Mello DF & Helene Jr. A RELATO DE CASO Lipoma subgaleal gigante: relato de caso Giant subgaleal lipoma: case report Daniel Francisco Mello1, Américo Helene Jr2 RESUMO SUMMARY Introdução: Os lipomas são os tumores mesenquimais mais frequentes, podendo ser encontrados em qualquer local do corpo, incluindo vísceras e cavidades. O subcutâneo corresponde à localização mais frequente, entretanto, lesões em plano subfascial e intra/intermusculares (variantes infiltrativas) podem ocorrer. Para ser considerado gigante, um lipoma deve apresentar pelo menos 10 cm em uma das dimensões ou pelo menos 1.000 gramas de massa, sendo os relatos deste tipo de lesão infrequentes. Os principais aspectos relacionados ao tratamento são: alívio de eventuais sintomas secundários, correção de deformidades funcionais/ estéticas e diagnóstico diferencial com sarcomas de partes moles. Relato do caso: Relatamos o caso de um paciente do sexo masculino, 54 anos, portador de um lipoma subgaleal gigante, com 11 anos de evolução clínica, submetido a tratamento cirúrgico em nosso serviço. Introduction: Lipomas are the most common mesenchymal tumors and can be found anywhere in the body, including viscera and cavities. The subcutaneous corresponds to more frequent location, however, lesions in the subfascial plane and intra/intermuscular (infiltrative variants) may occur. To be considered giant, a lipoma should have at least 10 cm in one dimension or weights at least 1.000 grams, and the reports of this type of tumor is infrequent. The main aspects of treatment are: relief of eventual secondary symptoms, correction of functional/aesthetic deformities and differential diagnosis with soft tissue sarcomas. Case report: We report a case of a male patient, 54 years old, with a giant subgaleal lipoma, with 11 years of evolution, submitted to surgical treatment in our service. Descritores: Lipoma/cirurgia. Neoplasias de cabeça e pescoço/cirurgia. Neoplasias lipomatosas/cirurgia. Descriptors: Lipoma/surgery. Head and neck neoplasms/surgery. Neoplasms, adipose tissue/surgery. 1. Cirurgião Plástico. Pós-graduando (Nível Mestrado) em Cirurgia pelo Departamento de Cirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). Preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica da ISCMSP. 2. C hefe do Serviço de Cirurgia Plástica da ISCMSP. Correspondência: Daniel Francisco Mello Rua Canuto do Val, 88, apto. 183 – São Paulo, SP, Brasil – CEP 01224-040 E-mail: [email protected] Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(3): 180-2 180 Lipoma subgaleal gigante INTRODUÇÃO DISCUSSÃO Os lipomas são os tumores mesenquimais mais frequentes, sendo estimada uma incidência na população adulta de até 10%. Podem ser encontrados em qualquer localização no corpo, incluindo vísceras e cavidades, sendo mais frequentes no plano subcutâneo e subdérmico1-8. A grande maioria corresponde ao tipo comum, apresenta pequenas dimensões, normalmente entre 2 a 5 cm, e pesa poucas gramas2,3,5-7. Segundo Sanchez et al.2, os critérios para um lipoma ser considerado gigante são: apresentar pelo menos 10 cm em uma das dimensões ou pelo menos 1.000 gramas de massa6-9. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso de lipoma subgaleal gigante tratado em nosso serviço. Paciente do sexo masculino, 54 anos, apresentando tumoração em região fronto-têmporo-parietal há 11 anos. Relatou crescimento progressivo no período, sem intercorrências ou complicações. Negou dor, parestesia ou história de alterações cutâneas locais. Negou história de trauma ou cirurgias prévias na região. Ao exame apresentava tumoração fibroelástica, móvel, indolor, não pulsátil e elíptica, com cerca de 15 x 10 cm, sem alterações cutâneas (Figuras 1 a 3). Não foi possível a realização de tomografia computadorizada ou ressonância magnética devido ao peso do paciente (150 kg). A ultrassonografia foi sugestiva de lipoma. Foram realizadas biopsias incisionais, sendo evidenciado lipoma. A lesão foi submetida à exérese cirúrgica, com demarcação de uma