Sheila Regina Andrade Ferreira RELAÇÃO PROPRIETÁRIO

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Sheila Regina Andrade Ferreira
RELAÇÃO PROPRIETÁRIO-CÃO DOMICILIADO: ATITUDE,
PROGRESSIVIDADE E BEM-ESTAR
Tese apresentada à Universidade Federal
de Minas
Gerais,
como
requisito
parcial para obtenção do grau de Doutor
em Ciência Animal, área
Medicina
Veterinária Preventiva, sob orientação do
Professor Dr. Ivan Barbosa Machado
Sampaio.
Belo Horizonte
Escola de Veterinária - UFMG
2009
1
2
Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Veterinária
A Banca Examinadora abaixo assinada aprova a tese de doutorado
RELAÇÃO PROPRIETÁRIO-CÃO DOMICILIADO: ATITUDE,
PROGRESSIVIDADE E BEM-ESTAR
--------------------------------------------------Prof. Dr. Ivan Barbosa Machado Sampaio
(Presidente/Orientador)
---------------------------------------------------Prof. Dr. Vanner Boere
----------------------------------------------------.
Profª Dra. Vanusa Patrícia de Araújo Ferreira
----------------------------------------------------Prof. Dr. Nelson Rodrigo da Silva Martins
----------------------------------------------------Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira
Belo Horizonte, 05 de março de 2009
3
4
Aos grandes amores de minha vida Walter,
Fernanda e Gustavo
5
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e aos seus prepostos a realização de mais uma conquista em
minha vida.
Ao meu orientador, professor emérito Ivan Barbosa Machado Sampaio, pela paciência,
dedicação e precisos ensinamentos que revelaram a sua competência e maestria.
Ao professor Dr. José Newton pelas críticas pertinentes e pela sua atenção durante todo o curso
de doutorado.
A querida amiga do coração Maria do Carmo Verza Sartori pela preciosa amizade e valioso
incentivo.
Ao inteligente, sensível e afetuoso cão Leo of Nashville, pelos ensinamentos e companheirismo
durante esta trajetória marcante em minha vida.
A todos os proprietários e cães que participaram no fornecimento de dados para esta pesquisa.
Aos funcionários da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte pela oportuna
colaboração que propiciou a seleção das residências visitadas.
Aos amigos e todas as pessoas que me ajudaram e incentivaram.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela bolsa de estudo
concedida.
Finalmente, agradeço aos autores consultados e citados, muitos pioneiros da ciência bem-estar
animal, que subsidiaram o conhecimento teórico e empírico empregado na elaboração desta
tese.
7
8
A verdadeira ciência deve ter como finalidade tornar melhores os homens.
Eis a nova estrada que precisa ser palmilhada.
Pietro Ubaldi
Chegará o dia em que o homem conhecerá o íntimo dos animais.
Neste dia, um crime contra um animal será considerado um crime contra a
humanidade.
Leonardo Da Vinci
9
10
SUMÁRIO
1.
2.
2.1.
2.1.1.
2.1.2.
2.1.3.
1.1.4.
2.2.
2.2.1.
2.3
2.3.1.
2.3.2.
2.3.3.
2.3.4.
3.
3.1.
3.2.
3.2.1.
3.3.
3.4.
3.5.
3.5.1.
3.5.1.1.
3.5.1.2.
3.5.1.3.
3.5.2.
3.5.3.
3.5.3.1.
3.5.3.2.
3.5.3.3.
3.5.3.4.
3.5.4.
3.5.4.1.
3.5.4.2
3.6.
3.7.
RESUMO .
ABSTRACT
15
16
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
BEM-ESTAR ANIMAL
Sentimento e bem-estar
Necessidade e motivação
Estresse e bem-estar
A dimensão do sofrimento animal
AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR ANIMAL
Definição de indicadores
A RELAÇÃO HOMEM-ANIMAL
Os benefícios da relação
O cão no contexto familiar e o bem-estar mútuo
A relação afetiva
As implicações da relação
17
21
22
26
29
33
39
43
51
53
56
61
64
66
79
80
80
80
81
81
82
82
82
82
82
82
85
85
86
86
87
87
88
88
91
92
METODOLOGIA
HIPÓTESE
LOCAL DE ESTUDO
Caracterização do município
AMOSTRA
PROCEDIMENTOS
INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Formulários
Formulário socioeconômico
Formulário do sistema de criação
Formulário da Avaliação Física e Comportamental do animal
Observação direta
Questionário
Atitudes e progressividade
Técnica de mensuração
Elaboração e execução
Medição da fiabilidade
Determinação da condição corporal canina
Índice de condição corporal
Índice de massa corporal canino
DEFINIÇÃO DOS INDICADORES DE BEM-ESTAR
ANÁLISE DOS DADOS
11
3.71.
3.7.2.
3.7.3.
4.
4.1.
4.2.
4.3.
4.4.
4.5.
4.6.
4.7.
4.8.
5.
6.
7.
Formulários
Questionário
Análise multivariada de correspondência múltipla
RESULTADOS E DISCUSSÃO
IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA
SISTEMA DE CRIAÇÃO
OBSERVAÇÃO DIRETA
NECESSIDADE FÍSICA E PSICOLÓGICA
INDICADORES DE BEM-ESTAR
PROGRESSIVIDADE E ATITUDE
ANÁLISE DE CORRESPONDÊNCIA MÚLTIPLA
A RELAÇÃO HOMEM-ANIMAL
CONCLUSÕES
CONSIDERAÇÕES FI NAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
92
93
93
95
95
100
106
107
110
120
127
136
139
139
145
QUADRO
Quadro 1
Índice de condição corporal para caninos, Laflamme (1997)
89
Quadro 2
Índice de massa corporal de cães de médio porte (Müller, 2007)
91
Quadro 3
Graduação dos indicadores de bem-estar, da condição
Corporal segundo Laflamme (1997) e caracterização do bemestar de acordo com as graduações
111
FIGURAS
Figura 1
Medição da estatura do cão
90
Figura 2
Representação gráfica dos proprietários de cães, segundo as
coordenadas de atitude e progressividade
121
Figura 3
Representação gráfica das variáveis selecionadas, segundo os eixos
1 e 2 na análise multivariada de correspondência múltipla
129
12
TABELAS
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 4
Tabela 5
Tabela 6
Tabela 7
Tabela 8
Tabela 9
Identificação dos cães residentes na Região Administrativa da
Pampulha - Belo Horizonte- MG. 2007
97
Características socioeconômicas dos proprietários residentes na
Região Administrativa da Pampulha - Belo Horizonte - 2007
98
Características do sistema de criação utilizado por proprietários
de cães de estimação residentes na Região da Pampulha Belo Horizonte - MG - 2007
102
Freqüência das variáveis referentes às necessidades físicas e
psicológicas de cães de estimação residentes na Região
Administrativa da Pampulha - Belo Horizonte - MG - 2007
107
Freqüência das variáreis referentes aos indicadores de bem-estar
de cães de estimação residentes na Região Administrativa da
Pampulha - Belo Horizonte - MG. 2007
112
Perfil da condição corporal de cães residentes na Região
Administrativa da Pampulha - Belo Horizonte- MG. 2007
112
Freqüência relativa de respondentes que concordaram,
ou não tinham opinião formada sobre as questões referidas
à progressividade e atitude em relação ao bem-estar animal
122
Valores da inércia nos eixos 1, 2 e 3 análise de correspondência
múltipla. Inércia total de 62%
128
Valores das coordenadas da análise de correspondência múltipla e
freqüência relativa (%) das variáveis estudadas referente aos cães
de estimação da Região Administrativa da Pampulha - Belo
Horizonte - MG - 2009
130
13
14
RESUMO
O objetivo principal deste estudo foi verificar alguns aspectos da associação entre a relação
homem-animal e o bem-estar do cão. Foram estabelecidas as relações funcionais entre as
condições de criação de 60 cães, a progressividade e a atitude de seus proprietários e o bemestar animal, por meio de análise multivariada de correspondência múltipla. O modelo de
investigação utilizado na pesquisa foi do tipo exploratório de caráter descritivo com pesquisa de
campo. Para avaliar os aspectos de uma população definida em um determinado momento,
realizou-se um inquérito e observações das condições de criação de cães domiciliados. A
seleção das residências foi realizada de modo fortuito e sistemático, visando obter variabilidade
do tipo de residência e diversidade socioeconômica dos participantes. A índole, o estado de
tranqüilidade e a avaliação corporal foram os três indicadores utilizados para a avaliação do
bem-estar animal. O cão simultaneamente manso, tranqüilo e com condição corporal ideal foi
considerado desfrutar do bem-estar adequado. Exatamente 83,3% dos cães investigados eram
mansos, 90% eram tranqüilos e 60% apresentavam condição corporal ideal. Entretanto, apenas
43,3% da população canina experimentava bem-estar adequado por ocasião da entrevista.
Dentre os três indicadores utilizados, condição corporal e estado de tranqüilidade mostraram-se
ser indicadores mais apropriados para medir o bem-estar pobre que o bem-estar adequado. A
agressividade apresentou fraca associação com as demais classes de variáveis analisadas.
Concluiu-se que a progressividade, a atitude positiva e o comprometimento do proprietário com
os cuidados necessários para proporcionar uma boa qualidade de vida ao cão, não foram
suficientes para favorecer o bem-estar de quase metade da população estudada.
Palavras-chave: cão, vínculo homem-animal, bem-estar animal, vínculo afetivo,
problemas de comportamento.
15
ABSTRACT
The objective of this study was to verify the eventual association between man-dog relationship
and the animal welfare. Relationships among raising conditions of 60 dogs, owner’s
progressiveness and attitude and animal welfare were studied through multiple correspondence
analysis. The investigation model used in the research was of the exploratory type of descriptive
character with field research. To evaluate the target population, data were collected at
households through an inquiry. Residences were selected according to a systematic sampling
procedure covering type of residence and socioeconomical levels. Behavior, peacefulness state
and body state evaluations were the three indicators used for measuring animal welfare. Dogs
simultaneously tame, peaceful and with ideal body condition were considered to experience
appropriate welfare. Exactly 83,3% of the investigated dogs were tame, 90% were peaceful and
56,6% presented ideal body condition. However, only 43,3% of the canine population could be
classified as under appropriate welfare during interviews and clinical evaluation. Among the
three used indicators, corporal condition and state of peacefulness were shown to best
characterize poor welfare rather than appropriate welfare. The aggressiveness presented a
jweak association with other variables. Results suggested that progressiveness, positive attitude
and the owner’s attention and care to provide a good life quality to his dog, did not imply in its
adequate welfare, in nearly half of studied population.
Key-words: dog, pet-human bond, animal welfare, attachment; behavior problems.
16
1. INTRODUÇÃO
Decorreram milênios até que o lobo
selvagem se tornasse o companheiro do
homem. Inicialmente, durante o processo
de domesticação, a relação foi ditada
principalmente
por
considerações
utilitárias, e progressivamente, a nova
espécie Canis familiaris foi assumindo um
papel social significativo na vida das
pessoas. Contudo, apesar do cão ser um ser
sociável e gregário, ainda partilha seu
comportamento
com
o
lobo.
A
domesticação somente atenuou algumas
características do lobo e evidenciou outras.
Estes
carnívoros
mostram-se
favoravelmente reprimidos pela cultura
humana; o progresso que realizam
conduzidos pelo homem é transitório e
puramente individual, pois quando,
entregues a si mesmo, logo voltam a
encerrarem-se nos limites que lhes traçou à
natureza.
Foi a partir do final do século XVIII que o
processo de industrialização crescente na
Europa concorreu para o surgimento de
uma sociedade caracterizada pelo intenso
processo de urbanização. Este momento
histórico conduziu o ser humano a um
modelo de comportamento marcado pela
insensibilidade
social
e
concepção
individualista que conformou uma nova
maneira de atendimento às suas
necessidades afetivo-emocionais que se
circunscrevia à sua moradia. O homem,
então, tenta mitigar a sua solidão com um
companheiro de outra espécie. A
capacidade altruística do animal torna a
relação muito prazerosa, visto que, ele é
capaz de doar-se sem reservas e sem
esperar retribuição, submetendo-se à
vontade de seu proprietário sem
julgamento.
A convivência estabelecida com benefício
recíproco entre as duas espécies tornou-se
ainda mais expressiva quando a vinculação
do tipo utilitária progrediu para uma
relação mais afetiva e familiar. O animal de
companhia torna-se objeto de satisfação
emocional na vida privada das mais
variadas classes sociais. Assim, o homem
contemporâneo estabelece um processo
irreversível de socialização criando um
relacionamento estável e duradouro que ao
ser conduzido com atenção e carinho
concorre para a categorização de um grupo
particular de animais, denominado animais
de estimação. Neste momento, o homem
passou a se envolver gradualmente com o
desenvolvimento planejado das raças,
treinamento, educação, alimentação e com
a saúde do seu companheiro.
Primeiramente, a seleção genética refletia o
interesse
econômico,
entretanto,
a
intensificação da relação homem-animal
modificou a percepção do homem,
comprometida com fatores sentimentais.
Consecutivamente, estabeleceu-se no final
do século XX a preocupação em entender e
aplicar elementos do conhecimento,
importantes não só para garantir a
expectativa de vida do animal de
estimação, mas principalmente, para
garantir o seu bem-estar. Este momento de
inquietação favoreceu a busca do
conhecimento referente à identidade
morfológica, biológica e, naturalmente,
identidade psicológica e comportamental.
A preocupação com o bem-estar animal
ensaiava seus primeiros passos. O ser
humano começou a compreender que o
respeito ao animal está na conscientização
da real identificação da espécie canina, que
ao longo dos séculos foi se modificando
por influência do homem. Assim, respeitar
o cão significa respeitar ao mesmo tempo o
animal selvagem original e o animal
moderno, resultado de uma evolução
aspirada e acompanhada pelo ser humano.
É importante considerar que cão nos
primórdios da evolução fazia parte de uma
matilha, estando sujeito a uma hierarquia
instintiva e imposta, mas necessária para
sua sobrevivência; já o animal moderno, ao
17
preservar a sua natureza e comportamento,
apresenta uma capacidade extraordinária de
adaptação a todas as formas de sociedades
humanas.
A criação do cão deve conduzida com
respeito e firmeza. Dispensar-lhe apreço
significa, indubitavelmente, reconhecer sua
natureza social e atender satisfatoriamente
suas reais necessidades biológicas,
psicológicas e comportamentais.
A percepção e a aceitação dessa nova
realidade podem promover mudanças
significativas no trato com o animal, uma
vez que o modelo de relação entre o
homem e o cão até então difundido e
padronizado no cotidiano, se amplia e
reestrutura (Faraco, 2004). É imperativo
nos esforçarmos para entender esse ser que
partilha conosco a sua existência para
tornar sua vida efetivamente agradável
(Fogle, 1995). Não obstante, mesmo que
alguns proprietários o considerem parte da
família, eles não possuem os mesmos
direitos e privilégios dos outros membros.
Os direitos e importância do ser humano
são, decisivamente, diferentes dos animais
(Singer, 2002).
Apesar disto, este companheiro que
compartilhou com o homem trabalho e
lazer por milhares de anos, tornou-se
dentre os demais animais de estimação o
mais adaptado aos papéis afetuosos e
emocionalmente encorajadores. Hoje em
dia, quando a interação resulta em alto
nível de afeição, o cão tende a ser visto
como um membro da família nas
residências urbanas. O cão pode ser uma
notável fonte de afeto e de apoio para
pessoas que experimentam transições
críticas no curso de vida como viuvez,
divórcio, após a emancipação e saída dos
filhos e quando estão morando sozinho.
(Albert e Bulcroft, 1988). Como um ente
querido, apresenta a maioria dos atributos
desejados pelos membros da família. Entre
os diversos papéis que ele desempenha o
companheirismo
inseparável
e
incondicional é o mais representativo. Para
alguns, o cão lhes permite estar só sem
estar solitário, além de aumentar as
oportunidades para conhecer as pessoas.
(Beck e Meyers, 1996).
Qualquer pessoa que conviva intimamente
com um cão pode divisar a complexidade
dos seus sentimentos, pode reconhecer nele
momentos de alegria, outros de tristeza ou
ansiedade sem precisar de provas
científicas. Os cães, igualmente a muitos
outros animais,
podem experimentar
sofrimento físico e psíquico, e foi
admitindo essa realidade já no século XIX
quando Bentham et al. (1996, p.283) ao
referirem-se ao direito dos animais nos
deixou a célebre frase: A questão não é:
"Eles são capazes de raciocinar?" Nem
tampouco seria: "Eles são capazes de
falar?" A questão é: “Eles são capazes de
sofrer”? Tempo passou e somente na
década de 70 do século XX foi retomada a
bandeira em defesa aos animais.
O filósofo Peter Singer desempenhou um
papel significativo no impulso inicial do
moderno movimento de defesa dos direitos
dos animais. Ele defende a idéia de que só
se deve viver uma vida que valha a pena
ser vivida (Singer, 2002). Após este
movimento, a Ciência de bem-estar animal
desenvolveu-se rapidamente nos anos
oitenta do século passado (Broom e Fraser,
2007). A posição filosófica predominante
dos estudiosos neste momento baseava-se
em um princípio universal: os animais
domésticos são seres sencientes e, portanto,
credores de tratamento humanitário. Um
indivíduo que experimenta dor, sofrimento
e prazer, pode ser considerado sob o ponto
de vista filosófico um ser senciente,
atributo que o torna objeto de consideração
moral e obriga ao ser humano cumprir com
os seus deveres e atender os seus interesses
(Tischler, 1983). Os interesses de um cão,
por exemplo, pode ser o cumprimento de
suas
necessidades
básicas
e
18
comportamentais por parte de seu
proprietário e a omissão do atendimento de
seus interesses poderá comprometer sua
saúde física e mental.
Até recentemente, os médicos veterinários,
fundamentados no Código de Ética
Veterinária (CRMV, 2001), reconheceram
a necessidade de evitar sofrimento
desnecessário aos animais.
Porém, o
conceito de sofrer segurado por
veterinários normalmente é restringido a
sofrimento físico, acrescido da idéia dos
animais domésticos terem uma baixa
sensibilidade para dor (Dantezer, 1994). Os
conceitos de bem-estar e conforto são
relativamente novos ao campo veterinário.
Por muito tempo, foi pensado que estes
conceitos eram equivalentes à ausência de
dor e estresse, no entanto, as preocupações
éticas expressas pela sociedade vão além
da idéia simples de dor. A condição
negativa de dor, estresse e sofrimento está
sendo substituída gradualmente pelas
condições positivas de conforto e bemestar.
Favorecer o estado de bem-estar requer
educação e treinamento do animal de
companhia. Para cumprir efetivamente
esses propósitos, torna-se imprescindível
adquirir o conhecimento relativo a dois
tópicos
importantes:
motivação
e
aprendizado de cães. A obtenção desse
conhecimento somente se torna factível se
os proprietários e profissionais se
instruírem sobre comportamento animal.
Esse desígnio assume maior importância
para veterinários que deveriam oferecer
conselho profissional em comportamento.
Estes
profissionais
necessitam
ter
competência para identificar os problemas
comportamentais e outros conexos a fim de
propor métodos de redução ou eliminação
das causas inerentes ao bem-estar pobre.
Nas universidades o assunto de bem-estar
animal é em geral uma questão científica e
ética proposta em termos ambíguos que
suscita numerosos dilemas para ciência e
sociedade (Clark et al., 1997a). Hesitação e
polêmica surgem em um processo
decorrente da prática de julgamentos de
valor à medida que conceitos relacionados
ao assunto de bem-estar são formulados e
critérios de avaliação desenvolvidos. Esta
situação, não obstante, reclama um
posicionamento mais coeso e deliberativo,
prepositivo à abertura de disciplinas
voltadas para o estudo do comportamento e
bem-estar animal.
Para etologistas, os especialistas na ciência
do comportamento, o conceito de bemestar vai além de considerações de
desempenho de produção e saúde física,
suas necessidades não são somente
fisiológicas, mas também comportamentais
e psicológicas. Se suas necessidades não
podem ser satisfeitas, os animais podem
sofrer
intensa
frustração
e,
conseqüentemente, serem acometidos de
sofrimento mental. Este seria o caso de um
cão ávido por passeio permanecer preso em
sua residência impedido de experimentar
estímulos. Sob esta perspectiva, é
imperioso que o conceito de bem-estar
considere os estados mentais dos animais
(Dantezer, 1994).
A Ciência compilou uma quantidade
volumosa de conhecimento sobre animais
em base científica e tecnológica avançada,
contudo ainda se sabe muito pouco sobre o
bem-estar mental deles e sobre os fatores
que
influenciam
os
fenômenos
psicológicos. A visão de bem-estar em
animal evoluiu inicialmente a partir de
critérios de prevenção e controle de
doenças e produtividade que refletiam as
metas
de
valores
humanos.
Até
recentemente, muita ênfase foi colocada
em fatores físicos do meio ambiente, houve
pouco interesse no bem-estar psicológico
de animais. Estudiosos de comportamento
animal conscientes da importância do
estudo do bem-estar psicológico de animais
são acusados de antropomorfismo e
19
subjetivismo por conferir-lhes atributos
humanos.
A percepção comum de bem-estar deveria
atentar para a realidade concreta: emoções
positivas decorrentes do entusiasmo e
alegria favorecem o aumento de bem-estar
e as emoções negativas como medo e
estresse induzem a redução do bem-estar.
Neste sentido, os estudiosos em bem-estar
animal precisariam desenvolver teorias de
bem-estar que tem os sentimentos como
núcleo
(Duncan,
1996,
p.33).
Hodiernamente, acredita-se que os critérios
utilizados no estudo do bem-estar animal
deveriam refletir as reais necessidades do
animal, ou seja, a perspectiva do animal.
Embora os humanos não possam avaliar o
bem-estar logicamente da perspectiva do
animal, uma perspectiva antropomórfica
crítica pode ser eticamente preferível a
uma perspectiva antropocêntrica (Clark et
al., 1997a, p.565). A polêmica referente à
definição
do
bem-estar
surge,
conseqüentemente, com a preocupação em
adotar simultaneamente ou exclusivamente
as duas perspectivas éticas.
Independente da perspectiva ética a ser
adotada em estudos de bem-estar animal, a
trajetória comum entre o homem e os
animais ao longo da história nos permite
identificar os significados conferidos aos
animais e a suas participações em papéis
que configuram sua posição social em uma
determinada cultura e, conseqüentemente, a
sua importância junto ao homem.
Estima-se que no Brasil existam 31
milhões de cães e de 15 milhões de gatos
que em 2007 apresentaram um consumo
potencial de 3,96 milhões de toneladas de
alimentos, sendo o faturamento do mercado
de animais de estimação em torno de US$
4,1 bilhões, além de gerar milhares de
empregos, na indústria e no comércio de
alimentos, medicamentos e acessórios
(ANFAL, 2008). Diante deste quadro, é de
crucial importância atentar para a
transfiguração da relação homem-animal,
pois, hoje em dia, ela reflete indiretamente
sua ação na vida comunitária, tornado
obrigatória alteração no modo de
tratamento do animal o que pressupõe uma
nova leitura da realidade no campo jurídico
e ético associados ao bem-estar animal.
A evolução do vínculo entre o homem e o
cão é, portanto, um fato constatado pelo
senso comum. Nós testemunhamos o
aumento cada vez maior do número de
proprietários de cães e das facilidades e
segurança na criação do animal,
representadas principalmente pelas rações
balanceadas e vacinas contra um grande
número de doenças. Esses avanços tornamse os grandes fomentadores do interesse
dos pesquisadores, veterinários e também
da população, impedindo, desse modo, que
temas relacionados ao bem-estar animal e à
relação homem-animal não se esgote. A
produção de conhecimento científico
objetivo sobre estes dois temas visando
propiciar uma vida melhor para o
companheiro animal tem causado interesse
crescente do meio científico. A relevância
das pesquisas consiste em proporcionar
bem-estar a essas duas espécies - ser
humano e o cão - e melhorar o tratamento
dispensado ao animal que depende da
qualidade desta influência mútua.
Muitos estudiosos em comportamento
animal tentaram desenvolver critérios
seguros para avaliar o bem-estar de um
indivíduo ou de uma população
fundamentados no seguinte princípio: uma
resposta a uma situação de estresse pode
ser capturada de forma incompleta pelo
indicador escolhido ou a resposta ao
estresse
pode
incluir
componentes
energéticos, hormonais, imunológicos e
comportamentais que podem ser invocados
a graus diferentes por indivíduos diferentes
e medir um só componente pode implicar
em uma conclusão incorreta (Hofer e East,
1998).
Em
virtude
das
reações
neuroendócrinas ao estresse diferirem
20
dependendo da situação e, também do
comportamento dos animais e processos
emocionais concomitantes, é necessário
que qualquer avaliação de bem-estar inclua
variadas mensurações (Broom e Fraser,
2007). Neste sentido, este estudo avaliará o
bem-estar de uma população fundamentado
em três indicadores: índice de massa
corporal,
índole
do
animal
(mansuetude/agressividade) e estado de
tranqüilidade.
Há uma extensa informação científica
sobre a relação homem-animal e o bemestar animal, não obstante, não houve
nenhum estudo empírico relativo à
associação desses dois temas utilizando o
cão como animal experimental. No
panorama mundial, a pesquisa em bemestar freqüentemente refere-se a animais de
produção e a medição baseia-se em
indicadores de saúde, comportamentais,
produtivos, reprodutivos, endocrinológicos
e imunológicos. Apesar da considerável
literatura teórica sobre sofrimento e
sentimento animal, ainda não existe
nenhum trabalho experimental que
considere
o
estado
subjetivo
de
intranqüilidade de um cão como um
indicador de bem-estar pobre. Situação
análoga ocorre com o emprego do
indicador massa corporal (Hofer e East,
1998) utilizado na medição dos estados de
estresse dessa espécie.
Estudos relacionados à interação homemanimal e bem-estar animal ainda são
inexpressivos em nosso país e esforços
devem ser conduzidos de modo
incrementar pesquisas sobre este tema. A
base teórica para fundamentar qualquer
trabalho nessa área tem que ser buscada
principalmente
em
bibliografias
internacionais. Nesta perspectiva, torna-se
essencial conhecer o modo de condução
implícito na relação dos familiares com os
seus cães para entender as intenções do
grupo social e avaliar a sua capacidade de
comportamento animal característico.
O objetivo principal deste estudo foi
verificar alguns aspectos da relação
homem-animal associados ao bem-estar do
cão. Para alcançar tal desígnio, foram
estabelecidas as relações funcionais entre
as condições de criação dos cães, a
progressividade e a atitude de seus
proprietários e o bem-estar animal, por
meio de análise multivariada de
correspondência múltipla.
Considerando o manifesto direcionamento
das pesquisas acadêmicas em favor de
demandas da sociedade, este estudo
primordialmente descritivo, além do que
propõe o seu objetivo principal de
caracterizar relação homem-animal e o
bem-estar do cão em uma população
definida em um determinado momento,
deverá contribuir com o fornecimento de
parâmetros
científicos
para
o
desenvolvimento de outras investigações
sobre o tema e levantar questões
pertinentes. Algumas questões só se tornam
evidentes quando reunimos conhecimento
suficiente num campo de pesquisa, de
modo que nos tornemos capazes de ter uma
visão global da pesquisa nessa área. A
análise crítica de um problema deve ser
aplicada a mensurações, estratégias,
definições e conjeturas de vários estudos.
Finalmente, espera-se que as observações e
os resultados alcançados nesse trabalho
possam servir à elaboração e a condução de
novas
pesquisas
multidisciplinares
comprometidas com a divulgação da
realidade da relação homem-animal e o
bem-estar do cão em nossa sociedade
contemporânea.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Muitos conceitos foram estabelecidos e
muitos
estudos
empíricos
foram
desenvolvidos durante as últimas cinco
décadas sobre a relação homem-animal e o
bem-estar animal. Houve um grande
avanço na aquisição de informações
21
objetivas sobre métodos envolvidos com a
elucidação de fatores que afetam o
comportamento, a relação homem-animal e
o bem-estar dos animais de produção.
Contudo, nenhuma pesquisa foi conduzida
com o desígnio de conhecer a realidade
sobre o bem-estar dos cães. Esta é uma
tarefa difícil, pois o cão entre todos os
animais domésticos é o que apresenta
maior envolvimento afetivo com o ser
humano.
Para a concretização deste desafio, foi
necessário
inicialmente,
realizar
o
levantamento de uma revisão bibliográfica
referente aos conceitos e aos aspectos
subjacentes a compreensão do bem-estar
animal e da relação homem-animal. Em um
primeiro momento tratar-se-á sobre o bemestar animal em um aspecto mais amplo, no
que se refere à multiplicidade de fatores
envolvidos e linhas de pesquisa.
Seqüencialmente, serão revisados alguns
trabalhos
importantes
sobre
o
conhecimento científico relativo à medição
do bem-estar animal; e finalmente, será
abordada a relação homem-animal, sua
importância na promoção do bem-estar do
homem e do animal, problemas decorrentes
e sua relevância profilática na instauração
de um vínculo interespécie sadio. Toda a
informação compilada além de contribuir
para o entendimento do status quo dos dois
temas principais abordados neste estudo,
servirá de fundamentação para a reflexão
sobre a realidade da relação homem-cão
instituída em nossa sociedade moderna.
2.1 Bem-estar animal
Os conceitos bem-estar e necessidade
psicológica são relativamente novos na
área da Medicina Veterinária. Acreditou-se
até pouco tempo que os cuidados
dispensados para assegurar saúde e
condição física adequada eram suficientes
para promover o bem-estar do animal.
Muitos estudos estão sendo conduzidos há
décadas para tornar a preocupação de
pesquisadores e pessoas comuns em uma
ciência
promissora
de
caráter
multidisciplinar.
O bem-estar animal desenvolveu-se como
uma ciência própria aplicada, indispensável
aos profissionais envolvidos com a
interação homem-animal. Ela presta-se
muitas vezes, como base para a reforma de
legislações referentes à qualidade da vida
animal, cujo desígnio funda-se na melhora
das condições de criação dos animais
destinados a servirem de alimento,
utilizados em laboratórios, mantidos em
cativeiro ou designados a compartilhar da
convivência humana.
Estudiosos do comportamento animal têm
mobilizado esforços intelectuais e morais,
para desenvolver uma definição aceitável
de bem-estar animal e implementar meios
válidos e objetivos para avaliar bem-estar
das diversas categorias de animais. O bemestar animal ainda é conceituado de forma
imprecisa e não pode ser definido ou
avaliado de uma maneira meramente
objetiva. Fatores como saúde, necessidades
e percepção do animal; antropomorfismo
crítico, valores sociais e perspectivas
individuais
dos
seres
humanos,
representam uma multidimensionalidade
que repercute no estudo científico do bemestar animal.
Variados e prósperos campos de pesquisa
que estudam a biologia e comportamento
animal e a psiconeuroimunologia são
exemplos de áreas que apóiam a visão
holística do estudo do bem-estar animal.
Pesquisas existentes sugestionam um
sistema de interação dinâmica que conecta
o ambiente interno fisiológico, psicológico,
neurológico, imunológico, endócrino e
bioquímico com o ambiente externo físico
e psicossocial.
A homeóstase, um estado harmonioso de
corpo e mente é um aspecto fundamental
de bem-estar e está definida como a
22
manutenção de um estado de equilíbrio do
corpo pela interação complexa de ações
reguladoras
fisiológicas
e
comportamentais. O estado de homeóstase
ou bem-estar é estabelecido por diversos
fatores representados por estímulos
externos e estímulos internos como
respostas biológicas e mentais do animal.
Estes fatores interagem, por sua vez, com
diversas variáveis: genética, ambiente
social, capacidade de adaptação e
percepção do animal (Clark et al. 1997a).
Tanto na experimentação científica quanto
na criação dos animais de produção e de
estimação, o homem tem determinado o
que é melhor para os animais sob sua
perspectiva antropocêntrica ditada pelo
conceito
utilitário
da
sociedade
industrializada (Dantezer, 1994). Hoje, o
ajuizamento do bem-estar sob ponto de
vista do antropomorfismo crítico vem
crescendo entre os estudiosos desse tema
em consonância ao estabelecimento de uma
nova ética. Inclusive, está havendo maior
rigor na definição e descrição de termos de
estados adversos como necessidade,
ansiedade, angústia, medo, dor e
sofrimento, antes negligenciados por
veterinários e pesquisadores. Em inglês o
termo bem-estar tem duas conotações
(Fox,1990 p.832), mas em português ele
tanto é apropriado para descrever os
padrões de cuidado e saúde que causam
estresse mínimo e angústia aos animais e
satisfazem a exigência comportamental e
social básica (well-being) como para ser
usado de forma mais ampla contemplando
as altercações sociais e os assuntos éticos
(welfare).
O bem-estar é influenciado por múltiplos
fatores
inter-relacionados.
Desordens
físicas e psicológicas têm determinantes
múltiplos e explicá-los através de uma
única causa seria algo demasiado simplista.
Uma visão holística evidencia que os
fenômenos físicos e psicológicos são
inseparáveis, que as células, a mente
(processos subjetivos), o psicológico
(fenômenos comportamentais e mentais) e
vida social e o ambiente são interativos. Os
fenômenos psicológicos podem afetar o
estado físico e o comportamento e
reciprocamente os eventos físicos podem
alterar processos psicológicos (Kandel et
al., 1997). Clark et al. (1997a) propõe o
termo biopsicossocial por ser mais
apropriado e menos ambíguo que os termos
holístico e psicossomático.
O bem-estar de um animal, pois, é um
estado interno que envolve qualidade de
vida e, esta, pode ser afetada pelas
respostas à estímulos ambientais internos
(somáticos ou psicológicos) e externos
(ambiente
físico
ou
psicossocial).
Estímulos somáticos incluem perda de
sangue, hipoxia, intoxicação, desidratação,
trauma, doenças, anestesia, cirurgia,
desnutrição e exercício. Estímulos físicos e
químicos externos são fatores percebidos
pelos sentidos, associados às instalações e
ao ambiente como: temperatura, luz, som,
odores, comida e movimento. Estímulos
psicológicos incluem mudanças, incertezas,
conflito e eventos ameaçadores e
imprevisíveis e estímulos psicossociais
incluem
fatores
como
relações
intraespecifica
e
interespecífica,
representados por separação, isolamento e
interações.
Assim, os estímulos podem ser agradáveis
ou aversivos e as respostas do animal para
estímulos intrínsecos e extrínsecos
determinam o seu estado o bem-estar.
Geralmente, as respostas que funcionam
como um mecanismo protetor e o novo
processo de homeóstase provocam uma
resposta normal, designada para devolver
no animal um estado de equilíbrio. Sendo
as respostas influenciadas pela interação de
vários fatores intrínsecos ou extrínsecos, se
as respostas não são eficazes para facilitar
a manutenção ou retomada da homeóstase,
o animal pode desenvolver um processo de
deficiência orgânica, inaptidão, desordem,
23
doença, ou morte (Clark et al., 1997). A
avaliação do bem-estar, neste sentido,
poderá ser estabelecida recorrendo às
respostas internas e comportamentais do
animal.
Muito é conhecido sobre as causas e
fatores predisponentes associados com o
comprometimento do bem-estar físico.
Correspondentemente muito menos é
conhecido sobre fatores que afetam bemestar psicológico. Conceitualmente, os
mesmos mecanismos funcionam em bemestar físico e psicológico. Esses fatores ao
influenciarem o processo adaptativo e a
homeóstase induzem geralmente respostas
de adaptação devolvidas para permitir o
organismo voltar ao seu estado normal de
equilíbrio. Outrossim, estas respostas
representadas por sintomas e sinais
continuam a ser influenciadas pela
interação de fatores das variáveis
intrínsecas e extrínsecas que podem
prevenir, atenuar ou aumentar a ação dos
estímulos causativos da resposta precursora
de desordens ou doenças no animal. Estes
fatores podem ser inerentes ao animal
(filogenético) ou adquirido (ontogênico):
genético, variação individual (idade; sexo;
estado fisiológico, mental e de saúde),
percepção de previsibilidade e controle,
aprendizado, experiência anterior e a
duração, intensidade, freqüência e a
singularidade do estímulo (Kagan e Levi,
1974, Moberg e Mench, 2000). Se o
processo adaptativo de homeóstase à uma
resposta for grave e prolongado, ele pode
conduzir inicialmente o animal à um estado
de alterações patológicas físicas ou
psicológicas, contudo, se o processo
adaptativo de homeóstase não resultar em
desordem ou doença, esse novo estado é
considerado pré-patológico (Moberg e
Mench, 2000).
Todos estes conceitos levaram os
estudiosos do assunto a estabelecerem
definições próximas sobre o bem-estar.
Para Hurnik (1988, p. 107) bem-estar
animal é um estado ou condição de
harmonia física e psicológica entre o
organismo e seus ambientes. Burchfield (
1979) define bem-estar como um estado no
qual
um
animal
está
usando
adequadamente e conservando seus
recursos corporais e se adaptando às
necessidades internas e ambiental exigidas
para manter homeóstase.
O bem-estar de um individuo é o seu
estado em relação as suas tentativas de
adaptar-se ao seu ambiente (Broom, 1986,
p.524) foi a conceituação concisa feita por
Donald Broom, o primeiro professor de
bem-estar animal na Inglaterra. Estas
conceituações revelam ser o bem-estar um
complexo dinâmico do estado interno que
varia em uma série contínua em suas
manifestações (Clark et al, 1997a). Esta
variação pode diferir entre indivíduos, bem
como no mesmo indivíduo, pois as
necessidades de um indivíduo, as
motivações,
as
preferências
e
circunstâncias
fisiológicas
mudam
dependentemente do seu período de vida.
Não seria possível o animal, assim como os
humanos, estarem sempre em um ótimo
estado de bem-estar. Mesmo em ambientes
naturais os animais experimentam fome,
depredação, variações do ambiente físico e
doenças (Moberg e Mench, 2000).
O bem-estar deve ser concebido de modo
abrangente, compreendendo sua relação
com outros conceitos imprescindíveis
como:
necessidades,
sentimentos,
adaptação, estresse, sofrimento, saúde, dor,
ansiedade, medo e tédio. Uma definição
admissível de bem-estar envolverá
certamente referência às necessidades do
animal, e requererá a delimitação de uma
perspectiva antropomorfa crítica. Assim
como as necessidades humanas (Maslow,
1970), as necessidades dos animais
poderiam obedecer a uma organização
hierárquica de prioridade: necessidades
físicas, necessidade de segurança e
necessidades psicológicas.
24
As necessidades físicas e de segurança
foram consideradas por muito tempo como
necessidades básicas na criação adequada
de um animal: nutrição; ambiente físico
(temperatura, corrente de ar, luz, gases);
práticas humanitárias; cuidado veterinário e
depredação. Webester (1995) instituiu uma
hierarquia de necessidades semelhante
identificada mundialmente como as "Cinco
Liberdades": liberdade de sede, fome e
desnutrição; liberdade de desconforto;
liberdade de dor, agravo e doença;
liberdade para expressar comportamento
normal e liberdade de medo e angústia.
Quando estes fatores relativos o bem-estar
animal foram criados, chamaram a atenção
da comunidade científica para alguns
pesquisadores que já predicavam uma
conceituação de bem-estar mais ampla
(Kitchen et al, 1987; Baxter, 1988b;
Dawkins, 1988; Rowan, 1988), a qual
deveria compreender os sentimentos dos
animais, particularmente os sentimentos
desagradáveis de dor e sofrimento.
Por muito tempo, as necessidades mentais
foram relegadas à importância secundária.
Não se explorava o conhecimento da
associação do bem-estar com a necessidade
cognitiva dos animais, entretanto, hoje,
sabe-se que geralmente, quando as
necessidades cognitivas são satisfeitas, a
saúde física e mental do animal é
protegida. O animal não é um autômato
como postulou Descartes, eles têm
conceitos complexos sobre o ambiente
onde vive. Através da cognição eles são
capazes de avaliar um objeto ou um evento
que não estão presentes ou acontecendo no
momento presente. Um cão ao ficar
sozinho em casa, mantém-se mentalmente
ligado ao seu proprietário através de
imagens mentais representativas durante o
período enquanto estiver mostrando
angústia e, talvez, depois disso. Qualquer
animal ao trabalhar para uma meta
utilizará processos cognitivos em seu
controle comportamental (Broom e Fraser,
2007).
O bem-estar depende principalmente dos
processos cognitivos e para atender essas
necessidades é preciso que as habilidades
cognitivas do animal sejam conhecidas
(Duncan e Petherick, 1991). Somente
através desse conhecimento seria possível
saber até que ponto animais estão atentos
ao estado interno deles enquanto
executando comportamentos indicativos de
sofrimento, medo e frustração. Este é um
grande desafio para a ciência do bem-estar
animal.
Sendo a cognição um conjunto de
processos mentais que permitem a
aquisição de um conhecimento e a
percepção, classificação e reconhecimento
do entorno, ela guarda relação, de acordo
com Duncan e Petherick (1991, p.5019),
com as ‘sensações’ ou o ‘sentir’ e, por
conseguinte, pode ser definida também
como uma atividade específica em um
sistema sensório no qual um animal está
atento. A atenção é apenas uma parte da
contribuição sensória e a consciência está
intimamente relacionada com a atenção,
pois envolve o processo sensorial
consciente correlacionado com o processo
fisiológico que proporciona ao animal o
conhecimento do mundo externo. Este
processo
denominado
sensação,
é
desenvolvido por áreas sensórias corticais
secundárias e terciárias do cérebro e
encerra um processo de interpretação. A
área sensória primária somente apresenta
plasticidade nas primeiras fases de
desenvolvimento. Neste momento na vida
do animal a percepção não significa ‘estar
atento às sensações’, as sensações (fome,
sede, quente, frio etc.) são apenas sentidas,
não interpretadas. Sentir, portanto, é estar
atento aos eventos corporais e perceber é
interpretar os sinais que normalmente se
originam de eventos externos. O animal
pode estar atento a um estímulo interno
(sentir) ou a um evento externo (perceber).
Sentir e perceber são os tipos mais simples
de processos cognitivos. Consciência,
aprendizado e memória são processos mais
25
complexos. Consciência segundo Broom e
Fraser (2007, p.329) é um estado no qual a
análise complexa do cérebro é usada para
processar
estímulos
sensórios
ou
construções baseadas em memória.
2.1.1 Sentimento e Bem-Estar
Durante um processo lento e contínuo, os
animais
superiores
evoluíram
as
capacidades
cognitivas
de
suas
necessidades. A cognição atrelada ao
estado subjetivo afetivo como sentimentos
e emoções, é responsável por motivar o
comportamento de um modo flexível,
contudo, os sentimentos são considerados
como apenas um componente das emoções
relacionadas ao processo cognitivo, à
estimulação fisiológica e às reações
comportamentais (Duncan, 1996). Na
iniciação dos sentimentos é claramente
pertinente à relação entre, ter sentimentos e
estar consciente ou atento. A emoção,
considerando a atividade neural nos centros
de emoção do cérebro ou mudanças
hormonais específicas, pode acontecer sem
qualquer sentimento (Broom, 1998).
Broom (1998) assinala que o sentimento é
uma elaboração dentro do cérebro do
indivíduo de ocorrência periódica que pode
seguir três direções quando experimentado:
(a) contribuição aos sistemas sensórios; (b)
promoção de modificações neurais e
hormonais e (c) condução à criação de
sentimento interno (prazer, enfado, culpa)
sem que necessariamente haja alguma
manifestação externa. A contribuição ao
sistema sensório pode resultar em
sensações
ou
percepções
e
em
processamento
(informação),
armazenamento
(memória).
As
modificações neurais e hormonais se
referem ao estado emocional e podem
envolver atividade elétrica e neuroquímica
em distintas localizações do cérebro com
liberação de hormônio e conseqüências
periféricas. Estas mudanças podem ainda
resultar em sentimentos, como, por
exemplo, ansiedade. A ausência de
contribuição sensória, de mudança
hormonal ou de atividade em centros
emocionais do cérebro pode conduzir à
existência da criação de sentimentos sem
exteriorização. O animal pode estar
sentindo angústia sem demonstrá-la.
Os sentimentos agem freqüentemente como
reforçadores do aprendizado e podem
mudar o comportamento imediatamente ou
eventualmente, mas necessidade não atua
desse modo. Podem ainda, ser positivos ou
negativos dependendo da aproximação ou
evitação que eles promovem. Estão
representados pelos estados de: fome, sede,
desconforto
térmico,
fadiga,
dor,
inquietação, ansiedade, aflição, frustração,
medo, culpa, depressão, enfado, solidão,
cobiça, ciúme, fúria, sofrimento geral,
prazer sexual, prazer de comer, alegria,
outros prazeres sensórios, prazer de
realização e felicidade geral (Broom,
1998). Os diferentes tipos de sentimentos
podem variar largamente de acordo com a
magnitude e duração da contribuição da
resposta
interna.
O
funcionamento
sensório, o processo fisiológico e a
habilidade analítica de cada indivíduo
variarão de acordo com o genótipo e
ambiente ao qual ele é submetido durante a
sua vida. Conseqüentemente, sentimentos
variarão de um individuo para outro.
