Efeito do resíduo de carvão vegetal e pó de serra no crescimento vegetativo e na nodulação do feijão caupi (Vigna Unguiculata L. Walp) em Latossolo Amarelo distrófico da Amazonia Central. Danielle Monteiro de Oliveira(1); Newton Paulo de Souza Falcão(2); Luiz Augusto Gomes de Souza (2) RESUMO – Os solos de terra firme da Amazônia apresentam baixa fertilidade natural, compreendendo principalmente a classe dos Latossolos e Argissolos. Devido essas características há necessidade de gerar novas informações sobre o manejo agrícola considerando-se a possibilidade de usar fontes alternativas de baixo custo disponível nas propriedades, como resíduo de carvão vegetal ou biocarvão e o pó de serra. O trabalho foi realizado na Estação Experimental de Fruticultura do INPA, km 45, Br174, onde o desenho experimental foi em blocos ao acaso, em um arranjo fatorial 4 x 4 (correspondente a quatro doses de carvão e quatro doses de pó de serra), num total de 16 tratamentos. As variáveis analisadas foram: peso da parte aérea seca, o peso das raízes secas, o peso do talo e vagens, peso das folhas, matéria seca total, relação raiz/parte aérea, número de nódulos, peso dos nódulos secos, peso específico dos nódulos N-foliar, N-total das folhas e N-total da parte aérea. Os dados foram analisados no programa estatístico Estat (UNESP), e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey. As interações entre os dois aditivos não se mostraram significativas, ou seja, o pó de serra e o carvão não interagem, os efeitos mais significativos apareceram quando os materiais foram analisados isoladamente. De modo que para o pó de serra as variáveis analisadas não apresentaram modificações muito fortes, diferente do carvão que se mostrou satisfatório para o desenvolvimento e nodulação da planta. Palavras-chave: biocarvão. Vigna unguiculata, terra-firme, INTRODUÇÃO - Na Amazônia, sabe-se que a maior parte dos solos da terra firme possui acidez elevada e baixa fertilidade natural, compreendendo principalmente a classe dos Latossolos (Oxisoil) e Argissolos (Ultisoil) (Nicholaides et al., 1983). Devido à escassez de nutrientes inerentes destes solos, há necessidade de gerar novas informações sobre o manejo agrícola, considerando-se a possibilidade do uso de fontes alternativas como o biocarvão ou outras fontes de matéria orgânica de baixo custo disponível nas propriedades ou em áreas próximas. Considerando-se que a fase inicial de exploração da cobertura florestal da Amazônia é a extração madeireira, seguida da exploração agrícola em maior ou menor escala ou do estabelecimento de pastagens, inúmeras serrarias na região têm disponibilidade de pó de serra (ou serragem) que é uma fonte orgânica por vezes abundante. Além de excedentes variáveis de matéria orgânica, outros produtos também podem ser adicionados ao solo para melhorar suas propriedades físico-químicas e biológicas. O fino de carvão e o extrato pirolenhoso, são subprodutos obtidos da queima da madeira para o preparo de carvão vegetal e são considerados promissores para a utilização na agricultura. A adição de carvão vegetal ao solo já é praticada há muito tempo em países como o Japão e recentemente alguns estudos tem sido feitos no Brasil para utilização deste material. Na América do Sul, a produção de carvão vegetal é uma prática bastante antiga, porém, a grande maioria se destina à obtenção apenas do carvão comercial, sem se preocupar em aproveitar os demais componentes (Tsuzuki, 2000). Considerando-se que o principal desafio para a expansão das áreas de cultivo do feijão caupi são os solos da terra firme, o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito de doses crescentes de carvão e de pó de serra nas características químicas do solo e no desenvolvimento e nodulação de feijão caupi em solo Latossolo Amarelo da Amazônia Central. MATERIAL E MÉTODOS - O experimento foi conduzido na Estação Experimental de Fruticultura