TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Título PERDA VISUAL EM PACIENTE COM INFECÇÃO POR HERPES SIMPLES 2 COMPLICADA POR TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DJALMA MARCUSSI TURMA 10105 Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL Curso de graduação em Farmácia PERDA VISUAL EM PACIENTE COM INFECÇÃO POR HERPES SIMPLES 2 COMPLICADA POR TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Nome do orientador: Carolina Panis Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de graduação em Farmácia. Londrina, Paraná Agosto 2008 BANCA EXAMINADORA DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO ALUNO: DJALMA MARCUSSI ORIENTADORA: Prof. Esp. Carolina Panis MEMBROS DA BANCA: 1. Prof. Esp. Carolina Panis – Orientadora Faculdade INESUL. 2. Prof. Ms. Alissana Ester Iakmiu Camargo – Faculdade INESUL 3. Prof. Esp. Ingrid Valadão da Silva Tirapelle – Faculdade INESUL. Data: / / 2008 DEDICATÓRIA A Deus por tudo que me proporciona na vida. A minha esposa, pela tolerância com que encarou as minhas ausências pela dedicação e espírito de sacrifícios consentidos durante a minha formação tenho aprendido muito com ela; muitos valores guardei, muitas vitórias conquistei e estou conquistando! A minha querida sogra pela atenção e se mostrar sempre pronta a ajudar-me, sem a qual esse trabalho não teria sido realizado. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus todo-poderoso pelo dom de vida que me concedeu e por ter iluminado o meu caminho durante todos estes anos, por ter me oferecido a oportunidade de viver, evoluir, crescer e conhecer todas as pessoas que citarei abaixo Aos meus inesquecíveis avós, exemplos de amor e honestidade, figuras de grande importância em minha formação e de quem eu sinto muita saudade. Aos meus pais, Luis e Aparecida, por todo amor, carinho, educação, compreensão, ajuda e por fazerem dos meus sonhos os seus sonhos. A memória de meu querido sogro que não terá a oportunidade de viver este momento. A meus irmãos e sobrinha, pelo incentivo e encorajamento. Ao meu cunhado pela ajuda dada na execução deste trabalho. A todos os amigos, em especial a Luis, Douglas, Daniel, Magno, Jonas, Luciana, Karina e Paulo pelos agradáveis momentos vividos e pelo grande elo de amizade formado pela turma do fundão. Galera pau para toda obra ta ai... A minha professora e orientadora Carolina Panis, por sua disposição em separar um pouco do seu escasso tempo para me transmitir sua experiência, que foi fundamental para a conclusão deste trabalho. E finalmente, agradeço a todos que me ajudaram direto ou indiretamente para o desenvolvimento deste projeto. Um MUITO OBRIGADO a todos vocês! “Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser, não somos o que iremos ser. Mas, graças a Deus, não somos o que éramos”. (Martin Luther King) SUMÁRIO INTRODUÇÃO - 10 OBJETIVOS - 12 METODOLOGIA - 13 RELATO DE CASO - 14 DISCUSSÃO - 17 COCLUSÃO - 23 REFERÊNCIAS - 24 ANEXOS ANEXO 1 - DIVULGAÇÃO DO TRABALHO EM EVENTOS CIENTÍFICOS - 27 ANEXO 2 – EXAME HEMOGRAMA - 30 ANEXO 3 – EXAME CITOMETRIA - 37 ANEXO 4 – EXAME PERFIL HEPATICO - 41 ANEXO 5 – EXAME SOROLOGIA: CMN, VDRL, HERPES, HIV, HBV - 48 ANEXO 6 – EXAME BACTERIOSCOPIA - 53 ANEXO 7 – PRESCRIÇÃO MEDICA - 57 SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS. OMS – Organização Mundial de Saúde HSV – Herpes Simplex Viral VHS – Vírus Herpes Simples ARN – Necrose Aguda de Retina UV – Ultra Violeta HEDS – Herpetic Eye Disease Study. RESUMO A infecção oftálmica pelo vírus herpes simples (HSV) é considerada uma das principais causas de cegueira e perda da acuidade visual no mundo todo, principalmente quando não tratada ou medicada de forma incorreta (PEREIRA et al., 2007). A infecção primária pelo vírus pode ser dermatológica, genital, nasolabial ou ocular, ocorrendo disseminação do vírus para o gânglio pelo axônio do nervo sensitivo onde