Sentimentos,
por
envolverem
a
consciência, são fundamentais no processo
de adaptação do animal com o ambiente e
na conceituação de bem-estar. É impossível
estabelecer conceitos de bem-estar sem
associá-los aos sentimentos (Dawkins,
1990; Broom, 1996). Eles persistem em
populações porque a seleção favorecerá a
sobrevivência dos indivíduos que se
servem dele prosperamente no processo de
adaptação. Os sentimentos como um
componente genético são provavelmente
características adaptáveis. Contudo, parte
dos sentimentos sentidos pelos animais são
atividades neurais de epifenômenos
26
(Broom e Johnson, 1993) que não
participam no processo de adaptação com o
ambiente.
No processo de evolução, os epifenômenos
a despeito de serem um sistema não
funcional poderiam ter se tornado
sentimentos, mas também é possível que
haja sentimentos que eram funcionais nos
antepassados dos animais mas que
atualmente tem pequena ou nenhuma
função. A resposta a predadores, por
exemplo, poderia prejudicar os indivíduos
a
desenvolverem
respostas
mais
apropriadas para a convivência com o
homem. (Broom e Johnson, 1993)
(Wiepkema, 1985; Dawkins, 1990 ).
Broom (1996) acentua que o sentimento ao
agir como reforçador aumenta as chances
de o indivíduo aprender e desenvolver
comportamento adaptável. A lembrança do
efeito benéfico poderá favorecê-lo em
situações semelhantes.
Dawkins (1977) destacou que os
sentimentos devem ser produtos de seleção
natural, pois eles fazem parte da biologia.
Experimentar medo ou dor estimula o
animal a afastar-se de situações
ameaçadoras para a sua vida. O indivíduo
experimenta sentimentos de fome porque
isso faz parte do seu mecanismo para
retificar um déficit de comida e adquirir
algo para comer. Experimenta dor e medo
porque elas o induziram à reação do seu
corpo para afastá-lo de situações que são
ameaçadoras para sua vida. Estas
experiências conscientes são essenciais à
sobrevivência (Cabanac, 1979).
O sistema de adaptação pode incluir
sentimentos de prazer e sentimentos
prejudiciais. Se os sentimentos são
apropriados para manter o animal
tranqüilo, é provável que este indivíduo
esteja em um bom estado, indicado pela
fisiologia do corpo, estado de cérebro e
comportamento. No entanto, se os
sentimentos são inapropriados e se
prolongarem por um período longo passam
a ser denominados de sofrimento. Esta
asserção, aceita por alguns autores, os
impeliram a considerarem o sentimento
como algo importante para o estudo do
bem-estar.
Gradualmente,
eles
desenvolveram a tese em que bem-estar
está correlacionado com o que os animais
sentem (Duncan & Petherick, 1989, 1991;
Dawkins, 1990; Broom, 1998, 2006;
Broom e Fraser, 2007). Uma ampla série
de estados emocionais desagradáveis é
denominada de sofrimento (angústia,
medo, solidão, fome, sede) e os estados
agradáveis de satisfação ou bem-estar.
A evolução dotou os vertebrados
superiores com cérebros complexos que
não só regulam o produto de respostas
automáticas para estímulos, mas toda a
interação dos mecanismos envolvidos com
o sentir e o perceber. Seus sentimentos
controlam por monitoração a efetividade de
ações reguladoras mentais e hormonais
necessárias à evolução da sua adaptação no
ambiente físico e social. As ações
reguladoras, porquanto, serão efetivas
quando favoráveis à adaptação do
indivíduo, ao contrário, quando essa
regulação não for apropriada, o processo de
adaptação
será
comprometido
e,
conseqüentemente,
a
sua
aptidão
Em virtude de o cão viver em um ambiente
muito complexo (condições físicas,
influências psicossociais e patógenos), o
comportamento adaptável encerra muitos
outros elementos importantes além do
sentimento. Assim, os métodos de
adaptação incluem também mudanças
fisiológicas no cérebro, na glândula suprarenal e no sistema imune, ademais de
modificações do comportamento que
alteram a motivação e um sistema que
envolve o uso de peptídeos opióides
naturais do cérebro. Alterações na glândula
adrenal podem induzir a ação de linfócitos
que apresentam receptores de opióides
potencialmente capazes de alterar atividade
27
de cérebro. Peptídeos opiato como βendorfina e metencefalina têm efeitos de
analgésico em situações dolorosas ou
particularmente difíceis para o animal
(Broom, 1988b).
O desempenho de certo padrão motor
repetitivo,
como
comportamento
estereotípico ou estereotipia acontecem em
um contexto particular que não fazem parte
dos sistemas funcionais normais do animal.
Estereotipias comuns são exemplificadas
por mordedura de barras de baia de suíno;
andadura de um lado para o outro ou em
círculos em grandes felinos enjaulados em
zoológico; balançar de cabeça em
elefantes; movimentos rotatórios para
apreender a cauda, agressão, lambedura ou
mordedura da pata e do dorso em cães. A
estereotipia seria, pois, padrões de
comportamentos repetitivos e invariáveis
para os quais não há nenhum propósito
óbvio a ser satisfeito. Os animais
praticariam esses movimentos repetitivos
que podem chegar à auto-mutilação, como
uma possível solução para lidar com a
dificuldade da falta de liberdade por
período longo, acompanhadas muitas das
vezes, de condições desfavoráveis para a
saúde física e mental. Alguns tipos de
estereotipias poderiam ajudar o animal a
adaptar-se ao ambiente (Broom, 1988b;
1991a). Dantzer e Mormed. (1983);
Weipkema (1985) e Hughes e Duncan
(1988b), pontuam que a estereotipia
serviria para estimular a liberação de
opióides (endorfina) no cérebro do animal
a fim de reduzir a dor e sofrimento de
animais estressados, contudo, há a
possibilidade da estereotipia ser reforçada
com a liberação de opióides. Hugues
(1988) destacou que as estereotipias, assim
como os comportamentos de fuga e alguns
tipos de agressão, são critérios úteis para
identificar a presença de angústia e
necessidades importantes.
Se o animal encontra-se em bom estado de
saúde e psicológico e consegue se adaptar
às condições que encontra, o bem-estar
pode ser alcançado com pequeno esforço e
gasto de recursos, entretanto, se as
tentativas de adaptação são malsucedidas, o
animal gasta muito tempo e energia, a sua
adaptação pode ser difícil e o seu bem-estar
ser
considerado
pobre.
Fracasso
prolongado para se adaptar ao ambiente
pode resultar em comprometimento do
crescimento, da reprodução ou até mesmo
o acometimento de doença e morte.
Igualmente, o animal terá mais dificuldade
de adaptação e, conseqüentemente um
bem-estar pobre, se a sua aptidão estiver
reduzida, mas, assim que o animal haja
logrado um bom estado geral, volta a
alcançar o bem-estar. Estes conceitos
validam a definição de bem-estar feita por
Broom (1986) “O bem-estar de um
individuo é o seu estado em relação as suas
tentativas de adaptar-se ao seu ambiente” e
isto inclui sentimentos e saúde.
Os sistemas de adaptação para alcançar o
bem-estar preparam o animal para os
desafios a fim de que ele consiga
estabilidade mental e corporal. Os
potenciais desafios incluem fatores
externos
e
internos:
predadores,
competição social, falta de estímulos
fundamentais e contato social, excitação
excessiva com comprometimento do
processamento de informação, inabilidade
para controlar interações com o ambiente,
falta de excitação global, desordem
fisiológica, patógenos e danos físicos. O
enfado, a ansiedade e a frustração podem
fazer parte dos desafios ao sistema de
controle. As respostas aos desafios são
interdependentes e envolvem atividades em
partes do cérebro e respostas fisiológicas
endócrinas, imunológicas e também
comportamentais (Broom e Fraser, 2007).
A adaptação, portanto, é realizada em nível
individual por intermédio de sistemas
reguladores ou respostas, que ajudam o
animal a se adaptar às condições
ambientais. Nestes termos, dependendo do
sucesso da adaptação, o bem-estar pode ser
28
bom ou pobre enquanto a adaptação está
acontecendo. Quando a adaptação é fácil e
exige pouca energia do animal, durante o
processo o bem-estar pode ser muito bom.
Quando a adaptação é difícil pode haver
envolvimento de respostas fisiológicas de
emergência
(Broom,
2006)
ou
comportamentos anormais, freqüentemente
com sentimentos impróprios como dor ou
medo. Neste caso, o bem-estar é pobre
ainda que não haja nenhuma ameaça em
longo prazo à vida do indivíduo.
2.1.2 Necessidade e Motivação
Sendo o bem-estar o estado do animal em
relação as suas tentativas de adaptar-se ao
seu ambiente, ele somente será considerado
adequado se o ambiente onde o animal vive
for apropriado e lhe permite satisfazer suas
necessidades (Broom, 1996). Hurnik
(1988, p.111) definiu necessidade como
uma exigência fisiológica e psicológica de
um
organismo
necessária
para
desenvolvimento normal e manutenção de
boa saúde. Estas necessidades de
importância suprema ao bem-estar de um
animal
foram
categorizadas
como
mantenedoras da vida, da saúde e do
conforto.
O não atendimento das
necessidades que mantêm a vida (oxigênio,
pressão atmosférica e temperatura, comida,
água etc.) poderia levar o animal à morte
imediata.
O fracasso em cumprir o atendimento das
necessidades que mantêm a saúde poderia
levar o animal ao enfraquecimento físico
progressivo, à doença e eventualmente à
morte. O malogro da necessidade de
conforto, representada pela complexidade
ambiental apropriada no que se refere ao
contato social e a evitação de excitação
aversiva, levaria o animal à frustração; ao
desconforto e enfado; ao desenvolvimento
de
comportamentos
anormais
ou
indesejáveis. Estes comportamentos podem
levar o animal a causar dano a si mesmo ou
a outros indivíduos e a fracassar na
execução de ações que contribuiriam ao
seu bem-estar. O fracasso persistente em
longo prazo para satisfazer as necessidades
de conforto não é muito óbvio ao
observador, e poderia ter conseqüências
mais graves para o animal que um fracasso
temporário e de conseqüência imediata
quando não são satisfeitas as necessidades
que mantêm a saúde.
A conjuntura na vida animal requer muito
mais atenção dos pesquisadores. Os
indicadores de bem-estar deveriam estar
relacionados às três categorias de
necessidade. As conseqüências de fracasso
para satisfazer as necessidades que mantêm
a vida são muito complexas e dependem da
duração e magnitude de tal um fracasso. Os
fenômenos de caráter subjetivo que
caracterizam o comportamento do animal
que se encontra nesta situação incluem:
excitabilidade aumentada, frustração e
sinais de angústia; nível mais alto de
agressão; ocorrência mais alta de
atividades de deslocamento, estereotipias e
atividades vazias; atividade motora
reduzida e letargia (Hugues, 1988).
Os comportamentos que identificam as
necessidades de conforto são: busca de
estímulos apropriados (inclusive busca de
estímulos
sociais);
excitabilidade
aumentada e frustração; tendência para
nível mais alto de agressão; ocorrência
mais alta de atividade de deslocamento,
estereotipias e atividades de vazio. Em
situações específicas, dependendo da
duração e intensidade da privação, a ordem
dos tipos de comportamento pode ser
diversa e nem todos os tipos de
comportamentos são manifestados. Tentar
descobrir o possível fracasso para
satisfazer as necessidades que mantêm a
vida é mais fácil que tentar identificar o
fracasso relativo ao cumprimento das
necessidades de conforto. No primeiro caso
os comportamentos e sintomas são mais
óbvios e fáceis de descobrir, no entanto, no
segundo caso, são mais difíceis, porque
29
dependem do conhecimento do observador
de psicologia animal e familiaridade com o
comportamento da espécie ou do
patrimônio genético do animal.
Hurnik (1988, p.111) define o desejo do
animal como a motivação de um organismo
para adquirir controle ou experiência de
algum aspecto do ambiente e revela-se
categórico ao dizer que o bem-estar animal
deveria ser considerado como uma função
da satisfação das necessidades do animal
em lugar de uma função da satisfação dos
desejos do animal. Os desejos seriam
interpretados a partir de comportamento
observado, e pode ou não ser indicador de
falsa necessidade. A distinção entre
necessidade e desejo somente poderia ser
entendida quando o animal se comportasse
de modo a arriscar a saúde ou a vida. A
vontade de comer algo venenoso, por
exemplo, serviria somente para satisfação
do desejo do animal.
Odendaal (1994) descreveu necessidades
básicas como exigências primárias para um
animal ter uma qualidade aceitável de vida,
considerando que os desejos como
representações
cognitivas
dessas
necessidades são secundários e não
necessário para uma qualidade aceitável de
vida. O atendimento das necessidades
básicas por um animal significa manter um
estado de equilíbrio físico e psicológico ou
homeóstase.
Se
circunstâncias
não
permitirem a satisfação das necessidades, o
animal poderá sofrer alterações somáticas,
psicológicas e patológicas. As necessidades
são espécie-específica assim como
necessidades
individuais
variam
consideravelmente devido a interação de
variáveis que contribuem para diferenças
individuais.
Para Duncan (1996) os animais apresentam
necessidades básicas representadas por
exigências de condições de sobrevivência,
manutenção da saúde e reprodução, e eles
reagirão
adversamente
se
estas
necessidades
não
são
satisfeitas.
Geralmente, o estado de estar consciente
dos sentimentos ou emoções desenvolve a
motivação de comportamentos de um
modo mais adaptável às circunstâncias que
os reflexos. Quando o estado é negativo,
redunda em sofrimento e quando positivo
em é denominado de prazer. Em
contrapartida à Hurnik (1988) e Odendaal
(1994) que consideram a ocorrência bemestar uma função de satisfação das
necessidades do animal em lugar de uma
função de satisfação dos desejos do animal,
Duncan (1966) argumenta que as
necessidades são irrelevantes para o bemestar, que seriam os desejos ou estados
emocionais
associados
com
as
necessidades, os elementos de importância
suprema para o bem-estar.
De acordo com Broom e Fraser (2007) as
disposições interiores de tempo e recursos
para diferentes atividades fisiológicas e
comportamentais, dentro de um sistema
funcional, que permitem o indivíduo
controlar suas interações com seu
ambiente, são controladas através de
mecanismos motivacionais. Por outro lado,
quando um animal apresenta sua
homeóstase comprometida, e encontrar-se
em uma situação em que há o
comprometimento de executar uma ação
em virtude de alguma situação ambiental,
diz-se que ele tem uma necessidade. Diante
da necessidade, a possibilidade de
confrontar uma situação de modo efetivo
não só depende da habilidade do animal
para selecionar a estratégia apropriada, mas
também de sua aptidão em empregar
recursos disponíveis do ambiente social.
Provavelmente, as necessidades estão
associadas às exigências para obter um
recurso particular ou responder a um
particular estímulo ambiental ou corporal.
A necessidade estabelece, por conseguinte,
relação com o desempenho de todos os
comportamentos espécie-específica e esses
se constituem em um complexo para a
obtenção de metas ou objetivos e executar
30
padrões motores. A descrição de
comportamento como uma necessidade
depende do conhecimento sobre o contexto
ambiental e, deste modo, o comportamento
será chamado de necessidade em uma
situação particular.
sistemas de motivacional, é possível
responder
perguntas
pertinentes
à
adequação do sistema de criação. O bemestar estaria ameaçado se as necessidades
não forem satisfeitas (Jensen e Toates,
1993).
O impedimento de um animal em
concretizar certo comportamento em uma
determinada situação poderia causar-lhe
sinais de sofrimento (Jensen e Toates,
1993). Hughes e Duncan (1988b)
ressaltaram que o conceito ecológico de
necessidade só pode ser entendido dentro
de um modelo satisfatório de motivação,
sendo o estado motivacional um estado do
sistema nervoso que pode incluir uma
representação de meta. A Motivação é um
processo interno que controla o momento
da expressão do comportamento e das
mudanças fisiológicas. A motivação é
afetada através de fatores internos
enquanto a produção de comportamento é
modulada pela percepção de estímulos
externos.
Quando o padrão de comportamento é
amplamente governado através de fatores
internos, o nível de motivação aumentará
mais cedo ou mais tarde sobre o limiar. O
comportamento será ativado, mas em
alguns ambientes faltos de estímulos será
impossível chegar à consumação do
comportamento. O comportamento em
algumas situações poderá continuar de
forma abreviada ou incompleta, refletindo
subseqüentemente na elevação motivação.
Apreciação de bem-estar pobre surgirá em
situações onde a motivação alcança níveis
altos, mas o comportamento não chega ao
termo, ou ainda, quando a interação do
comportamento com o ambiente não prover
as conseqüências funcionais apropriadas.
Estes padrões de comportamento têm a
possibilidade de ser coadjuvantes para o
desempenho da meta ou podem ter
considerável importância para o animal
(Hughes e Duncan, 1988b). Se o animal
perceber sua meta como já alcançada, não
será
mais
motivado
e
nenhum
comportamento seria executado, neste
caso, a necessidade comportamental não
surgiria (Hughes, 1988).
Hughes (1988) preceituou que a
necessidade comportamental surge quando
um animal estiver motivado. Neste preceito
está implícito que o desempenho de
comportamento que constitui necessidade é
motivacionalmente distinto do outro
comportamento do repertório do animal.
Sendo o sistema motivacional ativado pela
ação de fatores internos e externos, a
hierarquia de necessidades variará de
acordo com a situação ambiental.
Determinadas
necessidades
de
comportamento de uma determinada
espécie não seriam válidas para todos os
ambientes, visto que há de se considerar a
fonte de variação na contribuição interna
para motivação que pode ser muito
diferente. Estes fatores internos que geram
certo
estado
motivacional
podem
apresentar grande importância em estudos
onde o comportamento é utilizado como
um indicador de bem-estar animal.
Mediante a avaliação das sutilezas de
Esta abordagem oferece um conhecimento
fundamental
para
explicar
o
comportamento de intranqüilidade de
muitos animais pobremente estimulados.
Esses animais insatisfeitos provavelmente
por não alcançarem suas metas, tornam-se
ansiosos,
não
conseguindo,
conseqüentemente, expressar tranqüilidade
e satisfação. O comportamento considerado
anormal, motivo de reclamação de
proprietários, muitas vezes é demonstrado
pela excitação, irritabilidade, impaciência,
agressividade e latidos freqüentes. As
recomendações
de
veterinários
e
31
especialistas de comportamento animal
para
esse
problema
baseiam-se
essencialmente no aumento de atividades
físicas através de passeios e da interação
com o proprietário para manter um nível
mínimo de estimulação e atividade.
As necessidades podem ser identificadas
por estudos de motivação e por meio da
avaliação de bem-estar de animais cujas
necessidades não estão satisfeitas (Hughes
e Duncan, 1988a,b; Dawkins, 1990). O
reconhecimento de uma necessidade vem
acompanhado da evidência de angústia e
comportamento anormal (Hughes, 1988).
Baxter (1988b) rejeita o conceito de
necessidade comportamental e sugere
substituí-la por necessidade psicológica. O
autor
considera
que
necessidade
comportamental é um termo mais útil e
mais pertinente para ser utilizado em
discussões sobre o bem-estar de animais
destinados à exploração agropecuária. Para
Tannenbaum (1991) os animais possuem
necessidades de comportamento e sociais
básicas e, portanto, o bem-estar animal
deve incluir estados mentais positivos
como prazer e bem-estar psicológico.
O cão como um animal senciente, capaz de
sentir e desenvolver sentimentos tem
necessidades associadas a sentimentos
também denominadas de experiências
subjetivas.
Estes
sentimentos
provavelmente se alteram quando certas
necessidades básicas são satisfeitas,
entretanto, se estas necessidades não são
satisfeitas haverá uma reação adversa de
forma
holística,
envolvendo
simultaneamente os componentes físicos e
psicológicos. O não atendimento das
necessidades,
no
entanto,
pode
freqüentemente, mas nem sempre (Broom e
Fraser, 2007), estar associado aos
sentimentos que prejudicam o animal,
enquanto sentimentos que favorecem o
bem-estar estão associados à satisfação das
necessidades.
Os sentimentos são aspectos da biologia de
um animal que devem ter evoluído para
auxiliar o individuo a sobreviver (Broom,
1998), exatamente como os (aspectos) da
anatomia, fisiologia e comportamento. Eles
fazem parte de um processo para se atingir
um objetivo, exatamente como as respostas
fisiológicas e comportamentais para a
regulação do organismo. Sob o ponto de
vista evolutivo, o individuo estará propenso
a ter bons sentimentos na maioria das
circunstâncias, contudo, se o seu estado
está
associado
a
sentimentos
desagradáveis, ele será motivado a se
esquivar ou desempenhar qualquer outra
ação. O bem-estar será adequado quando
ele não tem necessidades imediatas e
provavelmente experimenta sentimentos
positivos. A existência de determinadas
necessidades não satisfeitas poderá
configurar sentimentos inapropriados e
bem-estar pobre (Broom e Molento, 2004).
Os animais que vivem em ambientes
pobres e sofrem déficits sensórios ou
contato insuficiente com outros indivíduos,
apresentam
respostas
impróprias
a
estímulos.
Neste
sentido,
foram
identificadas
quatro
categorias
de
comportamentos anormais indicadores de
bem-estar reduzido em animais (Hughes,
1988): 1) comportamento prejudicial
(lambedura ou mordedura de patas e dorso
em cães); 2) movimentos anormais
(excitação sensória, movimentos rotatórios
de
apreensão
de
cauda);
3)
redirecionamento
de
comportamento
(agressão); 4) Comportamento apático.
Todas estas categorias de fenômenos estão
provavelmente
relacionadas
às
necessidades do animal. O sentimento de
angústia advém quando as necessidades
não são satisfeitas.
Ao prover cuidado ao animal, as
necessidades podem não ser satisfeitas ou
não ser conhecidas. Se as necessidades não
são satisfeitas, elas são consideradas
deficiências e pode ser o resultado de
crueldade, abuso, negligência ou privação.
32
Crueldade envolve a inflição voluntariosa
de dor ou pela indiferença ou prazer.
Abuso está associado com o uso impróprio
ou prejudicial do animal, mas não com
satisfação. Negligência acontece quando é
negado ao animal o atendimento de sua
necessidade física ou de segurança
(alimento, água, cuidado médico, ou
abrigo),
deliberadamente
ou
por
ignorância. Por outro lado, privação
envolve freqüentemente a negação de
necessidades também consideradas vitais.
Muitas
destas
necessidades
são
psicológicas, enquanto envolvendo vários
aspectos psicossociais do ambiente onde o
animal interage. Geralmente, estas
necessidades não são conhecidas ou até
mesmo averiguadas. É a forma de abuso
mais difícil avaliar. Privação é manifestada
freqüentemente de modo sutil por enfado,
solidão,
desconforto,
estimulação,
ansiedade, incerteza, frustração, irritação,
agressão, alarme, conflito, medo e
angústia. Mudanças de atitudes do
proprietário acompanhadas por terapia
comportamental e farmacológica podem
aliviar e até acabar com o sofrimento1 do
animal, todavia, a prevenção apoiada em
conhecimento
sobre
comportamento
animal será sempre o melhor caminho para
evitar o sofrimento deste ser admirável.
2.1.3 Estresse e Bem-Estar
Os animais assim como em seres humanos,
apresentam essencialmente, a mesma base
anatômica e fisiológica quando são
submetidos à experiência da percepção de
estímulos nocivos. Os mecanismos
fisiológicos como respostas autonômicas e
mudanças
neuroendocrinológicas
são
1
Sofrimento é um estado subjetivo que pode ser
gerado igualmente através de estímulos prejudiciais e
através de estímulos puramente psíquicos, como a
perda de um amado ou a impossibilidade de obter
um objeto desejado (Dantzer, 1994, p.299).
semelhantes. Igualmente, para as respostas
de comportamentos aversivos, os animais
também evitam estímulos nocivos que são
dolorosos
para
seres
humanos.
Semelhanças qualitativas e quantitativas
em percepção de angústia são difíceis de
definir em seres humanos como também
em animais. Não obstante, animais exibem
sinais
clínicos
comportamentais
e
fisiológicos de angústia, semelhante aos
humanos. Essas respostas para estímulos
nocivos são modificadas por drogas de
modo
que
qualitativamente
e
freqüentemente quantitativamente são
semelhantes às modificações observadas
em seres humanos (Kitchen et al.,1987).
Outro exemplo é a dor física sentida pelos
animais. Como eles não podem informar a
existência da dor por meio da fala, a
intensidade de dor percebido pelos animais
deveria ser estimada por critérios idênticos
que se aplicam ao seu reconhecimento em
observações
fisiológicas
e
de
comportamento em seres humanos.
O
conhecimento
alcançado
pela
neurociência vem demonstrando que os
animais por possuírem habilidades
cognitivas, são capazes de sentir
sofrimento físico e psíquico, ainda que não
tenha alcançado o mesmo grau de
desenvolvimento de seres humanos. Tal
sofrimento tem graduações diferentes em
diferentes espécies e estas graduações
dependem de experiência prévia.
Não obstante, o bem-estar psicológico ser
um tema muito subjetivo e propenso à
interpretação antropomorfa, o pesquisador
envolvido com a avaliação do bem-estar
animal deverá se utilizar de certos critérios
objetivos baseados em aproximações
diferentes, mas complementares. Os
critérios incluem a avaliação da saúde
física, a observação do comportamento e a
reação ao estresse.
Segundo Novak e Suomi (1988) o bem-
33
estar psicológico guarda uma estreita
relação com saúde física. A avaliação da
saúde física pode ser realizada de várias
maneiras: a) qualidade dos sinais externos,
como condição da pele e da pelagem ou
aspecto dos olhos, (b) taxa de crescimento
e envelhecimento e (c) medição de
variáveis fisiológicas. Para a avaliação
final deve-se fazer uma conexão precisa
entre a idade do animal e saúde psicológica
e física. Uma condição física pobre exibida
por um animal idoso, não atestaria
necessariamente um bem-estar pobre e, um
animal fisicamente saudável ainda poderia
estar infeliz ou descontente.
O critério relativo ao comportamento para
avaliar o bem-estar psicológico estaria
baseado na expressão das respostas
espécie-específicas dentro de certos
padrões esperados para a raça e para o
contexto ambiental. Um perfil considerado
favorecedor de bem-estar incluiria alto
nível
de
comportamento
social,
comportamento ativo, exploratório e
brincalhão, com baixos níveis de agressão
e atividades estereotípicas. Seria observado
ainda o quanto o animal é responsivo a
eventos ambientais que acontecem
naturalmente, a propriedade da resposta
dada a estímulos e a efetividade das
estratégias para contornar situações pouco
favoráveis. Neste contexto, outro critério
utilizado na avaliação de bem-estar é a
reação ao estresse. Moberg e Mench (2000)
sugerem que o bem-estar seja definido
como a ausência de estresse por ser o
estado de satisfação incompatível com o
estresse.
O conceito de estresse útil para pesquisa de
comportamento baseia-se particularmente
nos trabalho do fisiólogo americano Walter
B. Cannon e colaboradores e do médico
húngaro Hans Selye. Em termos gerais,
Selye (1956) definiu estresse como uma
resposta não específica de um organismo
para qualquer demanda excessiva.
Cannon (1946) em seus estudos considerou
as emoções como sensações subjetivas
passíveis
de
serem
analisadas
objetivamente através de fenômenos
fisiológicos e componentes etológicos.
Concluiu que as mudanças nas funções
corporais em animais e humanos em
situações emocionalmente estimulantes
aumentavam a capacidade de um indivíduo
para reagir ativamente a situações críticas
preparando-o para luta ou fuga. A
inabilidade ou impossibilidade do animal
em mudar uma situação desagradável
poderia ativar um comportamento apático,
inativo e conduzir, entre outras coisas, uma
redução em taxa de pulso e pressão
sanguínea.
Esse conhecimento alcançado nos últimos
quarenta anos sobre os conceitos de
estresse desenvolvido dentro dos limites de
psicologia e medicina é uma condição
prévia importante para entender os efeitos
de interações sociais na fisiologia dos
animais. O sistema social mantido através
de contato constante entre os animais e os
seres humanos afeta não só o
comportamento dos indivíduos, mas
também pode influenciar positiva ou
negativamente a fertilidade deles/delas, a
saúde e, conseqüentemente o bem-estar.
O sofrimento do cão não é limitado
exclusivamente ao sofrimento físico, já que
ele é capaz de sentir sofrimento mental.
Segundo
estes
conceitos,
reações
fisiológicas ao estresse são ativadas
geralmente através de processos nervosos
centrais (emoções ou sentimentos), que
sempre acontecem quando uma situação é
caracterizada
por
incerteza
ou
imprevisibilidade, quer dizer, quando o
controle do indivíduo em cima da situação
é impróprio ou impossível. A variabilidade
das respostas ao estresse ao depender do
contexto ambiental/comportamental e da
adaptação dos indivíduos provê uma pista
do mundo subjetivo do animal.
34
O mundo dos animais é organizado de
forma que muitos dos eventos são
previsíveis. A imprevisibilidade é um
acontecimento potencialmente aversivo.
Experiências
desagradáveis
prévias
também resultam em expectativa, de forma
que um cão ao experimentar medo em uma
determinada situação, irá provavelmente
evitá-la. Por meio da previsibilidade, os
animais se preparam para reagir com
mudança de comportamento aos eventos
aversivos e não aversivos. A inabilidade de
prever um evento torna a regulação do
corpo mais difícil. A imprevisibilidade de
um considerável número de eventos
dificulta a adaptação do animal, podendo
causar reações adversas. Weiss (1971)
demonstrou que ratos que recebiam
choques previsíveis apresentavam maior
controle ao apresentarem menos úlceras no
estômago que os ratos que recebiam
choques de forma imprevisível.
Kitchen et al. (1987, p.1187) definem
estresse como o efeito de fatores físicos,
fisiológicos, ou emocionais (estressores)
que induzem alteração na homeóstase ou
estado de adaptação do animal. Mudanças
ou
condições
do
ambiente
são
denominadas
freqüentemente
de
estressores, o estado interno do organismo
é denominado de estado de estresse, e as
ações do organismo de resposta ao estresse.
O conceito de estresse, portanto, emergiu
do conceito de homeóstase que se refere à
manutenção de um ambiente interno
constante, apesar de flutuações nos
ambientes externos, esta condição só é
possível se o corpo tiver processos
reguladores que superam excessos e
deficiências. Qualquer sujeição no corpo a
um estressor provoca um contra-reação
para recuperar o equilíbrio inicial e esta
resposta é a reação ao estresse.
Independente do estímulo iniciador o
propósito desta resposta não especifica
sempre é o mesmo, preservar homeóstase.
Como o organismo está constantemente
exposto a estímulos que comprometem a
homeóstase, o estresse está inevitavelmente
presente ao longo de vida do animal.
Os estressores incluem características
físicas
e
químicas
do
ambiente
(temperatura, radiação, pH, salinidade,
catástrofes ambientais), fatores que dizem
respeito à espécie (densidade populacional,
disponibilidade de recurso, predadores,
patógenos), fatores antropogênicos (efeitos
ambientais, como , poluição, barulho e
perturbações conseqüentes das atividades
humanas) (Hofer e East, 1998). A resposta
do animal a um estressor é vista como uma
resposta adaptável para devolver ao animal
o equilíbrio dos estados fisiológico e
comportamental. Esta resposta que pode
variar de acordo com a experiência prévia
do animal; sexo; idade; estado fisiológico e
psicológico; comportamento e processos
emocionais
concomitantes;
envolve
geralmente alterações nos sistemas
neuroendócrino e nervoso autônomo,
induzidas pelo sistema nervoso central, e
este, pelo estado mental e comportamental
do animal. Nem todos os estímulos que
comprometem
a
homeóstase
são
necessariamente desagradáveis, alguns
podem ser muito agradáveis, como
acasalamento, passeios e brincadeiras.
Selye (1956) propôs os termos "eustress" e
"distress" para distinguir o estresse
agradável do estresse desagradável, embora
ele não tenha fornecido argumentos para
justificar esta distinção.
As reações fisiológicas podem ser
prejudiciais ao indivíduo se elas
alcançarem intensidade suficiente ou forem
de duração longa. As tensões sociais ou
psicossociais ativam processos nervosos
centrais que induzem reações fisiológicas
capazes de causar efeitos prejudiciais na
vitalidade do animal ao longo prazo. O
processo emocional como um fator
subjacente nas reações de estresse pode em
uma determinada situação ou estímulo,
variar em seu efeito de um individuo para
outro atuando como um estressor
35
extremamente prejudicial ou como uma
influência inofensiva, e até mesmo como
um gatilho positivo.
Os indivíduos podem reagir aos mesmos
estímulos de modos muito diferentes, no
entanto, se o estressor é muito forte
(queimaduras
severas,
temperaturas
extremas), a morte pode resultar dentro de
algumas horas. Os gatilhos de reações de
tensão são principalmente processos
físicos, sendo o resultado da avaliação de
uma situação por um indivíduo. Estes
processos dependentes do comportamento
de adaptação conduzem a padrões de
respostas fisiológicas diferentes que podem
resultar em vários efeitos de patológicos.
Os efeitos subseqüentes à estressores, por
conseguinte, podem ser caracterizadas
como adaptativa e não adaptativa. A
resposta adaptativa não é em si prejudicial
ao animal, uma vez que não melhora nem
ameaça o bem-estar. Envolve alterações
ambientais que podem ter efeitos
potencialmente benéficos para o animal. A
resposta não adaptativa denominada de
angústia é um estado no qual o animal tem
dificuldade ou não consegue se adaptar a
estímulos internos alterados e/ou a um
ambiente alterado. Se o animal consegue
ter uma resposta satisfatória ao estressor
ocorre a adaptação ao curto prazo, ao
contrário, a angústia prolongada resulta em
efeitos prejudiciais: alimentação anormal,
reprodução ineficiente, interação social
insatisfatória,
hipertensão,
imunossupressão, lesões gástricas e
intestinais. A angústia quando induzida por
mudança no estado interno através da
ocorrência de doença, náusea, ansiedade
excessiva e medo pode se tornar uma parte
permanente do repertório do animal (von
Holst, 1998) e ameaçar o seu bem-estar.
A condição social de um indivíduo, assim
como suas interações de sociais positivas e
a estabilidade do sistema social são
variáveis determinantes para a vitalidade e
fertilidade do indivíduo. O conflito social
provoca uma resposta de alarme aguda
imediata caracterizada por ativação dos
sistemas
simpático-adrenal
medular
(catecolaminas epinefrina e noreprinefina)
e do hipotalâmico-pituitário-adrenocortical
(hormônio adrenocorticortrópico, cortisol,
corticosterona e outros corticosteróides). O
predomínio do hormônio da ação norepinefrina - representa a primeira
resposta ao desafio que provavelmente é
caracterizada pelo sentimento de raiva se a
situação estressante não pode ser
solucionada através de respostas de
comportamento - luta ou fuga. A percepção
de perda de controle possivelmente conduz
a uma mudança de raiva para medo, como
é indicado por uma produção crescente de
epinefrine - hormônio da fuga - e
comportamento subordinado. Se o conflito
se mantém, a reação ao estresse
caracteriza-se pela cronicidade.
A
intensidade da resposta dependente da
percepção do animal e do seu controle
sobre a situação social; são fenômenos
quase que exclusivamente psicológicos. A
continuidade da situação ameaçadora pode
concorrer para a mudança de uma
adaptação ativa ou para uma adaptação
passiva e apática, acompanhada por
atividade de adrenocortical aumentada e
associado com os sentimentos de
desamparo e depressão (von Holst, 1998).
Outro efeito do estresse é um aumento no
gasto de energia metabólica, enquanto
implicando em um custo (Odum et al.,
1979). O custo energético para evitar
predadores ou mesmo perturbação humana
por vigilância aumentada é dispendioso
para o animal. Geralmente, a adaptação
seguida ao estresse é energeticamente cara,
enquanto favorecendo genótipos que
apresentam uma taxa metabólica reduzida.
O estresse reduz a aptidão de indivíduos
desviando energia de processos como
manutenção, reprodução, crescimento e
adaptação genética, estando, portanto,
relacionado inversamente à aptidão (De
Kruipf, 1991). Animais socialmente
subordinados podem sofrer fracasso
reprodutivo em conseqüência de uma
produção aumentada de glicocorticóides
causada
por
molestamento.
Comprometimento
do
orçamento
36
energético também ocorre a animais que
convivem com estímulos estressantes
imprevisíveis e em ambientes sociais
instáveis (Hofer, 1998).
A resistência ao estresse está associada
com o uso eficiente de recursos
metabólicos para crescimento e reprodução
e é altamente variável entre indivíduos
dentro de populações.
Segundo Hofer (1998, p. 437), o mesmo
contexto pode se apresentar como um
desafio diferente para os indivíduos
diferentes da mesma população. Esta
variação parece ser um mediador
importante da associação entre variação
fenotípica e variação individual. Fenótipos
de resistência ao estresse tendem a ter uma
baixa taxa metabólica e uma baixa
exigência, e neste caso, a manutenção é
incluída.
Considerando que animais são expostos
normalmente à uma variedade de
condições e a altos níveis de estresse, podese supor que a resistência ao estresse e,
conseqüentemente, a eficiência metabólica
que confere aptidão global ocorre
normalmente em vários indivíduos de uma
mesma espécie (Parsons, 1991). Estes
indivíduos apresentam desenvolvimento
rápido e uma vida longa, baseados na
eficiência metabólica de genótipos
resistentes ao estresse que serão passados
para as próximas gerações (Parsons, 1996).
O aprendizado também pode facilitar a
mudança genética do custo de energia e
ajudar na adaptação promovendo a
integração genética de componentes de
comportamento no agrupamento de genes
(Anderson, 1995).
Thornhill e Furllow (1998) enfatizam que a
adaptação de uma espécie contra o estresse
é evidência inequívoca que o estresse era
importante para aptidão no contexto da
história evolutiva da espécie. Em um
sentido amplo, todas as adaptações estão
envolvidas com redutores de estresse,
porque adaptações são geradas através de
seleção, e toda seleção envolve a força
hostil do estresse. Uma resposta ao estresse
é considerada uma adaptação se houver
variação genética (Hofer e East, 1998). A
adaptação, portanto, é uma solução
evolvendo fenótipos para um problema ou
estressor ambiental e, o comportamento
está relacionado ao estresse, porque todo
comportamento é a produção da adaptação
psicológica sobre o processamento da
informação. Os indivíduos que se ajustam à
presença do estressor através das respostas
ao estresse seriam favorecidos através da
seleção natural em relação aos indivíduos
que não o fazem. Estes indivíduos segundo
Seyle (1956) estariam mal adaptados no
sentido evolutivo. Charles Darwin em 1872
deixou registrado em seu livro que uma
situação difícil de desespero ou aflição não
podendo ser mudada, poderia ativar
comportamento apático, inativo e conduzir,
entre outras coisas, a redução da taxa de
pulso e pressão sanguínea (Darwin, 2000).
Um conceito geral que poderia ser
empregado para estresse ou estressor seria
qualquer coisa que ameaça a mudança de
homeóstase. Este conceito não distingue
entre estímulos agradáveis e aversivos e,
assim, inclui acasalamento como estressor.
No entanto, a visão adotada em bem-estar
animal e psicologia restringem a definição
de estresse à experiência de um estímulo a
nocivo.
Quando o animal está familiarizado e têm o
controle do ambiente, consegue o prever os
estímulos
aversivos
sob
certas
circunstâncias e ativar uma resposta interna
mais significativa que o próprio estímulo.
Estas respostas podem evocar uma resposta
não específica que resultam em
comportamentos semelhantes ou mudanças
hormonais sob estímulos agradáveis ou
aversivos. Por exemplo, infecções, dor e
exercício estimulam o hipotálamo a
conduzir um aumento de secreção de
37
corticosteróide. Quando o estímulo é
aversivo espera-se que os animais mostrem
certos tipos de comportamentos quando em
uma situação estressante, por exemplo,
diminuição do tempo reflexo, mudanças na
vivacidade e atenção, supressão da
alimentação e comportamento sexual.
(Hofer e East, 1998). Agitação extrema e
retirada apática também poderiam ser
consideradas
respostas
a
situações
estressantes (Mason, 1991). Neste caso, a
definição de estresse é mais restritiva ao
considerar uma situação estressante
somente aquela em que a reação do
organismo não restabelece a homeóstase.
É possível que uma resposta possa alcançar
restauração da homeóstase lentamente,
depressa ou possa falhar, mantendo o
organismo em um estado modificado. A
expectativa de um cão pelo momento do
passeio pode se tornar uma situação
estressante se a espera ultrapassar o horário
usual, mas logo que o animal é atendido,
alcança a homeóstase. Entretanto, se o
animal não é atendido sistematicamente,
pode advir à frustração e esta evoluir para
angústia, caracterizando o passeio como
uma necessidade. Neste caso o organismo
do animal pode apresentar um estado
modificado, contudo se o estado
permanecer, configura-se um estado prépatológico (Moberg e Mench, 2000).
O conceito de estresse que considera a
redução de aptidão devido às respostas do
organismo a estímulos é largamente
utilizado em estudos de bem-estar animal
(Broom e Johnson, 1993). O estresse é
considerado como um efeito ambiental
capaz de reduzir a aptidão Darwiniana do
organismo. A aptidão Darwiniana de um
genótipo é a taxa per capta do aumento do
fenótipo correspondente às características
que o indivíduo leva em seus os genes. Na
prática, aptidão pode ser aproximadamente
a capacidade reprodutiva em longo prazo e
sucesso reprodutivo individual esperado.
As conseqüências da ação dos estressores
para aptidão incluem fracasso para criar a
prole, abandono de descendência, aumento
de mortalidade e declínio da longevidade
(Hofer e East, 1998).
O estudo da aptidão pode ser utilizado
objetivamente para avaliar se um animal
está adaptado, isto é, se mantém o controle
e a estabilidade mental e corporal.
(Broom,1991b), no entanto seria um
equívoco assumir que a adaptação
protegeria o animal de todas conseqüências
da aptidão prejudicial. A seleção natural
maximiza
a
aptidão,
mas
não
necessariamente
o
bem-estar
dos
organismos (Hofer e East, 1998, p.439). A
eliminação de conseqüências da aptidão
prejudicial
depende
da
condição
antropogênica atual. Se ela é diferente,
ainda que sob respostas evoluídas de
estresse, a nova resposta ao estresse pode
não ser eficiente, porque o contexto
ambiental e a magnitude do estresse devido
às ações humanas poderiam ser maior que
nas condições anteriores.
A pesquisa sobre estresse a partir de 1970
seguiu uma linha diferente dos princípios
básicos desenvolvidos pelos biologistas. Os
psicólogos clínicos ao analisarem a
angústia psíquica em pessoas expostas a
circunstâncias difíceis reconheceram a
insuficiência de um modelo linear do tipo
de estímulo/resposta proposta por Selye
(1956) para explicar os efeitos de tensão no
corpo. Um novo modelo proposto para
compreender o estresse envolvia a
avaliação da situação que é confrontada,
em termos de expectativas e recursos
pessoais. As estratégias satisfatórias de
adaptação à situação incluíam estratégias
focalizadas no problema para tentar mudar
a situação e estratégia focalizada na
emoção para tentar mudar emoções
causadas pela situação (distanciando ou
negação). O estresse ou angústia psíquica
ocorreria, portanto, em conseqüência do
modo como o indivíduo percebe e
confronta a situação.
38
O controle comportamental e a habilidade
de predição são importantes fatores
psíquicos utilizados pelo indivíduo para
reagir a uma situação ameaçadora. A
psicologia os considera elementos básicos
úteis na implementação das estratégias
apropriadas de adaptação. O controle
comportamental é alcançado quando o
indivíduo se torna capaz de perceber as
conseqüências da ação e aplicar este
conhecimento
na
modificação
do
comportamento subseqüente. Já a predição
baseia-se na habilidade para usar
informação disponível para predizer a
ocorrência ou ausência de um determinado
evento (Dantzer e Mormed, 1983;
Dantezer, 1994).
O controle que um indivíduo tem sobre
suas interações com seu ambiente é um
aspecto importante em estudos de bemestar animal. O bem-estar será considerado
mais pobre quando for afetado pelas
conseqüências de falta de controle (Broom,
1991b). A manutenção do estado de
controle por ser um tanto complexa,
depende de uma grande variedade de
respostas fisiológicas e comportamentais.
O animal incapaz de manter o controle
pode
apresentar
problemas
comportamentais e comprometimento da
função imune.
2.1.4 A dimensão do sofrimento animal
As palavras dor e sofrimento são utilizadas
comparativamente pelo senso comum,
contudo, uma pessoa pode experimentar
dor sem sofrer (sadomasoquismo) e pode
experimentar sofrimento sem dor (angústia
e medo). Seguramente, lesões de tecidos
orgânicos podem conduzir ao sofrimento,
mas é a reação mental a tal dano a causa
que graduará o sofrimento. O sofrimento
seria qualquer percepção de ameaça à
integridade do indivíduo, compreendendo
além dos danos físicos, outras emoções
negativas decorrentes de eventos aversivos
como medo e ansiedade, muito estudados
em humanos através de modelos animais
(Chapmam, 1990).