Tropical (EEFT-INPA), localizada na BR 174, km 45, em Latossolo Amarelo distrófico. Antes da instalação do experimento a área era coberta com mata do tipo capoeira com aproximadamente cinco anos de idade, a qual foi retirada sem queima. Em maio de 2006 foi adicionado na área total 10 toneladas por hectare de composto orgânico constituído por uma mistura do tipo 2:1:1 de esterco de gado, resíduo de feira e resíduo de peixe. Em seguida, foram estabelecidos quatro blocos com suas respectivas parcelas, que receberam doses crescentes de pó de serra e de carvão. Na combinação destas duas fontes orgânicas foram consideradas quatro doses de carvão: 0, 40, 80 e 120 toneladas por hectare e quatro doses de pó de serra: 0, 40, 80 e 120 toneladas por hectare. O desenho experimental foi em blocos ao acaso, constituído por quatro blocos, obedecendo a um arranjo fatorial 4 x 4 (correspondente a quatro doses de pó de serra e quatro doses de carvão), num total de 16 tratamentos distribuídos em 64 parcelas. Como o propósito de estabelecer ciclos sucessivos de cultivo na área experimental, em maio de 2006 foi implantado o primeiro cultivo constituído por milho, variedade “sol da manhã” que foi colhido em setembro de 2006. Após a colheita do milho foram coletadas 64 amostras de solo, divididas em 16 tratamentos com 4 repetições retiradas de cada parcela experimental, do horizonte A, com no máximo 10 cm de profundidade e estas foram trazidas ao Laboratório de Temático de Solos e Plantas para a análise. As análises químicas foram realizadas, segundo a metodologia descrita pela EMBRAPA (1999) para os teores trocáveis de Ca, Mg, Al, P disponível, pH (H2O) e K. Sendo que para Ca, Mg e Al foram feitas extrações com KCl 1N, e Ca e o Mg e foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica (EAA), e o Al foi por titulação, para as determinações de P e K foram realizadas extrações com solução de Melich 1 (HCl 0.05 M + H2SO4 0.0125 M). O P foi determinado no espectrofotômetro por colorimetria com molibidato de amônia e ácido ascórbico, enquanto o pH foi determinado em H2O na proporção solo: solução de 1:2,5 e a leitura das amostras foram realizadas no potenciômetro. Após esta amostragem do solo foi feita uma correção com NPK, e conduzido um segundo plantio de milho, instalado em março de 2007, com as plantas sendo colhidas no mês de junho. Este estudo experimental refere-se ao terceiro cultivo, efetuado em junho de 2007, com feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp. Fabaceae, Papilionoideae), variedade “Ipean V-69”, onde o solo foi preparado com diferentes doses de carvão e pó de serra. O cultivo de feijão caupi nas parcelas foi por semeadura direta de 1-3 sementes por cova. Cada parcela foi arranjada em cinco linhas com 10 plantas por linha, em espaçamento 1 m entre linhas e 0,30 cm entre covas. A colheita do feijão caupi foi conduzida em 21 de agosto de 2007, quando as plantas apresentavam 82 dias após o cultivo, quando o estádio fenológico foi do fim do florescimento e início do enchimento das vagens. Na amostragem, foram coletadas três plantas da linha principal, considerando-se as linhas laterais como bordadura e desprezando-se as plantas das extremidades da linha central. Na colheita do feijão caupi descreveu-se a cor das folhas obedecendo-se ao seguinte critério: amarelada, verde clara, verde e verde escura. As plantas eram removidas inteiras com o auxílio de um enxadeco, e em seguidas eram seccionadas no nível do colo, com tesoura de poda, separando-se a parte aérea das raízes. A parte aérea foi também separada em folhas e talo + vagens. A eficiência da nodulação natural foi avaliada pela contagem do número de nódulos e determinações da biomassa seca dos nódulos. A secagem de material vegetal foi conduzida em estufa regulada a 65º por 72 horas, quando as amostras apresentam peso constante. Uma amostra das folhas foi moída e utilizada para