GRUPOS SOCIAIS Os grupos sociais são objetos de estudos de campos de conhecimentos como a sociologia, a psicologia e a antropologia. Encontramos nessas áreas diversas definições, dependendo do enfoque priorizado pelo pesquisador. No entanto, em que pese as diferenças, encontramos também pontos de convergência entre os estudiosos dessas áreas. De uma maneira genérica, podemos dizer que grupo é um conjunto de pessoas que interagem entre si, movidas por interesses ou objetivos comuns. Todo grupo tem uma estrutura mais ou menos durável, implica o desempenho de papéis e compartilhamento de normas e/ou valores. Dependendo de suas características, os grupos são classificados em espontâneos ou formais, primários (família) ou secundários (grupos institucionalizados). Os autores diferenciam ainda grupo de agrupamento. Neste último, não há processos duráveis de interação, podem incluir muitas pessoas, sem objetivos compartilhados de forma mais permanente; exemplificando: uma torcida em um campo de futebol pode ser apenas um agrupamento – interagem durante um tempo determinado e compartilham apenas durante esse tempo, um objetivo comum, no caso, assistir ao jogo. Já uma torcida organizada constitui um grupo. Os estudos sobre grupos têm priorizado o foco em pequenos grupos – os chamados grupos de interação face-a-face: este é o caso dos grupos presentes na escola. Dentre os autores desse campo de estudo, o mais referenciado é Kurt Lewin, psicólogo americano que no período do pós-guerra desenvolveu estudos focalizando aspectos relacionados às dinâmicas grupais. O autor analisa os grupos em termos de “espaços topológicos” e de sistemas de forças que configuram as relações entre seus membros. Ou seja, procura captar o que ocorre quando as pessoas estabelecem uma interdependência, observando o que ocorre entre elas com relação à realização dos objetivos propostos, ou com relação aos próprios membros do grupo – atração, afeição, rejeição, resistências, etc. Dos estudos de EscoladeGestoresdaEducaçãoBásica 1 Lewin derivam-se conceitos como coesão, liderança, pressão de grupo, para citar alguns (Lane, 1985). Lane (1985) critica os estudos de Lewin argumentando que eles trazem implícitos valores que visam reproduzir o individualismo, a harmonia e a manutenção. Na concepção de Lewin, a função social de um grupo é a definir os papéis e a identidade dos indivíduos, garantindo a sua integração e a sua produtividade social. Lewin tem uma visão de grupo como algo acabado, coeso, “como se os indivíduos envolvidos estacionassem e os processos de interação pudessem se tornar circulares. Em outras palavras, o grupo é visto como ahistórico, numa sociedade também a-histórica” (Lane, 195, p. 79). Numa perspectiva contrária a de Lewin, temos a teoria de Pichon-Rivière1.O autor buscou no materialismo dialético e na psicanálise subsídios para elaborar uma teoria dialética de grupo. Para Pichon-Rivière, “grupo é um conjunto restrito de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe de forma explícita ou implícita uma tarefa a qual constitui sua finalidade, interatuando através de complexos mecanismos de atribuição e de assunção de papéis” (Pichon-Rivière, 1988). Nesta concepção, todo grupo é marcado por tensões ou contradições, geradas por ansiedades, que podem constituir em obstáculos para a sua ação, dificultando os processos de comunicação e de aprendizagem. O autor desenvolveu uma técnica de intervenção grupal denominada “técnica de grupos operativos”. Esta técnica visa uma análise sistemática das contradições que emergem no grupo, a partir da análise das ideologias e dos estereótipos que emergem no grupo – tanto em nível individual como grupal. O objetivo é levar os integrantes do grupo a construção e/ou re-significação de valores, crenças, expectativas, etc. Em suma, sua proposta de intervenção toma como ponto de partida a análise das situações cotidianas do grupo para chegar à compreensão das pautas sociais internalizadas, que se expressam nas formas concretas de relações sociais entre os sujeitos envolvidos. 