Rowan (1988) destaca que a noção de
sofrer como uma ameaça à integridade de
uma pessoa tem grande importância para a
discussão de sofrimento de animal e, a
extensão do sofrimento neste caso, variará
segundo a complexidade mental do animal.
O cérebro ao mesmo tempo em que analisa
toda informação encaminhada pelos
sentidos,
determina
as
respostas
apropriadas. As áreas do córtex cerebral
dos vertebrados foram mapeadas de acordo
com suas funções, e em animais como os
cães, todo o córtex está empenhado
potencialmente na análise da entrada
sensorial (Carthy, 1980).
Os caminhos anatômicos e químicos de
percepção de dor entre animais e humanos
são muito semelhantes (Morton e Griffiths,
1985). A maioria dos sinais externos que
nos levam a inferir a ocorrência de dor em
seres humanos pode ser observada em
outras espécies, principalmente em
mamíferos
e
aves.
Os
sinais
comportamentais
incluem
contorções
corporais e tentativas de evitar a fonte
causadora da dor, contorções faciais,
gemidos, ganidos e outras expressões
vocais, semblante e gestos de retraimento
indicativos de medo ante a perspectiva de
sentir dor etc. Estas evidências se devem a
grande semelhança existente entre o
sistema nervoso do ser humano e de alguns
animais superiores. Tanto os seres
humanos quanto os animais apresentam
também reações fisiológicas indicativas de
dor: dilatação das pupilas, elevação inicial
da pressão arterial, transpiração, aceleração
do pulso e, caso o estímulo continue, uma
queda de pressão arterial.
Conquanto os seres humanos tenham um
córtex cerebral mais desenvolvido entre
todos os animais, essa parte do cérebro está
mais associada às funções do pensamento,
e não aos impulsos, emoções e sentimentos
39
básicos que estão associados ao diencéfalo,
estrutura bem desenvolvida em mamíferos
e aves (Singer, 2002). O cérebro do
mamífero por apresentar estrutura límbica
faculta a esses animais algumas
capacidades tais como: comunicação
auditivo-vocal, brincar, sentir emoção,
empatia e compaixão. As experiências
obtidas através dessas aptidões constituem
o que se denomina “inteligência” do animal
e a sua disposição para empatia favorece o
consórcio emocional com outros indivíduos
(Chapman, 1990). Em seu livro intitulado
In the Shadow of Man sobre o admirável
estudo realizado com chimpanzés, Jane
Goodall (1971) assinalou que os sinais
básicos que o homem usa para expressar
estados emocionais como a dor, a raiva, a
alegria, a surpresa, o medo, o amor, a
excitação sexual não são exclusivos da
espécie humana.
o estudo de bem-estar. Experiências
subjetivas somente são conhecidas ao
serem experimentadas individualmente, e o
único modo possível de dedução sobre a
existência de experiências subjetivas em
qualquer ser, humano ou não-humano,
seria por analogia.
O sofrimento é um fenômeno subjetivo e a
realidade da mente de uma pessoa não é
identificável em condições objetivas. Em
virtude dos sinais clínicos de dor e angústia
serem diferentes nas diferentes espécies, a
determinação precisa do estado de dor,
desconforto ou angústia é muito difícil.
Sofrimento é descrito como emoção
desagradável que as pessoas prefeririam
evitar normalmente e quadros clínicos de
dor e angústia que envolvem estados
mentais internos, são impossíveis de
distinguir com precisão, até mesmo em
seres humanos (Morton e Griffiths, 1985).
No entanto, modelos animais de dor ou
ansiedade provaram ser úteis na
investigação neurológica e de elementos
neuroquímicos que parecem mediar dor ou
ansiedade em seres humanos (Kitchen et
al., 1987).
A dor é uma experiência sensória distinta
de sofrimento que é um estado emocional,
mas apesar dessa diferença, tanto a dor
como o sofrimento são adversos ao bemestar. Geralmente em animais não é muito
fácil descobrir a origem do sofrimento. Se
um dano ou doença estiver associado a um
sentimento desagradável o bem-estar estará
significativamente
comprometido.
Determinadas medidas de bem-estar podem
ser avaliadas de acordo com o sofrimento,
no entanto, embora o sofrimento e bemestar pobre aconteçam freqüentemente
juntos, o bem-estar não deveria ser
avaliado somente em termo de experiência
subjetiva. Um animal pode ter seu bemestar comprometido, a causa de uma
alimentação deficiente, e não estar
sofrendo.
Esta realidade científica serve como base
para a analogia da dor e da ansiedade em
animais não-humanos. Em razão de eles
estarem também sujeitos aos fenômenos
emocionais semelhantes, uma consideração
antropomorfa é de capital importância para
Angústia severa poderia estar associada
com o tédio resultante da falta de excitação
ambiental e com as experiências de
desamparo, privação de comida e água ou
contato social por longos períodos. Os
sentimentos subjetivos de um indivíduo são
aspectos importantes de seu bem-estar
(Broom, 1991b, p.118), uma vez que tanto
os sentimentos de prazer ou desagradáveis
afetarão o bem-estar do indivíduo. Estes
sentimentos se intercalam ao longo da vida
do animal, assim como bem-estar pobre e
adequado.
Dawkins (1990) sugere que a ocorrência de
sofrimento em virtude da impossibilidade
do animal fazer algo que ele está altamente
motivado poderia comprometer a sua
aptidão. Ao mesmo tempo, salienta que não
existe nenhuma relação clara entre
sentimento de sofrimento e motivação. O
40
animal poderia experimentar um estado de
sofrimento sem estar motivado a fazer algo
e vice versa. Bons exemplos seriam a
incapacidade resultante de uma doença ou
lesão, que leva o animal ao sofrimento sem
haver motivação e um animal que tem uma
coceira temporária moderada; mesmo que
não consiga se coçar não estaria
necessariamente sofrendo. O sofrimento
pode não estar acompanhado da motivação,
mas o reconhecimento da saúde física e
psicológica como um critério importante
para o bem-estar, não pode deixar de
considerar o efeito da motivação.
não implica somente no impedimento de
um animal executar comportamento típico
da sua espécie, mas também em efeitos
adversos que surgem como resultado. O
reconhecimento do sofrimento, pois, pode
ser
estabelecido
observando
como
intensamente o animal é motivado a fazer
algo e as conseqüências para a sua aptidão.
Estar privado da alimentação, por exemplo,
se constitui em uma ameaça à sua
sobrevivência; o animal se tornará
altamente motivado e sofrerá (fisicamente
e mentalmente) se for incapaz de fazê-lo
(Dawkins, 1983).
Para o estudo do bem-estar, é importante
conhecer as possíveis causas do sofrimento
do animal. Na ausência de sinais clínicos
de doença ou dano físico, os animais
podem suportar sentimentos desagradáveis
intensos por dois motivos de acordo com
Dawkins (1988): a) sofrimento causado
pela ocorrência de situações que o animal
tenta evitar, mas não consegue (aversão) ;
b) sofrimento causado pela ausência de
certas condições onde o animal é motivado
para executar um comportamento, mas por
causa da ausência de um estímulo
satisfatório ou a presença de alguma
barreira física ou social o comportamento
não pode acontecer. Então, se o nível de
motivação que induz um comportamento é
alto suficiente para a ocorrência do
comportamento, e esse comportamento por
algum motivo não é executado, é muito
provável, que o animal experimente
frustração.
Dawkins (1988) advertiu que a existência
de diferenças em comportamento entre
animais não sugere necessariamente
privação ou sofrimento e as conseqüências
de não executar um comportamento
também podem ser muito variável. Alguns
animais quando são privados de um
comportamento básico para a sua
sobrevivência (comer, beber) podem sofrer
uma motivação crescente e sofrerem se a
privação persistir, não obstante, se um
animal é privado de um comportamento
que não aumenta a sua motivação ele
provavelmente
não
sofrerá
e,
conseqüentemente a privação não afetará o
seu bem-estar. A privação se torna um
sofrimento quando um animal for impedido
ou frustrado de executar comportamento
importante para ele, experimentando
intensos ou prolongados sentimentos
desagradáveis. Um ambiente pobre de
estímulos onde não há oportunidades do
animal se comportar adequadamente, torna
o animal passível de pagar um alto custo
para se adaptar. Se o animal é motivado a
executar um comportamento e é impedido
de fazê-lo, o seu bem-estar será
prejudicado.
Duncan e Wood-Gush (1971) ao cobrirem
o comedouro de algumas galinhas com
uma tampa transparente observaram
andaduras estereotípicas e aumento de
agressão entre as aves.
Episódios
esporádicos de frustração podem ser algo
corriqueiro na vida do animal, mas se
frustração é intensa ou prolongada ou
ambos, pode levar o animal ao estado de
sofrimento e prejudicar seu comportamento
e aptidão. A privação de comportamento,
Em um ambiente estéril ou desprovido de
estímulos, o animal altamente motivado
tem dificuldade em consumar certos
comportamentos. O animal para controlar
esses sentimentos desagradáveis se utiliza
41
de alguns artifícios comportamentais
conhecidos como atividade vazia, efeito de
repercussão e estereotipia. A atividade
vazia é uma atividade sem propósito
aparente (lambedura e mordedura de
flanco) que o animal desenvolve em
resposta
a
motivação
de
um
comportamento
instintivo
que
não
apresenta escape disponível.
O desempenho desse comportamento pode
de acordo com Heiligenberg (1965) reduzir
a motivação para executar outro
comportamento. O efeito de repercussão
(Nicol, 1987) ocorre quando os animais
privados da oportunidade para executar
certos tipos de comportamento mostram
uma tendência grandemente aumentada
para executar aquele comportamento
quando eventualmente lhe é dada à
oportunidade, por exemplo, a excitação
exagerada ao saber que irá passear.
Diferentemente das atividades vazias e dos
efeitos
de
repercussão
que
são
comportamentos naturais, a estereotipia é
um comportamento despropositado para o
seu contexto, executado de forma repetitiva
e constante.
Se em um determinado momento, um
animal não executar um comportamento
para o qual está altamente motivado, e a
situação se constituir em um risco para a
sua aptidão, considera-se que esse
comportamento tenha um alto custo para o
animal. Este custo, portanto, seria o custo
de preservação da sua aptidão. Igualmente,
se o sofrimento acontece quando os
animais são impedidos de executar um
comportamento,
os
comportamentos
considerados com um alto custo para o
animal
podem
estar
relacionados
diretamente ao sofrimento e a aptidão. A
constatação do comprometimento da
aptidão de um animal é feita quando sua
habilidade para reproduzir e sua saúde
física ou psicológica são afetadas.
Quando
um animal
estiver
em seu
ambiente natural, mecanismos internos os
levam a se comportar de modos que
maximizem a aptidão. Porém, em
ambientes antinaturais, esses mesmos
mecanismos
podem
ser
ativados
independentes das conseqüências para
aptidão. Se em uma determinada situação o
animal avaliar que ele está em grande
perigo por não conseguir executar certo
comportamento, sofrerá até mesmo se não
estiver de fato em perigo. Logo, a
estimativa de sofrimento de um animal,
deve considerar não somente o custo para
preservar sua aptidão, mas também o
“custo percebido”. Por outro lado, o “alto
custo” percebido pode ou não envolver
sentimentos desagradáveis, no entanto,
quando eles tiverem atrelados a um
componente subjetivo, ele passa a ser
denominado de estado de sofrimento
(Dawkins, 1990, p.3). Deste modo, a
condição corporal pode ser preservada
ainda que o animal experimente
sofrimento.
A saúde física não requer somente que o
animal esteja livre de lesões e infecções,
que lhe garanta a sobrevivência e a
reprodução, ele deverá estar livre também
de perturbações fisiológicas menos óbvias
potencialmente capazes de comprometer a
sua higidez (Dantezer et al, 1983). A saúde
psicológica é de igual importância, todavia,
é mais difícil determiná-la com precisão
(Broom, 1986; Duncan, 1996). Um animal
pode ter aparentemente uma boa saúde
física e experimentar sofrimento se o
“custo percebido” em relação ao seu
ambiente psicossocial for alto. A saúde
psicológica está associada, portanto, a um
baixo custo de percepção, pois como já foi
assinalada anteriormente, a ausência de
oportunidade
para
realizar
um
comportamento
não
implica
necessariamente em sofrimento.
Alguns tipos de comportamento podem
refletir em diferentes tipos de anormalidade
fisiológica que existe em um espectro largo
42
de debilitação progressiva em um animal.
Qualquer tipo de modificações estruturais
e/ou funcionais produzidas por doença no
organismo pode conduzir o animal a sentir
dor e/ou mal-estar, e, conseqüentemente,
envolver algum grau de bem-estar pobre. A
associação da doença ao bem-estar pobre
não se caracteriza somente pela ausência de
equilíbrio orgânico, mas também por
diminuir a resistência ou aumentar a
susceptibilidade do animal a patógenos e a
efeitos adversos (Broom, 2006). Sendo o
bem-estar pobre o resultado de uma
variedade de causas, esta condição pode
tornar o surgimento de uma enfermidade
mais provável, freqüentemente iniciada por
imunossupressão. Destarte, tendo o bemestar uma conexão importante e complexa
com as patologias, o bem-estar adequado e
a proteção contra doença podem ser
alcançados com respostas mentais e
comportamentos positivos facilitados pelo
apoio social multiespecífico.
(Broom,
1988a, Broom e Fraser, 2007).
2.2 Avaliação do Bem-Estar
A conscientização popular a respeito da
premente necessidade de rever as
condições de criação intensiva de animais
ocorreu inicialmente na Inglaterra em 1964
com a publicação do livro “Máquinas
animais” escrito por Ruth Harrison citada
por Duncan (1981). A indignação popular
era tão intensa que o Governo Inglês
constituiu um comitê sob a presidência do
professor Rogers Brambell para investigar
os sistemas de criação intensiva de animais
de produção. Após a averiguação
meticulosa da situação, o comitê redigiu
um relatório hoje popularmente conhecido
como o “Relatório Brambell”. O relatório
se referiu ao bem-estar como um termo
amplo que deveria compreender o bemestar físico e mental dos animais e,
qualquer tentativa para avaliar o bem-estar,
necessariamente teria que considerar a
evidências
científicas
relativas
ao
sentimento dos animais. Preconizaram que
os animais possuíam uma consciência que
lhes facultavam experiência mental e,
portanto, eram passíveis de sentir
sofrimento. A partir deste relatório, todo
estudo de bem-estar animal teria com o
objetivo principal de revelar se um animal
mantido sob os cuidados humano poderia
experimentar sofrimento.
Os pesquisadores não são capazes de saber
com exatidão o que acontece na mente de
um animal, mas podem observar e
comparar o seu comportamento. Baxter
(1988a,
p.349)
propôs
que
os
pesquisadores deveriam olhar além do
comportamento para
identificar as
necessidades de bem-estar. Esta proposição
envolve o caminho da subjetividade, visto
que os sentimentos não são diretamente
acessíveis à investigação científica, mas
isso não significa que eles não existam. A
mesma dificuldade que existe para provar o
sentimento de um ser humano existe
também para os animais. A fisiologia e o
comportamento dos seres humanos e de
alguns animais são muito semelhantes e,
por isso, eles são utilizados como objeto de
experiência em estudos para investigar a
fisiologia e o comportamento humano.
Broom e Fraser (2007), baseados nesta
realidade, alegaram que
Nunca
poderão
ser
conhecidos
os
sentimentos de outro humano com certeza e,
semelhantemente, só uma estimativa dos
sentimentos
de
indivíduos de outras
espécies pode ser obtida.
O estado de sofrimento representado pelo
desconforto - fome, sede, frio, calor,
doença, dor, medo, ansiedade, frustração,
tédio, angústia, solidão - pode ser resultante
de
estímulos
prejudiciais
ou
de
necessidades não atendidas. A neurociência
tem demonstrado que os animais possuem
habilidades cognitivas e, portanto, são
passíveis de experimentar sofrimento
psíquico. Este sentimento varia entre as
43
diferentes espécies e entre indivíduos e por
ser um estado subjetivo, somente pode ser
avaliado ao nível individual, jamais ao nível
de população. O estudioso em bem-estar
animal deverá conhecer e interpretar as
reações do animal baseando-se em
observações precisas do comportamento
que são complementadas com a avaliação
do estado de saúde e medidas de respostas
fisiológicas. Anormalidade na expressão de
comportamento
significaria
o
não
cumprimento
de
necessidades
comportamentais
e
psicológicas,
evidenciando alteração patológica nos
mecanismos de neurônios relacionados ao
comportamento, e tais circunstâncias
ocorrem somente em certos indivíduos que
têm sistemas neuroquímicos hipersensíveis
dentro do cérebro (Dantezer, 1994, p. 300).
O animal por possuir sistemas de
reconhecimento de estímulos prejudiciais
ou favoráveis e monitorar os efeitos de
condições ambientais, é capaz de
desenvolver métodos para se adaptar às
adversidades.
Entre
eles
está
a
aprendizagem que tende maximizar os
acontecimentos que aumentam a aptidão e
minimizar as ocorrências que poderiam
reduzir a aptidão. É através destes sistemas
e métodos que se processa a evolução dos
sentimentos
positivos
e
negativos,
importantíssimos ao cumprirem um papel
biológico complementar aos mecanismos
anatômicos, fisiológicos comportamentais
(Broom, 1998).
O bem-estar está intimamente relacionado
com os estados subjetivos e, por
conseguinte, a medição de bem-estar não
deve ser baseada somente em indicadores
que medem a função biológica, mas
também, em indicadores próprios que
consideraram os sentimentos ou as
emoções dos animais (Duncan, 1996).
Broom (1998, p. 400) foi categórico em
advertir que a avaliação de bem-estar
deveria envolver uma combinação de
estudos de sentimentos e de outros fatores
que provêem informação sobre adaptação.
Procedimentos de adaptação e efeitos do
ambiente sobre o indivíduo necessitariam
ser avaliados através do teste de
preferência e de indicadores de estresse. O
teste de preferência empregado para avaliar
mais diretamente os sentimentos e outros
aspectos do bem-estar, permite o animal
expressar uma escolha e o observador a
descobrir a natureza de prioridades do
animal. Juntamente com outros testes
diretos ele fornece informação sobre quais
condições o bem-estar poderia ser
considerado adequado.
Embora as reações resultantes do estado de
estresse possam ser biologicamente
adaptáveis em algumas situações, elas não
têm efeitos benéficos. Em conformidade
com a qualidade e intensidade dos
estímulos
recebidos,
as
respostas
comportamentais são diversas, variando de
supressão de atividades normais a
preparação para ação, fuga, defesa ou
isolamento. Se os estímulos estressantes
continuam e o comportamento regulador é
suficiente para promover uma adaptação à
situação,
todas
as
respostas
comportamentais ativas podem cessar e o
animal voltar ao estado anterior
deequilíbrio. A indiferença aos eventos no
mundo ao redor do animal representada
pelo baixo nível de atividade ou apatia,
talvez pudesse ser utilizada como um
indicador de bem-estar tal como o
indicador intranqüilidade.
Moberg e Mench (2000) ao considerarem
os conceitos de estresse e bem-estar interrelacionados
de
modo
antagônico,
sugeriram que o bem-estar deve ser
definido como a ausência de estresse.
Porém, na realidade vivenciada pelo
animal, não é factível favorecer o bemestar psicológico simplesmente eliminando
o estresse ou a angústia resultante. Haveria,
44
ainda, situações em que o animal não
experimentaria angústia, mas também não
experimentaria bem-estar psicológico. Esta
condição poderia ser exemplificada por um
animal entediado mantido em um ambiente
sob baixa estimulação.
Sendo,
provavelmente,
o
estresse
umacaracterística periódica e onipresente
na vida da maioria dos cães, o importante a
ser pesquisado seria a adaptação do
indivíduo à condição estressante e não a
medição do nível de estresse. Neste
sentido, o bem-estar psicológico (Novak e
Suomi,1988) seria a habilidade de um
animal para estabelecer estratégias a fim de
responder efetivamente aos eventos
ambientais que ocorrem naturalmente e
habilidade para se restabelecer rapidamente
após experiências frustrantes ou eventos
nocivos.
Novak e Suomi determinaram alguns
critérios que poderiam ser usados para
estabelecer a presença de bem-estar
psicológico em primatas não humanos: a)
apresentar boa saúde física; b) exibir uma
gama significativa do repertório de
comportamento da espécie se mora
individualmente e, não exibir níveis altos
de
padrões
desorganizados
de
comportamento estranho ou estereotípico;
c) não estar em um estado crônico de
angústia e d) responderem efetivamente a
desafios ambientais. A afirmação de dois
critérios anteriores constituiria evidência
razoável para a existência de bem-estar
psicológico. A escolha de dois critérios não
diminuiria a importância dos demais, pois
os quatro critérios estão até certo ponto os
relacionados.
Geralmente, nos estudos que utilizaram
animais, o estresse é tipicamente medido
através de reações fisiológicas e não
através do comportamento. Entretanto,
devido haver vários caminhos relativos à
gênese do estresse – sistema hipotalâmicopituitário-adrenocortical no qual são
monitorados o ACTH e o cortisol e outro
que envolve o sistema simpáticoadrenomedular no qual são avaliados os
níveis de várias catecolaminas e seus
metabólicos – os sistemas envolvidos
podem ser ativados ou podem ser
igualmente suprimidos sob diferentes
condições ambientais (Moberg e Mench,
2000). O tipo de estressor pode ter uma
importância decisiva na determinação da
resposta hormonal e em implicações do
bem-estar. Quando um animal é desafiado
por algum tipo de estressor ambiental –
encontro agonista ou estímulo incomum –
o eixo de adrenomedular simpático é
ativado. Em resposta a sua ativação, o
organismo do animal é submetido à
elevação da pressão sanguínea, do débito
cardíaco, da coagulação do sangue, da
freqüência respiratória e da secreção de
adrenalina. À medida que a situação volta à
normalidade e o animal se acalma e relaxa,
o sistema nervoso simpático tem seu tônus
reduzido.
É difícil definir quando certo grau de uma
mudança fisiológica particular reflete
negativamente
no
bem-estar.
Provavelmente seja mais seguro determinar
bem-estar pobre quando o fracasso da
tentativa de adaptação é ao longo prazo e
existe comprometimento mensurável em
saúde (Mendl, 1991). Talvez, devido à
dificuldade de entender completamente o
significado
preciso
das
mudanças
hormonais, seja mais apropriado classificar
bem-estar em termos da ausência relativa
de angústia. Em sua caracterização podese, portanto, serem utilizadas medidas de
comportamento e fisiológicas de angústia
(Novak e Suomi, 1988). Morton e Griffiths
(1985) estudaram sinais clínicos e
comportamentais
seguros
para
o
reconhecimento de angústia em primatas,
como caretas, postura curvada do corpo,
mudanças no estado afetivo e respiração
anormal.
Hofer e East (1998) abordaram o conceito
45
de estresse como o reconhecimento de
organismos
que
podem
empregar
estratagemas para uma variedade de
mecanismos visando à adaptação em
resposta à estímulos estressantes diferentes.
Os animais reagem a estressores
desenvolvendo ajustes de comportamento,
energético, hormonais ou imunológicos e
neuroquímicos. Enfatiza que efeitos de
perturbação antropogênica e mudança
ambiental são importantes para a aptidão e,
em um estudo prático, a ausência de
medida de aptidão pode comprometer a
identificação e a interpretação da resposta
ao
estresse.
Não
havendo
o
comprometimento da homeóstase, não
haveria o comprometimento da aptidão,
havendo grande chance do estabelecimento
da adaptação e do bem-estar, todavia, a
perda de massa corporal pode ser
considerada uma conseqüência do estado
de
estresse
e,
por
conseguinte,
comprometimento da homéóstase.
Os estados de estresse e respostas de
estresse podem ser medidos de vários
modos (Hurst et al.,1996). Uma
avaliação inclusiva do impacto de
tensão deveria incluir mais de um
componente da resposta, em virtude da
ativação de mais de um sistema
fisiológico. Medir apenas uma resposta
pode prover informação incompleta
sobre a magnitude e as conseqüências
do problema. Porquanto, é importante
conhecer a resposta imediata que pode
ser fisiologicamente cara e as
conseqüências
hormonais,
comportamental e imunológica do
estresse e considerar as ligações entre
elas.
Foram empregados muitos critérios para
indicar se um indivíduo ou uma população
está em um estado de estresse baseados no
reconhecimento da "síndrome de adaptação
geral" desenvolvida por Selye (1956).
Esperava-se encontrar indicadores gerais
que pudessem confiantemente apontar o
estado de estresse. Houve, nesta época,
muitos equívocos, porque os pesquisadores
supuseram que todos os indivíduos de uma
população ou uma espécie responderiam a
um estressor de forma idêntica. Eles
ignoravam a possibilidade de uma resposta
estar condicionada ao estado do indivíduo.
Não imaginavam que um mesmo estressor
ambiental poderia ter conseqüências
prejudiciais à aptidão do indivíduo se ele
não estivesse em boa forma e, nenhuma
conseqüência se estivesse bem em termos
gerais de saúde.
Os processos fisiológicos particulares
poderiam ser componentes necessários de
uma resposta de estresse, mas às vezes
esses processos podem ser insuficientes
para demonstrar a resposta ao estresse.
Assim, indicadores podem ser valiosos
para responder algumas perguntas, mas não
outras, visto que uma resposta ao estresse
pode ser capturada incompletamente pelo
indicador escolhido. Uma reação do
organismo pode incluir componentes
enérgicos, hormonais e imunológicos que
podem ser invocados a graus diferentes por
indivíduos diferentes e a medição de
apenas um componente pode configurar
inexatidão. Igualmente, numerosos estudos
demonstram que a falta de um
comportamento indicativo de estresse é
uma situação comum, uma vez que o
comportamento é freqüentemente um guia
incerto para abalizar até que ponto um
organismo experimenta estresse (Hofer e
East, 1998).
Neste sentido, Novak e Suomi (1988)
assinalaram que o bem-estar psicológico
estaria definido em termos de um certo
perfil desejável de comportamento. O
animal deveria demonstrar um alto nível de
comportamento ativo dentro de seu
ambiente - exploratório e brincalhão - e
mostrar baixos níveis de agressão e
atividades estereotípicas.
46
Em uma extensa revisão, Maestripieri et al.
(1992) concluiu que a medida de atividades
de deslocamento2 poderia ser um indicador
útil de tensão psicossocial. Entre outros
tipos de medida para tentar avaliar o grau
de perturbação experimentado por animais
encontram-se
a
freqüência
de
comportamento
exploratório,
comportamento de evitação ou esquiva de
um objeto ou evento, apatia e
comportamentos anormais, como a
estereotipia e agressividade excessiva.
Hurst et al. (1996) ao sujeitarem Rattus
norvegicus à intensa pressão social,
observaram um aumento de atividade com
diminuição da fase de sono e evidência de
patologias fisiológicas. Paterson e Pearce
(1992), não obstante, ao usarem medidas
fisiológicas para verificar a possibilidade
da
utilização
de
medidas
de
comportamento como indicador do estado
de estresse, demonstraram que o
comportamento de suínos ante a
aproximação humana, não apresentava
correlação entre índices de cortisol e a
desempenho no crescimento subseqüente.
Hofer e East (1998, p. 450) salientaram que
A
relação
do
comportamento
com
homeóstase devido às demandas da
estação de procriação e mudança
adaptáveis em virtude de outro estado de
estresse. Enfim, um estudo sobre bemestar, devido todos os possíveis indicadores
do estado de estresse de um organismo não
serem considerados elementos diacríticos,
torna-se essencial à utilização simultânea
de diversos indicadores.
As medições relativas às reações do animal
ao estado de estresse devem estar
apropriadas ao período de duração desse
estado. Algumas medidas são mais
adequadas às respostas às condições
adversas de curto-prazo, enquanto outra
são empregadas somente para problemas
de longo-prazo (Fraser e Broom, 1997).
Independentemente do curso da resposta do
animal, a dificuldade ou fracasso para
adaptar-se ao ambiente podem ser
demonstrado através de indicadores de
bem-estar pobre. O sofrimento e bem-estar
pobre
freqüentemente
ocorrem
conjuntamente, entretanto, o bem-estar
pode ser caracterizado como pobre sem o
animal experimentar sofrimento e, desse
modo, o bem-estar não deve ser definido
somente em termos de estado subjetivo
(Broom, 1991).
parâmetros cardiovascular, adrenocortical,
aspectos enérgicos ou imunológicos da
resposta de estresse são freqüentemente
obscuros, e o valor deles para predizer
conseqüências de aptidão é desconhecido.
Ao referir-se às
corporal alegaram
relação às perdas
resultante de uma
2
mudanças da massa
haver controvérsia em
de massa de corporal
alteração inesperada da
Atividade de deslocamento - Comportamento
normal exibido em um momento inapropriado ou
fora de contexto. Os exemplos mais evidentes são
vocalizações e auto-higiene excessiva
O processo de adaptação ao envolver
respostas de comportamento e fisiológicas,
permite ao animal controlar e manter a
estabilidade mental e corporal. Este
processo inclui regulação do estado normal
do corpo acompanhado de respostas de
emergência, como atividade adrenal alta,
taxa de coração ou outras atividades que
podem requerer mais gastos de energia.
Esse gasto de energia, no entanto depende
da predição do animal, da sua percepção
sobre a adequabilidade das ações
reguladoras normais (Broom, 1991). O seu
bem-estar dependerá do sucesso em
adaptar-se às condições proporcionadas
pelo ambiente físico e psicossocial onde
vive. Em algumas situações a adaptação é
difícil e o animal consegue adaptar-se com
47
grande dificuldade, em outras, apesar de
todo o seu esforço, não alcança a
adaptação, sobrecarregando o sistema de
controle. Estabelece-se então, o estado de
estresse, podendo ocorrer à redução de sua
aptidão com o comprometimento do
crescimento e das atividades reprodutivas,
levando eventualmente o animal à morte.
Em um estudo de bem-estar animal, o
estado resultante das tentativas de
adaptação ao ambiente será reconhecível
através de medição científica da
dificuldade ou o fracasso de adaptação.
Logo, o bem-estar pobre está relacionado à
dificuldade ou ao fracasso de adaptação do
animal.
Havendo
comprovação
da
dificuldade
de
adaptação
ou
da
impossibilidade de adaptação, deduz-se
que o animal está sofrendo. Este
sofrimento, contudo, pode ser um estado
passageiro passível de ser modificado logo
que o animal alcance a homeóstase.
Morton e Griffiths (1985) ao referir-se ao
reconhecimento da dor, angústia e
desconforto em animais experimentais foi
enfático em sua colocação ao estabelecer
que a incapacidade verbal do animal não
impede a apreciação segura do sentimento
de dor, pois existem muitos sinais clínicos
para guiar o observador diligente e
inteligente que dificilmente se equivocaria.
Semelhantemente,
ocorrerá
com
a
observação criteriosa de alguns aspectos
comportamentais. O observador somente se
enganará se assumir atitude cartesiana e
negar evidências que confirmam o animal
como um ser senciente.
Para o pesquisador lograr êxito em suas
observações é essencial que esteja atento a
aparência física, ao desempenho e ao
padrão de comportamento normal da
espécie estudada. Deverá ainda, extrapolar
a variação de resposta à diferença entre
raça e entre indivíduos da mesma raça que
poderão mostrar respostas discrepantes.
Mudanças na aparência global de um
animal e o modo como ele interage e o seu
comportamento pode indicar os primeiros
sinais de anormalidade.
Desleixo com o auto-cuidado pode ser um
sinal básico para posteriores observações
de muitos destes sinais. Se a dor, angústia
ou desconforto for sentido por algum
tempo, a pelagem poderá perder seu brilho
natural; haver descargas dos olhos e nariz;
as orelhas podem estar abaixadas; o dorso
pode apresentar-se curvado e o animal
poderá buscar superfícies frias; beber água
e urinar com maior ou menor freqüência;
apresentar-se ansioso, arredio, agressivo ou
extremamente submisso; diminuir a
mobilidade; latir de modo distinto ou uivar.
A inapetência prolongada resultará na
produção reduzida de fezes, redução do
peso corporal e do crescimento. Um
esquema experimental para a avaliação da
magnitude do sofrimento poderá basear-se
nas seguintes variáveis: aparência, peso
corporal, sinais clínicos, comportamento e
respostas apropriadas para um estímulo.
Essas variáveis independentes baseadas em
sinais mensuráveis e padrões de
comportamento devem ser adequadamente
observadas e medidas com precisão. A
avaliação de cada variável é feita dentro de
uma amplitude de 0 a 3 sendo o valor zero
determinado quando nenhuma variação
anormal é descoberta (Morton e Griffiths,
1985).
A aparência de um animal resultante do
auto-cuidado reflete sua condição geral
pode ser classificada subjetivamente
segundo
critério
estabelecido
pelo
pesquisador, em contrapartida, o peso
corporal tem a vantagem de ser medido
objetivamente. Um fracasso para manter o
peso corporal em adultos ou um fracasso
para alcançar peso esperado em animais em
crescimento indicará alguma anormalidade
(Broom e Fraser, 2007). O aparecimento
de falsos positivos pode surgir devido à
insuficiência pancreática, condições que
aumentam a taxa metabólica, absorção
48
intestinal diminuída e diabetes melito
comumente acompanhada do aumento do
consumo de comida e de água.
Desaparecendo a causa de sofrimento o
retorno à normalidade da ingestão
descartará a possibilidade de diabete
(Morton e Griffiths, 1985).
Os animais que sentem dor ou sofrimento
podem
apresentar
sinais
clínicos
mensuráveis por ativação do sistema
nervoso autônomo simpático. Observa-se
freqüentemente a elevação o nível de
catecolaminas,
elevação
das
taxas
cardíacas, taxa respiratória e a temperatura
do corpo, exceto nas extremidades do
corpo que tem um suprimento de sangue
reduzido. A ocorrência de tremor muscular
deve-se, possivelmente, a elevação da
temperatura.
Vômito, diarréia ou
constipação podem acompanhar os outros
sinais clínicos. Em situações graves os
parâmetros clínicos podem ser alterados e
apresentarem-se diminuídos. Em relação ao
comportamento do animal que experimenta
sofrimento, podem-se observar mudanças
caracterizadas
por
isolamento,
agressividade, inquietude ou letargia,
choramingos, latidos ou uivos (Breazile,
1987; Reisner, 1991; Knol, 1994).
O comportamento é um recurso utilizado
pelo animal como uma resposta de
emergência ou como um elemento
regulador, necessários ao processo de
adaptação. Tanto as respostas requeridas
para a adaptação quanto às respostas de
caráter patológico que apontam desordem
mental ou física são indicadores de bemestar. Ambas as respostas são consideradas
comportamentos anormais por diferirem do
padrão, na freqüência e no contexto onde
são mostrados pela maioria dos indivíduos
da espécie, podem tornar-se prejudiciais
(Fraser e Broom, 1997). O aumento ou
diminuição da freqüência de alimentação
ou de cuidado do corpo, por exemplo,
podem comprometer a condição corporal
do animal e levá-lo a lambeduras ou
mordeduras causativas de lesões.
O grande interesse da utilização de
comportamento como um índice de bemestar é provavelmente devido às
dificuldades e limitações associadas ao
emprego e outros indicadores na avaliação
do bem-estar. A investigação do
comportamento de um modo geral envolve
o conhecimento dos interesses do animal
através de teste de preferência e a busca de
comportamentos incomuns, impróprios ou
anormais
resultantes
de
privação,
frustração ou medo. Duncan (1981, p. 492)
acrescenta
que
o
comportamento
transtornado pode indicar mais sutilmente
e mais depressa quando o bem-estar de um
animal é adversamente afetado.
Sendo o bem-estar o estado do animal em
relação às suas tentativas de adaptação
(Broom, 1986), a avaliação de bem-estar
mede as tentativas de adaptação em uma
escala que varia de adequado a pobre. A
caracterização de bem-estar adequado
significaria que o animal não tem nenhum
problema para resolver alcançando com
facilidade à adaptação. Este animal,
provavelmente, encontra-se em uma
situação em que há predominância de bons
sentimentos evidenciados pela expressão
de conforto e prazer.
A caracterização de bem-estar pobre
expressaria o empenho do animal em
enfrentar a condições adversas através de
extremas
respostas
fisiológicas
ou
respostas
comportamentais.
O
enfrentamento implica na utilização de
uma gama de mecanismos de adaptação
para manter o controle da estabilidade
mental e corporal. A dificuldade
prolongada para obter sucesso pode
resultar em diminuição da aptidão com
falência no crescimento e problemas
reprodutivos. Possivelmente, os animais
que têm dificuldade de superar o problema
49
experimentam sentimentos pouco salutares
associados a sua situação. (Broom e
Molento, 2004).
Conquanto uma medida possa indicar que
um indivíduo esteja tendo dificuldade em
adaptar-se às condições do ambiente onde
vive, é um procedimento básico em
qualquer avaliação de bem-estar empregar
uma variedade de indicadores. O exame
simultâneo a fim de conhecer as
semelhanças ou diferenças entre indivíduos
envolve vários aspectos e, um animal,
valer-se-á de um método próprio para
adaptar-se a um único problema ambiental
(Fraser e Broom, 1997). Se o animal utiliza
vários métodos para tentar se adaptar aos
diferentes efeitos adversos, o uso de apenas
um indicador para avaliar a reação de um
animal às condições aparentemente difíceis
poderia, portanto, indicar que o animal está
adaptado ao ambiente. No entanto, se
forem
utilizados
conjuntamente
indicadores fisiológicos, comportamentais
e medidas de aptidão, aumentaria a
validação da avaliação dos métodos de
adaptação do animal e a caracterização do
bem-estar seria mais precisa.
Logo, para conhecer os sentimentos
positivos ou negativos dos animais e
caracterizar o bem-estar, devem ser
utilizadas uma variedade de medidas
diretas e indiretas. A avaliação pode ser
realizada mediante métodos gerais com o
emprego de: indicadores diretos de bemestar adequado e bem estar pobre; teste de
evitação; teste de preferência positivo e
habilidade de realizar comportamento
normal e outras funções (Broom e Frazer,
2007).
Informações precisas sobre como os
animais passam o tempo deles em um
ambiente rico em estímulos servem
também como um guia valioso para
promoção do enriquecimento do ambiente
onde o animal vive. Os indicadores gerais
de bem-estar pobre incluem indicadores de
aptidão reduzida (probabilidade de vida
reduzida,
atraso
de
crescimento,
comprometimento
da
atividade
reprodutiva, dano corporal, doença),
imunossupressão,
atividade
adrenal,
anomalias de comportamento e egonarcotização. Entre as medidas diretas de
bem-estar pobre encontram-se as medidas
fisiológicas: aumento do débito cardíaco,
atividade adrenal, índices de ACTH e
imunossupressão (Broom, 1991).
O sucesso reprodutivo vitalício (Broom,
1991) seria a melhor estimativa de aptidão
biológica, enquanto o comprometimento
representado por atraso do início do
desempenho
reprodutivo,
intervalos
alongados entre procriações, redução do
número e morte prematura das crias,
seriam ocorrências definidoras de bemestar pobre. A avaliação de dano corporal
seria assinalada por ossos fraturados, a
freqüência de ferimentos e de úlceras
estomacais. A doença e a suscetibilidade à
infecção assumem grande importância
como indicadores, porquanto o bemestar de um animal doente comumente é
é mais pobre que em animais saudáveis.
Quando um animal está sob estresse, há
uma grande probabilidade de o seu bemestar ser pobre. A implicação direta sobre a
sua aptidão inclui os efeitos de
manipulação
rude,
perturbação
e
isolamento social. Ao se utilizar de seu
sistema de controle, o animal pode gastar
muita energia e, conseqüentemente, reduzir
o seu índice de massa corporal que pode
ser medida diretamente.
Entre todas as medições de bem-estar, o
comportamento é o indicador menos
complexo. Ele pode oferecer orientação
fundamental sobre as necessidades,
preferências e estado interno do animal. O
comportamento
anormal
é
visto
freqüentemente como indicador de bemestar pobre por estar associado à ambientes
faltos de estímulos e motivação frustrada
50
que levam o animal aos estados de
frustração, conflito, dor, medo, doença, etc.
O comportamento utilizado como indicador
apresenta um valor peculiar na avaliação
do bem-estar. Apesar de ele medir a
tentativa do animal em adaptar-se às
adversidades como os demais indicadores,
o pesquisador ao estimar o comportamento
de ansiedade, intranqüilidade ou de
evitação do animal em relação a um objeto,
a um indivíduo ou a um evento, obtém
importante
informação
sobre
seus
sentimentos e conseqüentemente sobre seu
bem-estar. Comportamentos impróprios
podem ser quantificados e usados como
indicadores de problemas de bem-estar em
longo prazo (Broom e Fraser, 2007) como
a
agressividade
excessiva
e
o
comportamento
de
indiferença
ou
inatividade.
Um comportamento anormal pode ajudar o
animal a adaptar-se ao ambiente, mas ainda
assim, indica bem-estar pobre se
comparado ao comportamento de outro
animal que não experimenta muita
dificuldade durante a adaptação. Algumas
respostas são somente patológicas, não
havendo envolvimento do animal com o
processo de adaptação. Quanto mais
freqüente é a exibição de comportamento
patológico, mais pobre é o bem-estar. A
estereotipia como um comportamento
realizado sem nenhum propósito óbvio
acontece também com seres humanos
saudáveis que não conseguem controlar os
eventos ambientais onde experimentam
ameaças ou frustração em conseqüência da
baixa estimulação. Ainda que o cérebro do
animal produza opióides como analgésicos
internos durante o processo de adaptação, a
auto-narcotização desenvolvida nesse
processo indica claramente bem-estar
pobre (Broom, 1988b).
Todos esses indicadores ajudarão o
pesquisador a definir o estado do animal
em uma escala de bem-estar que varia de
muito bom a muito pobre. A graduação de
bem-estar
obtida
o
auxiliará
na
discriminação do sentimento em positivo
ou negativo. A despeito da aparente
dificuldade em realizar medições diretas
para identificação de prazer, é desejável
que o reconhecimento do bem-estar
adequado seja efetuado através de
evidência positiva ao invés de ausência de
evidência negativa. Em seu livro sobre
comportamento e bem-estar do animal
doméstico Broom e Fraser (2007, p.58)
lista vários indicadores que poderiam ser
utilizados da avaliação do bem-estar. Entre
os principais indicadores estão: indicadores
fisiológicos e comportamentais de prazer;
presença ou supressão de comportamento
normal;
tentativas
fisiológicas
e
comportamentais
de
adaptação
(prevalência de doenças e danos corporal,
imunossupressão,
comportamentos
preferenciais e aversivos; comportamento
patológico) e mudanças bioquímicas
cerebrais.
2.2.1 Definição dos indicadores de
bem-estar
O cão, como um animal domesticado, é
mantido em condições onde ele não pode
ou não executa comportamentos típicos de
seus ancestrais. Um estudo de bem-estar
animal fundamenta-se exatamente na
tentativa de saber se as condições onde
esses animais são criados lhes favorecem a
adaptação ou lhes causam sofrimento.
Portanto, qualquer investigação nessa área
deverá considerar se os animais sentem
particularmente
um
sentimento
desagradável (Dawkins, 1988, 1990;
Duncan, 1996; Broom, 1998, 2006; Broom
e Fraser, 2007).
O sentimento envolvido na privação de um
comportamento varia largamente entre
indivíduos. Alguns animais podem sentir
uma motivação crescente para concretizar
um comportamento e sofrer se há
prosseguimento da privação. Outros
animais, no entanto, não são motivados
51
pelo mesmo tipo privação e as
conseqüências em relação ao seu bem-estar
não são comprometedoras (Nicol, 1987).
Clark (1997b) ressaltou que a avaliação do
bem-estar
poderá
ser
estabelecida
recorrendo à medição de respostas internas
(neurobiológica,
endocrinológica,
imunológica,
morfológica)
e
comportamentais do animal.
Igualmente, Brown (1981); Banks (1982);
Dantzer e Mormede (1983) Dantezer
(1994); Dawkins (1988); Duncan (1996)
acentuam que em um estudo de bem-estar a
definição
de
indicadores
externos
observáveis que denotam as atividades
psíquicas, sentimentais, emocionais e
volitivas do animal, é uma empreitada de
grande importância. O estabelecimento da
condição da saúde física não é tarefa muito
difícil, no entanto, se o sofrimento não
pode ser revelado por sintomas clínicos, é
de suma importância empregar outros
indicadores fisiológicos e comportamentais
para se avaliar quais os índices destas
variáveis constituem sofrimento. Hughes
(1980) citado por Dawkins (1988) adverte
que mudanças hormonais ou variação na
freqüência
de
certos
tipos
de
comportamento
não
se
constituem
necessariamente em sofrimento, pois
alguns animais suportam sentimentos
desagradáveis de forma bem-sucedida. Este
é um ponto importante no estudo de bemestar, os pesquisadores têm que descobrir
indicadores precisos ou modos de perceber
como o animal se sente sob certas
condições.
