Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Educação e Humanidades Curso de Serviço Social Trabalho de Conclusão de Curso ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS ÉTICO-POLÍTICAS PRESENTES NOS DIFERENTES CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DO (A) ASSISTENTE SOCIAL Autora: Meraldina Costa Oliveira Orientadora: Profª. MSc. Maria Valéria Duarte de Souza Sumário Sumário ................................................................................................................................. 1 Brasília - DF 2015 MERALDINA COSTA OLIVEIRA ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS ÉTICOPOLÍTICAS PRESENTES NOS DIFERENTES CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DO (A) ASSISTENTE SOCIAL Artigo apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade Católica de Brasília – UCB, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª MSc. Maria Valéria Duarte de Souza. Brasília 2015 Artigo de autoria de Meraldina Costa Oliveira, intitulado, “ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS ÉTICO-POLÍTICAS PRESENTES NOS DIFERENTES CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DO (A) ASSISTENTE SOCIAL”, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social da Universidade Católica de Brasília (UCB), em 10 de junho de 2015, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: _____________________________________________________ Profª. MSc. Maria Valéria Duarte de Souza Orientadora Curso Serviço Social – UCB _____________________________________________________ Profª. Drª. Luciana de Castro Álvares Banca Examinadora Curso Serviço Social – UCB _____________________________________________________ Assistente Social Esp. Alison Pereira Oliveira Banca Examinadora Membro Externo Brasília 2015 Dedico este trabalho a todos (as) os (as) professores (as) do Curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília que acreditam, sentem e vivem o Projeto ÉticoPolítico do Serviço Social. Aos estudantes, que possam viver em sua plenitude os valores éticos apreendidos durante o processo de crescimento profissional. Em especial, dedico aos teóricos do Serviço Social que na busca incessante do conhecimento, deixaram e deixam um legado de obras que foi fundamental para a construção desse trabalho. AGRADECIMENTO Primeiramente, à minha mãe Nilta, pela coragem pela qual enfrentou o mundo para criar 11 filhos e em nenhum momento permitir que alguém pudesse fazer isso por ela, pela sua força e sabedoria que mesmo não sabendo ler e escrever direito me ensinou que o único bem que poderia me dar era “os estudos” e eu aproveitei. Obrigada Mainha, eu te amo. Aos demais familiares minha gratidão e dizer que sou imensamente feliz em fazer parte da família Buscapé. Aos amigos do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que trilharam esse caminho comigo, em especial à Isabel, que me mostra a cada dia que mesmo em um contexto de grandes contradições é possível ser fiel aos princípios profissionais, obrigada Bel, pela força de todos os dias. À Fabiola, que por vezes foi o meu divã e com paciência ouve as minhas preocupações relacionadas à Universidade e sempre vibra com as minhas conquistas, obrigada querida, você é especial. À Vilma, que me chama carinhosamente de “Menininha”, você sempre acreditou em mim e isso acalenta o meu coração, gratidão e amor eterno! À Ângela minha madrinha, o que seria de mim sem você? Essa vitória também é sua, eu amo você. À Eliete, primeira Assistente Social que conheci e me encantei, eu a escolhi para ser a minha Mãe de coração e isso não tem preço, amor eterno. Aos (as) eternos (as) amigos (as) do Curso de Serviço Social da UCB em especial: Francisca, por me ensinar a ser forte nos momentos de adversidades; Juliana, Rayane, Maria Lucia, Thayná, Lorena, Anna Carolina, Antônia, Rosyane e Dandara obrigada pelo carinho, amizade e por me fortalecer nos momentos em que mais precisei nesta trajetória; ao quarteto fantástico: Helem, Ana Paula, Jane e Patrícia, exemplos de companheirismo. À querida Edna que com sua alegria me proporciona momentos de risos, obrigada amor. Em especial à Luciana (Lulu) dizer obrigada é pouco, sou grata à vida pela sua amizade e todos os momentos de risos, choros e brincadeiras, você é muito especial. Vocês são mais que amigas, são anjos, presentes de Deus para o meu coração. A todas (os) as (os) Professoras (os) que com sabedoria compreenderam minhas dificuldades nesta trajetória e acreditaram que eu poderia vencê-las. Em especial: Karina pela sua simplicidade, sensibilidade e sabedoria. Cláudia, quanta inteligência em uma única pessoa, meu eterno carinho e amizade. Paulo Quermes e Manoel, juntos podemos ser mais fortes. Professor Luis Delgado, querido, amigo, sem palavras... apenas amor e gratidão. Ao querido Alison, grata por ter aceitado o convite para participar da minha banca, é uma honra saber que você também sentou nas cadeiras da Universidade onde hoje sento e me embriago com os ensinamentos dos (as) nossos (as) Mestres. Obrigada. À Vanusa e Ellen, meninas, vocês são ancoras preciosas na Secretaria do Curso e estão sempre dispostas a nos receber e ajudar, a vocês o meu muito obrigada. À linda professora Luciana, neste momento as palavras fogem e não consigo expressar aqui o tamanho do meu amor por você. Obrigada pelo cuidado, carinho e amizade. Gratidão. À querida Maria Valéria, então... apenas as lágrimas que caem agora são capazes de traduzir tanto amor, carinho e gratidão por tudo que fez por mim. Você é uma MÃE, que com delicadeza e cuidado me permitiu sonhar e acreditar em um mundo mais justo e humano. Pelas reflexões, orientações e ensinamentos, pela sua generosidade e amizade, muito obrigada. Obrigada Deus, por ter me feito assim tão forte... aqui é o começo de um lindo e longo caminhar. Namastê! 6 “Começaria tudo outra vez se preciso fosse”1 “É com muita emoção e, inclusive, nervosismo, que, nesse mesmo lugar, onde há 30 anos, parte do Serviço Social brasileiro se somava às lutas da classe trabalhadora pela liberdade [...] para consolidar, a cada dia, o que consideramos como o que há de mais rico na nossa profissão: o projeto ético-político profissional. (BOSCHETTI, Ivanete) “Estamos aqui para reconhecer a sintonia histórica da profissão com o movimento real e de luta dos/as trabalhadores/as naquele contexto, expressa pelo movimento sindical e pela explosão de movimentos sociais de vários matizes contra a Ditadura”. (BEHRING, Elaine) "A Chama em meu peito ainda queima, saiba! Nada foi em vão" “Estudantes e profissionais recém-formados/as, resgatem a história dos/as profissionais de Serviço Social de Minas Gerais e constatarão que à frente deles estava a assistente social Leila Lima. Somos muito gratas a você Leila. O Serviço Social brasileiro lhe deve muito. Que bom que você está aqui, celebrando conosco a memorável “Virada” (ERUNDINA, Luiza) “Nossas mãos, nossos pés, nossos corpos juntos com os nossos sonhos nos fazem juntar forças para abrir caminhos na barbárie, clareiras na escuridão do medo, acender a chama da esperança, soprar as cinzas do desânimo, inventar o mundo da emancipação humana, esse sonho de milhões de seres humanos que, na forja da sua luta, buscaram o socialismo e a liberdade, a igualdade e a justiça, as condições de vida digna e a felicidade”. (FALEIROS, Vicente de Paula) ”A fé no que virá e alegria de olhar para trás: trinta anos do projeto ético-político-profissional”. “É preciso comprometer a profissão com os interesses e as necessidades das classes subalternas nessa sociedade. Temos um papel aí fundamental”. (YAZBEK, carmelita) 1 Falas retiradas do Seminário Nacional dos 30 anos do Congresso da Virada – 1979 -2009. CFESS. Brasilia: 2009. Disponivel em: http://www.cfess.org.br/arquivos/SEM30ANOSDAVIRADACFESSsite.pdf 7 ÉTICA E SERVIÇO SOCIAL: UMA ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS ÉTICOPOLÍTICAS PRESENTES NOS DIFERENTES CÓDIGOS DE ÉTICA PROFISSIONAL DO (A) ASSISTENTE SOCIAL MERALDINA COSTA OLIVEIRA Resumo: Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise dos diferentes projetos ético-políticos do Serviço Social observando a construção dos valores que fundamentam a atuação do (a) Assistente Social materializados nos Códigos de Ética do Serviço Social. Tais valores estão contidos nos cinco Códigos de Ética do Serviço Social onde cada um apresenta diferentes perspectivas ético-políticas dentro do contexto histórico em que foram elaborados. Tal análise sobre o processo histórico da construção da ética profissional do Serviço Social é necessária para entender que o profissional de Serviço Social está amparado em sua atuação, pois existem Leis que regulamentam a profissão bem como um Código de Ética que traz em seu instrumento normativo, direitos, deveres e princípios no qual o (a) Assistente Social deve pautar a sua práxis. Para atingir o objetivo deste artigo, optou-se por uma pesquisa bibliográfica e qualitativa, de natureza exploratória fundamentada em autores (as) críticos (as) do Serviço Social como BARROCO (2012, 2010); IAMAMOTO (2011, 2013); NETTO (2006, 1999, 2007, 2011, 2014), de outras áreas acadêmicas como VÁZQUEZ (2013) dentre outros (as) autores (as) que sustentaram o posicionamento critico desta autora Palavras-chave: Ética. Moral. Serviço Social. Código de Ética. