PRIVATIZAÇÃO NO BRASIL: um panorama histórico da privatização

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Artigo Original – Original Article
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PRIVATIZAÇÃO NO BRASIL: um panorama histórico da privatização e os
impactos sobre o modal rodoviário ¹
PRIVATIZATION ON BRAZIL: a historical overview of privatization and the
impacts on the road
Aline de Carvalho Costa
Graduanda em Administração pela
Faculdade Cenecista de Rio Bonito, FACERB, Brasil
[email protected]
Claudeth Rodrigues Martins
Graduanda em Administração pela
Faculdade Cenecista de Rio Bonito, FACERB, Brasil
[email protected]
Késia Marques Soares
Graduanda em Administração pela
Faculdade Cenecista de Rio Bonito, FACERB, Brasil
[email protected]
Fabiana da Silva Leite
Doutoranda em Economia pela Universidade Federal Fluminense, UFF, Brasil
Mestre em Economia e Gestão Empresarial pela Universidade Cândido Mendes, RJ, Brasil
Coordenadora do Curso de Administração da Faculdade Cenecista de Rio Bonito, FACERB, Brasil
[email protected]
RESUMO
Este artigo analisa a privatização no Brasil, relatando o seu contexto histórico até os
dias atuais dando ênfase nos efeitos da privatização na Logística do modal rodoviário do país.
Além disso, foram focados os Planos de Logística instaurados pelo Estado numa tentativa de
reduzir os custos gerados pelos gargalos na infraestrutura de transporte brasileiro e dos
impactos causados pelo processo de privatização.
Palavras-chave: Privatização; Logística; Governo.
ABSTRACT
This article analyzes the privatization in Brazil, reporting its historical context to the
present day, emphasizing the effects of the privatization in the Logistics of the modal road.
Moreover, it focused in the Logistic Plans implemented by the State in an attempt to reduce
costs generated by bottlenecks in the Brazilian transport infrastructure as well as the impacts
caused by the privatization process.
Keywords: Privatization; Logistic; Government.
¹ Este trabalho é resultado de um Projeto Multidisciplinar denominado “Projeto Disparador”, implementado na
FACERB, cujo tema do segundo semestre de 2016 foi “Privatização no Brasil”. O objetivo do projeto é
incentivar a pesquisa e a produção entre os discentes.
AMPLIANDO Revista Científica da Facerb, v. 4. n. 1. Jan./Jun.2017.
Aline de Carvalho Costa, Claudeth Rodrigues Martins, Késia Marques Soares, Fabiana da Silva Leite
ISSN 2359-1366
1 - INTRODUÇÃO
O presente estudo vem analisar o processo de privatização no âmbito brasileiro, o seu
surgimento, os seus impactos e motivações além de apontar os impulsos que levam o governo
a tomar tais decisões dentro do ambiente das organizações públicas. Evidenciando que no
Brasil surgiu, inicialmente, com o Programa de Desestatização para tentar solucionar os
problemas de gestão do patrimônio e da propriedade pública, além de ter um foco no aumento
da arrecadação por meio da privatização e da concessão, para supostamente assim deter
recursos que pudessem ser aplicados no setor público.
Seguindo um viés histórico até os dias atuais a privatização e concessão dos bens
públicos tem se tornado algo comum em meio às ações governamentais, porém atualmente o
cenário vigente apresenta um contexto de melhoria dos serviços que se encontram em
colapso, devido a uma sequência de problemas de corrupção e má administração da máquina
pública.
No entanto na área Logística do Brasil, a situação da privatização, tornou-se uma
necessidade, pois a ineficácia dos transportes tem comprometido a atuação das empresas
nacionais dentro e fora do país. A rede logística brasileira não consegue acompanhar a
produção interna em questão de armazenamento, estoque e principalmente transporte,
tornando o Brasil menos competitivo perante outros países. E em consequência disto, os
produtos nacionais agregam muito mais os custos logísticos que são produzidos pela ausência
de uma estrutura de transportes bem desenvolvida, tornando o seu preço maior e menos
competitivo para o mercado nacional.
