03. MACROECONOMIA 03.01. As Políticas Fiscal e Monetária: Qual delas é Fundamental para a Demanda Agregada? A revolução keynesiana das décadas de 30 e 40 chamou a atenção para o controle da demanda agregada como um meio de evitar a repetição da Grande Depressão. Com isto, foi colocado de lado o paradigma clássico, segundo o qual uma economia de mercado contém mecanismos auto-reguladores capazes de manter estável a situação de pleno-emprego, se as autoridades governamentais seguirem, consistentemente, uma política de não-intervenção na economia (Laissezfaire). A revolução keynesiana trouxe à luz, entretanto, um outro aspecto importante: a ênfase posta por Keynes na política fiscal como um meio de controle da demanda agregada; em particular, o governo dever ia aumentar seus gastos e reduzir a tributação durante urna depressão, de modo a recolocar a economia em Pleno-emprego.Em contraste com os economistas clássicos que viam no estoque monetário o fator principal de variações na demanda agregada, Keynes relegava a moeda a um papel secundário - não se poderia contar com uma política monetária expansiva para livrar a economia de uma depressão. Na verdade, Keynes argumentara que, na situação de uma profunda recessão econômica, políticas de expansão monetária podem ser completamente inúteis para estimular a demanda agregada - um aumento no estoque monetário pode não ter nenhum efeito sobre o nível de dispêndio (gastos) na economia. Ao considerar conjunturas econômicas normais, Keynes era menos pessimista com relação à política monetária, pois, na verdade, a importância da moeda pode ser avaliada a partir dos títulos de seus trabalhos anteriores: Monetary Reform (1924) e A Treatise on Money (1930).Não obstante, Keynes nos legou uma forte convicção em favor da política fiscal como sendo a principal ferramenta para o controle da demanda agregada. Em conseqüência, aqueles que seguem consistente mente a tradição keynesiana conferem à política fiscal o papel central no controle da demanda agregada, deixando à política monetária um papel secundário de apoio. Assim, alguns economistas keynesianos vão aos extremos de Warren Smith, para quem a política monetária não passa de uma miragem e uma ilusão descabida 1 . Os herdeiros da doutrina clássica, pelo contrário, vêem a moeda como sendo a chave para o controle da demanda agregada 2 , segundo Milton Friedman: “A moeda é extremamente importante para a determinação de magnitudes nominais, para a renda nominal, para o nível da renda em dólares...”3. Em adição, Friedman mostra-se cético a respeito da eficácia da política fiscal como um instrumento para o controle da demanda agregada. O orçamento do governo pode, naturalmente, determinar a alocação de recursos, pode ainda determinar a parcela da renda nacional que será gasta pelo governo e a parcela a ser gasta pelo setor privado, mas Friedman não acredita que a política fiscal tenha algum efeito, em última instância, no nível da demanda agregada: “Na minha opinião, o orçamento por si mesmo não tem nenhum efeito significativo sobre a direção da renda nominal, sobre a inflação ou a deflação ou sobre as flutuações cíclicas” 4 . A diferença de posições entre Warren Smith e Friedman é muito grande, portanto não é surpreendente que a grande maioria dos economistas se situe entre essas duas posições extremas. Para a maioria, ambas as políticas fiscal e monetária são importantes determinantes da demanda agregada nenhuma deve ser julgada ineficaz. Todavia, o intenso desacordo entre keynesianos radicais (como Smith) e monetaristas radicais (como Friedman) coloca várias questões importantes: Quais são as razões para o desacordo? Qual a importância da moeda? Como ela afeta a demanda agregada? Se desejássemos estabilizar a trajetória da demanda agregada, deveríamos manipular primeiro a política fiscal ou a p olítica monetária? No Capítulo 8, a versão keynesiana de como a política fiscal pode afetar a demanda agregada foi analisada com algum detalhe, assim, para estabelecer uma discussão exaustiva sobre as políticas fiscal e monetária, neste capítulo deverão ser analisados os seguintes pontos. 1. A proposta keynesiana de como a política monetária pode afetar a demanda agregada, e em que circunstâncias aquele efeito pode ser fraco. 2. A visão clássica de como a política monetária pode afetar a demanda agregada, e por que aqueles que seguem a escola clássica acreditam que os efeitos da política monetária deverão ser fortes e previsíveis. 3. As razões pelas quais aqueles que seguem a escola clássica têm dúvidas acerca da política fiscal; em particular, porque eles d uvidam que a política fiscal tenha um impacto considerável e previsível sobre a demanda agregada, conforme a posição keynesiana, descrita no Capítulo 8. Ao final deste capítulo, daremos explicações sobre as vantagens de utilizar uma combinação de política fiscal e monetária, como parte de uma estratégia global para estabilizar a demanda agregada. A EFICÁCIA DA POLITICA MONETÁRIA: A Visão Keynesiana Keynes identificou um processo em três etapas, segundo o qual uma mudança na política monetária poderia afetar a demanda agregada (Gráfico 11 .1). 1. Uma operação de mercado aberto e uma variação no estoque monetário podem afetar a taxa de juros; por exemplo, uma operação de compra no mercado aberto tende a reduzir a taxa de juros. Os economistas keynesianos situam o impacto o impacto da política monetária em três etapas: 1.A política monetária pode alterar a taxa de juros. 2. Variações na taxa de juros podem ter impacto sobre a demanda de investimentos. 3. Variações na demanda de investimentos têm um efeito amplificado sobre a demanda agregada e o produto nacional GRÁFICO 11.1 Impacto da política monetária Como apolítica monetária afeta a demanda agrada e o produto nacional: o enfoque keynesiano . 2.Uma mudança nas taxas de juros pode afetar a demanda de investimentos, pois, com uma taxa de juros menor, os empresários são encorajados a tomar dinheiro emprestado para comprar novas máquinas ou construir novas fábricas. 3. Uma maior demanda de investimentos terá um efeito multiplicador sobre a demanda agregada e renda nacional. A primeira etapa no processo - como uma operação no mercado aberto pode afetar as taxas de juros - foi explicada sucintamente no Capítulo 10 (maior nível de detalhe no Gráfico 11.1). A terceira etapa envolve o conhecido efeito multiplicador do Capítulo 7; assim, preencheremos a lacuna, explicando a segunda etapa. A Demanda de Investimentos e a Taxa de Juros: A Eficiência Marginal do Investimento Os empresários têm interesse em adquirir equipamentos ou novas fábricas, em virtude do fluxo de renda que tais investimentos proporcionam. Consideremos o exemplo simples de um equipamento cujo preço de compra é de Cr$ 1 milhão, e cuja depreciação (desgaste e obsolescência) é negligível; com o equipamento, o produtor espera produzir e vender Cr$ 500 mil a mais por ano. Se os salários pagos aos trabalhadores que operarão o novo equipamento, mais os custos administrativos e de matéria-prima perfazem um total de Cr$ 400 mil por ano, então este equipamento proporcionará um retomo (receita líquida R), de Cr$ 100 mil por ano. Em outras palavras, o equipamento dará uma taxa de retomo (taxa de lucro - r), de 10 por cento ao ano sobre o investimento inicial de Cr$ 1 milhão. Por outro lado, consideremos o caso de uma máquina completamente diferente que também custa Cr$ 1 milhão, mas cuja vida útil é de apenas um ano. Mais ainda, suponhamos que esta máquina gere novas vendas, o suficiente para cobrir os custos de mão-de-obra, matériaprima e administração e mais uma receita adicional de Cr$ 1.100 milhão. Então, esta máquina também proporciona uma taxa de retomo de 10 por cento, isto é, ela gera uma receita suficiente para cobrir o preço de compra de Cr$ 1 milhão, deixando 10 por cento de lucro. Ambos os exemplos são muito simples, mas ilustram como a taxa (percentual) de retomo pode ser calculada, levando em consideração os seguintes itens 5 : 1. o preço de compra e o período de vida útil da máquina; 2. o montante de vendas adicionais como resultado da aquisição da máquina; 3. os custos de operação da nova máquina, tais como mão -de- obra, matérias-primas etc. 6 . Ao fazer planos sobre investimentos de capital para o próximo ano, a administração da empresa escolherá o equipamento ou planta que forneça a mais alta taxa de retorno esperada; para uma empresa dinâmica, localizada numa indústria em expansão, esta taxa de retorno pode ser, em verdade, muito alta, 20, 30 por cento ao ano, ou até bem mais. Nestes casos, uma empresa que seja capaz de tomar empréstimos, o bterá um lucro adicional ao comprar o novo equipamento. Na verdade, os lucros crescerão à medida que a empresa continuar tomando empréstimos adicionais, desde que a taxa de retorno (r) do investimento exceda a taxa de furos (i) paga sobre os empréstimos contraídos. Nestes casos, a nova planta ou equipamento proporcionará um fluxo de rendimentos (receitas) suficiente para cobrir o custo financeiro (juros mais amortização), em adição a um certo montante de lucro; por outro lado, seria um erro investir em um novo projeto ou equipamento cuja taxa de retorno esperada fosse menor que a taxa de juros - o montante de juros seria maior que a receita adicional do novo projeto ou equipamento, e, em conseqüência, os lucros da empresa diminuiriam. Na verdade, mesmo que a empresa disponha de fundos provenientes de lucros retidos e não tenha, portanto, necessidade de tomar emprestado, seria um erro incorrer em investimentos com baixas taxas de retorno, a empresa poderia investir em títulos financeiros e, com isso, ganhar uma receita na forma de juros. Assim, para determinar a viabilidade de um projeto de investimento, a administração da empresa deverá calcular se a taxa esperada do novo projeto ou equipamento é maior que a taxa de juros: obviamente, a empresa está inserida em um mundo de incertezas e, por isso, não há certeza de que a estimativa da taxa de retomo provará ser correta. Portanto, o administrador prudente subestimará a taxa de retomo esperada, como compensação pelo risco, ao tomar suas decisões de investimento. Assim, se considerarmos que todas as empresas enfrentam decisões similares, veremos que, para a economia como um todo, serão implementados aqueles projetos de investimento cujas taxas de retomo - r (incluindo o risco) excedam a taxa de juros, - i. Este processo de decisão é ilustrado na Tabela 11.1 e no Gráfico 11.2. Na Tabela 11.1, todos os projetos de investimento para o conjunto da economia são hierarquizados de acordo com suas respectivas taxas de retomo esperadas. Por exemplo, dos projetos em primeiro lugar (de Cr$ 65 bilhões) espera-se que proporcionem retornos de 12 por cento ou mais, e, assim, todos estes projetos’ seriam implementados se as empresas conseguissem empréstimos à taxa de 12 por cento ou menos. TABELA 11.1 Retorno esperado do investimento (1) Taxa de retorno esperada (r) (por cento ao ano) A B C D 12 10 8 6 (2) Valor do investimento esperado Para dar, pelo menos, o retorno Em ( 1 ) (em Cr$ bilhões) 65 80 100 125 Os próximos Cr$ 15 bilhões em projetos (para um total acumulado de Cr$ 80 bilhões = Cr$ 65 bilhões + Cr$ 15 bilhões) proporcionarão pelo menos um retorno de 10 por cento, e assim por diante. Esta relação comumente chamada de Eficiência Marginal do Investimento (EMI) é vista no Gráfico 11.2: esta relação mostra como o nível de investimento aumenta à medida que a taxa de juros cai. Por exemplo, se a taxa de juros é de 8 por cento, então um investimento no valor de Cr$ 100 bilhões será efetivado - este montante proporciona uma taxa de retorno de, pelo menos, 8 por cento. Agora, se a taxa de juros cai para 6 por cento, o nível (GRÁFICO) de investimento aumentará para Cr$ 125 bilhões, ponto D do Gráfico 11.2; portanto, uma redução de 8 para 6 por cento na taxa de juros determina um incremento de Cr$ 25 bilhões no investimento agregado da economia. A Eficiência Marginal de Investimento é a relação ou curva que indica os possíveis projetos de investimento, hierarquizados de acordo com suas respectivas taxas esperadas de retorno. A relação indica quanto as empresas desejam investir em relação a um conjunto de taxas de juros alternativas. A vantagem das empresas ao efetuarem investimento adicional, quando a taxa de juros cai de 8 para 6 por cento, pode ser visualizada, mais precisamente, ao considerarmos um projeto específico que se situe entre as categorias C e D; consideremos o exemplo do projeto x que se situa na categoria dos Cr$ 110 bilhões: a taxa de retomo (r) deste projeto é um pouco mais de 7 por cento, como pode ser visto pela altura da curva EMI naquele ponto. Com uma taxa de juros (i) de somente 6 por cento, este projeto mais do que cobrirá o custo financeiro; em conseqüência, os lucros serão aumentados sobremaneira. Da mesma forma, os outros projetos que também se situam entre C e D serão amplamente lucrativos, quando a taxa de juros cair de 8 para 6 por cento. A curva de Eficiência Marginal do Investimento é a relação que preenche a segunda etapa do enfoque keynesiano acerca da política monetária, conforme a ilustração do Gráfico 113. Uma política de expansão monetária opera da seguinte forma: Operação de compra no mercado aberto Etapa 2 Aumenta o Investimento Etapa 1 Cai a taxa de juros Etapa 3 Aumenta o produto Nacional (multiplicador) Com uma política de restrição monetária, ocorre o processo inverso: Venda mercado Aberto no Etapa 1 aumenta a taxa de juros Etapa 2 cai o investimento Etapa 3 cai o produto nacional (multiplicador) Problemas da Política Monetária Através deste processo, em três etapas, as operações de mercado aberto podem afetar a demanda agregada e o produto ou renda nacional. Por que, então, há esse ceticismo keynesiano a respeito da possível eficácia da política monetária? A resposta é: não temos certeza se as respostas (ao estímulo) nas duas primeiras etapas serão suficientemente intensas. O próprio Keynes tinha convicções no sentido de que a política monetária fosse ineficaz já na primeira etapa e, portanto, não poderia ser utilizada como um meio de retirar uma economia da profunda recessão existente na época em que a Teoria Geral foi escrita. Todavia, a proposição pode ser sumariada facilmente: durante uma depressão prolongada, as taxas de juros podem estar a um nível muito baixo - por exemplo, no intervalo de 2 a 3 por cento que prevaleceu na maior parte do tempo durante a Grande Depressão. Nestas circunstâncias, a capacidade do Banco Central para (GRÁFICO) reduzir ainda mais as taxas de juros não é muito grande. Certamente, as taxas de juros não podem ser reduzidas a zero, pois a este nível ninguém se disporia a comprar títulos (Letras do Tesouro Nacional, por exemplo). Na verdade, à medida que as taxas de juros caem substancialmente, os detentores de títulos passam a considerá-los como um mau negócio, dado seu baixo retomo, e começam a vendê-los. Com isto, o Banco Central pode comprar um enorme volume de títulos, sem reduzir significativamente as taxas de juros de seus níveis já substancialmente baixos; nessas circunstâncias, uma política de expansão monetária falha na etapa 1. Em tempos normais, as operações de mercado aberto podem afetar significativamente a taxa de juros, de modo que a segunda etapa se torna a principal fonte de preocupação quanto à operação da política monetária. (GRÁFICO) O grau de resposta do Investimento a Variações da Taxa de Juros No gráfico 11.2, o investimento é extremamente sensível a variações na taxa de juros S. Por exemplo, uma queda na taxa de juros de 8 para 6 por cento causará um incremento de 25 por centro na demanda de investimentos, de Cr$ 100 bilhões para Cr$ 125 bilhões. Uma possibilidade alternativa é ilustrada pelo Gráfico 11.5. (GRÁFICO) Neste caso, a curva de demanda de investimento (EMI) tem uma inclinação maior do que aquela do Gráfico. 11.2. Assim, mesmo com uma queda substancial na taxa de juros de 8 para 6 cento, o investimento não aumenta muito. Em resposta a uma política de expansão monetária – somente Cr$ 5 bilhões. A possibilidade de que o investimento seja muito insensível a variações nas taxas de juros não foi motivo de preocupação para os economistas nas décadas de 40 e 50. Estudos posteriores sobre a curva EMI sugeriam que, na verdade, ela poderia ser quase vertical. Assim em contraste com Keynes, que acreditava ser a política monetária possivelmente ineficaz em uma depressão – dada a incapacidade do Banco Central pra reduzir as taxas de juros (Etapa l) – alguns de seus seguidores foram ainda mais radicais com relação à potência da política monetária, pois, mesmo que as taxas de juros pudessem ser reduzidas, duvidava -se que o investimento fosse significativamente afetado (Etapa 2). Com isto, os seguidores de Keynes duvidavam que se pudesse confiar á política monetária um papel maior do que o de simples suporte ao instrumento fundamental, isto é, à política fiscal. Durante as duas últimas décadas, tem havido um movimento de reconsideração das propostas radicais: os temores de que a política monetária seja ineficaz têm-se dissipado de algum modo. A evidência menos recente de que o investimento não responde significativamente a taxas de juros não proporcionou um caso conclusivo para que se rejeite a importância da política monetária sobre o investimento, devido a duas razões fundamentais. 03.01.01. Problemas estatísticos na mensuração de resposta de demanda de investimentos a taxas de juros Em primeiro lugar, não é claro que os estudos anteriores fossem corretos ao concluir que as taxas não afetam significativamente o investimento. É surpreendentemente difícil identificar os efeitos das taxas de juros sobre o investimento, porque um grande número de variáveis importantes está se alterando ao mesmo tempo. Assim, se o investimento não cai significativamente à medida que a taxa de juros aumenta, então há duas possíveis explicações:1) a taxa de juros tem pouco efeito sobre o investimento (conforme as conclusões dos estudos anteriores); 2) o investimento é influenciado pela taxa de juros, mas há outras influências atuando em sentido contrário. Por exemplo, o investimento pode permanecer estável ou até aumentar em um período em que as taxas de juros crescentes tendem a deprimi-la, porque simultaneamente o investimento está sendo estimulado pelo otimismo crescente dos empresários. Portanto, o investimento pode ser muito sensível tanto a mudanças na taxa de juros, quando a modificações nas expectativas empresariais, mas não podemos verificar os efeitos de ambas as variáveis se olharmos somente para as variações do investimento. Trabalhos estatísticos mais recentes indicam que os estudos anteriores não lidaram adequadamente com esta complicação, e conseqüentemente subestimaram a sensibilidade do investimentos á taxa juros. Entretanto, vale notar que, período de aceleração inflacionária, as taxas de juros tendem a se manter elevadas, ainda que a economia esteja em recessão o e haja, por isso mesmo, pessimismo de parte dos empresários com relação à viabilidade de novos investimentos. Este fenômeno, que tem a ver com a existência de expectivas dos indivíduos sobre o curso dos preços, é chamado de Efeito Fisher, em homenagem ao grande economista norte-americano Irving Fisher que analista com grande clareza essa correlação positiva entre preços altos e taxas de juros elevadas. O Efeito Fisher pode ser explicado ao fazermos a distinção entre taxas reais e taxas nominais de juros. A taxa real é a taxa de retorno do capital não compensada para as variações esperadas dos níveis de preços; a taxa real, portanto, é determinada pela demanda e oferta de fundos de empréstimo. Por outro lado, a taxa nominal de juros inclui, além do retorno em si sobre o capital investido, a taxa esperada de inflação, pois se os emprestadores não levassem em conta suas expectativas de preços mais altos, no futuro, teriam perdas de capital caso suas expectativas fossem confirmadas, isto é, o emprestador tenta antecipar-se à erosão de seu capital pela provável inflação maior no futuro. Portanto, temos que i r + gp e onde, i é a taxa nominal, r a taxa real de juros e gp e é a taxa esperada de inflação. 03.01.02. Racionamento de crédito: a disponibilidade de fundos de empréstimo Em adição aos problemas de verificação estatística, é possível que o investimento seja influenciado pela política monetária, ainda que a demanda de investimento se mostra invariável a variações na taxa de juros. Este caso é ilustrado no Gráfico 11.6 que repete a cur va EMI (inelástica) do Gráfico 11.5. Suponhamos que o equilíbrio inicial seja no ponto A, com um investimento de Cr$ 100 bilhões. Então, o Banco Central implementa uma política monetária restritiva: vendendo títulos (Letras do Tesouro) no mercado aberto, ele força as taxas de juros para cima, e reduz as reservas dos bancos comerciais. Se, inicialmente os bancos comerciais dispõem de um montante pequeno de reservas voluntárias, eles serão forçados a reduzir seus empréstimos e o estoque de outros ativos financeiros. Entretanto, estamos fazendo a hipótese do que, mesmo com taxas de juros mais altas – digamos 10 por cento, ao invés do nível inicial de 8 por cento -, as empresas estão ainda, insistentemente, tomando empréstimos para investir, isto é, elas não recuariam pela taxa de juros mais alta (no Gráfico 11.6 a demanda de investimento seria Cr$ 96 bilhões, quase tanto quanto em A ). Se este for o caso, os bancos, simplesmente, não serão capazes de emprestar às empresas o volume de recursos desejado, pois os bancos acabariam reduzindo suas reservas a um nível inferior ao requerido pelos seus encaixes compulsórios; para proteger sua posição de liquidez, os bancos começam a limitar o volume de empréstimos. Em outras palavras, eles racionam seus fundos disponíveis, emprestando menos do que seus clientes gostariam. (GRÁFICO) O racionamento de crédito ocorre quando os bancos dispõem de um volume pequeno de fundos de emprétismos. Eles, portanto, emprestam menos do que eles próprios e seus bons clientes desejariam (caso houvesse maiores fundos disponíveis). Quando isto acontece, reduz-se o investimento, não porque as empresas não desejam investir, mas porque ela conseguem obter financiamento. Com isto, o nível efetivo de investimento cai abaixo do nível planejado pelos empresários; o nível de investimento em C é menor que o nível correspondente sobre a curva de Eficiência Marginal do Investimento (EMI)? A distância CB significa o investimento que não é efetivado devido à ausência de fundos de emprétismos. Assim, uma política monetária restritiva é operativa não apenas pelo efeito desestimulante das taxas de juros mais altas sobre o investimento (visto pelo movimento de A para B no gráfico), mas também porque as empresas não conseguem investir dado a escassez de fundos disponível (o movimento de B para C no gráfico). O Efeito Assimétrica da Política Monetária Uma variação na disponibilidade de empréstimos bancários contribui para a eficácia da política monetária como um instrumento de controle da demanda agregada. Todavia, este fato contribui para o conjunto de proposições segundo o qual a política monetária é mais eficaz na restrição da demanda agregada em períodos inflacionários de que em sua expansão durante uma recessão. Em particular, há três razões pelas quais a política monetária restritiva pode ser mais eficaz do que uma política monetária de expansão. 1. O Banco Central pode ter mais confiança em sua capacidade de empurrar para cima as taxas de juros do que em reduzi-las, pois, se as taxas de juros já estão baixas, o Banco Central certamente terá dificuldades em reduzi-las mais ainda – de qualquer modo, as taxas de juros não podem cair a zero. Por outro lado, não há um limite superior para as taxas de juros, pressionadas para cima devido a uma política de restrição monetária. 2. Compras efetuadas no mercado aberto pelo Banco Central aumentam as reservas bancárias, e, com isso, torna factível um maior volume de empréstimos bancários, e, em conseqüência, um possível aumento dos meios de pagamento. Contudo, o Banco Central não pode forçar os bancos a efetuarem empréstimos. Na verdade, devido a seu estado de pânico durante a Depressão de 30, os bancos mantiveram em seu poder um grande volume de reservas voluntárias. Por outro lado, os bancos devem comunicar ao Banco Central quando as vendes deste último no mercado aberto reduzem suas reservas abaixo do encaixe compulsório legal. Com isto, os bancos são forçados a reduzir seus encaixes de títulos e volume de empréstimos, reduzindo, com isto, o estoque monetár io da economia. 