e SANCHES, 2010). Nesse período, pode-se atuar no tratamento e prevenção dessas alterações por meio de drenagem linfática manual, fisioterapia, atividade física e hidroterapia, o que é benéfico para: controle da dor, disfunção pélvica, disfunções articulares, reeducação muscular, orientações posturais e formação de uma imagem corporal positiva com o objetivo de proporcionar melhoras na autoestima e na qualidade de vida, principalmente para as mulheres que já faziam parte de um programa de exercícios (FONSECA et al., 2009; PORTER, 2005). Conforme Machado et al. (2012), os tratamentos indicados contra o edema gestacional têm o intuito de controlar e/ou reduzir o seu estágio com a utilização de terapias medicamentosas (segundo orientação médica) e terapias não medicamentosas. Para disfunções corporais como o edema, pode-se destacar a aplicação da DLM, que usa somente manobras lentas, suaves e rítmicas, realizadas com as mãos, seguindo sempre o trajeto unidirecional do sistema linfático superficial, podendo facilitar a drenagem de líquido excedente entre as células, mantendo assim o equilíbrio hídrico do interstício (SILVA, ZANETTI e MATSUTANI, 2006; TACANI e TACANI, 2008). O sistema linfático é composto por linfa (fluido transparente), vias linfáticas (capilares, vasos e troncos), tecidos linfoides (baço, timo e tonsilas), linfonodos (gânglios ou nodos), capilares linfáticos (vasos de pequena espessura), précoletores (cobertos por tecido conjuntivo e compostos por válvulas) e coletores (vasos de maior calibre). Esse sistema transporta a linfa da periferia para o centro em único sentido e não possui nenhum órgão bombeador, sendo considerado um arranjo de “limpeza” corporal (BORGES, 2006; YAMATO, 2007). 41 http://www.uniararas.br/revistacientifica Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 Localizada na derme, a linfa é composta por um líquido transparente, e 96% de sua formação é água, sendo separada por duas partes: a plasmática e a celular. Os capilares linfáticos são as primeiras estruturas e têm como função absorver proteínas e controlar a abertura e o fechamento da valva, impedindo que a linfa retorne. Os ductos linfáticos conduzem a linfa e são divididos em ducto linfático direito, o qual recebe a linfa do lado direito corporal, e ducto torácico, que recebe a linfa referente ao restante do corpo. Os linfonodos realizam a filtração da linfa, além de criar uma barreira de proteção imunológica e de ativar a fagocitação de células reticulares e macrófagos (GARCIA, 2011). A técnica realizada nos membros inferiores começa com a abertura dos gânglios e, em seguida, com movimentos que direcionam a linfa com seu conteúdo, que é composto de toxinas e líquidos retidos, os quais são eliminados pelos gânglios por meio de leves movimentos na região da virilha. O mesmo procedimento deve ser feito na área atrás do joelho, com leve compressão de baixo para cima, fazendo os mesmos movimentos em toda a perna até o tornozelo e depois de volta à virilha (FERNANDES e MAIA, s/d). Os vasos linfáticos encontram-se na primeira camada da pele. Desta forma, não há necessidade de pressionar profundamente a pele. O profissional, para realizar a DLM, precisa ter conhecimento do sistema linfático e, principalmente, de todas as mudanças fisiológicas que ocorrem no organismo durante a gestação (FERNANDES e MAIA, s/d). As principais indicações da DLM envolvem o tratamento contra edemas de diversas origens, como: ortopédicos, pós-operatórios, fleboedema, edema pré-menstrual, distrofia simpática reflexa, fibromialgia, linfedemas e lipedemas (TACANI e TACANI, 2008). De acordo com Leduc e Leduc (2007), as influências diretas da DLM são referentes a fatores, como: capacidade dos capilares linfáticos; velocidade da linfa transportada; filtração e reabsorção dos capilares sanguíneos; e quantidade de linfa