ARROZ Oryza sativa L. 1. INTRODUÇÃO O arroz é uma planta anual, monocotiledônea, pertencente à família Gramineae (Poaceae), gênero Oryza e espécie Oryza sativa L. A faixa de plantio da cultura estende-se de 53° norte a 35° sul de latitude e desde o nível do mar até 2.400 metros de altitude. O cultivo do arroz convencional ocupa o 2º lugar em área plantada no mundo, só perdendo para o trigo. O maior produtor é a China Continental, seguido da Índia, Indonésia, Bangladesh, Vietnã, Tailândia, Burma, Japão e o Brasil, ocupando o 9º lugar, com 2% da produção mundial. No Brasil o maior estado produtor de arroz convencional é o estado do Rio Grande do Sul, seguido de Minas Gerais, Mato Grosso, Maranhão, Santa Catarina, Goiás, Tocantins, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No Estado de São Paulo, a cultura ocupa o 7º lugar em área plantada, com produtividade média em torno de 1.800 quilos por hectare. 2. MODALIDADES DE CULTIVO DE ARROZ As modalidades de cultivo de arroz para o Estado de São Paulo são: 2.1. ARROZ DE SEQUEIRO: cultivado em terras altas, depende exclusivamente de precipitação pluviométrica, sendo por isso considerada uma cultura de risco, principalmente devido aos períodos de veranico que ocorrem nos meses de janeiro e fevereiro, e que coincidem com a fase de florescimento, principalmente (diferenciação floral até floração plena). O cultivo de sequeiro predomina nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. 2.2. ARROZ DE SEQUEIRO COM IRRIGAÇÃO SUPLEMENTAR POR ASPERSÃO: a cultura é irrigada nos períodos de déficit hídrico, de forma a atender as exigências hídricas mínimas em cada fase do ciclo da planta. 2.3. ARROZ DE VÁRZEA: cultivado em áreas de baixada, que apresentam-se, normalmente úmidas ou encharcadas, com vegetação hidrófila; a água provém da inundação periódica das margens dos rios. O sistema de cultivo permanente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina é o de irrigação por inundação. 2.4 ARROZ IRRIGADO CULTIVADO EM VÁRZEAS SISTEMATIZADAS: a irrigação é controlada e feita pela inundação dos tabuleiros ou quadras, formando-se lâminas de água. 3. CLIMA 3.1. TEMPERATURA A temperatura mínima para germinação do arroz varia de 12 a 13°C, sendo que a temperatura ótima varia de 30 a 35°C e a temperatura máxima de 38 a 40°C. Para a maioria dos cultivares, o crescimento normal pode ser admitido com temperaturas acima de 20 a 24°C, com máxima ao redor de 40 a 42°C. A temperatura média adequada para o ciclo vegetativo do arroz varia de 20 a 38°C, sendo que as ótimas para produção de grãos oscilam entre 29 a 32°C. A temperatura mínima para floração varia de 22 a 24°C e a temperatura mínima para frutificação varia de 20 a 25°C. 3.2. CHUVAS A produção de grãos de arroz de sequeiro é limitada pela quantidade e distribuição de chuvas. Considera-se que, durante o ciclo da cultura, devam ocorrer, pelo menos, 200 mm de chuva por mês, sendo que as fases mais exigentes em água compreendem o emborrachamento, a floração e o enchimento de grãos. 4. SOLO 4.1. Profundidade A profundidade efetiva do solo para a cultura do arroz corresponde à faixa de perfil do solo, onde o sistema radicular penetra livremente, buscando nutrientes e água. A concentração excessiva de elementos tóxicos como, por exemplo, o alumínio, a ocorrência de camadas adensadas pouco permeáveis e a presença de camadas de rochas próximas à superfície, são fatores que interferem no volume de solo disponível ao sistema radicular. 4.2. Conservação do Solo A erosão hídrica é o maior problema, atualmente, na agricultura, pois degrada o solo e causando problemas na qualidade e disponibilidade de água através da poluição e assoreamento de mananciais, enchentes na época das chuvas e escassez na época de estiagem. A erosão degrada o perfil do solo, arrastando, além dos sedimentos, insumos em geral, como sementes e fertilizantes, causando diminuição da produção agrícola e empobrecimento do meio rural. O manejo inadequado do solo tem propiciado a erosão hídrica, pela redução da cobertura vegetal e da infiltração de água no solo. O aumento da