2 - PRIVATIZAÇÃO
A privatização ou a concessão dos modais, de empresas, produtos ou serviços dar-se
por meio de diversas necessidades que podem, segundo Velasco Jr. (1999), ser de caráter
ideológico, pressão pública, avanço de segmentos onde o setor público não consegue
acompanhar e satisfazer a sociedade, ocorrendo à transferência do bem público para o setor
privado.
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De acordo com Xavier (2015), a privatização ocorre quando há venda total do
patrimônio público para o setor privado, e a concessão, quando ocorre a venda parcial de sua
administração para explorar os recursos da empresa por um tempo que é determinado em
contrato entre o setor privado e o público, havendo normas que regem essa atuação.
Em diversos países, a privatização deu-se por meio da necessidade de suprir a
prestação de serviços não ofertada de maneira satisfatória pelo Estado. Em outros casos, a
privatização ocorreu devido à pressão externa de governos estrangeiros interessados em
explorar economicamente algum setor ou até mesmo por pressão política e empresarial devido
aos possíveis benefícios que as privatizações gerariam para esses grupos (VELASCO Jr.,
1999).
Os setores estratégicos atualmente privatizados no Brasil representavam grandes
gargalos econômicos no passado (PINHEIRO, 1999). Ante a falta de iniciativa por parte do
setor privado para investir em setores como siderurgia, energia e infraestrutura de transportes,
o Estado passou a desempenhar o papel de Estado empresário, investido em setores
estratégicos para o Brasil. Segundo Pinheiro (1999) a criação de estatais iniciou-se na época
colonial, tendo como pioneiros a criação do Serviço Postal em 1663 e da Casa da Moeda da
Bahia, em 1694. A partir de então, outras empresas foram criadas visando o atendimento das
necessidades públicas.
2.1 Breve Histórico da Privatização no Brasil
No Brasil, as privatizações seguiram o caminho percorrido por muitos outros países,
sendo que essa intervenção do Estado, segundo Pinheiro (1999), foi muito pequena até o
Getúlio Vargas subir ao poder (1930-1945). O Governo Vargas tem início em uma fase
conturbada da economia mundial devido a Grande Depressão, iniciada em 1929 com a
Quebra da Bolsa de Nova York, além de vivenciar o período da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945). Pinheiro (1999) menciona que o aumento do sentido de nacionalismo e o
pensamento protecionista ganham mais força no Brasil nesse período. A guerra provocou a
redução da oferta mundial de bens industrializados, motivando o governo brasileiro a iniciar o
processo denominado substituição de importações, que visava desenvolver o parque industrial
brasileiro e tornar o Brasil menos dependente das importações. Nesse período, são criadas as
empresas estatais Companhia Vale do Rio Doce (Mineração), a Companhia Siderúrgica
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Nacional (Siderurgia) e a Companhia Elétrica do Vale de São Francisco (Geração de
Energia), PETROBRAS (produção e exploração de petróleo) entre outras (PINHEIRO, 1999).
Associado ao espírito nacionalista, a entrada do Estado como empresário na economia
deveu-se ao baixo desenvolvimento do país em diversos setores industriais oriundos da falta
de interesse por parte do setor privado em atuar em setores que exigem grandes investimentos
e longo prazo de maturação. O elevado custo do capital para financiar esses investimentos era
fator que inibia os mesmos considerados estratégicos para o Brasil (PINHEIRO, 1999),
(GIAMBIAGI et al., 2011). Assim, viu-se um grande número de empresas estatais em setores
estranhos ao Estado, que eram mal administrados pelo setor privado, como editoras e usinas
de açúcar, e que passaram a ser geridas pelo governo em detrimento do setor privado
(PINHEIRO, 1999).
Segundo Pinheiro (1999), não há consenso na literatura a respeito dos motivos que
levaram ao rápido crescimento do setor estatal na economia, ou seja, se foi fruto de
movimentos desconectados ou se foi resultado da política ideológica de intervenção do
Estado. Embora não haja uma linha clara que torne fácil a identificação de qual dessas duas
ocorrências puderam contribuir para que empresas fossem criadas ou passassem a ser
administradas pelo governo brasileiro, o fato é que, à época, esse movimento de estatização
demonstrava um alto nível de eficiência ao satisfazer as necessidades da sociedade brasileira.