fica latente. Trabalhos recentes têm mostrado a latência do VHS em tecidos extraneurais como a córnea e úvea anterior e sua reativação depende de diversos fatores, principalmente da imunidade do hospedeiro e estresse. O objetivo deste trabalho foi apresentar e discutir um relato de caso associado a herpes simples oftálmico com quadro clínico de lesões crostosas em hemiface direita acompanhado de baixa acuidade visual e diminuição da sensibilidade corneal do olho direito. Para confecção do relato do caso, foram coletados dados disponíveis a partir de informações da paciente contidas em exames laboratoriais, exames clínicos, medicamentos utilizados no tratamento farmacológico e outros dados relevantes disponíveis em prontuário médico. Para melhor entendimento das informações obtidas, foi realizada pesquisa bibliográfica em bases de dados científicos digitais (Scielo, Bireme, Lilacs, Pubmed) especializadas no assunto. Em Suma, este relato de caso apresenta uma paciente branca, 59 anos, professora, que iniciou com quadro de conjuntivite em 2004, tratados com diversos colírios, sem melhora clinica. Após um ano, foi diagnosticada infecção concomitante por Cândida albicans que foi tratada por dois anos com aproximadamente 10 tipos de colírios diferentes e, sem melhora, foi submetida à raspagem oftálmica. Em 2007, foi diagnosticada necrose corneal e iniciou-se o tratamento com aciclovir via oral, enquanto a paciente aguardava transplante de córnea. Durante estes anos, houve perda progressiva da acuidade visual sem melhora do quadro de herpes, com conseqüente dano corneal, típicos da infecção herpética oftálmica não tratada ou tratada incorretamente. O fator imunológico nesta paciente parece ser importante já que além do HSV a mesma manifestou infecção por Cândida albicans. A utilização incorreta do tratamento medicamentoso relatado neste caso parece ter agravado o quadro clínico da paciente e contribuído para a perda da acuidade visual e necrose corneal, tendo como conseqüência a necessidade do transplante que ocorreu no dia 24 de julho de 2008, com sucesso. 1. INTRODUÇÃO O vírus herpes simples (HSV) pertence à família Herpesviridae, composta por inúmeros patógenos animais e humanos. Clinicamente, são descritos dois sorotipos (HSV-1 e HSV-2), responsáveis pelos herpes labial e genital, respectivamente (BOIVIN, 2004). Apresenta como característica a de se manter latente em células de seus hospedeiros por tempo indeterminado (COLLIS, ELIS, 1999). A infecção oftálmica pelo HSV é a principal infecção ocular descrita no homem (MARANGON, MILLER, ALFONSO, 2007), considerada como uma das principais causas de cegueira e perda da acuidade visual no mundo todo, principalmente quando não tratada ou medicada de forma incorreta (PEREIRA et. al., 2007). Descrições na literatura apontam que a infecção por HSV são a causa mais freqüentemente associada à inflamação intra-ocular ou uveíte anterior em vários países(SANTOS, 2004). Acredita-se que o HSV tipo 1 seja responsável pelo aparecimento do quadro de iridociclite, enquanto o HSV tipo 2 é observado nos casos de necrose aguda de retina (ARN)( KASHIWASE, 2000). Entretanto, o diagnóstico de uveíte herpética por vezes não é feito pelo fato da ceratite poder não acompanhar o quadro de uveíte anterior e atrofia setorial de íris (SANTOS C. 2004). O quadro clínico da ceratouveíte, desta forma, conta com ceratite dendrítica, infiltrados corneanos em estroma profundo, precipitados ceráticos não granulomatosos e reação de câmara anterior. A uveíte herpética se caracteriza pela recorrência, tendo sido este fato postulado como característica patognomônica da doença (GARWEG, 2001). Acredita-se que fatores desencadeadores das recorrências estejam associados a estados imunológicos do portador. (MARANGON, 2007).A infecção primária pelo vírus pode ser dermatológica, genital, nasolabial ou ocular, ocorrendo