cobertura vegetal reduz, consideravelmente, a energia de impacto das gotas de chuva contra a superfície do solo, refletindo diretamente na desagregação da estrutura do solo, reduzindo o selamento superficial e aumentando a infiltração de água. Fatores que afetam o solo O uso de maquinário pesado, implementos a disco, como arados, grades niveladoras e aradoras, representa o principal fator agravante da erosão do solo, compactam o solo sub-superficialmente, mantém poucos resíduos na superfície e aceleram sua decomposição. Estes aspectos colaboram para a redução do potencial produtivo do solo, a médio e a longo prazo. Por outro lado, além de não haver implementos alternativos no mercado, estes apresentam vantagens como: o rendimento operacional é elevado, o controle de plantas daninhas é eficiente; boa incorporação de corretivos e fertilizantes. Como melhorar o solo Algumas práticas podem ser adotadas para se conservar o solo em cultivos de arroz. São elas: plantio em nível, terraços, usos de faixas de retenção, adubação verde, rotação de cultura e manejo adequado do solo. Em cultivos de arroz de sequeiro, recomenda-se a rotação de culturas com amendoim, algodão e leguminosas, e nos cultivos irrigados, a rotação com pasto, leguminosas, batatinha e trigo (visando ao controle do arroz-vermelho e preto). 4.3. Tipos de solo Todos os tipos de solo prestam-se ao cultivo de arroz, devendo ser evitados os solos halomórficos (salinidade alta), as areias quartzosas marinhas, os litossolos e os cambissolos (muito rasos). 5. SISTEMATIZAÇÃO DO TERRENO EM ARROZ IRRIGADO A sistematização é o nivelamento da terra, a fim de torná-la plana ou ligeiramente plana. A área a ser sistematizada deverá receber e conservar a água de irrigação nos talhões, os quais devem ser quadrados ou retangulares para facilitar a mecanização e devem possuir as mesmas características do solo. Levantamento do terreno Inicialmente, deve-se fazer o levantamento dos caminhos, limites, drenos, sistemas de distribuição de água e pequenos diques, e das características do solo. A área deverá estar limpa. É comum fazer-se um pré-nivelamento para a maior precisão do levantamento planialtimétrico. Em áreas alagadas, aconselha-se fazer uma drenagem superficial para permitir o trânsito de máquinas e equipamentos. Se a declividade da área for cerca de 1%, divide-se o terreno em tabuleiro; se superior a 1%, divide-se em patamares. O desnível entre os patamares não deve ser superior a 0,60 metro. Para a semeadura em solo seco, pode haver desnível de até aproximadamente 0,1%; para semeadura em solo inundado não deve haver desnível nos tabuleiros e patamares. Construção de tabuleiros Na construção dos tabuleiros, o movimento de volumes excessivos encarece o projeto, além de remover a camada fértil do solo nas estacas de corte e sobrepô-las nas estacas de aterro. Se não for possível evitá-lo, pode-se raspar a camada fértil para o centro do tabuleiro e repô-la sobre o terreno nivelado. O declive, a profundidade, a textura e a estrutura do solo, e a disponibilidade de água são condições a serem verificadas para se realizar a irrigação superficial. Para saber-se o tempo em que se deve manter a lâmina de água sobre a superfície do solo, no tabuleiro, usa-se o método do infiltrômetro de anel. Este, determinará a velocidade básica de infiltração (VIB) de água no solo (vide Boletim Técnico nº 189-CATI). 6. PREPARO DO SOLO O preparo do solo é prática essencial à cultura do arroz, proporcionando-lhe benefícios como a vincorporação dos restos da cultura anterior, diminuição dos riscos de deficiência hídrica, pelo aumento da aeração do solo e de sua capacidade de retenção de água;eliminação das plantas invasoras e enterrio de suas sementes superficiais, retardando sua concorrência com a cultura na fase inicial; propiciar a formação de camada uniforme para receber as sementes, minimizando-se as falhas. Métodos de preparo do solo Para cada modalidade de plantio de arroz, pode recomendado diferentes métodos de preparo do solo. Assim temos: ser Arroz de sequeiro em terras altas Recomenda-se a aração