INTERVENÇÃO Dr. José Vital Morgado – Administrador Executivo da AICEP **** Gostaria de começar por agradecer o amável convite da CIP para participarmos nesta conferência sobre um tema determinante para o crescimento sustentado da economia portuguesa, como é a dinamização do investimento nacional, a retenção e a atração de novo investimento estrangeiro. Sendo a atração de investimento uma das principais missões da AICEP, faz todo o sentido virmos aqui hoje reforçar o nosso compromisso e o total empenhamento nesta prioridade da economia portuguesa. Dinamizar o investimento de empresas portuguesas e atrair mais investimento estrangeiro para Portugal, quer seja investimento produtivo na indústria, quer seja investimento qualificado no setor dos Serviços, que crie emprego, permita aumentar as nossas exportações de forma sustentada e diminuir o nosso deficit externo, é um desígnio nacional e que exige o esforço conjunto e coordenado das entidades públicas e privadas. 1 Para a AICEP é um grande desafio que encaramos com determinação e otimismo. Apesar das dificuldades que ainda se verificam na nossa economia, a proposta de valor que hoje temos para apresentar aos potenciais investidores estrangeiros é bastante mais atraente do que a que tínhamos no passado recente em que vivemos anos difíceis de recessão económica. O nosso País cumpriu o programa de ajustamento e tem vindo a recuperar a confiança internacional nos mercados financeiros e na comunidade empresarial. Foram feitas reformas importantes que devem continuar para dotar a nossa economia com níveis de competitividade que se aproximem progressivamente das melhores práticas europeias. A União Europeia tem dez países no TOP 20 do Global Competitiveness Report 2014-2015. Portugal ocupa a 36ª posição depois de ter subido 15 posições, relativamente ao período 2013-2014. Nenhum outro País no Top 50 deste ranking teve uma subida desta ordem de grandeza. É uma melhoria muito significativa que se traduziu em resultados práticos nos últimos anos. As empresas portuguesas estão mais competitivas nos mercados externos. As exportações portuguesas de Bens e Serviços alcançaram um máximo histórico de 70 mil milhões de euros, no ano passado. Cresceram globalmente 30%, em valor nominal, nos últimos 5 anos. No que se refere às vendas para a 2 União Europeia, apesar da crise, da estagnação económica e do fraco nível da procura nos principais parceiros europeus, as exportações portuguesas de bens cresceram 50% e as exportações de Serviços cresceram 30%, nos últimos 5 anos. Na realidade, as exportações de bens e serviços têm sido o grande pilar do crescimento económico nos últimos anos. Houve setores de atividade que conseguiram uma performance notável nos mercados externos. Se analisarmos o que se passou no último ano, o setor agroalimentar, de que a Frulact é um exemplo de sucesso, cresceu 11%. O setor do Turismo cresceu 10%. O Vestuário cresceu mais de 9%; o Calçado mais de 7%. O setor da saúde exporta mais 11% tendo ultrapassado mais de 1.100 milhões de euros. Nos últimos 2 anos, a balança comercial portuguesa foi positiva o que já não acontecia há décadas. A intensidade exportadora da nossa economia tem vindo a crescer. As exportações representam cerca de 40% da riqueza que Portugal cria anualmente, quando há apenas 5 anos representava apenas 28%. Mas se nos quisermos aproximar de economias europeias de países como a Bélgica, a Áustria, a Dinamarca que têm um peso das exportações no seu Produto Interno Bruto superior a 50% ou mesmo da Irlanda onde este valor ultrapassa os 100%, temos 3 que conseguir atrair mais investimento inovador para a economia portuguesa. Na AICEP pensamos que atingir este objetivo está ao nosso alcance e que estamos perante uma oportunidade única, porque estão reunidos um conjunto de instrumentos que nos são proporcionados pela União Europeia e de condições macroeconómicas internas e de instrumentos que o Governo implementou recentemente, que permitem encarar com otimismo o desafio de relançar o investimento. Em primeiro lugar, o Portugal 2020. Este novo pacote de incentivos comunitários