disseminação do vírus para o gânglio pelo axônio do nervo sensitivo onde fica latente. Trabalhos recentes têm mostrado a latência do VHS em tecidos extraneurais como a córnea e úvea anterior. (MARANGON,2007). Os fatores capazes de estimular a reativação do HSV são variados, com destaque para imunodepressão, alterações hormonais, radiação ultravioleta (UV) e lesão traumática do nervo acometido. A latência viral nos gânglios pode, hipoteticamente, ser afetada pela presença dos neurotransmissores envolvidos nos estados de ansiedade, depressão e distúrbios comportamentais, também comuns nas recorrências. (MARANGON, F. et. al., 2007). Assim, neste trabalho, foi feito um estudo de caso referente a um tratamento de HSV associado à candidas albicans, que com o uso de vários medicamentos acarretou em um tratamento mais longo, ate se ter certeza da doença ser mesmo pelo vírus do herpes, associada a alterações de stress e baixa imunidade do paciente. 2. OBJETIVOS OBJETIVO GERAL Apresentar e discutir um relato de caso associado a herpes simples oftálmico com quadro clínico de lesões crostosas em hemiface direita acompanhado de baixa acuidade visual e diminuição da sensibilidade corneal do olho direito. OBJETIVOS ESPECÍFICOS – Identificar os problemas apresentados pela paciente do caso estudado. – Correlacionar os achados clínico-laboratoriais com os conhecimentos sobre o tema disponíveis na literatura. – Propor medidas de prevenção a partir da identificação dos problemas relacionados aos medicamentos utilizados na terapêutica do herpes. 2 METODOLOGIA Para confecção do relato do caso, foram colhidos dados disponíveis a partir de informações da paciente contidas em exames laboratoriais, exames clínicos, medicamentos utilizados no tratamento farmacológico e outros dados relevantes disponíveis em prontuário médico. Para melhor entendimento das informações obtidas, foi realizada pesquisa bibliográfica em bases de dados científicos digitais (Scielo, Bireme, Lilacs, Pubmed) especializadas no assunto. 3 RELATO DE CASO Paciente da raça branca, sexo feminino, 59 anos de idade, residente no município de Arapongas, Paraná, exerce atividades profissionais como professora de inglês do ensino fundamental e médio. Em agosto de 2004 a paciente apresentou quadro de irritação oftálmica no olho direito diagnosticada como conjuntivite, recebendo tratamento médico paliativo. Em setembro de 2004, a paciente se encontrava na cidade de Camboriu-SC e voltou a apresentar sintomas de irritação e prurido ocular, com ausência de secreção. Procurou atendimento médico na Unidade Básica de Saúde local, onde novamente foi diagnosticada conjuntivite. No dia seguinte a paciente procurou um especialista, que ao exame clínico diagnosticou a presença de herpes simples oftálmico em olho direito. Foi iniciado tratamento medicamentoso tópico com colírios, recomendando à paciente que ao retornar para sua cidade de origem desse segmento ao acompanhamento médico com oftalmologista. Seguindo a recomendação médica, consultou especialista que orientou a paciente a continuar com a mesma medicação prescrita anteriormente. Após um ano de tratamento com pouco sucesso, a paciente decidiu mudar de médico, procurando um especialista na cidade de Londrina-PR, que através da solicitação de exame de cultura de secreção oftálmica detectou a presença de Cândida albicans, iniciando o tratamento do fungo concomitantemente à terapia medicamentosa contra o herpes oftálmico. Devido à intensidade dos sintomas e à procura de atendimento médico semanalmente sem melhora do quadro, a paciente procurou tratamento especializado em São Paulo-SP, onde o médico decidiu realizar várias raspagens oftálmicas e prescreveu diversos colírios, totalizando mais de 10 tipos diferentes de soluções oftálmicas. Durante 2 anos a paciente foi submetida a diversos procedimentos, sem melhora. Em junho de 2007 foi