A aceitação do Estado como empresário passa a ser questionada no momento em que
as condições econômicas se deterioram, passando a ocorrer protestos públicos contra a
excessiva participação estatal na economia, o que acaba por inibir e reduzir a influência do
setor privado na economia. O que se questionava era se havia real necessidade e importância
em uma atividade econômica ser fortemente administrada pelo setor público e o quão
eficiente e lucrativa seria essa gestão para o país (PINHEIRO, 1999).
Para Pinheiro (1999), esses questionamentos surgiram a partir do momento em que
alguns empresários mostraram o seu descontentamento em não serem ouvidos pelo governo
em questões consideradas relevantes para o processo de decisão da economia nacional, o que
pautou a necessidade de reverter todo o processo de estatização por meio de privatizações de
setores que não eram considerados de extrema importância para o bem público.
Portanto, o Estado deixa de ser visto por muitos empresários do setor privado como o
grande e único provedor da sociedade em diversas áreas da economia brasileira, levantando a
partir dos questionamentos o quanto estatizar poderia reduzir em níveis drásticos a
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competitividade do mercado nacional, surgindo assim a necessidade de se privatizar ou
conceder setores antes considerados intocáveis pelo grupo privado.
2.2 Privatização e Concessão no Brasil
A privatização ou concessão de diversas áreas da economia brasileira inicia-se devido
às crises mundiais ocorridas por volta da década de 70, levantando questões que colocaram
em dúvida a capacidade do governo de ser eficiente, lucrativo e competitivo devido a alta
burocratização de seus processos (PINHEIRO, 1999). Esses questionamentos abriram espaços
para discussões sobre a necessidade de privatizar alguns setores e, em 1981, foram
identificadas 140 estatais que deveriam ser privatizadas. Para Pinheiro (1999), apesar dos
questionamentos sobre o excesso de participação estatal na economia, o processo de
privatização durante a década de 80 foi tímido e inexpressivo:
De fato, seja pelo ritmo, seja pela abrangência, a alienação de estatais na
década de 80 ficou muito aquém do prometido pela retorica governamental.
Além disso, a maior parte das vendas foi feita pelo BNDES, cuja motivação
para privatizar estava mais relacionada à sua necessidade de livrar-se de
empresas problemáticas (...). (Pinheiro. 1999, p. 158)
No início dos anos 1990, com a eleição do Presidente Fernando Collor de Mello, um
grande passo para iniciar o processo de privatização ou concessão das maiores empresas
estatais do país, foi dado de forma mais efetiva (KAHIR, 2012). O plano do Governo Collor
tinha como objetivos abrir as fronteiras do país para os produtos importados ao mesmo tempo
em que se modernizaria o parque industrial brasileiro com maior acesso à tecnologia.
Além da necessidade de modernização do parque industrial e de maior abertura
comercial, o Brasil continuava enfrentando um forte processo inflacionário e um elevado
endividamento do setor público. De acordo com Giambiagi et. al. (2011, p. 136), “(...) no
contexto da chamada nova Política Industrial e de Comércio Exterior (PICE) (...)” do governo
Collor, era necessário intensificar a abertura econômica e realizar privatizações para se
alcançar a estabilidade dos preços. O objetivo era incentivar a competição com a abertura
comercial e a competitividade com as privatizações (GIAMBIAGI et. al, 2011).
O Plano Nacional de Desestatização (PND), criado pelo governo Collor, incluiu,
inicialmente, 68 estatais no programa, entretanto somente 18 foram efetivamente privatizadas
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no período de seu governo (RUSSO, 2013) . Quando se analisa o período Collor-Itamar
Franco (1990-1994), nota-se que 33 empresas federais foram privatizadas, sem ocorrer
privatização de empresas estaduais, que entraram posteriormente no programa (GIAMBIAGI,
2011).
O PND tinha como objetivos, segundo Giambiagi et. al. (2011): (1) redesenhar o
parque industrial brasileiro; (2) promover a consolidação da estabilidade dos preços; (3)
reduzir o endividamento público. O programa de privatização do governo Collor, segundo
Gremaud, Vasconcellos e Júnior (2012, p. 441), “ (...) era colocado como um elemento central
no processo de ajuste fiscal e patrimonial do setor público”.