processada dentro dos gânglios linfáticos sobre: a musculatura esquelética; a motricidade do intestino; o sistema nervoso vegetativo; a imunidade. Quando aplicada a DLM, alguns cuidados devem ser adotados, como o controle da pressão arterial, pois a pressão das gestantes tende a ser mais baixa no início da gravidez e pode cair ainda mais, e rapidamente, em decorrência de tratamentos que promovem relaxamento. A posição da gestante deve ser supina para que não desenvolva a síndrome da posição supina em consequência da pressão exercida pelo útero sobre a veia cava inferior e sobre as grandes veias pélvicas, diminuindo o retorno venoso, causando tonteira, desfalecimento, palidez, náusea e taquicardia (CAMBIAGHI, 2001; FERNANDES e MAIA, s/d). Nesse caso, para melhor conforto da gestante, a posição de decúbito lateral (principalmente o lado esquerdo), com os membros inferiores apoiados por um travesseiro em cunha, sendo deixados elevados aproximadamente em 45 graus, é a melhor opção, pois alivia a obstrução das grandes veias abdominais e favorece o retorno sanguíneo dos membros inferiores mais rapidamente à circulação sistêmica (CAMBIAGHI, 2001). A DLM só é contraindicada em casos de tumores malignos, tuberculose, infecções agudas, reações alérgicas, edemas sistêmicos de origem cardíaca e renal, hipotiroidismo, asma, bronquite, flebite e trombose venosa profunda (BORGES, 2006). No caso da técnica em gestantes, é contraindicada a aplicação no abdômen, pois as manobras podem resultar em aborto espontâneo. Outro cuidado é quanto ao número de vezes semanais que será realizada a técnica. O ideal é que sejam feitas de duas a três sessões semanais para não sobrecarregar o sistema linfático da gestante (SPAGGIARI, 2008). Outra terapia que pode ser realizada durante a gravidez é a hidroterapia, que auxilia na redução do edema, pois mesmo com a imersão em uma profundidade mínima de água, há a produção de uma pressão hidrostática sobre o vaso, a qual é maior do que a pressão linfática (SILVA, ZANETTI e MATSUTANI, 2006). A pressão hidrostática é uma força exercida igualmente por todas as partes imersas do organismo em repouso a partir de determinada profundidade. Quanto mais profundo, maior a densidade do líquido, que é deslocado para o interior do espaço vascular, aumentando o volume plasmático e, consequentemente, reduzindo edemas gestacionais, uma vez que essa pressão promove o aumento do retorno venoso (ORSINI et al., 2010; BECKER e COLE, 2000). 42 http://www.uniararas.br/revistacientifica Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 Durante a gestação, é necessário que os exercícios sejam regulares e moderados para que não haja desconfortos e traumas à paciente. Exercícios de baixo impacto e em imersão são expressamente indicados para grávidas em razão do conforto oferecido pela água (BECKER e COLE, 2000). As propriedades físicas da água aquecida promovem diversas reações fisiológicas e benéficas, como relaxamento, analgesia e menor impacto. Outros efeitos, como dilatação dos vasos sanguíneos, ampliam o aporte sanguíneo periférico, aumentando assim o metabolismo da pele e dos músculos, gerando melhoras na frequência respiratória. Também há elevação da habilidade corporal, fazendo com que a gestante elimine calor, assim, diminuindo os riscos de hipertermia que podem prejudicar o desenvolvimento do bebê (ANJOS, PASSOS e DANTAS, 2003; DALVI et al., 2010). Durante uma sessão de hidroterapia, o nível ideal da água não deve ultrapassar a altura do esterno para que seja mantida a postura vertebral sem fazer pressões sobre as mamas. É necessário que a temperatura da água fique entre 25 e 31 graus C. Cada sessão dura entre 45 e 60 minutos no máximo, não ultrapassando esse tempo para evitar a fadiga da gestante. Para não haver riscos de ocorrência dos efeitos teratogênicos nos fetos, a temperatura