realizada consulta com outro profissional médico, que realizou novos exames e decidiu reduzir para 3 o número de colíros utilizados, além de associar ao tratamento a ingestão oral de aciclovir 400 mg e aciclovir pomada oftálmica. A paciente encontrou grande dificuldade na aquisição do aciclovir oftálmico (já que o medicamento comercial Zovirax® encontrava-se fora de fabricação) e optou pela manipulação da pomada em farmácia especializada no município de Curitiba - PR. Neste período foi diagnosticado que a paciente apresentava necrose de córnea e indicado o tratamento cirúrgico via transplante de córnea. Durante o tratamento com aciclovir via oral, foram realizados exames periódicos para monitoramento da função hepática. A paciente foi afastada temporariamente do exercício de suas funções profissionais com retorno após 15 dias, pois segundo a perícia médica a mesma poderia exercer normalmente suas atividades escolares, mesmo com total comprometimento do olho direito. No retorno às suas atividades, a paciente notou a presença de sintomas alérgicos nos olhos ao manipular giz, sendo novamente encaminhada para perícia médica e afastada das atividades pelo período de 1 ano. Atualmente, a paciente faz tratamento em Londrina-PR sem sintomas de herpes oftálmico, realizando a terapia de manutenção com aciclovir 400 mg via oral. Em março de 2008, a paciente foi encaminhada para realizar o transplante de córnea, entretanto não recebeu cobertura de procedimentos cirúrgicos pelo plano de saúde e, devido à reincidência de herpes oftálmico, não pode fazer a cirurgia. A paciente continuou em tratamento, com perda da acuidade visual no olho afetado, aguardando novo chamado para realizar o transplante pelo SUS. O que ocorreu no dia 24 de julho de 2008, com sucesso. 4 - DISCUSSÃO Dentre os diversos especialistas consultados ao longo dos anos, não houve um consenso sobre o diagnóstico da paciente, já que alguns trataram como ceratite herpética empregando antivirais e na maioria dos casos, tratou-se como ceratouveíte e ceratopatia cristalina, processos inflamatórios crônicos. Neste relato de caso, foi confirmada a infecção por HSV através de sorologia realizada. O HSV é descrito como importante agente etiológico das doenças externas oculares, como a ceratite herpética. Esta doença corneana decorrente da infecção pelo HSV tem múltiplas manifestações que requerem tratamentos específicos e diferentes entre si. O insucesso da terapêutica medicamentosa nos quadros de ceratite herpética pode levar a perda da visão devido ao desenvolvimento de opacidade de córnea severa e, em alguns casos mais graves, colocar em risco o olho como um todo quando a infecção e ou inflamação levam a perfuração corneana por necrose do tecido (FREITAS, ALVARENGA, LIMA, 2001). O surgimento do herpes pode significar que a pessoa esteja passando por um momento de medo, ansiedade, raiva, frustração, depressão e até mesmo pânico e vergonha. É fato freqüente, observado e relatado pelos próprios pacientes, o aparecimento de um surto herpético durante ou após um episódio de tensão emocional ou por estresse físico, cansaço ou esforço demasiado. É comprovada a relação entre esses eventos e a reativação do herpes. (FARIA E SOUZA ,1997). O estresse físico ou mental altera o mecanismo da inflamação e da imunidade por meio do estímulo à secreção de corticotropina pela hipófise e conseqüente mudança nos níveis de adrenalina, noradrenalina e glicocorticóides. Esses efeitos do estresse mudam a distribuição e função das células de defesa, os linfócitos, e atuam sobre o equilíbrio de dois tipos de respostas Th1/Th2. Um incremento da imunidade por anticorpos em detrimento da imunidade direta contra os vírus e a alteração da função de barreira da pele rompem o equilíbrio cutâneo, que mantém os vírus sob controle. O resultado é uma nova crise herpética. (FARIA E SOUZA, 1997). Casos de