A Siderúrgica Usiminas foi a primeira estatal a ser privatizada após a implantação do
PND, em 24 de outubro de 1991, estatal considerada uma das mais lucrativas do Brasil. Em
seguida, já no Governo Itamar Franco (1992-1995), outra siderúrgica foi privatizada, a
Companhia Siderúrgica Nacional. A CSN passou de uma empresa deficitária, com prejuízos
acumulados no período de 1985 a 1992, para uma empresa superavitária. A partir da venda
dessas empresas muitas outras siderúrgicas e empresas petroquímicas consideradas de
pequeno porte seguiram a mesma trajetória. O processo de privatização no governo Itamar
Franco foi concluído através de um leilão da Embraer, pertencente à indústria aeronáutica
brasileira, em 1994 (RUSSO, 2013) (KHAIR, 2012).
O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) deu continuidade e
impulsionou o processo de privatização no Brasil, as recomendações do Consenso de
Washington2, que preconizava a privatização de empresas estatais para que os países em
desenvolvimento superassem as sucessivas crises e se desenvolvessem economicamente. Nas
palavras de Giambiagi et. al. (2011, p. 181), “A privatização transferiu para o setor privado
empresas deficitárias ou empresas superavitárias com níveis inadequados de investimentos.
Com a desestatização, esses gastos deixaram de pressionar as contas públicas”. Foram
privatizadas no governo FHC, importantes empresas como a Light, Telebrás, Eletropaulo,
Vale do Rio Doce e alguns bancos estaduais (KAIR, 2012).
1
http://oglobo.globo.com/economia/privatizacoes-ganharam-forca-partir-dos-anos-90-10448501
Consenso de Washington foi o nome dado a um encontro corrido em 1989 em Washington, capital dos EUA,
que reuniu economistas de instituições financeiras com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. De
modo geral, o Consenso de Washington é um receituário para os países da América Latina que passavam por
constantes problemas econômicos. Entre as “receitas” prescritas estavam: disciplina fiscal, abertura comercial e
privatização das estatais.
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Para Khair (2012), o governo de FHC ficou marcado pelas vendas de grandes
empresas estatais ao setor privado em benefício de grupos específicos, que levaram ao
favorecimento de organizações e empresários. Entretanto, para autores como Pinheiro (1996
apud Pinheiro, 1999, p.166)3, a privatização trouxe ganhos de produtividade e lucratividade:
(...) a privatização levou a substancial melhoria do desempenho das antigas
estatais, observando-se aumentos significativos para as vendas reais, as
vendas por empregado, o lucro líquido, o patrimônio líquido, o investimento,
o imobilizado e a razão investimento/vendas.
Para Pinheiro (1999), a privatização e a concessão de empresas estatais foram
possíveis devido à mudança do pensamento de que privatizar significaria uma ameaça para a
segurança nacional. Além disso, ocorrem importantes mudanças na visão, onde o
desenvolvimento eficiente da economia passa a ser mais importante do que o acumular
capital. O aumento da relação entre privatização e política macroeconômica proporcionou a
abertura de um leque de possibilidades para o avanço da economia.
Apesar de todos os impasses e desconfianças geradas pelas vendas de empresas
públicas ao setor privado, elas não param no governo de FHC, tendo continuidade no governo
Lula (2003/2010) quando em 2007, 2,6 mil quilômetros de rodovias foram leiloadas pela
regra da menor tarifa, concedendo a administração dessas rodovias ao setor privado (KHAIR,
2012). O governo FHC, segundo o autor, foi o que mais concessionou os modais de
transportes brasileiros em toda história, abrangendo não apenas vias rodoviárias, mas também
os setores ferroviários do país dentre outros.
As mudanças de visão da sociedade no decorrer do tempo contribuíram de forma
significativa para que, governo e sociedade, tivessem uma maior aceitação em relação ao
processo de privatização, seja de empresas dos setores considerados estratégicos ou não, para
que a economia do país adquirisse na visão de alguns estudiosos, percebendo a importância
desse processo para que o país tivesse maior competitividade frente aos mercados externos.