determinações da concentração de N foliar, que foi conduzida após digestão sulfúrica seguida de uma destilação pelo método micro-Kjeldahl. As variáveis analisadas para comparar os tratamentos foram: peso da parte aérea seca, o peso das raízes secas o peso do talo e vagens, peso das folhas, matéria seca total, relação raiz/parte aérea e o peso específico dos nódulos. A relação raiz/parte aérea foi obtida pelo produto do peso seco das raízes sobre o peso seco da parte aérea. O peso específico dos nódulos foi determinado pela razão entre o peso dos nódulos (mg) pelo número de nódulos. Para estabelecer diferenças entre tratamentos, os dados foram submetidos a análise de variância, empregandose o programa estatístico Estat (UNESP, 2002), e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey a 1 ou 5 % de probabilidade. Os dados obtidos para as determinações químicas do solo, biomassa das plantas, variáveis da nodulação e concentração de N foram cruzados para determinações do índice de correlação de Pearson, para identificar a significância entre as variáveis, selecionando-se apenas as mais significativas. RESULTADOS E DISCUSSÃO - Efeito do pó de serra e carvão nas propriedades químicas do solo Latossolo Amarelo - O efeito de doses crescentes de pó de serra no solo afetou significativamente os valores do pH (P<0,05) e a disponibilidade de potássio para as plantas (P<0,01), quando este fator é avaliado isoladamente. A importância do valor do pH no crescimento das plantas é devido ao efeito deste sobre a disponibilidade de nutrientes (Waller & Wilson, 1984). Por outro lado, as doses crescentes de carvão sobre o solo, modificaram sua disponibilidade de cálcio (P<0,01) e os níveis de alumínio do solo (P<0,05). Contrariamente ao esperado, não foi determinado nenhum efeito significativo para a interação entre as doses de pó de serra e carvão sobre as propriedades do solo, demonstrando que esses dois materiais adicionados ao solo têm efeitos isolados. Os dados também demonstraram que para os níveis de fósforo e magnésio, não houve diferenças significativas entre tratamentos, independente dos níveis de pó de serra e carvão adicionados ao solo, o que pode ser possivelmente explicado pelas variações ambientais identificadas na área experimental, evidenciadas pelo coeficiente de variação. Observouse também que os níveis de pó de serra não afetaram os teores de cálcio e alumínio no solo assim como os níveis de carvão também não interferiram nos valores de pH e potássio no solo. Na ausência de interações significativas, as características químicas do solo determinadas para todos os tratamentos estão apresentadas na Tabela 1. Observa-se que os menores valores de potássio foram determinados na ausência de pó de serra, indicando que este material orgânico pode ser uma importante fonte de potássio em Latossolo Amarelo da Amazônia. Na dose mais elevada de pó de serra de 120 kg/ha, os valores de potássio do solo duplicaram, em níveis 2,2 vezes maior que na ausência de pó de serra e foram altamente significativos (P<0,01). Os dados demonstraram que a adição de 40 t/ha de pó de serra ao solo já incrementa 1,6 vezes os teores de potássio disponíveis no solo. Para cultivos exigentes em potássio como a banana (NEVES et al., 1991) o uso de pó de serra pode ser uma prática agrícola recomendável para incrementar os valores de potássio no solo. As adições de doses crescentes de carvão ao solo afetaram significativamente a disponibilidade de cálcio e os níveis de alumínio trocável do solo, conforme pode ser observado na Figura 1. O efeito destes dois elementos é inverso, sugerindo que foi o aumento dos níveis de cálcio no solo que contribuíram para a redução da toxidez de alumínio. Para o cálcio, verificou-se que a dosagem de 120 t/ha aumentou significativamente (P<0,01) a disponibilidade deste elemento comparado ao tratamento de 0 e 40 t/ha de carvão (Figura 1-A). No maior nível