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho possui relevância para o Serviço Social por tratar de uma análise dos valores que fundamentam a atuação do (a) Assistente Social tendo como foco de estudo os Códigos de Ética de 1947, 1965, 1975, 1986 e 1993, os diferentes projetos profissionais e os fundamentos teóricos metodológicos técnico-operativos contidos em cada um deles bem como o contexto histórico em que foram elaborados. A pesquisa desse tema consiste em contribuir para a formação daqueles (as) que pretendem estudar com maior profundidade os valores éticos e morais que pautam o Serviço Social, bem como os aspectos históricos do surgimento dos Códigos de Ética e o fortalecimento do novo projeto ético-político apresentado pelo Código em vigência. O interesse pelo tema veio de uma inquietação que está presente desde os primeiros instantes da vida acadêmica desta autora, quando as interrogações e questionamentos teimavam e teimam em deixar-me num estado de profunda reflexão e a necessidade da busca por respostas. Preocupa-me compreender os princípios e valores que fundamentavam e fundamentam a prática profissional do (a) Assistente Social, uma vez que esta é uma das profissões que possuem um Código de Ética. Aguça-me a curiosidade de um estudo mais aprofundado da trajetória histórica do Serviço Social, como por exemplo, saber até que ponto 8 a igreja católica influenciou a pratica do (a) Assistente Social e se hoje ainda possuímos resquícios desta influência; se o Código de Ética vigente rompeu de fato com o conservadorismo profissional, com a visão a-histórica de sociedade e de profissão; as diferentes funções que o (a) profissional do Serviço Social se submeteu através do materialismo histórico dialético; enfim, inúmeros são os questionamentos que estarão sempre presentes na vida daqueles (as) que pretendem percorrer este caminho árduo, porém, gratificante. Sabe-se que embora o senso comum costume dizer que Ética e Moral são a mesma coisa, VÁZQUEZ (2013) no corpo deste trabalho destaca que são termos distintos uma vez que a moral estabelece princípios e valores, a ética busca uma compreensão, uma reflexão aprofundada sobre esses princípios e valores morais. Os pressupostos históricos e conservadores do Serviço Social encampados nos Códigos de Ética de 1947, 1965 e 1975 trazem uma visão a-histórica, acrítica e a-classista da moral, da ética bem como de homem e uma visão abstrata de sociedade, onde somente na década de 80 sob o regime autocrático burguês (NETTO, 2011), o Serviço Social através do Código de Ética de 1986 visualiza outro projeto societário e profissional, porém devido o momento de grandes lutas em que o Brasil passava, o Código possuía na sua estrutura algumas lacunas que levou à necessidade de reformulação quando da elaboração do Código de 1993 que rompe definitivamente com o conservadorismo, a visão acrítica e a-histórica da ética e moral. Este Código que está em vigência estabelece no seu instrumento normativo princípios fundamentais, direitos e deveres que norteiam a atuação do (a) Assistente Social (BARROCO & TERRA, 2012). O Código de Ética dos (as) Assistentes Sociais é a direção para a profissão. Nele podemos encontrar os princípios fundamentais que devem nortear as práticas destes profissionais, são princípios que dão suporte para vencer os desafios do dia a dia. O Código de Ética nos indica um rumo ético-político, um horizonte para o exercício profissional. O desafio é a materialização dos princípios éticos na cotidianidade do trabalho, evitando que se transformem em indicativos abstratos, deslocados do processo social. Afirma, como valor ético central, o compromisso com a parceria inseparável, a liberdade. Implica a autonomia, emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais, o que tem repercussões efetivas nas formas de realização do trabalho profissional e nos rumos a ele impressos. (IAMAMOTO, 2011, p. 77). Todavia, para desenvolver o tema, o presente artigo foi dividido em 5 itens: 1) Introdução; 2) A Ética e a Moral, trazendo conceitos de ética e moral, a história da moral bem como a correlação entre ética e Serviço Social; 3) O processo histórico de construção da ética profissional no Serviço Social, ressaltando os diferentes contextos históricos dos Códigos de Ética de 1947, 1965, 1975 e de 1986 que traz a ruptura com o conservadorismo presentes nos três primeiros Códigos; 4) A consolidação da perspectiva ética emancipatória: o Código de 1993 que é a consolidação e materialização do projeto ético-político do Serviço Social e por fim o item 5 que traz as considerações finais deste artigo. Este estudo foi elaborado através de pesquisa bibliográfica que segundo GIL (2007, p. 44) é “desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Outra metodologia adotada foi a pesquisa qualitativa que segundo MINAYO (2009, p. 21) “[...] trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. [...]”. Parte deste material foi baseado em livros e artigos de pesquisadores (as) e teóricos (as) que embasaram toda a estrutura, pautando no pensamento dialético e as dimensões dos fundamentos teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo do Serviço Social. 9 2. A ÉTICA E A MORAL 2.1 Conceituando Ética e Moral Ao vivermos em sociedade, nos deparamos com normas e regras que pautam o comportamento humano e determinam as ações que devemos seguir. O homem como ser social é constituído da troca efetuada no convívio com outrem na vida cotidiana. O comportamento pautado por normas orientam também os juízos de valor elaborados para julgar as relações cotidianas entre os indivíduos constituindo assim a base do agir moral. É no cotidiano que o indivíduo lapida-se efetivamente como ser social e exercita hábitos, costumes e normas de comportamentos pré-estabelecidos anteriormente em sua formação e aceitáveis ou não dentro da sociedade. Para VÁZQUEZ (2013, p. 16), nas relações cotidianas, “os indivíduos se defrontam com a necessidade de pautar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas”. Nesta perspectiva, quando o homem defronta com situações que o coloca frente a decisões importantes do que é bom ou ruim, ético ou não, este é levado a um questionamento sobre o seu comportamento diante daquele problema. O indivíduo tem consciência dos seus atos bem como das consequências e reconhece sua responsabilidade, porém, a reflexão teórica desse ato depende de um estudo aprofundado pela ética e, neste sentido, a ética “pode contribuir para fundamentar ou justificar certa forma de comportamento moral” (VÁZQUEZ, 2013, p. 20). Ética e moral são termos distintos, embora o senso comum costume dizer que são mesma coisa. Para o autor acima citado, a moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos e entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal. (VÁZQUEZ, 2013, p. 83). O autor define ética como sendo “a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade” (p. 23). Corroborando com a definição acima, NETTO reitera afirmando que a moral é um sistema mutável, historicamente determinado, de costumes e imperativos que propiciam a vinculação de cada indivíduo, tomado na sua singularidade, com a essência humana historicamente constituída, com o ser social tomada na sua universalidade. A ética, por seu turno, é a análise dos fundamentos da moral, remetendo compulsoriamente à reflexão filosófica ou metafilosófica. (NETTO,2006, p. 23). Enquanto a moral estabelece princípios e valores, a ética busca uma compreensão, uma explicação, enfim, uma reflexão aprofundada sobre eles, apontando, inclusive, aspectos perniciosos de determinados princípios e valores morais. 2.2 A Moral e sua História. Em princípio vale ressaltar que a moral é histórica assim como o homem o é. Neste sentido, a moral é mutável, sofreu e, por conseguinte sofre variações de uma época para outra bem como de uma sociedade para outra. 10 Porém, determinadas concepções de moral, são marcadas por um a-historicismo. Colocam a moral de uma sociedade não como resultado da ação dos homens na produção e reprodução de sua existência. Estas concepções distanciam o princípio da moral da historicidade do homem, colocando a origem da moral como resultado de uma vontade para além do humano, na esfera do divino. VÁZQUEZ (2013) compreende que dentro destas interpretações, ao colocar o divino como origem da moral subtende-se que suas raízes estariam fora da história do homem. Num segundo pressuposto, a natureza é colocada como origem da moral, ou seja, a moral nasce com a natureza, uma terceira concepção, o autor destaca o homem imutável, dotado de essência eterna como origem da moral e não o homem histórico. De acordo com VÁZQUEZ, a moral é histórica precisamente porque é um modo de comportar-se de um ser – o homem – que por natureza é histórico, isto é, um ser cuja característica é a de estar-se fazendo ou se autoproduzindo constantemente tanto no plano de sua existência material, pratica, como no de sua vida espiritual, incluída a moral. (VÁZQUEZ, 2013, p. 37). Diante desta linha de pensamento, o autor acima citado constata que, a origem histórica da moral despontou no exato momento em que o homem domina sua natureza instintiva e constituindo uma natureza social, passa a fazer parte de uma coletividade, tendo consciência do seu papel no desenvolvimento próprio e da comunidade. Ao fazer parte da coletividade, o indivíduo passa a trabalhar a natureza a seu favor utilizando de seus produtos naturais para a satisfação de suas necessidades. A necessidade de subsistência faz com que o homem estabeleça deveres ou obrigações para a comunidade, neste ínterim, VÁZQUEZ (2013, p. 41) contempla que “esta moral coletivista, característica das sociedades primitivas que não conhecem a propriedade privada nem a divisão em classes, é uma moral única e válida para todos os membros da comunidade”. Esse regime comunal desaparece com o advento da propriedade privada e a divisão de classes. A propriedade privada ocorreu a partir do momento em que a produção deixou de ser de subsistência e passou a ser acumulativa gerando um excedente, colaborando assim para a desigualdade de bens e a divisão de classes entre homens ricos e pobres, estes escravos e aqueles livres. Com a divisão de classes entre homens livres e escravos, surgiram duas morais a dos homens livres e dos homens escravos. A fundamentação da moral dos homens livres baseava-se no pensamento filosófico da antiguidade2, a concepção da moral dos escravos, por sua vez, não alcançava um nível teórico (VÁZQUEZ, 2013). Assim, de fato existiam duas morais: uma, dominante, dos homens livre – a única considerada como verdadeira –; e outra dos escravos, que no íntimo rejeitavam os princípios e as normas morais vigentes e consideravam validos os seus próprios, na medida em que adquiriam a consciência de sua liberdade” (VÁZQUEZ, 2013, p. 43). Com a abolição do sistema em que o homem escravizava o outro, tirando-lhe a liberdade, surge uma nova sociedade, onde o homem escravo passou a ser chamado de servo que trabalhava para o seu senhor e em troca participavam de um pouco dos frutos do seu trabalho. Para VÁZQUEZ, trata-se da sociedade feudal, cujo regime econômico-social se caracteriza pela divisão em duas classes sociais fundamentais: a dos senhores feudais e a dos camponeses servos; os primeiros eram donos absolutos da terra e detinham uma 2 VÁSQUEZ (2013) cita como pensadores Sócrates, Platão e Aristóteles. 