Broom (1998) não aceita o argumento
sobre o reconhecimento de o sentimento
ser algo inseparável de descrição verbal, e
coerentemente, aponta o sentimento como
algo um tanto difícil de ser investigado
experimentalmente. Adverte que até
mesmo técnicas sofisticadas, não são
capazes de estimar com precisão o
sentimento de um indivíduo, mas podem
ser feitas predições razoáveis utilizando-se
avaliações fisiológicas e evidências
confiáveis a partir de estudos cuidadosos
do comportamento. Entre as medidas
fisiológicas que podem coincidir ou
preceder às mudanças em sentimento estão:
débito cardíaco, mudanças da atividade do
córtex adrenal, medidas hormonais e
mudanças de atividade de neural. Técnicas
de esquadrinhamento do cérebro podem
evidenciar a existência de sentimentos
através da demonstração da existência de
relação entre mudanças cerebrais e
mudanças de comportamento. Broom
reconhece que um problema relevante no
reconhecimento de sentimento a partir de
observações de comportamento, resulta da
possibilidade do sentimento existir sem
haver qualquer mudança fisiológica ou
comportamental.
Se os pesquisadores considerassem
somente os sentimentos na avaliação de
bem-estar, muitas evidências importantes,
concorrentes para a validação do resultado
não seriam observadas. Evidências como
inabilidade para crescer e reproduzir,
condição
física,
longevidade,
imunossupressão, estresse, doença e
anormalidade do comportamento não
seriam utilizadas para indicar bem-estar
pobre. A categorização do bem-estar,
portanto, não deve se basear somente na
demonstração de sentimentos adequados ou
inapropriados do animal, mas também em
evidências outras que concorrem para a
validação do resultado. Estas evidências
são aspectos importantes vinculados aos
métodos de adaptação do animal e,
portanto, devem ser incorporadas ao estudo
de bem-estar (Broom, 1998). Um animal ao
apresentar agressividade excessiva e
condição corporal inapropriada estaria
menos adaptado ao seu ambiente que um
animal manso com condição corporal ideal.
O bem-estar desse animal estaria ainda pior
se ele estivesse experimentando sofrimento
percebido
pelo
seu
estado
de
intranqüilidade.
52
Sendo o bem-estar o estado do animal em
relação as suas tentativas de adaptar-se ao
ambiente, o bem-estar pode variar de
adequado a pobre (Broom, 1986). Os
animais ao se utilizarem de uma variedade
de métodos de adaptação poderão alcançar
sucesso ou fracasso e, naturalmente, as
várias conseqüências do fracasso que
caracterizarão o bem-estar pobre, deverão
ser medidas através de uma variedade de
indicadores. Um resultado seguro não
poderia ser obtido com a medição de
apenas um indicador, pois se usarmos o
indicador comportamental, por exemplo, o
animal poderia estar sofrendo sem
apresentar
qualquer
comportamento
anormal. Igualmente, quando animal é
aparentemente saudável e o sofrimento, se
existir, não resulte em sintomas clínicos,
ainda há a obrigação do pesquisador em
tentar descobrir quais indicadores, tanto os
fisiológicos como os comportamentais são
os mais adequados (Banks, 1982; Dantzer e
Mormede, 1983; Dawkins, 1988).
Assim, para estudar o bem-estar animal
empiricamente nós precisamos de uma
base objetiva segura para saber se um
animal está sofrendo. A avaliação de bemestar deve referir-se às condições físicas e
psíquicas do animal como individuo, e não
a algo proporcionado ao animal pelo
homem. O proprietário de um cão pode
favorecer o bem-estar do animal atendendo
suas necessidades físicas, psicológicas e
comportamentais, mas esse atendimento
não é, na realidade, o que deve ser medido
na avaliação o bem-estar. Broom e Fraser
(2007) reiteram que em toda a avaliação de
bem-estar é importante considerar a
variação individual nas tentativas de
adaptação às adversidades e aos efeitos que
essa adversidade causa ao animal. Neste
contexto, sendo as respostas fisiológicas e
comportamentais diferentes para diferentes
indivíduos e para diferentes problemas, é
necessário que um estudo de bem-estar
inclua variados indicadores para a
realização de distintas medidas, mas que
conjuntamente, revelarão a severidade do
problema.
Os principais conceitos apontados pelos
diferentes autores citados foram: a) um
estudo sobre bem-estar deverá considerar o
que os animais sentem; b) o sentimento
envolvido
na
privação
de
um
comportamento varia largamente entre
indivíduos; c) a avaliação do bem-estar
poderá ser estabelecida recorrendo às
respostas internas e comportamentais do
animal;
d)
indicadores
externos
observáveis denotam aspectos subjetivos
do animal; e) em alguns indivíduos, o
sofrimento pode não ser revelado por
sintomas clínicos; f) mudanças hormonais
ou variação na freqüência de certos tipos
de comportamento não se constituem
necessariamente em sofrimento para alguns
indivíduos; g) sentimento comprometedor
pode existir sem haver qualquer mudança
fisiológica ou comportamental; h) a
presença
de
estresse
não
indica
necessariamente bem-estar pobre.
2.3 A relação homem-animal
Há milhares de anos atrás quando o homem
vivia em aldeias, a domesticação do
ancestral do cão e a sua evolução social
passou a ser influenciada pela proximidade
íntima com o homem. A interação com o
lobo foi provavelmente uma das estratégias
mais prósperas de sobrevivência do homem
(Beck e Meyers, 1996). Os animais além
de haver se tornado companheiro de caça,
favoreceram a segurança e a tranqüilidade
ao homem, servindo como sentinelas para
o perigo e proteção contra o predador. Este
senso de segurança é mantido até hoje pelo
homem ao utilizar o cão como vigia do
ambiente doméstico e propriedades de uma
forma geral.
Em razão dos lobos viverem em matilha, a
sua adaptação ao homem ocorreu
naturalmente. A integração próspera os
afastou de sua origem. Passaram por
53
mudanças genéticas que resultaram em
transformações físicas e atenuação de sua
agressividade. Os filhotes de lobos criados
por humanos tornavam-se inteiramente
dependentes
e,
conseqüentemente,
desenvolveram a neotenia, a persistência
do comportamento juvenil em animais
adultos. Esta característica permitiu o lobo
a aumentar a sua proximidade íntima e
integração com o grupo humano. Em
conseqüência, instalou-se entre as duas
espécies o mutualismo - associação entre
duas espécies diferentes com benefícios
para ambas.
O lobo domesticado passou a servir ao
homem de muitas formas ao longo dos
séculos.
Ao assumir alguns papeis
utilitários, foi submetido artificialmente à
seleção
genética
responsável
pelo
aparecimento de uma grande variedade de
raças. O cão, assim como o gato, subiu na
hierarquia dos animais domesticados
tornando-se o animal de estimação. Hoje, a
despeito dos efeitos prejudiciais que podem
advir do contato animal, exemplificados
por zoonoses (doenças infecciosas e
parasitárias), alergias e danos traumático,
resultantes de mordidas e arranhões, os
cães cumprem um papel importante nas
vidas de muitas pessoas. Neste novo
contexto, muitos estudos foram conduzidos
para a elaboração de rações, vacinas,
antiparasitários e quimioterápicos para
preservar a sua saúde e, paralelamente,
houve o aprimoramento de legislações que
preceituam normas relativas ao controle
sanitário e à proteção animal.
Na opinião Levinson (1962, p.59) a
importância do animal de estimação para o
homem é psicológica em lugar de prática.
A relação entre homem e o cão,
especialmente entre criança e o cão, pode
ser mais saudável que entre dois seres
humanos. Um cachorro fiel satisfará a
necessidade do mestre dele por lealdade,
confiança, obediência respeitosa, como
também
submissão.
O
homem,
intuitivamente, sempre esteve atento à
satisfação de algumas necessidades
psicológicas alcançadas pela atuação sutil
dos animais de estimação. De acordo com
Heiman (1965)
O cão é para homem civilizado o que o
Totem foi para o primitivo, representando
Um protetor - um talismã contra o medo de
morte. Pelos mecanismos de deslocamento,
projeção e identificação, um cachorro ou
outro animal de estimação pode servir
como um fator principal na manutenção
de equilíbrio psicológico.
Entre todas as possíveis relações
interespecíficas entre animais selvagens,
animais domésticos e o homem, a
comunicação entre o humano e o cão ou
gato costuma ser mais sofisticada (Miklósi
et al., 2005) e, entre todos os animais de
estimação, somente o cão habituado a viver
afetuosamente com o homem, tem
capacidade psíquica de representar
qualquer papel requerido pelo seu
proprietário. Este, ao se inter-relacionar de
modo complexo com o animal, o utiliza
como se fosse um objeto humano na
resolução de seus conflitos (Heiman,
1965). Tanto o cão como o homem pode
identificar o outro como provedor de suas
necessidades e se tornar dependente. Cada
um explora os benefícios do outro, sendo
essa interseção algo importante em suas
vidas.
Siegel (1962, p. 1046) desenvolveu um
estudo baseado na seguinte pergunta: “Por
que
as
pessoas
se
relacionam
freqüentemente melhor com outros animais
do que com os humanos?”. Ponderou que
possivelmente, a causa era a comunicação
estabelecida mais facilmente com um
animal de estimação. Algumas pessoas
cansadas de decepções e das dores
resultantes das lutas diárias com outros
seres humanos, sofrem grande necessidade
54
de sentirem-se amadas. Muitas delas
incapazes de aprender a trocar calor e
afeto, têm dificuldade em se relacionar
bem com outras pessoas, embora,
freqüentemente, são afetuosas com
animais, tornando-se mais "humanas" e
agradáveis com a permuta. O animal
parece
demolir
alguma
barreira
psicológica. O cão proporciona ao seu
proprietário oportunidades para sentir-se
importante como protetor e cuidador de um
companheiro
animal.
Sua
intensa
dedicação é incondicional, independe da
condição social do seu proprietário.
Diferentemente de qualquer outra espécie
doméstica, o cão e o gato passaram a
participar intensamente da vida do ser
humano. Hoje, é notória a consideração
dispensada ao cão como um membro
importante para famílias de muitas
sociedades contemporâneas. Vários estudos
demonstraram que o cão é percebido como
um membro da família, enquanto apresenta
muito dos atributos de um consorte familiar
(Messent, 1983a; Albert e Bulcroft, 1988;
Voith et al. 1992; Melson et al., 1997). A
convivência com o cão enriquece a
qualidade de vida das pessoas, reduz a
solidão e contribui para um sentido geral
de bem-estar ao longo de vida (Muchel,
1984).
Durante as três últimas décadas, muitas
pesquisas
exploraram
as
relações
complexas entre crianças e animais sob
uma variedade de perspectivas (Kidd e
Kidd, 1985,; Arkow, 1994,; Paul e Serpell,
1996,; Melson et al., 1997,; Ledger, 2000,;
Church e Church, 2004) e teorias
psicológicas (Poresky et al., 1987,; Albert e
Bulcroft, 1988,; Marks et al., 1994,; Tópal,
1998). As pesquisas aquiesceram sobre a
importância dos diversos papéis do animal
de estimação na vida e no desenvolvimento
da criança. Lee Zasloff (1996) sugeriu que
a experiência emocional de ter uma relação
íntima e atenciosa com um animal de
estimação, independe da espécie animal.
Entre os principais aditamentos da
propriedade de um animal, a companhia
revela-se ser o mais importante, seguidos
do conforto tátil na forma de acariciar e
segurança, que influenciam o cultivo do
amor-próprio. A convivência contribui
ainda para experiências importantes de
aprendizagem
da
vida
como
o
desenvolvimento de sentimentos positivos
de autonomia, amizade, bondade e bemquerer; a responsabilidade de cuidar do
outro e a participação de eventos como
nascimento e morte. Não menos importante
é a sustentação da saúde mental positiva
(McNicholas et al., 2005) com a obtenção
de afeto, prazer e a prática do amor. O
ensejo de uma relação terna sem
julgamento permite as crianças, os jovens e
os
adultos
a
experimentarem
a
conveniência de dar e receber afeto sem
temer rejeição. Todas essas experiências
positivas na infância podem resultar em
acertadas atitudes na vida.
Paul e Serpell (1996) ao desenvolverem um
trabalho longitudinal sobre os efeitos da
obtenção de um cão sobre a criança e seus
familiares, não conseguiram demonstrar
diferenças significativas para as variáveis
interação social e saúde entre as crianças
que ganharam um cão e as crianças que não
tinham um cão. Apesar de algumas
considerações
acerca
do
desenho
experimental, os autores concluíram que
alguns dos efeitos aparentes da propriedade
animal estavam associados com o nível da
relação afetuosa da criança com o animal.
A natureza da relação existente entre a
criança e o animal, e o papel que o cão
desempenhava na vida da criança
individualmente, pareciam ser os fatores de
maior influência sobre os prováveis efeitos
psicológicos e físicos da propriedade do
animal de estimação.
Em um estudo baseado na suposição
psicológica da importância de experiências
prévia para o desenvolvimento humano,
Poresky et al. (1987) atestaram que a
55
relação interativa da criança com o animal
de estimação favorece o auto conceito e o
desenvolvimento de relações interpessoais
e atitudes mais positivas para animais.
Igualmente, validaram a hipótese que os
adultos que tiveram seu primeiro animal de
estimação durante a fase psicossocial mais
ativa, apresentam um auto-conceito mais
satisfatório.
2.3.1 Os benefícios da relação
O cão como animal de estimação tem
vários atributos que facilitam a sua
interação com os humanos (Case, 1999).
Como o homem, o cão é um animal que
obedece a uma organização social que
concorre para a relação de afeto intraespecífica. Esta relação é estabelecida por
padrões de comunicação expressados
através de comportamentos ritualizados
típicos como posturas representativas de
saudação, solicitações e oferecimento de
toque.
Além de serem altamente
responsivos as solicitações do seu mestre,
demonstram um afeto incondicional que
reforça o vínculo. O seu entusiasmo e o
seu prazer em compartilhar exercício e
brincar com as pessoas mesmo quando
adulto, podem facilitar e fortalecer a
relação de afeição. Porém, nem sempre
esses atributos faz do Canis familiaris um
companheiro ideal. Algumas pessoas ao
apreciarem a inatividade, preferem um cão
com espírito independente. Neste caso, o
compartilhamento da necessidade de
companhia, conforto e prazer torna-se
possível ao escolher a raça adequada. Se
um cão não participa das atividades físicas,
pode preencher as necessidades sócioemocionais. Para algumas pessoas,
inclusive para crianças (Heiman, 1965), ele
pode representar um substituto, um
companheiro, uma imagem de espelho de
seu proprietário ou um bode expiatório
para hostilidade como também para
sentimentos positivos.
O animal de estimação apresenta um papel
muito significativo na vida da criança, da
família e da sociedade em termos de
higiene mental. O fortalecimento do ego e
o estabelecimento da autoconfiança da
criança podem ser alcançados mediante a
satisfação da relação de dominância que ela
exerce sobre o animal. O animal de
estimação pode funcionar como uma
âncora de segurança e amor pra a criança e
o idoso nos eventos da vida que se
configuram como perdas. Ao ser utilizado
como um objeto seguro de toque e
conversação pode servir de base para o
tratamento individual e familiar de
desordens emocionais (Fox, 1968b). A sua
inclusão como um adjuvante importante
em psicoterapia, se deve a grande
necessidade de afeto requerida por certos
pacientes. A presença e o contato com o
animal pode ser o apoio decisivo no
desenvolvimento da confiança do paciente
e no desvio da transferência de apego à
figura do terapeuta e de outras pessoas
(Rynearson, 1978), em tratamento de
crianças transtornadas (Levinson, 1978) e
esquizofrênicas (Siegel, 1962).
Levison (1962, p. 60) asseverou que
as mudanças desenvolventes ao longo da
vida de uma pessoa podem ser facilitadas
com o convívio harmonioso com um
animal de estimação que provem proteção,
estímulos e afeto incondicional. Estes
benefícios ajudam a diminuir a alienação
ao prover contato físico, companhia,
conforto emocional e uma forma de
comunicação com natureza representada
pelo animal. Destarte, o cão serve como
um agente catalítico, nos processos de
descoberta do ego. Talvez algum dia o
conhecimento sobre os animais e o
significado deles para o ser humano
alcance e um nível tão satisfatório que seria
possível prescrever certo tipo de animal de
estimação para o tratamento de desordens
emocionais. Há décadas, já se percebe que
o tipo de animal de estimação escolhido
56
por uma pessoa é reflexão da sua
personalidade Levinson (1962).
Brown et al. (1972) inferiram que as
pessoas pouco afetuosas para cães
apresentavam pouco afeto para outras
pessoas, enquanto as pessoas que
apresentavam muito afeto para os cães,
igualmente apresentavam muito afeto para
as outras pessoas. Os benefícios adquiridos
com a convivência com um animal se
devem, principalmente, ao amor que os
proprietários sentem pelo animal sem a
preocupação de rejeição ou ciúme.
Embora Keddie (1977) tenha manifestado
preocupação com a dificuldade de se
avaliar os benefícios da propriedade animal
em condições científicas, muitos autores
reconhecendo a premência de estudos nesta
área
começaram
empenhar-se
na
elaboração de projetos científicos que
comprovassem o valor do animal de
estimação para a vida do ser humano. Beck
e Katcher (1984) analogamente escreveram
um artigo crítico sobre a falta de estudos
mais efetivos na área de terapia facilitada
por animal de estimação. Alegaram que a
maioria dos estudos era estudo descritivo
derivados de relatórios, sem desígnio de
pesquisa formal e sem nenhum controle.
Exortaram a aplicação de pesquisas
científicas para distinguir de forma mais
clara a resposta emocional a animais e à
terapia.
Blackshaw (1996) aditou que desde os anos
oitenta do século passado, a produção de
muitos
artigos
e
eventos
como
conferências, promoveram os benefícios da
propriedade do animal de estimação, no
entanto, era freqüente a falta de evidência
empírica. Cientes da necessidade de
utilização do método científico com
parâmetros mais rigorosos, muitos autores
passaram a projetar estudos qualitativos e
quantitativos baseados em questionários,
entrevistas e observações em campo com
colocações da vida real. O emprego de
escalas na coleta de dados e técnicas
estatísticas na análise dos dados passou,
então, a fazer parte do estudo de interações
homem-animal.
Kidd e Kidd (1980) ao conduzirem um
estudo para verificar as influências da
personalidade do dono sobre as
preferências do tipo de animal de
estimação, concluíram que as diferenças
demonstradas
pelo
sexo
e
pela
personalidade de dono, verdadeiramente
influenciam a escolha do tipo de animal,
facilitam o envolvimento do proprietário
com o animal e maximizam os benefícios
terapêuticos físicos e psicossociais
decorrentes do convívio. Os autores
acrescentaram ainda, que os aspectos
benéficos da propriedade de um animal de
estimação poderiam ser aumentados se tais
associações fossem consideradas pelas
pessoas que decidem compartir sua vida
com um companheiro não-humano.
Alguns estudos sugerem que a condição de
envolvimento afetuoso com um animal de
estimação pode auxiliar na diminuição da
ansiedade e depressão resultantes dos
efeitos negativos dos eventos da vida
(Akiyama et al., 1986/1987; Garrity et al.,
1989). Messent (1983a) informou que
Corson e Corson (1981) ao trabalharem
com psicoterapia facilitada envolvendo
pessoas idosas, utilizaram o termo
catalisador para caracterizar o animal de
estimação como facilitador da interação de
pacientes, residentes e os funcionários das
instituições geriátricas.
A capacidade dos animais de estimação em
reduzir o estresse na vida de seus
proprietários já é conhecida há algumas
décadas. Estudos empíricos controlados
evidenciaram que parâmetros sanguíneos e
cardíacos apresentavam-se diminuídos
enquanto as pessoas estavam próximas,
acariciando ou falando com um cão
amigável (Katcher et al., 1983).
57
Em humanos, a excitação do sistema
nervoso simpático, comumente conhecida
como resposta de luta ou fuga, causa uma
elevação na taxa de coração, pressão
sanguínea, e resistência vascular. Em
contrapartida, quando uma pessoa é tocada
e sente relaxamento, há um efeito no
sistema nervoso central que resulta na
diminuição da estimulação simpático. Esta
variação pode explicar porque uma pessoa
ao usufruir da presença, da vivacidade e do
toque em um cão, pode desenvolver uma
resposta fisiológica no sistema nervoso
simpático que conduz a sentimentos
diminuídos de ansiedade e tensão. Esta
condição torna-se uma contribuição
importante para a relação homem-animal.
Falar com um animal, por exemplo, é
muito relaxante; a pressão sanguínea e taxa
de coração não aumentam como ocorre
durante conversação com outras pessoas
(Case, 1999)-. A relação amigável com o
animal,
diferentemente
de
uma
conversação com outra pessoa, não
compreende julgamento. A pessoa pode se
expressar abertamente e experimentar um
contato reconfortante.
Um estudo experimental amplamente
divulgado de Friedmann et al. (1980),
mostrou que a propriedade de um animal
de estimação é um fator altamente
correlacionado com a sobrevivência de
pacientes que sofreram angina peitoral
severa ou infarto do miocárdio, aparte da
severidade
fisiológica
da
doença
cardiovascular.
Neste estudo, os 92
pacientes que viviam com animais de
estimação apresentaram uma taxa de
sobrevivência de um ano a mais em relação
aos outros pacientes sem cães. Foram
criadas várias teorias para explicar este
achado.
A primeira é que a presença de um cão,
poderia aumentar o nível de exercício que
poderia estar correlacionado com a taxa de
sobrevivência. Contudo, a análise dos
dados mostrou que até mesmo para
pacientes proprietários de um animal de
estimação diferente do cão, a taxa de
sobrevivência era de um ano, não sendo o
estímulo
à
prática
exercício,
provavelmente, a resposta.
A segunda teoria era que o animal de
estimação poderia contribuir para a
diminuição do estresse do paciente e a
última seria que o animal de estimação
auxiliaria na manutenção de uma rotina
diária de atividades. Em outro trabalho, os
mesmos autores Friedmann et al. (1983)
examinaram a mudança da pressão
sanguínea e o débito cardíaco em dois
grupos de crianças que estavam
descansando e lendo em um lugar onde
havia um cão. Foi observado que a pressão
sanguínea
e
o
débito
cardíaco
apresentaram-se reduzidos até mesmo sem
haver interação tátil ou verbal entre a
pessoa e o animal. Sugeriu-se que o efeito
possa ter sido pela associação que as
crianças fizeram entre o cão e as condições
menos estressantes.
Lynch (1969) em um estudo prévio
demonstrou a diminuição da o débito
cardíaco e pressão sanguínea de cães
quando eles eram acariciados. Estes
estudos evidenciam que tanto para o ser
humano, quanto para o animal, a interação
interespécie pode produzir uma mudança
fisiológica associada à redução de estresse.
Conquanto a mera presença de um acaricie
pode influenciar a redução do estresse, os
maiores benefícios parecem ser resultado
de uma relação forte e sustentável entre o
cão e o seu proprietário.
Anderson et al. (1992) em um estudo sobre
os benefícios da interação homem-animal,
mediram parâmetros cardíacos e outros
índices de saúde em um grande número das
pessoas (5.500) assistidas por uma clínica
de avaliação de risco cardíaca. Foram
examinadas as relações entre a propriedade
do animal de estimação e os fatores de
risco
principais
para
doença
58
cardiovascular. Observou-se que os
proprietários apresentaram reduções de
alguns fatores de riscos comuns para
doença cardiovascular como: diminuição
da pressão sanguínea sistólica, colesterol
do plasma e triglicérides. Os fatores
referentes à dieta, ao índice de massa de
corporal, ao tabagismo, a falta de exercício
e o perfil socioeconômico não explicavam
os baixos níveis encontrados. Os autores
concluíram que os proprietários que
possuíam
animais
de
estimação
apresentaram os mais baixos níveis de risco
aceito em comparação aos proprietários
que não possuíam animais de estimação.
Moody et al. (1996) desenvolveram um
estudo piloto nas próprias residências de
proprietários hipertensos de animais de
estimação. Mediram os efeitos de uma
variedade de fatores sobre os parâmetros
cardiovasculares e sugeriram que as
diferenças
individuais
entre
os
proprietários eram devido à variação psicofisiológica dos proprietários. Patronek e
Glickman (1993) teorizaram que a
companhia de um animal de estimação ao
diminuir os riscos dos fatores psicossociais
minora o risco de doença coronária.
Serpell (1991) concluiu em sua pesquisa
para estudar os benefícios da aquisição de
um animal de estimação, que a obtenção de
um cão ou um gato pode ter efeitos
positivos
sobre
mudança
de
comportamento e estado de saúde de
pessoas adultas. Apesar de não haver
nenhuma explicação clara para os
resultados, os proprietários durante o
período de estudo de dez meses
experimentaram menos problemas de saúde
secundários e aumentaram o número e
durações dos passeios recreativos.
Katcher e Beck (1988) relacionaram e
examinaram sete funções dos animais de
estimação na vida dos seres humanos
capazes de afetar a saúde física e
emocional, e conseqüentemente, promover
benefícios fisiológicos e psicológicos.
Estas funções são: companhia, algo para
cuidar e se preocupar, algo para se manter
ocupado, algo para tocar e afagar, foco de
atenção, segurança e exercício.
Ao
considerarem a efetividade de todas essas
funções, conjeturaram que as interações
decorrentes da relação homem-animal
apresentam efeitos salutares para a
diminuição de sentimentos de isolamento,
de depressão, ansiedade e estresse, além de
servirem como catalisadoras sociais para
promoção de interações do proprietário
com outras pessoas e estimularem
oportunidades para descontração e
exercício físico.
Messent (1983b) e McNicholas e Collis
(2000) demonstraram que pessoas ao
caminharem com os cães usufruem em
média de encontros sociais mais positivos e
dão passeios mais longos. Selby e Rhoades
(19981) ao estudarem atitudes das pessoas
em relação aos cães e gatos observaram
que os animais de estimação alimentam o
amor-próprio
de
seu
proprietário
indiferentemente de apresentarem ou não
uma aparência bonita e agradável.
Observaram ainda, que a espontaneidade e
a habilidade do cão em facilitar
conversação, talvez fosse o fator decisivo
para o desenvolvimento do sentimento de
amor-próprio.
Em um estudo conduzido no período de
novembro de 1990 a outubro de 1992,
Crowley-Robson et al. (1996) avaliaram o
estresse, a depressão, a raiva, o vigor, a
fadiga e a confusão mental de residentes de
instituições geriátricas. Concluíram que
havia uma tendência de todos os idosos
residentes nas instituições geriátricas
visitadas por cães, apresentaram aumento
de vigor e diminuição do estresse, da
depressão, da raiva, da fadiga e da
confusão mental. Os animais ajudavam os
residentes a se ajustarem ao ambiente
proporcionado uma ligação com a sua
residência anterior. Os autores sugeriram
59
que todas essas instituições deveriam
desenvolver um programa de visitas
regulares com cães ou outras pessoas.
Quando o estilo de vida de uma pessoa
idosa muda, a importância do papel de um
animal de estimação pode aumentar
significativamente. A companhia de um
cão pode ajudar na diminuição da solidão
freqüentemente associado à perda de
amigos, parentes, e até mesmo um cônjuge
(Case, 1999). A dependência do cão para
cuidado
e
atenção
instiga
o
comprometimento e motivação do idoso
para com o animal e para com a vida. A
freqüente limitação de oportunidades para
dar e receber toque afetuoso valoriza
sobremaneira o benefício do calor, do afeto
e da vivacidade que um cão amoroso.
Siegel (1990) desenvolveu um estudo
prospectivo de um ano para avaliar os
efeitos diretos e indiretos da propriedade de
um animal de estimação sobre a demanda
de assistência médica de dois grupos de
idosos: proprietários e não proprietário.
Através de um questionário foram obtidos
dados sobre características demográficas, a
rede social de apoio, convicções de vida,
angústia psicológica, eventos da vida
(conjugal, perdas, doença etc.) e aspectos
da
relação
homem-animal
(responsabilidade, tempo gasto com o
animal de estimação, vínculo afetivo e
relação custo e beneficio). Os resultados
sugeriram que a acumulação de eventos
estressantes se associava ao aumento de
consultas médicas para os respondentes
sem animal de estimação. O cão mais que
qualquer outro animal de companhia servia
como um pára-choque para o estresse
resultantes dos eventos da vida e um objeto
de afeição. Os proprietários de cães
envolvidos com atividades gerais e ao ar
livre, apresentaram vigor físico e mental e
menor contato como os médicos. O autor
concluiu que a propriedade de um animal
de estimação influencia a saúde física, os
processos psicológicos, a reunião social e,
conseqüentemente,
a
demanda
assistência médica de idosos.
por
Em detrimento dos resultados posteriores
obtidos por vários autores a respeito dos
benefícios da propriedade de animal de
estimação para idosos, Robb e Stegman,
(1983) não havia encontrado nenhum
benefício físico e Lawton et al. (1984) e
Robb e Stegman (1983) não haviam
encontrado nenhum benefício psicológico.
Entre os papéis representados pelo cão na
vida do ser humano, a Terapia Facilitada
por Animais é apenas mais um deles. A
utilização do animal de estimação como
elemento terapêutico não é algo recente.
Jones (1955) citado por Siegel (1962)
registrou em seu livro, que desde 1800
estes animais eram utilizados notavelmente
mesmo sem nenhum estudo sistemático
prévio. A discussão mais recente sobre o
uso de animais como instrumentos de
terapia ganhou aceitação pública e atraiu o
interesse de um grande número de
investigadores
e
profissionais
comprometidos com o cuidado médico
(McNicholas et al, 2005).
Os trabalhos de Levinson (1962, 1967,
1970, 1978) serviram como um estímulo
para muitos profissionais da área da saúde
examinaram a Terapia Facilitada por
Animais como uma terapia suplementar
incorporada em uma larga variedade de
colocações terapêuticas para idosos,
crianças e adultos com distúrbios mentais,
pessoas hospitalizadas por longo período e
pessoas com inaptidão física (Hart et al.,
1996, Lane et al., 1998 ).
A contribuição dos cães em instituições ou
em residências pode ser realizada sob a
forma de programas de visitação ou como
animais
residentes
(Lee,
1983).
Independente do problema e da
necessidade, o cão altamente treinado é
capaz de auxiliar uma pessoa com
necessidades especiais a se tornar mais
60
independente em sua mobilidade, no
cumprimento
de
algumas
tarefas
domésticas, no transporte público, em suas
atividades laborais e sociais. Estes
maravilhosos animais podem, ainda, agir
como facilitadores sociais (Hunt et al.,
1992) e beneficiar emocionalmente uma
pessoa de modo que ela se torne mais
responsiva e aumente o seu amor-próprio.
Todas
estas
evidências
científicas
mostraram-se assaz expressivas para
afiançar uma nova significação aos
benefícios
da
propriedade animal
proporcionados a vários segmentos da
população, especialmente a criança e ao
idoso solitário (Paslow, 2005). Não
obstante, mais pesquisas são necessárias
para estabelecer a extensão destes
benefícios a outros segmentos da saúde
pública e para compreender mais
profundamente os processos fisiológicos e
psicológicos envolvidos na interação
homem-animal.
3
Projeção - “operação pela qual um sujeito situa
num mundo exterior, mas sem identificá-los como
tais, pensamentos, afetos, concepções, desejos, etc.,
acreditando, por isso, em sua existência exterior,
objetiva, como um aspecto do mundo. Em um
sentido mais estrito, a projeção constitui uma
interação por meio da qual um sujeito coloca para
fora e localiza em outra pessoa uma pulsão que não
pode aceitar em sua pessoa, o que lhe permite
ignorá-la em si mesmo. A projeção, de maneira mais
diferente da introjeção, é uma operação
essencialmente imaginaria’’. (Chemama, 1995, p.
166)
4
Deslocamento – “operação característica dos
processos primários, por meio da qual uma
quantidade de afetos se desprende da representação
inconsciente, a qual está ligada, indo ligar-se a uma
outra, cujos vínculos com a interior são vínculos
associativos pouco intensos ou, contingentes”.
(Chemama, 1993, p.46)
5
Identificação - “assimilação de um eu estranho,
resultando que o primeiro se comporta como o outro
em determinados pontos de vista, que ele limita, de
alguma forma, a que acolhe em si mesmo, sem se dar
conta disso’’. (Chemama, 1993, p.102)
2.3.2 O cão no contexto familiar e o
bem-estar mútuo
A família sendo o ambiente mais
importante para as crianças e adolescentes,
é a instituição responsável pelo contexto
gerador de relações significativas. No
clima familiar, a qualidade da relação dos
jovens com o animal de estimação será
afetada pela qualidade das relações
desenvolvidas
entre
os
membros
familiares. Animais podem funcionar como
projeções dos medos de crianças e adultos,
desejos e fantasia. Por outro lado, a
aparência, o comportamento e índole do
animal podem influenciar e afetar a criança
(Melson et al., 1997, p.515).
A presença do animal no ambiente familiar
permite projeção3 e deslocamento4 de
atitudes e sentimentos desenvolvidos com
o cuidado, a preocupação, a ansiedade e o
temor (Bridger, 1976). Sendo o espaço
familiar o ambiente natural do animal de
companhia, para conhecer as perspectivas
da relação homem-animal com mais
profundidade, seria necessário distinguir o
papel representado pelo animal no contexto
familiar. Pessoas privadas de carinho e
afeto podem deslocar suas necessidades
para o animal. Este deslocamento com
conotação patológica, estabelecido pela
preocupação pouco comedida com o
animal, pode servir para sustentar a
identificação5 projetiva (Rynearson, 1978).
Desse modo, o comportamento do animal
de companhia pode refletir o cerne do
contexto familiar. Sua saúde física e mental
poderia estar em risco em um ambiente
onde há descaso, pouca consideração ou
abuso entre os familiares. O animal
poderia, por exemplo, funcionar como um
marcador de abusos de criança que sofrem
problemas psicopatológicos. Estas crianças
podem expressar tendências violentas
através de atos cruéis praticados contra os
animais. Crianças que maltratam animais
com o desejo de infligir dor e sofrimento,
61
freqüentemente, tem necessidade de
intercessão psiquiátrica (Melson et al.,
1997).
Veterinários clínicos deveriam utilizar em
seu trabalho a prática centrada na família a
fim de se beneficiar da compreensão de
teoria do sistema familiar. Mostrar-se
interessado sobre a posição do animal na
família e de seu comportamento seria uma
prática
veterinária
orientada
para
identificação prévia de problemas e
favorecimento do animal e de políticas de
assistência social. Este problema é bastante
conhecido por psicólogos, assistentes
sociais e veterinários nos Estados Unidos e
na Europa. Pesquisadores envolvidos com
a clínica veterinária informaram que o
comportamento de animais de companhia
freqüentemente
espelha
o
sistema
emocional da família (Roberts, 1994).
Um estudo conduzido por Speck (1965)
citado por Melson et al. (1997) demonstrou
haver uma correlação entre os padrões de
saúde física do animal de estimação e os
padrões de saúde física dos familiares.
Igualmente,
os
problemas
de
comportamento da criança e do animal de
companhia eram geralmente definidos pelo
modo de se comportar da família. Roberts
(1994) ao realizar um estudo comparativo
entre o comportamento de criança e cães,
concluiu
que
dependendo
das
características individuais do animal, a sua
interação com o ambiente pode afetar o seu
desenvolvimento. Crianças bem-ajustadas
tinham animais bem-ajustados, e ao
contrário, crianças mal-ajustadas geravam
problemas
de
comportamento
e
comprometimento da socialização do
animal.
Clínicos veterinários deveriam estar atentos
às relações afetivas dos familiares para
com o animal, pois uma avaliação mais
precisa da qualidade dos cuidados
dispensados ao animal depende da
caracterização desta relação.
Estes
profissionais
deveriam
adquirir
informações
básicas
que
lhes
possibilitassem compreender o sistema
familiar humano a partir de uma
perspectiva
sistêmica.
A
melhor
compreensão do contexto social em que o
animal está inserido permitiria uma
adequação
do
atendimento
e,
conseqüentemente, alcançar o objetivo de
melhorar o bem-estar animal e a qualidade
de vida do proprietário. Certamente, o
contexto familiar, o envolvimento dos
familiares e a interação satisfatória ou não
com
o
cão,
podem
influenciar
sobremaneira o bem-estar do animal. No
entanto, não se pode esquecer que o cão
tem um temperamento distinto e cumpre
um
papel
ativo
nas
interações
desenvolvidas no âmbito doméstico. Os
profissionais
que
lidam
com
aconselhamento de pessoas devem
considerar a relação homem-animal como
um subsistema fundamental que afeta
comportamento familiar.
Similarmente, os médicos veterinários
deveriam focalizar um cão como membro
da família (Melson et al., 1997). Isto
facilitaria a compreensão do contexto
familiar e proporcionaria mais subsídios
para avaliar o cuidado dispensado ao
animal e os problemas comportamentais
exibidos pelo animal. Lantzman (2004) ao
estudar a interface entre o campo de
conhecimento do veterinário e o campo de
conhecimento
do
psicólogo
para
possibilitar a compreensão da inserção do
cão no contexto da família urbana,
assinalou ser fundamental destacar a
responsabilidade do veterinário nos casos
de agressividade canina.
Voith (1985) considera o envolvimento
entre pessoas e um animal de estimação
semelhante
ao
comportamento
desenvolvido entre uma pessoa e uma
criança. Muitos atributos da criança são
igualmente expressados pelo animal de
estimação. O cão, por exemplo, se
62
comporta como dependente de cuidados e
está sempre disposto a brincar, o que o
caracteriza como uma criança perpétua. Ele
pode estimular o contato tátil, demonstrar
que sente falta das pessoas e a alegria
esfuziante ao revê-las. Miller et al. (1986,
1990) em estudos sobre chipanzés,
observaram que os jovens chipanzés
reagiram à separação semelhantemente a
uma criança e que o ser humano poderia
servir como figura de afeição para esses
animais.
O cão, como a criança, pode gerar um
sentimento de bem-estar, um sentimento de
conforto e de bem-querer. A separação ou a
perda permanente do cão poderá resultar
em ansiedade de separação, aflição, e
estado de luto, porque a perda de um ser
amado é a perda de uma relação especial de
afeição. A intensa relação de ternura que
algumas pessoas desenvolvem com o cão,
além de prover o conforto de proximidade,
reduzir a solidão e dar um propósito à vida,
pode facilitar a consciência íntima de
afeição e influenciar positivamente a
interação com outras pessoas (Sable, 1989,
1995). Enfim, a relação afetuosa entre o
animal e os integrantes da família pode
proporcionar
benefícios psicológicos,
físicos e sociais.
Algumas pessoas acreditam que a relação
homem-animal é mais intensa e mais
íntima que relações interpessoais. Os cães
podem se tornar tão íntimo quanto um
cônjuge, uma criança e um pai (Overall,
1997). Wessels (1984) citado por Overall
(1997) observou que o vínculo existente
entre o homem e o animal de estimação,
em geral, é um triângulo emocional
formado devido a construções de ansiedade
entre duas pessoas, podendo a atenção ser
focalizada em um terceiro objeto
representado pelo animal de estimação. O
autor sugeriu que o animal faria ao mesmo
tempo o papel de um receptáculo de afeto e
perturbação emocional e de bode
expiatório e de pacificador.
Do mesmo modo, Serpell (2006) ponderou
que
O cão serve como uma saída conveniente e
socialmente aceitável para raiva reprimida, e
é uma vítima particularmente satisfatória
neste respeito por causa de sua proximidade
com humanos.
Baseando-se na interpretação psicanalítica
de outros autores, Serpell distingue
amor/ódio
e
as
atitudes
tolerância/intolerância do homem para com
os cães como um reflexo de sua
ambivalência sobre o animal dentro dele o freudiano ‘id’ - a fonte instintual onde
estão centrados os sentimentos impulsivos
e desejos proibidos que o homem tenta
manter reprimido.
Barker e Barker (1988) idealizaram um
estudo para avaliar a proximidade relativa
que os proprietários sentiam em relação aos
seus cães. Para tanto, foi solicitado aos
proprietários que representassem as
relações significantes deles usando a
técnica denominada de Diagrama Espacial
da Vida Familiar. Os autores concluíram
que mais de um - terço destes proprietários
consideravam o cão mais íntimo que
qualquer outro sócio familiar, revelando a
possibilidade do cão ser considerado no
mesmo nível que qualquer outro
componente familiar.
Em um estudo clássico, Ainsworth (1989)
concluiu que o animal de estimação - em
particular os cães - como qualquer outro
amigo da família, também tem o potencial
para prover um vínculo emocional que
promove um senso de bem-estar e
segurança. A influência mútua entre o cão
e o ser humano é uma experiência especial
devido a sua relevância para o bem-estar
tanto do animal quanto do homem. A
qualidade do bem-estar depende da
qualidade dessa relação.
63
2.3.3 A relação afetiva
O início da relação entre o homem e o
ancestral do cão começou há 14.000 anos
quando o lobo começou a ser domesticado
pelo homem (Clutton-Brock, 2006).
Inicialmente, os animais selecionados para
a domesticação eram escolhidos segundo
suas habilidades sócio-cognitivas e afetivas
para o ser humano e pelas suas
características infantis (Coppinger et al,
2002). A evolução do Canis familiaris,
caracterizada por mudanças físicas e a
persistência de caracteres filogenéticos
juvenis na fase adulta (neotenia), foi a
condição prévia para o desenvolvimento da
relação de afeição entre o homem e o cão.
Ao mesmo tempo em que se formavam as
relações cuidador-receptor entre o ser
humano e cão através da socialização, se
desenvolvia também através de seleção
artificial
a
dependência
do
cão
semelhantemente a relação pai-criança. Os
10.000 anos de seleção artificial
favoreceram a socialização do cão que
passou a ter preferência por humanos
(Tópal, 1998). O desenvolvimento do
vínculo entre o cão e seu proprietário,
conquanto, foi explorado a partir do
processo de seleção natural que promoveu
a aproximação destas duas espécies e que,
posteriormente, pela domesticação e
seleção
artificial,
levou
ao
desenvolvimento do cão doméstico como
conhecemos na atualidade.
Os vínculos emocionais fortes do homem
com os seus animais de estimação podem
ser caracterizados como apego. O
significado atual da palavra apego foi
desenvolvido por Bowlby (1990), sua
teoria está baseada na descrição do
processo instintivo que constrói a ligação
entre a mãe e o recém-nascido. Segundo
essa teoria, a meta primária de apego é a
proteção
contra
predadores
e
apaziguamento, e não somente o resultado
da satisfação de necessidades primárias
como facilitação da alimentação e proteção
contra temperatura fria. O cão sendo um
ser social, sua sobrevivência depende da
manutenção
de
contato
social
e
comportamentos de apego.
Ao ser
separado da mãe o filhote exibe
comportamento de angústia, entretanto,
após o reagrupamento, o comportamento é
descontinuado.
No cão, o apego é um processo complexo.
Ao lado dos elementos comportamentais e
fisiológicos, o apego permitirá importante
aprendizagem exploratória sobre os
diferentes estímulos do ambiente, a
comunicação social e o autocontrole.
Quando o filhote de cão é adotado por uma
família humana, especialmente se for
durante o período de socialização primária,
ele adota os integrantes familiares como
figuras de anexo primário tal como com
sua mãe. Expressará o mesmo grau de
angústia ao ser deixado sozinho, se
adaptando logo aos períodos de separação.
Porém, o animal que não consegue se
adaptar pode sofrer de ansiedade de
separação e desenvolver comportamentos
típicos.
Na base da teoria etológica de apego de
Bowlby, o comportamento de apego tem a
função biológica de proteger o indivíduo de
dano físico e psicológico. Uma relação de
apego prove proteção, segurança e conforto
calmante. As relações de apego provêm
confiança a criança e promove crescimento
cognitivo, independência e autonomia. As
crianças podem formar anexos múltiplos
com uma variedade de indivíduos que
provêem cuidado responsivo e contribuem
à sua segurança. O conceito de apego pode
ser aplicado como um vigamento para a
medida mais precisa do vínculo homemanimal (Bretherton, 1992) e do bem-estar
animal (Sable, 1995).
Os comportamentos e as necessidades
como fome, sexo, agressão, exploração,
territorialidade, domínio e afeição, são
constituintes neurofisiológicos essenciais,
64
considerados padrões previsíveis e
compartilhados entre espécies. Uma vez
que o cão e o homem são espécies sociais,
a relação de afeto assume uma importância
determinante na variedade de relações
sociais que se iniciam com a mãe e
parentes. No entanto, apesar de o cão
participar ativamente na vida do ser
humano, a influência da sua associação não
foi focalizada em estudo psiquiátrico por
muito tempo. Esta falta de atenção, talvez,
tenha sido devido a aparente harmonia
preponderante nesta relação interespecífica,
visto que, a convivência e o intercâmbio de
afeto entre as pessoas e o cão são menos
complexas que entre os seres humanos
(Rynearson, 1978).
Diferentemente do homem, o cão com a
sua lealdade e capacidade de dar-se, sem
julgar, criticar ou exigir, proporciona às
pessoas que participam de sua convivência
a sensação de importância (Siegel, 1962).