de carvão os valores de Ca no solo aumentaram 2,5 vezes comparados a ausência desta fonte orgânica. Foi também identificado que a adição de doses crescentes de carvão ao solo afetou progressivamente os níveis de alumínio de modo que quando o carvão foi adicionado na dose de 120 t/ha isso contribuiu para uma redução significativa dos níveis de alumínio trocável do solo, comparado à ausência de carvão (P<0,05). Nestas condições, os teores de alumínio do solo que eram classificados como altos passaram a medianos, o que correspondeu a uma neutralização de cerca de 20,2 % da atividade tóxica do alumínio conforme pode ser observado na Figura1-B. Sabe-se que mesmo pequenas alterações na toxidez de alumínio em solos de acidez elevada pode favorecer o desenvolvimento das plantas que crescem nestes solos. Smyth e Cravo (1992) também encontraram ausência de resposta do feijão-caupi à calagem num Latossolo Amarelo muito argiloso de Manaus, após três anos de cultivo contínuo, com o solo apresentando saturação por alumínio igual 30% .Segundo os referidos autores, esse resultado é consistente com outros estudos, que também mostraram que o feijão-caupi é uma planta que apresenta grande tolerância ao alumínio do solo. O efeito do incremento da disponibilidade de cálcio no solo pela adição de doses crescentes de carvão sobre o alumínio trocável neste solo está apresentado na Figura 5. Como pode ser observado foi encontrada uma regressão linear negativa com R2 de 0,68, demonstrando que o aumento dos teores de cálcio no solo contribuíram significativamente (P<0,01) para a neutralização do alumínio, conforme já discutido. Desta relação foi estabelecida uma equação de regressão que está apresentada na Figura 2. Efeito do pó de serra e carvão no desenvolvimento de feijão caupi em Latossolo Amarelo O desenvolvimento em biomassa seca para as variáveis consideradas para o feijão caupi amostrado aos 82 dias após o plantio não foi afetado pelas doses crescentes de pó de serra adicionados ao solo (P>0,01). O efeito do carvão adicionado ao solo sobre o feijão caupi, afetou a parte aérea seca, as raízes secas, talo + vagens secas, folhas secas, matéria seca total e a relação raiz/parte aérea das plantas, o que pode ter sido causado pela redução do teor de alumínio, de acordo com Helyar (1978) doses crescentes de alumínio causam declínio exponencial na produção da parte aérea e verificou também, que em espécies mais tolerantes, nota-se um estímulo na produção em baixas doses de alumínio, mas o declínio volta a aparecer em altas doses. Segundo Veloso et al. (2000), embora o alumínio não seja considerado um elemento essencial, em baixas concentrações, ele, algumas vezes, induz um aumento no crescimento ou propicia outros efeitos desejáveis. Souza (2003) também observou, trabalhando com gramíneas, que altas concentrações desse elemento prejudicaram o desenvolvimento radicular. Os efeitos decorrentes de altas concentrações de alumínio podem estar, segundo Lazof e Holland (1999), diretamente ligada à inibição da expansão e divisão celular nas raízes e bloqueio da absorção e transporte de nutrientes para a parte aérea. Mais uma vez foi verificado que a interação de efeitos entre as duas fontes orgânicas não foi significativa para nenhuma das variáveis de desenvolvimento do feijão caupi, demonstrando que estas são independentes em seus efeitos sobre o solo e a planta. Para a biomassa seca da parte aérea (Figura 3A), a resposta em desenvolvimento do feijão caupi foi crescente e quando se adicionou 80 e 120 t/ha de carvão ao solo, as plantas dobraram o desenvolvimento de parte aérea seca em níveis de 2,2 e 2,3 vezes, respectivamente. Concordando com Carvalho et al. (1998), que utilizou 4 t/ha de calcário produzindo alterações químicas positivas no solo, permitindo uma fixação de N suficiente para 2 aumentar a concentração de nitrogênio, o que levou a um aumento da produção de matéria