11 propriedade relativa sobre os servos, presos a ela durante a vida inteira. [...] A moral da sociedade medieval correspondia às suas características econômico-sociais e espirituais. (VÁZQUEZ, 2013, p. 45). Nesta sociedade, a moral estava impregnada de conteúdos religiosos, códigos morais destacando-se o código da aristocracia feudal que sobrepunha aos outros, mas os servos não possuíam uma codificação das suas regras e princípios (VÁZQUEZ, 2013). E no meio dessa fidalguia, surgiu uma nova classe social, possuidora dos meios de produção e acumulação do capital, a burguesia, e do outro lado, o nascimento de outra classe, dos trabalhadores assalariados ou proletários, que diferente do feudalismo, vendia a sua força de trabalho e não dispunham dos frutos do seu trabalho. Neste contexto, a moral toma um caráter individualista e egoísta que corresponde às relações sociais burguesas (VÁZQUEZ, 2013), cultuando a riqueza e a acumulação de capital. Diante do que foi elencado, VÁZQUEZ, conclui que a moral vivida realmente na sociedade muda historicamente de acordo com as reviravoltas fundamentais que se verificam no desenvolvimento social [...] a história nos apresenta uma sucessão de morais que correspondem às diferentes sociedades que se sucedem no tempo. Mudam os princípios e as normas morais, a concepção daquilo que é bom e daquilo que é mau, bem como do obrigatório. (VÁZQUEZ, 2013, p. 52). Assim, pois, o progresso moral está intrínseco ao progresso histórico, não se pode separar a passagem de uma sociedade para outra, porém, para o autor acima citado, o progresso histórico pode ter consequências positivas ou negativas para o progresso moral. Pelo fato que tenham essas consequências não se conclui que não possamos julgar ou avaliar moralmente o progresso histórico. Só posso julgar moralmente os atos realizados livres e conscientemente, e, por conseguinte, aqueles cujas responsabilidades podem ser assumidas por seus agentes. (VÁZQUEZ, 2013, 57). Ao pensarmos em ética já nos vem à mente juízos de valores referentes à conduta humana que pautam em julgar comportamentos de indivíduos para consigo ou para a sociedade seja do ponto de vista do bem ou do mal. Na perspectiva de VÁZQUEZ (2013, p. 22) a “ética não cria a moral”, ou seja, é a moral que estabelece valores, normas, regras referentes ao comportamento humano e não ética. Para o autor, “ética é a ciência da moral” (p. 23) isso determina que a ética estuda os valores estabelecidos pela moral que pautam o comportamento humano. Assim, não se pode confundir ética e moral. A moral determina valores e a ética estuda os valores determinados pela moral. É na perspectiva de VÁZQUEZ que consideramos a Ética: não como sinônimo da moral ou sua justificadora, mas a questionadora, a indagadora da moral em seus fundamentos. Nessa perspectiva, uma postura ética implica em questioná-la quem a servem os valores morais, que interesses sustentam e que visão de mundo e de sociedade reproduz. É está referência ética que adotaremos ao analisar os Códigos de Ética já existentes no Serviço Social Brasileiro, incluindo o Código em vigor. 2.3 Ética e Serviço Social Neste tópico abordaremos aspectos relativos a trajetória da ética no Serviço Social. O Serviço Social surge no Brasil no inicio do século XX intrinsecamente relacionado às transformações econômica, politica e social do capitalismo, respaldados pela Igreja Católica a 12 favor da burguesia capitalista. Neste cenário, momento em que a questão social repontava diante das desigualdades sociais, as classes trabalhadoras por meio das manifestações, traziam à tona questões como a falta de direitos trabalhistas, a precarização das condições de trabalho, o não acesso à saúde, educação, dentre outras, fez-se necessário a formação de um profissional denominado “agentes sociais” 3 para atuarem em meio à classe trabalhadora articulando os interesses do Estado e do capitalismo burguês (IAMAMOTO e CARVALHO, 2011). Para MARTINELLI, a origem do Serviço Social como profissão tem, pois, a marca profunda do capitalismo e do conjunto de variáveis que a ele estão subjacentes – alienação, contradição, antagonismo-, pois foi nesse vasto caudal que lhe foi engendrado e desenvolvido. (2011, p. 66). O Estado e a Igreja Católica tratavam a questão social como questão moral, assim as ações dos agentes sociais estavam voltadas para o ajuste moral dos indivíduos, imposição dos valores conservadores e a coerção política assim, qualquer atitude contrária era vista como imoral, e contrapondo a este contexto, IAMAMOTO & CARVALHO entendem que, a questão social não é senão as expressões do processo de transformação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO & CARVALHO, 2011, p. 84). Em meio a essas questões e com a ampliação do processo de intervenção da Igreja Católica, surge em 1932 o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), na cidade de São Paulo, e a formação das profissionais que seriam as futuras assistentes sociais possuía influência da Ação Católica e do Estado. Para CASTRO, a criação do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), destinado a forjar uma superior militância católica mercê de uma ampla mobilização direcionada à recuperação, pela Igreja, da sua influência e dos seus privilégios. O CEAS foi considerado como o vestíbulo da profissionalização do Serviço Social no Brasil. (CASTRO, 2010, pg. 103). O objetivo do CEAS consistia em “promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja Católica e fundamentar sua ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais”4 visando “tornar mais eficiente a atuação das trabalhadoras sociais e adotar uma orientação definida em relação aos problemas a resolver, favorecendo a coordenação de esforços dispersos nas diferentes atividades e obras de caráter social”5. Já no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, as primeiras experiências surgiram em 1936 e assim como em São Paulo, o influxo burguês e Católico “era uma luta travada para 3 A formação desses “agentes sociais” burgueses era baseada na ideologia cristã e objetivavam sua atuação na caridade e na repressão. Esses agentes na sua maioria jovens da sociedade atuavam junto às famílias, crianças, mulheres, dando-lhes instruções sobre higiene, no caso das mulheres donas de casa ensinavam prendas domésticas, e os valores encampados pela doutrina cristã. 4 CERQUEIRA apud IAMAMOTO, Relações Sociais e Serviço social no Brasil, 2011, p. 179. 5 Estatuto do CEAS. São Paulo: Arquivo das Escolas de Serviço Social da PUC. Disponível em: <http://www.pucsp.br/graduacao/servico-social> acesso em 24/09/2014 13 defender o povo de influências consideradas nocivas e para constituir-se como força normativa da caridade” (CASTRO, 2010, p. 107). Com a fundação da primeira Escola de Serviço Social no Brasil, em 1936, inicia-se um processo de profissionalização que se ampliará nos anos seguintes quando os novos profissionais passaram a ser requisitados pelas instituições estatais que se ampliam no governo Vargas. Os primeiros cursos tinham caráter de formação técnica mas recebiam, ainda, forte influência do pensamento neotomista6, então predominante nos meios cristãos e que embasou as primeiras escolas da área. A Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro, as encíclicas papais Rerum Novarum de Leão XIII7 que consiste na divisão proposta entre socialismo e a Igreja “salientando as formas de exploração da força de trabalho assalariada permitindo assim a acumulação capitalista” (CASTRO, 2010, p. 52) e o Quadragésimo Ano, de Pio XI8 “reafirmando a importância da ação orientada para responder ao grande desafio do paganismo e da secularização” (IDEM, p. 61), nortearam os discursos que traziam a negação das concepções socialistas e liberais, reduzindo a questão social a problemas morais. No período histórico supracitado, de negação e submissão, o Serviço Social brasileiro avança e com isso surge a necessidade de criação de órgãos representativos da profissão. Entre os órgãos criados em 1946 destacam-se a Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS) e a Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS). A primeira era responsável pelas articulações politicas, organização e legitimação do trabalho profissional a segunda por sua vez, desenvolvia as ações relacionadas à formação acadêmica, currículos, escolas e pesquisas (BARROCO, 2010a). É nesse processo histórico ultraconservador e de influência neotomista que a ABAS aprovou o primeiro Código de Ética Profissional do Assistente Social datado de 1947, trazendo em seu contexto histórico vínculos arraigados com a Igreja Católica e sua visão de mundo e de sociedade resultando em uma prática profissional assistencialista e moral conservadora. Os valores explicitados neste Código de Ética “acentua a herança conservadora do Serviço Social, mantêm referência ao personalismo”, (BARROCO, 2010a). A partir de então, o Serviço Social brasileiro começa a construir o seu projeto ético-político. Passados 18 anos e em um contexto social e político completamente diferente daquele no qual fora aprovado o Código de 1947, um segundo Código de Ética é aprovado em 8 de maio de 1965. Formulado um ano após o Golpe Militar, possui o mesmo viés conservador do primeiro Código. Este Código reflete a preocupação com o caráter técnico-cientifico que adere aos pressupostos das elites e “introduziu a consideração do assistente social como profissional liberal, inseriu os princípios do pluralismo, da democracia e da justiça, numa concepção liberal” (Barroco e Terra, 2012, P. 45). É no ano de 1975, dez anos após o segundo Código, em plena ditadura militar, o Serviço Social torna público o seu terceiro Código de Ética, buscando por uma atualização frente aos novos rumos que a profissão apontava, mas preservando a base filosófica tradicional e as mesmas concepções de mundo, sociedade e de homem (ser genérico e a-histórico) e visão de profissão como prática desconectada do movimento da historia, neste contexto, a profissão possui uma concepção personalista com influencia da matriz teórica fundamentada na fenomenologia. (BARROCO, 2010a). 