A CASA O poeta se aparta e corta a vida dentro do peito. Não por querer - por não ter jeito. Depois se afoga em imagens, em mares quase perfeitos. Mistura os pedaços do que era inteiro, tange os nervos da mão irreal e, distante da clareza das casas, inflama a alma viva das palavras. Então, quase nuvem, alquimista, ergue a sua própria morada no rastro que a lua deixa quando em sonhos o visita. Ali, por uma noite se deita. Não há razão que o entenda, nem espelho que o reflita. Antes que o sol o desperte, ele em versos flutua, em sinas da arte deixa a casa que foi sua. Mágica herança de orvalho e de eterno, a casa agora faz parte da rua. Se ele ali retornar será por acaso, para rever alguém ou fugir do inverno. _______________________________________________ O TEMPO ENCARDE OS MUROS AJUNTA PICUMÃ NO FORRO DEIXA AS HORAS SE ALONGAREM SEM PRESSA DE FUTURO _______________________________________________ PAIOL Meu coração é um paiol de esperanças à luz de lamparinas. Onde a memória cantada em sinos? A espera, o cheiro... Pilão, moinho, feijão-tropeiro, o carro de boi gemendo e o gado lambido de sal? Meu coração é de montanhas de ouro, de ferro, madeira amarga e doce, mugido barroco atravessando os contrafortes da minha história. ____________________________________ BARROCO O barroco se contorce em simetrias. É a convulsão de um anjo louco que ainda habita sua natureza divina.