3. Uma política de contração monetária pode ser eficaz ao causar um racionamento de crédito. As empresas não conseguem crédito para financiar seus investimentos, o que significa um movimento para esquerda, fora da curva EMI (Gráfico 11.6), mas o oposto não é verdadeiro. Não importa quanto a política monetária seja expansionista, as empresas não poderão ser forçadas a tomarem crédito em volume maior do que o desejado, isto é, elas não poderão ser forçadas para ponto à direita e fora da curva EMI. Em razão dessas assimetrias, a política monetária pode ser comparada ao controle da demanda de investimento com uma corda: se é adotado uma política de restrição monetária, a corda é puxada e o investimento é mantido estável, ou reduzido. Todavia, os efeitos de uma política de expansão monetária não são inteiramente previsíveis, pois uma expansão monetária significa, em nosso exemplo figurado, uma folga na corda, tornado factível um nível maior de investimentos; se a demanda de investimentos for intensa, o investimento, de fato, aumentará, mantendo a corda esticada – neste caso, a política monetária terá eficácia. Contudo, se os empresários estiverem pessimistas, certamente eles não reagirão às condições monetárias de crédito abundante – talvez, eles aumentem pouco seus empréstimos -, o instimentos permanecerá estável ao nível inicial: a corda permanecerá com folga, significando, com isto, que a política monetária, dirigida para o estímulo de demanda, terá tido um efeito quase nulo. A POLÍTICA MONETÁRIA: A Visão Clássica Em oposição a Keynes que analisou a demanda agregada a partir de seus componentes (consumo, investimento, compras governamentais de bens e serviços e exportações líquidas), os economistas clássicos partiam de um ponto diferente: suas análises foram fundadas no exame de Equação Geral de Trocas: MV = PQ (11.1) Onde M = quantidade de moeda em circulação. P = nível geral de preços. Q = quantidade de produto (isto é, produto nacional real, ou renda nacional real) 8 . Assim, PQ = renda nacional ou produto, medido em termos nominais (Cr$), V = velocidade-renda da moeda, isto é número médio de vezes que o estoque monetário (M) é utilizado nas compras (ou despesas) do produto final, no período de um ano. Em particular, V é definido como quociente PQ/M. Suponhamos que o estoque monetário é de Cr$ 100 bilhões, e que, no período de um ano, os montantes médios de papel -moeda e de depósitos à vista são utilizados quatro vezes nas compras de bens e serviços finais; e velocidade-renda será igual a 4. Então, Cr$ 100 bilhões vezes 4, ou Cr$ 400 bilhões, é o dispêndio total em produtos finais; do mesmo modo, a demanda agregada (MV ) é igual à quantidade total de bens e serviços (Q) vezes o preço médio (P ) a que eles foram vendidos. A questão é como o mesmo cruzeiro pode ser utilizado mais de uma vez para comprar bens finais? A resposta e simples, pois quando compramos mercadorias no armazém, os Cr$ 1.000,00 pagos não desaparecem, ao contrário, eles vão para a caixa registradora e daí para o produtor de verduras, o frigorífico, ou para pagar o salário do balconista. Por sua vez, o agricultor, ou o frigorífico, ou o balconista do armazém usará aquele dinheiro para comprar bens e serviços – uma vez mais, a mesma moeda é utilizada na compra de bens finais; a mesma nota de papel-moeda pode circular transação após transação, adicionado a demanda agregada cada vez que é utilizada na compra de produtos finais. A Teoria Quantitativa da Moeda A Equação Geral de Trocas, por si mesmo não nos esclarece muito, porque é uma tautogia ou truísmo – isto é, ela deve ser sempre verdadeira em razão do modo pelo qual seus termos são definidos: observemos que a velocidade é definida como V = PQ/M; portanto, por definição MV = PQ (basta multiplicar V = PQ/M por M). Todavia, de acordo com as preposições dos economistas clássicos, a Equação de Trocas significa mais do que uma tautologia, ela se transforma na base de uma teoria muito importante – a Teoria Quantitativa da Moeda – cuja proposição fundamental é a de que a velocidade (V) é aproximadamente estável. A Teoria Quantitativa da Moeda é a proposição de que a velocidade (V) é aproximadamente estável. Portanto, uma variação na quantidade de moeda (M) causa uma variação no produto nacional nominal (PQ) da mesma magnitude aproximadamente. Se, por exemplo, o estoque monetário (M) aumenta de 20 pro cento, então os economistas clássicos diriam que velocidade , em conseqüência, o produto nacional em termos nominais (PQ), aumentaria cerca de 20 por cento. Em outras palavras, a proposição básica dos economistas clássicos é seguinte: 1. Uma variação na quantidade de moeda (M)é a causa fundamental de variações na demanda agregada: uma variação em M causará uma variação proporcional (aproximadamente equivalente) no produto nacional em termos nominais (PQ). Os seguidores da escola clássica também argumentam que: 2. No longo prazo – em um período de anos e décadas -, o produto real Q tende para o nível para o nível de pleno-emprego e plena capacidade. Portanto, o efeito de longo prazo de uma variação em M é sobre P, não sobre Q.Em particular, um aumento rápido na quantidade de moeda causa uma alta inflacionária. 3. No curto prazo – em um período de meses ou trimestre -, uma variação em M pode ter um efeito substancial tanto sobre P quanto sobre Q. Por exemplo, uma diminuição na quantidade de moeda pode causar uma queda do produto (Q) e deflagrar uma recessão. E, uma rápida expansão do estoque monetário, M, pode mover uma economia estagnada para o nível de pleno-emprego, com Q crescendo. 4. Perturbações monetárias tendem a ser causas fundamentais de instabilidade da demanda agregada e de flutuações econômicas; se o estoque monetário for mantido estável em uma economia de mercado, esta tenderá à estabilidade. 5. Assim, a tarefa principal do governo é a de proporcionar uma oferta de moeda estável. Em particular, a oferta de moeda deveria ser suficiente para financiar o produto do pleno-emprego da economia em um contexto de preços estáveis. Dado que a capacidade instalada – produto potencial – da economia cresce a uma taxa em torno de 4 por cento ao ano, os economistas que aderem à escola clássica argumentam que as autoridades deveriam seguir um regra monetária fixa, aumentando o estoque monetário a um taxa constante de, aproximadamente,4 por cento ao ano. Em razão de sua ênfase no papel da moeda, os economistas contemporâneos que seguem a escola clássica são comumente chamados de monetaristas. Dentre estes economistas, o ganhador do prêmio Nobel de economia, Milton Friedman, é o mais famoso. Alguns dos pontos mais importantes de discordância entre Keynes- QUADRO 11.1 KEYNESIANOS E MONETARISTAS: Algumas Diferenças Fundamentais Em uma controvérsia complexa com muitos participantes, torna-se difícil sumariar todos os pontos em disputa; contudo, listamos aqui três desses pontos (com referências aos capítulos onde eles são discutidos com mais de detalhe). Tópicos do Debate Visão Keynesiana Visão Monetarista 1. A chave para o Política fiscal(Cap. 8). Política monetária controle de demanda (a) Uma economia de (a) Uma economia de agregada. mercado pode atingir mercado tende a ser uma situação de razoavelmente estável 2. Desempenho da no pleno-emprego se o economia de mercado. equilíbrio de longo prazo, com altos níveis crescimentos do de desemprego (Cap. 7) estoque monetário for estável (Cap.13). 3. Conclusões política econômica (b) Uma economia de mercado de mercado tende a ser instável (Cap. 13). (b) Uma economia de mercado tende a ser razoalmente estável no crescimento do estoque monetário for estável (Cap.13). O governo tem a de da responsabilidade ativamente controlar a demanda agregada (principalmente por meio da política fiscal) de modo a: (a) recolocar a economia no nível de pleno-emprego e, então, (b) contrabalançar de movimentos de instabilidade nos setores privados da economia, de maneira a manter a economia em uma trajetória temporal estável de crescimento econômico (Cap.17). As autoridades devem aderir a uma regra fixa de controle monetário aumentando M e uma taxa constante e igual à taxa de crescimento de capacidade produtiva. sianos e monetaristas são sumarizados são sumarizados no Quadro 11.1, embora seja importante frisar que a maioria dos economistas de hoje se situa em uma posição de centro com relação aos monetaristas e Keynesianos radicais. Por Que a Velocidade da Moeda Deveria Ser Estável? A Demanda de Moeda Podemos encontrar formulações da Teoria Quantitativa de mais de dois séculos, e, pelo menos, com bastante clareza nos escritos do filósofo inglês David Hume sobre moeda e balança comercial, no início do Século XVIII. Os teóricos quantitativistas da época atribuíam ao influxo de ouro e prato do Novo Mundo a causa da inflação do seu tempo. Aqueles teóricos não possuíam uma noção clara acerca do mecanismo pelo qual az moeda influenciava a demanda agregada e os preços. Eles acreditavam ser evidente por si mesmos, que se os indivíduos dispõem de maior quantidade de moeda, eles gastam mais. Ao faze-lo, devido a um maior estoque monetário e uma quantidade relativamente fixa de bens, os preços sobem. Mais ressentimentos – e, em particular, como resposta à ofensiva keynesiana – os economistas clássicos têm sido mais explícitos a respeito de sua teoria: a velocidade é estável, segundo eles, porque a demanda por moeda é estável. Em particular, as pessoas mantêm moeda em seu poder porque elas desejam comprar bens e serviços nos próximos dias ou semanas. A moeda é retida, temporariamente, pelos indivíduos de modo a superar o intervalo de tempo entre os recebimentos de renda e os pagamentos efetuados – das contas e compras de bens e serviços. Assim, quanto maior for a renda dos indivíduos, mais moedas eles desejarão ter em seu poder para saldarem suas despesas; do mesmo modo, a quantidade de moeda que uma empresa requer para pagar seus empregados e fornecedores dependerá da escala de suas operações. Portanto, a demanda de moeda (agregada) dependerá do tamanho do produto nacional. Naturalmente, é o produto nacional a preços correntes (isto é PQ ao invés de simplesmente Q) que será importante para a determinação da demanda de moeda, pois se os preços forem altos, os indivíduos deverão ter uma maior quantidade de moeda para pagarem os bens e serviços então mais caros. A demanda de moeda vista no Gráfico 11.7 ilustra essa relação: quanto maior for o produto nacional a preços correntes, ou produto nacional nominal (medido no eixo vertical), maior será a quantidade de moeda demandada (medida no eixo horizontal). Suponhamos que o estoque corrente de moeda na economia é, inicialmente, igual a A 1, e o produto nacional nominal é B 1 , então, a demanda e a oferta de moeda estarão em equilíbrio no ponto E 1 . A quantidade demandada de moeda, medida pela distância B1 E 1 , será igual ao estoque de moeda existente (A 1 ). Agora, suponhamos que é implementada uma política de expansão monetária, com a oferta de moeda (meios de pagamento) se expandindo para A 2. Com isso, dado o produto nacional existente (B 1 ) o estoque de moeda que os indivíduos têm em seu poder (B 1 C ), é maior do que o estoque que eles desejariam ter (B 1 E 1 ); há, portanto, um excesso temporário de moeda equivalente a E 1 C. Por isso, dada uma quantidade maior de moeda do que aquela desejada, os indivíduos tentarão se desfazer de moeda, gastando -a na aquisição de mais bens e serviços – demanda agregada aumentará. Se a economia encontra-se inicialmente, em uma situação de depressão, com muita capacidade ociosa, o aumento do estoque monetário determinará uma expansão vigorosa da produção (Q ). Entretanto, se a economia já estiver próxima ou no pleno-emprego, o efeito de um aumento da demanda agregada será uma elevação do nível geral de preços (P). Em quaisquer dos casos o produto nominal (PQ) crescerá, determinando que os indivíduos se tornem dispostos a manter mais moeda em seu poder. Este processo continuará até que o produto nacional a preços correntes de eleve para B 2 . (GRÁFICO) Uma variação na quantidade de moeda causará, em princípio, uma variação proporcional no produto nacional. Portanto, a Teoria Quantitativa da Moeda é baseada no pressuposto de uma demanda de moeda estável, similar àquela vista no Gráfico. 11.7. Esta é a base teórica da proposição de que velocidade (V) é uma magnitude estável no contexto da equação MV = PQ 9 . O Ceticismo da Escola Clássica sobre a Política Fiscal: Crowding Out Os economistas clássicos enfatizaram a importância da moeda em relação à determinação da demanda agregada. Entretanto, suas posições acerca de eficácia da política fiscal foram menos unânimes. Assim, durante a Grande Depressão de 30, alguns deles recomendavam um aumento substancial no dispêndio do governo, como uma forma de estimular a demanda, o produto e o emprego 10 . Por outro lado, outros economistas eram céticos quanto à eficácia da política fiscal. Por exemplo, o pessoal do Tesouro Inglês se opunha a dispêndios governamentais adicionais sob o fundamento de que isto não melhor aria a economia, pois o dispêndio governamental simplesmente bloquearia ou deslocaria (crowding out) a demanda privada de investimento; um dos principais objetivos de Keynes ao escrever a Teoria Geral foi o de combater esta visão do Tesouro Inglês. Mais recentemente, uma posição similar foi tomada pelo Treasury Secretary dos Estados Unidos, William Simon, na presidência de Gerald Ford. William Simon se opôs à redução temporária de impostos, porque ele acreditava que um investimentos. Um deslocamento do investimento privado (crowding out) ocorre quando uma política fiscal expansionista (significando um aumento do dispêndio governamental ou uma redução de impostos) resulta em uma queda da demanda privada de investimento. Uma política fiscal expansionista pode reduzir a demanda de investimento da seguinte maneira; se o governo aumenta sue dispêndio ou reduz impostos, o seu déficit aumenta. Portanto, ele se socorre dos mercados financeiros para obter crédito, de modo a cobrir seus déficits. Estes empréstimos ao governo tendem a elevar as taxas de juros; por sua vez, taxas de juros mais altas causam um movimento ao longo da curva de Eficiência Marginal do Investimento (EMI) – a demanda de investimento declina (Gráfico 11.8). (GRÁFICO) Há pouca dúvida sobre a ocorrência desse efeito de deslocamento do investimentos privado, ainda que parcial; a questão é sobre a intensidade desse fenômeno. Os economistas keynesianos argumentam que a demanda de investimento é relativamente insensível a taxas de juros (Gráficos 11.5), havendo, portanto, pouco lugar para esse efeito. Em conseqüência, a política fiscal seria um poderoso instrumento para controlar a demanda agregada (a política monetária seria pouco eficaz). Por outro lado, os monetaristas em geral acreditam que a curva EMI é relativamente pouco inclinada (conforme o Gráfico 11.8), e que, portanto, o dispêndio deficitário do governo tenderia a bloquear um volume relativamente grande de investimento privado. Ao lançarem dúvidas sobre a eficácia da política fiscal, os monetaristas fazem uma importante qualificação: se o déficit fiscal for financiado pela emissão de moeda, a política fiscal terá um poderoso efeito sobre a demanda agregada. Todavia, os monetaristas atribuem este efeito à variação dos meios de pagamento, e não ao dispêndio governamental por si mesmo. Eles vêem a política fiscal pura como tendo pouco efeito sobre a demanda agregada. Uma política fiscal pura significa uma variação do dispêndio governamental ou de impostos, desacompanhada por qualquer vari ação na taxa de crescimento do estoque monetário. A Ambígua Lição da História Recente A dificuldade de decidir qual teoria está correta tem aumentado em razão das lições conflitantes que podem ser inferidas da história recente. Do ponto de vista de seus seguidores, os estudos monetaristas aparecem no tempo certo, pois os acontecimentos do final dos anos 60, nos Estado Unidos, tenderam a confirmar a Teoria Quantitativa, levantado dúvidas sobre a Teoria keynesiana. No primeiro semestre de 1968, o Congresso norte-americano impôs uma sobretaxa no imposto de renda, e colocou uma limitação sobre os gastos do governo federal com o fim de desaquecer a inflação gerada pela guerra do Vietnã. Os economistas, seguindo um enfoque keynesiano, esperavam um forte impacto restritivo sobre a demanda agregada. Na verdade, havia temores de que o Congresso norte-americano tivesse se engajado em um “excesso fiscal”, e que seria causada uma recessão, devido à mudança brusca para a restrição fiscal. Para suavizar a recessão esperada, a Reserva Federal abrandou a política monetária, permitindo um crescimento rápido dos meios de pagamento – M 1 cresceu a uma taxa anual de quase 8 por cento no segundo trimestre d e1968. Assim, a política monetária era expansionista, enquanto a política fiscal era restritiva. O que aconteceu, então? A economia norte - americana seguiu a trajetória permitida pela política monetária e continuou a expandir-se durante o segundo semestre de 1968. Na verdade, a expansão continuou além mesmo da mudança da política monetária que se tornou fortemente restritiva no início de 1969. A convicção monetarista parecia ratificada, enquanto os keynesianos viam as sua posições minadas. De fato, segundo as palavras dos Profs. Alan Blinder e Roberto Solow os acontecimentos de 1968 e 1969 ameaçavam mandar os assessores econômicos keynesianos “em veloz fuga para as suas universidades com seus rabos doutrinais [sic] entre as pernas” 11 . Todavia, o triunfo monetarista durou pouco. No início d e1970, a economia já não estava se comportando da maneira prescrita pela Teoria Quantitativa, e, em 1975, houve uma forte expansão do PNB, a despeito do vagaroso crescimento dos meios de pagamento. De acordo com a Teoria Quantitativa, essa vigorosa expansão não devia ter ocorrido em conjunto com um crescimento tão pequeno da quantidade de moeda – “o caso da moeda em lugar incerto e não sabido”, conforme as palavra de Stephen Goldfeld da Universidade de Princeton 12 . Em verdade, a história recente não tem sido camarada com os economistas preselitistas, não importa se keynesiano ou monetaristas. A UTILIÇÃO DAS POLÍTICAS FISCAL E MONETÁRIA EM CONJUNTO A evidência empírica propicia pouco conforto para os keynesianos extremados que focalizam sua atenção na política fiscal e classificam a política monetária como “uma miragem e ilusão sem sentido”. Por outro lado, aquela também não beneficia os monetaristas rígidos que vêem a Teoria Quantitativa tendo o papel predominante na determinação da demanda agregada, não importa o que esteja ocorrendo à política fiscal. Em virtude de que não podemos depender com certeza da política fiscal ou da política monetária isoladas, há fortes razões para utiliza-las em conjunto; uma estratégia combinada de expansão fiscal e monetária para combater recessões, e uma de restrição fiscal e monetária para combater a inflação. Sem colocar todos os ovos na mesma cesta, poderemos reduzir a incerteza que enfrentaríamos caso confiássemos, exclusivamente, ou na política fiscal ou na política monetária 13 . Além do mais, há outras razões que favorecem a adoção de uma estratégia fiscal-monetária combinada. Durante uma expansão excessiva da demanda agregada, há a necessidade de medidas restritivas, mas estas são sempre dolorosas, pois um corte nos gastos governamentais reduz programas que beneficiam vários grupos na economia; por seu turno, um aumento de impostos é sempre intragável. Por outro lado, uma política monetária restritiva, acompanhada de taxas de juros mais altos e fundos de empréstimos menor, pode ocasionar uma violenta pressão sobre a construção civil e sobre outros tipos de investimento. Ao ser utilizada uma combinação de política poder-se-á reduzir os impactos indesejáveis e mantê-los difusos. Com isto, poderemos evitar que recaia que recaia uma sobrecarga demasiadamente pesada sobre segmentos restritos da economia. Do mesmo modo, uma estratégia combinada é apropriada quando uma expansão econômica é necessária. O problema de apoiar-se exclusivamente na política monetária, como um instrumento de expansão da economia, já foi analisado anteriormente, pois se os empresários estão profundamente pessimistas na situação de uma prolongada recessão , a política de expansão monetária pode significar não mais do que “empurrar uma corda”. As políticas de cunho monetário tornam factível o investimento adicional, mas estas políticas não são garantia de que ele será efetivado ao permitir-se um afrouxamento fiscal, as chances de recuperação econômica aumentam. Entretanto, não é desejável confiar na política fiscal exclusivamente. Em particular é indesejável fazer do aumento no gastos públicos o fulcro da política de expansão da demanda agregada. Nesse sentido, os programas econômicos efetuados no presente, para e expandir a demanda agregada, criarão um grupo de beneficiários que, amanhã resistirão vigorosamente aos cortes nos gastos públicos portanto, estes programas hoje implementados tenderão a continuar no futuro, quando o estímulo poderá não ser mais necessário em virtude de o excesso de demanda agregada e a alta inflacionária terem-se tornado os problemas macroeconômicos principais. Uma Complicação: A Combinação de Política Fiscal-Monetária e o Crescimento Econômico Entretanto, mesmo que a proposição em favor de uma estratégia combinada fiscal-monetária tenha amplo respaldo, o modo pelo qual as duas políticas são conjugadas pode criar efeitos adversos; especificamente, a taxa de crescimento pode ter deprimida. Este perigo ocorre tanto em razão da estrutura institucional de uma república, como pelo legado da controvérsia entre keynesianos e monetaristas. A política fiscal está sob o controle do Congresso Nacional e do Presidente da República – políticos que, em geral, dependem do público para sua reeleição. No desenvolvimento dos regimes democráticos, o controle de orçamento pro parte dos representantes do povo representou, nos paises desenvolvimento co histórico da maior importância. Por outro lado, a política monetária está sob o controle do Sistema da Reserva Federal nos Estados Unidos*. e, embora os membros do Federal reserve Board sejam escolhidos pelo presidente e confirmados pelo Congresso, naquele país eles também estão sob controle do público. Este arranjo, nos Estados, não foi feito de modo casual, pois a história das inflações desenfreadas, em diversos países ilustra o perigo de se ter a emissão de moeda sob controle direto do Poder Executivo. O controle direto do governo sobre as máquinas impressoras pode criar uma forte tentação para gastos governamentais irresponsáveis. Por isso, o sistema da Reserva Federal, naquele país, possui quase irrestrita independência a fim de manter sua capacidade no combate à inflação a e na manutenção do valor do dólar. Assim, em razão da política fiscal estar sob controle de políticos que enfrentam constantes pressões de seus eleitores, em favor de novos programas econômicos e impostos mais baixos, a política tende a ser expansionista*. Com isto, o Banco Central tende a ser a força principal de moderação, tomando para si a tarefa da cruzada antiinflacionária. Esta divisão entre as políticas fiscal e monetária é reforçada pela controvérsia já histórica entre keynesianos e economistas clássicos. Keynes argumentava que a demanda agregada, em uma economia de mercado, obviamente cairia abaixo do nível compatível com o pleno emprego, e que uma política fiscal expansionista era a maneira correta de resolver o problema. Em regra gera, os economistas que se especializam em política fiscal são fortemente influenciados pela teoria keynesiana, e, portanto, colocam uma ênfase maior sobre a meta do pleno-emprego, do que sobre a estabilidade de preços – em dúvida, eles se inclinam por políticas de expansão da economia. Por outro lado, os economistas monetaristas tendem a ser mais influenciados pela Economia Clássica e Teoria Quantitativa, com sua ênfase em políticas de longo prazo e a crença de que o principal efeito do longo prazo de políticas de expansão da demanda agregada é sobre o nível de preços (P), em vez do produto real (Q). Contudo, qual será a conseqüência de uma combinação de política econômica que implique uma expansão fiscal (déficits governamentais) e restrição monetária (baixo crescimento dos meios de pagamento)? Dado que o governo deverá financiar seu déficit no mercado financeiro, ao mesmo tempo em que o Banco Central mantenha r édeas curtas sobre o estoque monetário, as taxas de juros são mantidas a nível elevado; como resultado, o investimento (privado) é desencorajado. Explicando de modo diferente, uma parte da poupança privada passa a ser utilizada para cobrir o dispêndio deficitário do governo, ao invés de ser utilizada para financiar o investimento privado; a taxa de crescimento da economia é deprimida. Não é muito claro o que poderia ser feito para evitar este problema. Certamente, uma maneira de evita-lo seria através de contatos constantes entre o Poder Executivo, o Congresso, e o Banco Central, de modo a ser implementado um pacote de políticas fiscal e monetária consistente com o crescimentos econômico. 03.02. OFERTA AGREGADA: DE QUE MANEIRA PODEM INFLAÇÃO E DESEMPREGO COEXISTIR? A revolução keynesiana deu início à moderna macroeconomia, espalhando as boas novas de que a depressão e o desemprego em grande escala podem ser evitados. Keynes argumentou que, através da administração correta da demanda agregada, pode-se sustentar um alto nível de emprego. Keynes tornou desacredita da a visão marxista de que as guerras e as ameaças de guerras são necessárias para a prosperidade econômica de uma economia capitalista. Não apenas os gastos governamentais com armamentos, mas quaisquer gastos governamentais estimularão a demanda. Os gastos públicos com construções, ou com qualquer outro conjunto projeto úteis na área da educação, dos transportes, do saneamento, auxiliarão tanto na prosperidade econômica quanto na excelência da sociedade. O comportamento da economia, porém, depende tanto da oferta quanto da demanda. Em capítulos anteriores, concentramos nossa atenção quase que exclusivamente no estudo da demanda agregada. Neste capítulo. Analisaremos a oferta agregada. Através do Gráfico 12.1 repetimos a função oferta agregada apresentada no Capitulo 7. O ponto A do gráfico mostra uma alta taxa de desemprego; um aumento da demanda agregada, a partir daí, levará a economia até o ponto. B. No intervalo AB, um aumento na demanda agregada se refletirá inteiramente num incremento da produção, os preços permanecerão estáveis se a demanda agregada, porém, aumentar mais que o suficiente para manter o pleno-emprego, os preços subirão; a economia se comportará como o descrito no intervalo vertical BC da curva de oferta agregada. Em outras palavras, a economia poderia sofrer do mal do desemprego ou do da inflação, mas não dos dois simultaneamente. Esta idéia tem-se mostrado cada vez menos correta quando analisamos o mundo atual. Vários países apresentaram, nos anos de 1974 e 1975, a maior taxa de desemprego das últimas décadas, ao mesmo tempo em que os preços passaram a crescer de forma espiral. Há, portanto, um claro conflito entre a teoria keynesiana da oferta agregada e os fatos reais. Para analisar esses fatos, os economistas modificaram o diagrama keynesiano simples, dando nova denominação aos eixos para representar os dois problemas macroeconômicos centrais, inflação e desemprego. A idéia subjacente ao Gráfico 12.1 passa, assim, a se r expressa pela nova forma do /gráfico 12.2, onde o ponto inicial de desemprego em grande escola (A) está situado bem á direita. À medida que a demanda agregada e o produto aumentam, a taxa de desemprego diminui, trazendo a economia para o ponto B. No mundo keynesiano simplificado que estamos discutindo, os preços se mantêm estáveis durante todo o intervalo em que a economia se encaminha para o pleno emprego: tanto A quanto B estão no eixo horizontal, indicando que os preços são estáveis, ou seja, que a taxa de inflação é nula. Se, no entanto, a demanda agregada continua a crescer depois que o ponto B (plenoemprego) é alcançado, os preços começam a subir e a economia se orienta para o ponto C. “Pleno-emprego” não está definido como o ponto a partir do qual a taxa de desemprego é nula;B e C não estão sobre o eixo vertical do Gráfico 12.2. Mesmo durante os períodos de expansão, há trabalhadores desempregados por diversas razões: alguns entraram recentemente na força de trabalho e estão à procura de empregos adequados; outros abandonaram seus empregos e estão à busca de melhores colocações; outros, ainda, encontram-se no setor agrícola esperando a época do plantio (ou da colheita). Este tipo de desemprego, chamado de fricativo (ou friccional), não é causado por insuficiência de demanda. Também o desemprego estrutural, (GRÁFICO) que resulta de variações na composição da produção, ou no padrão de localição das indústrias, não é causado por insuficiência de demanda. Por exemplo, quando parte da produção química se desloca do Nordeste para São Paulo, os trabalhadores nordestinos especializadas na indústria química perdem seus empregos e têm dificuldade de encontrar outras colocações novas e adequadas. O desemprego estrutural perdura por mais tempo e traz conseqüências negativas maiores que o desemprego fricativo, pois requer ou a instalação de novas indústrias na área que ficou vazia, ou a emigração das pessoas para lugares onde possam encontrar colocação. Para cada país que possua estatísticas pertinentes, a taxa de desemprego fricativo e estrutural pode ser estimada. No Brasil, esta categorias de estatísticas são, ainda, incipientes (ver o Quadro 12.1), enquanto em países como os Estados Unidos e a Inglaterra – nos quais existe o instituto do salário-desemprego – as séries históricas de desemprego estão disponíveis há várias décadas. Tomando como exemplo o caso norte americano, para o qual se estima que 4 por cento do total da força de trabalho estava desempregada nos anos 60 devido a fatores fricativos e estruturais, o nível de “pleno-emprego” para esta época se situava no ponto onde 96 por cento da força de trabalho estava empregada. De qualquer forma, se as hipóteses da função oferta agregada simples da teoria keynesiana estivessem corretas, as séries históricas deveriam se mostrar “bem-comportadas”, ou seja, quando as taxas de desemprego e de inflação fossem colocadas em pares anuais num gráfico, os pontos assim formados deveriam se situar numa função em forma de L, como a do Gráfico 12.2. OS FATOS Ao realizar este experimento, conforme demonstra o Gráfico 12.3, o “bom-comportamento” não se confirma para a economia brasileira. Cada ponto do gráfico mostra o par, taxa de desemprego -taxa de inflação a cada ano, no período de 1963-1979. À primeira vista não parece haver nenhuma relação sistemática entre esse duas taxas. Não se comprova, aparentemente, uma relação em forma de L e, em vários anos, coexistiram taxas elevadas de inflação e de desemprego. O problema apresentado é extremamente importante. Se o economia não responde de maneira previsível a variações na demanda agregada, a base das políticas econômicas discutidas nos capítulos anteriores cai por terra. Como podemos (GRÁFICO) estar seguros de que, durante uma recessão, as políticas fiscais e monetárias expansionistas não irão resultar em maior inflação, no lugar da pretendida maior produção?E que, se aplicamos políticas restritiva durante um surto inflacionário, conseguiremos reduzir a inflação? E se o resultado for apenas uma redução na produção? A administração da demanda através da política econômica requer, em outras palavras, o conhecimento conjunto de. a) como as políticas monetárias e fiscais afetam a demanda agregada; b) como a economia responde a variações da demanda agregada. A resolução desse quebra-cabeças apresentado no Gráfico 12.3 se constitui na verdade, numa das maiores tarefas dos teóricos econômicos. A Compreensão dos Fatos O primeiro passo que podemos dar para compreender os fatos expressos pelo Gráfico 12.3. é unir cronologicamente os pontos, como no Gráfico 12.4. Essa seqüência cronológica faz desaparecer parte da desordem e ressalta dois pontos principais: 1. Durante uma década (1967-1976), os dados formam um curva razoavelmente suave, semelhante à que é conhecida como curva e Philips, nome do economista inglês (A .w. Philips) que ajustou uma curva similar para os dados ingleses para o período de 1861 a 1957 2 . As séries históricas mostram, quando se coloca num eixo a taxa de inflação (ou a taxa de variação dos salários monetários) 3 e no outro eixo uma estimativa da taxa de desemprego (ou a percentagem de capacidade ociosa da economia ou outra estimativa aceitável), uma curva suave que se inclina para a esquerda (como, por exemplo, a curva construída a partir dos dados brasileiros para os anos 70). Tal curva é conhecida como curva de Philips. 