3 OS PROGRAMAS DE INVESTIMENTOS LOGÍSTICOS NO BRASIL
O governo brasileiro, na tentativa de melhorar o crescimento do país no ano de 2007,
criou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma junção de projetos do próprio
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http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro/eco90
_05.pdf
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setor público e do privado, acrescido de um novo paradigma de planejamento, gestão e
execução do investimento público. No ano de 2011, o governo lançou a segunda fase do PAC,
com os mesmos objetivos anteriores, porém mais apurados.
De acordo com o Portal do PAC, este programa visava também proporcionar ao Brasil
melhorias e avanços nas áreas de infraestrutura social, urbana, logística e energética. Contudo,
no campo logístico os investimentos e parcerias visavam tornar o Brasil mais competitivo e
reduzir os problemas de transporte enfrentados. Atualmente, o maior problema enfrentado
pelo país no âmbito da logística é que o processo de escoamento de produtos não consegue
acompanhar a produção.
No Brasil todos os modais possuem uma falha. E, além disso, o país não harmonizou o
cenário de que, uma a maior produtividade, demanda mais espaço para armazenagem e
estocagem da produção, gerando um grande desequilíbrio dos processos logísticos.
Segundo o Portal do PAC, na área de Logística, seriam feitos investimentos nos
modais ferroviários, rodoviários, nos portos, nos aeroportos e hidrovias. Nas hidrovias
buscaram-se alternativas para reduzir os custos com o transporte e melhorias na
navegabilidade dos rios. Nos aeroportos seriam realizadas reformas estruturais para
acompanhar a demanda de passageiros e mercadorias. Nos portos o foco seria reestruturar
tudo de forma a tornarem-se competitivos, pois os atrasos geram custos e perdas para a cadeia
logística. Para as ferrovias, que seria o modal mais indicado para a redução de custo-benefício
da produção no Brasil, o programa tinha como objetivo a expansão e integração da malha
ferroviária. O modal rodoviário, que é o mais utilizado para o fluxo de produtos, envolve
medidas de pavimentação, redução de acidentes, melhorias na sinalização e a integração deste
com outros modais.
No entanto, ao chegar em 2012 o governo lança o Programa de Investimento em
Logística para dar continuidade ao processo de ampliação e integração dos modais,
propiciando o crescimento econômico do Brasil. O foco desse programa era a privatização por
meio das concessões dos modais rodoviários, ferroviários, portos e aeroportos de todo país
para ter uma integração moderna das vias de transportes dando ênfase na dinamização e
aquecimento da economia.
De acordo com o Portal Brasil, o Programa de Investimento em Logística (PIL) teve a
maior parte de seus recursos oriundos da iniciativa privada, por meio das concessões.
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Figura 1 - Metas de Investimento na Infraestrutura de Transportes no Brasil dentro do PIL.
Fonte: Portal Brasil
O Portal Brasil informa que, no contexto do PIL, trechos ferroviários se ampliaram em
1.088km e, nas rodovias, as tarifas de pedágios foram reduzidas. Avanços que o Portal afirma
serem reflexos desde o PAC e das concessões privadas, favorecendo o progresso da economia
brasileira.
Na gestão do presidente Temer, em setembro de 2016, foi lançado o Projeto Crescer,
do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). O objetivo é fortalecer as ações na área de
transportes, minas e energias e promover o desenvolvimento econômico do país, mediante a
ampliação das concessões, o que permitirá o aumento da arrecadação. Desta forma, as
concessões do setor de transportes serão ampliadas para suprir as carências de recursos do
setor público.
É possível perceber que os problemas logísticos no Brasil são inúmeros, e que todas as
ações tomadas no intuito de privatizar a infraestrutura logística do país devem-se ao fracasso
da administração pública em alocar e administrar os recursos de modo a atender as
necessidades e um setor fundamental para o desenvolvimento e crescimento do país.