invertida, que consiste em passar a grade aradora ou niveladora; em seguida, o arado de aiveca; e novamente a grade niveladora. Este preparo reduz os riscos de danos por estiagem, pelo maior armazenamento de água no perfil do solo e maior desenvolvimento da raiz. Em solos inclinados, o preparo e o plantio devem ser feitos em nível, para controlar a erosão. Arroz de baixadas não sistematizadas: Faz-se a drenagem da área no final das chuvas (abril-maio). Em seguida roça-se, a vegetação. A aração e a gradeação são feitas como em várzeas sistematizada; a única diferença é que o solo não é nivelado. Arroz irrigado em baixadas sistematizadas No cultivo do arroz irrigado, o ideal é preparar-se uma camada de 6 a 8 cm de solo pulverizado assentada sobre uma camada adensada de 5 a 10 cm, para evitar-se a perda de água e nutrientes por infiltração ou percolação. O solo deve estar bem renivelado, de modo que a lâmina de água no tabuleiro seja uniforme, evitando-se o afogamento das plantas nas partes mais baixas ou a falta de água nas partes mais altas, este último favorece o desenvolvimento de plantas invasoras. Os métodos mais usados no preparo de solo em arroz irrigado são a semeadura em solo seco, fazendo-se a aração à profundidade de 15 a 25 cm e, em seguida, gradeia-se. Na semeadura em solo inundado (sementes pré-germinadas e transplante de mudas). O método inundado é realizado em duas fases, sendo a 1ª fase formação da lama na camada superficial (em solo seco com inundação posterior, ou em solo inundado) e a 2ª fase - renivelamento e alisamento do solo: 8. CALAGEM A cultura do arroz é bastante tolerante à acidez do solo, produzindo razoavelmente, mesmo em casos em que esta é elevada, isto é, para pH em torno de 4,2 a 5,2. A faixa ideal de pH para a cultura situa-se entre 5,7 a 6,2. O calcário elimina o alumínio e o manganês, que são prejudiciais à planta, e disponibiliza principalmente o cálcio, o magnésio e o fósforo, além de favorecer as atividades microbiológicas no solo. De acordo com a análise química do solo aplicar calcário para elevar a saturação por bases a 50%, para arroz de sequeiro e 40% para arroz inundado. Empregar, no máximo, 2 t/ha de calcário/ano. Aplicar pelo menos 3 meses antes da semeadura se o teor de Mg no solo for inferior a 5 mmolc/dm3, para teores de Mg maiores pode empregar qualquer tipo de calcário. 9. ADUBAÇÃO A recomendação de adubação deve ser baseada na análise de solo. Aplicar no plantio, de acordo com a análise do solo e a produtividade esperada. Deve ser considerado que os teores de fósforo elevam-se com a inundação do terreno. Recomenda-se o plantio anterior e a cobertura verde do solo, com os adubos verdes, como ervilhacas, trevo, nabo forrageiro e aquáticas (azolla) que vão suprir a necessidade de nitrogênio. Emprega-se adubos orgânicos, para reestruturar o solo, como cinza de casca de arroz carbonizada, a cama de aviária compostada, assim como esterco de animais curtidos. Pode também ser formulados compostos orgânicos ou Bokashi com 20 a 80 kg/ha de P2O5, 20 a 60 kg/ha de K2O e 0 a 3 kg/ha de Zn, além de 10 kg/ha de N e 20 Kg/ha de S. Aplicar em cobertura, adubo orgânico foliar rico em nitrogênio, cerca de 40 dias após a emergência das plantas. Reduzir a dose de N de as apresentarem crescimento inicial muito vigoroso e coloração verde intensa. 10. SEMEADURA 10.1. Variedades A recomendação é o emprego das cultivares regionais. No caso de arroz parbolizado, utiliza-se no sul do Brasil, entre outras: Epagri-106108 e 109, que são de grão fino, agulhinha. Há também a variedade japonesa Formosa IAS 12-9, de grão curto e redondo, muito rústica e produtivo para o arroz integral. 10.2 Época da semeadura A época de semeadura é definida em função da ocorrência de condições adequadas de água, luz e temperatura. Época: Recomenda-se a semeadura, de arroz de sequeiro de outubro a dezembro e de arroz irrigado de setembro a dezembro, sendo que os melhores resultados são obtidos em plantios efetuados em outubro e novembro. Para arroz irrigado de muda, com o uso da plasticultura pode-se antecipar esta semeadura para o mês de julho para os cultivares IAC 4440 e IAC 242. 