seca. Embora o peso seco das raízes tenha sido pequeno comparado ao da parte aérea, como já mencionado, as plantas de caupi que receberam 80 e 120 t/ha de carvão apresentaram significativamente maior massa radicular que as plantas que cresceram onde o carvão não foi adicionado ao solo (Figura 3-B). Em decorrência, houve variação na relação raiz/parte aérea do caupi, de modo que a maior média desta relação foi no tratamento sem carvão comparado as plantas que receberam 120 t/ha de carvão. Uma taxa de relação raiz parte aérea elevada significa que o crescimento radicular e alto comparado ao da parte aérea, assim em solos com baixa disponibilidade de nutrientes as raízes tendem a se diferenciar em busca dos nutrientes do solo, que são um recurso escasso, e este desenvolvimento não reflete diretamente na parte aérea. Contrariamente, em solos mais férteis a planta apresenta maior desenvolvimento aéreo comparado ao das raízes, diminuindo esta relação. Os dados da matéria seca total das plantas refletem os da parte aérea, conforme pode ser verificado na Figura 3-D. Não há diferenças significativas entre os níveis de 80 e 120 t/ha de carvão tanto para a biomassa seca da parte aérea como para a biomassa seca total, sugerindo que pode ser mais econômico para o produtor adicionar 80 t/ha de carvão solo, objetivando reduzir custos. O mesmo princípio pode ser complementado pelas informações obtidas para talos + vagens, onde os tratamentos com 80 e 120 t/ha de carvão apresentaram superioridade em comparação aos tratamentos que não receberam carvão (Figura 3-E). Para a biomassa seca foliar, entretanto, verificou-se que a adição de 80 e 120 t/ha de carvão superaram significativamente as dosagens de 0 e 40 t/ha deste material (Figura 3-F). Se por um lado para o pequeno produtor é mais econômico adicionar 80 t/ha de carvão comparado a 120 t/ha, para obter um desenvolvimento satisfatório das plantas de feijão caupi, os dados experimentais também demonstraram que as dosagens de 40 t/ha de carvão foram insuficientes para promover o desenvolvimento deste cultivo. Efeito do pó de serra e carvão na nodulação e absorção de nitrogênio pelo feijão caupi em Latossolo Amarelo Pode-se constatar (Tabela 2) que as doses crescentes de pó de serra não afetaram a nodulação e absorção de N do feijão caupi, como já havia sido identificado para as características químicas do solo e de desenvolvimento da planta. O mesmo padrão foi também identificado para as interações entre doses de pó de serra e carvão, consolidando a informação de que cada uma destas fontes orgânicas tem efeitos independentes quando adicionadas conjuntamente ao solo, seja nas características do solo ou da planta. Por outro lado, os dados experimentais identificaram efeito significativo de doses crescentes de carvão sobre o número de nódulos, N-total da parte aérea e das folhas do feijão caupi (P<0,01) e na biomassa seca dos nódulos (P<0,05), conforme pode ser verificado na Tabela 2. Foi também demonstrado que a adição de carvão ao solo não afetou o peso específico dos nódulos nem a concentração de Nfoliar das plantas, sendo mais influentes sobre as características de desenvolvimento do feijão caupi. Para o N foliar o maior valor médio observado foi para 32,5 g kg-1no tratamento controle e 47,0 g kg-1 quando se adicionou 40 t/ha de pó de serra e 80 de carvão, ressalvando-se que a interação destes dois compostos foi não significativa. O valor máximo de nitrogênio da parte aérea e nas folhas das plantas de caupi foi verificado no tratamento de adição de 120 t/ha de pó de serra. Mesmo não tendo sido identificados efeitos significativos na adição de pó de serra ao solo, por ser um material muito rico em carbono, pode possivelmente elevar a relação C/N do solo, e nestas condições a planta tem uma necessidade maior de nitrogênio que se torna um recurso escasso no solo. Possivelmente esta maior média de absorção de N está