2. As observações para o primeiro período (1963-1966) situamse acima e à direita da curva de Phillips gerada pelos dados dos anos 1967-1976. O ponto B do Gráfico 12.2, considerado como o paraíso macroeconômico – inflação zero (GRÁFICO) com a menor taxa de desemprego possível -, tem ficado cada vez mais distante para as economias ocidentais, as quais vêm se orientando para a direção nordestes, onde habitam altas taxas de inflação e de desemprego. O termo utilizado para expressar essa “doença” não soa muito bem, já faz parte da linguagem quotidiana dos economistas: estagflação. Estagflação é a combinação de uma alta taxa de desemprego (estagnação) com uma alta taxa de inflação. Temos, então, duas questões a resolver: qual é a natureza da curva observada durante os anos 70? E por que nos anos 60 os fatos se apresentaram piores, com maiores taxas de desemprego e de inflação? A análise em nosso tema até o final do presente capítulo. A CURVA DE PHILLIPS: Por que ela se inclina? De acordo com a teoria keynesiana representada nos Gráficos 12.1 e 12.2, um aumento na demanda agregada levará a um aumento na produção real e a uma queda no desemprego até que o pleno -emprego seja atingido. Depois disto, um aumento na demanda agregada causará inflação. A curva de Phillips traçada a partir dos dados britânicos, porém, sugere que o mundo real não se comporta assim. Não há um ponto de pleno-emprego bem definido a partir do qual uma demanda agregada crescente deixa de causar um aumento na produção e passa a causar preços mais altos. Na verdade, qualquer incremento na demanda agregada afeta parcialmente tanto a produção quanto o emprego, e parcialmente os preços. A economia se movimenta na direção ascendente e à esq uerda da curva de Phillips. Também, à medida que a economia vai se movimentando cada vez mais para a esquerda, a curva vai se tornando cada vez mais inclinada. Em outras palavras, um aumento na demanda agregada vai se refletindo cada vez mais no incremento dos preços e cada vez menos na queda da taxa de desemprego. Analisemos o porquê desse comportamento. Considere, em primeiro lugar, o que acontece com as empresas. Quando há desemprego em grande escala, os equipamentos e as plantas das empresas também devem estar sendo utilizados aquém de sua capacidade. Nestas circunstâncias, a primeira resposta dos empresários a um aumento da demanda agregada é aumentar a produção – mas não os presos. Tal ação permitirá uma utilização mais intensiva de capital, e, como resultado, um aumento nos lucros. Além disso, é possível que os empresários não se julguem capazes de impor aumentos rápidos de preços: se elevarem muito rapidamente seus preços, seus concorrentes, que também estão trabalhando com excesso de capacidade, po derão se apropriar de uma proporção maior do mercado em que atuam vendendo a preço menos elevados os mesmos produtos. À medida que a expansão continua, plantas e equipamentos vão sendo utilizados cada vez mais intensivamente, passando as empresas a responder de maneira diferente ao aumento na demanda. O excesso de capacidade ociosa passa a ser relativamente menor, e o incremento na demanda não mais propicia um aumento de lucros a partir de incrementos na produção. Os empresários, porém, passam a ter gradativamente maior capacidade de impor aumentos de preços: preços mais altos não os levarão a perder participação de mercado para seus concorrentes, já que estes também estão atingindo a plena capacidade e não podem expandir rapidamente a produção para conseguir vendas adicionais. Outro elemento a ser considerado é que, a medida que cai a taxas de desemprego, fica mais difícil para as empresas encontrar e manter trabalhadores; o mercado de trabalho se estreita e elas se tornam mais agressivas quando buscam trabalhadores, oferecendo salários mais altos. O aumento das taxas de salários traz, em decorrência, um aumento nos custos de produção e, como resultado, um aumento nos preços dos produtos fabricados por essas mesmas empresas. Os trabalhadores, por sua vez, também respondem diferentemente a incrementos na demanda agregada à medida que a economia vai se aproximando do pleno-emprego. Quando há desemprego em grande escala eles tentam, em primeiro lugar, se manter em seus empregos. Se estão procurando trabalho, geralmente aceitam o que lhes é oferecido sem reivindicar salários altos. À medida que a expansão econômica se processa, a situação muda gradativamente: os trabalhadores se preocupam menos em manter seus empregos, e se tornam mais agressivos em suas reivindicações por maiores salários. Essas condições de comportamento que afetam tanto as empresas que quando o fator trabalho não acontecem subitamente, a partir de um ponto bem definido de pleno-emprego. Pelo contrário, elas vão mudando gradualmente, fazendo com que a economia responda a um aumento de demanda de forma contínua e suave. A curva de Phillips, portanto, fornece uma representação mais realística do comportamento econômico do que a função keynesiana em forma de L. O Dilema de Política Econômica dos anos 60: A Escolha (o trade-off) entre Inflação e Desemprego Os responsáveis pela política econômica em países que contam com as informações necessárias para relacionar inflação e desemprego, e que acreditam estar a economia situada sobre uma curva de Phillips bem definida, defrontam-se com um dilema de política econômica. Através do controle da demanda agregada, eles poderiam fazer a economia se mover ao longo da curva de Phillips, mas qual o ponto que deveriam tentar alcançar? Um ponto como o ponto G, do Gráfico 12.5, com uma taxa de inflação baixa e uma taxa elevada de desemprego? Ou como o ponto H, que representa uma taxa elevada de inflação e uma taxa de desemprego? Ou algum ponto entre estes? O dilema consiste em escolher (ou “trocar”) estabilidade de preços ou desemprego, e requer que se estabeleça a importância relativa desses dois objetivos para a economia. AS POLÍTICAS ECONÔMICAS DOS ANOS 60: As Tentativas de Resolução do Dilema Atuar sobre a curva de Phillips não é uma tarefa agradável para os responsáveis pela política econômica. Em 1961, depois de um período de acelerada expansão do produto, motivada principalmente pelas políticas de substituições de importações (propiciando o nascimento, inclusive, da indústria automobilística no Brasil) e da construção da nova capital federal, Brasília, a economia brasileira enfrentou problemas de ordem política (renúncia do então Presidente Jânio Quadros) que trouxeram à tona elementos de estagnação e de tensão inflacionária que levariam a economia do ponto H (Gráfico 12.5) para um ponto como o de 1964 (Gráfico (GRÁFICO) 12.4). Em 1964. Foram registradas taxas de inflação sem precedentes na história do país até então (taxas próximas de 100 por cento ao ano). Registrava-se, ao mesmo tempo, uma taxa crescente de e grande agitação social no país. A Revolução Militar de 1964 escolher então, para administrar a economia no período 1964-1966, uma equipe de técnicos que optaram pela política restritiva, com o objetivo principal de reduzir a taxa de inflação rapidamente – o chamado “tratamento de choque da economia”. Como conseqüência, houve redução no ritmo da produção, a mais grave desde a I Guerra; as taxas de inflação, no entanto, permaneceram ainda muitos elevados, devido a problemas com a agricultura, bem como ao componente reprimido da inflação – o governo substancialmente as tarifas dos serviços públicos (água, energia elétrica, bem como reestruturou e elevou substancialmente os impostos, a todos os níveis). Os preços dos serviços públicos, que estiveram praticamente congelados nos períodos prévios, juntamente com as taxas de juros, foram colocados em valores mais realistas, impulsionando os demais preços na economia. Chama-se de inflação reprimida ao controle artificial da elevação nos preços durante um determinado período. O objetivo da administração seguinte (administração Médici) foi o de trazer a economia para o ponto B do Gráfico 12.5. Para isto era necessário utilizar instrumentos de política econômica especiais para evitar que, à medida que a demanda agregada fosse sendo estimulada e a economia se expandindo, se evitasse a inflação prematura. Três tipos de instrumentos forma utilizados para atingir esse objetivo: 1) Restrições aplicadas diretamente sobre salários e preços, para refrear a inflação; 2) em contraste com o período imediatamente anterior, políticas monetárias e fiscais expansionistas, políticas essas que atuavam no momento sobre um mercado financeiro modernizado e sobre um déficit orçamentário financiado através de instrumentos não-inflacionários; e 3) políticas de incentivos setoriais e regionais, para diminuir as disparidades na alocação de recursos e, assim, orientando a oferta de emprego no mercado de trabalho (exemplo: os incentivos para a construção civil, através do Banco Nacional da Habitação). Ocorre a inflação prematura quando os preços aumentam antes que a economia atinja o pleno-emprego. Os principais programas utilizados para orientar o crescimento econômico e, assim, a diminuição da taxa de desemprego registrada nos últimos anos foi, como suplemento às políticas e fiscais expansionistas: l. Programas de desenvolvimento regional, com o objetivo de atrair indústrias para regiões menos desenvolvidas, auxiliando, assim, na diminuição do desemprego estrutural. O principal instrumento de política econômica utilizado para a realização desses programas foi o incentivos fiscais, qual sejam, um tipo de subsídio dado pelo governo federal e empresas que fossem se instalar no Norte o Nordeste do país (tais empresas ficariam do pagamento de um conjunto de imposto, por um determinado período de tempo). 2. Programas de incentivos às exportações, também através dos instrumentos criados de incentivos fiscais e creditítios 4 (financiamento total à produção e à comercializações da taxas de juros favorecidas), bem como pela implementação das minidesvalorização da taxa de câmbio (para que o valor em cruzeiros das exportações fosse sendo gradativamente trazido a níveis mais realistas, depois de longo período de taxa de câmbio fixa e sobrevalorizada), e pela melhoria dos meios de transporte e de armazenamento. 3. Programas de saneamento das distorções geradas pelo processo inflacionário (desincentivo de investir em bens e em papéis que rendiam apenas juros; distorções alocativas; queda do poder aquisitivo dos consumidores-assalariados etc.) através da instituição da correção monetária, que passaria a ser aplicada gradativamente a setores cada vez mais amplos da economia, tornando-a fortemente “amarrada” aos valores da inflação passada. A princípio, os coeficientes (ou índi- TABELA 12.1 Taxas de crescimento do PIB real e dos preços no Brasil –1956-1974. (Valores percentuais) Ano 1956 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 Taxa de variação do Índice de Preços* 24,4 7,0 24,3 39,5 30,5 47,7 51,3 81,3 91,9 34,5 38,3 25,0 25,4 20,2 19,3 19,5 15,5 15,1 35,4 do Produto Real 3,2 8,1 7,7 5,6 9,7 10,3 5,3 1,5 2,9 2,7 5,1 4,8 9,3 9,0 9,5 11,3 10,4 11,4 9,4 Fonte: Conjuntura Econômica, Fundação Getúlio Vargas. * As taxas de evolução dos preços se referem ao Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna, oficialmente o índice utilizado para denominar “inflação”; é uma composição ponderada de três outros índices (índice de preços por atacado, com peso 0,6, índice de custo de vida, com peso 0,3, e índice da construção civil, com peso 0,1) calculados, também, pela Fundação Getúlio Vargas para a cidade do Rio de Janeiro. ces ) de correção monetário (que são exatamente o inverso do índice de preços analisado no Capítulo 6, e, em especial, através da Tabela 6.2) foram aplicados aos débitos fiscais, aos títulos do governo (Obrigações Reajustáveis e Letras do Tesouro Nacional) e a outros títulos transacionados no mercado de capitais, aos ativos fixos das empresas, aos salários (de uma foram muito particular, como veremos adiante) e aos financiamentos de médio e longo prazos (construção civil, investimentos de longa maturação). A indexação (via correção monetária), sendo estendida a setores cada vez mais amplos, trouxe consigo duas conseqüências principais 5: um comportamento de “convivência” dos agentes econômicos com a inflação – assegurando-lhes a manutenção dos valores aplicados, e um novo componente inflacionário, qual seja, o de realimentação – o qual discutiremos com mais detalhes em outras seções deste capítulo. O instituto da correção monetária, de toda a maneira, permitiu que o ritmo de atividade durante o período em análise não fosse prejudicado pelas conseqüências da inflação sobre os valores monetár ios – e mesmo, segundo alguns especialistas, permitiu a aceleração dessa mesma inflação. Os resultados da aplicação desse conjunto de política econômicas, que vieram acompanhadas de grande fortalecimento e participação do governo na economia nacional, podem ser quantitativamente avaliados através dos dados da Tabela 12.1, onde estão discriminadas as taxas de crescimento do PIB e dos preços para o período de 1956-1976, segundo cálculos da Fundação Getúlio Vargas. Os controles sobre os preços forma feitos, principalmente, através de: a)controles diretos, sob o comando da Comissão Nacional de Estabilização de Preços (CONEP) e da Comissão Interministerial de Preços (CIP), a partir de 1967; b) controle sobre os salários, através da promulgação da Lei Salarial, pela qual os salários seriam anualmente corrigidos pelos índices de correção monetária dos últimos 6 meses, acrescidos da correção prevista para os próximos 6 meses, e de uma parcela representativa do aumento de produtividade do trabalhador – sendo que todos esses índices passaram a ser os oficiais, ou seja, aqueles calculados por instituições especializadas do governo federal 6 . c) controle da taxa de juros, através do tabelamento e de outras exigências do Banco Central. Produtividade do trabalho é o montante médio produzido por trabalhador, calcula-se dividindo o produto real pelo número de trabalhadores empregados. As duas principais metas das administrações 1964-1966 e 19671973 foram as de controle da inflação a uma taxa de 15 por cento anual e um crescimento do PIB de 10 por cento ao ano. Teoricamente, essas duas metas são metas são consistentes, desde que exista possibilidade de o produto físico crescer a essa taxa, e desde que os fatores de produção (como o trabalho) tenham a evolução de suas remunerações de acordo com a da produtividade. Desde que haja um aumento na produtividade do trabalho, os empregadores podem sustentar salários mais altos e manter, em média, os preços constantes. O trabalhador pode receber uma remuneração maior porque produz mais; e deve ser ressarcido da inflação. De acordo com essas metas, o incremento nos salários reais deveria ser igual aos digamos, 3 por cento de incremento anual da produtividade de economia, como um todo, e não igual ao incremento da produtividade numa indústria específica. É claro que em algumas indústrias a produtividade cresce mais do que em outras. Na indústria eletrônica, por exemplo, o produto por trabalhador cresceu em bem mais do que 3 por cento ao ano, graças aos avanços tecnológicos abso rvidos pelo setor. Porém, não é economicamente desejável (e nem justo) que o trabalho, nesta indústria, consiga incrementos de salários em linha com os incrementos de produtividade; a indústria de eletrônicos pode obter todo o trabalho que desejar sem ter de pagar aumentos de salários de 15 por cento – como cresceu a produtividade. Em decorrência, a maior parte dos aumentos de produtividade nas indústrias de tecnologia mais avançada (como a eletrônica, que citamos, e especificamente exemplificando com os minicomputadores, o caso mais recente) deveria se refletir em decréscimos de preços. Da mesma forma é apropriado, para as indústrias que tenham tido um aumento de produtividade pequeno ou nulo, pagar os aumentos de salários no mesmo ritmo da economia como um todo. Se não aumentarem nesse ritmo, tornar-se-ão incapazes de manter os atuais empregados, ou de empregar novos trabalhadores. Com a produtividade constante e os salários crescentes, essas indústrias terão de aumentar seus preços. A regra salarial assim estabelecida (aumentos salariais iguais ao aumento da produtividade da economia como um todo) baseia-se na esperança de que alguns preços aumentem (nas indústrias com pequenos aumentos de produtividade) enquanto outros diminuam (naquelas com alta tecnolo gia). Com isso os preços, em média, e abstraindo-se outros elementos inflacionários que não o crescimentos dos salários, deveriam se manter constantes. As recomendações do governo permitiriam, que, nas industrias de rápido crescimento, um aumento superior à produtividade média calculada, mais reposição pela inflação, deveria ser dado para atrair trabalhadores para essas indústrias – se estivesse havendo problema para atrair o trabalho necessário. É importante salientar que essas metas gerais expressas nos planos do governo para esse período de 1964-1973, não continham nenhuma força legal, dependendo o seu cumprimento da capacidade de o governo incentivar e impor seus propósitos. Além disso, em cada caso de aumento de salários e de preços, surgem questões técnicas complexas e discutíveis: qual foi a taxa de incremento de produtividade nesta indústria? Seriam esses salários ou esse lucros, no período base, excepcionalmente baixo? A implantação de metas quantitativas para salários e preços atravessa, normalmente, fases críticas, quais sejam: a) a insatisfação dos trabalhadores de indústria de alta tecnologia, os quais, buscam, quando da assinatura de novos contratos de produtos de trabalho, auferir um aumento de salário real igual à taxa de incremento da produtividade. Nos casos em que há suficiente poder de barganha de classe de trabalhadores o problema das greves pode surgir; b) à medida que os preços sobem, fica claro que a lógica das metas de estabilidade de preços estabelecidas para a ser crescentemen te indeterminada. Nesse caso, a inflação prevista para o próximo semestre, incorporada antecipadamente aos novos níveis salariais, através da correção monetária, mostra-se sempre menor que a inflação, que efetivamente se realizada nesse mesmo período. Dificilmente o trabalhador aceitaria com tranqüilidade um aumento salarial de 3 por cento, mais a reposição da inflação sempre a menor em mais de 3 por cento do que a realidade. Se o fizesse, o seu salário real permanentemente decresceria; o aumento dos salários nem ao menos compensaria o crescimentos nos preços. Como o período analisado não foi um período normal (greves não eram permitidas), a manutenção dessas metas significou que os ganhos de produtividade foram apropriados pelos lucros e por outras formas de rendas que não os salários, “achatando” estes últimos e concentrando de forma crescente a renda. O salário real é medido pela quantidade de bens e serviços que o salário pode comprar. Seu cálculo é feito pelo ajustamento do salário monetário à inflação. Por exemplo, se o salário monetário cresce 15 por cento, enquanto os preços crescem 20 por cento em um ano, o salário real fica diminuído de 5 por cento Metas Salários-Preços: Questões Controversas A desejabilidade das metas salários-preços (ou maiores controles legais sobre os salários e os preços) tem sido tema de debate contínuo países ocidentais. As três principais questões que o tema ressalta são discutidas a seguir: 1.Viabilidade. As experiências efetuadas na maior parte dos países ocidentais são decepcionantes. O argumento contra a utilização de políticas de rendas como as analisadas e que, uma vez anunciadas as metas pelo governo, elas funcionam como o piso a partir do qual se iniciam as barganhas salariais. Além deste aspecto, as metas podem também ser contraproducentes do lado dos preços, e não apenas dos salários; assim, temendo que tais metas sejam apenas o início de controles mais rígidos, os empresários decidem aumentar seus preços agora, adiantando-se a uma época quando poderiam faze-lo com menos liberdade ou mesmo sem qualquer liberdade (no caso, por exemplo, de ser imposto o congelamento de seus preços). Uma política de renda é uma política dirigida para o controle de inflação, através da utilização de metas ou de outras restrições sobre os salários monetários e os preços. (Restrições sobre os salários afetam a renda do trabalho. Restrições sobre os preços afetam outras rendas, tais como lucros e aluguéis). A execução das metas tende a ser errônea e ineficiente quando o governo, nas fases críticas de aplicação, reage através de ameaças e de admoestações. Quando as leis de controle são muito rígidas, é possível o surgimento de outro problema na execução das metas: o surgimento de mercados de mercados negros que canalizaram a demanda de bens muito requisitados nos mercados onde os preços estão acima dos limites legais. Na verdade, os preços, nesses mercados, tendem a se fixar a níveis ainda mais altos que os que prevaleceriam se o mercado fosse livre, uma vez que os vendedores buscam compensar também o risco de estarem atuando as leis. Se lembrarmos que essas políticas são usadas normalmente com políticas de expansão de demanda, podemos ver que as políticas de rendas fracassarão sob pressões internas de excesso de demanda, pois os preços crescerão rapidamente. O argumento a favor das políticas de rendas, por outro lado, foi habilmente sumarizado por John Kenneth Galbraith: “Qualquer idiota pode argumentar contra controles em teoria. O caso é que simplesmente não há alternativas”. Há apenas uma maneira de brecar a inflação, quando a ação direta sobre salários e preços não é utilizada: restringir a demanda agregada e permitir uma taxa de desemprego dolorosamente elevada. 2. Eficiência alocativa. Os opositores ás metas e aos controles afirmam que estes interferem na função que tem o sistema de preços de alocar a produção. Como vimos no Capítulo 4, os preços fornecem informação e incentivos para os produtores. Quando os bens escasseiam, os preços sobem, encorajando os produtores a fabricar mais . Eles não mais realizam essa função quando são controlados. Os controles e as metas podem ser executadas erroneamente, fazendo surgir um problema particular. Em resposta a pressões políticas, o governo pode executar restrições sobre preços mais vigorosas para bens que são considerados essenciais. Os empréstimos dessas indústrias, como resultado dos preços relativamente baixos, transferirão e produção para outros bens lucrativos. Assim os controles sobre os preços terminarão por reduzir a produção dos bens que a sociedade considera particularmente importantes. Os defensores das políticas de rendas reconhecem esse perigo, embora acreditem que ele possa ser controlado. As exceções permitidas às metas salários-preços dos anos pós-67 objetivaram exatamente proteger a função alocativa. Os proponentes dos controles geralmente sugerem, também, que se dê a alguma instituição governamental a autoridade de ajustar os preços ao que é legalmente permissível. 