6 O neotomismo é a retomada, nos séculos XIX e XX, da filosofia de Tomás de Aquino, teólogo do século XII, que construiu sua filosofia baseada nos princípios da teologia e nos fundamentos da filosofia de Aristóteles. (BARROCO e TERRA, 2012, P. 43). 7 Rerum Novarum é uma encíclica escrita pelo Papa Leão XIII a 15 de maio de 1891. 8 Quadragesimo Anno é uma encíclica do Papa Pio XI, promulgada em 15 de maio de 1931. Observa-se que este documento foi elaborado 40 anos após a divulgação da Rerum Novarum. 14 Ainda no Código de 1975, o Serviço Social apresentou um projeto ético-politico a-histórico, acrítico e a-classista, comportando uma visão de ética e moral abstrata tendo ainda presentes valores tomistas que influenciaram diretamente os dois códigos anteriores. Os projetos profissionais contidos em cada Código por razões de natureza política, econômica e social estavam alinhados com o projeto societário hegemônico de então. Entende-se que projetos societários são projetos macroscópicos, dinâmicos e têm como objetivo apresentar uma determinada forma de constituição da sociedade, anunciando os seus valores, as suas bases constituintes e os meios de efetivar a sua consolidação. NETTO (1999, p. 2) objetiva que “os projetos societários são projetos coletivos; mas seus traços peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade”9. Por projetos profissionais o autor acima citado explica que, os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações sociais privadas e públicas. 10 (NETTO, 1999, p. 4). O projeto societário de caráter autoritário iniciado no Brasil em 1964 começa a ver ruir sua base de apoio na segunda metade dos anos 70. A retomada das lutas sociais de diversas pautas, mas que tinham como elemento comum a luta pelo fim do regime ditatorial e pela redemocratização, começam a ganhar amplitude na mesma proporção em que o regime ditatorial perde força. É nesse contexto que a parcela crítica do Serviço Social, silenciada durante mais de dez anos, desde 1964 começou a retomar seu protagonismo político no interior da categoria na direção de um projeto emancipatório de sociedade e de profissão. Em 1979 ano de grande efervescência política no Brasil, aconteceu o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (III CBAS), que ficou conhecido como o Congresso da Virada. Esse evento se formou quando um grupo critico de profissionais engajados na política, enfrentaram o sistema ditatorial vigente e avançaram rumo a novos horizontes articulando um movimento de ruptura com a visão conservadora. (NETTO, 2011). Tal movimento resultou na ocupação de espaços deliberativos da categoria tais como a então Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social – ABESS ( hoje Associação de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS). Consolida-se um novo projeto hegemônico para o Serviço Social. E junto com este novo contexto ideológico e politico, os profissionais aprovam em 1986 o quarto Código de Ética do Serviço Social. Os vieses ideológicos que pautavam a atuação profissional emergente, era visível a divisão em duas categorias, de um lado, profissionais que traziam consigo resquícios da autocracia burguesa (NETTO, 2011) e de outro, um grupo crítico, que se pautava por uma nova leitura nos escritos de Marx para apreender a realidade social buscando construir uma nova visão de mundo e sociedade. Em relação às conquistas efetivadas neste Código, BARROCO & TERRA explicitam que, o conjunto de conquistas efetivadas no CE de 1986 pode assim ser resumido: o rompimento com a pretensa perspectiva “imparcial” dos Códigos anteriores; o 9 Texto extraído do artigo “A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social” , de NETTO, José Paulo, publicado no módulo 1 de Capacitação em Serviço Social e Política Social (Brasília, CFESS/ABEPSS/CEAD/UNB, 1999). 10 IDEM 15 desvelamento do caráter político da intervenção ética; a explicitação do caráter e classe dos usuários, antes dissolvidos no conceito abstrato de pessoa humana; a negação de valores a-históricos; a recusa do compromisso velado ou explicito com o poder instituído (BARROCO & TERRA, 2012, p. 48). Diante desta divisão de ideologia da liberdade e justiça social, do processo de desenvolvimento econômico, cultural, politico e social do Brasil, o Código de 1986 apostou muito no instrumento pedagógico, deixando a desejar enquanto instrumento normativo, ponto este que levou à reformulação e aprovação de um novo Código para reafirmar o compromisso com a classe trabalhadora e em especial renovar os seus fundamentos ético-políticos, teóricometodológicos e técnico-operativo, assim em 1993 foi criado o quinto Código de Ética do Serviço Social. O Código de 1993, preservando os avanços do Código de 1986, estabelece uma nova visão de projeto profissional e de sociedade, permanecendo a base teórica modelada dentro do marxismo. Este projeto profissional que é um projeto crítico ajuda a construir estratégias e enfrentamento aos aspectos cruciais do capitalismo e da burguesia. Para Netto, (2006, p. 25) “o novo projeto implica o compromisso com a competência, que só pode ter base o aperfeiçoamento intelectual do assistente social”. O novo projeto assinala o desempenho ético-político dos profissionais do Serviço Social e marca um novo rumo à normatização, ao aparato dado aos assistentes sociais. Neste âmbito, entendermos que o exercício profissional orientado por um projeto profissional que contenha valores universalistas, baseado no humanismo concreto, numa concepção de homem enquanto sujeito autônomo, orientado por uma teoria que vise apreender os fundamentos dos processos sociais e iluminar as finalidades, faculta aos assistentes sociais a consciência de pertencer ao gênero e lhe permite desenvolver escolhas capazes de desencadear ações profissionais motivadas por compromissos sociocêntricos que transcendem a mera necessidade pessoal e profissional [...], orientados por um projeto profissional critico os assistentes sociais estão prontos em termos de responsabilidades, a realizar uma intervenção profissional de qualidade, competência e compromisso indiscutíveis (GUERRA, 2007, p. 15). E neste sentido, o Projeto Ético-Político do Serviço Social procura dar um norte a pratica profissional dando vida ao agir ético construindo normas e deveres. E esta construção será o objeto de análise na próxima etapa deste trabalho, onde será feita a comparação dos Códigos de Ética que pautavam pela visão acrítica de ética, história e sociedade e o projeto éticopolítico que hoje está hegemonicamente em vigor. 3. O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DA ÉTICA PROFISSIONAL NO SERVIÇO SOCIAL O Serviço Social é uma profissão que atua na área das relações sociais, baseando sua práxis no ser social, sujeito histórico, bem como na construção de uma nova ordem societária. Por não ser estática, a sociedade passa por transformações de uma década para outra e assim os homens bem como os grupos sociais ou categorias sociais, vão se organizando criando normas, valores morais, expressos no comportamento, modo de agir, de se pautar diante da sua concepção de ver e sentir o mundo. Em meio a esses processos históricos da sociedade, formam-se as categorias profissionais que articulam seus princípios éticos e morais dentro da própria sociedade. O caminho que o Serviço Social percorreu passando pelas mudanças econômicas, sociais e ideo-políticas, por sua profissionalização até a contemporaneidade, é marcado por lu- 16 tas, persistências, rupturas e resistências, bem como a incansável luta pela legitimação para consolidar o projeto-ético político hegemônico e de consciência de classe e, neste contexto, a Ética se faz presente, passando por grandes mudanças a cada momento histórico da construção do profissional de Serviço Social. Historicamente, a ética profissional do Serviço Social está vinculada aos projetos profissionais vigentes no momento em que são elaborados. Na perspectiva de BARROCO (2010a, p.65) um projeto profissional “deve atender a necessidades sociais, realizadas de determinadas formas e produzir um resultado objetivo, com implicações sociais e desdobramentos éticos e políticos”, ou seja, um projeto profissional é construído diante do contexto histórico na qual determinada categoria pertence dentro da sociedade, procurando compreender as suas necessidades que por sua vez reclamam valores e resultados positivos na busca constante de ações dentro de um contexto sócio- histórico, cultural e político que se forma nas relações sociais. As particularidades da ética profissional para BARROCO (2010b, p. 69) é “permeada por conflitos e contradições e suas determinações fundantes extrapolam a profissão, remetendo às condições mais gerais da vida social” neste sentido, para a autora, a “ética profissional não é algo estático”, portanto, é no cotidiano do trabalho profissional que se apresentam as demandas específicas que permeiam e constituem as referências ético-morais, neste sentido, a Ética e a ética profissional devem andar juntas visando à totalidade. Com a emergência da questão social na terceira década do século XX, quando se iniciou o processo de industrialização e urbanização no Brasil, a classe trabalhadora (subordinada à burguesia e ao monopólio capitalista) por meio de manifestações sociais levou o Estado juntamente com a organização capitalista a articularem meios para conter esses