10.3. Espaçamento e densidade: A população de plantas por umidade de área é calculada em função dos espaçamentos usado entre linhas e da densidade de plantas nas linhas. A população ideal é determinada por diversos fatores, como: características fenotípicas da planta (porte da planta, forma, e disposição das folhas), preparo do solo, fertilidade do solo, época de semeadura, cobertura de terra nas sementes. Arroz de sequeiro: recomenda-se espaçamentos de 40 a 50 cm entre linhas, com 50 a 60 sementes por metro linear nos espaçamentos mais estreitos e 60 a 70 sementes por metro linear nos mais largos, com um consumo de 35 a 45 kg/ha. Arroz irrigado: (a) convencional: recomenda-se espaçamento de 30 cm entre linhas e 90 a 100 sementes/metro linear, com um consumo aproximado de sementes de 100 kg/ha; (b) a lanço em solos secos ou submersos: 120 a 150 kg/ha de sementes; (c) plantio por mudas: 200 a 250 m² por hectare de sementeira, utilizando-se 350 a 450 kg/ha de sementes/m², com um gasto aproximado de 90 kg de sementes para plantio de 1 hectare. O número de mudas varia de 3 a 5/cova e o espaçamento entre mudas é de 0,20 x 0,30 m. Profundidade de semeadura: Varia de 2 a 5 cm e a cobertura de sementes com terra de 2 a 3 cm conforme a umidade do solo. Em solos argilosos a profundidade usada é menor pois estes retêm mais água. 11. COMBATE A ERVAS INVASORAS A cultura do arroz, ao competir com as plantas invasoras, é prejudicada, pois além de causar redução na produção, estas plantas abrigam pragas e agentes patológicos. O arroz daninho (Oryza sativa L) deprecia a qualidade do produto; espécies como o angiquinho (Aeschynomene rudis Benth) podem dificultar a operação da colheita. Como forma de combate, recomenda-se o plantio de adubos verdes fortes antes do plantio do arroz, para reduzir a população das ervas invasoras, as ervas que persistem devem ser posteriormente erradicadas com capina. As principais plantas invasoras que ocorrem com maior freqüência constituindo problema nas regiões produtoras são: MONOCOTILEDÓNEAS: Oryza spp (arroz daninho); Echinochloa crusgalli (capim-arroz); Echinochloa cruspavonis (capim-arroz); Echinochloa colonum (capim-arroz); Echinochloa sp (capim-arroz); Ischaemum rugosem (capim-macho); Brachiaria plantaginea (capimmarmelada); Brachiaria purpurascens capim-fino); Cyperus ferax (tiriricão); Cyperus iria (pêlo-de-boi, junquinho); Cyperus esculentes (tiririca amarela); Cyperus spp (tiriricas). DICOTILEDÓNEAS: Archynomene rudis (angiquinho); Aschynomeme selloi (sensistiva); Amaranthus hybridus (carurú); Borreria alata (erva quente); Erysine portulacoides (tripa-de-sapo); Heteranthera uniformes (aguapé); Polygonun spp (erva-de-bicho); Portulaca oleracea (belchaega); Sagitaria montevidensis (chapéu-de-couro); Sagitaria guyanensis (chapéu-de-couro). 12. PRINCIPAIS PRAGAS 12.1 PRAGAS DE SOLO, NOME, SINTOMAS E PREJUÍZOS cupins: Synthermes molestus, Procornitermes sp, Cornitermes sp Formam ninhos subterrâneos, encontrados a cerca de 2 m de profundidade. Ataques internos em solos arenosos, com baixa umidade, cultivados anteriormente com gramíneas. Os cupins se alimentam do arroz semeado e também atacam o sistema radicular das plantas do arroz destruindo-o. As plantas mostram um amarelecimento morrendo posteriormente. O aspecto da touceira é totalmente seco, e se desprende com facilidade do solo. Elasmo: Elasmopalpus lignosellus Completamente desenvolvida, a lagarta adulta mede 15 mm de comprimento. Tem coloração verde azulada, com cabeça marron escura, de tamanho pequeno. O ataque se inicia pouco abaixo da superfície do solo, onde cavam galerias em direção ao centro das hastes. Esse inseto no arroz produz o conhecido "coração morto", que se caracteriza pelo secamento da folha central, que se desprende com facilidade. Esta praga é limitante para culturas do cerrado. Para o controle utiliza-se Bacillus thurigiensis (Dipel). Lagarta rosca: Agrotis ipsilon A larva tem coloração pardo acinzentada escura, medindo até 45 mm, hábitos noturnos e durante o dia ficam enroladas, abrigadas do sol. Gorgulhos aquáticos: Helodytes faveolatus, Neobagous sp, Hydrotimetes sp, Orizophagus oryzae Grande importância nos canteiros de mudas, onde as larvas são encontradas em maior quantidade, atacando raízes e cavando galerias. As plantas jovens atacadas apresentam aspecto clorótico. Em infestaçães intensas, pode haver a completa destruição do canteiro e até das mudas transplantadas. Os adultos se alimentam do parênquima das folhas, onde deixam orifícios da largura de suas mandíbulas. 