3. Liberdade econômica. Essa última questão é tida como muito grave pelos oponentes das políticas de rendas, devido ao poder econômico que se concentra nas mãos dos funcionários do governo. Através do controle de preços, eles teriam poder de forçar a falência de algumas empresas, restringindo a liberdade das empresas e dos trabalhadores. Proponentes dos controles tendem a diminuir a importância desses perigos e argumentam que se nenhum controle for aplicado sobre salários e preços para combater a inflação, o controle desta acarretará altas taxas de desemprego. O desemprego é utilizado como munição de guerra contra a inflação – a liberdade das empresas e dos líderes sindicais precisa ser contrabalançada com o direito que tem os trabalhadores de encontrar emprego. OS AGITADOS ANOS 70: Mais Inflação e Maior Desemprego nos Países do Mundo Ocidental A história das duas últimas décadas, para o mundo ocidental, é desconcertante. Os anos 60 começaram com o otimismo e a esperança de que o dilema da curva de Phillips poderia ser solucionado com metas salários-preços. Ao invés disto, aconteceu o oposto. Em lugar de a economia ser encaminhada para um ponto de elevado emprego e baixa inflação, conseguiu-se o pior para os dois nos anos 70, em vários países. Esta é mais uma razão para que o período 1968-1973 tenha sido chamado, no círculo internacional dos economistas, de “milagre brasileiro”, já que se realizava justamente no período em que parceiros do hemisfério ocidental enfrentavam dificuldades. Porém, nestes países, o que acontece de errado? Como justificar altas taxas de inflação e de desemprego? Duas explicações estão disponíveis, e são colocadas a seguir. Inflação de Custos “A era da economia keynesiana passou; à revolução macroeconômica da administração fiscal e monetária, que devemos a Keynes, se contrapôs a revolução microeconômica do poder do sindicato operário e do poder das grandes corporações”. John Kenneth Galbraith A primeira explicação tem a ver com a distinção entre inflação de demanda e inflação de custos. Ocorre inflação de demanda quando a demanda está elevada e crescendo. Os compradores disputam ansiosamente os bens e serviços. “Puxando” os preços para cima. Ocorre a inflação de custos quando salários e outros custos crescem e esses custos são repassados para os consumidores na forma de preços mais altos. Os preços são “empurrados” para cima por custos crescentes. A inflação de custos também é denominada inflação do poder de mercado. Quando a economia entra num período de inflação de demanda, onde “muito dinheiro anda à procura de poucos bens”, os pr odutores descobrem que não podem atender a todas as encomendas aos preços antigos, e os preços são aumentados. Durante esse período, a produção está elevada, o desemprego está baixo e os preços crescem. Esta é a explicação tradicional e a mais simples de inflação e está representada pela seção vertical da função simples de oferta agregada keynesiana (Gráfico 12.1) e pela seção crescentemente inclinada da curva de Phillips, à medida que a economia se dirige para a esquerda quando a demanda aumenta. Suponha, agora, que os grandes sindicatos operários e as corporações monopolísticas tenham poder considerável para estabelecer preços. Um sindicato forte tem a capacidade de, mesmo quando a demanda por trabalho está baixa e a taxa de desemprego elevada, ameaçar com a deflagração de uma greve na negociação pela elevação de salários. Da mesma forma, as empresas que enfrentam poucos concorrentes podem elevar seus preços, mesmo quando a demanda está lenta, empresas que apresentam custos mais elevados de trabalho e de insumos, como essas, podem repassa-los para os consumidores na forma de preços mais altos. As força impulsionadoras de demanda e de custos podem atuar juntas, e a inflação será o resultado de ambas. Suponha, porém, para nossa análise, que a demanda agregada (medida em unidades monetárias) esteja estável e que as pressões inflacionárias causadas pelo lado dos custos permaneçam. Os preços, então, continuam a subir. Com preços mais elevados, a demanda agregada compra menos bens e, como resultado, pessoas são despedidas de seus empregos. Em outras palavras, preços crescentes são acompanhados por uma queda na produção e por um aumento na taxa de desemprego. Uma combinação de preços crescentes e desemprego crescente parece paradoxal se nos concentrarmos apenas nas forças impulsionadoras de demanda, porém, não se torna mesmo quebra-cabeças se olharmos para as pressões de custos. Não surpreende, assim que a explicação da inflação pelo lado dos custos tenha se notabilizado no final da década de 50, quando inflação e desemprego passaram a crescer simultaneamente nos países industrializados. (GRÁFICO) A diferença entre as pressões de custo e de demanda está sumarizada no Gráfico 12.6. As autoridades podem, através de políticas monetárias e fiscais expansionistas, causar um movimento ao longo da curva de Phillips original (CP 1 ). Com a impulsão da demanda, haverá mais inflação e menos desemprego. Por outro lado, com a pressão dos custos, toda a curva de Phillips muda para cima (CP 2 ). As autoridades enfrentam, agora, uma escolha desagradável. A partir do ponto B, se elas mantiverem a demanda agregada estável em temos monetários, menos bens serão comprados a preços mais elevados e o desemprego aumentará (movimento de B para C). Se incrementarem a demanda agregada para manter o desemprego baixo, o resultado será uma inflação ainda maior (ponto D). O debate acerca da inflação de custos se acirrou ao final da década de 60, transformando-se, particularmente, em argumentos à busca de culpados pela inflação. O grande e mais recente “culpado” pela inflação de custos na atualidade é a Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que no breve período de 1973 a 1974 dobrou e, em seguida, quadruplicou os preços que os importadores tinham de pagar pelo petróleo cru, impondo aumentos menores de preços a partir de então 8 . O aumento do preço do petróleo, devido à sua importância como fonte de energia, de calor, e como matéria-prima industrial básica, tem um efeito poderoso nos países importadores. Essas economias ficaram sujeitas a pressões agudas de custos e apresentaram aceleração na taxa de inflação (no caso dos países como os Estados Unidos e os da Europa Ocidental, como uma taxa histórica de inflação bastante reduzida, 1974 foi o ano de rompimento de taxa inflacionária de “um dígito” para a de “dois dígitos”, ou seja, superior a 10 por cento; no caso brasileiro, ano de 1980 trouxe o rompimento da barreira dos “três dígitos”, ou seja, uma taxa inflacionária acima dos 100 pro cento, estando o petróleo sendo responsabilizado como a principal pressão de custos). Nos Estados Unidos, Inglaterra e outros países da Europa Ocidental, a aguçada elevação da curva de Phillips depois da crise do petróleo fez com que as administrações da época optassem pro políticas contracionistas, nu ma tentativa de diminuir a aceleração da inflação; o resultado foi a elevação da taxa de desemprego, concomitante com as altas taxas de inflação já conhecidas. Para resumir, esta primeira explicação para o estagflação depende de perturbações a partir dos custos: a curva de Phillips pode ser temporariamente deslocada pro ações agressivas para aumento de salários e preços provenientes dos sindicatos e das empresas ou de choques externos, tais como o incremento no preço do petróleo importado. EXPECTATIVAS DE PREÇOS E A ESPIRAL SALÁRIO-PREÇO: O Argumento Aceleracionista A segunda explicação para a evolução de altas taxas de inflação e de desemprego simultaneamente coloca em questão o próprio conceito de permanência de uma curva como a descoberta por Phillips. De acordo com esse argumento, a curva de Phillips é estável somente no curo prazo, mudando sempre que as expectativas de inflação das pessoas mudam. A curva de Phillips se desloca para cima á medida que a inflação ganha impulso. Se o objetivo das políticas monetárias e fiscais é chegar a uma baixa taxa de desemprego, a inflação acelerar-se-á através de taxas cada vez mais altas. Este argumento é, por isso, conhecido como argumento aceleracionista. A maneira mais simples de explicar o argumento é supor, de início, que, durante um longo período de tempo, os preços têm-se mantido estável. Com base nessa experiência, espera-se que eles permaneçam estáveis por um período indefinido. A economia repousa no ponto G da curva de Phillips inicial (Gráfico 12.7), onde a taxa de inflação é nula. Suponha, agora, que o governo passe a considerar inaceitável a taxa de desemprego de G, e coloque em ação políticas monetárias e fiscais para incrementar a demanda agregada e trazer a taxa de desemprego para o nível U T. A partir de então, os produtores, para atender à demanda aumentada, necessitam de mais trabalhadores; aqueles que estão à procura de trabalho encontram colocação fácil e rapidamente. A produção aumenta e o desemprego diminui. À medida que a demanda continua a crescer, os produtores começam gradualmente a aumentar os preços; nos primeiros estágios de inflação, entretanto, as variações nos salários monetários são pequenas, já que é costume alterar os salários apenas periodicamente – digamos, de ano em ano. A reação inicial ao incremento da demanda é um incremento relativamente grande na produção, um aumento apenas moderado nos preços e um aumento ainda menor nos salários. A economia se desloca ao longo da curva de Phillips em direção ao ponto H (Gráfico 12.7). O ponto H, porém, não é estável. A curva inicial de Phillips (CP 1 ) reflete uma situação na qual os contratos salariais eram negociados na hipótese de preços estáveis. Mas na nova situação os preços não são estáveis, e à medida que as negociações para novos contratos começam, os trabalhadores, tendo consciência que seu salário real – o montante de bens e serviços que os seus salários podem comprar – foi desgastado pela inflação, desejam superar o custo de vida. Enquanto a demanda agregada aumentar rapidamente, mantendo a economia em pleno funcionamento, os sindicatos estarão numa posição favorável para reivindicar; os empresários, para os quais os mercados estão em franca expansão, capitularão ante a ameaça de greves. Como a demanda está elevada e crescente, as empresas podem facilmente repassar os salários mais elevados. A taxa de inflação se acelera, e a economia se dirige ao ponto J, acima da curva original de Phillips. (GRÁFICO) Com uma taxa maior de inflação, os empregados se acham mais uma vez burlados pela inflação; o seu salário real é, mais uma vez, menor do que eles esperava. Numa nova etapa de negociações salariais, demandam uma recomposição ainda maior em relação ao custo de vida. Como já foram prejudicados por duas vezes, podem agora antecipar a infl ação, e demandar algo mais para cobrir a futura inflação. A espiral salário -preço ganha impulso. Enquanto a demanda for utilizada para manter o desemprego à baixa denominada de U T , a inflação continuará a se acelerar. A curva de Phillips nos dá, como mostra o raciocínio desenvolvido acima, uma impressão errônea. Ela cria a ilusão de que há uma troca única entre inflação e desemprego; em outras palavras, que uma baixa taxa de desemprego pode ser “comprada” por uma taxa de inflação firme e moderada. O custo, na realidade, é bastante maior: uma taxa de inflação se acelerando permanentemente. Salários e preços sobem em espiral, com preços maiores levando a demandas por salários cada vez maiores, e salários maiores sendo repassados para os consumidores na forma de preços cada vez maiores. O Limite à Taxa de Inflação Uma taxa de inflação em permanente aceleração é intolerável. Cedo ou tarde todo o sistema monetário se desestruturará e a economia retornará ao ineficiente sistema de trocas (ou de escambo). (A ta xa requerida para uma desestruturação completa é, na verdade, muito alta – centenas de pro cento ao ano. Rupturas severas, no entanto, podem ser causadas por taxas de inflação bem mais baixas, tais como 40 por cento nos países de história de inflação muito baixa, por exemplo). Ao mesmo tempo, os responsáveis pela política econômica se recusarão a incrementar a demanda agregada sem limites. Ilustrando essa argumentação bastante simples, suponha que a linha-limite das políticas monetárias e fiscais é estabelecida (mais cedo do que tarde). Assim que a economia atinge o ponto H, o governo reconhece o perigo de uma inflação permanentemente em aceleração e reverte as políticas de demanda agregada. Em lugar de incrementar a demanda agregada pelo montante necessário à manutenção de uma meta de baixa de desemprego, as autoridades limitam a demanda agregada ao montante que é necessário para prevenir que a inflação ultrapasse os 2 por cento alcançados em H. Em outras palavras, as autoridades mudam a sua meta de política econômica. Seu objetivo principal é não mais manter o desemprego no nível baixo U T, porém manter a inflação de maneira que ela não ultrapasse o nível planejado de 2 por cento, I T (Gráfico 12.8) 9 . Neste caso, os trabalhadores ainda buscam salários maiores, pois 2 por cento de inflação ainda afetam o sue poder de compra. Os empregadores, porém, estão tolhidos, pois não conseguem mais repassar facilmente os salários aumentados por que existe restrição na demanda agregada. Dá-se o conflito, que pode resultar em grave. Ademais, devido à demanda restringida, a produção começa a diminuir e o desemprego aumenta. A economia se dirige para a direita, para um ponto como L. A CURVA DE PHILLIPS DE LONGO PRAZO: As Duas Formas de Analisar A pergunta que surge, ao supor que a demanda continua a se restringir, é até onde a economia se movimenta para a direita. Suponha, também, que a demanda está controlada de maneira a manter a inflação permanentemente a uma taxa de 2 por cento. Onde estará situado o último ponto de equilíbrio? (GRÁFICO) Duas escolas de pensamento econômico analisem esta questão. Uma, que inclui os Profs. Edmund Phelps (Universidade de Colúmbia, EUA) e Milton Friedman (Universidade de Chigago, EUA), argumenta que a economia se deslocará até o ponto N, o ponto diretamente sobre o equilíbrio original G (Gráfico 12.8). Com isto, a situação real entre salários e preços não se alterará – os empregadores pagam 2 por cento a mais pelo trabalho, mas são compensados pelos 2 por cento de incremento nos preços dos bens que produzem. Como N está diretamente sobre G, a taxa de desemprego é a mesma nas duas situações, e a curva de Phillips de longo prazo é uma vertical. Isto acontece porque a taxa de inflação, no longo prazo, é irrelevante no estudo do funcionamento da economia, uma vez que a taxa de inflação é precisamente conhecido por todos os agentes contratantes. Em outras palavras, as pessoas não sofrem de ilusão monetária. As pessoas sofrem de ilusão monetária quando seu comportamento muda sob o evento de uma mudança proporcional nos preços e nos rendas monetárias Os economistas de outra escola, representados principalmente por Otto Eckstein e Roger Brinner (EUA), argumentam que a alteração na taxa de inflação levará a um novo ponto de equilíbrio mais à esquer da de N (Gráfico 12.8), por exemplo, para o ponto M. Os pontos da curva gerada por esse tipo de reação, ou seja, a curva de Phillips de longo prazo, não será inteiramente vertical. Com isto, os autores defendem que há uma troca entre inflação e desemprego no longo prazo. A curva de Phillips de longo prazo é a curva (ou a reta) traçada pro todos os possíveis pontos de equilíbrio de longo prazo, ou seja, pelos pontos nos quais as pessoas já se ajustaram completamente à taxa prevalecente de inflação. A taxa natural de desemprego é a taxa de equilíbrio que resulta de terem as pessoas se ajustado completamente à taxa de inflação prevalecente. PERPECTIVAS A explicação do que nos leva a entrar neste problema não nos leva à explicação de como sair dele. Podemos, entretanto, identificar três importantes questões de política econômica: 1) Quais as implicações, em termos de administração da demanda agregada, que os acontecimentos dessas duas últimas décadas trazem? 2) Pode-se fazer alguma coisa para facilitar a transição para taxas inflacionárias mais baixas? 3) O que pode ser feito para reduzir a taxa natural de desemprego (ou a taxa de desemprego de equilíbrio) da economia? Ou seja, o que pode ser feito para trazer a curva de Phillips de longo prazo para a esquerda? QUADRO 12.1 OS DIVERSOS TIPOS DE DESEMPREGO A taxa de desemprego a que se refere a curva de Phillips é a percentagem da força de trabalho que está procurando emprego, ou seja, os que estão desempregados contra a vontade. Esse tipo de desemprego, o desemprego involuntário aumenta quando trabalhadores são despedidos, o que, de acordo com a relação de Phillips, acontece quando o nível de produção nacional diminui. O desemprego “natural”comporta, também, a parcela da força de trabalho que está se deslocando de uma ocupação para outra. O desemprego temporário assim definido tem o nome de desemprego fricativo. Há, porém, outros tipos de desemprego, particularmente importantes em economias subdesenvolvidas. São eles o desemprego disfarçado, ou subemprego, e o desemprego estrutural. O desemprego disfarçado pode ser medido pelo número de pessoas que deixando se trabalhar, não trazem qualquer diminuição de produção nacional: os trabalhadores remanescentes trabalham mais e mais produtivamente. O desemprego estrutural. Por sua vez, pode ser medido pela parcela da força de trabalho que não encontraria colocação mesmo se o produto estivesse sendo feito com toda a sua potencialidade: a produção (oferta) está estruturada de modo a não demandar toda a força de trabalho disponível no país. O desemprego aberto representava, em 1969, 3,6 por cento da forca de trabalho total brasileira, enquanto o desemprego disfarçado (medido pelo número de pessoas ocupadas que recebem menos do que um salário mínimo, mais as pessoas que trabalham em tempo parcial e desejariam trabalhar em tempo integral) representava, à mesma época, 10,3 por cento da força de trabalho total. A maior parte dos trabalhadores brasileiros considerados desempregados, portanto, está ocupada em atividades imp rodutivas e de baixa remuneração, o que faz com que os salários monetários médios para toda a economia se fixem em níveis baixos. Segundo o pressuposto de Phillips, válido para as economias desenvolvidas, os salários são a espinha dorsal dos preços e evoluem de acordo com a evolução da produção em direção ao pleno-emprego. Há fortes indícios de que isto não acontece nas economias onde predomina o desemprego disfarçado. O dilema entre inflação e desemprego, neste caso, não pode ser solucionado a partir das metas salários-preços apontadas pela análise de Phillips, sem uma qualificação adequada para o caso das regiões menos desenvolvidas. Propostas para Facilitar a Transição para uma Taxa de Inflação Menor Altas taxas de inflação e de desemprego coexistem porque as expectativas inflacionárias têm sido incorporadas aos contratos. Frear estas expectativas inflacionárias através de políticas restritivas de demanda agregada é um processo doloroso. É apenas através do sofrimento do desemprego que o mercado induz os indivíduos e as instituições a diminuir as respectivas demandas. Para reduzir os incrementos nos salários e nos preços, de uma maneira menos sofrida, entretanto, duas propostas têm sido apresentadas. 1. Políticas de rendas. Uma proposta é a utilização de políticas de rendas, através da intervenção do governo nos preços e nos salários, de maneira a reduzir mais rapidamente a inflação. Tais experimentos apresentam, entretanto, aspectos bastante controversos em termos de eficácia; o argumento mais importante e o de que tais controles apenas postergam (ou reprimem) a inflação, que entrará em nova espiral assim que os controles forem ou mesmo a partir de exigências da própria economia – a tendência inflacionária, de longo prazo, não é afetada por tais controles. 2.Indexação dos salários “A inflação é uma maneira de frustra as expectativas”. Joseph Kraft Uma segunda maneira possível de facilitar a transição para taxas de inflação menores é trabalhar sobre as expectativas que são incorporadas aos contratos de salários. Por exemplo, com uma taxa de inflação de 6 por cento, os trabalhadores poderão demandar aumentos salariais da ordem de 9 por cento, para compensa-los da inflação ocorrida, e para aumentar em 3 por cento o seu poder aquisitivo, como obj etivam. Os contratos assim estabelecidos mostram, que a inflação persistirá mesmo diante de políticas restritivas de demanda e taxas elevadas de desemprego, formando um círculo vicioso: existe inflação porque as pessoas esperam inflação, e as pessoas a esperam porque ela existe. Por que não romper esse círculo protegendo os trabalhadores contra a inflação? Seguindo nosso exemplo, isto poderia ser feito se se assegurasse um incremento básico de 3 por cento dos salários, com a cláusula de que os trabalhadores serão compensados por quaisquer alterações de custo de vida ocorridas durante a vigência de seus contratos. Os trabalhadores ficariam satisfeitos com esta cláusula de indexação, ou de escala móvel, pois, por ela, seus salários estariam protegidos não apen as contra a inflação corrente, mas também contra uma inflação futura que pode ser maior que a presente. Contratos desse tipo facilitariam a ajustamento a taxas menores de inflação, tornando possível uma desaceleração mais rápida da inflação - embora não estejamos convictos de que solucionariam o problema do impulso inflacionário. Poderiam tornar, na verdade, o problema mais grave ainda. Os contratos de salários são indexados quando incluem uma cláusula de correção monetário, ou de escala móvel que permite salários monetários adicionais para compensar os incrementos no índice de preços ao consumidor. A razão é a seguinte: se todos os salários forem indexados, as negociações salariais centrar-se-ão nas rendas reais. Suponha que, nas várias negociações que estão se realizando num dado momento, os trabalhadores estejam demandando aumentos dos salários e ordenados reais 4 por cento, em média. Suponha, também, que a produtividade do trabalho esteja crescendo apenas 2 apenas 2 por cento – o que torna os contratos inconsistentes com o que a economia pode realmente produzir 12 Como esses contratos inconsistentes são feitos em termos nominais, a inconsistência seria “resolvida”pela inflação: os preços aumentariam até as pessoas ficarem com menos poder de compra real do que esperavam, quando negociaram seus salários nominais. Quando os salários são indexados, porém, esta solução simples não se realiza; os salários crescem cada vez mais rapidamente e, pode resultar do processo uma espiral inflacionária. Para poder se adotar um esquema de indexação amplo, é essencial criar mecanismos para prevenir que sua ligação com o produto nacional total exceda o que a economia pode produzir. 13 A indexação, se isto não for feito, poderá se tornar mais uma causa da inflação, ao invé s de instrumento de cura desta. O que Fazer para Reduzir a Taxa Natural de Desemprego? Mesmo se conseguíssemos uma transição suave para uma taxa inflacionária mais baixa, não teríamos conseguido resolver nossos problemas macroeconômicos. Haveria, ainda, um montante significativo de desemprego, devido a causas estruturais e fricativas. As estimativas dessa taxa natural de desemprego, abaixo da qual a inflação começa a se acelerar, tem mostrado um aumento nas últimas décadas. Há duas razões pelas quais isto quais isto pode ter sido causado. A primeira é baseada na variação da composição da força de trabalho. A força de trabalho da última década, principalmente em países “jovens”(ou seja, com uma relativamente elevada pro taxa de crescimento populacional várias décadas), é formada por uma porcentagem maior de pessoas com menos de 20 anos, e que apresentam uma taxa de desemprego maior que os adultos. À medida que se tornam uma fração maior da força de trabalho, a taxa de desemprego global tende a crescer. Alguns economistas argumentam que a participação crescente das mulheres na força de trabalho também tem alimentado a tendência para o aumento da taxa de desemprego natural – porém, este é, ainda, um argumento controverso. A segunda razão é que, com o desenvolvimento mundial, fortemente baseado no setor industrial e nas variações tecnológicas, tem havido um crescimento mais lento das indústrias que utilizam maior quantidade de mão-de-obra, com menor especialização, e menor quantidade de máquinas e equipamentos (capital). Com isto, uma proporção crescente da força de trabalho passa a encontrar dificuldade em se empregar- aquela parte da força de trabalho sem qualificação para operar o capital crescentemente complexo e poupador de mão -de-obra. A taxa natural de desemprego, devido a este fator estrutural, tem aumentado nos países menos desenvolvidos. (Já em países como a Alemanha, pó exemplo, a composição da força de trabalho, com especializações a nível superior, também deixa de encontrar ocupações adequadas dev ido à estrutura altamente poupadora de mão-de-obra das indústrias. Não é fato raro encontrar-se pessoas formadas em engenharia, por exemplo, empregadas como motoristas ou caixas de restaurantes.) A terceira razão é que, com o desenvolvimento de novos programas de previdência social, há uma tendência de se manter a renda das pessoas temporariamente desempregadas (fundo de garantia, no caso brasileiro; seguro-desemprego na Inglaterra). Com isto, em algum grau, as pessoas tornam-se menos pressionadas para buscar novos empregos, quando desempregadas, ou são induzidas a deixar o emprego que possuem para sacar o fundo de garantia. Neste caso, fica difícil afirmar o que poderia vir a ser feito: o objetivo de reduzir desemprego entra em conflito com o objetivo social de reduzir as dificuldades dos que se encontram desempregados. Mas o que pode ser feito para reduzir a taxa de desemprego natural? De acordo com as razões apresentadas, primeiro, reduzir a grande disparidade de qualificação da força de trabalho, cuja educação tem estado grandemente dissociada dos requisitos de mercado; isto pode ser feito através de programas de treinamento e de educação em sentido amplo, de maneira que as pessoas, ou seja, a força de trabalho composta por indivíduos com qualificação desde nula até a mais completa especialização, encontra empregos com menos dificuldade; segundo, adaptar gradativamente a estrutura produtiva (composição dos bens produzidos e tecnologias de produção) à estrutura da força de trabalho e à estrutura de demanda (composição dos bens desejados e capacidade de compra expressa pela distribuição da renda); com isto, uma grande fonte de desemprego estrutural estaria controlada 14 ; terceiro, reformular a legislação do trabalho para reduzir a rotatividade (desemprego f ricativo) e discriminação que encontram mulheres e outras minorias (deficientes, negros e menores) quando buscam colocação; quarto, numa abordagem muito mais ambiciosa, que o governo haja como empregador de última instância, ou seja, que esteja pronto para empregar os que querem trabalhar e não encontram colocação no setor privado. O lado positivo desta proposta é colocar pessoas em ocupações úteis, tal como é feito na conservação de estradas e de parques. Do lado negativo, pode -se apontar o desestímulo que isto representa para que as pessoas busquem um emprego no setor privado (onde provavelmente trabalharia muito mais, e em muitos casos, receberia menos); a carga que tais gastos representam para o contribuinte e, em decorrência, suas conseqüências na taxa de inflação; e, finalmente, a possibilidade de tais programas serem usados para fins políticos por pessoas ou grupos. 