O cão jamais utiliza as pessoas como um
objeto, é de sua natureza valer-se de sua
simpatia e benevolência para dar-se e
suportar os descasos e negligências das
pessoas.
Lorenz (1993) propôs que os traços juvenis
desencadeiam mecanismos liberadores
inatos de afeto e cuidado em humanos
adultos. Os comportamentos associados à
provisão de cuidados não se restringe aos
bebês humanos, mas também a todos os
indivíduos identificados como necessitados
de proteção. Os mecanismos liberadores
inatos
provocam
emoções
e
comportamentos de cuidado parental diante
de estímulo-chave provocado até mesmo
por
animais
adultos.
Assim,
o
comportamento de afeição do homem
apresenta semelhante significação para
alguns animais. Durante infância a criança
é percebida como um objeto de cuidado e
na maturidade o cuidado é transformado
em preocupação. A necessidade de afeição
na maturidade soma-se a outras
necessidades em desenvolvimento e
gradualmente se diversifica para envolver
figuras de apegos múltiplas. Sendo o apego
uma necessidade psicobiológica, em
algumas situações ele pode ser percebido
externamente como um conflito interno.
Uma criança privada de afeição tem
comprometimento de suas expectativas de
afeição na maturidade. A fixação por
cuidado em uma relação pode ser vista
como o apego exagerado por afeição, e
estaria associado à causa de padrões
patogênicos específicos. Esta fixação seria
expressa
clinicamente
por
uma
dependência exagerada, ansiedade com
uma constante apreensão por separação da
figura de afeição e uma compulsiva
necessidade por atenção e cuidado (Bowby,
1977). Seay e Harlow (1965) comprovaram
experimentalmente em macacos que a
frustração pode levar a uma persistente
regressão social e isolamento na
maturidade.
O vínculo entre o homem e o cão está
subordinado ao comum acordo entre os
membros da família em relação ao cão e a
necessidade recíproca de ambas as partes
por uma relação afetuosa. Quando o
homem desenvolve sentimentos de
frustração em relação a pessoas pode
deslocar sua necessidade de afeição para o
cão. A relação afetuosa torna-se patológica
em razão de seu propósito defensivo, e sua
interrupção pode criar reações psiquiátricas
duradoura. Rynearson (1978, p.551, 554)
sugere que a exageração na determinação
de necessidade de afeição pode induzir a
desconfiança que é generalizada para
outras relações subseqüentes. Esta
confiança limitada da afeição nas relações
humanas pode contribuir a intensa
transferência de afeição para o acaricia que
possui uma capacidade inata de exibir e
responder a afeição.
Sob circunstâncias normais há o
compartilhamento de afeição de modo
complementar devido à necessidade mútua.
Quando a conjuntura é de desconfiança, a
65
pessoa
transfere
sua
determinação
compulsiva de busca de afeição para o cão.
A pessoa passa a confiar, mas a
transferência pode se tornar patológica
enquanto diminuindo a interação e a
afeição por outras pessoas. O animal de
estimação pode se tornar o foco de
deslocamento complicado entre pessoas em
conflito. Em uma família onde os
integrantes têm problema mútuo com
afeição o cão pode servir como uma figura
de afeição através da qual eles interagem
indiretamente. O animal de estimação se
torna um participante confiante em um
drama de desconfiança, algumas vezes
sendo sacrificado. Em virtude da
intensidade desta relação, a separação ou
perda do animal de estimação (Keddie,
1977) pode levar o proprietário à profunda
tristeza e a distúrbios psiquiátricos.
2.3.4 As implicações da relação
Em princípio, a identidade dos sistemas
sociais humanos e do cão facilitou a
formação de uma relação interespecífica
singular. À medida que as sociedades
humanas
diligenciaram
grandes
transformações, o cão assumiu um papel de
relevo, participando intensamente dos
vínculos afetivos humanos. A diminuição
dos espaços de moradia nos grandes
centros urbanos densamente povoados se
constituiu um fator preponderante para o
rearranjo da organização familiar. O cão
estando
mais
próximo
física
e
emocionalmente ao homem passou a ser
reconhecido como importante partícipe da
vida pessoal e na dinâmica familiar (Albert
e Bulcroft, 1987; Bulcroft, 1990). Contudo,
a aliança sólida evidenciada através do
companheirismo e da aceitação do cão
como
um
membro
da
família,
historicamente
tem
se
mostrado
conflituosa. Talvez, o conflito seja devido
ao estado de consciência do homem e as
expressões das diferentes percepções em
relação à coexistência homem–animal e
dos benefícios a ela atribuídos.
Verdadeiramente,
existem
muitas
vantagens em se possuir um animal de
estimação, todavia, o proprietário deve
estar atento aos problemas que podem
advir com a aquisição de um cão. O
compartilhamento da vida com um cão não
apresenta apenas aspectos positivos, é
imperioso que o proprietário faça uma
profunda reflexão antes de incorporar o
animal à rotina de sua vida. A aquisição de
qualquer animal de estimação pode ser uma
experiência extremamente gratificante, mas
requer
algumas
responsabilidades,
compromissos e dedicação que devem ser
cumpridos de modo a proporcionar ao
animal uma boa condição de vida.
É de bom alvitre que todos os familiares
adquiram
conhecimentos
sobre
comportamento do cão e da raça escolhida.
Não menos importante é a conscientização
dos fatores limitantes gerados pela
presença de um cão:
- A criação de um animal requer um custo
financeiro referente à alimentação;
higienização; vacinação; vermifugação;
castração; consultas de orientação e
periódicas ao veterinário e, dependendo da
raça, cortes de pêlo por profissionais
especializados.
- Dispor de tempo para cumprir com os
compromissos inerentes à criação de um
cão: educação, treinamento, alimentação,
escovação do pêlo, higienização e
atendimento das necessidades físicas e
psicológicas
(passeio,
brincadeiras,
atenção, carinho etc.). O ensinamento, o
treinamento e o cuidado fazem parte do
encanto de se ter um animal de estimação,
e a experiência adquirida é sempre
gratificante. Se o futuro proprietário não
dispõe de pelo menos uma hora diária para
o seu cão, é melhor não o adquirir, ou optar
por outro animal de estimação que requeira
menos cuidado e atenção.
- Redução da liberdade, ao impedir a
família de viajar ou onerar a viagem se o
66
animal for deixado em um canil particular.
- Defrontar-se com reclamações de
incômodos decorrentes de latidos.
- Risco de agressão aos familiares, amigos
ou vizinhos.
- Risco de transmissão de zoonoses
A escolha da raça não deve se basear
somente na beleza e aparência do animal.
Um proprietário previdente deveria
consultar um médico veterinário e ler
enciclopédias sobre raças de cães a fim de
selecionar
criteriosamente
o
seu
companheiro e evitar alguns problemas
inerentes à escolha do porte, da raça e do
sexo:
- Espaço adequado para o animal circular e
brincar. Cães de porte grande não devem
viver em espaços muito limitados e
nenhum animal deve viver acorrentado.
- O custo financeiro relativo à sanidade,
alimentação e higiene é proporcional ao
peso do animal.
- O companheiro animal pode apresentar
problemas de comportamento típicos da
raça. É importante salientar que os genes
não são tudo. O modo de proceder dos cães
depende de muitos fatores que estão além
da sua herança genética. Overall (1997)
adverte que raças estão sujeitas a mudança.
Raças não são estáticas e invariáveis e os
representantes da mesma raça não
apresentam o mesmo temperamento e
personalidade.
- O nível de atividade e o tipo de exercício
necessário para atender as necessidades
requeridas pelo indivíduo da raça
escolhida. O tamanho do animal pode
também ser um empecilho para levá-lo a
passear;
- O tamanho do cão pode ser um fator para
o impedimento de sua entrada ou
permanência em alguns estabelecimentos
públicos ou hotéis;
- A presença de crianças pequenas exige
um cão de raça apropriada e orientação de
como se deve conduzir a convivência. A
preocupação com proteção deve ser em
relação à criança e ao cão. O bem-estar do
animal deve ser sempre resguardado e
estimulado.
- Os machos marcam mais com urina,
vagueiam mais e brigam mais que as
fêmeas;
- As fêmeas ao entrarem em cio podem
mudar o comportamento, apresentar
pseudociese e sujar a mobília. Há também,
para alguns proprietários, o inconveniente
de ter que controlar a presença de cães
machos estranhos e não conseguir vender
ou dar os filhotes.
Todas as pessoas já experimentaram a
paixão súbita desencadeada por um filhote
irresistível. No entanto, o proprietário não
deve se deixar envolver por emoção
arrebatadora e levar para casa aquela bola
de pêlo linda e maravilhosa sem qualquer
planejamento antecipado ou preparação. É
importante que esteja consciente que irá
compartilhar 12 a 15 anos, ou mais, de sua
vida com um animal de estimação adulto.
Às vezes, o relacionamento pode
complicar-se devido ao comportamento
indesejável do cão: desobediência,
defecação e micção em locais impróprios,
danificação de móveis, buracos no jardim,
latidos
excessivos,
superexcitação,
agressividade e impulsividade que se torna
um estorvo para a vida social. Diante desta
realidade, o proprietário geralmente tem
três alternativas: a) conviver com o
problema; b) pedir auxílio a um veterinário
especializado em etologia clínica ou c)
reagir impulsivamente e se livrar do
problema entregando o animal a um canil
67
público onde será sacrificado ou soltando-o
em um logradouro público longe do
domicílio.
Os
comportamentos
impróprios
concorrentes para preocupação e desajuste
familiar, na maioria das vezes, poderiam
ser prevenidos com o conhecimento e
comprometimento ou corrigidos com a
ajuda de um profissional. Em muitos casos,
uma análise criteriosa da circunstância
pode levar a conclusão que o companheiro
de quatro patas escolhido para um
relacionamento ao longo prazo, não deveria
ser um cão e sim um gato. Se a pessoa vive
sozinha, passa muito tempo fora de casa e
gosta de independência, talvez um gato
seja uma melhor opção. Se além do
companheirismo, a pessoa desejar proteção
e deleitar-se com a dependência do cão e
com o vinculo afetuoso resultante da
relação, o cão seria o animal mais indicado.
Kidd e Kidd (1980) ao conduzirem um
estudo para averiguar as influências da
personalidade do dono sobre as
preferências do tipo de animal de
estimação, concluíram que as diferenças
demonstradas
pelo
sexo
e
pela
personalidade
de
dono,
realmente
influenciam a escolha do tipo de animal,
facilitam o envolvimento do proprietário
com o animal e maximizam os benefícios
terapêuticos físicos e psicossociais
decorrentes do convívio. Os autores
acrescentaram ainda, que os aspectos
benéficos da propriedade de um animal de
estimação poderiam ser aumentados se a
escolha cão perpetrada pelas pessoas que
decidem compartir a sua vida com um
companheiro não-humano fosse criteriosa e
coerente.
É imprescindível que o
proprietário analise a compatibilidade e
tenha certeza de estar preparado para
assumir o compromisso. Divergências
irreconciliáveis,
acompanhadas
por
conflitos e consternação familiar podem
advir de um ajuizamento realizado sob um
estímulo emocional.
Quando a aquisição do cão é realizada de
maneira imprevidente, o cão pode não
corresponder às expectativas da família.
Surgem, então, as situações difíceis
aparentemente impossíveis de serem
resolvidas. Segundo Melson et al. (1997), a
maioria dos problemas de comportamento
identificados
pelos
proprietários
é
considerada uma manifestação saudável do
animal, mas definido como problema de
acordo com a causa, onde, quando, ou
como ele acontece. Muitos dos problemas
são relacionados ao modo como o animal é
criado e, portanto, facilmente evitáveis.
Quando as famílias assumem as
responsabilidades de criar um animal de
estimação, são responsáveis também pelos
problemas de comportamento que advém
da falta de empenho na educação do
animal. Alguns proprietários malsucedidos
sentem-se culpados em virtude do
desenvolvimento
de
problemas
de
comportamento; outros envolvidos por
emoções equivocadas têm consciência que
o cão é um animal, mas agem como se ele
fosse igual a uma criança (Voith, 1985).
Estes proprietários se recusam a aceitar a
existência
de
um
problema
e,
freqüentemente, criam argumentos falsos
para não se sentirem culpados.
Em razão da pouca expressividade dos
resultados obtidos com o tratamento de
problemas de comportamento de animais
de estimação, a prevenção assume grande
significância. Contudo, até que ponto os
comportamentos anormais podem ser
prevenidos é algo desconhecido. Bons
resultados podem ser conseguidos se a
intervenção
ocorre
imediatamente,
diminuindo a probabilidade de o
comportamento impróprio ser reforçado.
Alguns
comportamentos
como
desobediência, inadequação na eliminação
de dejetos, destruição de mobília e outros
itens domésticos, latidos, práticas sexuais
impróprias são resultados de uma criação
inadequada
(Overall,
1997).
Ao
apresentarem comportamentos inaceitáveis,
68
associados ou não, a agressividade e ao
excesso de agitação, os cães passam a ser
percebidos como um problema, capaz de
gerar conflito e comprometer a paz
familiar.
Os médicos veterinários, os zootecnistas ou
qualquer outro profissional especializado
em comportamento animal representam um
recurso de orientação significativo por
ocasião da aquisição do cão, na prevenção
de problemas relativos ao comportamento e
no aconselhamento do proprietário quando
o problema já está estabelecido. Eles
podem modificar as expectativas dos
proprietários inexperientes quanto à
espécie ou a raça do animal de estimação
mais adequada de acordo com a
constituição familiar e personalidade do
proprietário. A recomendação de algumas
leituras especializadas e a prestação de
esclarecimento sobre o papel da família
para com o acaricie, sua influência na
educação e as implicações de atitudes
negligentes para com o amigo não-humano,
também assumem grande importância no
conjunto de condutas necessárias para uma
A orientação, ademais de compreender
subsídios pertinentes à criação do animal,
deve contemplar informações sobre o
comportamento normal do cão. O animal
apresenta um comportamento considerado
normal toda vez que os elementos
convivência bem sucedida e uma relação
6
Comportamento epimelético - comportamento
típico de atenção e cuidado de uma fêmea
dispensado aos filhotes.
7
Comportamento etepimelético - comportamento de
solicitação de atenção e cuidado dos filhotes.
8
Comportamento agonista - Comportamento
associado à ameaça, ao ataque ou à defesa,
expressado pela agressividade, passividade ou fuga.
9
Comportamento alelomimético - comportamento
de imitação de um indivíduo em relação aos demais
membros do grupo. Este comportamento resulta de
algum grau de excitação mútua (Scott e Fuller, 1997)
interespécie equilibrada.
A orientação, ademais de compreender
subsídios pertinentes à criação do animal,
deve contemplar informações sobre o
comportamento normal do cão. O animal
apresenta um comportamento considerado
normal toda vez que os elementos
quantitativos e de intensidade da sua
resposta para certo estímulo está de acordo
com a média da espécie e da população a
qual pertence. O comportamento anormal é
uma resposta para certo estímulo que difere
da resposta normal. Ele difere no padrão,
freqüência ou contexto em que é expresso
pela maioria dos integrantes da espécie e
da raça. O comportamento anormal pode
ser ensinado inadvertidamente quando o
proprietário não tem conhecimento sobre o
comportamento da espécie e da raça.
Alguns comportamentos são considerados
patológicos e certos tipos de fobias e
psicoses (Abrantes, 1987) se assemelham
às psicoses humanas.
Odendaal (1997) ao definir comportamento
anormal como um comportamento capaz
de afetar o animal, outros animais ou
humanos de um modo negativo, classificou
os problemas de comportamento em seis
categorias principais: 1) Origem genética
(hidrocefalia, epilepsia, desequilíbrios
hormonais, temperamento relativo a raça);
2) Ocorrem durante as fases de
desenvolvimento (fase pré-natal, pós-natal,
juventude, adulto, velhice); 3) Interações
sociais transtornadas (busca de atenção,
afirmação dentro do grupo, interação
homem-animal);
4)
Comportamento
relacionado à doença (vírus, bactéria,
fungo, protozoário, tumor, trauma,
desordem
metabólica,
deficiência
nutricional, sistema imune, hormonal,
veneno); 5) Desvios na intensidade ou
freqüência do comportamento padrão
(epimelético6, etepimelético7, ingestão,
eliminação,
agonista8,
sexual,
9
allellomimético ,
investigativo,
relaxamento); 6) Inabilidades de adaptação
69
(ansiedade,
redirecionamento10,
deslocamento, psicossomático, depressão,
psicopatias. Todas estas categorias são
divididas pelo autor em diagnósticos mais
específicos. A elaboração do diagnóstico
comportamental deve ser sempre precedida
por uma avaliação clínica do paciente e os
diagnósticos clínicos diferenciais somente
podem ser formados se o diagnóstico de
comportamento for realizado no contexto
específico ou ambiente particular onde o
animal vive. A informação sobre o
ambiente pré-natal também assume grande
importância em alguns casos. Fêmeas
prenhes que vivem em ambientes onde os
estímulos são caracterizados como
estressores, a prole pode apresentar
fraqueza e nervosismo.
Entre todas as categorias de problemas
comportamentais referidas anteriormente, a
categoria 3, 5 e 6, provavelmente
representam a maioria dos problemas que
acometem os animais que vivem em
centros urbanos. A categoria 6 se refere às
estratégias de adaptação que os animais se
utilizam para manter a homeóstase. As
anormalidades comportamentais exibidas
pelo cão incluído nessa categoria podem
ser consideradas tentativas para se adaptar
fisiologicamente e emocionalmente às
condições ambientais. Se o animal não tem
sucesso com o seu intento, e a adaptação é
parcial ou incompleta (Fox, 1968a), a
anormalidade persiste como um ritualismo.
O animal mostra-se incapaz de se adaptar a
estímulos ambientais quando tais estímulos
são percebidos como ameaçadores. A
ansiedade, por exemplo, é causa de muitos
problemas de comportamento por causa da
10
Comportamento
de
redirecionamento
Direcionamento do comportamento do animal a um
alvo alternativo (pessoas, animais ou objetos) após
experimentar ou concomitantemente ao estado
frustração.
relação íntima do cão com o seu
proprietário e familiares. O ambiente
proporcionado pelo homem ao cão está
repleto de estímulos antinaturais ao qual o
animal tenta se adaptar. A ansiedade pode
ser definida como um sentimento difuso de
uma ameaça ou perigo não específico
(Odendaal, 1997, p. 438). Ao estar
relacionada ao estresse, apresenta grande
importância nas estratégias de defesa
descritas
como
problemas
de
comportamento, contudo, somente umas
poucas desordens de comportamento são
consideradas associadas à ansiedade. Entre
estas desordens podem ser citadas:
comportamento compulsivo; estereotipias;
agressividade;
comportamento
de
deslocamento
(agressividade,
sexual,
perseguição); comportamento destrutivo;
fobia; pânico; vocalização excessiva;
desordens psicossomáticas (úlceras no trato
digestivo, lesões autoproduzidas e ataque
de asma); distúrbios do humor (mania,
alucinação, depressão) e psicopatias
(paranóia, esquizofrenia).
Pavlov (1967) estudou o comportamento
anormal em animais como um modelo para
neuroses humanas. Várias aplicações
práticas surgiram desses estudos, não só
para a avaliação comparativa de desordens
de comportamento humano, mas também
por melhorar o tratamento humanitário de
animais mantidos em cativeiro. Kurtsin
(1968) assinalou que um comportamento
compulsivo ou neurose e muitas outras
psicopatias podem ser apreciadas em
medicina humana e em clínica de medicina
veterinária.
Estudos experimentais comprovaram que
neurose e perturbações derivadas da
relação córtex-visceral só surgem em
animais que têm um tipo fraco ou forte,
mas desequilibrado de sistema nervoso.
Estão implicadas, neste caso, as
propriedades de excitação e os processos
de inibição (Fox, 1968a).
Evidências
confirmaram
que
alguns
animais
70
desenvolveram comportamento neurótico e
desordem córtex-visceral devido a uma
superexcitação e o processo de inibição no
córtex. Perturbações na inter-relação do
córtex-visceral são acompanhadas por
mudanças vasculares, neuro-humoral e
neural dentro do corpo. As conseqüências
são perturbações funcionais com o
desenvolvimento de doenças orgânicas.
Úlceras gástricas, alopecia, asma, e
retardamento da cura de feridas podem ser
observados em cães submetidos à neurose
experimental.
Alguns
cães
que
apresentaram perturbação da atividade
nervosa e da área visceral, paradoxalmente
exibiram comportamento externo normal.
Em
outros
casos,
havia
um
desenvolvimento paralelo da neurose e de
reações de autonômicas (córtex-visceral).
A neurose, porquanto, pode afetar
principalmente o sistema autonômico ou de
modo complementar o sistema nervoso e,
conseqüentemente, pode afetar também o
comportamento e o bem-estar do animal
(Kurtsin, 1968).
A neurose ou comportamento compulsivo é
uma condição emocional persistente difícil
de diferenciar de afecções neurológicas,
visto que em sua origem não está
relacionada com lesão neural. Critérios de
identificação incluem uma marcada
mudança do comportamento original e
algum fator etiológico como uma
experiência de traumática, frustração ou
conflito (Fox, 1968a).
O surgimento do distúrbio compulsivo
pode estar relacionado ao confinamento ou
à prática de criação. A superexcitação, o
estresse, uma estimulação deficiente ou a
negligência no atendimento de algumas
necessidades particulares do animal podem
originar um quadro de ansiedade ou
atividades
redirecionadas
ou
de
deslocamento. O animal afetado não pode
controlar suas próprias ações que são
exibidas fora do contexto e repetitivas,
exageradas, breve ou prolongadas. O
distúrbio
compulsivo
freqüentemente
associado com o estado de ansiedade pode
afetar a saúde do animal determinando
perda de peso e autotraumatismos
(Landsberg et al., 2005). A lambedura de
pêlos, a mordedura de flanco e a dermatite
por lambedura acral, geralmente exibidas
em ambientes com estimulação deficiente,
podem ser atividades vazias desenvolvidas
como um mecanismo de enfrentamento
para acalmar o animal, entretanto, essas
atividades podem manter-se pela liberação
de opióides endógenos (β-endorfina e
metencefalina) (Broom, 1988b).
Ainda que existam vários programas de
tratamento que utilizam drogas associadas
às modificações comportamentais e
ambientais, a prevenção de tais distúrbios
deveria ser a grande preocupação dos
proprietários e médicos veterinários. Para
tanto, a relação do proprietário com o seu
cão deveria ser pautada em um modo de
proceder constante para evitar a excitação,
o conflito, a frustração, a ansiedade e o
estresse. Estes procedimentos constariam
de: a) evitar a indução de medo e
ansiedade, geralmente conseqüentes da
inconsistência da conduta do proprietário,
referentes a alterações de rotina e
inovações, agrados casuais, punições e
recompensas
inapropriadas
e
b)
proporcionar estimulação psicossocial por
intermédio do aumento da freqüência de
brincadeiras e passeios; companhia de
outro animal; interações afetivas e
estimulação ambiental proporcionada por
brinquedos que instigue a resolução de um
problema.
Em uma pesquisa onde se examinou a
efetividade de quatro classes gerais de
fatores: comida, brinquedos (objetos
inanimados), contato canino e contato
humano (passivo e ativo) para o alívio de
vocalização de angústia de cães resultante
do isolamento, Pettijohn et al (1977),
observaram que o contato humano ativo
produziu a maior redução de vocalização
71
de angústia (quase 90%) de todas as
condições em cada um dos 24 filhotes de
cães. Considerando as classes principais de
condições de alívio, a efetividade foi
ordenada na seguinte ordem: humano>
cão> brinquedos> comida. O surpreendente
foi a presença do ser humano mostrar-se
mais efetiva ao alívio de angústia que a
presença de outros cães.
O proprietário preocupado com o bemestar do seu cão fará tudo para mantê-lo
ocupado e distraído, mas, evidentemente, o
controle absoluto das possíveis causas de
problemas comportamentais não é algo
factível. Por outro lado, com auxílio de
alguns
artifícios
comportamentais
preventivos como os citados acima, ele
pode minimizar as conseqüências de
algumas alterações inevitáveis no curso da
vida do cão como: ampliação ou
diminuição do número de familiares,
aquisição de outros animais; alterações na
rotina ou dinâmica familiar; mudança de
residência e outras mais.
Em sua rotina na clínica veterinária, o
médico veterinário deve estar atento para
as alterações de comportamento do cão.
Estas alterações podem estar associadas a
uma
variedade
de
desordens
de
comportamento e perturbações emocionais
do cão e de seu proprietário. Este
profissional quando qualificado para tratar
as desordens de comportamento, deve
perceber as perturbações emocionais
retratadas
pelas
necessidades
e
dependência do proprietário, como uma
condição prévia para a resolução de
problemas comportamentais do cão.
Muitas das desordens de comportamento
informadas em cães são, em termos de
etiologia e sinais, comparáveis as que
acontecem com a criança humana.
(Fox, 1971, p. 66).
Segundo o autor, esta analogia se deve a
existência de semelhanças básicas em
organização neural no cão e na criança; ao
desenvolvimento de fases de socialização
"críticas" do filhote e da criança serem
comparáveis e às relações interpessoais
semelhantes entre a criança e pai e cão e
proprietário.
O caráter ou desordens de personalidade de
humanos são consideradas características
individuais vitalícias comparáveis às
características do caráter individual de
pequenos animais que podem estar
relacionados à espécie, à raça, ou ao sexo
(Fox,
1971).
Pavlov
ao
utilizar
condicionamento clássico para determinar
a tipologia nervosa de cães, classificou
vários tipos, e entre eles, os tipos
sanguíneo, fleumático, inerte e equilibrado.
Demonstrou que alguns tipos eram
particularmente mais resistentes para
desenvolver
neuroses
experimentais,
enquanto outros eram extremamente
propensos (Astrup, 1968). O temperamento
ou desordens de personalidade fazem parte
da constituição genética, contudo, o caráter
do animal ademais da herança genética, é
susceptível de sofrer influência de
perturbações de origem ambiental,
especialmente
durante
o
seu
desenvolvimento (Fuller, 1967).
O estudo clássico desenvolvido durante
vinte anos no Jackson Laboratory em Bar
Harbor, Maine, sobre genética e
comportamento social do cão, constitui um
tratado científico pioneiro que estabeleceu
os parâmetros de comportamento e os
períodos de socialização críticos do cão.
Ao testarem cinco raças - Basenji, Cocker
Spaniel, Fox de pêlo de arame, Shetland
Sheep dog e Beagle - concluíram que a
hereditariedade afetou a maioria das
características testadas, sexo influenciou a
agressividade e a condição de dominância,
mas não a capacidade de treinamento e de
resolução
de
problemas;
que
as
características emocionais e motivacionais
diferiram amplamente em relação às raças
72
e
influenciam
profundamente
o
desempenho (Scott e Fuller, 1997). Uma
grande contribuição desse estudo para o
conhecimento do comportamento do cão
foi a identificação de períodos de
desenvolvimento particulares durante os
quais o comportamento dos filhotes de cão
são
excepcionalmente
sensíveis
a
influências
ambientais.
Igualmente
importante foi o conceito que estabelece as
experiências prévias nas primeiras semanas
de vida do cão como importantes
determinantes para o comportamento
posterior.
A partir deste estudo experimental, o
desenvolvimento do comportamento do cão
passou a ser dividido em quatro fases: o
período de neonatal (0 a 2 semanas),
período de transição (2 a 3 semanas) ,
período de socialização (3 a 12 semanas) e
período juvenil (12 semanas a maturidade
sexual). O período pré-natal foi estudado
em roedores por outros autores (Thompson,
1957; Denenberg e Morton, 1962; De Fries
et al., 1967.) que observaram as influências
transplacentária materna como um fator a
ser considerado no comportamento
subseqüente
da
descendência.
Ao
sujeitarem
fêmeas
a
experiências
estressantes durante a prenhez, verificaram
que a descendência mostrou-se mais
emocional ou reativa em situações testadas
posteriormente. As fêmeas mais emotivas
tendem a dar à luz descendências mais
emotivas independente de influências
genéticas. O período de neonatal é
caracterizado pela dependência completa
da mãe e pouca habilidade motora. Porém,
já nesta fase, os estímulos derivados de
estímulos físicos e da manipulação dos
filhotes
podem
influenciar
o
comportamento e o desenvolvimento
físico, assim como uma adaptação eficiente
à situações estressantes futuras (Levine,
1962,1967; Whimbey e Denenberg, 1967).
No período de transição os filhotes
começam a abrir os olhos e os canais da
orelha; a rastejar, andar e a exibir alguns
sinais sociais através das vocalizações; a
fazer evasões exploratórias; a fazer suas
eliminações fora do ninho sem a ajuda da
mãe e a se interessar por comida sólida
(Scott e Fuller, 1997).
O período de socialização em filhotes de
cão foi descrito (Scott, 1962) inicialmente
como um período ‘crítico’ para a formação
de relações sociais primárias ou vínculos
sociais. Apesar de o cão ter a capacidade
de formar vínculos fortes para pessoas em
qualquer idade, o processo tende a ser mais
simples e efetivo durante o período de
socialização. Este período de socialização
primária é o período mais importante no
desenvolvimento social para o cão jovem.
Representa um tempo de mudança de
comportamento
muito
rápida
e
especificamente inclui o desenvolvimento
de comportamentos sociais espécieespecífica. Neste período o filhote é
altamente
responsivo
a
estímulos
ambientais que lhe proporciona as
oportunidades para aprender e para formar
vínculos com outros filhotes de cão, com
humanos e outros animais.
A socialização adequada para as diferentes
espécies e experiências positivas e bem
conduzida em relação aos estímulos
ambientais durante este período sensível,
representam um valor inestimável para a
prevenção
do
desenvolvimento
de
comportamentos
impróprios
e
o
estabelecimento da habilidade para se
relacionar saudavelmente com as pessoas
ou interagir com outros animais. O cão
bem socializado é capaz de se adaptar com
sucesso à situações novas e é responsivo ao
treinamento. Ao contrário, o cão que não é
bem conduzido nessa fase crucial de seu
desenvolvimento, pode tornar-se inseguro e
susceptível ao estresse. Scott e Fuller
(1997) concluíram que devido ao filhote de
cão ser mais sensível emocionalmente e
mais
impressionável
na
fase
de
socialização, é também anormalmente
73
vulnerável ao dano psicológico. O
isolamento social por períodos longos
nessa fase da sua vida, por exemplo, pode
precipitar o surgimento de distúrbios
relacionados à síndrome de separação.
O período juvenil também denominado de
socialização secundária se caracteriza por
um período de refinamento da coordenação
motora e das demais capacidades. A partir
da puberdade, os machos desenvolvem
comportamentos relacionados à maturação
sexual como a marcação com urina,
agressão, monta e inclinação para vagar.
Somente na fase adulta, machos e fêmeas
começam
a
exibir
comportamento
territorial e a agressão de domínio.
A história genética pode influenciar a
agressividade de raças e indivíduos,
aumentando ou diminuindo esta tendência
e, a procriação seletiva, pode aumentar ou
diminuir a tendência de cães morderem em
contextos diferentes. (Lockwood e Beck,
1975). A despeito de a convicção popular
considerar a agressividade como resultado
do temperamento do animal, hoje há
muitas evidências científicas de que a
agressão do cão, como de qualquer outra
espécie, depende do contexto de vida, não
sendo necessariamente provável que um
cão que responda agressivamente em uma
situação faça o mesmo em outras (Serpell e
Jagoe, 2006).
A agressão entre todos os tipos de
problema de comportamento do cão é sem
dúvida a reclamação mais comum dos
proprietários de cães (Voith, 1981; Wright
e Nesselrote, 1987; Landsberg, 1991;
Overall, 1997; Mugford, 2006) e a agressão
relacionada ao domínio provavelmente é a
mais comum entre os cães (Campbell et al.,
1975; Voith e Borchelt, 1982; Beaver,
1983, Borchelt e Voith, , 1986;). A
agressão de domínio se caracteriza pela
tendência de alguns cães reagirem
agressivamente aos desafios inerentes às
posições deles dentro da hierarquia social
na família. O proprietário ou qualquer
outro membro do grupo social pode ser
considerado e tratado como um competidor
por um espaço em seu sentido amplo, ou
não ser tolerado pelo cão como um
indivíduo que castiga e impõe obediência.
Landsberg (1991) ao estudar um universo
de 743 cães com problemas de
comportamento, concluiu que 59% deles
eram agressivos. A agressividade de
domínio representou 62% seguida da
agressão por medo e territorial. Entre os
demais problemas de comportamento
estudados, 18% referiam-se à inadequação
na eliminação de dejetos, 6% à
excitabilidade, 6% à fobia e medo e 5% ao
latido impróprio.
Borchelt e Voith (1986) ao desenvolverem
uma pesquisa para descobrir se a falta de
conhecimento
ou
experiência
dos
proprietários de cães é um fator
contribuinte para a etiologia de problemas
de comportamento, concluíram não haver
nenhuma
associação
estatística
significativa entre a prevalência de
problemas de comportamento e a
experiência de prévia de criação de um cão.
Comumente,
os
proprietários
são
prevenidos por pessoas ou mesmo por
profissionais que lidam com cães, que
nunca deveriam tratar o seu animal como
uma pessoa porque poderiam desenvolver
sérios problemas de comportamento e
“estragar” o cão. Igualmente, os conselhos
que dizem respeito à educação e aos
problemas de comportamento variam de
"pare de estragar e tratar seu cão como uma
pessoa", "você tem que treinar a obediência
de seu cão! " , "você precisa castigar mais",
ou ainda, "pare com todo o castigo" (Voith
et al., 1992, p. 263, 270). Estas orientações
com enfoque preventivo ou de correção de
problemas de comportamento, foram
transmitidas de modo imperativo durante
décadas até que Voith et al. questionaram
essas convicções. Estes autores tinham a
74
curiosidade de saber se realmente havia
uma relação significativa entre as atitudes
antropomorfas, o não treinamento de
obediência e a existência de problemas de
comportamento do cão. Para responder às
suas indagações realizaram um estudo com
o propósito de determinar se os cães não
submetidos ao treinamento de obediência e
tratados ‘como pessoa’ teriam maior
probabilidade de exibir problemas de
comportamento que os animais treinados e
não tratados desse modo. Os itens do
questionário constavam de atitudes
antropomorfas
e
problemas
de
comportamento. Entre os itens referentes às
atitudes
antropomorfas
utilizaram:
compartilhar comida, deixá-lo dormir na
cama, levá-lo em viagens, proporcionar-lhe
conforto, solicitar-lhe o cumprimento de
tarefas, permitir que coma na mesa,
celebrar
seu
aniversário,
fazer-lhe
confidências e considerá-lo como membro
da família. Entre os itens relativos aos
problemas de comportamento se valeram
de: agressão, eliminação em local
impróprio, vocalização excessiva, hábito de
destruir objetos, ingestão anômala, fuga,
desobediência e expressão de medo. As
atitudes antropomorfas foram analisadas
junto com treinamento de obediência e
variáveis de problemas comportamentais
por meio da análise de variância
(ANOVA). Os resultados da análise de 711
questionários mostraram que os cães cujos
proprietários interagiam com eles de uma
maneira antropomorfa (celebração de
aniversário do cão, viajar e dormir na cama
com o proprietário etc.) ou não proveram
treinamento
de
obediência
não
apresentavam necessariamente problemas
de comportamento. Apesar dos autores
concordarem que o treinamento de
obediência possa contribuir para a
resolução de alguns problemas específicos
e para uma relação proprietário-cão mais
saudável, os resultados da pesquisa não
apóiam as convicções comuns que todos os
cães devam ser submetidos ao treinamento
de obediência ou que os donos não devam
ter com seus cães de estimação, atitudes
consideradas antropomorfas.
De outro
modo, nenhuma evidência foi achada nesta
pesquisa que atitudes antropomorfas e a
falta de tratamento de obediência formal
estão associadas com problemas de
comportamento.
Outro estudo semelhante desenvolvida por
Jogoe e Sepell (1996) contrapõe alguns
resultados obtidos por Borchelt e Voith
(1986) e Voith et al. (1992). O estudo
retrospectivo com 737 cães evidência
associações entre características da relação
proprietário-cão e a prevalência de vários
problemas de comportamento. Os autores
concluíram que cães de proprietários sem
experiência prévia demonstraram alta
prevalência de problemas relacionados à
dominância, incluindo vários tipos de
agressividade, de excitabilidade exagerada,
desobediência, medo em relação a outros
cães, ao tráfico e a sons altos. Observaram
ainda que cães ao dormirem à noite no
quarto do dono tiveram uma prevalência
mais alta de agressão competitiva que
cachorros que dormiram em outro lugar. A
urinação e defecação relacionadas à
ansiedade de separação eram mais
prevalecentes em cachorros que dormiram
no quarto do proprietário. Não foi,
contudo, possível determinar se esses
problemas de comportamento são as causas
ou conseqüência do local onde o animal
dorme. Esta pesquisa, diferentemente da
anterior, apóia a convicção popular
segundo a qual o cão tratado como gente
apresenta maior probabilidade de exibir
problemas de comportamento e dar mais
trabalho aos seus proprietários. Com
relação ao treinamento, a excitação
exagerada mostrou-se mais prevalente em
cães que haviam freqüentado aulas de
treinamento formal comparados com cães
treinados informalmente em casa. Este
resultado sugeriu que o treinamento formal
possa não ser na realidade um tratamento
efetivo para excitabilidade exagerada e
desobediência quando esses distúrbios já
75
estão estabelecidos. Em relação a urinação
e a defecação relacionadas à ansiedade,
agressão possessiva, e fuga, o treinamento
de obediência ajudou a diminuir esses
problemas.
Voith (1992) advertiu que muitos
problemas
de
comportamento
são
comportamentos espécie-típicos que não
apresentam conexão com a obediência; por
exemplo, ansiedade de separação, medos,
urinação e defecação. Clark e Boyer (1993)
também concluíram que o treinamento
formal pode ajudar reduzir ansiedade de
separação. Apesar da existência de algumas
divergências entre os autores, todos
concordam
em
um
ponto:
o
desenvolvimento de uma relação de
qualidade do animal de estimação com o
seu proprietário reduz os problemas de
comportamento do cão. Voith (1992)
ponderou que um proprietário que gasta
mais tempo com o seu cão talvez não
precisasse colocá-lo em aulas de
treinamento de obediência. Acrescentou
ainda, que o cão mantido isolado ou
submetido a uma interação restrita com os
membros da família, pode apresentar
problemas de comportamento.
Ao estudar o efeito da personalidade e
atitudes dos proprietários sobre o
comportamento dos cães, O'Farrel (1987, p.
1040) observou que os proprietários presos
emocionalmente aos seus cães tendem a
alimentá-los levando o alimento à sua
boca, a preparar comidas especialmente
para eles e a permitir que eles durmam no
quarto.
Como foi encontrada uma
associação estatística entre esses animais e
a agressão de domínio, a autora sugeriu que
há uma relação entre o vínculo emocional
do proprietário e a agressão de domínio
desenvolvida pelo cão. Argumentou, ainda,
que se um proprietário está preso
emocionalmente ao seu animal, é mais
provável se comportar como se fora um
amigo, um igual e, por fim, como um
subordinado que atende as vontades do
superior.
Se o cão é propenso ao domínio em virtude
de
fatores
é
provável
genéticos
que
ou hormonais,
interprete
este
comportamento condescendente do seu
proprietário como confirmação de seu
estado de domínio.
O cão como os seus ancestrais, é um
animal que vive em grupo e se relaciona
através de relações de domínio e
subordinação
manifestadas
por
comportamento de agressão. Entretanto, se
o cão é exposto adequadamente a seres
humanos durante o período de socialização
primária (3 a 12 semanas), ele passará a se
relacionar como se fosse um membro do
grupo. Nesta fase da vida, o cão poderá ser
moldado conforme a vontade e empenho de
seu proprietário e as prerrogativas que lhes
são conferidas. A sua tendência de
respeitar o estado dominante dos
componentes familiares favorece a
manutenção do equilíbrio da relação
interespecífica. Porém, alguns cães se
empenham e, por fim, conseguem dominar
um ou vários membros familiares, exibindo
reiteradamente comportamento agressivo
para afirmar sua posição na hierarquia
social do grupo. Este comportamento é
natural em uma relação intraespecífica,
mas em um grupo familiar é inadmissível.
Geralmente os familiares não percebem
que o desenvolvimento de problemas de
comportamento depende da contribuição de
muitos fatores relacionados ao animal, ao
modo de criação e a dinâmica familiar. Os
erros cometidos por negligência ou
impensados
podem
reforçar
o
comportamento impróprio do animal. Em
algumas situações, nem o proprietário está
equivocado nem o cão está exibindo
comportamento anormal; estão apenas
76
manifestando comportamentos típicos da
espécie que são inaceitáveis à outra espécie
(Marder e Marder, 1985).
Problemas relacionados à ansiedade de
separação, por exemplo, resultam de uma
relação onde o cão apresenta um apego
exagerado ao seu proprietário. O problema
de agressão relacionada ao domínio surge
porque o cão tenta mostrar domínio sobre o
seu proprietário. O impedimento deste
domínio por parte dos familiares torna-se
necessário para a manutenção do equilíbrio
da relação. Assim, como a agressão de
domínio, outros tipos de agressão são
conseqüências da percepção do cão como
um indivíduo social. O animal ao se
considerar como um membro da família e a
residência onde vive o seu território,
desenvolve naturalmente a agressão
protetora para proteger os membros da
família e agressão territorial para defender
a residência. Os proprietários podem,
inadvertidamente, reforçar as agressões de
domínio e territorial e qualquer outro tipo
de agressão.
Alguns dos problemas mais comuns não
surgem necessariamente, em decorrência
de problemas de comportamento do cão ou
do proprietário, mas da relação entre eles.
Todavia, devido a percepção equivocada
do problema, somente o comportamento do
cão é considerado como um importante
determinante do sucesso da relação
homem-animal. A interação entre o cão e o
homem, por exemplo, pode ser a causa
primária ou secundária de muitas
desordens de comportamento. Segundo
Beata (2005) o cão seguro é menos
sensível às desordens relacionadas ao
apego, enquanto cães inseguros com
temperamento ligeiramente ansioso são
freqüentemente vítimas de desordens de
comportamento. Em contrapartida, cães
que evitam contato com outras pessoas
devem ser submetidos à terapia que inclui
aumento de comportamento de apego.
Entre as principais desordens relacionadas
ao apego exagerado, a autora cita a
ansiedade de separação, síndrome de
hipersensibilidade-hiperatividade,
síndrome de privação sensorial e a
dissocialização primária.
A ansiedade de separação é um problema
comportamental angustiante resultante de
várias causas envolvendo a dinâmica
familiar e a relação muito próxima entre o
animal e o proprietário. Acredita-se que
14% dos cães observados em hospitais
veterinários
dos
Estados
Unidos
(Landersberg et al., 2005) sofrem de
ansiedade de separação. O cão com
ansiedade
de
separação
mostra-se
intranqüilo e exibe sinais exagerados de
ansiedade quando o seu proprietário está
fora da casa. Quando o proprietário
preparasse para sair de casa o cão pode
mostrar alguns indícios de ansiedade
(inquietação e ganidos) ou depressão
(imobilidade e anorexia). Durante a
ausência do proprietário, o cão exibe uma
variedade de comportamentos indicativos
de ansiedade: arranhadura, vocalização
excessiva, salivação, micção e defecação
em locais impróprios, mastigação de
objetos. Comumente, quando o proprietário
volta para casa, o cão exibe altos níveis de
excitação expressados pela saudação
exagerada.
O distúrbio de ansiedade também pode
ocorrer quando o proprietário, outras
pessoas e outros animais estão presentes,
mas o cão não tem acesso ou atenção das
pessoas. Neste caso, a ansiedade pode
suscitar além dos comportamentos já
citados, vômito, diarréia, anorexia,
isolamento, automutilação, letargia ou
depressão. O tratamento para esse distúrbio
envolve
algumas
práticas
de
dessensibilização
para
corrigir
os
comportamentos específicos relacionados à
ansiedade e ajudar o cão a tolerar a
ausência do proprietário. Deve-se associar
a estas práticas o enriquecimento ambiental
com brinquedos; aumentar a interação e
77
distração; aumentar o ensejo de
brincadeiras e exercícios que além de
desviar a atenção do animal, proporcionam
um efeito calmante.
A
síndrome
de
hipersensibilidadehiperatividade
é
um
distúrbio
comportamental que surge durante a fase
juvenil ou adolescência, mas persistem pela
fase adulta. O cão corre, salta, brinca e
persiste como se não pudesse se manter
parado. Ele responde a uma estimulação
muito fraca, seja ela visual auditiva ou tátil
e durante as atividades podem mordiscar as
pessoas. O tratamento consiste na
combinação de terapia química com
brincadeiras controladas e o aprendizado
de inibições sociais.
O cão com síndrome de privação sensorial
pode apresentar três quadros clínicos. No
estágio 1 o cão é incapaz de suportar
exposição de um ou mais tipos de estímulo.
Ao ser submetido a estímulos, o animal se
esconde ou exibe comportamentos de fuga
ou agressão por medo. No estágio 2 o
animal apresenta um estado de ansiedade
por
privação.
