A CASA O poeta se aparta e corta a vida dentro do peito. Não por

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A CASA
O poeta se aparta
e corta a vida dentro do peito.
Não por querer - por não ter jeito.
Depois se afoga em imagens,
em mares quase perfeitos.
Mistura os pedaços do que era inteiro,
tange os nervos da mão irreal
e, distante da clareza das casas,
inflama a alma viva das palavras.
Então, quase nuvem, alquimista,
ergue a sua própria morada
no rastro que a lua deixa
quando em sonhos o visita.
Ali, por uma noite se deita.
Não há razão que o entenda,
nem espelho que o reflita.
Antes que o sol o desperte,
ele em versos flutua,
em sinas da arte
deixa a casa que foi sua.
Mágica herança de orvalho e de eterno,
a casa agora faz parte da rua.
Se ele ali retornar será por acaso,
para rever alguém
ou fugir do inverno.
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O TEMPO ENCARDE OS MUROS
AJUNTA PICUMÃ NO FORRO
DEIXA AS HORAS SE ALONGAREM
SEM PRESSA DE FUTURO
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PAIOL
Meu coração é um paiol
de esperanças
à luz de lamparinas.
Onde a memória cantada em sinos?
A espera, o cheiro...
Pilão, moinho, feijão-tropeiro,
o carro de boi gemendo
e o gado lambido de sal?
Meu coração é de montanhas
de ouro, de ferro,
madeira amarga e doce,
mugido barroco atravessando
os contrafortes da minha história.
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BARROCO
O barroco se contorce em simetrias.
É a convulsão de um anjo louco
que ainda habita sua natureza divina.
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