movimentos que se tornavam frequentes. A Igreja Católica alia-se a essa nova ordem com a intenção de reajustar a moral das famílias, e dos sujeitos por meio da recristianização (BARROCO, 2010a). Com tudo isso surge as agentes sociais cuja formação era pautada em princípios e valores preconizados pelas Encíclicas Papais, o qual a prática profissional estava arraigada de forte teor moral de inspiração neotomista. Diante da efervescência do capitalismo, o Serviço Social nasce, articulado com um projeto de hegemonia do poder burguês, gestada sob o manto de uma grande contradição que impregnou suas entranhas, pois produzida pelo capitalismo industrial, buscou afirmar-se historicamente, como uma prática humanitarista, sancionada pelo Estado e protegida pela Igreja, como mistificada ilusão de servir (MARTINELLI, 2011, p. 66). Assim, a burguesia encobria a lógica do capitalismo aos trabalhadores como uma forma de mantê-los alienados diante das barbáries impostas por ele, fazendo com que os agentes sociais tivessem a ilusão de que estavam a serviço da classe trabalhadora e estes por sua vez sentiam-se protegidos pela Igreja e o Estado. O que na verdade era apenas um meio de manter os trabalhadores em um regime de exploração e dominação ditado pela burguesia capitalista, gerando assim a divisão de classes, a desigualdade social e a exploração da força de trabalho (MARTINELLI, 2011). Todavia, com a aliança firmada com a burguesia, o Serviço Social traz em sua essência histórica, para a autora acima citada, “a natureza de um projeto conservador, burguês, impregnado pela concepção de política e de ação social produzida pela visão de mundo da burguesia” (p. 124). Para contribuir com o posicionamento acima, IAMAMOTO (2013, p. 23) afirma que o “Serviço Social emerge como uma atividade com mais bases doutrinárias que científicas no bojo de um movimento de cunho reformista-conservador”. A base doutrinária citada produz a visão caritativa adotada pelos agentes sociais pautada no pensamento neotomista presente no meio cristão com o objetivo de reformar a classe trabalhadora. 17 Nestes princípios, o ethos profissional é consolidado na sua essência como uma vocação, onde indivíduos são dotados de um perfil ético-moral imaculado, o que leva a ter um corpo profissional essencialmente feminino, ditando normas comportamentais, e tendo como principal objetivo eliminar os desajustes sociais. Assim, diante do exposto, consideramos que a ética profissional do Serviço Social passou por grandes e profundas transformações ao longo dos seus quase 80 anos de profissão no Brasil e dentro dessa trajetória a profissão conheceu dois grandes projetos, o primeiro pautava por uma visão a-histórica e a-classista que teve sua vigência até a década de 70 e outro projeto que está em vigor pauta outra visão de mundo e sociedade. A construção ética profissional do Serviço Social se dá a partir da elaboração do seu primeiro Código de Ética em 1947. 3.1 Códigos de Ética do Serviço Social – Diferentes contextos históricos Muitas profissões ao longo da história passaram por grandes e significativas mudanças e possuem projetos societários que vão ao encontro com as especificidades de cada uma bem como da forma como estas profissões veem o mundo. Os Códigos de Ética do Serviço Social sofreram grandes mudanças ao longo da história da profissão refletindo assim projetos ético-políticos. No próximo tópico iremos trabalhar essa visão de sociedade e de profissão que nortearam e norteiam a profissão do (a) Assistente Social presentes nos Códigos. 3.1.1 Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais de 1947 Legitimando o ultraconservadorismo a Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), aprova em 29 de setembro de 1947 o primeiro Código de Ética do Serviço Social, trazendo em seus princípios a influência filosófica do neotomismo (base da Doutrina Social da Igreja Católica, crença em valores absolutos – a existência de Deus) e uma visão abstrata do homem. Em principio vale ressaltar que esse Código é composto por alíneas introdutórias e cinco seções, quais sejam, Deveres Fundamentais, Deveres para com o Beneficiário do Serviço Social, Deveres para com os colegas, Deveres para com a organização onde trabalha e Disposições Gerais. É imprescindível observar que ao profissional de Serviço Social é apresentado apenas deveres o que caracteriza o posicionamento do sistema capitalista e os valores humanistas neotomistas presentes no contexto histórico em que o Código é fundamentado. Na Introdução, Inciso I, o Código traz em sua concepção que “ a Moral ou Ética pode ser conceituada como a ciência dos princípios e das normas que se devem seguir para fazer o bem e evitar o mal” (ABAS, 1947). Nesse contexto, não há uma distinção entre moral e ética, ambas são a mesma coisa, e a ética é dada como ciência que direciona o modo de agir, decorrente da fé religiosa pautada pelo neotomismo. BARROCO refirmam a colocação acima, pontuando que a ética profissional opera de modo prescritivo, baseando-se em uma dicotomia entre o bem e o mal, que, no agir profissional, só aparentemente é abstrata, uma vez que traduz os dogmas cristãos e a moral conservadora. (BARROCO, 2010b, p. 96). Mas adiante no Inciso III o Serviço Social “[...] não trata apenas de fator material, não limita à remoção de um mal físico, ou a uma transação comercial ou monetária: trata com pessoas desajustadas ou empenhadas no desenvolvimento da própria personalidade”, nestes 18 termos, o objetivo primordial do Código é restaurar a sociedade, restaurando o homem, ou seja, os sujeitos eram considerados “desajustados” diante da organização da sociedade burguesa, se não agissem da forma como era prescrito. Para BARROCO & TERRA, na medida em que os valores e princípios afirmados por esse pensamento partem de princípios metafísicos, seus fundamentos são a-históricos: a subordinação do homem, da ética e dos valores à leis divinas leva a uma concepção essencialista, ou seja, que concebe a existência de uma essência humana transcendente à historia, doadora de valores a todos os seres humanos. (2012, p. 44). A práxis do Assistente Social está evidenciada nesse Código, baseada nos dogmas da Igreja Católica e em seu ideal de recristianizar e readaptar os sujeitos à sociedade, como rege o cap. I dos Deveres Fundamentais: “cumprir com os compromissos assumidos, respeitando a lei de Deus [...] inspirando seus atos ao bem comum [...] tendo em mente o juramento prestado diante do testemunho de Deus”. Assim, deixando explicito a perspectiva ética neotomista na prática profissional, bem como levando os indivíduos a aceitarem as diferenças entre as classes sociais e sua “condição naturalmente dada” assegurando assim a vivência harmoniosa entre todos. (BARROCO, 2010a). Para melhor compreensão, segue uma sistematização do Código de 1947, bem como dos outros que serão analisados, pontuando o contexto histórico da profissão, visão de mundo e o papel do Serviço Social11 . É imprescindível compreender que esse Código é de extrema relevância para a trajetória ético-politica e legitimação da profissão, não negando o viés conservador, religioso e positivista explícito, mas pelo fato que a partir dele deu-se inicio a construção do projeto ético-político contemporâneo. Código de Ética 1947 Contexto Histórico da Profissão Visão de Homem e de Mundo Criação das Instituições Visão abstrata de homem representativas do Serviço Visão de caridade / bondade Social Criação das escolas de Personalismo / indivíduos Serviço Social Desajustados Recristianizar e readaptar o Prática assistencialista sujeito a sociedade Prática pautada no Neotomismo Sistema capitalista burguês Conservadorismo Visão a-histórica e aClassista; Visão funcionalista Vínculos com a Igreja Católica Viés positivista e religioso Papel do Serviço Social Assistencialismo Ética conceituada como ciência Ética confundida como moral crista católica Manutenção da ordem e normas para amenizar os conflitos sociais. Fonte: Sistematizado por OLIVEIRA, 2009, adaptado para este trabalho 3.1.2 Código de Ética Profissional do Assistente Social de 1965 11 O quadro apresentado, foi sistematizado por OLIVEIRA (2009), em sua tese de Doutorado apresentada ao curso de Serviço Social, intitulada “As interfaces do Projeto Ético-Político do Serviço Social com a Cultura de Paz”, pela Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2009. A sistematização foi modificada e adaptada para este artigo, porém, mantendo alguns elementos do original. 19 O Serviço Social Latino Americano e o brasileiro, em particular, vivenciou, no final dos anos 50 e início dos anos 60 do século XX, um vertiginoso movimento que se propunha modificar o modelo de profissão até então reproduzido (conhecido como “Serviço Social tradicional). Tal movimento ficou conhecido como “Movimento de Reconceituação (também chamado de Reconceptualización ou renovação do Serviço Social. (NETTO, 2011). Originado dentro do amplo processo que NETTO (2011) denomina de “erosão do Serviço Social tradicional, processo de alcance internacional que se inicia no pós- segunda guerra mundial (1945) e que avança com força nos anos 1950, quando a complexificação do modelo urbano-industrial deixa às claras a limitação de um modelo profissional incapaz de dar respostas à magnitude dos problemas sociais. O Movimento de Reconceituação que para NETTO (2011, 127) representa um “caleidoscópio de propostas” configura-se, entretanto, em três tendências e perspectivas teóricometodológicas: a perspectiva modernizadora, a reatualização do conservadorismo e a intenção de ruptura. O Código de 1965 é aprovado no auge da tendência profissional que NETTO (2011) denomina Modernização conservadora, perspectiva modernizadora. Para o autor acima, a perspectiva modernizadora confirma o esforço no sentido de adequar o Serviço Social, enquanto instrumento de intervenção inserido no arsenal de técnicas sociais a ser operacionalizado no marco de estratégias de desenvolvimento capitalista, às exigências postas pelos processos sóciopolíticos emergentes no pós-64. (NETTO, 