Filosofia – Profs. Daniel e Isaac Filosofia – Prof. Daniel

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Filosofia – Profs. Daniel e Isaac
Filosofia – Prof. Daniel
Entrevista com Jean-Pierre Vernant, In: O Estado de
São Paulo
Entrevista com Jean-Pierre Vernant, In: O Estado de
São Paulo
O francês Jean-Pierre Vernant [1914-2007] foi um dos
maiores helenistas contemporâneos. Esta entrevista é de
2001. Tem vários livros publicados em português, entre eles Universo, os Deuses, os
Homens (Cia. das Letras), As Origens do Pensamento Grego (Bertrand Brasil), A Morte nos
Olhos (Zahar), Mito e Sociedade na Grécia Antiga (José Olympio), Mito e Tragédia na
Grécia Antiga (Perspectiva).
O francês Jean-Pierre Vernant [1914-2007] foi um dos
maiores helenistas contemporâneos. Esta entrevista é de
2001. Tem vários livros publicados em português, entre eles Universo, os Deuses, os
Homens (Cia. das Letras), As Origens do Pensamento Grego (Bertrand Brasil), A Morte nos
Olhos (Zahar), Mito e Sociedade na Grécia Antiga (José Olympio), Mito e Tragédia na
Grécia Antiga (Perspectiva).
Como o senhor descobriu a Grécia?
Jean-Pierre Vernant - Em primeiro lugar, fisicamente, por causa de uma viagem em 1935.
Imaginem um país muito diferente do de hoje, sem turistas, que era percorrido a pé, um país
de camponeses e de marinheiros muito hospitaleiros, que davam ao estrangeiro a sensação
de que sua visita era uma honra para eles.
Como o senhor descobriu a Grécia?
Jean-Pierre Vernant - Em primeiro lugar, fisicamente, por causa de uma viagem em 1935.
Imaginem um país muito diferente do de hoje, sem turistas, que era percorrido a pé, um país
de camponeses e de marinheiros muito hospitaleiros, que davam ao estrangeiro a sensação
de que sua visita era uma honra para eles.
A civilização da Grécia antiga é comumente sintetizada entre nós numa fórmula: o
milagre grego. O sr. aceita isso?
Vernant - Absolutamente não! Essa ideia, expressa por Renan e amplamente retomada
depois dele, segundo a qual a Grécia, e somente a Grécia, teria inventado a razão, o
pensamento científico, a filosofia e todos os grandes valores universais, parece-me
inaceitável. É verdade que, por volta do século 7.º antes de nossa era, houve um conjunto
de fenômenos complexos. Em primeiro lugar, a passagem de uma civilização oral para uma
cultura escrita e de uma palavra poética e profética - a de Homero e Hesíodo - para um
discurso lógico e demonstrativo - o de Platão e Aristóteles. Ao mesmo tempo, o antigo
sistema de governo, mantido por um rei ou por um grupo aristocrático, dá lugar à
organização da cidade (polis), na qual todos os cidadãos podem discutir igualmente e
concorrer à decisão coletiva. No seio desse duplo processo cultural e político, é impossível
discernir onde está a causa e o efeito. Entretanto, o triunfo do logos na era clássica foi
desfavorável aos gregos, cuja civilização não tem, portanto, nada de miraculosa: na
realidade, não tentavam compreender o que contradiz a esse princípio lógico de identidade,
particularmente os fenômenos exteriores, que não se prestam a demonstrações nem ao
cálculo. É por isso que não existiu na realidade uma física grega, por causa da ausência da
experimentação e da aplicação do cálculo à realidade.
A civilização da Grécia antiga é comumente sintetizada entre nós numa fórmula: o
milagre grego. O sr. aceita isso?