03.03. POR QUE A ECONOMIA É INSTÁVEL? “uma é seu vizinho estar desempregado. Uma depressão é você estar desempregado. Embora todos nós desejamos um crescimento uniforme e estável para a economia, não o conseguimos. As condições da atividade econômica raramente permanecem uniformes e estáveis. Expansões moderadas freqüentemente levam a surtos inflacionários, e surtos inflacionários levam a recessões. Neste capítulo desenvolveremos as questões por quê? Por que a Economia tem-se mostrado instável? Quais os distúrbios que estão em ação dentro da economia, e quais os choques que vêm de fora dela? Por que os instrumentos de gerência monetár ia e fiscal têm-se mostrado inadequados para a eliminação da instabilidade econômica? Por que, pelo contrário, as atividades desenvolvidas pelo governo federal e pelo Banco Central tornam, repetidas vezes, piores as flutuações econômicas? FLUTUAÇÕES NA ATIVIDADE ECONÔMICA A contabilização do produto nacional é uma invenção relativamente moderna, e a obtenção regular de dados necessários para essa contabilização vem sendo feita, principalmente, a partir da década dos 30, nos países mais desenvolvidos, e a partir da década dos 40, no Brasil. É interessante estudar as séries histórias estimadas para os Estados Unidos, a partir de estatísticas de produção e financeiras, as quais permitem traçar os movimentos ascendentes e descendentes da atividade comercial norte-americana desde o início de seu república, conforme mostra o Gráfico 13.1. No Gráfico 13.2. estão representados os movimentos da atividade econômica brasileira, num período que abrange desde o início dos registros estatísticos, a partir das estimativas de produção e financeiras elaboradas por Haddad e Contador 1 (período de 1860 a 1970). Os gráficos permitem visualizar que a economia não se movimenta como um pêndulo, ou seja, com regularidade em intervalos específicos. A análise das flutuações econômicas, se o movimento fosse o de um pêndulo, estaria muito simplificada: esse movimento é facilmente previsível. Permitem, finalmente, que se avalie de maneira preliminar a dependência que as flutuações na economia brasileira guardam com a de outras economias mais desenvolvidas – no caso, a norte-americana. (GRÁFICO) flutuações na economia brasileiras guardam com a de outras economias mais desenvolvidas – no caso, a norte-americana. As Quatro Fases do Ciclo Econômico É, talvez surpreendente que as flutuações econômicas (ou dos negócios) sejam chamadas de “ciclo”, uma vez que são tão irregulares. Elas apresentam, porém, as mesmas quatro fases de um ciclo (Gráfico 13.3). (GRÁFICO) A chave para identificar um ciclo econômico é identificar uma recessão – o período no qual a atividade econômica está declinando, o que traz imediatamente um problema de definição: até quando a atividade econômica precisa declinar para que se declare estar a economia numa recessão? Na resposta há um significado tanto político quant o econômico: nenhuma administração deseja ser acusada de ter criado uma recessão. Nos Estados Unidos, uma organização privada de pesquisa – o National Bureau of Economic Research (NBER) – é a guardiã das chaves; ela declara o que é e o que não é uma recessão. Seu teste maior é histórico: seria um movimento descensional atual tão longo e severo quanto movimentos idênticos acontecidos no passado, e que foram classificados como “recessões”? Existe um teste mais simples, felizmente: Ocorre uma recessão quando o produto nacional bruto real diminui por dois ou mais trimestre consecutivos 2. (Os dados trimestrais utilizados neste teste devem ser ajustados de molde a eliminar a sazonalidade.) Todos os movimentos descensionais registrados no passado, e que o NBER identificou como recessão, obedeceram a esta simples definição. À medida que a produção diminui durante uma recessão, os lucros das empresas se reduzem e o desemprego aumenta. O incremento no desempenho geralmente se dá com uma defasagem em relação à variação na produção; a maior parte das empresas reluta em despedir empregados. A recessão termina com o piso, ou seja, o mês no qual a atividade econômica está no seu mínimo. Este ponto é seguido pela fase de expansão. O produto aumenta, e geralmente lucros, emprego, salários, preços e taxas de juros aumentam. Historicamente, o pico, ou ponto crítico superior, tem se associado a um pânico financeiro como o pânico de 1907, ou a “Quarta-feira Negra”- outubro de 1929, quando o mercado de títulos faliu. Picos recentes nos Estados Unidos têm sido menos dramáticos – com uma notável exceção: o último pico econômico de 1973 coincidiu com a guerra do Oriente Médio, com o embargo do petróleo e com a quadruplicarão dos preços do petróleo. As Fontes de Instabilidade Existe realmente instabilidade. Mas, por quê? Um caminho óbvio para se analisar esta questão é o estudo de cada um dos maiores componentes da demanda agregada: investimento, consumo, exportações (GRÁFICO) líquidas e compras de bens e serviços por parte do governo. Consideraremos os mais importantes desses componentes separadamente, para ver como podem flutuar de mês a mês, ou de ano a ano. Em seguida, voltaremos nossa atenção para a possibilidade – desconcertante – de que o governo, através das políticas econômicas. De todos os componentes da demanda agregada, o investimento tem se mostrado o mais instável, ou seja, o investimento flutua numa percentagem maior do que o PNB (Gráfico 13.4). DEMANDA POR INVESTIMENTO: O Acelerador A demanda por investimento depende de diversas variáveis. Uma delas, a taxa de juros, foi estudada no Capítulo 11, quando analisamos de que maneira a política monetária pode afetar a taxa de juros e, em decorrência, a demanda por investimento. As variações nas taxas de juros não se constituem na explicação mais importante da demanda por investimento, embora possam trazer importantes contribuições para a análise do funcionamento do política monetária. O investimento tem, historicamente, crescido quando as taxas de juros estão subindo (em outras palavras, o investimento tem aumentado apesar das crescentes taxas de juros), e tem diminuído quando as taxas de juros passam a escorregar para baixo. A peça mais importante que dirige o investimento não é a taxa de juros, e sim alguma coisa mais. Suponha que, para resolver essa questão, coloquemo-nos na pele de um empresário. Por que deveríamos desejar investir? Por que desejaríamos, por exemplo, adquirir mais máquinas? A resposta mais simples é que os empresários desejam mais máquinas porque desejam produzir mais bens. Considere a ilustração numérica da Tabela 13.1 e o Gráfico 13.5. Suponha, inicialmente, que um fabricante de bicicletas vende, anualmente, 200 mil unidades, e que é necessário uma máquina para cada 10 mil bicicletas produzidas. Assuma, também, que o fabricante possui inicialmente as 20 máquinas necessárias à produção das 200 mil bicicletas. Enquanto a demanda permanecer estável (como está representado na Tabela 13.1, Fase I, anos 1 e 2) não haverá necessidade de nenhuma máquina adicional. Não há investimento líquido. Tal fato não significa, entretanto, que a produção de máquinas seja zero. Suponha que uma máquina dure 10 anos; logo, 2 máquinas originais se desgastam a cada ano. Assim, enquanto a demanda por bicicletas permanecer constante (200 mil unidades ao ano), o investimento bruto continuará a ser de 2 máquinas por ano (ou seja, 2 máquinas deverão ser compradas para repor as 2 máquinas que se desgastam a cada ano). TABELA 13.1 O princípio da aceleração Tempo (1) (2) (3) (4) Vendas anuais de Números de Investimento Investimento bicicletas (em máquinas milhares) desejado (coluna líquido (variação bruto (coluna 3 + da coluna 2) 2 10 milhares) Fase I: Vendas estáveis 1º.ano 2º ano Fase II: Vendas crescentes 3º. ano 4º. ano Fase III: Um nivelamento (alto) 5º. ano 6º. ano Fase IV: Vendas decrescentes 7º. ano 8º.ano Fase V: Um nivelamento (mais baixo) 9º. ano 10º.ano reposição de 2 máquinas) 200 200 20 20 0 0 2 2 220 240 22 24 2 2 4 4 250 250 25 25 1 0 3 2 230 210 23 21 -2 -2 0 0 200 200 20 20 -1 0 1 2 O investimento flutua muito mais que o consumo. O investimento líquido depende da variação no consumo. Suponha, agora, que a demanda por bicicletas comece a crescer na Fase II. No terceiro ano, as vendas aumentam em 10 por cento, de 200 mil para 220 mil unidades. O fabricante, conseqüentemente, necessita de 22 máquinas; é necessário adquirir duas máquinas adicionais. O investimento bruto aumenta para 4 máquinas – 2 para reposição mais 2 de adição líquida. Um aumento de 10 por cento nas vendas causou um efeito acelerado no investimento: o investimento bruto aumentou de 2 para 4 máquinas, ou de não menos do que 100 pro cento. (Este efeito ampliado no investimento fornece uma pista importante para explicar por que o investimento flutua tão mais do que o PNB, conforme mestra o Gráfico 13.4). No quarto ano, então, com o crescimento das vendas permanecendo constante ao nível de 20 mil unidades, o investimento bruto também permanece constante e iguala 4 máquinas por ano. Examine, em seguida, o que acontece na Fase III. A demanda, no quinto ano, começa a se nivelar. Quando o crescimento diminu i para 10 mil bicicletas, apenas uma máquinas adicional se torna necessária. Tanto o investimento bruto quanto o investimento líquido declinam como um resultado do crescimento mais vagaroso das vendas de bicicletas. Vamos enfatizar: não é necessário uma diminuição efetiva nas vendas para gerar uma diminuição nos investimentos. (As vendas não diminuem no quinto ano; elas, simplesmente, crescem mais vagarosamente que no quarto ano.)Assim, quando a demanda pro bicicletas se estabiliza no sexto ano, não há mais a necessidade de máquinas adicionais; o investimento líquido cai a zero e o investimento bruto retrocede para 2. Quando a venda de bicicletas começa a diminuir, como na Fase IV (sétimo ano), o número de máquinas que o fabricante necessita também diminui; as máquinas que estão se desgastando totalmente naquele ano não serão respostas. O investimento líquido se torna negativo e o investimento bruto cai a zero. Este exemplo do princípio da aceleração ilustra pontos importantes: 1.O investimento (em máquinas) flutua numa percentagem muito maior que o consumo (de bicicletas). (GRÁFICO) 2.O investimento líquido depende da variação no consumo. 3.Para que o investimento permaneça constante é necessário que o consumo, uma vez que comece a crescer, continue a crescer constantemente. Uma redução no crescimento do consumo causará uma diminuição no investimento (ano 5º.). Taxas muito rápidas de crescimento das vendas, entretanto, poderão ser insustentáveis. Conseqüentemente, uma expansão econômica muito rápida contém em si as sementes de sua própria destruição. À medida que a taxa de crescimento do consumo torna-se mais lenta, o investimento tenderá a diminuir. 4. É possível que o investimento bruto caia a zero, mesmo quando haja apenas um ligeiro declínio nas vendas (ano7º.). 5. Para que o investimento se recupere não é necessário que as vendas voltem a se expandir. Uma redução na taxa de diminuição das vendas é suficiente (ano 9º. ). Assim, uma diminuição na atividade econômica contém em seu bojo as sementes da recuperação. Embora bastante simplificada, esta ilustração permite que mostremos a validade de seus principais pontos através de alguns exemplos. Quando os negócios se tornam mais lentos e menos bens são embarcados, o montante de serviços de transportes diminui. A demanda pro novos caminhões, conseqüentemente, diminui rapidamente; em face de um declínio mesmo suave nos transportes totais, não haverá necessidade de repor os caminhões que estão se desgastando. Como outro exemplo, considere o que acontece quando a taxa de natalidade diminui. A construção de novas escolas fica paralisada. (Escolas novas são fundamentalmente necessárias para acomodar um incremento na população estudantil.) O acelerador se aplica a outras formas de investimento (tais como construção de prédios escolares, treinamento de professores e fábricas) além do investimento em máquinas. O acelerador também se aplica a investimento em estoques, e isto pode aumentar a instabilidade de economia. Os comerciantes podem desejar manter seus estoques numa proporção fixa com as vendas. Nesse caso, quando as vendas aumentam, as encomendas para as fábricas podem vir a ser aumentadas ainda mais do que as vendas, para que os comerciantes alcancem o desejado de estoques. Da mesma forma, quando as vendas caem, as encomendas para as fábricas podem ser diminuídas ainda mais do que as vendas, para reduzir os estoques. As oscilações no investimento em estoques têm representado um papel importante nas modernas recessões mundiais, tornando -se, então, negativas. O investimento em estoque, entretanto, não age como uma força desestabilizadora, pois não há necessidade, para os varejistas de manter uma relação rígida entre vendas e estoques. Na verdade, os efeitos de rápidos e temporárias expansões nas vendas podem ser abrandadas pela existência de estoques: os comerciantes podem atender à demanda aumentada através de uma redução de seus estoques. DEMANDA DE CONSUMO Em termos percentuais, o consumo flutua muito menos do que o investimento, conforme demonstrou o Gráfico 13.4, durante um ciclo econômico. Na verdade, o consumo geralmente flutua pro uma percentagem menor que a do PNB total, uma vez que este é a soma das compras em bens de capital (investimento), bens intermediários e bens de consumo, todos discriminados no gráfico. Apesar disso, variações nos gastos em consumo, particularmente dos bens duráveis de consumo, podem vir a afetar a severidade das flutuações econômicas. Os bens de consumo duráveis, tais como carros ou máquinas de lavar, têm algumas das características da maquinaria utilizada pela indústria. Eles têm vida útil de 5, 10, 15 anos, ou até mais. Os consumidores, uma vez que os duráveis não se desgastam subitamente, usam de considerável moderação para repor esses itens. Quando os consumidores enfrentam dificuldades financeiras, ou quando estão pessimistas a respeito do futuro, preferem diferir a compra de carros novos ou de outros bens duráveis. As compras de bens de consumo duráveis, conseqüentemente, flutuam mais do que as compras de outros bens tais como os de alimentação ou de vestuário. As compras de duráveis podem, assim, aumentar o movimento descensional da atividade econômica. Por exemplo, expectativa pessimistas a respeito da disponibilidade e do custo da gasolina contribuíram para que, no segundo trimestre de 1980, a venda de carros tenha apresentado, no Brasil uma queda relativamente acentuada – tal queda não tem sido mais drástica pelo otimismo, em contraposição à disponibilidade de álcool em substituição à gasolina. Neste sentido, um otimismo crescente dos consumidores pode vir a aumentar o impulso para a recuperação, como foi o caso das vendas de duráveis no período 1969-1971, quando a taxa de crescimento das vendas de tais bens foi significativamente superior ao crescimento médio da economia. Assim, a compra de bens duráveis de consumo, como o investimento, traz consigo as sementes do retorno. Depois de um período de vendas baixas ou decrescentes, os duráveis existentes começa a desgastar-se e o consumidor se torna cada vez mais disposto a repô-los. Alternativamente, depois de vários anos de expansão na venda de carros a álcool, uma diminuição pode ser o resultado natural; com tantos carros relativamente novos em sua posse, o consumidor se ausenta temporariamente do mercado. A Atuação do Consumidor Como Uma Influência Estabilizadora Durante o movimento ascendente do ciclo econômico, o consumo aumenta, aumentando, então, a intensidade da expansão. Se os consumidores não tivessem despendido mais, não teria havido o reforço de realimentação entre consumo e investimento. Num outro sentido, porém, o comportamento do consumidor aumenta a estabilidade da economia. Embora seja verdadeiro que o consumo aumente durante as expansões, ele aumenta proporcionalmente menos do que a renda disponível; o que sobra da renda é poupado. O vazamento, na forma de poupança, na corrente de gastos, fornece um elemento importante de estabilidade. Assim como os vazamentos na forma de impostos, os vazamentos na forma de poupança agem como um estabilizador automático. Da mesma maneira, o comportamento do consumidor contribui para a estabilidade durante uma retração econômica. O consumo cai, mas menos do que a renda. Ademais, durante uma retração particularmente aguda, um grande número de consumidores gasta mais do que suas rendas – eles despolpam, ou através de utilização de poupanças feitas no passado, ou através de empréstimos. EXPORTAÇÕES LÍQUIDAS As exportações líquidas (ou seja, exportações, menos importações) podem ser uma força disturbadora, ou podem agir como um estabilizador, reduzindo a amplitude das flutuações que se originarem em outros setores da economia. A relação entre o comércio internacional e a economia nacional será considerada em detalhe no Capítulo 14; por enquanto, vamos tocar nos pontos mais importantes. O comércio internacional pode ser uma fonte de instabilidade por duas razões. Primeiro, as maiores variações podem ocorrer no mercado para bens trocados internacionalmente. O fato mais evidente na atualidade é a quadruplicação dos preços do petróleo pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em 1973 e 1974, que agiu como um choque nas choque nas economias industrializadas importadoras do bem. Segundo, os ciclos econômicos em um país têm a tendência de se espalhar para os outros. Uma expansão na Europa na Ocidental, por exemplo, estimulará a economia brasileira: à mediada que os europeus ocidentais compram mais de um conjunto completo de produtos, passam a comprar também mais dos bens fabricados aqui no Brasil, incrementando, desta maneira, as exportações deste país. E um aumento das exportações líquidas põe em funcionamento o processo do multiplicador, assim como o faz um aumento na demanda pro investimento. (Não faz diferença se uma compra de Cr$ 100 milhões em máquinas brasileiras é feita por empresários ou europeus. Em ambos os casos, será gerada renda na indústria manufatureira brasileira e essa renda será gasta e novamente gasta no processo do multiplicador, descrito no Capítulo 7.) Enquanto as exportações têm um efeito multiplicador sobre o produto nacional, a existência das importações reduzem a magnitude das flutuações. As importações, assim como a poupança e os impostos, representam um vazamento estabilizador que flui do fluxo de gastos nacional. Quanto mais alta for a propensão marginal a importar, menor será o multiplicador. E mais estável tenderá a ser o produto nacional. Por exemplo, quando a renda nacional do Brasil aumenta, os brasileiros passam a comprar mais uísque – inclusive escocês. Se o uísque estrangeiro não estivesse disponível, os brasileiros consumidores de uísque comprariam os produtos fabricados pelas empresas paulistas. A renda em São Paulo Cresceria ainda mais rapidamente; a expansão interna seria ainda mais forte. Similarmente, as importações moderam uma recessão. Quando a renda diminui, as importações de uísque e de outros produtos diminuem também. Parte das perdas em vendas se dão na Inglaterra e na Escócia, em vez de em São Paulo, moderando o movimento descensional brasileiro. Define-se propensão marginal a importar como a variação nas importações dividida pela variação no produto nacional. O comércio internacional tem efeitos contrastantes sobre dois parceiros comerciais durante uma expansão cíclica, uma vez que as importações de um país representam exportações de outro país. Uma expansão originária dos Estados Unidos leva a um incremento das importações norte-americanas. Uma vez que essas importações crescentes são exportações de outro país (calçados brasileiros, pro exemplo), a expansão passa a ocorrer neste outro país também. Para os Estados Unidos, entretanto, as importações representam um vazamento, que torna mais lenta a expansão interna. POLÍTICAS MONETÁRIAS E FISCAIS: O Registro Ambíguo Os economistas e técnicos do governo tem dado desde a Grande Depressão dos anos 30 muita ênfase ao uso de políticas monetárias e fiscais para estabilizar a economia: A teoria apresentada na Parte 2 deste livro segure que no caso de uma recessão, políticas monetárias e fiscais expansionistas podem manter a demanda agregada e fazer com que o movimento descensional se torne mais brando. Políticas monetárias e fiscais restritivas, da mesma forma, podem restringir os excessos de demanda inflacionários. Mas quando olharmos para o registro dos anos recentes como o faremos logo a seguir não fica claro se as políticas monetárias e fiscais têm preenchido as esperanças que sobre elas foram colocadas. Variações nessas políticas parecem estar atuando a favor dos ciclos, tão freqüentemente quanto tem atuado contra os mesmos. Ou, em outras palavras, que essas políticas têm sido tão freqüentemente pró -cíclicas quantocíclicas. Mesmo o ambíguo recorde dos anos recentes, num sentido, não é de todo mau particularmente se o compararmos com o que aconteceu no período entre as duas guerras mundiais, quando grandes erros de política econômica nos Estados Unidos contribuíram para a Grande Depressão. Por exemplo, um grande incremento de taxas foi imposto em 1932, com o objetivo de equilibrar o orçamento; o resultado foi aprofundamento da Depressão. Em ataque a esse erro, e para alertar para a armadilha de política econômica em que as autoridades cairiam se tentassem equilibrar anualmente o orçamento, Keynes escreveu a sua Teoria Geral. Grandes erros também foram cometidos pelo lado monetário. A política monetária foi restritiva em 1931, contribuindo para uma diminuição de cerca de 25 por cento na quantidade de moeda entre 1929 e 1933, aumentando a intensidade da Depressão. Em 1936 e 1937, para atacar a inflação, a taxa de encaixe compulsório que os bancos deveriam manter em reserva junto ao Sistema Federal foi duplicada; esta modificação empurrou a economia, que estava em recuperação, de volta para a recessão. Em décadas recentes, erros dessa magnitude têm sido evitados em todo o mundo e, neste sentido, a recente utilização de políticas econômicas tem sido um sucesso. Olhando mais detalhadamente para esse recorde, entretanto, não fica muito clara a maneira pela qual tais políticas têm contribuído para a estabilidade da economia. Uma política monetária ou fiscal é constracíclica (ou anticíclica) quando reduz a amplitude dos ciclos econômicos. Uma política monetária ou fiscal é pró-cíclica quando incrementa a amplitude das flutuações cíclicas (“Pró-cíclica” se refere aos resultados e não às intenções. As autoridades podem estar tentando estabilizar a economia, porém podem estar errando.) Para ilustrar o debate acerca das políticas monetárias e fiscais utilizadas na estabilização da economia, vamos analisar o Gráfico 13.6. Este gráfico inclui medidas de políticas monetárias e fiscais adotadas no Brasil desde 1867, conjuntamente com dados de evolução dos preços, do desemprego e do crescimento do produto. A medida mais comum de moeda, M 1 (moeda em poder do público mais depósitos à vistas nos bancos comerciais), é considerada como o indicador de política monetária. Pelas razões explicitadas no Capítulo 8, a medida de política fiscal a ser considerada deveria ser o orçamento de pleno-emprego, as estatísticas brasileiras, no caso, ainda se apresentam deficientes quanto a esse dado. O orçamento federal, via de regra, previa equilíbrio ou pequeno déficit anualmente enquanto se realizava com vultosos déficits. Tal situação passa a se alterar após 1967, quando novas técnicas orçamentárias fo ram implementadas, e a coordenação da política econômica passou a se fazer mais eficientemente – até que passa a se registrar superávit do Tesouro Nacional, a partir de 1973. Assim, a medida de política fiscal utilizada nesta ilustração é o orçamento realizado a partir de 1969 (uma vez que a análise se referirá aos anos mais recentes). (GRÁFICO) A estimativa do desemprego utilizada é a do hiato do PIB, ou seja, a diferença entre a taxa de variação do PIB potencial e a do PIB efetivo. O hiato do PIB fornece uma estimativa da capacidade ociosa da economia, e em decorrência, uma estimativa da evolução do desemprego 3 . As séries históricas de evolução do produto são as mesmas utilizadas no Gráfico. 13.2 Vamos citar dois casos em que as políticas monetárias e fiscais e fiscais aplicadas à economia brasileira auxiliaram a estabilidade do sistema: 1. Um registro histórico, na época em que a revolução keynesiana ainda não havia surgido, é o da Grande Depressão dos anos 30, que não chegou a ofertar o Brasil com a mesma intensidade registrada nos países da Europa e nos Estados Unidos. A principal fonte de renda no país era a exportação do café; com a grande queda na atividade comercial mundial devido à Depressão, a política cafeeira adotada (compra os excedentes de café através de emissões, em vez de através de impostos) gerou déficits volumosos. Como analisa Celso Furtado: “a política de defesa do setor cafeeiro nos anos da Grande Depressão concretiza -se nem verdadeiro programa de fomento da renda nacional. Praticou -se, no Brasil, inconscientemente, um política anticíclica de maior amplitude que a que se tenha sequer preconizado em qualquer dos países industrializados...” 4 . 2. Um caso bem mais recente de políticas econômicas aplicadas que auxiliaram na estabilidade é o que se convenciona chamar de período do “milagre brasileiro”. Tal período, abrangendo os anos de 1968 a 1973, se caracterizou por elevadíssimas taxas de crescimento do PIB real (média de 10 por cento ao ano), acompanhadas de redução substancial do ritmo inflacionário (de um índice de inflação de 90 por cento, em 1964, para 15 por cento em 1972). A administração das políticas monetárias e fiscais foi de caráter expansionista, e levada de molde a aproveitar toda a potencialidade de crescimento da economia em setores que apresentavam capacidade ociosa (ou seja, sem pressões de custo que adicionassem pressões inflacionárias ao sistema). Por outro lado, pode-se argumentar que muitas das políticas econômicas adotadas nas últimas décadas causaram mais danos q ue benefícios. Mesmo as políticas fiscais e monetárias do período do “milagre brasileiro” podem ser questionadas; pode-se sustentar que a recuperação da economia brasileira teria vindo sem elas, e que, uma vez implementadas, tenham acumulado pressões inflacionárias que afloraram no período imediatamente posterior. Tais pressões, somadas à elevação do preço do petróleo a partir de 1973, teriam intensificado o crescimento dos preços internos até às taxas que hoje se apresentam. De acordo com essa linha de argumento, a instabilidade econômica pode ser parcialmente atribuída a enganos na aplicação de políticas monetárias e fiscais. Dúvidas acerca dos resultados das políticas de demanda agregada não estão confinadas apenas ao caso brasileiro. Num recente estudo feito para países europeus e para os Estados Unidos, por exemplo, Bent Hansen concluiu que variações de política fiscal discricionária provavelmente contribuem tanto para desestabilizar quanto para estabilizar a economia. Tais resultados estão sintetizados na Tabele 13.2. Os resultados indicam que os estabilizadores automáticos funcionam; por exemplo, a diminuição no recolhimento de impostos durante as recessões tendem a manter a renda disponível e o consumo. É o efeito das variações em políticas discricionárias, mostradas através da primeira coluna da tabela, que importa para o debate acerca das políticas. O resultado desconcertante, no caso, talvez seja o da Inglaterra, a terra de John Maynard Keynes. O medíocre desempenho das políticas monetárias e fiscais apresentado pela Tabela 13.2 pode ser analisado através de três principais razões: 1.Defasagens na execução das políticas e incerteza acerca da rapidez com que as políticas surtirão efeitos, o que difícil estabilizar a economia. 