corporal da mãe não deve ultrapassar 28,9 graus C (SACCHELLI, ACCACIO e RADL, 2008; ANJOS, PASSOS e DANTAS, 2003). A aferição da frequência cardíaca e respiratória, bem como da pressão arterial, é indispensável antes e depois das sessões de hidroterapia para constatar que a gestante está apta a receber os exercícios e para que seja comprovado que não houve alterações ao término da sessão. A frequência cardíaca deve permanecer no máximo em 140 batimentos por minuto em exercícios aeróbicos que trabalhem resistência muscular e de intensidade moderada realizados três vezes por semana (CASTRO et al., 2009; ANJOS, PASSOS e DANTAS, 2003). A imersão durante 20 a 40 minutos promove uma perda de 300 a 400 mililitros de líquido na urina, comprovando grande benefício de imersão tanto para gestantes com retenção hídrica quanto para portadores de hipertensão arterial (SACCHELLI, ACCACIO e RADL, 2008). Um estudo realizado por Silva e Brongholi (2005) avaliou que, ao ser aplicada a DLM em gestantes, não houve alteração da pressão arterial, e a frequência cardíaca apresentou relativa diminuição após a realização do procedimento. Segundo Borges (2010), depois de serem submetidas à DLM, as gestantes sentem-se mais dispostas e ativas, havendo também a diminuição de sinais e sintomas referidos na avaliação, o que cooperou para beneficiar a realização de suas atividades domésticas e profissionais, além de melhora no sono. Observa-se, assim, que a DLM reduz a perimetria. Portanto, ela pode contribuir para a redução do edema gestacional, proporcionando um aumento na frequência e no volume urinário. Estudos confirmaram os benefícios da DLM na reabsorção do líquido intersticial, sendo uma forma de tratamento eficaz contra o edema gestacional (PICCININ et al., 2009). Já na hidroterapia, os resultados dos estudos realizados puderam inferir que a prática de exercícios aquáticos melhorou a adaptação circulatória materna. Desta forma, a atividade física em imersão é outra opção de controle do edema gravídico (ALVES, 2012). Dertkigil et al. (2005), em um estudo sobre atividade física de imersão em água durante a gestação, verificou que houve diminuição do edema gravídico. Esse fato pode ser explicado pela pressão hidrostática que atua sobre o sistema venoso-linfático, fazendo com que maior quantidade de sangue seja deslocada dos membros inferiores, diminuindo o edema. Foi observada também a diminuição nos valores de circunferência do membro inferior, o que pôde ser comprovado por meio da perimetria. CONCLUSÃO Após a revisão de literatura, conclui-se que ambos os tratamentos apresentam respostas significativas em relação ao edema gestacional, colaborando para a prevenção e/ou tratamento contra o acúmulo patológico de líquidos. A DLM e a hidroterapia dispõem de recursos distintos, porém eficazes, possibilitando à gestante a diminuição dos distúrbios causados pelas modificações ocorridas nesse período da vida da mulher. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, D. A. G. Influência da Hidroterapia na Gestação. Revista Neurociências, v. 20, n. 3, p. 341-342, 2012. Disponível em: 43 http://www.uniararas.br/revistacientifica Revista Científica da FHO|UNIARARAS v. 3, n. 1/2015 <http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/20 12/RN2003/editorial%2020%2003/Editorial%2020 %2003%20Debora.pdf >. Acesso em: 23 set. 2015. ANJOS, G. C. M.; PASSOS, V.; DANTAS, A. R. Fisioterapia aplicada à fase gestacional: uma revisão da literatura. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Fisioterapia) – Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2003. Disponível em: <http://www.wgate.com.br/ conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/variedades/g estacional_gabriela.htm>. Acesso em: 23 set. 2015. BECKER, B. E.; COLE, A. J. 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