necrose aguda de retina estão na sua maioria associados à infecção por HSV (MATOS, 2007), dependendo do estado imunológico do paciente e da agressividade do vírus (VARELLA, 2005). Aumento da pressão intra-ocular é outro ponto importante e comumente observado nas ceratouveítes herpéticas, sendo estas então, a causa mais comum de glaucoma secundário a uveítes (NAKANO, 2007). O tratamento da ceratite epitelial inclui o debridamento (com um cotonete seco retiram-se todas as células que coram com a rosa bengala) e a introdução do antiviral tópico. As ceratites estromais herpeticas são tratadas dependendo da severidade e localização da inflamação na córnea e da perda de tecido. (FARIA E SOUZA, 1997). Em relação aos medicamentos prescritos, foram no total 27 colírios diferentes, distribuídos entre antibióticos, antifúngicos, antivirais, substitutos da lágrima e cicatrizantes. As ceratites estromais herpéticas são tratadas dependendo da severidade e localização da inflamação na córnea e da perda de tecido. Se a ceratite não envolve o eixo visual, não há neovascularização corneana e o olho encontra-se calmo, opta-se pela observação, com a prescrição de lubrificantes e/ou cicloplégicos para promover um melhor conforto para o paciente. Se a reação inflamatória é severa, localizada próxima ou sobre o eixo visual e a neovascularização é presente ou mostra sinais de desenvolvimento, opta-se pelo uso de corticóide. (FARIA E SOUZA, 1997). A prescrição de colírios é indicada em casos de infecções, inflamações e processos cirúrgicos. São utilizadas quatro vias para introdução de medicações nos tecidos oculares: tópica, subconjuntival, retrobulbar e sistêmica. A via tópica é utilizada para administração dos colírios oftálmicos por garantir altas concentrações do fármaco nos tecidos superficiais do olho, câmara anterior, íris e corpo ciliar com instilações freqüentes no saco conjuntival. É altamente empregada por possibilitar o uso de medicamentos de alta toxicidade sistêmica como a neomicina e o nitrato de prata (FARIA E SOUZA, 1997). Foram prescritos diversos colírios à base de corticosteróides como prednisona e dexametasona. É descrito na literatura que o uso tópico de esteróides potencializa as ceratites por herpes simples e fungos. O paciente livra-se dos sintomas desconfortáveis destes quadros infecciosos, entretanto, a córnea é destruída pela imunossupressão local e proliferação dos agentes. O uso de corticosteróides tópicos por mais de 4 semanas pode desencadear elevação da pressão intra-ocular, em 30% das pessoas e em 5% dos casos, a elevação é grave com escavação do nervo óptico e perda de parte da visão de campo (FARIA E SOUZA, 1997). Assim, neste relato de caso, o uso de corticosteróides durante todos os anos de tratamento pode ser apontado como um dos principais agravantes do quadro clínico apresentado pela paciente. Na década de 90 foi realizado um estudo multicêntrico nos EUA denominado Herpetic Eye Disease Study (HEDS) com o objetivo de avaliar os diferentes aspectos clínicos e de tratamento da ceratite herpética. Em relação ao uso de corticosteróides, foi concluído que o mesmo leva a redução do processo inflamatório quando a doença não está mais ativa, ou seja, não deve ser administrado na vigência de infecção epitelial ativa. Os corticosteróides são totalmente contra-indicados na vigência de infecção epitelial herpética ativa, já que não aumentam a incidência de recorrência da ceratite epitelial viral, mas, se esta ocorrer, será agravada pelo seu uso uma vez que o corticosteróide promove a replicação viral (FREITAS, ALVARENGA, LIMA, 2001). Deve-se fazer a profilaxia antiviral quando se usa corticóide no tratamento da ceratite herpética para evitar a recorrência da infecção epitelial viral ativa. Esta profilaxia fica na dependência do tipo e freqüência do corticóide utilizado. A redução do corticóide deve ser feita lentamente