2011, p. 154). Essa perspectiva tem como característica o conteúdo reformista e o traço conservador, ou seja, uma formação acadêmica na busca de um novo perfil profissional “moderno” com traços tradicionalistas para atender a demanda da burguesia, atuando nas instituições capitalistas. As ideias dessa perspectiva em plena ditadura militar, foram propostas nos Seminários de Araxá (1967) e o de Teresópolis (1970). No primeiro trata a proposta de discutir a natureza do Serviço Social bem como a possibilidade de romper com os métodos de caso, grupo e comunidade, as propostas utilizam um discurso modernizador porém continuam usando sob nova roupagem os pressupostos tradicionais. Já o Seminário de Teresópolis por sua vez, traz a discursão sobre a requalificação profissional do assistente social definindo-o um “funcionário do desenvolvimento” capitalista bem como a discursão sobre a metodologia do Serviço Social (NETTO, 2011). Diante do cenário político autocrático burguês – Golpe Militar de abril de 1964 (NETTO, 2011) marcado pelas repressões às manifestações sociais.. A perspectiva crítica aos padrões profissionais tradicionais é silenciada pela conjuntura social e política instaurada pela autocracia burguesa em 1964 (NETTO 2011). Nesse contexto, a parcela hegemônica da categoria assume o discurso tecnicista, supostamente neutro, tendo como marca o forte apelo à “modernização” profissional. Tal modernizada, que se caracterizava pelo tecnicismo e “apoliticismo”, enseja alterações no Código de Ética aprovado em 1947. Assim em 8 de maio de 1965, um novo Código é aprovado e, não obstante apresentar elementos que não estavam presentes em 1947, como, por exemplo, o apelo à competência profissional, reproduz a base filosófica tradicional e os mesmos conceitos de sociedade e de homem pela concepção tomista positivista, a visão conservadora daquele Código. Cabe ressaltar que o termo “conservador” aqui referido diz respeito à postura acrítica e a-histórica diante do modelo social vigente, sem que se leve em conta as causas estruturais dos problemas sociais, atribuindo aos “desajustados” a causa de tais problemas . Desse modo, assim como o Código anterior, o Código de 1965, embora tentando sinalizar a modernização do Serviço Social, preserva em seu corpo normativo a mesmas concepções de mundo, de sociedade e de profissão. 20 Vale aqui atentar para as considerações elencadas na Introdução do Código de 1965 onde se destaca que “só à luz de uma concepção de vida, baseada na natureza e destino do homem” o Serviço Social poderá desempenhar “[...] a tarefa que lhe cabe na complexidade do mundo moderno”, então a profissão adquire uma “amplitude técnica e científica” (CE, 1965). Verifica-se que a concepção de homem está relacionada a um “destino” e a uma “natureza” e não às transformações societárias, ou seja, o homem é considerado um ser genérico e ahistórico (BARROCO, 2010a), desconectado das relações sociais. Contudo, a complexidade do mundo moderno apontada no Código na perspectiva de NETTO (2011) traduz a forma de organização da sociedade bem como a forma de reorganização do Estado durante o regime militar burguês. O projeto ético do Código de 1965 interpreta a moral como condição para dignidade humana, reafirmando a questão social como questão moral. É contraditório uma vez que considera o assistente social como profissional liberal conforme rege o Art. I do cap. I e dispõe no Cap. V – Dos deveres para com os serviços empregadores – é explicito a subordinação da categoria para com os empregadores quando pontua a exigência à lealdade e à imagem da instituição pautando pela eficiência e produtividade. Para melhor compreensão, segue a sistematização do Código de 1965. Código de Ética 1965 Contexto Histórico da profissão Visão de Homem e de Mundo Desenvolvimentista Ditadura Militar / repressão Homem a-histórico Ser genérico Movimento de Reconceituação: duas vertentes: conservadora reatualizada e Marxismo Método BH Conselhos fiscalizam a Profissão – CRAS e CFAS Princípios filosóficos Visão técnica e cientifica Fenomenologia Bem estar social Práticas assistencialista Caso, grupo e Comunidade – visão individualista, sem articulação Papel do Serviço Social Persistem atividades Caritativas Princípios de fraternidade no plano nacional e internacional Justiça social e penal Sigilo profissional visa direitos individuais Adquire status de profissional liberal Fonte: Sistematizado por OLIVEIRA, 2009, adaptado para este trabalho A ditadura militar durante o período de 1964 a 1985 marcou profundamente a história brasileira na violação dos direitos, nas torturas, na repressão, nos assassinatos, sequestros e desaparecimentos. Para NETTO (2011), esse espaço de tempo em que a sociedade brasileira foi dominada pela autocracia burguesa, afetou profundamente o Serviço Social tanto do ponto de vista de sua formação, das exigências do mercado de trabalho e de sua base de legitimação social. Mas, por outro lado, na resistência ao arbítrio, foi também, para o Serviço Social o despertar de uma nova consciência no processo de construção ético-política da profissão. A partir da segunda metade da década de 1970, a perspectiva crítica que fora silenciada começa a se rearticular na mesma proporção e intensidade com que o regime autoritário começa a perder sua base de apoio. De fato, desde a experiência iniciada pela Escola de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-MG, em 1973 e que ficou conhecida como a experiência do “Método BH” (referindo-se à cidade de Belo Horizonte, onde ficava a sede da referida Universidade), a perspectiva de não alinhamento com as concepções tecnicistas que vigoravam na profissão, sinalizou o reaparecimento de uma tendência que iria se fortalecer nos anos seguintes. A proposta era fomentar paradigmas novos para a compreensão dos problemas sociais articulada com um instrumental teórico, metodológico capazes de fazer eclodir um marco para a consolidação do 21 Serviço Social. Não obstante, esses profissionais sofreram todas as represálias impostas pela repressão politica da época, pois tais argumentos combatem as praticas tradicionalista e o conservadorismo imposto pelo capitalismo em torno da profissão, ainda assim com poucos espaços para se trabalhar, essa temática foi se espalhando nos meios acadêmicos e só mais tarde a medida que a sociedade vai percebendo a extensão dessa perspectiva é que o movimento vai ganhando forças e vencendo as barreiras universitárias (IAMAMOTO, 2012), (NETTO, 2011). A experiência de BH foi duramente reprimida, mas seus frutos prosperaram. 3.1.3 Código de Ética do Profissional do Assistente Social de 1975 Após dez anos de vigência do Código de 1965, o Serviço Social aprova em 30 de janeiro de 1975 o seu terceiro Código de Ética. De fato, muitos consideram que não se trata de um novo Código, mas apenas uma revisão do Código anterior (1965), incorporando os novos debates que aparecem no cenário da profissão, além de procurar fazer frente à rearticulação da perspectiva crítica, conforme apontado anteriormente. O Código de 1975 representa para NETTO (2011) um conservadorismo reatualizado, tal como a tendência teórica que despontava na categoria como o “novo”. Tal tendência, refere-se à apropriação de referências do pensamento fenomenológico, reduzindo-o porém a um subjetivismo que, novamente, ainda que por outras vias, enxerga no ‘”cliente” a causa dos problemas e a possibilidade de sua superação. O que poderia ser interpretado como valorização do sujeito, resvala, segundo o autor acima citado, a negação das causas estruturais dos problemas sociais, deixando intocadas as contradições do modo capitalista de produção. Desse modo, a perspectiva denominada por NETTO (20011) de Reatualização do Conservadorismo que, segundo o autor traz elementos do conservadorismo, com uma visão de mundo, que, embora considerando-se “nova”, remonta a concepções do pensamento católico tradicional que fundamentou os primórdios da profissão no Brasil. Assim, o Código de 1975, mantendo boa parte da forma e concepções do código de 1965 incorpora em seu texto elementos de inspiração fenomenológicas tal como a alusão ao “princípio da autodeterminação” como algo a ser preservado na relação “assistente social-cliente”. Sua visão de profissão, de homem, de mundo, bem como o “papel” do Serviço Social estão explicitados no quadro abaixo: Código de Ética 1975 Contexto Histórico da profissão Visão de Homem e de Mundo Papel do Serviço Social Ditadura Militar/repressão Personalista Concepção Personalista e Subjetividade fenomenológica Patologia / diagnostico / Reatualização do prognóstico individuais Conservadorismo Humanização da Retrocesso existência Profissional Valorização da pessoa liberal incluído o nível supe- Humana rior Negação do plurarismo Ruptura O homem era visto como Praticas conservadoras cliente Direitos e deveres Manter a ordem social Conservadorismo e Militância O Estado tem o direito de dispor sobre as atividades profissionais É admissível revelar segredo profissional para evitar danos ao cliente A pessoa humana como 22 fundamento central do Serviço Social Fonte: Sistematizado por OLIVEIRA, 2009, adaptado para este trabalho O contexto histórico em que o Código de 1975 foi promulgado era marcado por embates políticos e ideológicos diante do poder do Estado capitalista e da repressão militar. O movimento operário, sindical e profissionais liberais entre greves, passeatas, comícios unem-se na tentativa de romper com as atrocidades impostas pelo regime autocrático burguês (NETTO, 2014). No Serviço Social , a rearticulação de setores críticos que retomam o protagonismo político e colocam as bases para o surgimento de um outro projeto profissional. Foi o momento em que a classe trabalhadora retomava um sindicalismo, autônomo, de massas, livre, de base, de ação direta com as grandes mobilizações e greves sob a direção da classe operária, configurando- se em um sindicalismo classista. Este forte e combativo movimento sindical impulsionou, de norte a sul deste país, que trabalhadores/as de outras categoria profissionais se somassem às lutas operárias e às lutas populares. A categoria dos/as assistentes sociais, na retomada de suas organizações sindicais, a partir de 1977, se alinha, desde o primeiro momento, a esse sindicalismo classista 12 (ABRAMIDES13 , 2009, p. 52). É nessa conjuntura social e política que o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais tornar-se-á palco de uma acirrada disputa entre a parcela até então hegemônica na profissão e ou setores críticos cada vez mais fortalecidos. Tal criticidade apontava para um outro posicionamento ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo, que, contrariando a programação já criada para o evento, formou outra bancada para substituir a Comissão de Honra que era composta pelos representantes da autocracia burguesa. O III CBAS, que ficou conhecido como o Congresso da Virada, favoreceu o enfrentamento do conservadorismo a partir da compreensão da realidade, em toda a sua complexidade e contradição, tal como ela é, e não como se apresenta em suas manifestações mais simples e imediatas. É essa apropriação que contribuiu, ao longo desses 30 anos, para o amadurecimento teórico, ético e político do Serviço Social brasileiro. (BONETTI, 2009, p.13). Tal evento foi crucial para a retomada de uma revisão do Código de Ética em vigência e a perspectiva para construção de outro pautado nos novos posicionamentos da categoria, que viria a ser consolidado em 1986. O que será o objeto de estudo do próximo tópico. 