12.2 PRAGAS DA PARTE AÉREA: Lagartas: Mocis latipes Spodoptera frugiperda Alimentam-se das folhas, podendo destruir completamente a cultura. Percevejos: Oebalus poecilus Tibraca limbativentris O primeiro constitue em certas regiões a mais importante praga do arroz. O adulto mede 7 a 8 mm de comprimento por 4 mm de largura. As ninfas são muito vorazes, sugam os grãos leitosos, provocando o seu chochamento. Podem também, sugar o grão maduro, uma mancha de cor marrom escura. Esses grãos se tornam gessados e quebram com facilidade, no beneficiamento. O segundo suga a haste do arroz, causando um estrangulamento da mesma. Utiliza-se defensivos alternativos produzidos com extratos de plantas, como alho. 13. PRINCIPAIS DOENÇAS E CONTROLE 13.1. Brusone Causada pelo fungo Pyricularia oryzae. Afeta as folhas, bainhas, nós dos colmos, panículas e grãos. O patógeno se transmite pelas sementes, restos culturais e ervas invasoras. Nas folhas, inicialmente aparecem pequenos pontos castanhos, que aumentam formando manchas elípticas de centro cinza e bordos marrons, às vezes circundados por halo amarelado. Pode haver a queima total das folhas até a morte das plantas. Quando ocorre infecção nos colmos, nós e entrenós, pode haver impedimento da circulação da seiva e consequente chochamento da panícula, ou necrose do local, com posterior acamamento da planta. Infecção no "pescoço" (nó basal da panícula) acarreta esterilidade da panícula, quando a infecção ocorre na fase do florescimento até estágio leitoso dos grãos, e redução do seu peso, se o ataque for mais tardio. Medidas culturais para controle da brusone - Uso de sementes certificadas; semeadura em época normal; adubação equilibrada, evitando o excesso de nitrogênio; rotação de cultura; eliminação de restos culturais e ervas invasoras; utilização de cultivares resistentes; troca de cultivares a cada 2-3 anos ou uso simultâneo de duas ou mais cultivares. 13.2.Mancha parda Causada pelo fungo Bipolaris oryzae (= Helminthosporium oryzae). As folhas apresentam manchas ovais, de cor marrom, podendo apresentar centro esbranquiçado. Nos grãos, as manchas são marromescuras, ocasionando a redução no peso dos grãos, chochamento, ou perda de qualidade, devido a gessamento e coloração escura. A doença é transmitida principalmente pelas sementes, e o patógeno pode sobreviver muitos anos nos restos de cultura. O controle é feito através da semeadura de cultivares tolerantes e práticas culturais adequadas (as mesmas recomendadas para o controle da brusone). O emprego de caldas cúpricas, como a calda viçosa é recomendada. 13.3. Mancha estreita Causada pelo fungo Cercospora oryzae. Manchas estreitas e alongadas, de cor pardo-avermelhada, surgem principalmente nas folhas, podendo incidir também nas bainhas, colmos e glumas. Essa doença aparece geralmente no final da cultura, enfraquecendo a planta e provocando maturação precoce dos grãos, com redução no seu peso. O fungo permanece nas sementes e restos culturais. O uso de medidas culturais preventivas para o controle da brusone atuam também no controle da mancha estreita. 13.4. Escaldadura da folha Ocasionada pelo fungo Gerlachia oryzae (= Rhynchosporium oryzae), ocorre normalmente do emborrachamento até a maturação dos grãos. As folhas ficam com os bordos ou ápices atacados, com manchas verde oliva. Mais tarde aparecem faixas concêntricas, marrom claro e escuro. A folha pode secar. Os grãos atacados apresentam descoloração das glumas e esterilidade. A doença se transmite pela semente e é favorecida por solos com níveis elevados de matéria orgânica, alta densidade de plantio, excesso de Nitrogênio e alta umidade. 