e na dependência da resposta clínica, recorrência da inflamação, tolerância e efeitos colaterais em relação ao colírio. Não se deve diminuir em mais do que 50% a freqüência de uso do corticosteróide tópico para evitar-se o efeito rebote da inflamação (termo em inglês conhecido como flare dose) (FREITAS, ALVARENGA, LIMA, 2001). A administração de atropina colírio foi indicada devido ao seu efeito cicloplégico forte e de ação prolongada (até 10 dias) para promover redução da inflamação ocular. (FARIA E SOUZA, 1997). Se a ceratite não envolve o eixo visual, não há neovascularização corneana e o olho encontra-se calmo, opta-se pela observação, com a prescrição de lubrificantes e/ou cicloplégicos para promover um melhor conforto para o paciente. Se a reação inflamatória é severa, localizada próxima ou sobre o eixo visual e a neovascularização é presente ou mostra sinais de desenvolvimento, opta-se pelo uso de corticóide. O tipo e freqüência do corticóide vão depender da severidade da inflamação (FREITAS, ALVARENGA, LIMA, 2001). O uso de colírios a base de antibióticos deve ser limitado há no máximo 10 dias, devido á possibilidade de ocorrência de fenômenos alérgico-irritativos. Em associação com corticosteróides, pode promover o aparecimento de infecções fúngicas (FARIA E SOUZA, 1997), conforme observado neste relato de caso onde a paciente apresentou infecção por Cândida albicans. A eficácia da antibioticoterapia, nas infecções intraoculares, é limitada pela barreira hematoaquosa; assim. sempre que optar por essa via, devem-se escolher antibióticos que consigam vencer essa barreira com facilidade (FARIA E SOUZA, 1997). Os agentes fungicidas tópicos, para o tratamento de enfermidades oculares, são pouco efetivos(FARIA E SOUZA, 1997). Neste caso, os antifúngicos foram amplamente empregados durante todos os anos de tratamento, principalmente em associação com antibióticos e corticosteróides, podendo assim agravar o quadro infeccioso da paciente pela sua não efetividade e toxicidade. Após resultado da sorologia anti-HSV positiva, foi prescrito o uso de aciclovir sistêmico 400 mg/dia, uso contínuo. O aciclovir é um agente antiviral sistêmico que foi sintetizado na década de 70 e liberado para uso em 1982. Têm uma ação seletiva sobre os HSV e atua inibindo a replicação do DNA viral (RANGDALE, 2001). A segunda fase do estudo americano HEDS (1996) avaliou o uso de antiviral oral (400 mg de aciclovir 5x/dia) no tratamento da ceratite estromal herpética. Os resultados revelaram que não houve diferença estatisticamente ou clinicamente significante no benefício do uso de aciclovir oral em comparação ao placebo em relação ao tempo de resolução da doença ou acuidade visual final. Para monitoramento da toxicidade sistêmica dos medicamentos prescritos (colírios e aciclovir via oral), foram realizados periodicamente exames para avaliação do perfil renal, perfil hepático, hemograma e sorologias para verificação do estado imunológico da paciente, já que o quadro clínico arrastado por anos só é observado em casos de imunossupressão sistêmica. Todos os resultados dos exames realizados estiveram dentro dos limites considerados normais, indicando não haver toxicidade sistêmica dos fármacos utilizados(Anexo 8). A ceratite herpética recorrente causa, freqüentemente, cicatriz corneana, sendo uma das principais causas de perda visual unilateral. A recorrência ocorre através da reativação do vírus no gânglio trigeminal, que, pelos nervos da divisão oftálmica do trigêmio, alcança os tecidos periféricos, como a córnea, e aí se replica. Segundo relato, a córnea pode ser o local de latência do vírus (ARAÚJO, MARIA, 2002). O transplante penetrante de córnea muitas vezes é necessário não somente para a reabilitação da visão, mas com objetivo terapêutico, nos casos em que a resposta ao tratamento específico e de suporte não forem suficientes. Embora alguns estudos revelem que transplante em herpes esteja associado à maior taxa de rejeição e falência a taxa de sobrevivência pode chegar a 71% em cinco anos (ARAÚJO, MARIA, 2002). 