O
comportamento
exploratório é deficiente e a alimentação
pode sofrer algumas modificações. A
alimentação pode ser inibida diante de
estímulos novos ou o alimento pode ser
ingerido rapidamente e, neste caso, a
ingestão pode ser seguida de regurgitação e
reingestão. A polidipsia pode ser
considerada
uma
atividade
de
deslocamento
assim
como
o
desenvolvimento de autolesão de membros,
flanco ou cauda.
Landerberg et al. (2005) associam a
ansiedade de privação ao estado de
hiperfixação, que se desenvolve quando a
relação do animal e do proprietário é muito
próxima. O animal ligeiramente ansioso e
sensível a qualquer mudança ambiental
mantém-se sempre ao lado do proprietário.
O estágio 3 se caracteriza principalmente
por depressão e distúrbio do sono. No
tratamento, a terapia com drogas deve ser
combinada com terapia comportamental e
atividades lúdicas.
Na dissocialização primária o cão é
descrito como “delinqüente canino”
(Landersberg et al., 2005, p. 426). O
animal é desobediente e insubmisso e,
portanto, apresenta agressão hierárquica e
por irritação quando seu proprietário tenta
controlá-lo. A insubmissão o leva a morder
gravemente suas vítimas e a brigar com
outros cães. Amiúde, a ansiedade de
separação está associada à dissocialização
primária.
Estas desordens de comportamento citadas
são apenas algumas anormalidades
diagnosticadas
como
problema
comportamentais do cão relacionadas à
interação entre o cão e o homem. Os
animais comportam-se de determinada
maneira porque agir assim é adaptativo. O
comportamento social e não-social de um
animal, sendo parte vital de sua adaptação,
está associado às adaptações fisiológicas e
anatômicas. O comportamento instintivo
moldado pela evolução é reconhecido
como inflexível, contudo, a integração
entre comportamento individual e ambiente
envolve o aprendizado através da
experiência. Em razão da variabilidade do
ambiente, este aspecto assume grande
importância, pois o aprendizado permite
que a transmissão da informação não
contida nos genes passe de geração a
geração. Porém, para que ocorra essa
transmissão, é necessário que a capacidade
de aprendizado seja herdada. Por outro
lado, para que haja evolução do
comportamento, é necessário que genes
que comandem esse comportamento sejam
herdados. Na transmissão cultural (Deag,
1981), por exemplo, os animais devem
herdar a capacidade de aprender e usar o
comportamento relacionado. Enfim, o
aprendizado e a flexibilidade tornam o
comportamento
uma
adaptação
interessantíssima.
78
Concluindo, a prevenção de grande parte
dos problemas comportamentais e o
favorecimento de uma boa qualidade de
vida ao cão, depende do conhecimento que
faculta maior acerto e rápida intervenção
por ocasião do desenvolvimento de
problemas
comportamentais
comprometedores do bem-estar do animal.
O conhecimento eficaz sobre as fases de
desenvolvimento comportamental do cão é
algo essencial para qualquer pessoa que se
aventure a conviver com esse amigo nãohumano e aspira proporcionar-lhe bemestar adequado. Nenhum proprietário
deseja conviver com um cão desobediente,
nervoso ou agressivo, mas com um animal
de
temperamento
estável
e
de
comportamento ativo e amigável. É
imprescindível o proprietário estar convicto
que o caráter de um cão é influenciado
pelas peculiaridades ambientais e, em
particular, pelo processo de socialização. A
relação harmoniosa em consonância com a
disposição de reconhecer igualmente o
direito de cada um redunda em bem-estar
para o animal e para a família.
domínio do conhecimento, consideradas
independentemente da situação concreta a
que se aplica, esse estudo pode ser
classificado como pesquisa estratégica,
pois
se
orienta
para
problemas
apresentados pela sociedade e tem como
finalidade a ação (Minayo, 2004). Do ponto
de vista metodológico, esta investigação
situa-se no âmbito da pesquisa quantitativa
e qualitativa, e essa configuração, nos
moldes em que foi planejada, poderá
contribuir na ampliação e inserção do
presente estudo no campo do objeto do
conhecimento relacionado ao ser humano,
ao cão de companhia e à sociedade.
3. METODOLOGIA
Para o estabelecimento do caminho
metodológico
buscou-se
a
complementaridade de olhares para o
mesmo problema, onde o estudo qualitativo
pudesse gerar questões para serem
aprofundadas quantitativamente, e vice
versa. Devido à natureza e delimitação do
problema e o rigor requerido para a
caracterização da relação homem-animal
em relação ao bem-estar animal, optou-se
pela matriz epistemológica de abordagem
qualitativa,
mas
utilizaram-se
as
sistemáticas quantitativas e qualitativas.
Este estudo foi conduzido com a finalidade
de estabelecer relações funcionais entre: 1)
os
aspectos
da
diversidade
socioeconômicas dos proprietários, 2) as
condições de criação do cão, 3) a
progressividade e a atitude de seus
proprietários e 4) o bem-estar do animal. O
conhecimento obtido com caracterização
do sistema de criação, dos proprietários e
do bem-estar do animal foi aplicado na
caracterização da relação homem-animal.
A abordagem qualitativa parte da premissa
de que existe uma relação dinâmica entre o
mundo real e o sujeito, entre o sujeito e o
objeto, entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito. Enquanto a
abordagem quantitativa, influenciada pela
matriz
positivista,
pelo
não
comprometimento social do pesquisador e
pela objetividade dos fatos, fundamenta-se
na utilização de instrumentos padronizados
capazes de mensurar a realidade objetiva.
O modelo de investigação utilizado na
pesquisa foi do tipo exploratório de caráter
descritivo com pesquisa de campo. A
investigação constou de um inquérito e
observações das condições de criação de
cães domiciliados.
Segundo as regras próprias de determinado
A abordagem quantitativa que se
caracterizou pelo emprego da quantificação
objetiva e rigorosa na coleta de informação
e no tratamento estatístico descritivo e
matemático dos dados, foi utilizada para
identificar as opiniões e atitudes dos
proprietários dos cães, testar a fiabilidade
79
do questionário, estabelecer as condições
de criação e estimar a condição corporal
dos animais. A abordagem qualitativa, por
outro lado, consistiu na associação de
variáveis
para
estabelecer
o
comportamento de diversos fatores e
elementos que influenciam o bem-estar
animal. Devido o emprego da análise
multivariada de correspondência múltipla,
não foi possível investigar a relação de
casualidade, ou seja, a apreciação de
fatores que estariam contribuindo para
caracterização do bem-estar do animal.
3.1 Hipótese
As atitudes e a progressividade dos
proprietários e as condições de criação
seriam fatores determinantes para a
promoção do bem-estar do cão.
3.2 Local de estudo
O estudo foi desenvolvido na Região
Administrativa da Pampulha da cidade de
Belo Horizonte. A escolha dessa região
deveu-se a duas características importantes
para o estudo: a diversidade de classes
sociais e de tipos de residências.
3.2.1 Caracterização do município
Belo Horizonte é um município brasileiro e
a capital do estado de Minas Gerais.
Atualmente é o sexto município mais
populoso do Brasil com 2.412.937
habitantes. A Região Metropolitana de
Belo Horizonte, formada por 34
municípios, possui uma população
estimada em 4.934.210 habitantes e
321.955 cães1, sendo a terceira maior
aglomeração populacional brasileira e a
terceira em importância econômica da
indústria nacional.
1
Informe da chefia do Laboratório de Zoonoses da
Prefeitura de Belo Horizonte- MG- 2008).
O Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) que utiliza uma medida comparativa
de riqueza, alfabetização, educação,
esperança de vida, natalidade e outros
fatores para os diversos países do mundo é
uma maneira padronizada de avaliação e
medida do bem-estar de uma população,
especialmente bem-estar infantil. O IDH
no ano de 2000 apresentou um valor de
0,839. Belo Horizonte já foi indicada pelo
Population Crisis Commitee, da ONU,
como a metrópole com melhor qualidade
de vida na América Latina e a 45ª entre as
100 melhores cidades do mundo
(Wikipédia, 2008).
A cidade de Belo Horizonte possui 148
bairros e está dividida em nove áreas
administrativas. São elas: Barreiro, CentroSul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte,
Oeste, Pampulha e Venda Nova.
Belo Horizonte possui o quinto maior PIB
entre os municípios brasileiros, com o
valor aproximado de 28,4 bilhões de reais e
um PIB per capita de R$ 11.951,00 em
2005. O setor terciário (serviços e
comércio) contribui com 80% da riqueza
produzida no município. O setor industrial
corresponde ao restante do
PIB.
Praticamente não existe setor agropecuário
no município.
Pampulha é uma região administrativa de
Belo Horizonte, sendo um dos principais
centros de atividades desportivas dessa
cidade, localizada sob as coordenadas
19°51′44″S, 43°58′14″W. Está situada em
uma área de 47,13 km2 com 43 bairros
subdivididos em cinco micro-regiões,
contando ainda entre eles com 17 vilas.
Estima-se que possua uma população de
145. 262 hab e 40. 619 domicílios. A renda
per capita é de R$ 680,15, a expectativa de
vida ao nascer é de 73,70 anos e o IDH é
de 0,870. O Índice de Gini é uma medida
de desigualdade comumente utilizada para
calcular a desigualdade de distribuição de
renda mas pode ser usada para qualquer
80
distribuição. Ele consiste em um número
entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa
igualdade de renda e 1 corresponde à
completa desigualdade. O índice de Gini na
Região Administrativa da Pampulha é de
0,56. Nesta região se observa claramente o
contraste social típico das cidades
brasileiras. As luxuosas mansões existentes
tanto na orla como em algumas áreas
nobres (Bandeirantes, São Luiz, São José)
contrastam com um grande número de
áreas de risco (Wikipédia, 2008).
O Distrito Sanitário Pampulha é o segundo
maior Distrito Sanitário de Belo Horizonte
em extensão, com uma área de 46,03 Km2.
Possui 143.602 habitantes (IBGE, 2000) e
24.241 cães1. Está dividido em nove áreas
censitárias: Jardim Confisco, Itamarati, São
Francisco, Santa Amélia, Santa Clara,
Santa Rosa, Santa Terezinha, Dom Orione
e Norte (PBH, 2008).
3.3 - Amostra
O universo do estudo foi constituído por 64
proprietários de cães. Foram excluídos
quatro proprietários por participarem do
pré-teste do questionário. Para os
propósitos desse trabalho a amostra final
foi composta por 60 residências onde era
criado apenas um cão com idade igual ou
superior a doze meses. O proprietário foi
caracterizado como um indivíduo da
família com idade superior a 18 anos, mais
envolvido no dia-a-dia do animal e
comprometido com o seu cuidado. O
número de cães por área censitária foi
calculado de modo haver correspondência
com a variação da densidade populacional
canina nas nove áreas censitárias da Região
Administrativa Pampulha. O calculo do
número aproximado de cães por área
2
Informe da chefia do Serviço de Zoonoses da
Região Administrativa da Pampulha- Prefeitura de
Belo Horizonte- MG - 2007).
censitária baseou-se na proporcionalidade
entre o número total de cães e o número de
cães vacinados por área censitária na
Campanha de Vacinação Anti-rábica
ocorrida em 20062.
A seleção das residências foi realizada de
modo fortuito e sistemático, visando obter
variabilidade do tipo de residência e
diversidade
socioeconômica
dos
participantes.
Informações mais precisas sobre as
residências das diversas áreas censitárias
estudadas foram obtidas com os agentes
sanitários do Serviço de Zoonoses da
Secretaria Municipal de Saúde. Seus
registros sistemáticos sobre a população
canina possibilitou a elaboração de uma
lista de residências onde era criado apenas
um cão.
3.
3.4 - Procedimentos
Esta pesquisa foi submetida à avaliação e
aprovada por dois Comitês de Ética da
Universidade Federal de Minas Gerais,
MG, em 28 de fevereiro de 2007: são estes
o Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG Parecer nº. ETIC 545/06 e o Comitê de
Ética em Experimentação Animal Protocolo 175/2006.
Antes de iniciar a entrevista todos os
respondentes foram informados sobre o
propósito do estudo e assegurados sobre o
anonimato e o sigilo das informações. O
Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (anexo 1) após lido, foi
assinado pelos participantes.
A pesquisa de campo realizada no período
de março/maio de 2007 foi conduzida pela
própria doutoranda de modo a evitar
interpretações divergentes na obtenção dos
dados, pois segundo Muchielli (1994), seja
por subjetividade ou implicação pessoal,
por distorção profissional ou por atenção
centrada no conteúdo intelectual, somos
81
experimentados a tornar efetiva uma
seleção no real e valer-se apenas um de
seus aspectos, conforme ao nosso ponto de
vista. O acesso ao real ponto de vista do
outro, somente é factível se o interlocutor
libertar-se de sua maneira habitual e
pessoal de ver as situações para alcançar
um novo ponto de vista psicológico.
Conhecimento e treinamento são elementos
fundamentais para se obter este
posicionamento.
3.5 Instrumentos de coleta de dados
Os instrumentos de coleta de dados
constaram de três formulários, observação
direta e um questionário para avaliação das
atitudes e progressividade dos proprietários
em relação ao bem-estar animal. O
pesquisador gastou em torno de 40 a 50
minutos para realizar observações enquanto
ministrava os formulários e o questionário.
3.5.1 Formulários
Três formulários foram elaborados para
coletar os dados: (1) identificação do cão e
dados socioeconômicos; (2) caracterização
do sistema de criação; (3) avaliação física e
comportamental do animal. Para o
propósito das análises, a maioria dos dados
foi tratada como dicotômica.
3.5.1.1 Formulário socioeconômico.
As informações coletadas incluíram
questões referentes à identificação do cão e
dados de identificação e condição
socioeconômica do proprietário (anexo 2).
3.5.1.2 Formulário referente ao sistema
de criação
Este formulário inclui itens utilizados na
caracterização do sistema de criação
dispensado ao animal. Os dados obtidos
foram utilizados no ajuizamento da
observância
dos
proprietários
às
necessidades fisiológicas, comportamentais
e psicológicas do cão (Anexo 3).
3.5.1.3 Formulário referente à avaliação
física e comportamental do animal.
Este formulário foi utilizado para coletar
dados sobre as variáveis ‘índole’, ‘estado
de tranqüilidade’ e ‘condição corporal’
empregadas como indicadores na avaliação
do bem-estar animal (Anexo 4). Esses
indicadores consideraram o efeito de
fatores biopsicossociais resultante de
estímulos e respostas que influenciam a
saúde, o comportamento (Clark et al.,
1997), e a condição corporal do animal
(Hofer e East, 1998).
3.5.2 Observação Direta
Até mesmo o observador mais casual de
comportamento animal perceberá que
alguns animais podem produzir uma série
de diferentes comportamentos em resposta
a determinados estímulos em diferentes
ambientes. A normalidade envolve algum
grau de variabilidade e é freqüentemente
difícil
definir
precisamente
onde
normalidade termina e anormalidade
começa (Fox, 1968a, p.3). Neste contexto
surge uma pergunta: Que padrão de
comportamento deve ser considerado:
normal ou anormal? Teoricamente, para
responder esta pergunta, a pessoa pode
fazer uma suposição razoável sobre a gama
de comportamentos exibidos por outros
animais da mesma espécie como
indicadores de elementos de normalidade e
melhorar a perspicácia do que constitui o
comportamento normativo.
A observação do estabelecimento da
constância de um comportamento reativo
específico na maioria dos cães debaixo de
condições semelhantes será uma indicação
geral que a resposta observada é
considerada normal para aquela situação.
Além disso, orientações mais precisas para
82
classificação devem estar respaldadas na
conclusão se o grau de manifestação da
ação executada é apropriado ao propósito
biológico e ao estímulo. Se a ação for
apropriada à resposta deve ser considerada
como comportamento pertinente; se não
for, será então classificado como
irrelevante ou simplesmente anormal.
Decisões sobre a normalidade do
comportamento estão, portanto, limitadas
às respostas a estímulos ou a situações
reconhecíveis
nos
comportamentos
habituais do animal. Devem ser
consideradas tais respostas levando em
conta dois fatores: grau e propósito. É
essencial que uma resposta normal deva
satisfazer simultaneamente ambas as
exigências para propósito e grau. Em
contrapartida, um comportamento que está
em desacordo ao fim a que se visa e/ou
excede a resposta padrão em grau, assume
a categoria de anormal (Fox, 1968b)
envolvem estados emocionais e modos de
reação. Entre os comportamentos mais
importantes para identificação do animal
agressivo e intranqüilo estão: agitação e
inquietação
com
atividade
motora
excessiva e não responsiva à correção;
vocalização excessiva; vigilância e
excitabilidade aumentadas; nível mais alto
de agressão irritável ou possessiva; maior
ocorrência de atividades de deslocamento,
estereotipias
e
atividades
vazias;
comportamento de alta sensibilidade à
dinâmica ambiental como para estímulos
novos e súbitos ou para situação estranha e
pouco conhecida que induzem a
sentimentos de medo, pânico ou ansiedade
e, conseqüentemente, a manifestação de
reações de agressão, inibição, evitação de
contato corporal e isolamento. O animal
pode também apresentar atividade de
motora reduzida, letargia e sinais de
frustração e angústia.
A avaliação do comportamento é
geralmente qualitativa, no que se refere à
percepção da presença ou ausência de certo
tipo de comportamento. A demonstração de
uma variedade de comportamentos normais
e de prazer pode ser contrastada com
comportamentos de aversão ou supressão
do comportamento normal. Ademais,
algumas informações particulares podem
assumir grande significância. A postura, a
andadura e o movimento dos olhos, por
exemplo, são capazes de dar uma pista
valiosa por ocasião da observação do
comportamento de um cão. Uma alta
mobilidade do olho em sua órbita
sugestiona um estado de ansiedade,
enquanto uma baixa mobilidade ou mesmo
uma posição fixa do olho pode insinuar
sofrimento ou aflição intensa.
Outros
fenômenos
comportamentais
podem acontecer com intermitência em
resposta à excitação do animal.
Comportamentos hostis podem ser patentes
em certas condições de agressão defensiva,
agressão por medo, agressão territorial e
agressão por dominância. Entre os sinais
de dominância possíveis de serem
observados em uma visita seriam
especificamente o rosnar, beliscar, morder,
bloquear acesso às dependências da casa e
comportamento ativo que desencadeie a
resposta de medo ou repreensão do
proprietário.
O proprietário quando mantém certa
proximidade com o seu animal adquire a
capacidade de estabelecer de forma
empírica, através de suas observações,
certos
tipos
de
comportamento
manifestados em situações específicas que
Muitos proprietários conseguem perceber a
postura dos cães durante os episódios
ambivalentes
de
agressividade
caracterizados por olhos parados, vítreos
rígidos, orelhas aplainadas e um rabo
abaixado, junto com resmungos e dentes a
amostra ou a postura claramente defensiva,
com olhos desviados, orelhas aplainadas,
rabo abaixado, rosnado, latido e que ataca
somente quando sua distância crítica é
ultrapassada. Outras posturas ou sinais de
83
agressividade ou ataque eminente são
observados quando o cão encara e o
contato visual é prolongado; apresentação
de pilo-ereção, dentes à amostra, orelhas
eretas e para frente, cauda elevada e reta
podendo haver movimento de abano
apenas na ponta (Fatjó et al., 2003); um
abanar de rabo nem sempre indica um
cachorro amigável.
Um cão adulto socializado de maneira
precária ou equívoca, pode se tornar
dominante para as pessoas da família ou
super-protetor de seu território e/ou dos
membros da família. Ele pode tornar-se um
mordedor
constante
ou
atacar
eventualmente visitas e, neste caso, os
proprietários deixam de fazer determinadas
coisas porque incitam o cão a reagir com
rosnado
e
outros
comportamentos
agonísticos. Geralmente, ao relatarem
históricos de comportamentos agressivos,
referem-se a alguns estímulos que podem
provocar a agressão: ser fitado nos olhos;
ser repreendido física ou verbalmente; ser
ordenado sair de um determinado lugar; ser
escovado, o escovar de dente, cortar as
unhas, banho e tosa; ficar de pé ao lado do
animal ou encontrá-lo em passagens
estreitas; aproximação de estranhos às
pessoas queridas; aproximação de pessoas
à sua comida ou à sua área de descanso.
Frequentemente, a presença de uma pessoa
estranha é suficiente para alterar o
comportamento do animal de forma que ele
não se comporte da mesma maneira quando
está sozinho em casa com o seu
proprietário.
Considerando
essa
possibilidade, o método de observação
aplicado a esta pesquisa baseou-se na
interconexão da observação direta e na
habilidade dos proprietários em discernir
entre um comportamento normal ou
anômalo. Uma visita à residência do
proprietário permite ao pesquisador obter
uma visão mais precisa do comportamento
habitual do animal (Danneman, 1982),
sendo mais provável um cão agressivo
atacar ou ameaçar as pessoas em seu
próprio território.
A
categorização
da
índole
(agressivo/manso) e do estado de
tranqüilidade (tranqüilo/ intranqüilo) que
permitiram a identificação do tipo de
personalidade do cão, considerou o sexo, a
idade, o estado reprodutivo, a raça e a
compatibilidade com um estilo particular
de vida (Overall, 1997). A classificação do
cão macho, adulto Cocker Spaniel como
um animal intranqüilo e agressivo, por
exemplo, baseou-se no arranjo familiar
(pai, mãe, filho), na opinião do proprietário
e no juízo da pesquisadora.
A observação foi iniciada exatamente no
momento em que o proprietário abriu a sua
porta para receber a pesquisadora. Através
de uma atitude profissional, mas amigável,
a pesquisadora deixou o respondente à
vontade e ao mesmo tempo, com um ar de
informalidade, observava as respostas do
proprietário ao comportamento do animal,
enquanto incluindo sua atividade, nível de
excitabilidade, exploração, respostas de
medo e agressividade, e interação com
pessoa estranha - a própria entrevistadora e familiares. Tais observações, definidas
em termos amplos, não estavam restritas
apenas ao que era visto, mas incluiu as
faculdades intelectual e intuitiva da
pesquisadora.
Por ocasião da avaliação propriamente
dita, foi indagado aos proprietários se eles
identificavam
em
seus
cães
os
comportamentos de agressividade e de
intranqüilidade. Em seguida foram
perguntados
pormenores
sobre
o
comportamento do cão e de seus pais,
convergindo para um mesmo ponto dos
possíveis
problemas.
Quando
o
proprietário não admitia dúvida, ainda
assim, era solicitada informação mais
objetiva possível e perguntas específicas
eram feitas sobre as manifestações
observadas e a freqüência de ocorrência de
84
agressividade e intranqüilidade. Por outro
lado, quando era notória a dúvida, e o
proprietário por motivos não ditados pela
razão se abstinha em considerar a
verdadeira natureza do problema, o
entrevistador baseado nos fatos, na sua
experiência e no juízo crítico, decidia
como árbitro.
A pesquisadora, ciente da complexidade do
comportamento animal, ao reconhecer
algumas interpretações equivocadas dos
proprietários, valia-se de perspicácia,
atenção e do histórico sobre o
comportamento social do cão. Alguns
proprietários poderiam acreditar ser normal
um cão rosnar e ameaçar com freqüência
pessoas ou animais, e ainda, considerar
eventos esporádicos de agressão com lesão
da vítima um fato passageiro e sem
importância.
3.5.3 Questionário
O questionário utilizado para avaliação das
atitudes e progressividade dos proprietários
em relação ao bem-estar animal foi
elaborado a partir de informações e
pressupostos básicos levantados por
autores revisados nesse estudo (Anexo 5).
3.5.3.1 Atitudes e progressividade
A atitude no sentido psicológico comum
pressupõe um papel que se quer
representar através das posturas físicas,
fisionomia e gestos que revelam uma
intenção. No sentido psicológico mais
geral, a atitude assume uma categoria do
real (em relação a instituições como
família, trabalho, governo) ou de atitude
global (em relação ao outro ou a vida)
constituindo um conjunto de idéias,
crenças, princípios ou opiniões, que se
interpõem como centro de referencia de
tudo quanto se pensa, diz, ou faz com
respeito à realidade. Sendo uma estrutura
da personalidade, atua também no nível
inconsciente como fator de estruturação da
experiência vivida e do comportamento
(Muchielli, 1994).
As atitudes são concebidas como presteza
mental ou predisposição implícita que
exercem influência geral e lógica numa
classe de respostas de avaliação dirigidas a
algum objeto, pessoa ou grupo. São
consideradas também como inclinações
adquiridas e duradouras, passíveis de
receber impressões e, portanto, não são
inatas. A percepção do mundo em que vive
deste modo desempenha certo controle na
expressão do comportamento do indivíduo
(Zimbardo e Ebbersen, 1973). Portanto, as
atitudes dizem respeito às normas de
proceder ou tendência de comportamento.
Uma atitude pode predispor um indivíduo
a agir em favor ou contra a uma pessoa,
objeto ou situação.
Por outro lado, a progressividade, segundo
Guilhermino e Sampaio (1999), se refere à
conquista de conhecimentos objetivos
capazes de modificar a vida íntima e social
e de conceder maior significação no
contexto da experiência humana. Os
indivíduos progressistas, ao contrário dos
conservados na tradição, são mais abertos
à mudança e atuam como fontes de
informação para outros indivíduos nãoprogressistas.
Para medir a influência da atitude sobre o
comportamento consideram-se as atitudes
divididas em três componentes: afeto,
cognição e comportamento. O componente
afetivo se refere à avaliação da pessoa em
relação a uma resposta emocional a algum
objeto ou a alguma pessoa. O componente
cognitivo está relacionado a crenças, ou
convicções íntimas de uma pessoa a
respeito de um objeto ou pessoa ou
conhecimentos de fatos a eles referentes. Já
o componente de comportamento incluía
ação manifesta da pessoa com relação à
outra pessoa ou ao objeto.
A atitude compreendida desta forma aventa
85
possibilidades de se estabelecer métodos
para medi-las, como também técnicas para
estimular mudança de atitudes. O
componente afetivo poderia ser avaliado
por respostas fisiológicas ou expressões
verbais relacionados à questão de sentir ou
não prazer, gostar ou não do objeto ou de
alguma pessoa. O componente cognitivo
poderia ser determinado por auto-avaliações
de crenças ou pelo conhecimento que uma
pessoa tem de certo assunto, enquanto o
componente de comportamento poderia ser
avaliado por observação direta da forma
particular da pessoa comportar-se em
circunstâncias estimuladoras especificas.
3.5.3.2. Técnica de mensuração
Entre as principais técnicas de mensuração
de atitudes e progressividade utilizadas em
estudos sociais encontram-se: o método de
intervalos
aparentemente
iguais
de
Thurstone, o método de avaliações somadas
de Likert, o escalograma de Guttman e o
diferencial semântico de Osgood. Cada uma
dessas técnicas desenvolve diferentes
conjeturas em relação à natureza dos itens
do teste que deve ser empregado e a
respeito do tipo de informação que
permitem avaliar as atitudes e a
progressividade da pessoa. Não obstante,
existem algumas hipóteses comuns a todas
essas técnicas. A primeira supõe que é
possível medir essas predisposições
subjetivas por uma técnica quantitativa, de
modo a permitir que a opinião de cada
pessoa possa ser expressa por números. A
outra hipótese seria que os quatro métodos
supõem que determinado item de teste
apresenta o mesmo sentido para todos os
inquiridos que respondem a ele, e por
suposto, esta resposta deve ser avaliada da
mesma forma para todos os respondentes.
(Zimbardo e Ebbersen, 1973). Para alcançar
o propósito do estudo em questão, decidiuse utilizar o Método de Avaliações
Somadas de Likert. A escala de Likert,
como é usualmente chamada, é formada por
uma série de afirmações de opiniões a
respeito de uma questão que é objeto de
discussão
em
um
domínio
do
conhecimento. Os itens ou questões sob
forma de afirmação devem ter elevada
correlação com um atributo comum, no
caso o favorecimento do bem-estar animal,
e elevada correlação entre si.
As respostas às afirmações são identificadas
em categorias pelo respondente e avaliadas
pelo pesquisador. Uma resposta é traduzida
em números em uma escala de sete pontos
de respostas, de acordo com as opiniões
pessoais a respeito das afirmações. Cada
pergunta sob forma de afirmação
representada na escala de 01 a 07 é uma
função linear da mesma dimensão de
atitude. Logo, o resultado ou quantificação
da atitude da pessoa é a adição das
avaliações isoladas. Essa soma, no entanto,
apesar de fornecer informação sobre a
ordenação das atitudes de uma pessoa num
contínuo, não indica até que ponto as
diferentes atitudes podem estar próximas ou
isoladas, ou seja, a escala não revela a
magnitude da diferença entre as respostas
numeradas, pois o método supõe intervalos
iguais entre valores de escala (Manning e
Rosenstock, 1971).
3.5.3.3. Elaboração e Execução
Vinte e quatro perguntas fechadas foram
elaboradas para investigar os elementos
cognitivos das atitudes e progressividade
dos proprietários para com o bem-estar de
seus cães (Anexo 5). As perguntas sob
forma afirmativa ou negativa estavam
divididas em quatro grupos: atitudes
positivas, atitudes negativas, proprietário
tradicional e proprietário progressista. As
respostas baseadas no método de Likert
foram fixadas em uma escala de sete pontos
que registrou a concordância ou
discordância do respondente com cada item
ou pergunta feita pelo entrevistador: (7)
concordo
totalmente
(6)
concordo
parcialmente (5) concordo um pouco (4)
não sei (3) discordo um pouco (2) discordo
86
parcialmente (1) discordo totalmente. Se o
respondente
não
tivesse
bastante
conhecimento para formar uma opinião
sobre uma afirmação em particular, ele
tinha a opção de escolher “não sei”.
Num primeiro momento foi realizado um
pré-teste do questionário com uma amostra
de
4
proprietários
escolhidos
aleatoriamente. Esta experiência teve o
objetivo de perceber situações que
poderiam ocorrer durante a coleta de dados
e possíveis modificações referentes as
perguntas do questionário. Após o
questionário ter sido submetido ao pré–
teste, ele foi ministrado oralmente aos
proprietários durante o período de março a
maio de 2007.
3.2.5.3.4 Medição da Fiabilidade
Segundo os autores especialistas em
pesquisas qualitativas, é notório que todos
os dados coletados por meio de
instrumentos que medem fenômenos
psicológicos, atitudes, opiniões e outros
podem encerrar em si erros de medição. Se
as medidas contêm erros, haverá um
comprometimento da informação e das
conclusões obtidas a partir dessa
informação. As causas do erro são diversas,
podendo, inclusive, ocorrer devido a
condições fortuitas que surgem durante a
aplicação da entrevista.
Medir a fiabilidade significa atestar que os
investigadores ao usarem as mesmas
técnicas com o mesmo material, obtenham
basicamente os mesmos resultados, ou
ainda, avaliar a consistência ou a
estabilidade das medidas obtidas de um
determinado instrumento. Este coeficiente
representado por um valor numérico que
varia entre zero e um, pode ser calculado
quando o instrumento é aplicado em outra
oportunidade ao mesmo grupo de
indivíduos ou quando uma forma
alternativa
do
instrumento
é
aplicada após um intervalo de tempo ao
mesmo grupo de indivíduos (Budd et al.,
1967).
O teste teste-reteste é empregado para
medir o índice de estabilidade do
instrumento através da correlação entre
resultados ou valores de duas aplicações do
mesmo instrumento na mesma população.
Não há um tempo preciso, o intervalo entre
a aplicação dos testes pode variar de dias
até um ano, dependendo do que se quer
investigar. O pesquisador tenta averiguar se
os sujeitos respondem de forma idêntica nas
duas ocasiões. As diferenças entre respostas
podem variar desde esquecimento, falta de
motivação ou as condições ambientais por
ocasião da aplicação (Richardson, 1999).
Seguindo este preceito metodológico, o
questionário foi ministrado por duas vezes.
Na primeira vez, presencialmente na
residência do proprietário, e na segunda vez
por intermédio de contato telefônico. A
entrevista foi repetida em setembro de 2007
e o Coeficiente de Correlação de Spearman
obtido foi de 0,93.
3.5.4 Determinação da Condição
Corporal Canina
O estado de nutrição caracterizado pelo
sobrepeso ou desnutrição em cães é
reconhecido facilmente por qualquer
pessoa, mas o diagnóstico correto requer a
quantificação para maior exatidão do
diagnóstico. Existem inúmeros métodos
para avaliar a composição corporal, no
entanto, a técnica ideal para determinar a
composição corporal deve ser segura,
barata, rápida, fiável, de fácil execução e
de
elevada
reprodutibilidade.
Independentemente da técnica escolhida, é
imprescindível respeitar meticulosamente
os protocolos estabelecidos para evitar
possíveis erros de medição (Elliot, 2006).
Foram empregados dois métodos para
determinar se o cão está acima ou abaixo
do peso normal: (1) Índice de Condição
Corporal - método de avaliação da
87
condição corporal baseado na inspeção e
palpação do animal (Laflamme, 1997) e (2)
Índice de Massa Corporal Canino (IMCC) método simples e objetivo de quantificação
da massa corporal (Müller, 2007). O
primeiro método de cunho subjetivo foi
utilizado neste estudo com o intuito de
validar o IMCC.
3.5.4.1 Índice de Condição Corporal
O Índice de Condição Corporal
proporciona uma avaliação rápida da
condição física geral do animal. Este índice
que se baseia em uma classificação
corporal usualmente utilizada em clínica de
pequenos
animais,
apresenta
nove
graduações, sendo as graduações quatro e
cinco consideradas para um animal com o
peso ideal (Quadro 1) As limitações desse
método envolvem a subjetividade inerente
ao sistema de classificação e a variação
entre os observadores.
Para obter
resultados mais seguros e fiáveis, todas as
medidas
foram
realizadas
pela
pesquisadora.
3.5.4.2 Índice de Massa Corporal
Canino (IMCC)
O Índice de Massa Corporal (IMC) é um
método fácil reconhecido pela Organização
Mundial de Saúde que permite estabelecer
com um bom grau de acuidade o estado de
“normalidade” do peso corporal de uma
pessoa adulta ou se ela está acima ou
abaixo do peso ideal. O IMC indica o
número de quilos de peso por metro
quadrado de superfície corporal. É obtido
através da divisão da massa corporal (peso)
pelo quadrado da estatura (Anjos, 1992). O
grande benefício do IMC adaptado à
Medicina Veterinária por Müller (2007) é
saber quantos quilos o cão deve
efetivamente ganhar ou perder. O
acompanhamento do controle de peso com
este método torna a avaliação objetiva.
Os dados necessários para o cálculo do
Índice de Massa Corporal Canino foram
obtidos através da pesagem e da medição
do corpo do animal. A pesagem foi
realizada em uma balança digital portátil da
marca “Acqua“ com capacidade de aferição
de 180 kg e graduação de 0,1 kg. A
mensuração do comprimento da coluna e
dos membros feita com uma trena flexível
referiu-se à extensão entre a base da nuca
(articulação atlanto-occipital) até o solo,
imediatamente atrás do membro posterior,
passando e apoiando a trena sobre a base
da cauda (última vértebra sacral), ficando a
trena exatamente medial às tuberosidades
ilíacas sobre o dorso do animal, conforme a
figura 1.
Os valores obtidos com a medição foram
empregados
na
seguinte
equação
aritmética:
IMCC =
peso corporal (Kg)
(estatura em m)²
88
Quadro 1 .
Grau
Índice de condição corporal para caninos, proposta por Laflamme (1997)
Condição
Características
Subalimentado
1
- costelas, vértebras lombares, ossos pélvicos
e saliências ósseas visíveis à distância
- não há gordura corporal
- perda evidente de massa muscular
2
- costelas, vértebras e ossos pélvicos facilmente
visíveis
- não há gordura palpável
- algumas saliências podem estar visíveis
- perda mínima de massa muscular
3
- costelas facilmente palpáveis podem estar visíveis
sem gordura palpável
- visível o topo das vértebras lombares
- ossos pélvicos começam a ficar visíveis
- cintura e reentrâncias abdominais evidentes
Ideal
4
- costelas facilmente palpáveis com mínima cobertura
de gordura
- vista de cima, a cintura é facilmente observada
- reentrância abdominal evidente
- costelas palpáveis sem excessiva cobertura de
gordura
- abdômen retraído quando visto de lado
5
Sobrealimentado
6
- costelas palpáveis com leve excesso de cobertura
- cintura é visível quando vista de cima, mas não é
acentuada
- reentrância abdominal aparente
7
- costelas palpáveis com dificuldade
- pesada cobertura de gordura
- depósito de gordura evidente sobre a área lombar e
base da cauda
- ausência de cintura ou apenas visível
- reentrância abdominal pode estar presente
8
- impossível palpar as costelas situadas sob cobertura
muito densa ou palpável somente com pressão
acentuada
- pesado depósito de gordura sobre área lombar e base
da cauda
- cintura inexistente
- não há reentrância abdominal, podendo existir
distensão abdominal evidente
9
- maciços depósitos de gordura sobre o tórax, espinha
e base da cauda
- depósitos de gordura no pescoço e membros
- distensão abdominal evidente
89
Figura 1 – Obtenção da estatura do cão para o cálculo do IMCC. A linha preta representa o
trajeto da trena sobre a coluna até o limite plantar do membro posterior (Autorizado
por Müller, 2007).
O IMC de humanos é classificado em
apenas quatro grupos principais que
informam a condição física. Muller (2007)
para chegar aos valores médios finais optou
por agrupar as avaliações dos cães nas
mesmas quatro condições: abaixo do peso,
peso ideal, acima do peso e obeso (Quadro
2)
O IMCC médio do peso ideal (13,497) de
cães de porte médio foi usado como base
para o cálculo de obtenção da massa
corporal ideal ou o peso ideal para cada
animal. Então, um cão estará fora da
margem de peso ideal quando sua massa
corporal for maior ou menor que 20% da
ideal.
Müller (2007) observou em seu estudo que
o IMCC para as raças de grande porte
apresenta um acréscimo de 20% do IMCC
daqueles de porte médio e nos tipos físicos
de pequeno porte (até 10 Kg) ocorre uma
diminuição de 10% do IMCC daqueles de
médio porte.
Assim, quando o animal for de porte
grande calcula-se um acréscimo de 20% do
IMCC encontrado e no caso de cães de
pequeno porte diminui apenas 10% do
IMCC estipulados para cães de porte
médio. Exemplificando, ao usarmos a
fórmula IMCC = peso/estatura² para um
cão de pequeno porte pesando, 3,3 kg e
medindo 0,545 m obtém-se um IMCC de
11,11. Calcula-se 10% do valor do IMCC
encontrado (1,11) soma-se este valor ao
MMC encontrado. O IMCC deste animal é
12,22. Ao compararmos com o IMCC
médio do peso ideal (13,497) concluímos
que o animal está com o peso ideal de
acordo com o estabelecido no Quadro 3. Se
o animal fosse de porte grande bastaria
diminuir 20% do valor encontrado.
Foram considerados como abaixo do peso
90
Quadro 2 . Índice de massa corporal de cães de médio porte (11 a 25 kg)
Condição
1- Abaixo do peso
2- Peso ideal,
3- Acima do peso
4- Obeso.
Avaliação IMCC
(Laflamme)
1, 2, 3
4e5
6e7
8e9
IMMC médio
(Müller)
10,527
13,497
16,378
20,177
Faixa de variação
abaixo de 11,7
entre 11,8 e 15
entre 15,1 e 18,6
acima de 18,7
Adaptado de Müller (2007)
em risco de desnutrição todos os cães de
porte médio que apresentaram um IMCC
abaixo de 11,7 pertencentes aos grupos 1, 2
ou 3, conforme avaliação de Laflamme
(1997).
Foram consideradas acima do peso
todos os cães que apresentaram um
IMCC entre 15,1 e 18,6 e se
enquadraram na graduação de condição
corporal 6 e 7. Os animais com peso
ideal apresentaram um IMCC entre
11,8 e 15. Nos animais obesos o IMCC
deveria estar acima de 18,7 e a
graduação de condição corporal
representada pelos graus 7 e 8.
Apesar do modo como foi concebido o
IMCC pode ser um método com boa
margem de segurança para uma espécie
com padrão morfológico diferenciado,
o uso da base de cálculo para sua
determinação pode implicar em
problemas referentes à composição
proporcional do corpo ou a distribuição
de gordura corporal. Outros elementos
como o osso, massa muscular e até
mesmo o aumento de volume
plasmático induzido pelo treinamento
com exercícios interferem no cálculo
do IMCC. Neste caso, há o
comprometimento da interpretação
sobre o excesso de peso. Um IMCC
alto
poderia ser
devido ao
desenvolvimento da musculatura em
virtude de sua constituição genética ou do
desenvolvimento da musculatura em
virtude de sua constituição genética ou da
prática freqüente de exercício, mas não por
excesso de gordura. Como exemplos, têmse cães da raça Pit Bull com uma
musculatura volumosa e da raça Galgo
Espanhol, alto e delgado. Estes cães
poderiam apresentar um IMCC reprovável
ainda que dentro do padrão aceitável para a
raça. Semelhantemente, cães com padrão
morfológico diferenciado, como os cães
das raças Teckel e Basset Hound que
possuem o tamanho da coluna semelhante
às demais raças, porém com pernas curtas,
podem apresentar um IMMC irreal. Nestes
casos, os resultados foram interpretados
considerando os fatores do animal que o
diferia do padrão normal.
No presente estudo houve somente duas
discordâncias entre o valor de IMCC e a
avaliação de condição corporal em um cão
macho da raça Teckel de 12 meses de idade
e outro cão macho sem raça definida
também de 12 meses de idade. Os cães
apresentavam uma avantajada massa
muscular resultante, possivelmente, dos
longos passeios realizados diariamente.
3.6 Definição dos indicadores de
bem-estar
Com o propósito de atender as diversas
circunstâncias relativas à individualidade
91
do
animal,
foram
empregadas
conjuntamente variáveis de caráter
fisiológico e comportamental como
indicadores na avaliação do bem-estar. Os
três indicadores eleitos fundamentaram-se
em respostas interna e comportamental do
cão. A resposta interna foi representada
pelos indicadores ‘condição corporal’ e as
respostas
comportamentais
pelos
indicadores ‘índole’ e ‘estado de
tranqüilidade’.
A partir destas três variáveis foram criadas
seis classes de variáveis: ‘condição
corporal ideal’ / ’condição corporal
inapropriada’; ‘agressivo’ / ‘manso’;
‘tranqüilo’ / ‘intranqüilo’.
Cada um dos indicadores representados
pelas classes ‘condição corporal’, ‘índole’
e ‘estado de tranqüilidade’ foi avaliado
separadamente dentro de uma amplitude de
zero a três (0 a 3). O critério empregado
para a escala de mensuração das variáveis
foi o seguinte: 3- muito; 2- regular; 1pouco; 0- nenhuma variação anormal
identificada.
As variáveis com valores compreendidos
entre 1 e 3 se associaram `as classes
‘condição
corporal
inapropriada’,
‘agressivo’ e ‘intranqüilo’. A variável com
valor zero associou-se `as
classes
‘condição corporal ideal’, ‘manso’ e
‘tranqüilo’.
O bem-estar foi caracterizado como
adequado quando, simultaneamente, as
variáveis ‘condição corporal’, ‘índole’ e o
‘estado de tranqüilidade’ referentes a um
animal, apresentaram o valor zero. De
outro modo, o cão possuidor de bem-estar
adequado seria um animal com ‘condição
corporal ideal’, ‘manso’ e ‘tranqüilo’.
Para caracterização do bem-estar pobre
bastava que pelo menos uma das três
variáveis apresentassem valores entre 1 e 3
da escala, ou seja, apresentasse graduação
1, 2 ou 3 para
‘condição corporal’
(inapropriada), ‘índole’ (agressivo) e para
“estado de tranqüilidade’ (intranqüilo). Por
exemplo, um animal com a condição
corporal ideal (valor 0), manso (valor 0),
mas intranqüilo (valores 1, 2 ou 3) foi
avaliado como um animal com bem-estar
pobre.
3.7 Análises dos dados
O primeiro passo da análise dos dados foi
conhecer as freqüências de resposta para
algumas variáveis socioeconômicas e
outras variáveis relativas à caracterização
da qualidade do sistema de criação. O
segundo foi caracterizar o bem-estar. No
terceiro passo foram determinados os
índices de atitude e progressividade dos
proprietários. O quarto passo constou da
realização da análise multivariada de
correspondência múltipla para identificar
as associações existentes entre as variáveis
pesquisadas e o bem-estar animal. Por
último, caracterizou-se a relação homemanimal levando em consideração os
resultados obtidos nos passos anteriores.
Antes de realizar o primeiro passo todos os
dados
pré-codificados
obtidos
nos
formulários e no questionário foram
inseridos no programa EpiData versão 3.1.
Este programa é utilizado para entrada e
organização de dados; obtenção de
estatística descritiva e verificação de erro
de transcrição.
3.7.1 Formulários
Uma parte dos dados resultantes dos
formulários foi submetida à análise
estatística descritiva e a outra parte foi
empregada na análise multivariada de
correspondência
múltipla.