1 Enrique Pichon-Rivière (1907-1977) nasceu na Suíça e viveu na Argentina desde os três anos de idade, onde desenvolveu toda sua obra. Foi médico psiquiatra, sendo reconhecido por seus estudos e sua intervenção social. EscoladeGestoresdaEducaçãoBásica 2 A identidade do sujeito constitui-se assim nas e pelas relações estabelecidas nos grupos sociais a que se vincula; o sujeito diferencia-se como resultado dessas relações. É interessante atentar para a discussão do autor acerca dos papéis que os indivíduos tendem a assumir no grupo, sempre considerando a relação destes com a tarefa proposta. Pichon-Rivière menciona cinco papéis: líder da mudança, líder da resistência, bode expiatório e porta-voz. Esses diferentes papéis não são estáticos, ao contrário, são móveis. O que quer dizer que não se tratam de características da personalidade dos sujeitos, mas são posições assumidas por esses diante da tarefa do grupo, das expectativas dos outros, de suas próprias expectativas. Incluem-se aqui aspectos de sua história pessoal, bem como da história do grupo. Assim, em um grupo podemos ter pessoas que assumem o papel de “líderes da mudança”, que são aqueles que tendem a “puxar” o grupo para frente, levar adiante sua tarefa, buscando soluções, mobilizando os demais; já, contrariamente, o “líder da resistência”, manifesta atitudes de “puxar o grupo para trás”, evidenciando comportamentos que tendem a dificultar os avanços do grupo. Ambos os papéis são necessários, na medida em que criam certo equilibro na dinâmica grupal. O “porta-voz” do grupo, como o próprio termo já diz, manifesta comportamentos de “falar pelo grupo”, de expor as tensões, as ansiedades, verbalizar, dar forma aos sentimentos e conflitos do grupo; o “bode expiatório”, expressão popular conhecida, coincide em termos de grupo, com aquelas pessoas que concentram sobre si as tensões do grupo; tendem a aparecer como “culpados” por situações que são, de fato, grupais. Em sua teoria, Pichon-Rivière reserva importante papel para o coordenador do grupo, posto a quem cabe perceber, analisar, criar condições para que os conflitos ou contradições do grupo possam ser discutidos e superados; cabe-lhe procurar fazer do grupo um espaço de aprendizagem para todos. Lane (1985) observa que a teoria de Pichón-Rivière é a que mais se aproxima de uma concepção dialética de grupos, contudo, também esta teoria carece ainda de um referencial metodológico mais firmemente enraizado na EscoladeGestoresdaEducaçãoBásica 3 compreensão do grupo como processo social e histórico. Discorda do autor com relação a dicotomia proposta entre “interno” e “externo”; ou entre implícito/explícito (conceitos em sua teoria derivados da psicanálise) e do papel reservado ao coordenador do grupo – encarregado de tornar explícito aquilo que está implícito, não consciente no grupo. Para a autora, este processo de conscientização pode ocorrer apenas em nível individual, não necessariamente implicando um processo de conscientização social “onde as determinações históricas de classe e as especificidades da história individual se aclaram e se traduzem em atividade transformadora” (Lane, 1985, p. 94). Para a autora, não podemos esquecer que: a) “o significado da existência e da ação grupal só pode ser encontrado dentro de uma perspectiva histórica que considere a sua inserção na sociedade, com suas determinações econômicas, institucionais e ideológicas”; b) “o próprio grupo só poderá ser conhecido enquanto um processo histórico, e neste sentido talvez fosse mais correto falarmos em processo grupal e não em grupo” (p. 81). Para finalizar, é importante ressaltar que o grupo social é condição para o próprio processo de constituição subjetiva dos sujeitos sociais. As relações que se desenvolvem em seu interior são historicamente engendradas, como o são, as formas ou configurações grupais: papéis, expectativas, modos de relacionar-se são datados e situados historicamente, dependem da relação dos grupos com o contexto social mais amplo. Bibliografia LANE, Silvia T. M. O Processo Grupa. In: CODO, W. e LANE, S. T. M. (org.) Psicologia Social: o homem em movimento. 2ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985. PICHON-RIVIÈRE, Enrique. O Processo Grupal. 3ª edição. São Paulo, Martins Fontes, 1988. EscoladeGestoresdaEducaçãoBásica 4 FREIRE, Madalena. O Que é um Grupo? In: GROSSI, E.P e BORDIN, J. (org.) Paixão de Aprender. 2ª edição. Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1992. EscoladeGestoresdaEducaçãoBásica 5