4 - CONCESSÃO DO MODAL RODOVIÁRIO NO BRASIL
Para Neto et. al. (2005), em uma visão macroeconômica, o impacto causado para a
economia brasileira devido à ineficiência logística ultrapassa bilhões em perdas, não apenas
de produtos, mas com aumentos nos custos que são repassados aos produtos tornando-os mais
caros.
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A constatação da ineficiência na gestão da infraestrutura logística do país faz com
que, segundo Castro (2000), o Estado busque alternativas para cumprir suas obrigações no
setor de transporte do país, mesmo que de modo indireto, como ocorre nos casos das
concessões ou privatizações da infraestrutura logística, como as rodovias.
O reconhecimento da existência de gargalos logísticos, que reduzem a competitividade
e a produtividade brasileira, é fundamental para o surgimento de programas que estimulem o
investimento privado no setor. Barboza (2014) relata que a rede de transporte no Brasil sofre
desde a distribuição até chegar ao consumidor final, o que aumenta o grau de complexidade
logística.
Resende et al. (2011) destaca que a transferência, para o setor privado, da oferta de
serviços de infraestrutura logística se deve a escolha governamental em destinar recursos
prioritariamente aos setores sociais. Para Resende et al. (2011):
A participação das empresas privadas na infraestrutura tem sido direcionada
pela urgente necessidade de grandes investimentos. Para melhorar o
desempenho da infraestrutura e cobertura, muitos governos demandam
novos financiamentos significativos. Devido aos escassos recursos públicos
e à preferência pelos investimentos nos setores sociais, muitos países têm
optado por transferir o fornecimento de serviços de infraestrutura para o
setor privado. (Resende et al. 2011. p.3)
No que diz respeito ao modal rodoviário, de acordo com Pinheiro (1999), é comum a
concessão da administração da operação das rodovias. Neste caso, as empresas, para
adquirirem o direito de exploração da atividade econômica de um determinado trecho, por um
determinado período de tempo, deverão apresentar um plano mínimo de investimentos e
definir a tarifa a ser cobrada dos usuários. A empresa que apresenta o projeto conforme
especificação do edital e com menor tarifa, recebe o direito de uso da propriedade com fins
econômicos atrelado à operação da rodovia.
Castro (2000) evidencia que o principal intuito da privatização da gestão direta das
rodovias tem como base o desenvolvimento e melhoria da infraestrutura da malha rodoviária
nos pontos de pavimentação, expansão e restauração e, em troca, a empresa recebe como
reembolso pecuniário, a cobrança dos pedágios.
Entretanto mesmo com as concessões das rodovias, Barboza (2014), afirma que o
modal rodoviário enfrenta inúmeros problemas como falta de investimentos em
pavimentação, construção e conservação das vias, o que reflete em custo operacional para o
transporte de cargas.
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De acordo com Resende et al., (2011) a concessão das rodovias ao setor privado é
realizada principalmente em alguns pontos estratégicos, como os de maior tráfego de
transportes nos estados brasileiros. O volume de investimentos financeiros necessários para a
construção e manutenção das estradas, a ineficiência na prestação de um serviço de qualidade,
associados à burocracia típica da prestação dos serviços públicos, leva ao não cumprimento de
prazos e ao descasamento entre a demanda de infraestrutura de transporte rodoviário no Brasil
e oferta de estradas em reais condições de atendimento à sociedade, e, consequentemente, ao
aumento das concessões no modal rodoviário brasileiro à iniciativa privada. Se, por um lado,
o governo, ao privatizar as rodovias através das concessões, se desobriga de investir e manter
este serviço, por outro, o consórcio vendedor do leilão de concessão assume toda a
responsabilidade de cumprir os compromissos assumidos nas diretrizes do contrato, ao
mesmo tempo em que ganha o direito de explorar economicamente, por determinado período
de tempo, o trecho concedido.
Conforme Resende et al., (2011), atualmente transitar livremente em trechos
rodoviários precários tem um custo altíssimo. Isto ocorre por falta de sinalização, fiscalização
deficiente, estradas danificadas e sem segurança, acarretando aumento no índice de acidentes
e atropelamentos ou fatalidades dos condutores. Por estes e vários motivos o Estado privatiza
as rodovias por concessões privadas que se tornam responsáveis por implementar as praças de
pedágios.