5 - CONCLUSÃO A análise deste caso permitiu concluir que: - O provável agente etiológico da patologia apresentada pela paciente foi o HSV, tanto pela sintomatologia clínica como pela sorologia reagente; - Houve dificuldade no diagnóstico clínico da lesão, já que diferentes especialistas em oftalmologia deram pareceres clínicos distintos; - Na tentativa de tratamento, foram utilizados medicamentos em grande quantidade, com pouca melhora do quadro clínico; - O insucesso terapêutico associado a não uniformidade no diagnóstico clínico prejudicaram em muito o processo de cicatrização e reparo da lesão, e provavelmente esta associação é responsável pelo mau prognóstico da lesão apresentada, que evoluiu para a perda da visão e necessidade de transplante; - Embora o HSV cause uma infecção de tratamento simples na maioria dos casos, o determinante das falhas terapêuticas observadas neste caso foi à incerteza no diagnóstico clínico. 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INTRODUÇÃO: A infecção oftálmica pelo vírus herpes simples (VHS) é considerada uma das principais causas de cegueira e perda da acuidade visual no mundo todo, principalmente quando não tratada ou medicada de forma incorreta (PEREIRA et. al., 2007). A infecção primária pelo vírus pode ser dermatológica, genital, nasolabial ou ocular, ocorrendo disseminação do vírus para o gânglio pelo axônio do nervo sensitivo onde fica latente. Trabalhos recentes têm mostrado a latência do VHS em tecidos extraneurais como a córnea e úvea anterior e sua reativação depende de diversos fatores, principalmente da imunidade do hospedeiro e estresse. OBJETIVOS: Apresentar e discutir um relato de caso associado a herpes simples oftálmico com quadro clínico de lesões crostosas em hemiface direita acompanhado de baixa acuidade visual e diminuição da sensibilidade corneal do olho direito. METODOLOGIA: Para confecção do relato do caso, foram colhidos dados disponíveis a partir de informações da paciente contidas em exames laboratoriais, exames clínicos, medicamentos utilizados no tratamento farmacológico e outros dados relevantes disponíveis em prontuário médico. Para melhor entendimento das informações obtidas, foi realizada pesquisa bibliográfica em bases de dados científicos digitais (Scielo, Bireme, Lilacs, Pubmed) especializadas no assunto. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Resumidamente, este relato de caso apresenta uma paciente branca, 59 anos, professora, que iniciou com quadro de conjuntivite em 2004 tratados com diversos colírios, sem melhora. Após 1 ano, foi diagnosticada infecção concomitante por Cândida albicans que foi tratada por 2 anos com aproximadamente 10 tipos de colírios diferentes e, sem melhora, foi submetida à raspagem oftálmica. Em 2007, foi diagnosticada necrose corneal e iniciou-se o tratamento com aciclovir via oral, enquanto a paciente aguarda transplante de córnea. Durante estes anos, houve perda progressiva da acuidade visual sem melhora do quadro de herpes, com conseqüente dano corneal, típicos da infecção herpética oftálmica não tratada ou tratada incorretamente. O fator imunológico nesta paciente parece ser importante já que além do VHS a mesma manifestou infecção por Cândida albicans, um fungo oportunista. CONCLUSÃO: A utlilização incorreta do tratamento medicamentoso relatado neste caso parece ter agravado o quadro clínico da paciente e contribuído para a perda da acuidade visual e necrose corneal, tendo como conseqüência a necessidade do transplante. REFERÊNCIAS: PEREIRA, S. R. F. G. et. Al. An immunofluorescent test for diagnosis of ophthalmic herpes in a mouse corneal model. Rev. Inst. Med.Ttrop. S. Paulo, 49(2):8792, March-April, 2007.