2.As autoridades têm outros objetivos além da estabilidade econômica. A busca desses outros objetivos pode vir a desestabilizar a economia. TABELA 13.2 Política fiscal em países selecionados, 1955-1965. (Percentagem Eliminada dos Ciclos Econômicos) País (1) Eliminada por Política Discricionária (2) Eliminada por Políticas Automáticas 5 -35 14 -17 5 -10 17 16 48 12 32 n.d. -3 32 Bélgica França Alemanha* Itália** Suécia Inglaterra Estados Unidos (3) Percentagem Total Eliminada 21 13 26 15 n.d. -13 49 Para os sete países estudados, Hansen concluiu que políticas fiscais discricionárias (coluna 1) contribuíram significativamente para estabilidade apenas na Alemanha e nos Estados Unidos. Na França, Itália e Inglaterra, a política fiscal foi desestabilizaste (como mostram os números com sinais negativos na coluna 1). * 1958-1965 **1956-1965 n.d.- não disponível Fonte: Bent Hansen, Fiscal Policy in Seven Countries, 1955-1965, Paris, Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, OCDE, 1969. 3. Assim como os responsáveis pela política fiscal se defrontam com armadilhas (se tentam equilibrar anualmente o orçamento), também os responsáveis pela política monetária têm de enfrentar armadilhas no seu campo. Analisemos cada uma dessas razões individualmente. DEFASAGENS NA ATUAÇÃO DAS POLÍTICAS: O Dilema do Comandante As políticas monetárias e fiscais podem desestabilizar a economia por serem dependentes do tempo. Elas podem ser apropriadas para atacar os males do ano passado, e inapropriadas para lidar como os problemas do presente e, o que é mais importante, com os do futuro. Existem três defasagens que podem dificultar a atuação das políticas econômicas no tempo de forma correta. Suponha, como ilustração, que a economia esteja iniciando o caminho de uma recess ão. Este fato pode não ser reconhecido instantaneamente, ou mesmo por algum período de tempo. A elaboração de estatísticas acerca do que está acontecendo hoje na economia demanda tempo. Os sinais de fraqueza do sistema econômica podem estar disfarçados por perturbações temporárias; não é todo o movimento de atividade econômica que cresce até se tornar uma expansão ou uma recessão. A primeira defasagem é, assim, a defasagem de reconhecimento, a qual ocorre no período de tempo entre o acontecimento do fato econômico (no caso de recessão, do enfraquecimento da atividade econômica) e o momento em que o mesmo é reconhecido. Ademais, mesmo depois de reconhecer o declínio de atividade, as autoridades levam algum tempo antes de agir; este é a defasagem de ação. Por exemplo, os programas de dispêndio público precisam ser projetados antes que possam ser implementados. Finalmente, depois de estabelecer a ação, leva algum tempo para que seus maiores impactos sobre a economia possam vir a ser sentidos. Por exemplo, quando o governo finalmente realiza sues gastos nos programas novos, leva algum tempo para que o processo do multiplicador, através das várias etapas de gastos dos consumidores, se realize. Para a política monetária, há uma defasagem entre a compra no mercado aberto, que empurra para baixo as taxas de juros, e o investimento realizado, que é estimulado por essa baixa na taxa de juros. Esses são, então, os tipos de defasagem: a defasagem de reconhecimento, a defasagem de ação e a defasagem de impacto. Vamos analisar como a existência dessas defasagens pode levar a políticas incorretas e aumentar a instabilidade da economia. Suponha, por exemplo, que a trajetória ideal da demanda agregada seja a linha sólida mostrada no Gráfico 13.7. A demanda real, entretanto, segue a curva descontínua do mesmo gráfico. A partir do ponto A, a demanda agregada começa a cair abaixo do nível desejado; a economia começa a se movimentar na direção de uma recessão. O problema, entretanto, não é reconhecido durante algum período de tempo – até o ponto B. Mesmo depois de reconhecido, os impostos não sofrem cortes instantaneamente; a ação não se realiza senão no ponto. C. Nesse instante, porém, pode ser muito tarde. Há uma defasagem adicional antes que a ação afete a demanda agregada (entre os pontos D e E), quando então a economia já se recuperou. Mais combustível está sendo adicionado ao motor da inflação. Quando, então, a severidade da inflação é reconhecida, as políticas são mudadas em direção da restrição. Mas uma vez, há defasagens; as políticas podem vir muito tarde, tornando o movimento recessivo ainda pior. A morosidade da economia em responder, e a intensidade que ela pode acumular na contração ou na expansão, podem ser comparadas com as de um comandante de um navio transoceânico. O comandante pode girar o leme, mas um grande navio não responde ao comando imediatamente. Suponha que o navio tenha zarpado do Rio de Janeiro em direção a Nápoli através do Canal de Gilbraltar. O comandante, percebendo que seu navio está se desviando para o oeste, pode corrigir o rumo virando o leme para estibordo. (GRÁFICO) O seu problema é: quanto? Se o leme for girado muito suavemente, o navio continuará seu curso por algum tempo; ele não responde rapidamente. Se o comandante estiver ansioso, poderá g irar o leme mais rapidamente. É claro que quanto mais vigorosamente o leme for girado, mais rapidamente o navio retornará para seu curso desejado. Se o leme for movimentado fortemente para a direita, um novo problema surgirá: uma vez que o navio aponte para o rumo desejado, a alteração no leme deverá ser também rapidamente corrida. O navio, porém, devido ao impulso que ganhou com a primeira alteração de curso, exige que o leme seja alterado não mais para o centro, e sim para a esquerda, para que o impulso seja anulado. Se o comandante gira o leme vigorosamente para retornar a seu curso com rapidez, estará sobrecorrigindo o curso. Podemos imaginar a viagem do marinheiro ansioso – ziguezagueando pelo Oceano Atlântico. É claro que os navios não ziguezagueiam pelos oceanos. Com um pouco de prática o comandante aprende quanto deve girar o leme. E aprende a mover o leme de volta para o centro antes que o navio retorne a seu curso desejado: o impulso do navio completará o movimento. A administração da política econômica envolve os mesmos problemas figurados através do comando de um navio – e alguns problemas adicionais para entretenimentos extraordinários. Uma das complicações adicionais é que o leme e o timoneiro do navio econômico estão ligados por fitas elásticas. Ao contrário do mecanismo que liga leme a timoneiro num navio transoceânico, o mecanismo que liga as políticas monetárias e fiscais à demanda agregada não trabalha de maneira precisa e altamente previsível. Além disso, o administrador da política econ ômica pode ter de traçar o curso do navio pro mares turbulentos e tormentosos. Durante a década dos 70, por exemplo, a pressão formidável, advinda do balança de pagamentos (devido à crise internacional gerada pela elevação dos preços do petróleo), somada à pressão interna trazida pela elevação das taxas inflacionárias, a níveis jamais alcançados pelo país, têm exigido guinadas de política econômica constantes e fortes. Também em 1964, quando pressões inflacionárias se somavam à estagnação do crescimento do PIB e à desordem interna do sistema, as Autoridades Econômicos se defrontavam com mares turbulentos, e não se deram ao luxo de girar suavemente o leme – resultando, com as medidas adotadas, dois anos de crescimento zero do produto, com índices de desemprego bastante elevados, e índices de inflação também bastante elevados. Este é, então, o dilema do comandante: com que força deve ser girado o leme, e com que rapidez se deve fazer para que seja trazido de volta para o centro? AÇÕES DESESTABILIZANTES DO GOVERNO: O Problema de Objetivos Conflitantes O governo pode realizar ações que desestabilizam a economia por estar sob a pressão de outros objetivos que não a estabilização. De forma mais notáveis no mundo moderno, os gastos governamentais voltados para a guerra têm sido responsabilizados pela altas taxas inflacionárias em período bastante bem demarcados. Há um Ciclo “Político” dos Negócios Um outro objetivo dos responsáveis pela política econômica – qual seja, o desejo de serem reeleitos para seus cargos – pode também contribuir para a instabilidade econômica. A prosperidade econômica contribui para a probabilidade de reeleição. Há uma tentação que move os responsáveis pela política automática em direção ao estímulo da economia em anos de eleição. Os efeitos sobre a produção e sobre o emprego que essas políticas trazem tendem a se realizar mais rapidamente que os efeitos sobre a inflação; estes, com alguma sorte, podem vir a surgir apenas depois das eleições. Especula-se bastante sobre a existência de um ciclo econômico político, porém, os fatos não são tão claros assim. A economia, realmente, foi por diversas vezes estimulada em anos eleitorais, porém é difícil saber quanto desse estímulo esteve associado a preocupações comas eleições, e quanto estaria sendo devido a problemas conjunturais enfrentados pela economia. Por exemplo, há relutância em se afirmar que a demora com que o governo Geisel respondeu à crise do petróleo, com políticas de austeridade que se impunham, seja devido ao fato de que os anos de 1974 a 1976 forma anos em que se realizaram eleições a diversos níveis no Brasil. Políticas como o aumento no preço dos derivados do petróleo (que intensificariam o ritmo inflacionário) e restrições de crédito no sistema (que, por sua vez, induziram à queda do ritmo de crescimento de PIB) forma postergadas, segundo a opinião de grande parte dos economistas, na época em que os efeitos sobre o balanço de pagamentos chegaram a níveis insuportáveis. A relutância em se afirmar que essa demora na tomada de decisões impopulares tenha sido devida à preocupações quanto ao resultado das eleições, entretanto, se fundamento no fato de que este período (1974-1978) foi imediatamente posterior ao dos anos de auge da economia brasileira (período do “milagre” - 19681973), colhendo as tensões inflacionárias devido ao acelerado ritmo de crescimento anterior (e que se materializaram em taxas crescentes de inflação) e o movimento descensional do acelerador (reveja a Tabela 13.1). Somando-se a este fato um ciclo internacional de tendência fortemente recessiva, intensificado pela crise do petróleo, pode -se argumentar que as políticas econômicas corretas de serem adotadas no período 1974-1976 seriam as de sustentação do ritmo de atividade interna, ou seja, expansionistas, para que a crive não se tornasse tão grave quanto poderia ser no caso da opção pro políticas de austeridade. À luz da evidência, inclusive quanto ao estímulo em anos eleitorais, a atenção de estudiosos do ciclo político internacional dos negócios tem se centrado no ano de 1972, por duas razões. Primeiro, houve uma coincidência não usual de eleições nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Itália e Japão nesse ano, e na França em 1973. Essa coincidência pode ter contribuído para a forte sincronização internacional do ciclo entre 1971 e 1975 5 . Segundo, que as eleições nos Estados Unidos (que fornece os dólares para os mercados internacionais, em última instância) foram interessantes sobremaneira, uma vez que os eventos que as precederam e as sucederam vieram a força a saída do Presidente Nixon – quais sejam, os do escândalo de Watergate. Em 1972, tanto a política monetária quanto a fiscal foram utilizadas, nos Estados Unidos, para estimular a economia, e os rumores insistentes eram de que o Presidente estava pressionando as autoridades monetárias a manter condições de facilidades de crédito antes das eleições, entretanto, motivações políticas à parte, havia à época explicação alternativa adequada para explicar as atitudes expansionistas das autoridades em 1972: taxa de de semprego bastante mais elevada que a normal, concomitante com uma subestimação do estoque de moeda em circulação. POLÍTICAS MONETÁRIAS: A Armadilha do Objetivo Taxa de Juros Os objetivos últimos das autoridades monetárias são o pleno emprego e a estabilidade de preços. É óbvio, entretanto, que elas não controlam o nível de emprego e os preços diretamente. Em vez disso, ajustam seus instrumentos de políticas monetária aos objetivos – operações de mercado aberto, taxa de desconto e encaixes compulsórios. É apenas influenciando a quantidade de dinheiro e as taxas de juros que as autoridades monetárias afetam emprego e preços. Na formulação de sua política, o Conselho Monetário Nacional tem de tomar uma decisão: dar instruções para que se atinja uma determinada taxa de juros ou concentrar sua atenção para a quantidade de moeda ou uma combinação dos dois. A controvérsia acerca dessa decisão tem nos acompanhado há décadas; nessa questão estão envolvidos muitos aspectos. Um dos aspectos da controvérsia é diretamente relevante para este capítulo acerca da instabilidade: quando as autoridades monetárias se preocupam com a manutenção de uma taxa de juros especifica, podem desestabilizar a economia. Para entender o porquê, suponha que o Conselho Monetário Nacional (via Banco Central) fixa um objetivo para a taxa de juros. Digamos, por exemplo, que ele deseja manter a taxa de juros dos títulos em 36 por cento ao ano. Suponha, agora, que se dê uma expansão nas atividades econômicas; os empresários se tornam mais otimi stas e resolvem realizar mais investimentos. Para financiar as plantas e os equipamentos desejados, tomam empréstimos. Como um resultado da demanda adicional por recursos financeiros, as taxas de juros aumentam e os preços dos títulos caem. Se o Conselho Monetário Nacional, através do Banco Central, desejar estabilizar as taxas de juros e os preços dos títulos deverá comprar obrigações no mercado aberto. Essas compras, porém, incrementam as reservas bancárias e levam a um aumento na oferta monetária. Como conseqüência dos juros estáveis e do aumento na quantidade de moeda, há um incremento adicional na demanda agregada. E, à medida que a demanda agregada aumenta, os empresários se sentem encorajado a revisar seus planos de investimentos uma vez mais; a expansão ganha impulso. Há um movimento ascendente cumulativo, com a demanda mais elevada causando um incremento no estoque de moeda, e este causando um incremento adicional de demanda. Da mesma maneira, pode haver um movimento descendente cumulativo quando o B anco Central tenta estabilizar a taxa de juros para enfrentar uma demanda por investimento declinante: o Banco Central venderá títulos para evitar uma diminuição da taxa de juros, e as vendas de mercado aberto aumentarão o movimento ascendente. Um movimento substancial num sentido, para a economia, não é necessariamente mau. Na verdade, se a economia estiver apresentando taxas muito elevadas de desemprego, torna-se desejável um movimento ascendente forte. Neste caso, a decisão do Banco Central de evitar u m aumento dos juros pode contribuir para uma recuperação. Uma política de estabilização de taxa de juros, porém, pode também fazer com que uma expansão saudável se transforme num surto inflacionário, ou que um declínio suave se transforme numa recessão mais forte. Algumas Ilustrações A idéia de que as flutuações dos negócios podem estar associadas a flutuações na oferta de moeda não é nova. Na verdade, antes mesmo da revolução keynesiana teóricos do ciclo econômico apontaram as perturbações monetárias e financeiras como as principais causas das flutuações econômicas. Muito do que foi escrito àquela época se centrou na vulnerabilidade dos bancos sob um sistema de reserva fracionado, na ameaça de pânicos financeiros e falências de bancos, como já foi explicado nos Capítulos 9 e 10. A idéia de que tentativas para estabilizar as taxas de juros podem resultar em desestabilização da demanda agregada se remete, no mínimo, ao início deste século, a partir dos escritos do economista sueco Knut Wicksell 6 . Ilustrações mais recentes, entretanto, podem ser apontadas para o problema. As políticas de estabilização adotadas durante o período de 1974-1978 no Brasil incluíram controles de salários e de preços, já implementados no período anterior. O grande problema relativo a controle de preços. Entretanto, é que eles deveriam ser aplicados a todos os preços – incluindo a taxa de juros. Neste período, então, deveriam ter sido efetuadas compras no mercado aberto de títulos para manter a taxa de juros a um nível fixado; em parte, isto foi feito. O que sucedeu, então? As taxas de juros foram mantidas a níveis próximos aos desejados, o estoque de moeda cresceu rapidamente e a demanda agregada se viu incentivada, anulando parte dos efeitos sobre a inflação que os controles salário sprecos almejavam 7 . Esta ilustração traz à luz um problema muito importante, que precisa ser solucionando antes que os controles salários-precos sejam abrandados causando taxas ainda mais altas de inflação. Faz-se necessário responder às seguintes questões, como teste para sabermos se os controles salários-precos estipulados são realmente eficientes: São esses controles politicamente aceitáveis se não incluírem um teto para a taxa de juros? Se há um teto fixado para a taxa de juros, não irá o estoque de moeda se expandir tão rapidamente a ponto de incrementar a demanda agregada e anular os controles num surto de inflação de demanda? QUADRO 13.1 DUAS LINHAS DE POLÍTICA ECONÔMICA O medíocre desempenho da economia durante os primeiros anos da década dos 60 revitalizou um debate antigo, o qual existe desde os primeiros dias da controvérsia keynesiana dos anos 30. De um lado estão aqueles pertencentes à tradição keynesiana ativista, que argumentam que as políticas monetárias e fiscais devem ser utilizadas para auxiliar na obtenção das metas de alto nível de emprego e preços razoavelmente estáveis. À medida que a economia se encaminhar para a recessão, políticas expansionistas deverão ver adotadas; à medida que a economia se encaminhar em direção a um surto inflacionário, restrições deverão ser aplicadas. Do outro lado estão os seguidores monetaristas da tradição clássica, que argumentam que as políticas ativistas, discricionárias, monetárias e fiscais, provavelmente produzem mais danos que benefícios, não importa quão bem-intencionados possam ser os responsáveis pela política econômica. Argumentam, conseqüentemente, que políticas discricionárias deveriam ser evitadas; em contraposição, que metas fixas, permanentes, de política monetária e fiscal deveriam ser escolhidas e mantidas, desconsiderando as flutuações de curto prazo na atividade econômica. Em outras palavras, deveriam ser seguidas determinadas regras de política econômica. É certamente importante que as regras sejam cuidadosamente escolhidas e, particularmente, que sejam consistentes com a estabilidade econômica. Assim, seria um erro seguir a regra de estabilidade da taxa de juros porque, como vimos no Capítulo 13, ao fazer isto estar-se-ia desestabilizando a demanda agregada. Da mesma forma, o antigo padrão-ouro envolvia um conjunto pobre de regras. Uma vez que os bancos, sob esse sistema, mantinham uma fração de suas reservas na forma de ouro, uma grande superestrutura de dinheiro poderia ser construída a partir de uma base relativamente pequena d e reservas em ouro, uma prática que tornou o sistema bancário vulnerável a grandes retiradas. Similarmente, seria um engano estabelecer uma regra que requeresse um orçamento equilibrado a cada, ano, tal regra criaria uma armadilha fiscal descrita pelos keynesianos. Entretanto, há regras de política econômica que evitam tais armadilhas. Especialmente: 1. O governo, através do Banco Central, pode buscar um incremento consistente na oferta monetária, em termos reais, próximo de 6 ou 7 por cento ao ano. Este incremento forneceria a moeda necessária para trocar o produto nacional em expansão a preços estáveis. 2. O governo pode equilibrar o orçamento de pleno-emprego a cada ano. Esta regra colocaria em ação os estabilizadores automáticos, enquanto evitaria as ações discricionárias de política monetária e fiscal anticíclicas. Uma vez que os defensores de regras fixas são geralmente seguidores da tradição clássica ou monetarista, eles enfatizam a primeira regra, envolvendo um crescimento estável de oferta monetária. Entretanto o grande contraste entre keynesianos e monetaristas pode ser encontrado comparando as afirmações de administradores da política econômica, como as que seguem: “A única regra boa é que o orçamento não deveria nunca estar em equilíbrio – exceto no instante em que o superávit para combater a inflação está se alterando para um déficit para combater a recessão” 8 . “A política fiscal tem sido sobrevalorizada? A política monetária tem sido sobrevalorizada? Minha resposta é sim para ambas as q uestões. A política fiscal tem sido sobrevalorizada. A política monetária tem sido sobrevalorizada. A política de ajustamento contínuo tem sido sobrevalorizada” 9 . Os monetaristas geralmente propõem regras fixas que permitem à demanda agregada crescer não mais rapidamente que a capacidade produtiva da economia. Isto seria a base de uma economia estável, incluindo preços estáveis. O debate como os keynesianos envolve tanto a estabilidade quanto a tendência da demanda os críticos das regras monetárias temem que os monetaristas possam a tendência da demanda agregada muito baixa, criando desemprego a uma taxa muito elevada. Os monetaristas acreditam que seus críticos não são capazes de frear a inflação, pois eles não têm desejo de faze-lo. O Paradoxo do Gradualismo: Política Econômica Recente Nenhum governo pode se dar ao luxo de seguir regras fixas de política econômica sem considerar as circunst âncias, as conseqüências. Os governos se mantêm utilizando o seu melhor julgamento. Para retornar à nossa analogia anterior, nenhum comandante deixará o leme de seu navio permanentemente na mesma posição, desconsiderando para onde o seu navio pode estar indo. Embora a distinção entre políticas de ajustamento contínuo descricionárias) e políticas de regras fixas desapareça sob uma análise mais detalhada, uma importante questão de política econômica permanece: deveriam os responsáveis tentar “sintonizar”a economia, ajustando as metas de política monetária e fiscal com freqüência, objetivando (objetivo ambicioso)a manutenção de alto nível de emprego e uma economia estável? Ou deveriam fazer ajustamentos não tão freqüentes, dando ênfase ao desempenho de longo prazo da economia? Resumindo, o debate que importa não é aquele entre ajustamento contínuo e regras fixas. Ao invés desse, é entre o ajustamento contínuo e mudanças graduais, menos freqüentes, da política econômica. O debate acerca do gradualismo, no Brasil, se manteve acesso durante os primeiros governos posteriores e 1964 10 . Durante os anos precedentes, o crescimento do PIB teve sua taxa bastante reduzida, e a inflação atingiu taxas sem precedentes. Pressões por parte de vários setores da economia se tornaram fortes e houve, então, uma transformação abrupta, uma nova política econômica foi instalada. Principalment e a partir de dezembro de 1964. Salário e preços foram congelados; os preços dos serviços públicos, em contraposição, cresceram significativamente, foram tomadas medidas de caráter fiscal e monetário para conte a demanda agregada. Esse conjunto de medidas, as quais resultaram rapidamente econômica, encontrou críticos que advogavam uma transformação menos rápida, sem causar “choques” no sistema econômico – advogavam, assim, uma política gradualista de combate à inflação. O exemplo do insucesso de se fixar regras de políticas monetária aconteceu exatamente neste primeiro período pós-64: o governo havia fixado, através do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), para 1964, um aumento de M 1 da ordem de 30 por cento quando, apesar de todas as restrições aplicadas sobre a economia, o aumento realizado de M 1 foi da ordem de 74,8 por cento, ao final de 1964 11 . Esses insucessos se repetiram até 1967, quando o governo decidiu alterar a linha de política adotada até então aplicada. No enfoque da nova administração, os objetivos a serem perseguidos eram o crescimento rápido e a diminuição da inflação, dentro de uma estratégia gradualista; a inflação passou a ser considerada como impulsionada pelos custos, e não mais pela demanda agregada. Como instrumentos básicos do controle gradual dos custos foram implementadas das minidesvalorizações do cruzeiro, as metas de diminuição gradual do déficit federal e o ajustamento da liquidez (M 1 ) de acordo com as necessidades da economia. Outro exemplo, de mudança de orientação na política econômica, este mais recente, se refere às pressões que aumentaram quando a taxa de inflação se acelerou a partir de 1978. Estas pressões foram feitas no sentido de uma política mais “bem definida”, ou seja, uma política de ajustamentos menos freqüentes, e novamente voltada à diminuição do ritmo inflacionário e da solução para o problema do balanço de pagamento. Um dos setores a exercer pressões sobre a mudança de orientação da política de ajustamentos foi o setor financeiro internacional, responsável pelos empréstimos que permitem o fechamento do balanço de pagamentos brasileiro 12 . A orientação sugerida pelo setor segue, basicamente, as regras do Fundo Monetário Internacional entre as quais se destacam o estabelecimento de uma regra fixa de crescimen to do estoque monetário e um maior liberdade para a formação dos preços (retirada de controles sobre os preços, de subsídios, de regras de reajustamento automático de salários). A grande importância dos empréstimos em moedas fortes para o balanço de pagame nto fez com que a administração Figueiredo optasse, em 1979, por uma mudança de orientação da política econômica seguida até então. Dentre as mudanças introduzidas em dezembro de 1979 e, depois, em dezembro de 1980, destacam-se 1)estabelecimento de meta física de aumento dos meios de pagamento; 2) diminuição gradual dos subsídios dados a produtos como o trigo, leite , combustíveis, que historicamente contaram com essa tipo de transferência; 3) liberação da maior parte dos preços até então sob o controle do Conselho Interministerial de Preços (CIP); 4) maxidesvalorização do cruzeiro, que estava cotado a níveis irrealistas em relação ao dólar; 5) eliminação de grande parte dos incentivos fiscais e creditícios concedidos durante o período 1968-1978. Um dos resultados desse novo rumo da política econômica foi a aceleração de inflação a taxas superiores a 100 por cento ao ano em 1980 e 1981, resultante das pressões de custo e da adaptação das expectativas a essas alterações. 