constitui uma oportunidade única para dinamizar o investimento nacional e atrair investimento estrangeiro para Portugal. Este novo quadro comunitário tem uma forte componente empresarial, privilegiando o investimento inovador, a melhoria da competitividade e a internacionalização das empresas portuguesas. Cerca de 40% destes apoios comunitários, ou seja, cerca de 10 mil milhões de euros estão disponíveis para apoiar projetos empresariais. Esta percentagem de 40% contrasta com um valor de 28% das verbas do QREN destinadas às empresas, no período 2007 a 2013 e de 21% do 3º quadro comunitário de apoio, nos anos de 2000 a 2007. Há, portanto, uma grande aposta na criação de riqueza e na criação de valor que só pode ser conseguida se os empresários 4 investirem em projetos inovadores, melhorarem a competitividade das suas empresas e tiverem sucesso nos mercados externos. O Portugal 2020 aumenta a exigência na inovação nos projetos que vierem a ser dinamizados pelas grandes empresas, não sendo elegíveis projectos de mera expansão ou modernização. Nas regiões de Lisboa e do Algarve só serão elegíveis projectos inovadores que iniciem uma nova atividade. Uma das novidades do Portugal 2020 é que as despesas elegíveis incluem os gastos relacionados com a construção de projetos industriais e no sector do turismo, com períodos de reembolso e de carência mais favoráveis que no quadro comunitário anterior. Para apoiar projetos com estes objetivos, o Portugal 2020 dispõe de 9 mil milhões durante os próximos 6 anos, uma vez que os restantes mil milhões serão destinados a investimentos na modernização de infraestruturas ferroviárias para transporte de mercadorias e para a modernização dos portos, com o objetivo de facilitar o escoamento das exportações para os grandes centros consumidores. Outro programa importante e já aqui referido é o Programa da União Europeia de investimento em infraestruturas públicas nos próximos 3 anos que vai contribuir para dinamizar o investimento e modernizar ainda mais as nossas infraestruturas. 5 Portugal precisa de continuar a melhorar a sua infraestrutura digital e de velocidade de acesso à Internet para continuarmos a ser competitivos na atração de investimento na área dos centros de serviços partilhados. Temos uma proposta de valor muito competitiva nesta área que tem sido possível graças a uma maior ligação entre as Universidades, centros de investigação e as empresas. Este trabalho conjunto tem permitido atrair investimentos de grandes multinacionais de referência que instalam no nosso País centros de excelência de serviços partilhados e de desenvolvimento de software, que tem criado emprego para milhares de jovens altamente qualificados. Outro instrumento europeu que vai contribuir para o relançamento do investimento, também já aqui referido, é o início da compra de dívida pública pelo Banco Central Europeu. Também não posso deixar de referir a acentuada desvalorização do euro face ao dólar, que torna os ativos em Portugal, nomeadamente de setores transacionáveis, mais atraentes para o investidor estrangeiro. A nível nacional, gostaria de referir que ao longo dos últimos anos, Portugal tem vindo a corrigir alguns dos seus desequilíbrios estruturais, como é o caso das contas públicas e das contas externas e a implementar reformas para melhorar a sua competitividade, designadamente a reforma laboral e a reforma 6 do IRC – Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas. Esta última deverá ficar concluída em 2018 quando se prevê que a taxa possa atingir 17% face aos 31,5% de 2013, e tornar-se uma das mais competitivas da Europa. Outro instrumento de que dispomos é o novo Código Fiscal de Investimento, também já aqui referido, que aumenta de 20 para 25%, o limite máximo do crédito de imposto e aumenta a majoração pelo número de postos de trabalhos criado, pelo contributo do projeto para a inovação tecnológica, proteção do ambiente, valorização da produção nacional e se o projeto for localizada em regiões desfavorecidas. Também as Start-Ups têm o IRC igual a zero durante os primeiros 3 anos de vida da empresa. A