3.1.4 O Código de 1986: Ruptura com o conservadorismo Os três Códigos estudados neste tópico quais sejam, o de 1947, 1965 e 1975 embora tenham sido elaborados em contextos históricos distintos, possuem a mesma visão de mundo, sociedade e de profissão em valores semelhantes nos Códigos de Ética. Trazendo em sua 12 Citação retirada do documento intitulado “Seminário Nacional dos 30 anos do Congresso da Virada – 1979 a 2009 – site http://www.cfess.org.br/arquivos/SEM30ANOSDAVIRADACFESSsite.pdf acesso em 27 de abr. de 2014. 13 ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa – Assistente Social, possui Doutorado em Serviço Social pela PUC –São Paulo. Atualmente é professora na PUC/SP no Curso de Serviço Social. Informações retiradas do site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4723001A9 em 20/05/2014 às 2h 23 especificidade valores afirmados no neotomismo e nos pressupostos do positivismo. Porém, a partir do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, um novo projeto profissional tornase hegemônico no Serviço Social. O a-historicismo, o acriticismo moral e ético e a suposta neutralidade técnica são substituídos por uma concepção profissional diretamente vinculada aos interesses da população usuária das políticas sociais . Cidadãos e cidadãs de direitos, não mais desajustados ou disfuncionais. Esta concepção de mundo, de sociedade e de profissão era incompatível com pressupostos éticos que se limitavam a justificar uma moral formada por valores que, por sua vez, também justificavam as diferenças sociais, a exploração, culpabilizando o indivíduo por sua própria situação de pobreza, vista como uma incapacidade pessoal, um desajustamento. Assim, a partir da constatação desta incompatibilidade, foi iniciado o processo de substituição do Código de 1975 por um novo Código de Ética que traduzisse os valores de um projeto profissional que deixava claro seus compromissos políticos com uma nova ordem societária. De fato, todo o contexto em que aconteceram as discussões para a elaboração deste novo código de ética coincidiu com as lutas pelo fim do regime militar. Este contexto, carregava em si a esperança de que, com o fim da ditadura, uma nova ordem societária, de caráter emancipatório enfim seria alcançada no Brasil. A ditadura militar encerrou-se em 1985, não com uma revolta popular, mas com um acordo entre vários setores das elites, muitos deles dissidentes da própria ditadura. Porém, o sonho de uma nova ordem societária se fez presente em muitos setores que acreditaram um sua efetivação, entre eles, o Serviço Social. O Código de 1986 traduz bem o “espírito” desse tempo. Todavia, é em 09 de maio de 1986 que esse sonho começa a ter forma quando o CFAS (Conselho Federal de Assistentes Sociais) torna público o quarto Código de Ética Profissional do Assistente Social trazendo em seu corpo normativo as divisões em títulos, capítulos, além da Introdução. Esse Código expressa o amadurecimento teórico e ético político da profissão, e o ponto primordial está no compromisso com a classe trabalhadora uma vez que a categoria assume que também pertence à esta classe . Esse posicionamento dá um novo sentido e definição à ética que passa a ser compreendida em “função do seu caráter histórico e de sua fundação na produção da sociedade” (BARROCO, 2010a, p. 176) e não mais pelo seu ahistoricismo conforme é explicitado nos Códigos anteriores. Pode-se observar esta mudança logo na Introdução ao Código quando aponta que “a categoria passa a exigir também uma nova ética que reflita uma vontade coletiva, superando a perspectiva a-histórica e acrítica, onde os valores são tidos como universais e acima dos interesses de classe”. (CE, 1986). Por conseguinte a nova ética é definida como resultado da inserção da categoria nas lutas da classe trabalhadora e, consequentemente, de uma nova visão da sociedade brasileira. Neste sentido, a categoria através de suas organizações, faz uma opção clara por uma pratica profissional vinculada aos interesses desta classe. (CE, 1986). Muitas foram as conquistas do Código de 1986, BARROCO & TERRA (2012) apontam um conjunto dessas conquistas, tal como desvelamento do caráter politico da intervenção ética; a explicitação do caráter de classe dos usuários, antes dissolvidos no conceito abstrato de “pessoa humana”; a negação de valores a-históricos; a recusa do compromisso velado ou explícito com o poder instituído” (BARROCO & TERRA, p. 48). Todavia, mesmo com todas essas conquistas o Código apresentava algumas 24 fragilidades que para BARROCO (2010a) uma delas é a inexistência de uma reflexão que sustentasse uma concepção ética e moral condizente com o novo posicionamento ideo-político e teórico da profissão. Para a autora, a falta de um debate sobre a “ética marxista ou sobre o debate filosófico marxista” nas mediações dos princípios éticos da profissão ainda que na ação educativa o recurso ao pensamento de Marx era fonte precisa nos fundamentos das pesquisas abordadas dentro do campo universitário. Para IAMAMOTO (2012, p. 191) outra fragilidade está na “distância constatada entre o tratamento teórico-sistemático das matrizes teóricas-metodológicas e a quotidianidade da prática profissional”, diante da linha de pensamento a autora comprova que o Código de 1986, empenhou muito no seu papel de instrumento normativo pedagógico não corroborando com a fazer profissional, ou seja, teoria e prática não andavam juntas. A questão normativa do exercício profissional no que diz respeito às sanções no qual o (a) Assistente Social está sujeito caso o profissional não cumpra com os seus deveres, do que é vedado ou não, estão nulos nos apontamentos do Código de 1986 o que levou a necessidade de reformulação, que resultou na aprovação de um novo Código que será o próximo objeto de estudo deste trabalho. Código de Ética 1986 Contexto Histórico da profissão Fim da Ditadura Militar Ruptura com a visão conservadora Inicio da Democracia Visão de Homem e de Mundo Visão de homem histórico Cidadãos e cidadãs de direitos Marco de ruptura do Serviço Social com o conservadorismo Categoria profissional Consolidação dos movimentos também é classe traba- sociais lhadora Aspectos político e educativo Desvelamento do caráter politico da Valores universais acima dos intervenção ética interesses de classe Papel do Serviço Social Código prevê direitos e deveres Valores universais Caráter histórico da Ética Categoria inserida nas lutas da classe trabalhista Participação politica em programas institucionais Cabe ao Assistente Social denunciar falhas das instituições e também as falhas de outros profissionais Fonte: Sistematizado por OLIVEIRA, 2009, adaptado para este trabalho 4. A CONSOLIDAÇÃO DA PERSPECTIVA ÉTICA EMANCIPATÓRIA: O CÓDIGO DE 1993 Diante das lutas sociais, políticas e das modificações socioeconômicas e culturais, das desregulações dos direitos sociais, da demanda crescente do desemprego, da falta de acesso às políticas sociais como educação, saúde, saneamento, habitação, que são demandas emergentes da nova fase capitalista neoliberal que eclodiu no Brasil durante o processo de redemocratização do País, ficou evidente que os profissionais do Serviço Social não poderiam continuar pautando o seu projeto ético profissional em um Código de Ética já superado diante dos contextos da realidade e com as fragilidades já apontadas no tópico anterior. A revisão do Código de 1986 para BARROCO (2010a, p. 199) teve como pressuposto “a consolidação do projeto profissional nele evidenciado numa perspectiva superadora, ou seja, de garantir suas conquistas e ao mesmo tempo superar suas debilidades”. O novo Código de Ética Profissional do (a) Assistente Social aprovado em 13 de 25 março de 1993 de introduzido pela Resolução CFESS n. 273/93 preserva todas as conquistas do Código de 1986, todavia este preocupa-se com as prioridades da sociedade e da classe trabalhadora, a democracia e justiça social, a equidade, dentre outros valores, como também articula todos eles pautados nos princípios e pressupostos da perspectiva critico-dialética da teorização marxista e as dimensões dos fundamentos teórico-metodológico , ético-político, técnico-operativo da profissão. O Código em estudo está dividido em títulos e capítulos além dos 11 (onze) princípios fundamentais. Para BARROCO & TERRA, o Código de Ética se organiza em torno de um conjunto de princípios, deveres, direitos e proibições que orientam o comportamento ético-profissional, oferecem parâmetros para a ação cotidiana e definem suas finalidades ético-políticas, circunscrevendo a ética