Vernant - Absolutamente não! Essa ideia, expressa por Renan e amplamente retomada
depois dele, segundo a qual a Grécia, e somente a Grécia, teria inventado a razão, o
pensamento científico, a filosofia e todos os grandes valores universais, parece-me
inaceitável. É verdade que, por volta do século 7.º antes de nossa era, houve um conjunto
de fenômenos complexos. Em primeiro lugar, a passagem de uma civilização oral para uma
cultura escrita e de uma palavra poética e profética - a de Homero e Hesíodo - para um
discurso lógico e demonstrativo - o de Platão e Aristóteles. Ao mesmo tempo, o antigo
sistema de governo, mantido por um rei ou por um grupo aristocrático, dá lugar à
organização da cidade (polis), na qual todos os cidadãos podem discutir igualmente e
concorrer à decisão coletiva. No seio desse duplo processo cultural e político, é impossível
discernir onde está a causa e o efeito. Entretanto, o triunfo do logos na era clássica foi
desfavorável aos gregos, cuja civilização não tem, portanto, nada de miraculosa: na
realidade, não tentavam compreender o que contradiz a esse princípio lógico de identidade,
particularmente os fenômenos exteriores, que não se prestam a demonstrações nem ao
cálculo. É por isso que não existiu na realidade uma física grega, por causa da ausência da
experimentação e da aplicação do cálculo à realidade.
O surgimento e a afirmação do discurso lógico não deveriam levar ao
desaparecimento do mito?
Vernant - Mythos significa apenas relato, narração, embora, entre os gregos, os termos
mythos e logos não se oponham entre si. Essa palavra serve hoje para designar, na história
do pensamento grego, uma tradição transmitida oralmente e que não se insere na ordem do
racional. Observe que os mythoi (mitos) não são um apanágio dos gregos. Nossa ciência
atual está repleta de mithos: por acaso o big-bang original de nossos cientistas seria muito
diferente do chaos (caos) evocado por Hesíodo, esse camponês da Beócia do século 8.º
antes de Cristo? As narrativas da origem transmitidas pelos mitos continuam inteiramente
atuais na Grécia clássica, porque respondem a desafios relacionados com a identidade: o
grego sabe de onde é porque conhece de cor todas essas histórias. Além disso, essas
narrativas transmitem modos de ser e de comportar-se. Em Homero, aprende-se a
trabalhar, a navegar, a fazer a guerra e a morrer - afirmava Platão. A tradição mitológica
define assim um estilo exemplar de existência, nos planos moral e estético, que para os
gregos se confundem.
O surgimento e a afirmação do discurso lógico não deveriam levar ao
desaparecimento do mito?
Vernant - Mythos significa apenas relato, narração, embora, entre os gregos, os termos
mythos e logos não se oponham entre si. Essa palavra serve hoje para designar, na história
do pensamento grego, uma tradição transmitida oralmente e que não se insere na ordem do
racional. Observe que os mythoi (mitos) não são um apanágio dos gregos. Nossa ciência
atual está repleta de mithos: por acaso o big-bang original de nossos cientistas seria muito
diferente do chaos (caos) evocado por Hesíodo, esse camponês da Beócia do século 8.º
antes de Cristo? As narrativas da origem transmitidas pelos mitos continuam inteiramente
atuais na Grécia clássica, porque respondem a desafios relacionados com a identidade: o
grego sabe de onde é porque conhece de cor todas essas histórias. Além disso, essas
narrativas transmitem modos de ser e de comportar-se. Em Homero, aprende-se a
trabalhar, a navegar, a fazer a guerra e a morrer - afirmava Platão. A tradição mitológica
define assim um estilo exemplar de existência, nos planos moral e estético, que para os
gregos se confundem.
A mitologia assim descrita exprime o essencial da religião grega?
A mitologia assim descrita exprime o essencial da religião grega?