13.5. Crestamento da bainha Ocasionada por Thanatephorus cucumeris (forma perfeita de Rhizoctonia solani). Nas bainhas e colmos aparecem manchas ovais, elípticas ou redondas, de cor cinza claro com bordas de cor marrom, sobre as quais há formação de esclerócios. Esta doença provoca acamamento das plantas e espiguetas estéreis. O controle deve ser feito mediante destruição dos restos de cultura anterior, drenagem da área na entresafra e adubação equilibrada, evitando excesso de Nitrogênio. 13.6. Manchas de grãos Sintomas como manchas nas glumas, escurecimento total e esterilidade das espiguetas são associados a fungos de vários gêneros, tais como Helminthosporium, Curvularia, Nigrospora, Alternaria, Fusarium e Phoma. Sua incidência é favorecida pela ocorrência de frio (15 - 20°C) durante os períodos de emborrachamento e floração. Como medida de controle recomenda-se evitar o plantio tardio. CONTROLE DAS DOENÇAS A cultura do arroz sofre o ataque de diferentes doenças fúngicas, ocasionando enormes prejuízos aos orizicultores. A forma mais econômica, segura e eficaz para o agricultor, no controle da brusone, é através da utilização de variedades resistentes. As seguintes medidas são preconizadas: Preparo adequado do solo a fim de propiciar às plantas melhor enraizamento, o que diminui os efeitos da falta de umidade no desenvolvimento da cultura (sequeiro). Utilização de sementes selecionadas, evitando-se a transmissão do fungo Pyricularia oryzae por essa via, principalmente no primeiro ano de plantio. É importante também fazer o plantio de modo uniforme com a semente colocada à mesma profundidade. Evitar a adubação nitrogenada em cobertura, dos 30 aos 40 dias após o plantio, preferindo-se efetuá-la no início do primórdio floral, ou seja, dos 42 aos 48 dias, no caso de variedades precoces, e de 52 a 60 dias, para variedades de ciclo médio. A densidade de plantio e espaçamento devem estar de acordo com as recomendações técnicas. Colheita na hora certa, isto é, com dois terços das panículas maduras, de modo a evitar a perda por infecção na fase semi-madura. Utilização de cultivares com tolerância à doença, substituindo-se aquelas cultivadas anteriormente por novas, melhoradas. Rotação de culturas, com eliminação dos restos da lavoura de arroz, que representam a fonte inicial de disseminação da doença para o plantio seguinte. Emprego da calda viçosa. 14. COLHEITA A colheita pode ser realizada basicamente de dois modos: manual ou mecânico. Em ambos os casos, o termo geral "colheita" engloba algumas operações realizadas em seqüência: corte dos colmos, a formação de feixes; o transporte dos mesmos até um local adequado onde ocorre a batedura ou trilha, isto é, a retirada dos grãos do restante da planta; em seguida tem lugar a limpeza, onde as impurezas são retiradas e por fim, o armazenamento em sacos ou a granel. A produção média das lavouras orgânicas é de 120 sacas/há ou 6 mil kg por hectare, um pouco abaixo dos 7.500 kg geralmente obtido nos sistemas convencionais. Colheita manual O arroz é cortado em feixes, a cerca de 20 cm so solo, com um tipo especial de foice, conhecido popularmente como "ferro para arroz". Após o corte pode ser amontoado, ocorrendo uma certa seca o que facilita a batedura. Nesta operação, os feixes de colmos são batidos contra uma armação (estrado) de madeira na altura de 0,60 m do chão. Pode-se também usar um tambor de 200 l, colocado "deitado". O local da batedura deve ser forrado (chão) e protegido por anteparos laterais de pano sustentados por 4 estacas. Outra maneira possível de trilhar o arroz é com o pisoteio dos colmos estendidos no chão, em camadas, com animais (bovinos, equinos e muares) ou usando-se tratores de pneus. Colheita semi-mecanizado No processo semi-mecanizado podem ser usadas pequenas trilhadoras acionadas a pedal, manualmente ou por pequenos motores. Estas máquinas geralmente possuem um ventilador que realiza a limpeza do produto. Para que a batedura seja realizada adequadamente e para que haja maior rendimento no beneficiamento, a umidade dos grãos