relacionada com este desequilíbrio químico. Esse efeito experimental indireto, conforme já discutido, precisa ser mais bem demonstrado em experimentos subseqüentes. A absorção de N em solos com altas taxas de carbono seria uma etapa reguladora no solo, em busca do estabelecimento de um novo equilíbrio químico, favorecido pelo cultivo de uma leguminosa nodulífera e fixadora de nitrogênio. Mesmo tendo sido constado que a aplicação de pó de serra não teve efeito sobre as características da nodulação observou-se que ausência de pó de serra 19 nódulos por planta foram formados e com a adição de 80 e 120 k/ha de pó de serra, o número médio de nódulos foi 32 e 37, respectivamente, sugerindo um efeito de favorecimento (Tabela 3). São também apresentados dados da biomassa seca dos nódulos e de seu específico, bem como do nitrogênio foliar e total. Os dados evidenciam a eficiência da nodulação sobre a absorção de nitrogênio no caupi, avaliados pela concentração média de nitrogênio foliar que variou entre 3,67 e 4,18 %, valores considerados plenamente satisfatórios para esta espécie que tem sido recomendada para a terra firme não só para a produção de grãos, mas também para adubação verde ou planta de cobertura do solo (Mitidieri, 1983). Se para o pó de serra não foram demonstrados efeitos diretos significativos para as variáveis de nodulação e absorção de nitrogênio, os dados demonstraram que as doses crescentes de carvão adicionadas ao solo influenciaram as variáveis de número de nódulos e peso dos nódulos secos, conforme está apresentado na Figura 4. Para o número de nódulos (Figura 4-A), a infecção bacteriana das raízes do feijão caupi não foi favorecida quando na menor dose de carvão correspondente a 40 t/ha que não diferiu em relação ao tratamento testemunha. Por outro lado, o melhor estímulo a formação dos nódulos foi observado quando se 120 t/ha de carvão ao solo, que dobrou o número de nódulos formados. O efeito progressivo da adição de carvão foi demonstrado por um resultado intermediário observado na dose de 80 t/ha. Para o peso dos nódulos secos (Figura 4-B), foi demonstrado que a adição de carvão na dose de 120 t/ha superou significativamente o desenvolvimento dos nódulos no tratamento testemunha no nível de 5 % de probabilidade. Este é um fator de suma importância para o agricultor considerando que processo de nodulação e, conseqüentemente, da fixação biológica do N2 (FBN) é uma das formas de aumentar a produtividade da cultura (Franco et al., 2002). Para o peso dos nódulos secos as doses de carvão também se mostraram eficientes e crescentes em relação ao tratamento testemunha onde foi verificado 121,37 e para a dose máxima de carvão 286, 37, aumentando em nível 2,3, concordando com Teixeira.1998, que encontrou resultados semelhantes utilizando cobertura orgânica em feijão caupi. Considerando-se as interações existentes entre variáveis do solo e da nodulação foi constatado uma correlação positiva significativa entre a biomassa seca dos nódulos com os teores de cálcio no solo (R2 = 0,49**). A adição de carvão ao solo também favoreceu a absorção de N-total e foliar do feijão caupi, e as médias para o efeito de doses crescentes de carvão são apresentadas na Figura 5. Concordando com as discussões anteriores, foi verificado que a adição de carvão em Latossolo Amarelo nas dosagens de 80 e 120 t/ha favoreceu significativamente a absorção de N-total da parte aérea e foliar do feijão caupi (P<0,01), comparado ao tratamento controle onde esta fonte orgânica não foi adicionada (Figura 5A e Figura 5-B). Por razões econômicas, para redução dos custos a adição de 80 t/ha poderia ser recomendada por sua viabilidade. Os dados também demonstram uma contribuição importante de adição de N na biomassa do caupi na medida em que para o N-total das folhas e da parte aérea houve um incremento de 2,2 e 2,4 vezes com a adição de 80 e 120 t/ha de carvão, respectivamente. Uma