03.04. TAXAS DE CÂMBIO FIXAS E FLEXÍVEIS A eficiência econômica requer especialização. Assim, é eficiente cultivar trigo e milho na região Sul, e algodão no Nordeste. Porém, o escopo para a especialização vai muito além das fronteiras de um único país; então, mesmo um país grande, como o Brasil, pode beneficiar-se com a especialização internacional. Para se ter uma idéia, o Brasil exporta cerca de 12 por centro de seu produto nacional – produtos tais com soja, aviões e automóveis. Em troca, importa computadores, máquinas fotográficas e petróleo. O que acontece se os indivíduos de um país gastam mais no exterior do que os estrangeiros gastam em bens e serviços nacionais? Que complicações são introduzidas pelas transações internacionais na implementação de políticas fiscal e monetária de uma economia? O que pode ser feito para minimizar impactos externos sobre a atividade econômica interna? TAXAS DE CÂMBIO De certo modo, o comércio internacional pouco difere do comércio regional ou interno; ambos tendem a aumentar a eficiência econômica, devido à existência de vantagens comparativas e economias de escala. Entretanto, há duas complicações básicas que determinam diferenças entre transações internacionais e transações internas ou domésticas: 1. O comércio doméstico envolve apenas uma unidade monetá ria em suas transações. Por exemplo, quando um gaúcho compra laranjas de São Paulo, tanto o consumidor quanto o produtor das laranjas utilizam a moeda, no caso o cruzeiro. Porém, consideremos agora o caso de uma importação de trigo americano; o trigo importado é revendido para os moinhos brasileiros que pagam em cruzeiros. Por isso, o importador tem cruzeiros com os quais pretende pagar o trigo, (GRÁFICO) mas o exportador americano deseja o seu pagamento em dólares. Por esta razão, o importador brasileiro terá de ir ao mercado de câmbio e efetuar a seguinte operação: vender cruzeiros e comprar os dólares necessários para pagar o trigo, conforme a ilustração do Gráfico 14.1.(os mercados de câmbio mais importantes geralmente se localizam nos centros financeir os internacionais mais expressivos, como Londres e Nova Iorque). O mercado de câmbio é um mercado no qual uma moeda nacional (por exemplo, dólar) é trocada por uma outra moeda nacional (por exemplo, cruzeiro). Taxa de câmbio é o preço de uma moeda nacional com relação a outra moeda nacional. Por exemplo, o preço US$ 1 = Cr$ 150 é a taxa de câmbio entre dólares e cruzeiros; do mesmo modo. US$ 1 = 250 yen. 2. O comércio internacional é dificultado por barreiras que inexistem no comércio entre estados, províncias ou cidades de um mesmo país. Mais precisamente, governos nacionais impõem tarifas (alfandegárias) sobre grande parte das importações. A função das tarifas é a de proteger os produtos domésticos, dando-lhes vantagens sobre concorrentes estrangeiros. Os consumidores, contudo, não são beneficiados, pois o preço de um bem importado aumenta com a imposição de uma tarifa. Com isto, os produtores internos se sentem inclinados a elevar seus preços, já que não há a concorrência de bens importados mais baratos. Tarifa é um imposto sobre bens importados, e pode ser aplicada sob a forma de uma tarifa específica ou de uma tarifa ad valorem. Evidentemente, há outras barreiras ao comercio internacional; por exemplo, o governo do Brasil impõe uma quota sobre a quantidade de carne que pode ser importada, de modo a proteger os produtores domésticos desse produto. Quota é uma restrição na quantidade de um produto que pode se importado. O MERCADO DE CÂMBIO Devido à existência de mais de uma centena de países no mu ndo, os mercados de câmbio envolvem muitas moedas nacionais em transações, ás vezes, muito complicadas. Para facilitar a discussão, vamos nos concentrar nas transações entre dois países apenas, pro exemplo, Estados Unidos e Brasil. Como o mercado de trigo ou laranjas, o mercado de câmbio pode ser estudado através do modelo de oferta e demanda. A demanda por cruzeiros, por aqueles que possuem dólares, origina-se três tipos de transações: 1. Importações americanas de mercadorias brasileiras – por exemplo, uma demanda por cruzeiros é criada quando um consumidor americano compra café brasileiro (o comprador deseja pagar em dólares, mas o produtor somente recebe o pagamento em cruzeiros). 2. Importações americanas de serviços brasileiros – por exemplo, um turista americano pode hospedar-se num hotel e fazer suas refeições em restaurantes brasileiros. Para as contas de hotel e restaurante, o americano deve primeiro trocar seus dólares pro cruzeiros, em outras palavras, o turista cria uma demanda por cruzeiros, oferecendo dólares em troca. Então, qual é a diferença entre a importação de uma mercadoria e a importação de um serviço? A mercadoria entra fisicamente nos Estados Unidos; o café é desembarcado em um porto americano. No caso de um serviço, não há transferência física de bens entre países, obviamente, no exemplo acima, o quarto de hotel e o restaurante não podem sair do Rio de Janeiro. De qualquer modo, uma demanda por cruzeiros é criada. 3. Aquisições americanas de ativos brasileiros – por exemplo, uma companhia americana deseja investir no Brasil, construindo uma nova fábrica em nosso país. A companhia norte-americana necessitará de cruzeiros para pagar a construtora da fábrica. A demanda por cruzeiros, tal como a demanda por trigo, depende do preço. Suponha que, em vez de valer 1/120 dólares, o cruzeiro tivesse um preço maior, equivalente a 1/100 dólares. O que significa? Na verdade, mercadorias e serviços brasileiros seriam bem mais caros para os norte-americanos. Se o preço de um cruzeiro fosse de 1/120 dólares, um quarto de hotel no Brasil valendo 6 mil cruzeiros custaria 50 dólares a um norte americano; entretanto, se o preço do cruzeiro fosse de 1/100 dólares o mesmo quarto custaria 60 dólares. (GRÁFICO) Como conseqüência, os turistas nortes-americanos se sentiriam menos inclinados a vir para o Brasil, e os consumidores norte-americanos provavelmente comprariam menos café brasileiro. Assim, quando um cruzeiro custa 1/100 dólares, a quantidade demandada de cruzeiros será menor do que no caso de um cruzeiro valer 1/120 dólares, conforme foi demonstrado pela curva de demanda (D) no Gráfico 14.2. Agora, consideremos o outro lado do mercado, isto é, a oferta de cruzeiros em troca de dólares. Quando os indivíduos no Brasil desejam comprar algo dos Estados Unidos, eles devem oferecer cruzeiros a fim de obter dólares; desse modo, uma oferta de cruzeiros é criada. Assim, verificamos que a oferta de cruzeiros depende de: 1. importações brasileiras de mercadorias norte-americanos, 2. importações brasileiras de serviços norte-americanos, 3. aquisições brasileiras de ativos norte-americanos - o nosso investimento nos Estados Unidos DESEQUILÍBRIO NO MERCADO DE CÂMBIO É possível que a demanda e a oferta de cruzeiros sejam iguais à taxa de câmbio corrente. É possível que, por exemplo, à taxa de câmbio vigente de 1 dólar = 100 cruzeiros, as curvas de demanda e oferta se interceptem, como podemos ver no ponto inicial de equilíbrio, E, do Gráfico 14.3. Contudo, vivemos em um mundo em constante mutação, de forma que, mesmo havendo o equilíbrio inicial determinado pela posição de demanda e oferta, uma curvas (ou ambas) pode mudar de posição ao longo do tempo. Vamos supor que a demanda por cruzeiros diminua de D 1 para D 2 . Isto poderia acontecer por várias razões, pois qualquer coisa que determine uma diminuição na demanda norte-americana por produtos brasileiros causará um movimento para a esquerda da demanda por cruzeiros. Por exemplo, os colombianos podem se tornar nossos fortes concorrentes aos exportarem café e, com isto, reduzir as nossas vendas no mercado norte-americano. Como resultado da variação da curva de demanda, o preço inicial de 100 cruzeiros por dólar deixa de ser um preço de equibilíbrio. Em face desta circunstância, o governo brasileiro pode seguir uma (ou uma combinação) das opções abaixo. 1.A taxa de câmbio pode ser mantida ao preço de 100 cruzeiros por dólar através de intervenção no mercado de câmbio. Com a finalidade de estabilizar as taxas de câmbio, os governos mantêm reservas em moedas estrangeiras (reservas cambiais). No exemplo ainda, o governo brasileiro pode manter o preço do cruzeiro em 1/100 dólares ao vender parte de suas reservas em dólares norte-americanos, em troca do excesso de cruzeiros ofertados, GE. (GRÁFICO) Reservas cambiais são depósitos em moedas estrangeiras de posse do governo ou Banco Central Pode ocorrer que o desequilíbrio inicial seja somente temporário. Em razão da queda nas vendas de exportação pode ser que os fabricantes brasileiros respondam vigorosamente, através do lançamen to de novos produtos e, com isto, recapturando sua participação no mercado norte americano. Nesta circunstância, a intervenção oficial no mercado de câmbio servirá ao propósito de corrigir o desajuste temporário. Contudo, nem todas das variações de demanda e oferta são temporárias, pois os colombianos podem mostrar-se difíceis concorrentes e os nossos fabricantes pouco inovadores; dessa forma, o movimento de D 1 para D 2 pode significar uma mudança permanente. Neste caso, o governo brasileiro não poderá manter indefinidamente a taxa de câmbio em seu valor inicial de 100 cruzeiros = 1 dólar, através de compra de cruzeiros em troca de dólares. Por quê? Porque suas reservas de dólares são limitares e mais cedo ou mais tarde elas se esgotarão. Assim, em conseqüência da redução permanente na demanda de cruzeiros, o governo brasileiro terá de escolher uma entre as opções remanescentes: 2. O governo permitirá que a taxa de câmbio se ajuste ao novo valor de equilíbrio, F. 3. De modo a manter o preço de 100 cruzeiros = 1 dólar, o governo o brasileiro poderá reduzir a oferta de cruzeiros para S 2 , através de uma ação direta nas transações internacionais. Por exemplo, o governo restringir a quantidade de ativos norte-americano que os brasileiros poderão, legalmente, adquirir. Poderá, igualmente, limitar as nossas importações de mercadorias através da imposição de tarifas ou quotas adicionais, ou finalmente, os gastos em serviços norte-americanos podem ser reduzidos, através de restrições sobre a quantia que os turistas brasileiros poderão gastar nos Estadas Unidos. 4. O nosso governo pode reduzir a oferta de cruzeiros de maneira indireta, via adoção de políticas restritivas de natureza fiscal ou monetária. Tais políticas reduzirão as nossas importações e, conseqüentemente, a oferta de cruzeiros no mercado de câmbio por duas razões: políticas restritivas reduzirão a atividade econômica brasileira e, com isto, a renda; portanto, o consumo, incluindo os bens de consumo importados, cairá. Em segundo lugar, as políticas restritivas tenderão a reduzir nossa inflação; assim, à medida que os nossos produtos se tornarem mais baratos, os consumidores brasileiros ficarão propensos e comprar produtos internos brasileiros, em vez de importados. Do mesmo modo, uma menor inflação em nosso país afetará positivamente as exportações e, como conseqüência, os nossos produtos, agora mais competitivos, terão uma participação maior no mercado dos Estados Unidos; à medida que os americanos compram mais produtos brasileiros, aumentará a demanda por cruzeiros, contribuindo para eliminar o hiato entre demanda e oferta de cruzeiros à taxa de câmbio de 100 cruzeiros = l dólar. Desde o final da II Guerra Mundial, em 1945, o debate central em finanças internacionais tem sido acerca de qual dessas quatro opções de política econômica deveria ser utilizada para restabelecer o equilíbrio no mercado cambial. No início do pós-guerra, alguns países europeus estavam mais propensos à adoção da terceira alternativa (restrições diretas). Este instrumento, contudo, sofre de um grave defeito: ele reduz a eficiência da economia mundial ao interferir nas transações internacionais. Assim, em décadas mais recentes, o debate tem se concentrado nas outras três opções – intervenção oficial nos mercados de câmbio, mudança nas taxas de câmbio e alterações na política econômica interna. Obviamente, não é necessário que façamos uma distinção muito rígida entre estas opções, já que se pode obter arranjos intermediários a partir de combinações das três estratégias básicas. Examinaremos preliminarmente o sistema antigo do padrãoouro, no qual a quarta opção foi a mais utilizadas: as taxas de câmbio eram mantidas estáveis, enquanto o equilíbrio internacional resultava de variações na demanda agregada das respectivas nações. PADRÃO-OURO CLÁSSICO Antes da I Guerra Mundial – e posteriormente no interregno entre as duas guerras mundiais – a maioria dos países, com participação no comércio internacional, aderiu ao padrão-ouro internacional. Para a participação desse sistema, um determinado país deveria preencher as condições abaixo: 1. Sua unidade monetária deveria ser definida em termos de uma quantidade específica de ouro; por exemplo, antes da Grande Depressão, o governo dos Estados Unidos especificou que uma onça de ouro era equivalente a 20,67 dólares. As autoridades monetárias deveriam estar sempre prontas a transacionar ouro em troca de papel-moeda, ou papelmoeda em troca de ouro, ao preço oficial. 2. O governo deveria permitir a livre importação ou exportação de ouro. Estas duas condições são suficientes para manter estáveis as taxas de câmbio, pois suponha que o Estados Unidos fixe o preço oficial do ouro em 20 dólares por onça, e o Brasil fixe o preço em 2.000 cruzeiros por onça; estes preços do ouro implicam uma taxa de câmbio (paridadeouro) de 100 cruzeiros = 1 dólar. As transferências (fluxos) internacionais de ouro manterão a taxa de câmbio de mercado ao redor desse valor. A paridade-ouro é a taxa de câmbio que pode ser calculada a partir dos preços oficiais do ouro em dois países no regime do padrão-ouro. Para entendermos melhor, vamos supro que as forças de mercado elevem o preço cruzeiro para 90 cruzeiros = 1 dólar. Agora, a taxa de câmbio seria inconsistente com os preços oficiais do ouro nos dois países; portanto, haveira uma oportunidade de lucro para um agente de câmbio que efetuasse as seguintes operações: 1. Com 10.000 cruzeiros, o agente compraria cento e onze dólares no mercado de câmbio, guardando onze dólares. 2. O agente utilizaria os 100 dólares na compra de 5 onças de ouro nos Estados Unidos ao preço oficial de 20 dólares a onça. 3. Exportação das 5 onças de ouro para o Brasil. 4. Venda do ouro ao Tesouro brasileiro, ou para o Banco Central, ao preço oficial, obtendo dez mil cruzeiros. 5. Com os dez mil cruzeiros, o agente de câmbio poderia repetir as operações. Esta arbitragem de mercado determina um lucro de 11 dólares - a quantia posta de lado na operação inicial - menos as deduções de despesas com transporte, seguros etc. Arbitragem de mercado é qualquer conjunto de transações com o fim de obter lucro devido à existência de preços inconsistentes. No nosso exemplo, a taxa de câmbio de 90 cruzeiros = 1 dólar era inconsistente com os preços oficiais do ouro nos Estados Unidos e Brasil. Observemos que a arbitragem de mercado tende a eliminar a inconsistência entre a taxa de câmbio e os preços oficiais do outro nos dois países. No primeiro passo da operação, o especulador força o preço do cruzeiro para baixo – 93,95 cruzeiros e até menos ainda – contudo, o preço não cairá abruptamente até a paridade-ouro de 100 cruzeiros = 1 dólar. A arbitragem de mercado terá fim quando a discrepância entre a taxa de câmbio e a paridade-ouro for apenas suficiente para cobrir os custos de transporte e demais custos de transação. A taxa de câmbio, a qual os especuladores mal conseguem cobrir os custos para remeter o ouro dos Estados Unidos, é chamada de ponto de exportação do ouro (gold export point); com um pequeno custo de transporte, esta poderia ser dada por 92 cruzeiros = 1 dólar. Há, igualmente, outro fluxo do ouro (genericamente), ao qual seria pouco atrativo remeter ouro do Brasil para os Estados Unidos – o ponto de importação do ouro com relação a este último país (no exemplo acima, seria algo como 98 cruzeiros = 1 dólar). No regime do padrão-ouro, a arbitragem de mercado tende a manter a taxa de câmbio nos limites dessa faixa estreita, determinada pelos dois pontos de fluxo do ouro; contudo, a taxa de câmbio flutua livremente, enquanto circunscrita à faixa em resposta a variações de demanda e oferta. Ponto de fluxo de ouro é uma taxa de câmbio a qual um especulador mal cobre os custos de seguro e transporte do ouro entre dois países. Observe que o ponto de fluxo do ouro é uma taxa de câmbio e não um simple s preço para o ouro, como poderia parecer. A condição para que o padrão-ouro seja um sistema eficiente de ajustamento internacional – isto é, que não haja fuga contínua de ouro de um pais para o outro – implica que os diferentes países devem adotar a chamada “Regra Fundamental do Padrão-Ouro” que, em conjunção com as outras duas vistas anteriormente, significa a pedra basilar do sistema internacional do padrão-ouro: Cada país deve permitir que sua oferta de moeda se ajuste no mesmo sentido variação experimentada por ser estoque de ouro, isto é, se o estoque de ouro de um país cresce, este deve permitir que haja uma expansão de sua oferta monetária, e vice-versa. Na verdade, esta terceira condição será automaticamente preenchida se as autoridades monetárias de um país seguirem uma política passiva, sem ajustamentos internacionais. Isto se verifica porque, no regime do padrão-ouro, tanto os bancos comerciais como os bancos centrais utilizam ouro parcela de suas reservas. Assim, se o ouro fluísse para dentro de um país, certamente este ouro chegaria até os bancos comerciais, aumentando suas reservas e, com isto, tornando possível uma expansão da oferta monetária. Por outro lado, ouro poderia ser adquirido pelo Banco Central, mas, como já estudamos no Gráfico 14.1, a aquisição de ouro pelo Banco Central – como a compor de qualquer ativo – resulta em um aumento das reservas dos bancos comerciais. Com reservas livres, o sistema bancário poderia, então, determinar uma expansão da oferta monetária; do mesmo modo que um influxo de ouro resultaria em uma expansão automática da oferta de moeda, uma saída de ouro determinaria uma contração na oferta monetária do país. O Mecanismo de Ajustamento do Padrão-Ouro A questão, então, é saber como o padrão-ouro clássico operava impedindo que houvesse um fluxo contínuo de um país para outro. Os economistas, em geral, concebiam uma seqüência de eventos, como veremos a seguir. Vamos supro que o Brasil começa a importar muito mais do que exporta. O ouro, então, fluíra do Brasil para os Estados Unidos como pagamento do excesso de nossas importações. A oferta monetária dos Estados Unidos automaticamente se expandirá, enquanto a oferta monetária brasileira se contrairá, também, de maneira automática. Com isto, a demanda agregada aumentará e os preços se elevarão nos Estados Unidos; em contrapartida, a demanda agregada e os preços cairão em nosso país. À medida que as mercadorias brasileiras se tornam mais baratas em comparação com aquelas dos Estados Unidos, as nossas exportações aumentam, enquanto as importações decrescem. Desse modo, a perda brasileira de ouro para os Estados Unidos cessará. Um mecanismo de ajustamento internacional é um conjunto de forças atuando para reduzir superávits ou déficits nos pagamentos internacionais. Um país incorre em déficits quando seus gastos seus gastos externos excedem suas receitas externas. Existem um superávit se suas receitas externas excedem seus gastos externos. TABELA 14.1 Impacto inicial de influxo de ouro sobre o estoque monetário (em milhões de cruzeiros) ATIVO PASSIVO BANCO CENTRAL +100 Reservas dos Bancos Comerciais + 100 + 100 + 100 Total Ouro Total BANCO COMERCIAL Reservas - Reserva Compulsória 80 - Reserva Voluntária 20 + 100 Depósito à vista do especulador + 100 ____ + 100 Total Total ____ + 100 Esta tabela os efeitos de uma importação de ouro por um especulador que o vende para o Banco Central e depois e receita da venda no banco comercial A. Veja a semelhança com a Tabela 10.1, que ilustra uma operação de mercado aberto. Em ambos os casos os bancos comerciais obtêm reservas voluntárias permitindo uma expansão adicional dos meios de pagamento. Problemas com o Padrão-Ouro O padrão-ouro internacional garantiu estabilidade das taxas de câmbio na maior parte do século dezenove, quando o comércio e investimento internacionais cresceram rapidamente. Contudo, o padrão ouro sofria de vários defeitos: 1. O processo de ajustamento pode ser extremamente difícil, por exemplo, o ouro pode sair de um país que sofre uma depressão. Nesse caso, o padrão-ouro causa uma redução na oferta monetária, a qual deprime mais ainda a demanda agregada e aumenta o desemprego. Em outras palavras, pode ser ocorra um conflito entre as políticas expansivas necessárias à prosperidade interna e as políticas restritivas requeridas para uma redução na saída do ouro. O regime do padrão-ouro pode agravar a situação interna do país que recebe o ouro. O aumento automático da oferta monetária pode contribuir para maiores pressões inflacionárias do que aquelas já existentes. 2. Um pais, ao receber ouro, pode tomar medidas para reduzir o impacto inflacionário daquele influxo. Estas medidas podem ser na forma de uma quebra da “regra básica do jogo” (que requer variações da oferta monetária em compasso com variações no estoque de ouro). Através de vendas de vendas no Mercado Aberto, o Banco Central pode diminuir a quantidade de moeda na mesma proporção que o incremento de moeda causado pelo influxo de ouro. Por meio do que é denominado esterilização ouro, o Banco Central pode combater a inflação. Na prática, muitos países violaram as “regras do jogo” do antigo padrão -ouro. Um fluxo de ouro é esterilizado quando o Banco Central toma medidas para anular o efeito automático que aquele fluxo exerce sobre a oferta monetária. Contudo, ao engajar-se neste tipo de prática, o país superavitário estará interferindo no mecanismo de ajustamento. Na medida em que este país obtenha sucesso no controle da inflação, ele imporá uma carga adicional ao país deficitário – que está perdendo suas reservas de ouro -, pois este país terá menos condições de concorrência (via preços) nos mercados externos, condição para que cessem suas remessas (líquidas) de ouro. Conseqüentemente, o país deficitário deverá restringir ainda mais a expansão de sua oferta monetária e, portanto, de sua demanda agregada. Assim, no regime do padrão-ouro, os encargos do processo de ajustamento podem ser divididos de modo desigual. Os países superavitários podem sentir-se encorajados à esterilização de influxos de ouro. O fato de que isto implique um atraso do processo de ajustamento com a continuação da entrada de ouro pode não ser motivo de grande preocupação para eles, porém, os países deficitários não gozam de tais privilégios. Eles devem tomar medidas deflacionárias sob pena de perder todas as suas reservas de ouro. Por esse razão, o padrão-ouro tem um tendência à deflação, já que há uma motivação maior pro parte dos países deficitários para reduzir a demanda agregada do que pro parte dos países superavitários para aumenta-la. 3. O regime do padrão-ouro pode conduzir à instabilidade monetária, pois sob um sistema bancário de reserva fraciona, uma grande quantidade de moeda está fundada sobre uma pequena base de ouro. O sistema monetário é, portanto, vulnerável a uma crise de confiança, com um possível saque em massa (“corrida bancária”) do estoque de ouro disponível. Sumarizando: 1) o processo de ajustamento internacional sob o padrão-ouro poderia implicar variações na oferta monetária de um país, agravando seus problemas de inflação ou desemprego; 2) os efeitos indesejáveis do ajustamento poderiam recair com maior intensidade sobre os países deficitários do que sobre os superavitários, imprimindo ao sistema uma tendência deflacionária; 3) os sistemas monetários nacionais, com base nas reservas de ouro, poderiam ser objeto de pânico e corridas bancárias, o que faria aumentar a instabilidade econômica. O REGIME DE TAXAS DE CÂMBIO AJUSTÁVEIS: O Sistema do Fundo Monetário Internacional Em 1944, ao final da II Guerra Mundial, representantes do alto escalão financeiros dos países aliados encontraram-se em Bretton Woods, em New Hampshire. Neste encontro foi criado um sistema de Taxas de Câmbio Ajustáveis (The Adjustable Peg) para o período do pós -guerra, ao tempo que se estabeleceu uma nova organização com o fim de operacionalizar aquele sistema - o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Sistema de Bretton Woods foi criado para proporcionar a estabilidade cambial do velho padrão-ouro, enquanto evitava alguns de seus maiores defeitos. Em particular, no sistema de Bretton Woods, as taxas de câmbio deveriam ser estabilizadas, dentro de uma faixa estrita ( 1 por cento) de variação, com referência à paridade oficial declarada. Por exemplo, na maior parte do período pós-1945(especificamente de 1949 a 1967), a libra foi mantida ao preço oficial, ou Valor do Par, de 1 libra = 2,80 dólares. A cotação (ou Valor do Par) de uma moeda (no sistema do FMI, antes de 1971) era o preço o oficial da moeda, especificado em termos do dólar norte-americano ou ouro. Os fundadores do Fundo Monetário Internacional reconheciam que alguma providência deveria ser tomada com relação ao ajustamento internacional no caso da existência de déficits ou superávits. Recordemos a discussão no inicio deste capítulo (e Gráfico 14.3), visto que havia somente quatro maneira básicas para o Brasil, no exemplo, lidar com um desajuste no mercado de câmbio. Assim, aquele país poderia: 1. Alterar tarifas e outras restrições sobre importações ou outras transações externas. 2. Manter estável o valor do cruzeiro através da compra dos cruzeiros em excesso, troca de dólares (ou venda de cruzeiros no caso de escassez). 3. Alterar as políticas de controle da demanda agregada de modo a mudar as curvas de demanda e oferta de cruzeiros em termos de dólares. 