elipse de pele a ser excisada (“expansão tumoral”). A neoplasia se apresentava em plano subgaleal e com pseudocápsula, sendo ressecada com facilidade. Nos primeiros dias, foram mantidos dreno aspirativo e curativo compressivo. Não houve intercorrências pós-operatórias. O laudo anatomopatológico descreveu lipoma de 465 gramas, com 15x9x6 cm, sem outras alterações (Figuras 4 e 5). No seguimento pós-operatório atual (1 ano), não há sinais de recidiva. O relato de lipomas gigantes em diferentes localizações não é frequente. Normalmente são observados longos períodos de evolução, insidiosa e progressiva, podendo chegar a intervalos de 10 a 15 anos, como no caso apresentado2,5-8. O maior lipoma cutâneo foi relatado por Brandler, em 1894, pesando 22,7 kg, o qual estava localizado na região escapular de um homem de 26 anos2,6,7. Os lipomas tipicamente são tumores únicos, multilobulados e pseudoencapsulados, sendo compostos por adipócitos maduros. Normalmente se apresentam como lesões móveis, assintomáticas e de consistência fibroelástica. Além da localização subcutânea típica, também podem se apresentar em plano subfascial, bem como em raras variantes infiltrativas, em planos intra e intermusculares1,3-8,10. Podem estar associados a doenças genéticas, metabólicas e endócrinas, porém em sua absoluta maioria são esporádicos. Histórico de traumatismo local pode ser relatado1,3,6,7,10. É relatado classicamente que a gordura contida nos lipomas costuma aumentar com elevação de peso corporal, porém não apresenta diminuição mesmo em períodos de inanição ou caquexia6,7,10. Os sintomas são incomuns e normalmente secundários à compressão de estruturas adjacentes, podendo ocorrer dor, parestesia e, até mesmo, edema/linfedema1-3,5,6,8-10. Em lesões de maior volume, pode ser observada a expansão da pele adjacente, que pode ou não exigir tratamento excisional concomitante5,6,9. A malignização é muito rara em lipomas cutâneos, devendo ser suspeitada em lesões de crescimento rápido, com sintomas e eventuais ulcerações, bem como recidivas após ressecções convencionais de lesões supostamente benignas2,3-8,10. Nos exames de imagem, os lipomas têm aspectos característicos. À ultrassonografia apresentam-se normalmente como lesões hiperecoicas (em relação à musculatura), com linhas ecogênicas correspondentes aos septos. À tomografia computadorizada, são lesões hipoatenuantes (-50 a -150 U.H.), sem impregnação por contraste. À ressonância magnética, o sinal é semelhante ao da gordura convencional, com hipersinal em T1 e hiposinal em T2, sendo a margem com os tecidos normais claramente definida; também é utilizada a sequência com supressão de gordura3,4,6,8,10. Não há como diferenciar com certeza os lipomas dos lipossarcomas baseando-se somente em exames Figura 1 – Aspecto pré-operatório: visão frontal. Figura 2 – Aspecto pré-operatório: detalhe. RELATO DO CASO Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(3): 180-2 181 Mello DF & Helene Jr. A Figura 3 – Aspecto pré-operatório: visão lateral direita. Figura 5 – Aspecto pós-operatório de 7 dias. ser uma das neoplasias mais frequentes, os lipomas podem se apresentar de maneira atípica, sendo necessária atenção para correto diagnóstico pré-operatório e adequado tratamento cirúrgico, com objetivo de restabelecimento funcional e estético. Figura 4 – Peça operatória. REFERÊNCIAS 1.Baldwin HE, Berck CM, Lynfield YL. 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As técnicas aspirativas descritas para lesões menores não devem ser utilizadas, pelo risco de remoção incompleta e alta incidência de formação de coleções, bem como a impossibilidade de diagnóstico histológico preciso2,6,7,10. CONCLUSÃO Apresentamos um caso de lipoma em localização e tamanho infrequentes, com longo período de crescimento. Apesar de Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Plástica da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Artigo recebido: 26/3/2010 Artigo aceito: 7/7/2010 Rev Bras Cir Craniomaxilofac 2010; 13(3): 180-2 182