A
impossibilidade de utilizar todos os dados
na analise multidimensional deveu-se à
dificuldade de conseguir uma inércia de
valor satisfatório na análise multivariada de
correspondência múltipla. A inércia sendo
92
um valor algébrico representa no sistema
tridimensional o quanto um sistema pdimensional fica justificado, ou seja, o que
é permitido ser visualizado. Quanto menor
a inércia menor o domínio do fenômeno.
Como não estamos trabalhando com
inferência, o que importa nesta análise é o
valor da inércia.
A análise de parte dos dados através da
análise multivariada de correspondência
múltipla impossibilitou outros tipos de
análises inferenciais. Este procedimento é
justificado porque todas as demais
variáveis descritivas estariam confundidas
com as variáveis utilizadas nessa análise
multidimensional; como o próprio nome
insinua, as variáveis são estudadas
simultaneamente. A aplicação de qualquer
outro teste estaria desclassificando a
técnica multivariada onde inúmeros fatores
atuam conjuntamente em um estudo
multifatorial. Perante as circunstâncias da
conjuntura analítica desta pesquisa, a
análise dos dados se restringiu a análise
descritiva e a análise multivariada de
correspondência múltipla, não obstante,
essas análises ao caracterizarem o perfil da
amostra e demonstrarem associações entre
variáveis, respectivamente, convergiram
para a caracterização do bem-estar e da
relação homem-animal na população
estudada.
3.7.2 Questionário
A resposta referente a cada uma das 24
questões do questionário foi quantificada
segundo a escala de Likert de 01 a 07. Os
valores
que
caracterizaram
cada
proprietário dentro das duas variáveis
progressividade (Pk) e Atitudes (Ak) em
relação ao bem-estar animal foram
calculados usando a seguinte fórmula
matemática (Guilhermino e Sampaio,
1999):
n1
n2
Pk = (n2 Σ Xi - n1 Σ Xj) / n1n2
i =1
j =1
Pk - Progressivo x Tradicional
Ak - Atitude positiva x atitude negativa
Onde Pk é o índice para o k produtores, os
quais responderam afirmativamente para n1
itens (questões) de progressividade (Xi) e
n2 - itens tradicional (Xj)
Xi - valor do item progressividade
Xj - valor do item tradicional
n1 - número de itens / produtores
progressistas
n2 - número de itens / produtores
tradicionalistas
Ak foi calculada analogamente.
Xi - valor do item de atitudes positivas
Xj - valor do item de atitudes negativas
n1 - número de itens / atitudes positivas
n2 - número de itens / atitudes negativas
Os dois índices Pk e Ak para cada um dos
respondentes
foram
representados
graficamente com respeito a dois eixos,
definindo os quatro quadrantes. O gráfico
de dispersão foi obtido com o auxílio do
Assistente de gráfico do Microssoft Office
Excel versão 2003. Os índices Pk e Ak
foram também submetidos à análise
multivariada de correspondência múltipla.
3.7.3
Análise
Multivariada
Correspondência Múltipla
de
Quando em um ensaio experimental a
pesquisa
valer-se
de
observações
envolvendo algumas variáveis de caráter
qualitativo, a análise simultânea dessas
variáveis para descobrir alguma relação
entre elas deve empregar um recurso que
não seja a análise de variância (Sampaio,
1993). Logo, para averiguar a associação
das variáveis estudadas com o bem-estar,
optou-se pela aplicação da análise
multivariada de correspondência múltipla
ou análise de dados multidimensionais.
93
Esta análise admite que um número
expressivo de variáveis possa ser analisado
simultaneamente e, conseqüentemente,
permite a investigação de possíveis
relações existentes entre elas. Além de
possibilitar a constatação de relações
existentes entre as diversas variáveis, esta
técnica também permite a verificação de
prováveis agrupamentos e quais fatores
predisponentes estão mais associados à
variável principal que se quer estudar. As
possíveis relações existentes entre as
variáveis são verificadas por meio de uma
abordagem
descritiva
baseada
em
observações gráficas que permitem
examinar o comportamento de cada
variável em relação às demais.
No processo de análise multidimensional
investigam-se os três primeiros eixos que
correspondem
às
três
primeiras
componentes principais. O principal eixo
fatorial é aquele que ao projetar a nuvem
de pontos observados sobre ele, melhor
conserva, em media, a distância entre pares
de pontos, sendo este o eixo que contêm o
maior valor de inércia. Outros eixos vão se
definindo seqüencialmente, condicionados
a definição dos eixos anteriores
correlacionados entre si.
Havendo pvariáveis, haverá um espaço p-dimensional
com p-eixos principais, cada um deles
correspondendo
a
um
componente
(Asensio, 1989).
Cada variável é representada por todas suas
possíveis respostas. Por exemplo, para a
variável ‘índole’, existem as respostas
‘bravo’ e ‘manso’ que obrigatoriamente
serão antagônicas. Para avaliar a
associação de ‘índole’ versus outra
variável, basta verificar como suas
respostas estão localizadas em relação às
respostas ‘bravo’ e ‘manso’. Nas
representações gráficas, as associações
podem ser observadas pela distância
euclidiana clássica, ou seja, pela
visualização da distância das posições das
variáveis nos quadrantes, onde apenas a
proximidade entre variáveis aponta
associação. Duas variáveis no mesmo
apartamento (diédro) estão associadas
quanto mais próximas elas estiverem. Por
conseguinte, quanto mais distante uma das
outras mais fraca é a associação.
O número de observações obtido para uma
determinada variável é um fator
determinante para a decisão de incluí-la na
análise multivariada de correspondência
múltipla. É necessário um grande número
de observações para que uma variável
possa experimentar uma variação tal que
seu efeito possa ser detectado. Uma
variável com classes pouco representadas
apresentam má distribuição ao serem
submetidas à análise. Assim, o pesquisador
ao tentar considerar uma variável com
reduzido
número
de
observações,
provocaria uma distorção na distância entre
pares de pontos projetados e a variável
problema. Este quadro levaria uma
diminuição da inércia. Os pontos estudados
(observações) no espaço p-dimensional
possuem uma inércia total e, geralmente, os
três eixos principais são investigados
seqüencialmente - o primeiro, apresentando
o maior valor de inércia e os demais,
definidas seqüencialmente no sentido
decrescente. Juntos devem somar mais de
70% da inércia, segundo critério citado por
Sampaio (1993). Assim, na tentativa de
obter uma inércia satisfatória sem
comprometer a validade da análise, a
impropriedade de algumas variáveis
precisou ser descoberta. Foi necessária a
realização de diversas análises para se
conhecer os diferentes resultados obtidos
pela mudança do espaço p-dimensional que
levassem a uma inércia dentro dos padrões
esperados.
O programa computacional empregado
para a análise de correspondência múltipla
foi o InfoStat da Universidade de Córdoba,
Argentina. InfoStat é um programa
estatístico desenvolvido no ambiente
Windows que oferece uma conexão
94
avançada para a manipulação de um banco
de dados em planilha eletrônica. Possui
ferramentas relacionadas a objetos de
várias áreas (genética, controle de
qualidade, epidemiologia) capazes de
desenvolver análises específicas de dados,
editar fórmulas, classificar e categorizar 4.
variáveis e gerar variáveis aleatórias
mediante ensaios de simulação. Permite
também
transferência
de
quadros,
resultados gráficos de aplicações para o
Windows.
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este
estudo
com
delineamento
primordialmente descritivo, ao fotografar
uma população definida em um
determinado
momento,
mostra
peculiaridades do sistema de criação dos
cães e a caracterização dos proprietários
quanto à progressividade e atitude. Essas
peculiaridades e caracterização, juntamente
com a avaliação do bem-estar, configuram
o pressuposto básico proposto para
caracterizar a relação homem animal.
Para alcançar tal intento, foi necessário,
inicialmente, conhecer o ambiente em que
o cão estava inserido. Isto conduziu a
pesquisa à obtenção de dados essenciais
para identificação dos sujeitos em seu
contexto social. Os primeiros resultados
apresentados de forma descritiva, serão
relativos à identificação do cão e a
caracterização
socioeconômica
do
proprietário. Em seguida será apresentada a
caracterização do sistema de criação, onde
se tem uma idéia do universo vivido pelos
cães e a percepção dos proprietários quanto
o modo de criação do cão. À continuação
serão exibidos os resultados sobre o
atendimento das necessidades dos animais
(brincar e passear) e a caracterização do
bem-estar segundo os três indicadores:
índole, estado de tranqüilidade e condição
corporal. Por fim, após a apresentação dos
resultados do questionário aplicado para
caracterizar o proprietário quanto à
progressividade e atitude, serão mostrados
os resultados da análise multivariada de
correspondência múltipla com o desígnio
de ampliar e validar as possibilidades
explicativas do estudo.
4.1 Identificação dos cães
caracterização socioeconômica
e
Um formulário constituído por itens
relativos à identificação do cão e itens
socioeconômicos dos proprietários, foi
idealizado com a finalidade de mostrar o
perfil
da
amostra.
As
variáveis
socioeconômicas sexo do proprietário,
estado civil, número de pessoas no
domicílio, renda familiar, escolaridade do
proprietário, tipo de habitação, foram
selecionadas porque outros investigadores
observaram
que
elas
predizem
características
importantes
sobre
a
propriedade de animais de estimação em
cidades (Albert, 1988). Foi incluída neste
formulário uma pergunta sobre a existência
de outro animal de estimação além do cão
(Anexo 2).
Devido à natureza multidimensional da
análise multivariada de correspondência
múltipla empregada para conhecer as
associações das variáveis pesquisadas com
o bem-estar do cão, apenas algumas
variáveis
puderam
ser
analisadas.
Igualmente, não foi possível utilizar testes
inferenciais conjuntamente com a análise
multivariada para explorar associações
entre todas as variáveis e o bem-estar. A
maioria das variáveis socioeconômicas foi
submetida à análise estatística descritiva.
Somente as variáveis ‘renda familiar’, ‘tipo
de habitação’ e ‘outros animais de
estimação’ foram incluídas na análise de
correspondência múltipla.
Identificação dos Cães
Dos 60 cães participantes do estudo 55%
eram machos cujas idades variaram de 1 a
11 anos com uma média de 5,06 anos. A
95
maior
freqüência
(16,7%)
estava
representada igualmente pelas idades 1, 3 e
4 anos de idade. Aproximadamente 43%
dos cães não tinham raça definida, porém a
maioria (56,7%) se classificou como cão de
raça pura: Poodle mini (26,7%), Cocker
spaniel (8,3%), Pinscher (5%), Bichon frisé
(3,3%), Schnauzer mini (3,3%), Teckel
(3,3%), Beagle (1,7%), Dálmata (1,7%),
Lhasa apso (1,7%), Yorkshire (1,7%). As
representações gráficas da freqüência das
diferentes idades e diferentes raças pode
ser observada na Tabela 1.
Em um estudo clássico sobre cães, Scott e
Fuller (1997) concluíram que a grande
variação genética dentro e entre raças,
torna impossível a generalização de
resultados sobre estudos de genética e
comportamento social de cães; sendo
igualmente impossível generalizar até
mesmo os resultados obtidos com os
indivíduos de uma mesma raça. Dentro de
algumas gerações a seleção de certas
características de comportamento pode
modificar grandemente uma raça. Para
satisfazer às necessidades especializadas
das sociedades humanas
pode-se
planejar
o
aumento
da
variabilidade de uma gama de variáveis
através de novas combinações de
características de comportamento. Assim,
devido à grande variabilidade das
características comportamentais dentro e
entre raças a que os cães estão submetidos,
no presente estudo os resultados não
consideram a raça, mas o cão como
indivíduo.
Caracterização socioeconômica
Considerou-se
neste
estudo,
o
respondente/proprietário como o membro
da família mais envolvido no dia-a-dia do
animal e comprometido com o seu cuidado.
Sexo dos proprietários
A maioria dos respondentes era do sexo
feminino (75%) em oposição a um quarto
dos proprietários do sexo masculino. Este
resultado, apesar de se referir a uma
população limitada a 60 proprietários,
mostrou-se semelhante a um estudo
conduzido pela Associação Americana de
Medicina Veterinária. Periodicamente,
AVMA através de uma grande amostra de
casas nos EUA, determina os índices de
propriedade de animais de estimação, de
dados demográficos dos proprietários e de
visitas e despesas com serviço médicoveterinário (Wise et al., 2003). Em janeiro
de 2002 foram enviados 80.000
questionários a residências fortuitamente
selecionadas e ao analisarem os resultados
de 54.000 respondentes, observaram que
quase três quartos (72,8%) das pessoas que
tinham responsabilidade primária para com
o cuidado do animal de estimação eram
mulheres (Tabela 2).
Idade dos proprietários
Os
proprietários
estavam
amplamente distribuídos por vários grupos
de idade. A maioria dos respondentes
(35%) era de adultos jovens. A segunda
maior freqüência (28,3%) foi ocupada por
respondentes do grupo de idade de 41 a 50
anos, seguidos pelo grupo de idade de 51 a
60
anos
que
representavam,
aproximadamente, um sexto da amostra.
Estado civil
Como pode ser visto na Tabela 2, 50% da
amostra é casada e 36,7% é solteira.
Embora 13,3% dos respondentes não são
casados, incluíam-se nessa percentagem
uma viúva e outros que já haviam vivido
maritalmente com alguém.
Número de pessoas no domicílio
Quarenta por cento das residências
possuíam apenas dois adultos e um pouco
mais da metade da amostra não contava
com nenhuma criança. Apenas 26,7% da
96
Tabela 1- Identificação dos cães residentes na Região Administrativa da Pampulha - Belo Horizonte - MG - 2007
Sexo
Freqüência relativa (%)
Macho
Fêmea
n
55
45
33
27
43,3
26,7
8,3
3,3
3,3
3,3
5
1,7
1,7
1,7
1,7
26
16
5
2
2
2
3
1
1
1
1
16,7
10
16,7
16,7
6,7
11,7
6,7
5
1,7
1,7
3,3
10
6
10
10
4
7
4
3
1
1
2
Raça
SRD1
Poodle
Cocker spaniel
Bichon frisé
Schnauser
Teckel
Pinscher
Beagle
Dálmata
Lhasa apso
Yorkshire
Idade2
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
1
2
Sem Raça Definida
Dois animais foram adotados já adultos. Os proprietários desconheciam a idade exata.
residências possuíam adolescentes e
aproximadamente 41% dos cães viviam
somente com adultos, seguido por 31,6%
que viviam em residências com adultos e
crianças. Exatamente, 16,6 % das
residências eram compostas por adultoadolescente-criança e somente 10% eram
constituídas por adultos e adolescentes.
A freqüência da existência de crianças nas
residências que participaram do estudo está
em desacordo com uma pesquisa conduzida
por Beck (1996) nos Estados Unidos que
concluiu ser mais provável encontrar
animais de companhia em residências com
crianças que em residências sem crianças.
Em contrapartida, os resultados estão de
acordo com um estudo conduzido por Albert
e Bulcroft (1988). Os autores ao estudarem
a propriedade, os papéis e funções de
animais de estimação baseando-se na teoria
97
Tabela 2 - Características socioeconômicas dos proprietários residentes na Região Administrativa da Pampulha
Belo Horizonte - 2007
Variáveis
Freqüência
relativa (%)
n
Sexo
Masculino
Feminino
25
75
15
45
36,7
50
13,3
22
30
8
1
2
3
4
5
6
7
8
1,7
40
25
18,3
10
1,7
1,7
1,7
1
24
15
11
6
1
1
1
número
0
1
2
3
4
6
51,7
31,7
8,3
3,3
3,3
1,7
31
19
5
2
2
1
número
0
1
73,3
26,7
44
16
A1- R$ 7.793
A2- R$ 4.648
B1- R$ 2.864
B2- R$ 1.669
C- R$ 927
D- R$ 424
E- R$ 267
6,7
13,3
18,3
28,3
13,3
13,3
5
4
8
11
17
8
8
3
Primário completo/ Ginasial incompleto
Ginasial completo/ Colegial incompleto
Colegial completo/ Superior incompleto
Superior completo
21,7
15
43,3
15
13
9
26
9
55
45
33
27
45
27
Estado civil
Casado
Solteiro
Outros
Pessoas no domicílio
Número total
Adulto
Criança
Adolescente
Renda familiar1
Escolaridade2
Tipo de residência
Casa
Apartamento
Outros animais de estimação
Sim
1
Um proprietário negou-se a fornecer a informação.
2
Três proprietários não haviam concluído o curso primário
98
de desenvolvimento familiar, concluíram
que a baixa taxa de propriedade de animais
de estimação entre famílias com crianças
sugere que nessa fase do ciclo de vida
familiar possuir um animal de estimação
pode ser incompatível com as necessidades
das famílias. O cuidado intensivo,
requerido por uma criança, toma quase
todo o tempo e energia dos pais, não
deixando tempo disponível para manter um
animal de estimação. O cão em vez de ser
uma fonte de afeto para os membros
familiares pode tornar-se um estressor
adicional para casais que experimentam a
transição da paternidade. Mães jovens
evitam experimentar sentimento de culpa
por negligenciar os cuidados do animal
após o nascimento de seu filho. Por outro
lado, os pais que decidem adquirir um
animal de estimação, o fazem ao
perceberem a importância do cão como
companheiro de brincadeiras e por seus
atributos pedagógicos úteis e desejáveis
como independência e responsabilidade.
Renda familiar
A maior parte da amostra (28,3%)
pertencia à classe B2, seguida da classe B1
(18,3%). Igual número de respondentes
pertencia às classes A2, C1 e D. As classes
com menor representatividade foram as
classes A1 e E. Associações entre a renda
familiar e algumas variáveis estudadas
poderão ser apreciadas no resultado e
discussão do item análise multivariada de
correspondência múltipla.
Escolaridade
Aproximadamente 43% dos proprietários
tinham
a
escolaridade
Colegial
completo/Superior incompleto, seguido da
escolaridade Primário completo/ Ginasial
incompleto representando um pouco mais
de um quinto de toda a amostra. As demais
escolaridades: ginasial completo/colegial
completo e superior completo representou
cada uma apenas 15% da amostra. Três
proprietários não possuíam o primário
completo.
Tipo de residência
Cinqüenta e cinco por cento das residências
visitadas eram casas. Havia, a princípio, a
intenção de estabelecer igualdade entre o
número de casa e apartamentos, no entanto,
devido a dificuldade de se encontrar
edifícios em algumas áreas censitárias e a
recusa de algumas pessoas em colaborar
com a pesquisa, não foi possível cumprir
com o planejado.
Embora possa haver uma variação de
espaço e social entre casa e apartamento,
cada um destes ambientes tem suas
vantagens e desvantagens. Conquanto a
possibilidade do cão que mora em casa
viver livre em um espaço maior para a
prática de exercício, essas vantagens não
garantem absolutamente a sua saúde física
e mental. O animal continua sentindo a
necessidade de um passeio em local
público para socializar-se e estimular seus
sentidos. Mesmo um cão que vive livre em
locais
abertos
como
no
campo,
demonstram efusivo contentamento quando
o seu proprietário decide passear com ele.
Em apartamento, o cão pode sentir angústia
pela falta de contato social e tornar-se
intolerante à separação prolongada de seu
proprietário, podendo sofrer apatia,
depressão, adoecer e até mesmo morrer.
Por outro lado, se além do favorecimento
do espaço para exercício, houver
oportunidades de interação e brincadeiras
diárias com membros do seu grupo
familiar, a sua condição poderia tender ao
bem-estar adequado.
Um cão pode viver em apartamento desde
que seu tamanho seja levado em conta, pois
é totalmente incompatível criar um cão de
porte grande dentro de um apartamento
pequeno. Nesta condição, o animal não terá
99
o espaço suficiente para expressar os
comportamentos típicos de sua espécie,
sendo, portanto, um ato de posse
irresponsável do proprietário. No entanto,
se não há problema de espaço, e o cão
interage satisfatoriamente com o seu
proprietário através de passeios e
brincadeiras, possivelmente terá a mesma
possibilidade de experimentar bem-estar
adequado.
A questão principal para a distinção do
bem-estar, não estaria, portanto, do animal
em viver em casa ou apartamento, mas da
qualidade da relação entre os membros do
grupo familiar e do grupo familiar com o
cão. O cão pode estar exposto dentro desse
grupo a certas tensões que podem
comprometer a sua saúde. O seu bem-estar
psicológico depende de como reage aos
desafios do ambiente e da qualidade de
vida do grupo familiar. Estratégias efetivas
para promover o bem-estar psicológico
dependerão
até
certo
ponto
das
características individuais do cão. Estas
características podem ser referentes às
diferenças pertinentes a raça como também
a fatores que refletem variação de dentro da
raça, como a história do indivíduo, fase de
desenvolvimento, sexo e temperamento.
Ambientes ou conjunturas que poderiam
promover bem-estar psicológico de uma
raça, podem não ter absolutamente nenhum
efeito ou até mesmo um efeito prejudicial
em outras raças. Por exemplo, os cães da
raça Labrador gostam muitíssimo de tomar
banho em qualquer coleção de água, já cães
de muitas outras raças geralmente fogem
até mesmo do banho. São também
reconhecidas diferenças individuais fortes
em
termos
de
características
de
personalidade ou características que estão
presentes na maioria das raças. Os cães
diferem amplamente na maneira e extensão
para as quais eles exibem comportamento
ansioso. Os indivíduos altamente ansiosos
podem apresentar mais problemas de
ansiedade de separação que cães com um
temperamento mais relaxado.
O julgamento sobre o bem-estar
psicológico deve ser relativo aos
indivíduos específicos submetidos a
condições diferentes (Novak, 1988). Um
cão pode estar exultante ou deprimido em
quaisquer desses ambientes, o seu bemestar dependerá de fatores internos e
externos. A idade do cão no momento da
adoção, por exemplo, assume grande
importância para a socialização do animal.
Se a socialização ocorre em ambiente
doméstico quando o cão está com três ou
quatro semanas de idade ele pode tornar-se
muito apegado aos seres humanos, pouco
social e impotente sexualmente para outros
animais da sua própria espécie (Fox,
1968b).
A aquisição do animal entre 7 a 12
semanas de idade deve ser aconselhada
principalmente para proprietários que
vivem em apartamento e têm uma vida
social intensa. É menos provável que um
cão socializado juntamente com seus
irmãos, apresente anormalidades de
comportamento para a sua própria espécie
quando adulto. A restrição da experiência
social
pode
tornar
os
animais
extremamente tímidos para pessoas
estranhas
e
outros
animais.
Comportamento anormal como relação
sexual interespécie pode resultar da falta de
contato social com indivíduos de sua
própria espécie.
Outros animais de estimação
Quarenta e cinco por cento dos
respondentes informam ter alguma outra
espécie de animal de estimação como gato,
pássaros canoros, periquito, maritaca,
papagaio, peixes ornamentais e tartaruga.
4.2 Sistemas de criação
100
O formulário delineado para colecionar
dados referentes à caracterização da
qualidade dos sistemas de criação dos cães
(Anexo 3) fundamentou-se nas cinco
liberdades estabelecidas em 1993 pelo
Comitê de Bem-estar Animal de Produção
Inglês para a avaliação do bem-estar
animal (Bekoff, 1998). Pretendeu-se
mostrar as características do modo de
criação dos animais a fim de conhecer a
visão e o compromisso dos proprietários
com o bem-estar do seu cão e para com os
ditames éticos. Os dados relativos ao
sistema de criação analisados através da
estatística descritiva incluem: espaço
disponível; condição de liberdade do
animal; acesso às dependências internas da
residência; local onde dorme; domiciliação;
manejo alimentar; higienização do local
onde dorme, urina e defeca; freqüência do
banho; imunização contra raiva e outras
doenças
infecciosas;
vermifugação;
controle dos parasitos externos e
tratamento respeitoso (Tabela 3).
animal social, deve ficar livre para andar,
correr e interagir com os membros da
família.
Espaço disponível e Condição de
liberdade do animal
Se o animal vive em apartamento ou é
mantido dentro de casa, deve sair
diariamente para passear, ver outras
pessoas e outros animais. O cão tendo a
oportunidade para interagir com humanos e
outros animais durante o período de
socialização
primário,
provavelmente
reagirá positivamente a eles em vida
posterior (Scott e Fuller, 1997).
Analogamente como em muitos outros
mamíferos,
o
isolamento
social
intraespécie e interespécie de cães muito
jovens
pode
causar
déficits
comportamentais severos (Fox, 1965; Fox
e Stelzner, 1967).
Considerando o tamanho do animal, quase
97% dos cães da amostra viviam em
residências com espaço suficiente para
brincarem e ter liberdade de movimentos.
Aproximadamente, 83% dos cães viviam
livres, 11,7% viviam acorrentados e apenas
5 % viviam em canil.
A necessidade de espaço de um cão de
estimação tem acepção quantitativa e
qualitativa.
Necessidade
quantitativa
refere-se ao espaço para circulação já a
necessidade qualitativa inclui espaço para
interação social e para evitar o contato
visual com outros indivíduos.
O espaço necessário para o cão depende do
seu tamanho e raça. Alguns cães se
adaptam satisfatoriamente dentro de casa,
outros necessitam de espaço maior para
gastar um pouco de sua energia. Por ser um
O cuidado, a atenção e o carinho
dispensado ao cão quando ele é ainda um
filhote, faz com que o animal continue a
sentir necessidade desta qualidade de
tratamento quando se torna adulto. Os atos
que
demonstram
consideração
e
amabilidade não podem ser suprimidos
porque o animal não é mais tão “bonitinho
e engraçadinho”. Para o animal adulto, a
atenção, a brincadeira, a camaradagem e o
afago passam a assumir o caráter de
necessidade. Manter um cão preso, sem
interagir com pessoas e outros ambientes,
são modos de proceder que contribuem
negativamente para o desenvolvimento de
problemas de comportamento que vão
desde agressão até ansiedade de separação.
Quando o proprietário preza a qualidade de
vida de seu animal, ambos sentem mais
prazer.
Woolpy e Ginsburg (1967) observaram que
lobos jovens ao serem socializados pelo
menos durante seis meses com humanos
tornam-se
amigáveis
e
sociáveis,
permanecendo
socializados
permanentemente. Os autores concluíram
que o lobo generaliza o vínculo com seu
manipulador para a maioria dos seres
101
Tabela 3 - Características do sistema de criação utilizado por proprietários de cães residentes na Região
Administrativa da Pampulha - Belo Horizonte- MG. 2007.
Variáveis
Classes
Freqüência relativa (%)
n
Espaço disponível
Satisfatório
Insatisfatório
96,7
3,3
58
2
Livre
Acorrentado
Canil
83,3
11,7
5
50
7
3
Sim
Não
73,3
26,7
44
16
Dependências internas
Dependências externas
38,3
61,7
23
37
Domiciliado
Semi-domiciliado
98,3
1,7
59
1
Ração
Comida caseira
Ração e comida caseira
Higienização do local onde urina e defeca
Satisfatória
Insatisfatória
Higienização do local onde dorme
Satisfatória
Insatisfatória
Frequência de banho
3/3 dias
7/7 dias
15/15 dias
30/30 dias
60/60 dias
Imunização contra raiva
78,3
21,7
15
47
13
9
95
5
57
3
95
5
57
3
3,3
60
21,7
10
5
98,3
2
36
13
6
3
59
Imunização contra outras doenças2
Vermifugação
Controle de parasitas externos
Tratamento respeitoso
65
76,7
98,3
39
46
59
Satisfatório
Insatisfatório
86,7
13,3
52
8
Sim
Não
Satisfatório
Insatisfatório
85
15
46,7
53,3
51
9
28
32
Liberdade do animal
Acesso dependências internas1
Local onde dorme
Domiciliação
Manejo alimentar
Necessidades físicas e psicológicas
Brincar
Passear
1
2
Dependências internas da residência
Doenças infecciosas
102
humanos. Esta experiência demonstra a
importância do contato humano enquanto
os cães estão ainda junto da mãe e dos
irmãos. Sendo o cão uma espécie social, a
sua capacidade de formar vínculo deve ser
explorada não somente em relação ao
homem, mas também em relação a outras
espécies. Este compromisso garantirá boa
convivência e o bom comportamento do
cão frente a presença de outras pessoas e
animais.
Proporcionar ao cão ensejos de contatos
sociais pode tornar o seu ambiente mais
complexo e favorecer o seu sentido de
controle sobre o ambiente e, naturalmente,
a sua adaptação e bem-estar. O contato
social
com
humanos
por
ser
consideravelmente importante para o bemestar do cão e influenciar positivamente o
seu comportamento e fisiologia (Hubrecht,
2006), pode ser mais importante que o
contato físico (Wolfle, 1987).
Acesso às dependências internas da
residência, local onde dorme e
domiciliação
Apesar de 26,7% dos cães serem
impedidos de acessar o interior da
residência, 61,7% dormem dentro da
residência. Apenas um proprietário
permitia que seu cão tivesse acesso às vias
públicas. É importante distinguir que
somente 26,7% dos cães que não entravam
no interior da residência eram utilizados na
proteção da residência, os demais cães
eram considerados como cães de
companhia.
As freqüências de cães que podem acessar
(73,3%) e dormir (61,7%) no interior da
residência foram muito expressivas. A
proximidade
do
cão
favorece
o
desenvolvimento de uma relação de
qualidade e reduz consideravelmente os
problemas de comportamento advindos do
isolamento ou de uma interação restrita
com os membros da família. Um
proprietário que gasta mais tempo com o
seu cão talvez não necessite colocá-lo em
aulas de treinamento de obediência ou
consultar
médicos
veterinários
especializados em etologia clínica. Ao
favorecerem circunstâncias adequadas para
proximidade e interação dos membros da
família com o animal, estarão contribuindo
em evitar o aparecimento de problemas de
comportamento e no enriquecimento da
relação homem-animal.
A baixa freqüência encontrada para cães
que tinham acesso livre às vias públicas
(1,7%) mostra a preocupação dos
proprietários com a integridade de seus
animais e o trabalho efetivo do Centro de
Controle de Zoonoses da cidade de Belo
Horizonte. Este trabalho compreende o
esclarecimento de proprietários de cães
através de orientações e da captura dos
cães errantes causadores de problemas de
saúde pública por serem faltos de controle
sanitário e reprodutivo.
Manejo alimentar
Um total de 78,3% dos proprietários
relatou que seus cães são alimentados
apenas com ração comercial versus 21,7%
que comem apenas comida caseira. A
combinação de ração comercial com
comida caseira é uma prática seguida por
15% dos proprietários. Refletindo sobre
esses resultados, pode-se considerar a
possibilidade da maioria dos proprietários
optarem pela praticidade além de estarem
preocupados com a alimentação de seus
cães e de seu bem-estar, ainda que a
alimentação ideal seja apenas um fator
entre muitos que contribuem para o bemestar do animal.
O cão durante a domesticação foi
progressivamente afastado da alimentação
carnívora para adotar a alimentação
oferecida pelo homem. A alimentação
103
industrializada que apareceu no início do
século XIX foi se diversificando e
acompanhando a evolução dos modos de
vida e expectativas dos proprietários. Este
avanço na alimentação do cão encontrou
alguma resistência de proprietários para os
quais o fato de alimentar o seu cão
representa um ritual com forte carga
afetiva. Estes proprietários são contra o
oferecimento de comida industrializada,
outros, porém, ainda mantêm o costume de
seus pais que consideravam o custo da
ração desnecessário. A alimentação caseira
consistia de restos de sobras de refeição e,
em alguns casos, o acréscimo da
tradicional
“carne
para
cachorro”
considerada de baixa qualidade para a
indústria de ração (Royal Canin, 2002).
Não haveria diferença significativa entre as
alimentações industrial e caseira se a
qualidade da refeição fornecida ao animal
atendesse as necessidades reais do animal e
a qualidade do alimento. A exigência
desses parâmetros, no entanto, ressalva
uma grande incerteza quanto ao equilíbrio
nutricional
perfeito
oferecido
pela
alimentação caseira.
Em contrapartida, o alimento industrial de
qualidade, formulado segundo pesquisas
científicas suprem as necessidades médias
de manutenção do cão lhe proporcionando
higidez. Os alimentos completos de alta
qualidade tipo “premium” satisfazem às
necessidades específicas do cão por serem
constituídos de acordo com o seu estágio
fisiológico: crescimento, esporte, trabalho,
gestação aleitamento, obesidade e velhice.
Ao contrário do que acredita o senso
comum, o cão não tem necessidade
biológica de “variedade”, já que possui um
paladar “pobre” e escolhe seus alimentos
principalmente com auxílio de seu olfato.
A troca freqüente de matéria prima deve
ser evitada a fim de impedir perturbação na
sua flora intestinal, muito sensível às
mudanças. O ideal para o animal é receber
o mesmo alimento todos os dias na mesma
hora; as alterações muito freqüentes de
alimentos muito diferentes provocam
modificações bruscas na flora intestinal
que ao tentar se readaptar provoca a
produção de determinados metabólitos
tóxicos responsáveis por flatulência e
diarréia. A preparação de comida caseira
sem critérios pode, muitas vezes, ter
conseqüências patológicas graves. (Royal
Canin, 2001).
Alimentar convenientemente um cão não
significa meramente sustentá-lo, mas sim
manter um estado ótimo de saúde, evitando
a desnutrição e a obesidade. A alimentação
balanceada, resultado do conhecimento e
aplicado de modo pontual no preparo de
alimentos, previne riscos de afecção renal,
problemas digestivos e/ósseo e combate os
mecanismos do envelhecimento (Case,
1999).
A escolha entre um alimento comercial ou
preparado em casa deve basear-se no rigor
da escolha do alimento industrializado e
nas proporções das matérias primas
empregadas no preparo do alimento
caseiro. Sendo o cão um carnívoro nãorigoroso e não um onívoro, ele é capaz de
digerir proteínas vegetais desde que elas
sejam de alta qualidade. O amido como
fonte de energia deve ser cozido e a
quantidade deve respeitar as restrições
fisiológicas do animal. Enfim, o alimento
oferecido ao cão deve satisfazer todos as
necessidades dietéticas indispensáveis ao
equilíbrio nutricional.
Higienização do locais onde dorme,
urina e defeca,
Dentre as 60 residências visitadas, 95%
delas
apresentavam
higienização
satisfatória do local onde o animal dormia,
urinava e defecava. Nas residências em que
foi constatada higienização insatisfatória
(5%) os animais não tinham permissão para
acessar o seu interior.
104
Freqüência do banho
A freqüência do banho foi categorizada em
intervalos de: 3, 7, 15, 30 e 60 dias. A
maioria dos proprietários (60%) banha o
seu cão semanalmente.
A freqüência do banho quanto ao aspecto
saúde para um cão normal, não dermopata,
não tem uma regra fixa. É recomendável
que não seja dado mais de um banho por
semana em animais que vivem ou têm
acesso ao interior da residência. Cães que
ficam no quintal, podem tomar banho uma
vez a cada um ou dois meses. Na realidade,
a freqüência do banho geralmente é
determinada pelo odor que os animais
desprendem de seus corpos e, o grau da
percepção, varia segundo a sensibilidade e
tolerância do proprietário. Sob o aspecto do
bem-estar, o prazer ou a aversão do banho
depende da raça e do temperamento do
animal. Cães da raça Labrador adoram
água e se puderem, tomam banho ou
entram na piscina ou qualquer outra
coleção de água todos os dias. Alguns cães
demonstram não gostar, mas toleram o
banho. Outros demonstram claramente sua
aversão à água (Val Bicalho, 20071).
Imunização contra raiva e outras
doenças infecciosas, vermifugação e
controle de parasitos externos.
A grande maioria dos proprietários (98,3%)
vacina seu cão contra a raiva e controlam
os parasitos externos (98,3%) de seu
animal. Exatamente, trinta e cinco por
cento dos cães não são vacinados contra
outras doenças infecciosas (vacina décupla)
e quase vinte e três por cento não são
vermifugados.
A maior parte dos proprietários mostrou-se
mais preocupada com o controle de
parasitos externos e com a prevenção da
raiva, entretanto, um número significativo
de proprietários não considera as doenças
infecciosas como enfermidades igualmente
perigosas como a raiva. Este resultado,
juntamente com o obtido em relação à
vermifugação, fornece algumas pistas:
1- Estes proprietários não devem possuir o
conhecimento necessário sobre como
cuidar da saúde do seu cão;
2- Provavelmente, esses animais não foram
levados a uma clínica veterinária logo após
serem adquiridos;
3 - A economia com gastos imprescindíveis
demonstra negligência com a saúde e o
bem-estar do cão.
Não somente o cão, mas todos os animais
domésticos
devem
ser
vacinados
independentemente da espécie ou da raça.
O cão é vulnerável a diversas doenças que
podem ser fatais, causar-lhe muito
sofrimento e comprometer o seu bem-estar.
O controle dos parasitos internos e a
vacinação contra as principais doenças que
acometem o cão não só contribuirá na
prevenção de doenças, mas evitará o alto
custo de um tratamento e o risco do animal
doente transmitir a doença a outros
animais, ou ainda, transmitir algumas
zoonoses com a larva migrans cutânea,
ocular e visceral ao homem. Assim, o
proprietário ao estar atento com a
prevenção das doenças mais comuns do seu
cão, estará contribuindo para o bem-estar
do seu animal de estimação e dos seus
familiares.
Tratamento respeitoso
1
Informe da Professora Dra. Adriane Pimenta da
Costa Val Bicalho – Especialista em dermatologiaEscola de Veterinária da Universidade Federal de
Minas Gerais.
Finalmente, foi ajuizado pela pesquisadora
o tratamento respeitoso do proprietário em
relação ao seu cão no momento da
105
entrevista. Do universo estudado, 13,3%
dos proprietários não trataram seu animal
respeitosamente.
Foi
observada
a
manifestação de respeito no que concerne à
consideração pelas peculiaridades do
animal expressadas ao latir e ao explorar o
indivíduo estranho (a pesquisadora),
solicitação de atenção e carinho. Neste
momento, observou-se a capacidade do
proprietário em controlar a participação do
cão com tolerância e afabilidade. Foi
observado também a maneira como o
proprietário continha o animal para a
medição e pesagem.
4.3 Observação direta
Na oportunidade das visitas às residências
foram observados em geral os seguintes
comportamentos:
1- Com a chegada da pesquisadora à
residência do proprietário, os cães
considerados
tranqüilos
e
mansos
apresentavam comportamentos ativos e
amigáveis. Alguns se mostravam quietos
ou demonstravam excitabilidade emocional
de curta duração, outros latiam e, ao serem
repreendidos pelos donos, paravam
imediatamente. Em seguida iniciavam uma
atividade de exploração normal incluindo
inspeção visual e aplicação do sentido do
olfato. Em algumas situações, após o
primeiro contato, brincavam com seus
brinquedos ou mantinham contato físico
com o proprietário ou com a pesquisadora.
Houve uma situação em que a cadela
deitou-se sobre os pés da pesquisadora
ficando assim até o momento da pesagem e
da medição de sua altura. A totalidade dos
cães permanecia próxima ou em contato
com proprietário. Alguns se aconchegavam
encostando ou subindo no colo do seu
proprietário expressando inconfundível
deleite.
2- Os cães considerados intranqüilos
podiam ou não latir com a chegada da
pesquisadora. Alguns, após a inspeção
visual e olfativa, corriam, saltavam sobre o
sofá e em seguida ficavam por alguns
instantes na proximidade sentados ou em
pé. Logo, por muitas vezes, desapareciam
de nossa presença e ao retornarem
solicitavam energicamente a atenção do
proprietário. Em algumas ocasiões o
importuno repetitivo por atenção resultava
em repreensão. Alguns cães não procediam
à inspeção visual e olfativa, nem tampouco
permaneciam em nossa presença, mas
caminhavam constantemente próximo ao
ambiente como se estivesse constatando a
presença da pesquisadora. Esta situação
configurava um estado de estresse e
ansiedade relacionados à situação estranha.
A medição precisou ser repetida muitas
vezes devido a dificuldade em mantê-los
parados.
3- Os cães avaliados como agressivos
nunca vinham à porta receber a
pesquisadora. Permaneciam presos à
corrente, soltos no quintal ou isolados em
algum cômodo. Ao serem apresentados
alguns latiam, rosnavam e demonstravam
agressividade. Os cães que não latiam
tentavam morder a pesquisadora e ao
proprietário quando eram manipulados para
a pesagem e medição da altura. Neste
momento
era
necessário
contê-los
energicamente após serem amordaçados.
Considerando
o
ponto
de
vista
fenomenológico, foi possível distinguir
diferentes
reações
aos
estímulos
semelhantes resultantes da chegada da
entrevistadora à residência do proprietário:
a) comportamento tranqüilo, amigável e
com contato físico; b) comportamento
indiferente ou passivo, com moderada
demonstração
de
emoção;
c)
comportamento ativo com exigência
freqüente de atenção e constante
movimentação; d) comportamento de
evitação ou recusa de aproximação; e)
comportamento de pânico com reação de
106
fuga; f) comportamento ameaçador com
rosnados e ataques à entrevistadora e, em
algumas ocasiões ao proprietário.
4.4 Necessidade física e psicológica
Um dos interesses primário do estudo foi
conhecer possíveis associações entre a
progressividade e as atitudes do
proprietário em relação à promoção do
bem-estar do cão. Porém, tanto as variáveis
‘progressividade’ e ‘atitude’ quanto a
variável
‘bem-estar´
podem
estar
associadas a outras variáveis que as
caracterizam. Como pode ser visto na
Tabela 4, as variáveis ‘brincar’ e ‘passear’
foram eleitas para estabelecer
a
observância do proprietário ao atendimento
às possíveis necessidades físicas e
psicológicas do cão.
Cada uma das variáveis foi representada
por duas classes: ’brincar’, ‘não brincar’ e
‘passear’, ‘não passear’. A classe ‘brincar’
era
assinalada
quando
Tabela 4. Freqüência das variáveis referentes às necessidades físicas e psicológicas de cães
de estimação residentes na Região Administrativa da Pampulha - Belo HorizonteMG - 2007
Variáveis
Classes
Freqüência relativa (%)
n
Brincar
Sim
Não
85
15
51
9
46,7
53,3
28
32
Passear
Satisfatório
Insatisfatório
o proprietário respondia afirmativamente
ao ser questionado se brincava diariamente
com o seu cão e a classe ’passear’ somente
foi considerada satisfatória quando o
animal passeava todos os dias da semana.
Elucidações sobre a associação dessas
variáveis com o bem-estar animal são
apresentadas mais adiante na discussão
sobre
a
análise
multivariada
de
correspondência múltipla.
Brincar
Dentre os 60 proprietários indagados sobre
o costume de proporcionar ensejos de
brincadeiras para seus cães, 85% dos
proprietários entrevistados responderam
que brincam regularmente com o seu
animal. Este resultado seria uma prova do
comprometimento do proprietário para com
os seus cães, entretanto, essa freqüência
demonstra que a brincadeira representa
apenas um fator contribuinte para o bemestar animal, posto que o bem-estar
adequado foi estimado em apenas 43.3%
dos cães.
A brincadeira configurada como uma
necessidade para alguns cães seria uma
necessidade comportamental caracterizada
pela a execução de um padrão de
comportamento
principalmente
determinado por fatores causais internos.
Todo comportamento executado em um
ambiente natural indica uma necessidade
comportamental e, por conseguinte, todo
comportamento normal indica uma
necessidade.
O
desempenho
do
comportamento apropriado, de modo
107
particular e debaixo de condições
particulares é considerado produto da
cognição (Baxter, 1988b).
Para qualquer padrão de comportamento
amplamente governado por fatores
internos, os níveis de motivação
aumentarão em um determinado momento
sobre o nível limiar (Hughes e Duncan,
1988a). Considerações de bem-estar
surgirão em situações quando a motivação
alcançar níveis altos e a realização do
comportamento não é efetivada devido ao
ambiente não prover as condições
funcionais apropriadas. Ao mesmo tempo,
a
necessidade
para
executar
o
comportamento seria independente do tipo
de ambiente, ela existiria em qualquer
ambiente. A proibição do desempenho do
comportamento poderia estar associada
com o bem-estar pobre. O conceito de
necessidade comportamental deve ser
considerado como necessidade psicológica
e o bem-estar somente pode ser
caracterizado como adequado quando é
permitido ao animal desempenhar seu
comportamento característico da espécie. O
desempenho de comportamento normal
seria a própria exigência para o bem-estar.
Em seres humanos, a avaliação do bemestar é realizada, mais precisamente, pelo
que é percebido de forma mental que pelas
ações de seu corpo. Não se pode medir o
que é percebido por um animal, mas o seu
comportamento pode ser observado e
medido facilmente.
Diferentemente de muitos mamíferos, o
cão adulto apresenta uma admirável
necessidade para brincadeira. Enquanto em
muitas
espécies
a
brincadeira
é
particularmente desenvolvida por animais
jovens, os cães são sem igual, pois
continuam ansiosos por brincadeira mesmo
quando adultos. A brincadeira pode ser
desenvolvida socialmente com outro
indivíduo ou de forma solitária e, sua a
ausência, pode ser um indicador de bemestar pobre. Se um animal é privado de
brincar mesmo na presença de um
companheiro (animal/humano), ou se o
companheiro for indiferente à sua
solicitação, o animal frustrado pode
redirecionar para o seu próprio corpo essa
necessidade.