maior disponibilidade de nitrogênio na planta favorece o seu desenvolvimento em matéria seca total de acordo com Silva et al. (2002), que ao aplicarem doses crescentes de N mineral em cobertura no feijoeiro, obtiveram os maiores valores de matéria seca com a aplicação de 100 kg ha-1 desse nutriente. CONCLUSÃO - A adição de pó de serra e carvão ao solo não apresentou interação significativa sobre os níveis de pH, Al, Ca, Mg, K e P do solo, bem como para as medidas de biomassa seca da planta, nodulação e absorção de nitrogênio e o efeito produzido foi somente identificado para cada uma destas fontes orgânicas isoladamente. - A adição de pó de serra ao solo elevou a disponibilidade de potássio no solo, indicando que esta pode ser uma boa fonte deste elemento em Latossolo Amarelo. Por outro lado a adição de carvão contribuiu para elevar significativamente os teores de cálcio e neutralização do alumínio. Aplicado isoladamente o pó de serra não afetou o desenvolvimento, nodulação e absorção de N do feijão caupi cultivado após dois ciclos sucessivos de milho. - A adição de carvão ao solo aumentou o desenvolvimento em biomassa seca da planta de feijão caupi afetando a planta como um todo nas dosagens de 80 e 120 t/ha. Estas dosagens também favoreceram o número e peso seco dos nódulos, refletindo um aumento dos teores de N-total na parte aérea e das folhas da planta. Na ausência de diferenças significativas entre essas dosagens de carvão adicionadas ao solo, sugerem que a aplicação de 80 t/ha de carvão pode ser mais econômico produzindo os mesmos efeitos. - A disponibilidade de magnésio no solo foi relacionada com a matéria seca total da planta e a absorção de N-total foliar (que também foi relacionada com o pH do solo). A biomassa seca dos nódulos do caupi foi correlacionada com a disponibilidade de cálcio, evidenciando as relações estabelecidas entre solo-planta neste experimento. 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Tabela 1- Médias de pH, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e alumínio do solo Latossolo Amarelo da Estação Experimental de Fruticultura Tropical do INPA, submetido a doses crescentes de pó de serra e carvão, antecedendo o plantio de feijão caupi (Vigna unguiculata). Tratamentos (t/ha) pH (H2O) 1 - 0 Pó de serra, 0 Carvão 2 - 0 Pó de serra, 40 Carvão 3 - 0 Pó de serra, 80 Carvão 4 - 0 Pó de serra, 120 Carvão 5 - 40 Pó de serra, 0 Carvão 6 - 40 Pó de serra, 40 Carvão 7 - 40 Pó de serra, 80 Carvão 8 - 40 Pó de serra, 120 Carvão 9 - 80 Pó de serra, 0 Carvão 10 - 80 Pó de serra, 40 Carvão 11- 80 Pó de serra, 80 Carvão 12 - 80 Pó de serra, 120 Carvão 13 - 120 Pó de serra, 0 Carvão 14 - 120 Pó de serra, 40 Carvão 15 - 120 Pó de serra, 80 Carvão 16 - 120 Pó de serra, 120 Carvão 4,16 4,20 4,19 4,32 4,34 4,46 4,36 4,61 4,39 4,47 4,36 4,56 4,46 4,41 4,30 4,45 P K+ -------mg dm-3------- 3,22 5,38 5,31 6,49 5,34 6,45 6,53 5,36 5,25 4,76 4,61 3,83 3,38 5,99 5,68 5,57 18,15 28,65 27,15 38,40 44,90 60,90 37,40 39,90 41,65 53,15 39,15 63,15 59,40 74,40 48,15 68,15 Ca2+ Mg2+ Al3+ ----------cmolc dm-3----------- 0,06 0,25 0,44 0,42 0,18 0,27 0,34 0,67 0,23 0,33 0,39 0,55 0,41 0,36 0,37 0,56 0,06 0,11 0,21 0,20 0,12 0,15 0,19 0,28 0,15 0,23 0,21 0,32 0,42 0,21 0,22 0,30 1,22 1,10 0,84 0,95 1,16 1,01 0,99 0,60 1,53 0,84 0,95 0,55 0,77 1,11 0,84 0,72 Tabela 2- Teste F da análise de variância e coeficiente de variação para o efeito de doses crescentes de pó de serra (PS) e carvão (C), na nodulação e absorção de N em feijão caupi (Vigna unguiculata), aos 82 dias após o plantio. *1 Teste F *2 Variáveis da planta Número de nódulos Peso seco dos nódulos (mg) Peso específico dos nódulos N foliar (%) N-total da parte aérea N-total das folhas *1 Pó de serra 0,70 ns 2,44 ns 2,04 ns 1,33ns 1,42 ns 1,83 ns Carvão 4,87** 3,32* 0,25 ns 0,73 ns 6,32** 6,70** Interação PS x C 0,56 ns 0,41 ns 0,45 ns 0,45 ns 1,11 ns 0,89 ns Coeficiente de