proposta de valor que temos para apresentar a potenciais investidores estrangeiros incorpora uma nova realidade, que é o regresso da economia portuguesa ao crescimento económico em 2014, depois de 3 anos de recessão, estando previsto que o ritmo de crescimento acelere em 2015 e em 2016. Portugal tem também fatores distintivos que reforçam a nossa proposta de valor, nomeadamente a língua portuguesa e a sua localização estratégica entre a Europa e os Estados Unidos. O enorme mercado da língua portuguesa com os seus 230 milhões de consumidores e as excelentes relações diplomáticas 7 que Portugal mantém com os países da CPLP, são uma mais-valia para as empresas internacionais que investem em Portugal e que pretendem depois expandir-se para esses mercados. A nossa língua tem vindo a assumir um grande protagonismo internacional o que levou a revista de grande prestígio internacional – a Monocle – a dedicar a sua capa de uma das suas edições de 2012, a questionar “porquê é que a língua portuguesa é a nova língua do poder e dos negócios”. Portugal pode vir a assumir também um novo protagonismo quando as negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos, no âmbito do Transatlantic Trade and Investiment Partnership forem concluídas. A situação geográfica de Portugal assumirá uma grande centralidade, em termos de plataforma logística entre os dois blocos económicos, podendo vir a potenciar a nossa capacidade de atrair novos investimentos. Por tudo isto nos parece que é momento oportuno para relançar o investimento em Portugal. Como referi anteriormente, é fundamental haver um maior esforço de coordenação entre o setor público e privado. Vivemos num ambiente de grande concorrência internacional. Hoje todos os países querem atrair mais investimento, receber mais turistas e aumentar as suas exportações. Têm sido dados passos importantes para conseguir melhorar essa coordenação, com a criação do Conselho Estratégico de 8 Internacionalização da Economia, presidido pelo Senhor Primeiro-Ministro, a realização quinzenal da reunião de membros do Governo para a Coordenação dos Assuntos Económicos e de Investimento e as reuniões quinzenais da Comissão Permanente de Apoio ao Investidor, que é liderada pela AICEP. Temos vindo a preparar-nos para este desafio. Apresentámos recentemente um Plano Estratégico, onde uma das prioridades é a atração de mais e melhor investimento estrangeiro para Portugal. O nosso plano prevê, até ao final de 2016, o alargamento, em coordenação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, da nossa rede externa a um maior número de países e regiões com um crescimento dinâmico da sua economia, bem como a criação de um grupo de técnicos altamente qualificados – a que chamamos FDI Scouts - dedicados à atração de investimento. Numa primeira fase, estes técnicos irão concentrar a sua atividade no contacto pessoal e no acompanhamento de potenciais investidores dos Estados Unidos e do Canadá, da União Europeia, da China, da Coreia do Sul e do Japão, trabalhando com o apoio dos nossos Centros de Negócios nesses países. 9 Em situações de incertezas geopolíticas e económicas como as que se vivem em muitas zonas do mundo, é fundamental transmitirmos confiança aos potenciais investidores interessados em Portugal, entregando-lhes informação fidedigna sobre o clima económico, sobre a legislação laboral e fiscal para fazerem a sua análise de risco que suporte o processo de decisão dentro das suas organizações. Os investidores não gostam de climas de incerteza. Apreciam a estabilidade e a previsibilidade. É aqui que a AICEP pode desempenhar um papel determinante com um acompanhamento personalizado com cada investidor para facilitar e agilizar os procedimentos necessários à realização dos seus investimentos em Portugal. Gostaria de concluir, reafirmando que o Portugal 2020 representa uma oportunidade única para relançar o investimento no nosso País e que a AICEP está à disposição das Senhoras e dos Senhores Empresários para vos apoiar nas vossas candidaturas a estes apoios comunitários que agora estão disponíveis. Muito obrigado. 10