Resende et al. (2011), afirmam que um dos impactos causados pelo setor privado seria
a cobrança de um imposto, para que o usuário possa trafegar com maior segurança e
tranquilidade e ter seus benefícios garantidos pela concessão, um processo que se baseia
consequentemente em investir e arrecadar. Efeito esse que afeta a balança econômico-social
devido à cobrança de valores fixos por parte das empresas privatizadas, onde esse cenário
influencia tanto a área social quanto a econômica, socialmente pelo fato dos usuários terem
que arcar com as despesas desta parceria público-privada e economicamente, pois o Estado
está a arrecadar tributos tanto da concessão quanto do consumidor.
De acordo com os estudos de Resende et al. (2011) logo depois de dez anos da
privatização deste setor, os resultados foram consideravelmente bons, contando com a
redução dos acidentes e dos custos de abastecimentos de combustíveis, além de maior
conservação dos veículos, menor perda de tempo nos fluxos e o aumento da agilidade nas
viagens longas. Constatando-se que os melhores trechos e os mais estruturados estão nas vias
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das praças de pedágios, devido às melhorias nos aspectos estruturais consequentemente sendo
refletido em eficiência nas vias privatizadas do país.
Resende et al. (2011) concluem que o governo brasileiro prova a ineficiência na gestão
das políticas rodoviárias, devido à escassez de recursos e à precariedade da gestão pública,
que se arrasta em processos lentos e desnecessários, como por exemplo, o processo para
licitação. Como o capital necessário para investir e manter as melhorias da infraestrutura
rodoviária é muito elevado, surge a necessidade de conceder ao setor privado a prestação dos
serviços de infraestrutura de transporte rodoviário, gerando impacto sobre a população
brasileira, seja nas esferas sociais, financeiras ou ambientais, pois para trafegar em vias mais
seguras, com sinalização e pavimentação adequadas, o usuário do serviço deverá pagar uma
tarifa que lhe garanta o direito à maior segurança, moradores e comerciantes à beira das
estradas precisarão ser removidos e, muitas vezes, áreas próximas ao habitat natural de
animais silvestres são cortadas por rodovias mais modernas e duplicadas, gerando maior
mortalidade desses animais.
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A infraestrutura Logística brasileira enfrenta problemas que se transformam em
gargalos nos canais de transporte e distribuição dos produtos, com impactos negativos no
custo final dos produtos e no tempo de entrega reduzindo a competitividade dos produtos
brasileiros. Uma das causas é a falta de projetos que atendam as adequações e parâmetros da
infraestrutura dos modais, contribuindo para uma fragilidade do sistema de transporte no país.
Na atual conjuntura do Brasil, diante do imensurável e crescente mercado competitivo
e em tempos de crises econômicas, é evidente que as empresas tendem a minimizar os custos
possíveis e maximizar os lucros. Contudo, o setor de transporte administrado por concessão
privada, regulamentada e fiscalizada pelo órgão competente da União através do trabalho em
conjunto e parcerias, tem demonstrado ao longo do tempo o seu papel exercido na sociedade
de maneira eficaz, assim como todo o desenvolvimento e desempenho favorecendo ambas as
partes envolvidas neste processo. Porém, vale ressaltar as principais consequências refletidas
socialmente ao usar o serviço nas vias pedagiadas, como o imposto obrigatório, onde o preço
está na conta de todos que usufruem deste bem/serviço.
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Logo, torna-se visível que o investimento no transporte dos modais, que cortam as
principais áreas urbanizadas do estado, favorece o abastecimento da cadeia dos suprimentos
da economia em todo país. Esse processo é lucrativo, pois atende a demanda do setor
logístico, lembrando que estes foram beneficiados pelo sistema de concessão e dentro dos
parâmetros que regem a concessionária. Todavia, diante da realidade dos fatores que afetam o
crescimento econômico no mundo, a privatização ainda tem sido uma “válvula de escape”
para tentar solucionar problemas financeiros, de serviços e planejamentos nos setores da
administração pública brasileira.
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Recebido em 12.12.2016
Aceito em 30.12.2016
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