variação (%) 60,68 75,34 56,13 56,13 53,19 51,60 - * - Significativo a 5 % de probabilidade; ** - Significativo a 1 % de probabilidade; ns – não significativo. *2 – Peso específico dos nódulos em mg nódulo-1, N-total da parte aérea e N-total das folhas em mg planta-1. Tabela 3- Efeito de doses crescentes de pó de serra, na nodulação e absorção de N em feijão caupi (Vigna unguiculata), aos 82 dias após o plantio. Variáveis da planta*1 Pó de serra (t/ha) 40 80 21 32 220,68 175,87 7,78 7,10 4,18 4,08 651,83 704,49 349,40 359,75 0 19 135,25 5,67 3,67 549,57 265,97 Número de nódulos Peso seco dos nódulos (mg) Peso específico dos nódulos*2 N foliar (%) N-total da parte aérea N-total das folhas 120 37 273,18 9,28 3,92 808,22 412,63 Média 27 201,24 7,46 3,96 678,52 346,93 *1 – Peso específico dos nódulos em mg nódulo-1, N-total da parte aérea e N-total das folhas em mg planta-1. Alumínio (cmolc.dm 3 ) (B) (A) 0,7 0,8 0,9 1 0 1.04 a 0.39 ab 80 Carvão (t/ha) Carvão (t/ha) 1,1 0.55 a 120 0.30 b 40 0 0.22 b 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0.91 ab 80 0,6 120 Teste F 7,92** 0.99 ab 40 0.83 b Cálcio (cmolc.dm3) Teste F 2,89* Figura 1- Efeito de doses crescentes de carvão na concentração de cálcio (A) e alumínio (B) em solo Latossolo Amarelo preparado para o cultivo de feijão caupi. 1,8 1,6 Alumínio (cmolc dm 3 ) 1,4 y = -1,34x + 1,44 R2 = 0,68 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 Cálcio (cmolc dm 3) Teste F 29,70** Figura 2- Efeito da disponibilidade de cálcio no solo na neutralização do alumínio em plantas de feijão caupi (Vigna unguiculata), crescendo em Latossolo Amarelo, aos 82 dias após o plantio. (B) (A) Carvão(t/ha) Carvão(t/ha) 20,18 ab 80 14,94 bc 40 0 10 15 20 1,80 ab 1,33 b 0,5 1 1,5 2 2,5 Peso seco das raízes (g) Teste F 5,77** (C) (D) 120 0,10 b 80 120 0,12 b 40 Carvão(t/ha) Carvão(t/ha) 40 25 Peso seco da parte aérea (g) Teste F 8,79** 2,18 a 80 0 9,85 c 5 2,23 a 120 22,84 a 120 0,13 ab 0 25,07 a 80 22,36 ab 40 16,74 bc 0,19 a 0 0,05 Teste F 4,07** 0,07 0,09 0,11 0,13 0,15 Relação raiz/parte aérea 0,17 0,19 11,22 c 0,2 0 Teste F 8,74** 5 10 15 20 Matéria seca total (g) 25 30 (E) (F) 11,54 a 120 Carvão (t/ha) Carvão (t/ha) 120 9,91 ab 80 6,80 bc 40 0 5,00 c 2 4 80 10,26 a 8,13 ab 40 4,88 b 0 6 8 10 12 1 0 Teste F 8,52** Peso do talo + vagens (g) Teste F 8,02** 11,29 a 2 4 6 8 Peso das folhas (g) 10 12 Figura 3- Efeito de doses crescentes de carvão na produção de biomassa da parte aérea seca (A), raízes secas (B), talos e vagens secas (C), folhas secas (D) relação raiz/parte aérea (E) e matéria seca total (F) em feijão caupi (Vigna unguiculata), aos 82 dias após o plantio. *1 *1 – Médias seguidas da mesma letra nas barras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade pelo teste de Tukey (P<0,05; P<0,01). (B) (A) 39 a 32 ab 80 21 b 40 0 10 20 30 Número de nódulos Teste F 4,45** 217,50 ab 80 179,75 ab 40 0 19 b 0 286,37 a 120 Carvão (t/ha) Carvão (t/ha) 120 40 121,37 b 0 Teste F 3,32* 100 200 300 400 Peso dos nódulos secos (mg) Figura 4- Efeito de doses crescentes de carvão no número de nódulos (A) e biomassa seca dos nódulos (B) em feijão caupi (Vigna unguiculata), aos 82 dias após o plantio. *1 *1 – Médias seguidas da mesma letra nas barras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade pelo teste de Tukey (P<0,05; P<0,01). (B) (A) 450,19 a 411,99 a 80 337,78 ab 40 187,77 b 0 0 Teste F 6,70** 100 200 881,06 a 120 Carvão (t/ha) Carvão (t/ha) 120 826,91 a 80 625,29 ab 40 0 300 400 500 380,86 b 0 N total das folhas (mg/planta) Teste F 6,32** 200 400 600 800 1000 N total da parte aéra ( mg/planta) Figura 5- Efeito de doses crescentes de carvão no N-total das folhas (A) e da parte aérea (B) em feijão caupi (Vigna unguiculata), aos 82 dias após o plantio. *1 *1 – Médias seguidas da mesma letra nas barras não diferem entre si no nível de 1 ou 5 % de probabilidade pelo teste de Tukey (P<0,05; P<0,01).