4. Varia a taxa de câmbio. O sistema do FMI representou um compromisso em termos dessas alternativas. Aumentos de tarifas ou de outras restrições sobre importações (opção 1) eram, geralmente, considerados indesejáveis, ainda que permitidos em situações emergenciais (como no período de extrema desorganização logo após a II Guerra Mundial). Contudo, a maior preferência recaía sobre as outras três opções. Desajustes da taxa de câmbio poderiam ser temporários, refletindo fatos como greves, o mau tempo que afeta as colheitas outros fenômenos transitórios. Nessas circunstâncias, variações nas taxas de câmbio deveriam ser evitadas, pois a queda no preço de uma moeda seria revertida no futuro - ao fim dos eventos transitórios - e tais oscilações das taxas de câmbio cumpriam uma função útil. Em vez de alterar de câmbio, os países deveriam compensar os déficits temporários, através do uso de reservas cambiais, intervindo no mercado de câmbio (opção 2); por exemplo, o nosso governo poderia utilizar sua reserva em dólares para comprar cruzeiros e, com isto, impedir a queda no preço destes . Entretanto, devido ao fato de que as oscilações temporárias poderiam ser de grande magnitude, o FMI tinha poderes para emprestar moeda estrangeira aos países deficitários de modo a estabilizarem suas respectivas moedas nos mercados de câmbio. O FMI obtinha os fundos de empréstimos para os países deficitários das contribuições dos países membros; vemos que a palavra “fundo” corresponde a uma função de fato, explícita no próprio nome desta instituição. Todavia, nenhum país dispõe de reservas cambiais ilimitadas e há limites no volume de recursos que o FMI se dispõe a emprestar. Por esta razão, um país poderia intervir no mercado de câmbio para manter o preço de sua moeda apenas como medidas temporárias, visando o controle de desajustes de curto prazo. Portanto, a venda de divisas não é a solução permanente para déficits contínuos. Alguns distúrbios no mercado de câmbio não têm, entretanto, caráter transitório; flutuações das curvas de demanda e oferta de divisas podem ser permanentes, sem reversão futura. Em tais casos urge implementar medidas mais fundamentais do que a intervenção no mercado de câmbio, como variações da demanda agregada doméstica (opção 3). Por exemplo, se um país segue uma política de expansão excessiva de demanda agregada, a inflação resultante pode tomar os bens domésticos muito caros nos mercados externos, e com isto, provocar um déficit nas suas contas externas. Nestes casos, é apropriado uma política mais restritiva de controle da demanda agregada, a fim de melhorar sua posição nos pagamentos internacionais, restabelecendo a estabilidade doméstica. O FMI pode exigir de um país que requeira um empréstimo que implemente políticas fiscal e monetária mais restritivas. Entretanto, ajustamentos na demanda doméstica podem não ser a melhor maneira de resolver problemas nas contas externas. Como vimos na discussão do padrão-ouro, um país deficitário, nesta condição, poderia já estar padecendo de uma recessão doméstica; políticas restritivas de controle de demanda agregada fariam justamente piorar a situação de recessão. Nestas circunstâncias, dado que as três primeiras opções forma descartadas ou provaram ser inadequadas, o país seria considerado em Desequilíbrio Fundamental, e neste caso o Sistema de Bretton Woods aprovaria a utilização da opção remanescente: variação da taxa de câmbio. Um país desvaloriza quando ele reduz o valor do par (o preço oficial) de sua moeda; um país valoriza quando ele aumenta o valor do par de sua moeda. Em resumo, o sistema do FMI envolvia um enfoque combinado. Nos casos extremos, restrições diretas sobre importações ou outros pagamentos internacionais poderia ser utilizados para a supressão de déficits; déficits temporários poderiam ser combatidos a partir da venda de moedas estrangeiras (divisas) no mercado de câmbio, mantendo, assim, o preço da moeda nacional (um país com superávit temporário poderia, do mesmo modo, comprar moedas estrangeiras para impedir a elevação no preço de sua moeda). Por outro lado, a política de controle de demanda agregada poderia ser modificada, pois a mudança de política era considerada particularmente importante se contribuísse para minimizar os problemas internos de inflação ou desemprego. Finalmente, se houvesse um desequilíbrio fundamental, o valor do par da moeda poderia ser mudado; assim, as taxas de câmbio eram fixadas, porém ajustáveis. O SISTEMA DO FMI: O Problema do Ajustamento Durante várias décadas, o sistema do FMI funcionou razoavelmente bem - o bastante para fornecer um suporte financeiro para a recuperação da II Guerra Mundial e permitir e permitir uma rápida expansão do comércio internacional. Mas, o sistema tinha falhas básicas que determinaram um desacerto no começo dos anos 70. Na prática, havia defeitos na política de mudanças das paridades para fazer frente aos “desequilíbrios fundamentais”, pois, quando um país começa a experimentar um déficit ou superávit, é incerto se este déficit ou superávit será transitório (neste caso, ele pode ser coberto com a venda ou compra de divisas) ou se aquele representa um desequilíbrio fundamental (o que requereria uma mudança no valor do par). O acordo do FMI não tinha nenhuma cláusula a esse respeito, já que de forma alguma era definido o que seria um desequilíbrio fundamental. Considerando que um desequilíbrio fundamental envolve superávits ou déficits que persistirão, o teste mais simples consiste em esperar para comprovar se de fato eles persistem, mas esta espera pode traduzir -se numa experiência angustiante. Especificamente, déficits envolvem a perda de reservas cambiais, e à medida que a perda de reservas aumenta, os especuladores amplificam o problema, pois tão logo os especuladores se convençam de que o déficit persistirá - e que os brasileiros (no nosso exemplo) serão forçados a desvalorizar no final - terão um incentivo para vender cruzeiros. Por exemplo, se um especulador compra dólares ao preço corrente de 100 cruzeiros = 1 dólar e o nosso governo desvaloriza o cruzeiro para, digamos, 120 cruzeiros por dólar, o especulador poderá recomprar os cruzeiros à nova quotação, lucrando 20 por cento em cada dólar. Desse modo, os especuladores podem colocar à venda uma quantia desmesurada de cruzeiros no mercado de câmbio. Para evitar que a nossa moeda caia de quotação, as autoridades monetárias devem comprar os cruzeiros em excesso, utilizando-se de suas reservas em dólar para tanto. Assim, a entrada de especuladores no mercado apressa a nossa perda de reservas cambiais e aumenta a pressão sobre as autoridades para desvalorizar. Isto pode tornar-se um caso de expectativas auto-realizáveis (self-fulfilling expectations): a expectativa dos especuladores de que o cruzeiro será desvalorizado leva-os a tomar uma decisão (vende-los), tornando mais provável ainda uma desvalorização do cruzeiro. Especulador é qualquer indivíduo que compra ou vende moeda estrangeira (ou qualquer outro ativo) com o intuito de obter um lucro pela variação de preço dessa moeda (ou ativo). Verificamos que, com a desvalorização, os especuladores obtêm um ganho de capital (de 20 por cento em cada dólar, no nosso exemplo). Contudo, isto é justamente uma transferência advinda do governo brasileiro que perde exatamente esta quantia na tentativa de neutralizar os especuladores - pois, quando os especuladores compravam, as autoridades monetárias vendiam os mesmos dólares a 100 cruzeiros; depois da desvalorização, as autoridades recompram dos especuladores a 120 cruzeiros por dólar, perdendo 20 por cento. Em última instância, é o contribuinte brasileiro que arcará com o prejuízo. Por que, então, as autoridades não combatem a especulação à medida que ela aumenta? A razão é que as autoridades monetárias relutam em aceitar a desvalorização como uma medida inevitável, e esperam pôr fim à especulação, restaurando a confiança de que a moeda não será desvalorizada. Se os especuladores em potencial se convencerem de que não haverá desvalorização, eles não terão incentivos algum para comprar dólares. Para restabelecer a confiança, as autoridades monetárias enfatizam sua determinação de defender o cruzeiro, mas, uma vez que os líderes governamentais tenham arriscado suas reputações nesse propósito, torna se muito difícil para eles mudarem a cotação da moeda. Por isso, na prática, as desvalorizações tendem a ser infrequentes e a chegar com atraso no sistema do FMI. Por outro lado, uma vez efetivadas, as desvalorizações eram, em geral, de magnitude apreciável, pois deste modo o governo não teria de passar por esta dolorosa experiência no futuro imediato; portanto, o sistema de taxas de câmbio ajustáveis não funcionou tão bem como era esperado. De fato, por longos períodos, o sistema poderia ser caracterizado por taxas de câmbio rígidas (rigid pegs), em razão do compromisso das autoridades em manterem as taxas de câmbio em vigor. Então, quando as pressões se tornavam intoleráveis e mudanças tinham de ser feitas, então, quando as pressões se tornavam intoleráveis e mudanças tinham de ser feitas, drásticos ajustamentos eram efetuados, resultando no que se poderia chamar de ajustamento descontínuo das taxas de câmbio (jumping pegs). Por outro lado, os países superavitários se mostravam ainda mais relutantes para aumentar o valor de troca de suas moedas. Como a revalorização de uma moeda implica o aumento de preços dos bens domésticos no mercado externo, essa medida encontrava oposiçã o do setor exportador. Além do mais, os países superavitários desfrutam de uma posição relativamente boa para não tomarem iniciativa, pois enquanto os países deficitários dispõem de reservas limitadas que podem perder, não há nenhuma restrição sobre o excesso de reservas que os países superavitários podem acumular. Assim, quando um país revaloriza sua moeda, é devido, certamente, a outras razões menos evidentes. Como ilustração, consideremos o que acontece se a Alemanha incorre em superávit nas suas transações internacionais: a demanda por marcos torna-se maior que sua oferta. De modo a evitar que o marco aumente, a Alemanha venderá marcos em troca de dólares americanos; contudo, as autoridades alemãs devem obter os marcos para a venda de algum modo, e há duas fontes para isso. O governo pode obtê-los ao incorrer em um superávit orçamentário, isto é, aumentando impostos ou reduzindo seus gastos. Todavia, esta opção tem pouca aceitação, já que o público abomina aumento de imposto e cortes orçamentários. A alternativa, então, é o Banco Central, que fornece os marcos para a compra de dólares. Com isto, as reservas dos bancos comerciais alemães aumentarão, porque a compra de dólares pelo Bundes-bank (o Banco Central Alemão) terá o mesmo sobre as reservas bancárias na Alemanha que uma compra de ouro, ou uma compra de títulos governamentais no mercado aberto. Assim, um superávit no balanço de pagamento contribui, em geral, para a inflação. Em conseqüência, o receio de inflação pode forçar um país a reavaliar sua moeda, de modo a reduzir ou eliminar aquele superávit. Em particular, este tem sido o caso da Alemanha, onde há uma forte aversão à inflação, em conseqüência da marcante lembrança da hiperinflação que se segui à I Guerra Mundial. Como forma de neutralizar os efeitos inflacionários de superávit nas contas externas, a Alemanha aumentou do marco em 1961, e outra vez em 1969. Contudo, a maioria dos países superavitários se mostraram extremamente relutantes para aumentar a cotação de suas moedas. Neste caso, o Japão foi o exemplo perfeito de um país que se recusou à revalorização de sua moeda, consideráveis nos anos 60. não obstante existirem superávits Sugestões para a Melhoria do Processo de Ajustamento Ao fim dos anos 60, os governos consideravam propost as, com vistas a modificações no sistema do FMI, com o objetivo de se obter maior flexibilidade nas taxas cambiais. A proposta mais notável foi no sentido de adotar-se um regime de taxa cambiais. A proposta mais notável foi no sentido de adotar-se um regime de taxa cambial móvel (crawling peg). De acordo com este arranjo, os países não teriam de esperar até que se efetivassem tremendas pressões sobre suas taxas de câmbio. Desse modo, assim que ocorressem déficits ou superávits, mesmo moderados, os países fariam pequenos ajustamentos nas suas cotações ainda que freqüentemente. Vejamos um exemplo: no caso de um superávit, a Alemanha elevaria a cotação do marco de 0,25 por cento ao mês - um total de 3 por cento ao ano - até que o superávit fosse reduzido ou eliminado, sendo que esta variação de pequena magnitude não traria incentivo maior aos especuladores; na verdade, se as taxas de juros na Alemanha fossem mantidas em 3 por cento abaixo das taxas de juros nos Estados Unidos, os especuladores não obteriam nenhum ganho com a compra de marcos: o ganho realizado pela elevação do marco seria cancelado devido ao menor rendimento auferido de ativos financeiros na Alemanha. Uma segunda proposta era a de permitir uma faixa de flutuação para as taxas de cambio maior do que 1 por cento para mais ou para menos da cotação corrente, conforme as regras do FMI - durante os anos 50 e 60, os países geralmente seguiam uma regra mais estrita do que a recomendação do FMI, intervindo para manter as taxas cambiais ao redor de 0,75 p or cento da cotação oficial. Como veremos adiante, a faixa maior foi realmente foi realmente utilizada no período entre o final de 1971 e o colapso do Sistema de Taxas Cambiais Ajustáveis, no início de 1973. O DÓLAR NORTE-AMERICANO E O SISTEMA DE TAXAS CAMBIAS AJUSTÁVEL: Os Problemas de Liquides e Confiança No antigo sistema do FMI, os países mantinham suas taxas de câmbio fixadas, e isto trazia um problema, já que há um número menor de taxas de câmbio não redundantes do que de países. Suponha que haja somente dois países, digamos os Estados Unidos e a Inglaterra; haverá somente uma taxa de câmbio - naturalmente, esta taxa pode ser cotada nos dois sentidos, por exemplo: 1 dólar = 0,50 libra é equivalente à cotação de 1 libra = 2 dólares. Em gera. Em um mundo de n países, há somente n - 1 taxas de câmbio não redundantes ou independentes 1 . Este fato fundamental em Finanças Internacionais colocava duas questões inter relacionadas para os construtores do sistema do FMI: 1.Se o taxa de câmbio, libra inglesa por dólar norte-americano, flutua até o limite da faixa permitida, deve a Inglaterra ou os Estados Unidos arcar com a responsabilidade de intervir no mercado cambial para estabiliza-la? 2.No caso de um desequilíbrio fundamental, a paridade cambial deveria ser alterada. Neste caso, cabe aos Estados Unidos ou à Inglaterra tomar a decisão de alterar a paridade? E, qual o país que escolhe o novo valor da paridade? A solução do FMI para a primeira questão consistia no seguinte: os outros países fixavam a paridade de suas moedas em relação ao dólar norte-americano, e os Estados Unidos, por sua vez, tomavam previdências para manter o dólar conversível em ouro 2 , isto permitia a determinação total do conjunto de taxas de câmbio entre países (Gráfico 14.4). Com relação a taxas de câmbio, os Estados Unidos eram a parte beneficiada, pois todos os outros países eram responsáveis por uma taxa de câmbio, mas, como enésimo responsabilidade. país, os Estados Unidos não tinham tal A resposta para a segunda questão resulta da resposta à primeira delas. Mas, embora todas as moedas fossem desse modo fixadas em relação ao ouro, direita ou indiretamente, este sistema estava muito distante do padrão-ouro clássico, porque o governo dos Estados Unidos não se comprometia a vender outro para o público; na verdade, no período entre a Grande Depressão e 1975, os cidadãos norte-americanos estavam proibidos por lei de ter outro em seu poder. Mais ainda, as paridades eram ajustáveis, e não estritamente fixas como no padrão-ouro. Já que o Inglaterra era responsável pela manutenção da cotação da libra em termos do dólar, cabia a ela decidir pela mudança da paridade – contudo, havia espaço para consultas internacionais no FMI com relação à nova paridade a ser escolhida. Desse modo, os Estados Unidos desfrutavam de uma posição ímpar no sistema do FMI, já que o dólar estava em uma posição central, estando as outras moedas fixadas em relação a ele. Os outros países mantinham taxas de câmbio ajustáveis e eles tomavam a iniciativa de escolher as novas paridades, quando as taxas de câmbio eram ajustadas. Os Estados Unidos, por sua vez, eram colocados no centro de um dos mais espinhosos problemas do sistema do FMI: qual deveria ser o grau de Liquidez Internacional, e como a liquidez adicional deveria ser criada? Liquidez Internacional é o volume total de reservas em poder dos vários países. (GRÁFICO) A Liquidez Internacional No sistema de taxas de câmbio ajustáveis, um país mantinha suas reservas internacionais em: 1. Ouro 2. Reservas cambiais, especialmente dólares. 3. A posição do país em termos de reservas junto ao FMI, isto é, a contribuição que o país havia feito ao Fundo, e que possuía o direito incondicional de saca-la. Para os Estados Unidos - responsáveis pela manutenção de conversibilidade do dólar em ouro -, o ouro consistia na sua reserva primária. O s outros países responsabilizavam-se pela estabilização de suas moedas relativamente ao dólar, e eles, por isso, mantinham grande quantidade de dólares a serem usados quando necessário para intervir nos mercados de câmbio. Alguns países, em particular a França, também mantinham uma parte considerável de suas reservas em ouro. O Prof. Robert Trifin, da Universidade de Yale, argumentava que haveria um problema fundamental com relação a reservas no sistema do FMI 3 : à medida que o comércio internacional se expandia, os diversos paises requeiram um volume maior de reserva; mas como as reservas poderiam ser aumentas? Havia somente duas alternativas: extraindo mais ouro das minas ou aumentando a reserva em dólares dos países, exceto dos Estados Unidos. A perspectiva de um grande incremento na oferta de ouro não se mostrava promissora. Além do mais, seria um despropósito extrair o ouro de um buraco no solo (nas minas da África do Sul, da Un ião Soviética, ou do Canadá) para enterra-lo noutro buraco (em Fort Knox, ou na caixaforte do Banco da Reserva Federal em Nova Iorque). Mas, como um país ganha dólares norte-americanos, senão experimentando um superávit em relação aos Estados Unidos? Em outras palavras, os Estados Unidos deveriam forçosamente incorrer em déficits nas contas externas. Contudo, à medida que os déficits norte-americanos persistiam e os encaixes externos em dólar tornavam-se progressivamente maiores – passou-se a questionar a capacidade de Estados Unidos manterem a convertibilidade do dólar em ouro. Inevitavelmente surgiu uma crise de confiança, acompanhada de uma corrida ao ouro norte-americano por parte dos governos estrangeiros e, com isto, adveio o colapso do sistema do FMI . Direitos Especiais de Saque Já ao final da década de 60, desenvolveu-se um consenso internacional de que algo deveria ser feito com relação ao problema indicado por Triffin. Deveria ser criada outra forma de reserva em alternativa do dólar, de modo que os Estados Unidos não necessitassem incorrer em déficit para gerar reservas ao resto do mundo. Após uma série de difíceis negociações, foi delegado poderes ao FMI para criar os Diretos Especiais de Saque (DES), os quais poderiam ser utilizados pelos país es para cobrir seus déficits. Os DES consistem em depósitos escriturais que os países mantêm junto ao FMI, e são similares aos depósitos que os indivíduos possuem em bancos comerciais. Mas o mecanismo de criação dos DES é muito mais simples de o que as operações de mercado aberto, pelas quais o Banco Central cria moeda em uma economia nacional. O FMI cria os DES, que são diretamente adicionados às contas dos países junto ao FMI, sem contrapartida. Os DES são alocados ou distribuídos em proporção às contas dos países - membros do FMI, isto é, em proporção à contribuição de cada país para aquele Fundo. Um país pode utilizar seus DES para cobrir sues déficits de várias maneiras, mas a mais simples delas é a seguinte: vamos supor que a Itália desfruta de uma posição difícil nas contas externas. Ela poderia apelar diretamente para outros países, digamos, os Estados Unidos e Alemanha; esses países podem concordar em fornecer dólares e marcos para a Itália em troca de uma transferência de DES da conta italiana no FMI para as respectivas contas daqueles países. O COLAPSO DO SISTEM DE TAXAS CAMBIAIS AJUSTÁVEIS, 1971-1973 Em 1971, o velho sistema de taxas cambias ajustáveis começou a desmoronar. No começo daquele ano, os Estados Unidos se recuperavam de uma recessão, mas a recuperação processava-se dolosamente devagar, em parte devido à larga drenagem da demanda interna de importação (lembre-se de que gastos em importações aumentam a produção e o emprego nos outros países e não internamente). Embora a importação de mercadorias no segundo trimestre de 1971 fosse somente 5 por conte do PNB, aproximadamente 20 por cento do incremento na demanda agregada eram gastas em importações. Há um receio crescente em Washington de que as importações aumentassem com rapidez porque o valor do dólar estava excessivamente alto; os bens norte-americanos estavam demasiadamente caros no mercado mundial. Contudo, sendo o enésimo país, os Estados Unidos detinham quase nenhum controle sobre sua situação, dado que o valor do dólar era determinado pelos outros países ao manterem a cotação de suas moedas em termos do dólar (conforme vimos no Gráfico 14.4). A despeito de déficits substanciais dos Estados Unidos nos anos 60 - com reclamações dos outros países sobre a situação -, de fato eles tinham, em média, desvalorizado suas moedas em relação ao dólar, isto é, o valor de troca de dólar tinha aumentado, em vez de diminuir. Assim, esta ação tornara a posição dos Estados Unidos nos pagamentos internacionais ainda mais difícil. Mais ainda, à medida que os déficits norte-americanos se multiplicavam no início de 1971, nasciam dúvidas acerca da capacidade de os Estados Unidos manterem a convertibilidade do dólar em ouro. Em agosto de 1971, aquele país introduziu um novo programa econômico, envolvendo uma rejeição definitiva do passado. Em termos domésticos, foram estabelecidos controles de preços e salários para suprimir a inflação na recuperação econômica; em termos internacionais, os Estados Unidos suspenderam a convertibilidade do dólar em ouro e impôs sobre taxas tarifárias para forçar os outros países a elevarem o preço de suas moedas (e, dessa forma, reduzindo o valor do dólar. No período de incerteza que se seguiu, alguns países abandonaram o sistema de taxas cambiais fixas e permitiram que suas moedas flutuassem nos mercados de câmbio. Uma taxa cambial flexível ou flutuante é aquela que é livre para variar em resposta à mudança nas condições de demanda e oferta. Se os governos e bancos centrais deixam de interferir completamente nos mercados cambiais, a flutuação da taxa de câmbio é dita livre. Ao contrário, a flutuação é dita manipulada (dirty foat quando os governos ou bancos centrais intervêm nos mercados de câmbio, comprando ou vendendo moeda estrangeira, a fim de afetarem as taxas de câmbio. Em dezembro de 1971, foi feita uma tentativa para alterar o sistema de taxas de câmbio fixas na conferência do Smithsonian Institution em Washington. As novas taxas fixas, escolhidas pela maioria dos participantes, geralmente significavam preços maiores de suas respectivas moedas, assim, os Estados Unidos atingiram seu propósito de uma desvalorização do dólar (esse país também reduzir o preço do dólar em termos de ouro - o único preço sob seu controle direto). Igualmente permitiu-se faixas maiores ao redor das novas taxas de câmbio fixadas, com a finalidade de promover uma flexibilidade maior do que o sistema anterior; a taxa de câmbio poderia variar 2,25 por cento para cima e para baixo da paridade escolhida, antes que os países fossem obrigados a intervis a fim de impedir flutuações ainda maiores da taxa de câmbio. Todavia, a mudança Smithsoniana não durou muito, e em 1972 os ingleses permitiram que a libra flutuassem (livremente). À medida que aumentaram as pressões sobre o novo sistema cambial em 1973, outros países abandonaram as cotações fixas do Acordo Smithsoniano, resultando em um sistema generalizado de taxas cambiais flutuantes. TAXAS CAMBIAIS FLEXÍVEIS: Vantagens e Desvantagens A maior vantagem das taxas cambiais flexíveis é a de que são evitados os problemas das taxas cambiais ajustáveis (ou do padrão -ouro), posto que as variações cambiais contribuem para o ajustamento internacional; os países não necessitam ajustar suas políticas econômicas domésticas aos azares do balanço de pagamentos, e os ajustamentos cambiais podem efetuar-se gradualmente, sem a ocorrência de crises de confidência considerável e movimentos de capitais especulativos. Entretanto, as taxas cambiais flexíveis têm sido criticadas com relação a alguns pontos: 1. As flutuações nas taxas cambiais podem perturbar o comércio e o investimento internacional (é uma questão aberta ser esta perturbação for maior do que no sistema do FMI). 2. Os críticos apontam para o movimento oscilante das taxas de câmbio desde 1973 (Gráfico 14.5), argumentando que essas flutuações não servem a nenhum propósito útil. Por outro lado, os defensores das taxas flexíveis respondem que o período após 1973 tem sido singular em termos da magnitude desses distúrbios, em particular, os aumentos no preço internacional do petróleo têm determinado consideráveis mudanças nos pagamentos internacionais. Na verdade, seria duvidoso que o sistema do FMI sobrevivesse a tais choques. 3. Os movimentos da taxa de câmbio podem agravar os problemas internos da economia. Por exemplo, se um país tem um fraco desempenho nas contas externas, a sua moeda se desvalorizará. Na verdade, isto contribui para o ajustamento externo, porque à medida que a cotação da moeda nacional cai, as exportações se (GRÁFICO) tornam mais baratas para os estrangeiros que, em conseqüência, compram mais, enquanto as importações se tornam mais caras internamente e, portanto, diminuem. Mas, é precisamente este incremento no preço das importações que causa um problema: surge uma pressão adicional pa ra mais inflação interna. No Estados Unidos, a queda da cotação do dólar aumentou as pressões inflacionárias em 1973 e 1978. Uma moeda com cotação flutuante se desvalorizou quando seu preço cai em termos de outras moedas (em termos estritamente técnicos, uma taxa fixa é desvalorizada, mas uma taxa flutuante se deprecia, ou se desvaloriza). Uma moeda com cotação flutuante (ou flexível) se revaloriza quando seu preço aumenta em termos de outras moedas. 4. Quando se permite a flutuação das taxas cambiais, perde-se um importante fator de controle sobre as políticas montarias e fiscal, já que, no sistema de taxas cambiais ajustáveis do FMI, o receio de déficits no balança de pagamentos e conseqüente perda de reservas impunha uma restrição sobre políticas inflacionárias. A evolução do sistema monetário internacional na última metade de século tem refletido atitudes e objetivos em mudança. À medida que o padrão-ouro cedeu lugar ao sistema de taxas cambiais ajustáveis, e deste para um sistema de taxas cambiais flexíveis, coloca-se uma ênfase menor em estabilidade cambial como um modo de proporcional um suporte estável para o comércio e o investimento internacionais. Agora, a ênfase maior é colocada na variabilidade das taxas de câmbio como parte integrante do processo de ajustamento internacional, e na consecução de políticas de controle da demanda agregada com o fim de estabilizar a economia, em vez das taxas de câmbio.