profissional no interior do projeto ético-político e em sua relação com a sociedade e a história (2012, p. 53). Destarte, BARROCO (2010a, p. 202) aponta que o Código de Ética de 1993 traz o “compromisso com valores ético-políticos emancipadores referidos à conquista da liberdade” para a autora, a liberdade representa o “direito natural de todos”. A liberdade é o primeiro princípio do Código de Ética. Os princípios fundamentais14 do Código de 1993 são: Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras; Defesa do aprofundamento e da democracia enquanto socialização da participação politica da riqueza socialmente produzida; Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade à participação de grupos socialmente discriminados e à discursão das diferenças; Garantia do pluralismo através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual; Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação – exploração de classe, etnia e gênero; Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste código e com a luta geral dos trabalhadores; Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional; Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questão de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, idade e condição física. É imprescindível observar que os valores de referência do Código são a liberdade e a justiça social (a liberdade aqui apreendida não pode ser confundida com a liberdade liberalburguesa e sim a liberdade de um ser livre que possui plena capacidade de agir de forma livre e universal), a democracia é valor ético-político central (liberdade é democracia) e toda atividade do (a) assistente social é política e emancipadora (BARROCCO & TERRA, 2012). Para as autoras citadas, “a liberdade, a justiça social, a equidade e a democracia” são 14 Os Princípios Fundamentais aqui expostos foram apreendidos do livro da BARROCO & TERRA – Código de Ética do (a) Assistente Social comentado. Cortez, 2012. 26 princípios essenciais que juntos viabilizam a emancipação humana. O Código abordou a defesa da qualidade dos serviços profissionais bem como a defesa do exercício profissional, para as autoras acima, entender o profissional como sujeito ético-moral é tratá-lo como um sujeito dotado de certos atributos que lhe permitem agir eticamente: vontade, racionalidade, consciência, senso moral ou capacidade por seus atos e discernir entre valores morais (BARROCO & TERRA, 2012, p. 77). Do compromisso político com o usuário, o Código enfatiza que o (a) profissional do Serviço Social precisa ter uma postura respeitosa e responsável diante da população que demanda as políticas públicas que são objetos de trabalho do (a) assistente social. Práticas como torturas, agressões, maus-tratos, violência física e moral dentre outras, são intoleráveis. O Código de 1993 destaca os CRESS (Conselho Regional de Serviço Social) em seu papel de fiscalizador do exercício profissional e tribunal de ética profissional em primeira instância. Assim, é a instancia na qual é instaurado processo disciplinar Ético quando o (a) assistente social incorrer em práticas que se choquem com os preceitos do atual Código. (BARROCO & TERRA, 2012). Os deveres dos profissionais apontados no referido Código, direcionam para uma ação comprometida com a classe trabalhadora pautado em valores e princípios que vão de encontro com os interesses do capital. Para as autoras acima citadas, os deveres traduzem valores e princípios para a particularidade do compromisso profissional, o código aponta para as determinações da competência ético-política profissional; ela não depende somente de uma vontade política e da adesão a valores, mas da capacidade de torna-los concretos, donde sua identificação como unidade entre as dimensões ética, politica, intelectual e pratica, na direção da prestação de serviços sociais. (BARROCO & TERRA, 2012, p. 205). Dos direitos, o Código expressa que o profissional tem a “garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código” (BARROCO & TERRA, 2012, p. 141). A Lei citada faz referencia à Lei 8.663/93 que dispõe sobre a regulamentação da pratica profissional enfatizando o dever ser e fazer de um (uma) assistente social, bem como as garantias e direitos do profissional. Podemos observar diante do que foi elencado que o Código de 1993 é a consolidação da perspectiva emancipadora e a materialização do projeto-político do Serviço Social trazendo em seu normativo valores que fundamentam a prática do (a) assistente social. Para melhor contextualização, segue o quadro sistematizando o Código. Código de Ética Contexto Histórico da profissão Visão de Homem e de Mundo Profundas transformações sociais 1993 Pressupostos da equidade e da democracia Emancipação da pessoa Universalização dos Humana Direitos Humanos – Consolidação ruptura com o CF/88 Conservadorismo Descentralização Liberdade política e administrativa Justiça Papel do Serviço Social Processo de amadurecimento Politico Aspectos normativos e Punitivos Visa o controle na qualidade dos serviços prestados como um mecanismo concreto na defesa do exercício profissional Categoria inserida nas lutas 27 Equidade da classe trabalhista Participação politica em A ética é entendida como programas institucionais uma das dimensões da vida social Princípios como: competência Valores éticos-políticos: direitos, deveres e sigilo liberdade, justiça social profissional Fonte: Sistematizado por OLIVEIRA, 2009, adaptado para este trabalho 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se considerar que ainda é muito jovem o Serviço Social brasileiro. Estando com quase 80 anos, o Serviço Social passou por grandes lutas, conquistas e vitórias dentro do contexto histórico, político, econômico e social da sociedade brasileira. A ética apreendida em cada momento da construção de cada Código, demostra o amadurecimento e crescimento conquistados a duras batalhas e abordá-la é necessário e pertinente diante do contexto econômico politico e social contemporâneo. Este Trabalho de Conclusão de Curso buscou, em sua singularidade, abordar os diferentes projetos ético-políticos contidos nos Códigos de Ética do Serviço Social, e os elementos que nortearam e norteiam atuação do (a) Assistente Social. Porém, antes de tudo, vale destacar que o estudo em questão pauta de um anseio e necessidade de conhecer mais profundamente o Serviço Social, pois para esta pesquisadora que vê no horizonte não muito distante a possibilidade de uma carreira acadêmica, o estudo da implementação do Serviço Social no Brasil, os seus pressupostos, as Leis, Códigos e as bases teóricas são fundamentais para a consolidação deste objetivo. No âmbito específico dos dois códigos que demarcaram a mudança para um projeto de profissão que rompeu definitivamente com o conservadorismo de posturas profissionais anteriores, chamou atenção a luta que os profissionais travaram para a sua consolidação. Essa luta, a maior parte dela efetivada na época da Ditadura Militar foi marcante tendo como um dos eventos mais significativos o Congresso da Virada, realizado em 1979, não por coincidência, o mesmo ano em que, após grande mobilização das forças sociais progressistas, foi aprovada a Lei da Anistia. Porém, foi o Seminário Nacional dos 30 anos do Congresso da Virada em 2009 que esta autora compreendeu o legado deixado por aquela bancada que se formou para ir de encontro com as normas estabelecidas pela autocracia burguesa. Outro ponto que vale um destaque especial é o instrumento normativo dos Códigos de Ética, cada parágrafo, alínea, título ou artigo, traz um contexto, uma luta, um anseio da categoria, porém, por não extrapolar os limites de um artigo, não houve um aprofundamento o que pode ser objeto de estudos futuros. É preciso salientar a necessidade de se colocar em pauta o Código de Ética em todos os eventos do Curso de Serviço Social para que os profissionais do Serviço Social, professores, teóricos e estudantes possam compreender que a categoria possui um projeto ético-politico e que este deve pautar em todos os momentos a atuação do (a) Assistente Social. É preciso não apenas compreender, mas viver este projeto. Pois a luta ela é constante e como diz IAMAMOTO (2012, p. 17): O momento que vivemos é um momento pleno de desafios. Mais do que nunca é preciso ter coragem. É preciso ter esperanças para enfrentar o presente, é preciso resistir e sonhar. É preciso alimentar os sonhos e concretizálos dia-a-dia no horizonte de novos tempos mais humanos, mais justos, mais solidários. 28 Ethics and Social Work: an analysis of the ethical and political perspectives present in the different codes of ethics of Social Workers Abstract: This home work study is to analyze the different ethical-political project of Social Work observing the construction of the values that underlie the actions of Social Workers materialized in the Ethics of Social Work Codes. These values are contained in the five (5) Codes of Ethics of Social Work where each has different ethical and political perspectives within the historical context in which they were drafted. Such analysis on the historical process of building the professional ethics of social work is needed to understand the professional social work and it is supported in it’s activities, as there are laws which govern the profession as well as a code of ethics that brings in it’s normative instrument rights, duties and principles on which social worker should guide their practice. To achieve the purpose of this article, we chose a literature and qualitative research, exploratory in nature based on authors (the) critical (as) of Social Work as BAROQUE (2012, 2010); IAMAMOTO (2011, 2013); NETTO (2006, 1999, 2007, 2011, 2014), other academic areas as VÁZQUEZ (2013) among others (the) authors (as) that sustained the critical positioning of this author. Key-words: Ethics. Moral. Social Work. Code of Ethics. 6. REFERÊNCIAS ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. Seminário Nacional dos 30 anos do Congresso da Virada – 1979 a 2009. 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