do arroz por ocasião da colheita deve estar no ponto ideal. Na colheita manual a faixa é de 18 a 20% e na mecânica, de 20-24% (em base úmida). Na prática colhe-se o arroz quando 2/3 dos grãos estiverem maduros, com sua cor característica e 1/3 correspondentes à base da panícula, com a cor esverdeada, porém com massa firme, resistente à pressão. Na operação de abano, os grãos são separados das impurezas pequenas, de gravetos e poeira. No método mais antigo, o produto é atirado para cima por meio de pás, ocorrendo o arraste das impurezas pela corrente de ar. Pode-se abanar manualmente o arroz pré-limpo, com utilização de peneiras, em operação bastante demorada. Estima-se que a produção de um operário nesta tarefa atinja a 35 kg/hora. Mecanicamente, com uma abanadora acionada por pequeno motor de 1 HP, pode-se alcançar 500 kg/hora. 15. SECAGEM O arroz pode secar na própria planta, em terreiros ou ainda, em secadores. No primeiro caso, permanece por maior tempo no campo, estando portanto, sujeito a perdas por ataque de pássaros e roedores e por queda natural dos grãos. O ponto de secagem é de 13,5% de umidade dos grãos. Secagem natural A secagem em terreiros, ao sol e ao vento é eficiente e barata. O produto é espalhado em camadas de 5-10cm, sofrendo uma movimentação de tempo em tempo com rodos de madeira, evitando-se assim o superaquecimento localizado dos grãos, garantindo-se a homogeneização da sua temperatura, e com ela, da umidade dos mesmos no decorrer da secagem. À noite, o produto é amontoado e coberto com encerado. Devido ao aquecimento durante o dia, a umidade migra do interior dos grãos para a periferia, onde pode condensar, devido ao abaixamento da temperatura atmosférica. No próximo turno, a umidade externa é rapidamente evaporada. Obtém-se neste sistema intermitente, um certo ganho no tempo de secagem e uma homogeneização da umidade do produto. 16. ARMAZENAMENTO O armazenamento visa à formação de estoques que serão utilizados na entre-safra ou vendidos quando for mais oportuno para o produtor. Grandes estoques reguladores são utilizados pelo Governo Federal para regular a oferta e com ela, os preços de mercado. O arroz pode ser armazenado em casca ou beneficiado. No 1º caso, mais usual no longo prazo, algumas vantagens são importantes: 1) a casca dificulta a ação de agentes biológicos (insetos, roedores, fungos, bactérias); 2) o rendimento no beneficiamento melhora após um mínimo de 3 meses de armazenamento; 3) as qualidades culinárias estão no seu ponto ótimo após 6 meses de armazenamento. No 2º caso, (beneficiado) e que ocorre para efeito de comercialização apenas, o prazo em geral é curto. Os maiores problemas no armazenamento são decorrentes de fatores ambientais (temperatura e umidade) e biológicos (roedores, pássaros, insetos, cupins, fungos, etc.), intimamente relacionados. O arroz pode ser armazenado a granel ou ensacado e deve ter no máximo 13,5% de umidade (base úmida). nas temperaturas ambientes prevalentes no Estado de São Paulo, com umidade relativa do ar abaixo de 70% consegue-se o armazenamento seguro por longos períodos (anos). O armazenamento a granel ocorre em silos metálicos, tulhas, containers, ou em barracões, caso em que é necessário atentar-se para a umidade do piso (surgimento de fungos) ou através do telhado e para a penetração de roedores e insetos. O armazenamento em sacos é muito comum no nosso meio. Usam-se sacos de juta, ráfia, algodão e de papel multifolhado cada um com suas características de resistência mecânica e à penetração de agentes biológicos. Para evitar ou minimizar a ocorrência de transformações indesejáveis e teor de umidade máximo para a armazenagem por 6 meses é de 13,5% e de 12% para 12 meses. O local de armazenagem deve ser limpo, seco, proteger o produto contra variações excessivas de temperatura e possuir ventilação controlável. O piso deve ser impermeável e a unidade, como um todo, facilitar o controle de pragas. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Agricultura. Comissão Técnica de Normas e Padrões. 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