Vernant - Não. Apenas em parte. Naturalmente, ela se refere a deuses aos quais devem ser
rendidas honras, junto aos quais os humanos se sentem inferiores ao nada e cujo brilho
divino não chega até os mortais porque estes não são dignos. Mas a religião está
relacionada também com a prática, com rituais que acompanham e ordenam todos os
gestos da existência. De fato, a religião está em toda a parte, no modo de comer, de entrar
e sair, de se reunir na "agorá". Nada separa a esfera religiosa da esfera civil: o religioso é
político, o político é religioso. Na vida coletiva, a irreligião é inconcebível.
Vernant - Não. Apenas em parte. Naturalmente, ela se refere a deuses aos quais devem ser
rendidas honras, junto aos quais os humanos se sentem inferiores ao nada e cujo brilho
divino não chega até os mortais porque estes não são dignos. Mas a religião está
relacionada também com a prática, com rituais que acompanham e ordenam todos os
gestos da existência. De fato, a religião está em toda a parte, no modo de comer, de entrar
e sair, de se reunir na "agorá". Nada separa a esfera religiosa da esfera civil: o religioso é
político, o político é religioso. Na vida coletiva, a irreligião é inconcebível.
Exercícios Filosofia Antiga
1) (UEL-2003)“Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses
disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou
para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com
eles? Quem são eles?” (VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. p. 56.)
O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Assinale a alternativa correta.
a) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação.
b) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas
verdades.
c) As explicações míticas constroem-se de maneira argumentativa e autocrítica.
d) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe
de provas.
e) A verdade do mito obedece a regras universais do pensamento racional, tais como a lei de
não-contradição.
2) (UEL_2003) - “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a
existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando
que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima... podendo com boa dose de razão
ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização
ocidental.” (REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo:
Paulus, 1990, p. 29)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. De acordo com o texto, assinale a alternativa
que expressa o principal problema por eles investigado.
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.
3) (UEL-2004)- “Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do
ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um
universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma
só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma
potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são
perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira
diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou
quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.”
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.)
Com base no texto, assinale a alternativa correta.
a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia “no
começo”, ou seja, no momento original.
b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais.
c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e
esta pode ser compreendida racionalmente.
d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da
totalidade dos mesmos está além da capacidade humana.
e) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem
todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas.
Exercícios Filosofia Antiga
1) (UEL-2003)“Zeus ocupa o trono do universo. Agora o mundo está ordenado. Os deuses
disputaram entre si, alguns triunfaram. Tudo o que havia de ruim no céu etéreo foi expulso, ou
para a prisão do Tártaro ou para a Terra, entre os mortais. E os homens, o que acontece com
eles? Quem são eles?” (VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. p. 56.)
O texto acima é parte de uma narrativa mítica. Assinale a alternativa correta.
a) A verdade do mito obedece a critérios empíricos e científicos de comprovação.
b) O conhecimento mítico segue um rigoroso procedimento lógico-analítico para estabelecer suas
verdades.
c) As explicações míticas constroem-se de maneira argumentativa e autocrítica.
d) O mito busca explicações definitivas acerca do homem e do mundo, e sua verdade independe
de provas.
e) A verdade do mito obedece a regras universais do pensamento racional, tais como a lei de
não-contradição.
2) (UEL_2003) - “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro a afirmar a
existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando
que esse princípio é a água. Essa proposta é importantíssima... podendo com boa dose de razão
ser qualificada como a primeira proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização
ocidental.” (REALE, Giovanni. História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. São Paulo:
Paulus, 1990, p. 29)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. De acordo com o texto, assinale a alternativa
que expressa o principal problema por eles investigado.
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.
3) (UEL-2004)- “Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do
ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um
universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma
só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma
potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são
perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira
diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou
quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.”
(VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110.)
Com base no texto, assinale a alternativa correta.
a) Para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia “no
começo”, ou seja, no momento original.
b) A explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais.
c) O nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e
esta pode ser compreendida racionalmente.
d) A razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da
totalidade dos mesmos está além da capacidade humana.
e) A diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem
todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas.
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