Os cães tendem a brincar mais e a gastar
mais tempo explorando na presença de
algum membro da família (Topál et al.,
1998). Em algumas situações o exercício
físico decorrente da brincadeira não é
suficiente para manter a aptidão física do
animal. A manutenção da aptidão física
não é a função principal da brincadeira.
Para um cão, a principal função da
brincadeira é a interação. Bekoff (1974)
assinalou que talvez o tempo e a energia
dedicados à brincadeira social lhes
proporcione um sentimento agradável
indicado pelo relaxamento da andadura e
pelos movimentos pulantes observados
durante a brincadeira. O "sorriso" em sua
expressão facial pode associar esse
comportamento a uma experiência
aprazível (Darwin, 2000).
Quando o ambiente é enriquecido com
brinquedos e excitação social, o animal
passeia diariamente e não há tensão
ambiental, o cão brinca com mais
regularidade.
Broom e Fraser (2007)
assinalaram que o índice de brincadeira
poderia fornecer parâmetros de saúde a
serem utilizados de forma preventiva na
prática da medicina veterinária. Hurnik
(1988) ressaltou que as necessidades físicas
para movimento e exercícios são
importantes para sustentar a saúde, e não
devem ser consideradas meramente como
um atendimento às necessidades de
conforto.
A brincadeira pode ser usada como reforço
no treinamento informal de obediência e no
estabelecimento da hierarquia. Quando é
empregada como um veículo principal de
interação entre o cão e os membros da
família, estimula o fortalecimento do
108
vínculo interespécie aumentando o do
tempo gasto entre o cão e as pessoas e,
conseguintemente, o aumento do contato
físico. Se a brincadeira fosse percebida
pelas pessoas que convivem com o cão
como uma forma de entretenimento, ambas
as partes desfrutariam muito mais da
relação.
Se um animal de estimação não interage
com o seu proprietário estará vivendo uma
forma de abandono. O animal necessita
sentir-se acolhido e querido e a brincadeira
é uma forma de demonstrar a afeição pelo
animal. Quando o cão é o único animal de
estimação da casa e fica a maior parte do
dia sozinho, o compromisso do proprietário
em brincar e passear assume maior
importância. A solidão, a dependência e a
espera cotidiana da volta do dono os
tornam carentes e exigentes de atenção.
Animais solitários são propensos a
desenvolver
hábitos
destrutivos
e
autodestrutivos. Se a sua necessidade de
interação não for satisfeita, ele demonstrará
sua privação ao rever o seu proprietário
com uma excitação exagerada vocalização
que parecem ‘gritos’ de alegria. Neste caso,
eles demonstram além da alegria, a
carência a qual são submetidos. Em
algumas situações, quando a interação é
inconsistente, a carência pode ser
demonstrada mesmo se o proprietário não
se ausenta diariamente de casa.
O compromisso com o animal vai além da
atenção e demonstração de afeto. É
imperativo que o cão expresse sua real
identidade a despeito das conveniências
ditadas pelos moldes da vida humana.
Restringir as oportunidades de expressão
de sua natureza comportamental e social
básicas pode por em risco a sua saúde
física e mental, longevidade e bem-estar.
Diante da falta de estimulação, pode se
tornar-se entediado, frustrado, infeliz e
adoecer.
Passear
Apenas 28 cães (46,7%) participantes do
estudo passeavam diariamente com seus
proprietários. Este resultado comprova a
pouca disposição de alguns proprietários
em atender uma possível necessidade do
seu cão. Eles não têm em conta que o cão
de estimação como qualquer outro animal
doméstico pode sentir necessidade de estar
constantemente se movimentando e
exercitando. Muitos animais requerem
oportunidades diárias para exercício a fim
de se manter bem fisicamente e
emocionalmente.
Geralmente,
níveis
moderados de atividade aumentam
imunocompetência e resistência de parasita
(Cannon e Kluger, 1984).
Quando a atividade é suficiente para
dissipar sua energia, concorre para evitar
ou abrandar problemas comportamentais.
Após o exercício, o cão sossega e descansa,
permanecendo calmo e relaxado. Cães
exercitados freqüentemente podem ser
mais fáceis de treinar e exibir menos
problemas comportamentais resultantes de
ansiedade a tentativas frustradas de
obtenção de atenção.
O exercício pode ser passeios diários,
natação, corridas ou participação de
brincadeiras vigorosas de ir buscar o bastão
ou brincadeiras de perseguição. Deixá-los
inativos durante quase toda a semana e
levá-lo para uma longa caminhada somente
no final de semana não é o suficiente para
atender necessidade de muitos cães. Os
proprietários
devem
conhecer
as
necessidades de seu cão e honrar o
compromisso, pois ambos se beneficiarão.
Deverão ser sempre os iniciadores da
sessão de brincadeira ou exercício, a fim de
evitar comportamentos muito excitáveis ou
de exigência que podem ser extrapolados
para outras situações.
O exercício contribui também para o
sistema sensório do cão. Os vários órgãos
do sentido são acionados no animal com o
movimento de seu corpo, em resposta à
109
ação mecânica de toque e pressão e
constituem uma parte principal do aporte
sensório de animais. O cão ao ser levado a
passear investiga estímulos novos como
visões e cheiros de outras pessoas e outros
animais. Ele sente necessidade interna de
perceber as peculiaridades ambientais
(Broom e Fraser, 2007). A ativação do seu
comportamento exploratório lhe permite
explorar as próprias habilidades de
recepção de estímulos sensório do
ambiente. A marca de urina comporta
informações sobre condição sexual,
tamanho, condição de saúde, enfim, sobre a
identidade do cão. A investigação do
ambiente além de lhe proporcionar
informação sobre o ambiente estimula sua
memória e o aprendizado.
A privação de atividades exploratórias
resultará em déficits cognitivos e o medo
associado criará predisposição ao estresse.
Por conseguinte, privar animais de
comportamento
exploratório
é
extremamente prejudicial.
A falta de
possibilidades para explorar, investigar e
interagir com companheiros sociais está
associada a uma prisão íntima. O animal
com déficit comportamental apresenta uma
base pobre para se adaptar ao ambiente em
que vive e, por conseguinte, o seu bemestar é considerado pobre (Broom e Fraser,
2007). As atividades comumente dirigem
os sentimentos negativos para estímulos
positivos, tornando os animais menos
ansiosos, mais seguros e confiantes.
Morar em apartamento torna o proprietário
ainda mais comprometido em prover
exercício regular através de passeios
diários. Um quintal cercado pode oferecer
uma oportunidade para exercício, no
entanto, um quintal cercado não substitui a
necessidade de passeio em local público
para socialização. A maioria dos cães
mantidos em quintais por longos períodos
de suas vidas desenvolve hábitos como
cavar, latir e se exceder ao cumprir a defesa
territorial (Case, 1999). Além do mais,
devido ânsia a por contato social, torna-se
intolerante à separação prolongada de seu
proprietário, podendo vir adoecer e até
mesmo morrer.
Concluindo, brincadeiras e exercícios
devem fazer parte da rotina diária do cão.
Se o animal não sente necessidade de
passeio,
a
brincadeira
interativa
proporciona atenção, contato social e
atividade física. Cães que não recebem
quantidade apropriada de exercícios e
estimulação mental têm maiores chances
apresentar problemas. A estimulação
insuficiente pode ser causa subjacente de
muitos problemas comportamentais como a
desobediência,
ansiedade,
medo,
agressividade
e
hiperatividade.
Brincadeiras freqüentes proporcionam
interação social, tem efeito calmante e
reduzem a ansiedade. Quanto mais
estimulação e exercício o cão receber,
menor será a energia acumulada para gastar
em
comportamento
anormais
comprometedores para o seu bem-estar.
Enfim,
exercícios
ou
brincadeiras
facultarão a interação, a estimulação
mental, o gasto de energia, a tranqüilidade
e
a
socialização
apropriada
que
contribuirão eficazmente para o bem-estar
do cão.
4.5 Indicadores de bem-estar
Foram empregadas como indicadores de
bem-estar as variáveis ‘condição corporal’
‘índole’ e ‘estado de tranqüilidade’. O
bem-estar foi caracterizado como adequado
(43,3%) quando, simultaneamente, o
animal apresentava ‘condição corporal
ideal’, era ‘manso’ e ‘tranqüilo’. Para
caracterização do bem-estar pobre (56,6%)
bastava que o animal apresentasse
‘avaliação corporal inapropriada’ e/ou
fosse ‘agressivo’ e/ou ‘intranqüilo’. Um
animal somente ‘intranqüilo’, por exemplo,
estaria experimentando ‘bem-estar pobre’
(Quadro 3).
110
Como pode ser observado na Tabela 5
exatamente 60% dos cães apresentaram
‘condição corporal ideal’ e 90% foram
avaliados como ‘tranqüilos’. Os cães
mansos representaram 83,3 % da amostra
versus 16,75% de cães ‘bravos’.
Condição corporal
Dos 60 cães avaliados, exatamente 60%
deles apresentavam ‘condição corporal
ideal’, 21,6% estavam com peso abaixo do
ideal, 16,6%, acima do peso e apenas 1,7%
encontrava-se na condição de obeso
(Tabela 6)
A condição corporal depende não somente
de uma alimentação equilibrada, mas
também de estímulos internos e externos ao
animal. Estímulos aversivos de origem
externa (Melito, 1983) podem determinar
alterações no meio externo, ou interno, de
um organismo, e provocar, neste
organismo, uma resposta fisiológica ou de
comportamento. Quando um animal estiver
"organicamente" doente, o mecanismo pelo
qual o cliente reconhece a doença envolve
Quadro 3 - Graduação dos indicadores de bem-estar, da condição corporal segundo Laflame (1997) e
caracterização do bem-estar de acordo com as graduações.
NA
CC
IND
ET
L
BE
NA
CC
IND
ET
L
BE
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
0
0
1
1
0
1
0
0
1
0
2
1
0
1
0
0
1
0
0
0
1
2
0
0
0
3
0
0
0
1
0
3
0
0
3
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
2
0
0
0
0
0
0
0
2
3
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
3
0
0
0
0
0
0
3
0
0
1
0
0
5
4
3
6
4
3
4
4
6
5
7
6
5
3
4
5
3
4
5
4
3
7
4
4
4
8
5
5
5
3
1
0
0
0
0
0
1
1
0
1
0
0
1
0
1
1
0
0
1
1
0
0
1
1
0
0
1
0
1
0
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
0
0
0
1
1
0
0
0
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
0
1
1
1
0
1
0
3
2
0
1
1
0
0
2
0
0
1
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
3
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
5
4
4
3
3
4
5
4
4
5
5
5
6
3
5
4
5
5
5
6
3
3
5
3
4
8
7
4
3
6
1
1
0
0
0
0
0
1
1
1
0
0
0
0
1
1
1
1
1
0
0
0
1
0
1
0
0
1
0
0
LEGENDA
NA - Número do animal
CC - Condição corporal (0- ideal / 1,2 e 3- inapropriada)
IND - Índole (0- manso / 1,2 e 3- bravo)
ET - Estado de tranqüilidade (0- tranqüilo / 1,2 e 3- intranqüilo)
L
- Graduação segundo Laflame (1,2 e 3- subalimentado / 4 e 5- condição corporal ideal / 6,7,8 e 9- sobrealimentado)
BE - Bem-estar (1- adequado / 0- pobre)
111
uma mudança em comportamento (Overall,
2003, p.213). O comportamento é, pois, o
grande integrador final do ambiente interno
(fisiológico,
neuroquímico,
neuroanatômico e componentes genéticos)
e ambientes externos do animal (Daman,
1988).
Se um animal tiver uma necessidade, seu
estado motivacional é instado de forma que
respostas de comportamento e fisiológicas
são prontamente executadas para atender a
necessidade. Estas respostas de adaptação
dão liberdade ao animal para controlar e
manter equilíbrio mental e corporal. O
estado de adaptação inclui regulação
normal do corpo e respostas de
emergência, como aumento da atividade
adrenal e batimentos cardíacos que
requerem maior gasto de energia (Broom,
1988a). Para a resposta de emergência
somente ações normais reguladoras não
serão satisfatórias. O animal pode alcançar
facilmente o êxito em suas tentativas de
adaptação ao ambiente em que está
inserido ou lográ-lo com muita dificuldade.
Tabela 5 - Freqüência das variáreis referentes aos indicadores de bem-estar de cães de estimação
residentes na Região Administrativa da Pampulha - Belo Horizonte -MG -2007.
Variáveis
Classes
Freqüência relativa (%)
n
Índole
Manso
Agressivo
83,3
16,7
50
10
Tranqüilo
Intranqüilo
90
10
54
6
Satisfatório
Insatisfatório
60
40
36
24
Tranqüilidade
IMMC1
1
Índice de Massa Corporal Canina (Müller, 2007)
Tabela 6 - Perfil da condição corporal de cães residentes na Região Administrativa
da Pampulha - Belo Horizonte- MG. 2007.
Perfil da população estudada
Condição corporal
1 Abaixo do peso
2- Peso ideal
3- Acima do peso
4- Obeso.
Freqüência relativa (%)
21,6
60,0
16,6
1,7
n
13
36
10
01
112
Neste caso, quando os sistemas de controle
são sobrecarregados há uma redução no
potencial de aptidão física e o animal é
considerado estressado.
O estresse é caracterizado por alterações
comportamentais e somáticas que se
manifestam quando o indivíduo é
submetido às condições adversas de origem
externa ou interna tais como: calor ou
frio ambiental, exercício muscular
intenso, excitação e ansiedade de caráter
reprodutivo2, choques traumáticos,
doenças infecciosas, dor, medo, fadiga,
nervosismo, ansiedade, frustração etc. O
estado de estresse requer que animais
apresentem uma resposta imediata que
pode
ser
fisiologicamente
cara
(Apanius, 1998). Tipicamente, são
mobilizadas reservas nutricionais e a
aquisição de nutrientes é diminuída ou
suprimida. Este regime fisiológico
requer uma redução de processos
fisiológicos que não são imediatamente
vitais.
Nestes termos, o comportamento parece ter
um pouco de autonomia em cima das
necessidades fisiológicas subjacentes. Os
animais que têm necessidades nutricionais
motivadas por sentimentos de fome, o seu
estado emocional poderá influenciar sua
motivação. A qualidade de vida do animal
depende do sentido que ele confere às
coisas e dos seus sentimentos, e ambos
estão associados ao seu estado fisiológico.
É importante considerar o cão como
indivíduo,
concebê-lo
em
suas
2
No presente estudo, realizado em residência com
apenas um cão, nenhuma fêmea encontrava-se no cio
e somente um animal tinha acesso livre às vias
públicas, portanto, não havia ensejo de estresse em
razão de demanda reprodutiva.
características particulares. Isso significa
que, apesar da características particulares.
Isto significa que, apesar da raça, ele
possui diferenças físicas, biológicas e
psicológicas, explicadas por muitos fatores:
genéticos, metabólicos e ambientais
(aspectos culturais, hábitos alimentares e
estilo de vida do proprietário). Tanto a
obesidade quanto a desnutrição podem
estar relacionadas com um ou vários desses
fatores.
Os fatores constitutivos do animal são
ativados quando ele recebe uma
alimentação inapropriada. Uma dieta
restritiva ou mal balanceada que não leve
em conta as necessidades do organismo
poderá ter efeitos danosos ao animal. A
administração
de
ração
comercial
balanceada evita desequilíbrios na dieta
que podem levar a problemas de saúde, tais
como deficiências nutricionais específicas
ou calórico-protéicas e o excesso de peso
ou obesidade. A alimentação apropriada
deve ser equilibrada e conter, pelo menos
um nutriente de cada grupo alimentar:
energéticos, construtores e reguladores. Se
o animal recebe uma alimentação
balanceada, brinca e pratica regularmente
exercício físico, poderá evitar a deficiência
nutricional, o enfado, e o sedentarismo,
fatores considerados essenciais para a
manutenção da condição corporal e a
saúde.
O peso corporal abaixo do ideal pode levar
o animal à desnutrição, uma deficiência
que resulta de uma carência qualitativa ou
quantitativa de proteínas, carboidratos,
lipídios, vitaminas e sais minerais. Suas
múltiplas causas podem interromper o
processo de nutrição, desde a falta de
ingestão de alimentos (desnutrição
primária) até a falta de utilização de
nutrientes pelas células (desnutrição
secundária). Este processo resulta em um
ciclo vicioso do consumo inadequado de
alimentos e aumento de doenças: perda de
peso, crescimento deficiente, baixa
113
imunidade, perda de apetite, má absorção
do alimento e alterações importantes no
metabolismo. Se o animal encontra-se em
estado de estresse, o cortisol mantido em
níveis altos poderá assumir um papel muito
importante na vinculação da desnutrição
com doenças crônicas.
No processo de perda de peso em um
indivíduo bem-nutrido, a utilização de
reservas de nutrientes é a primeira
mudança metabólica durante um período
de privação de alimento ou ingestão de
dietas pobres. Uma vez as reservas de
nutrientes como o glicogênio do fígado e a
gordura do corpo prontamente disponível
foram usadas, outros tecidos do corpo
como músculo serão utilizados para prover
a energia requerida para os processos
metabólicos. O animal irá experimentar
fome se o gasto enérgico for maior que a
contribuição enérgica da comida que
recebe. Juntamente com o déficit
energético
pode
haver
mudanças
metabólicas associadas com a falta de um
nutriente específico como um mineral,
vitamina ou aminoácido essencial. À
medida que o animal continua sentindo
fome, fica magro e perde a higidez. O seu
corpo não consegue funcionar efetivamente
e, conseqüentemente o seu bem-estar é
pobre (Broom e Fraser, 2007) porque
diminui a sua habilidade de adaptação ao
ambiente.
A desnutrição não pode ser considerada
simplesmente como uma deficiência na
ingestão ou metabolização dos alimentos
posto que em sua etiologia pode haver o
envolvimento de muitas outras variáveis
responsáveis por outras conseqüências. As
implicações da desnutrição vão além das
conseqüências citadas. Outro aspecto da
deficiência nutricional é a possibilidade de
comprometimento do comportamento no
sentido fisiológico e comportamental.
Quando
a
desnutrição
retarda
o
crescimento notadamente, isso limita o
estado social do indivíduo ou atrasa
consideravelmente a atividade sexual e
reprodutiva. Mesmo em animais adultos, a
desnutrição pode ser suficiente para causar
fracasso sexual e reprodutivo.
A
desnutrição pode também levar a alterações
no sistema nervoso central (Dobbing et al.,
1974) representadas por menor peso
cerebral, redução da camada de mielina,
menor número de neurônios, menor
ramificação dendrítica, alteração em
neurotransmissores.
O sobrepeso é um distúrbio nutricional
mais comum em cães nos Estados Unidos,
com uma prevalência calculada entre 24 a
34 por cento (Case, 1999; Lund et al.,
1999; Landsberg et al., 2005). Hoje em dia,
a obesidade é definida como uma
acumulação excessiva de tecido adiposo do
corpo em uma proporção superior a 20%
do peso ideal do indivíduo. Ela representa
uma das principais preocupações da
Medicina Veterinária em animais de
companhia. O tecido adiposo branco forma
um órgão endócrino secretor de diversos
fatores (adipocinas) que atuam como
reguladores
em
diversos
sistemas
orgânicos. O desequilíbrio da função
endócrina normal do tecido adiposo branco
assume um papel importante no
desenvolvimento e exacerbação de diversas
perturbações associadas à obesidade, como
a diabetes melito, doenças respiratórias,
osteoartrite e neoplasia (German, 2006). A
importância da obesidade, pois, procede do
seu papel na patogênese de diversas
doenças e da sua capacidade de acentuar o
quadro de doenças pré-existentes.
As causas que contribuem à incidência de
sobrepeso recaem principalmente sobre a
mudança do estilo de vida mais sedentário
e o consumo de rações comerciais
altamente saborosas e com alta densidade
energética. Embora haja mais fatores
predisponentes, a causa subjacente mais
importante do sobrepeso em qualquer
animal é o excesso de energia devido o
desequilíbrio entre entrada de energia e o
gasto de energia. Há uma relação inversa
114
entre a densidade de energia de uma
comida de cachorro e o volume de comida
que deve ser consumida para satisfazer a
exigência diária de energia.
Outros fatores de risco que poderiam
contribuir para o desequilibro energético e
o sobrepeso seriam segundo Harvey
(2006): raça, idade, sexo, esterilização,
nível de atividade, doenças endócrinas,
fármacos e tratamentos contraceptivos, tipo
de dieta e o regime de alimentação, fatores
sociais
e
número
de
animais.
Independentemente
da
raça
e
temperamento do cão o proprietário deve
ser cauteloso com a quantidade e a
qualidade de alimento oferecida ao seu cão.
A necessidade de energia é maior antes de
o animal atingir a maturidade e diminui
com o avanço da idade e o estilo de vida
dos animais. Se a entrada de energia não
for diminuída adequadamente, cães adultos
e idosos podem ganhar excesso de peso.
Assim, as dietas de cães devem ser
formuladas para uma idade particular, nível
de atividade e fase de vida. Animais,
jovens, adultos, idosos, trabalhadores,
praticantes de exercício intenso e fêmeas
prenhes,
apresentam
necessidades
energéticas diferentes e, portanto, precisam
se alimentar com dietas com diferentes
níveis de densidade calórica. O proprietário
deve seguir as recomendações do
fabricante da ração comercial e orientar-se
com o médico veterinário sobre a
preparação e a quantidade de comidas
caseiras e petiscos altamente energéticos
oferecidos ao animal. As rações comerciais
secas tipo ‘premium’ contém uma alta
concentração em lipídeos que contribuem
para a palatabilidade e a densidade calórica
do alimento. Rações comerciais altamente
saborosas administradas ad libitum podem
concorrer ao desenvolvimento e a
manutenção do sobrepeso pelo seu alto
consumo.
Cães que se alimentam ad libitum debaixo
de condições normais tendem
a
freqüentemente comer pequenas refeições
ao longo do dia. O monitoramento da
entrada diária de comida de um cão é mais
seguro quando realizado através da
alimentação oferecida através de porções,
mas, a alimentação ad libitum pode ser
usada se o cão conseguir realizar a autoregulação e mantiver o peso corporal
normal. Porém, os mecanismos de controle
interno que governam entrada de energia
podem ser anulados através de fatores
externos como palatabilidade e densidade
calórica do alimento, exercício inadequado,
doença e enfado. A inatividade para alguns
animais pode levá-los a superar o enfado
através da ingestão de comida. Como foi
visto anteriormente, brincar e passear com
um cão são compromissos importantes do
proprietário
para
satisfazer
suas
necessidades comportamentais específicas
da espécie e proporcionar saúde física e
mental. Percebe-se, então, que o
provimento adequado de alimento deve
estar
associado
à
satisfação
das
necessidades recreativas e ao exercício
diário para manter uma boa condição
emocional e corporal e promover sua
saúde. Oliveira (1983 p.236) salientou que
a
desnutrição tem seus efeitos intensificados
pelo isolamento ou baixa estimulação e que
muitos comportamentos alterados pela
desnutrição podem ser recuperados pela
estimulação ambiental.
Muitos proprietários, por ter uma sólida
ligação emocional com o seu cão, lhe
proporcionam uma refeição apetitosa e
saudável, contudo, não percebem que o cão
vivendo confinado em um ambiente
doméstico, raramente se exercitando e se
alimentando com uma dieta de alta
densidade calórica pode ficar mais
propenso a apresentar um peso corporal
acima do ideal. É provável que esses
animais não vivam tanto quanto os de peso
normal. Como em humanos o sobrepeso e a
115
obesidade estão associados com numerosos
riscos de saúde. Os animais cansam-se
mais e apresentam maior probabilidade de
sofrerem problemas cardíacos, respiratório,
circulatório, do esqueleto e do sistema de
locomotor (Case, 1999). A diminuição da
habilidade para brincadeiras, e intolerância
ao exercício, enfim, para uma vida ativa,
pode afetar negativamente a qualidade de
vida do cão e o seu bem-estar. Estes
distúrbios secundários, em geral, não se
manifestam de imediato com o início do
quadro de sobrepeso, contudo, é
fundamental que os proprietários estejam
cientes que o excesso de peso não é uma
simples questão de ordem estética, mas um
problema passível de ser corrigido com
rigor.
Na maioria das vezes, não é muito difícil
determinar a razão para o sobrepeso, talvez
a ingestão alimentar excessiva decorrente,
sobretudo,
do
comportamento
antropomórfico do proprietário, o excesso
de generosidade e as práticas equivocadas
de
alimentação
sejam
as
causa
preponderante desse distúrbio nutricional.
German (2006) assinalou que
a obesidade é uma preocupação crescente em
animais de companhia e o aumento da sua
incidência
parece
espelhar a tendência
observada no ser humano.
Por falta de conhecimento específico, os
proprietários muitas vezes têm dificuldade
em acreditar que estão superalimentando
seus animais. A alimentação apropriada
requer além de conhecimento sobre a
criação racional do cão, uma mudança
filosófica fundamentada na intenção de
ampliar incessantemente a compreensão da
realidade peculiar à criação do animal, e
apreendê-la em sua totalidade. Somente
assim será possível conceber o cão como
um ser dotado de sentimento e
necessidades fisiológicas que devem ser
reconhecidas e atendidas conforme os
critérios científicos vigentes.
Índole
A maioria da amostra (83.3%) era de
animais mansos. Apenas 16,7% foram
considerados agressivos pelos proprietários
e pela pesquisadora. O animal agressivo, de
um modo geral, não estava presente por
ocasião da chegada da pesquisadora;
encontrava-se preso por corrente, isolados
em um canil ou mantido em um cômodo da
residência para evitar ataques. Os
proprietários apresentavam receio ao conter
o cão, o qual mesmo após ser amordaçado
tentava morder os familiares e a
pesquisadora.
Todo comportamento depende da herança
genetica, contudo, algumas disposições
genéticas
para
se
desenvolverem
necessitam de um ambiente satisfatório. O
comportamento, por exemplo, é o resultado
da disposição genética dos animais mais a
influencia do
ambiente.
Todo
o
comportamento é o produto da interação
entre genes e o ambiente. Se a inibição ou a
promoção de um comportamento de um
animal pode ser promovida por meio de
ambientes apropriados ou impróprios, há
certos
genes
que
permitem
o
desenvolvimento de um comportamento
específico sob condições específicas,
porquanto, nenhum cachorro possui
somente genes agressivos e nenhum
cachorro
possui
somente
genes
responsáveis pela expressão da mansidão.
O cão desenvolve o comportamento
agressivo sob a influência genética em um
ambiente propício.
A agressão, como a alimentação depende
de fatores internos e externos. Alimentação
é um comportamento típico controlado por
fatores internos. Um animal saciado pode
começar a comer ao ver outros animais
comerem pelo processo de facilitação
116
social. A expressão do comportamento
depende obviamente da variação do estado
interno do animal, mas depende em grande
parte das mudanças do mundo externo e,
geralmente, está associada à combinação
desses fatores. Os níveis de influência dos
fatores internos podem com o tempo
aumentarem ou diminuírem, dependendo
da ação de outros fatores causais que
concorrem para o sistema motivacional. Se
a motivação aumenta com o passar do
tempo, a produção de comportamento seria
explicável pela variação de fatores
internos. A agressão embora dependa em
grande parte de fatores internos
(testosterona), a motivação pode aumentar
em função do tempo e, neste caso, o
entendimento do comportamento do animal
dependerá da distinção das causas de tal
aumento. Os fatores internos que atuam
gerando
certo
estado
motivacional
assumem grande importância para o estudo
do bem-estar conduzido por etologistas.
Para perceber os fatores causais que
concorrem para o sistema motivacional do
cão, é necessário, antes, conhecer um
pouco da sua função em nossa sociedade.
Estes animais possuem muitos atributos
que os permitem cumprir o papel de
companheiros íntimos dos humanos. Esta
atribuição foi sendo construída a partir da
adaptação do seu antepassado selvagem ao
convívio humano. Através do processo de
domesticação
foram
selecionadas
geneticamente certas características físicas
e de comportamento: diminuição ou
aumento do seu tamanho, diminuição da
agressividade, enfim, a domesticação
transformou-o em animal de companhia.
Não obstante, alguns cães ao apresentarem
um
comportamento
problemático
interferem na qualidade da interação que se
desenvolve entre ele e as pessoas do grupo
familiar. Os problemas mais comuns não
são, necessariamente, resultados do
comportamento anormal do cão ou do
proprietário, mas a conseqüência da relação
entre eles (Marder e Marder, 1985).
A despeito dessa convivência ser milenar,
os cães altamente socializados ainda
mantêm
relações
de
domínio
e
subordinação que podem levá-lo a exibir
certo grau de agressividade. O controle
desse comportamento pode ter bastante
sucesso se o cão é exposto a pessoas e a
outros animais durante o período de
socialização primária. A tendência da
maioria dos cães de respeitar o estado
dominante dos membros familiares ajuda
garantir o benefício mútuo da relação
homem-animal. No entanto, alguns cães
conseguem dominar um ou vários
membros
da
família,
exibindo
comportamento agressivo para afirmar sua
posição na hierarquia sócia da família. Este
tipo de comportamento considerado normal
entre os cães é inadmissível em uma
família humana.
Muitos proprietários não previnem o
desenvolvimento da agressividade de seus
cães e inclusive, em certas circunstâncias,
podem
encorajar
ativamente
ou
inadvertidamente a agressividade.
A
prática de restringir os movimentos do cão
agressivo através do confinamento em
canil, mantê-lo preso por uma corrente ou
amordaçá-lo,
pode
comprometer
sobremaneira o seu bem-estar. Esta
situação pode ser evitada se os
proprietários se comprometessem em
educar corretamente o seu cão e/ou lhe
proporcionasse aulas de treinamento ao
assumirem a propriedade do animal.
Alguns cães são muito mais difíceis de
serem treinados que outros, e neste caso, o
proprietário poderia pedir auxílio a um
veterinário ou outro especialista em
comportamento animal. Todos esses
caminhos são válidos, no entanto, a
redução da agressividade geralmente
relacionada ao domínio social, inclui
aumentar a interação entre o proprietário e
o seu cão. Esta interação constituída de
afagos, carícias, brincadeiras, corridas e
passeios, deverá ser sempre iniciada pelo
proprietário a fim de estabelecer a
117
hierarquia e evitar um comportamento
excitável e requisitante de atenção.
Independente da causa que levou o cão a
tornar-se agressivo, os proprietários serão
sempre os responsáveis pelos atos de seus
animais e não o contrário (Jagoe e Serpell,
1996). O que determina a índole ou o
comportamento de um cão não depende
exclusivamente da raça, se ela é agressiva
ou mansa, mas também, e principalmente,
do modo como esse cão foi criado e
treinado.
Não se pode perder de vista que o cão
como um animal social vive em grupo,
onde normalmente tem uma ordem de
posição nesse grupo. Esta ordem de
posição é útil para a sobrevivência de cada
componente do grupo, e tanto os agressivos
dominantes quanto os mansos dominados,
desenvolvem
várias
expressões
de
emoções. A agressão de defesa pode ser
resposta a estímulos que levam à evitação
freqüente, à irritação e/ou ao medo. As
expressões de agressão e medo,
intimamente relacionados, são fatores
influentes do ponto de vista psicóticofisiológico (Abrantes, 1987). Dependendo
da intensidade e da freqüência que esses
animais expressam a agressão ou o medo,
podem tornar-se neuróticos. Este estado
compromete a relação homem-animal,
desfavorece as tentativas do animal em se
adaptar ao ambiente onde vive e afeta
sobremaneira o seu bem-estar.
Qualquer problema de comportamento tem
uma relação muito próxima com o bemestar dos animais de companhia porque
eles não só afetam diretamente o animal,
mas podem também levar o dono a tratar
inadequadamente o animal, castigá-lo,
abandoná-lo ou até mesmo submetê-lo à
eutanásia (Podberscek,, 2006).
Neste estudo, somente 16,7% dos animais
apresentavam
agressividade
despropositada. Entre os 10 cães
agressivos, seis deles eram SRD (sem raça
definida), dois eram Poodles, um era
Basset e um Pinscher. Este resultado
suscita considerações muito importantes. A
maioria desses proprietários dizem se
preocupar com a educação seu cão
estabelecendo limites para uma boa
convivência, mas, infelizmente, devem
existir outros fatores a serem descobertos
que impedem uma relação saudável
fomentadora de bem-estar.
Estado de tranqüilidade
Noventa por cento dos cães foram
considerados tranqüilos por ocasião da
entrevista. Esta cifra é muito promissora
para a caracterização do bem-estar
adequado, contudo, como já explicitado, a
caracterização do bem-estar necessita estar
respaldada em vários indicadores para
evitar conclusões imprecisas da realidade.
O comportamento do cão durante o seu
crescimento se desenvolve em certas fases
sob condições ambientais particulares. Isto
dá um relevo especial ao fato que as
características fenotípicas ou genéticas não
estão herdadas em um sentido restrito, mas
são sempre desenvolvidas sob as
influências de fatores genéticos e
ambientais (Scott e Fuller, 1997)
Os cães de estimação por viverem
naturalmente a maior parte de suas vidas na
companhia de um grupo familiar são
tratados como pertencentes a esse grupo.
Eles se comunicam utilizando uma
linguagem corporal pouco compreendida
pelas pessoas por ser extremamente
complexa e sutil.
São extremamente
sensíveis às ações, aos gestos e ao tom de
voz das pessoas com quem convivem
(O’Farrel, 1987). Rapidamente aprendem a
interagir com os humanos evocando
respostas aos seus anseios, tornando a
interação social uma recompensa afetiva
para ambas as partes.
118
Estes animais, freqüentemente, ficam
muito ociosos durante o dia, mas devido a
sua natureza, necessitam de um ambiente
rico e variado para manterem-se atentos.
Os proprietários precisam estar precavidos
de
problemas
de
comportamento
resultantes da ausência de estímulos
auditivos e visuais que prejudicam o
equilíbrio emocional, mas devem, ao
mesmo tempo, estar atentos em encontrar
um meio termo entre a ausência total de
estímulos e a solicitação excessiva
responsável por estresse.
Os esforços do cão para se associar aos
outros cães e aos humanos demonstram a
importância da interação para seu bemestar. Quando não conseguem satisfazer-se
com os estímulos que lhes são
proporcionados e experimentam ansiedade,
sua adaptação ao ambiente torna-se mais
difícil. Nesta situação os animais ficam
transtornados e exibem comportamentos
anormais confirmados amplamente pelos
proprietários. Depressão, por exemplo,
pode ser a conseqüência do pouco controle
que o indivíduo tem sobre ambiente difícil
ou hostil, levando-o certamente ao bemestar pobre e a possíveis conseqüências
patológicas. A resposta do sistema
neuroendócrino varia de acordo com
desafio ambiental (Griffin, 1989) e de
como os indivíduos percebem o desafio.
Mudança no sistema imune em resposta ao
estresse pode resultar em aumento da
produção de glicocorticóides e outros
hormônios moduladores do sistema imune
e afetar a suscetibilidade de um animal a
diferentes patógenos (Gross e Colmano,
1969).
As condições ambientais pouco propícias
ao cão podem ameaçar sua estabilidade
mental ou corporal. A adaptação
dificultada
envolve
freqüentemente
respostas fisiológicas ou comportamentais
anormais com conseqüências não desejadas
como medo e ansiedade, comprometendo o
seu estado de tranqüilidade.
Nestas
circunstâncias se a adaptação for
malsucedida, o animal pode experimentar
estresse e, conseqüentemente, seu bemestar ser muito pobre.
Baxter
(1988a)
distingue
algumas
exigências ambientais como estimuladoras
de necessidades psicológicas que levam o
animal a expressar comportamentos
anormais. Segundo ele, em termos de
sistema motivacional, o indivíduo poderia
confrontar-se com quatro estados em um
determinado momento. No primeiro estado,
o animal teria comido logo após a
manifestação de fome. O sentimento de
fome não representaria nenhuma demanda
na atenção do animal. Neste caso, a
motivação está em um estado nulo. No
segundo estado o animal sente fome de
intensidade que varia de moderado a
intenso, e durante este tempo se alimentaria
de comida se estivesse disponível. O
terceiro estado a fome torna-se intensa
porque a alimentação não foi possível
durante algum tempo. Neste estado o
animal só pensa em comer e o seu intenso
apetite não sendo satisfeito, o levará a
executar outros padrões de comportamento
relativos a atividades de deslocamento
como beber água ou comportamento
exploratório. Estes seriam considerados
comportamentos anormais porque não
atendem a motivação inicial. Este exemplo
serve para qualquer outro tipo de
motivação.
No
quarto
estado,
o
comportamento torna-se obsessivo em
resposta ao não cumprimento de uma
necessidade e o sistema de motivacional
sofre dano permanente.
O estado de intranqüilidade, caracterizado
por ansiedade, excitabilidade e constante
atividade, pode ser resultado do não
atendimento
de
suas
necessidades
comportamentais,
acrescido
do
comprometimento
de
seu
sistema
motivacional. De outro modo, um
comportamento anormal evidencia que
119
uma necessidade comportamental ou
psicológica não foi cumprida. Este
comportamento é considerado como um
sinal de alarme, enquanto revelando um
desequilíbrio entre o animal e seu
ambiente. Neste caso, a solução seria
observar a motivação do animal e atender a
sua necessidade, seja ela de interação,
atividade física ou exploração de ambientes
novos.
O’Farrel (1987) apoiada em teorias e
técnicas em psicologia humana adverte que
as pessoas tendem a concentrar todos os
esforços de resolução do problema de
comportamento somente na mudança de
comportamento do cão, esquecendo-se de
considerar a relevância da personalidade e
das atitudes do proprietário para com a
conduta do cão. Para a pesquisadora os
donos estão envolvidos emocionalmente e
intelectualmente com o seu cão. Os
responsáveis, e os proprietários que são
vistos como pessoas estranhas ou
neuróticas, cujo comportamento causou de
alguma forma efeito adverso ao cão.
Sugeriu que alguns problemas de
comportamento poderiam ser classificados
como “atividades de deslocamento”,
comportamento
executado
fora
de
contexto, em situações de alta estimulação
ou conflito. A conexão mais plausível
entre estas duas variáveis, neurose do
proprietário e atividades de deslocamento
do cão seria devido à maior ansiedade do
proprietário que induziria a excitação do
cão. As correlações entre variáveis
demonstraram que atitudes do proprietário
devem ser levadas em conta ao se tratar
problemas de comportamento, no entanto,
elas não podem refletir a sutileza das
interações entre o proprietário com seus
familiares e o animal de estimação. Neste
contexto, haveria a necessidade de lançar
mão de recursos da psicologia clínica e da
psiquiatria,
pois
as
dificuldades
interpessoais representadas pelos conflitos
entre familiares podem tornar o cão uma
vítima. Se há o comprometimento de sua
proprietários emocionalmente envolvidos
gostam de seus animais de estimação por
eles serem dependentes, serem capaz de
amá-lo e mostrar-se exclusivamente preso
afetivamente, enquanto os proprietários
intelectualmente envolvidos gostam de
seus cães por eles serem inteligentes,
obedientes e independentes. Proprietários
que são muito ligados emocionalmente aos
seus cães tendem a oferecer-lhes quitutes,
alimentá-los com comidas especialmente
preparadas para eles e, podem deixar o
animal dormir em seu quarto.
A autora ao analisar as correlações entre
variáveis, distinguiu duas categorias de
proprietários: os proprietários vistos como
pessoas normais, razoáveis, normais que
tiveram o infortúnio de possuir um
cachorro com um problema para o qual
eles
não
são
estabilidade física e mental, o animal pode
se comportar de modo anormal.
Igualmente, a falta de empatia pode tornar
os familiares menos tolerantes com o
comportamento inaceitável do cão. Um
tratamento próspero se basearia na redução
do nível de ansiedade geral do cão e
aumento da tolerância do proprietário.
Estimular fisicamente e mentalmente o
animal, dispensar atenção e afeto em lugar
de estar sempre ralhando ou castigando-o,
pode evitar problemas de saúde e
comportamentais e, conseqüentemente,
favorecer o seu bem-estar.
4.6 Progressividade e atitude
Os dados do questionário (anexo 5) ao
serem submetidos à fórmula matemática
transformaram-se em índices utilizados na
caracterização de cada proprietário
segundo a progressividade (Pk) e a atitude
(Ak). A representação gráfica de Pk contra
Ak de todos os 60 proprietários está
baseada nas 24 questões elaboradas para
caracterizar
os
proprietários
como
progressista ou tradicional, possuidor de
120
discordo e não tenho opinião formada. Na
Tabela 7, pode-se observar a distribuição da
percentagem
de
respondentes
que
concordaram, discordaram ou não tinham
opinião formada sobre as questões referidas
à progressividade e atitude em relação ao
bem-estar animal.
atitude positiva ou possuidor de atitude
negativa. (Figura 2). A maioria dos índices
ficou situada encima de um lado do eixo de
“y” imaginário. Isto significa que a maior
parte dos proprietários foi classificada
como progressista e com atitude positiva
em relação ao bem-estar animal. Os
conservadores foram poucos (n = 5) e não
houve representação de um universo de
atitude negativa.
Em razão da variação da escala de Likert
ser muito ampla para representar a
distribuição da freqüência de respostas de
proprietários a cada questão, as sete
possíveis respostas da escala foram
agrupadas em apenas três – concordo,
O alto índice de concordância com a
primeira questão (58,3%) “O cão é um
animal, deve ser tratado como qualquer
outro animal de criação” demonstra a
percepção conservadora que mais da
metade dos proprietários têm do seu animal
de estimação. O cão moderno não é um
animal doméstico como outro qualquer. Ao
estar participando da vivência humana há
6
5
4
Ak
3
2
1
0
-2
0
2
4
6
Pk
Figura 2 - Representação gráfica dos proprietários de cães segundo as
coordenadas de atitude e progressividade.
aproximadamente 14 mil anos, quando o
cão evoluiu não só fisicamente, mas
também em sua faculdade cognitiva e
emocional. Ele é capaz de perceber cada
nuança na voz ou gesto das pessoas e reagir
em conformidade. O cão de estimação atual
está altamente integrado à sociedade
humana, a preocupação com o atendimento
de suas necessidades físicas e psicológicas
tornou-se algo imprescindível para a
manutenção do seu equilíbrio emocional e,
por conseguinte, o seu bem-estar. Tratar o
companheiro canino como qualquer outro
animal de criação incorreria no risco de
comprometer o seu bem-estar.
Igualmente, 58,3% dos proprietários
concordaram com a terceira e quarta
Questões: “Eu sou um proprietário
tradicional. O conhecimento adquirido
121
Tabela 7. Frequência relativa de respondentes que concordaram, discordaram ou não
tinham opinião formada sobre as questões referidas à progressividade e
atitude em relação ao bem-estar animal
Questões
Respondentes (%)
Tradicionalismo
1
2
3
4
5
6
Atitude negativa
7
8
9
Concorda
58,3
13,3
58,3
18,4
79,9
86,7
Discorda
41,7
85,0
41,7
81,6
19,9
13,3
26,6
13,4
18,3
73,4
86,6
81,7
_
_
_
10
11
12
Progressividade
13
14
15
16
17
18
Atitude positiva
19
20
21
22
85,0
20,0
6,70
15
80
58,3
_
_
35,0
100
98,3
98,3
81,7
93,4
61,7
_
_
1,7
3,3
3,3
8,4
_
1,7
_
15,0
3,3
30,0
96,7
96,6
98,3
100
3,4
_
_
_
_
3,3
1,7
_
100
100
_
_
23
24
durante a minha vivência é suficiente para
criar corretamente o meu cão” e “Instruirme sobre como promover o bem-estar
animal, não tornaria melhor a minha
convivência com o meu cão”. Se os estudos
referentes ao comportamento e bem-estar
animal iniciaram-se apenas há algumas
décadas e, todavia, não estão integrados ao
Não sabe
_
1,7
_
_
_
_
_
_
currículo de todas as escolas de veterinária
do mundo e menos ainda, de nosso país,
como poderiam esses proprietários
considerar a sua vivência suficiente para
criar corretamente o seu cão?
A
humanidade encontra-se em um momento
importante no que diz respeito a relação
homem-animal. Ao mesmo tempo em que
122
o homem preocupa-se com sua conduta em
relação aos animais de produção e
estimação, o cão, em muitos lares,
conquista o status de membro da família.
No entanto, não é suficiente tencionar o
cuidado apropriado ao seu animal com os
padrões assimilados durante a vivência
pretérita, é necessário acompanhar a grande
modificação do status quo desse animal de
estimação.
As respostas dadas às questões, sete e
nove, mostram não haver um pensamento
lógico de alguns dos proprietários
entrevistados. Ao mesmo tempo que 58,3%
considera o conhecimento adquirido
durante a vivência suficiente para criar
corretamente o seu cão, 73,4% discordam
da seguinte questão: “O conhecimento
sobre
característica
da
raça
e
comportamento animal não é importante
para se criar corretamente um cão”. Em
virtude de esta questão ser elaborada sob a
forma negativa para avaliar a atitude
negativa, logo após a leitura a pesquisadora
a refazia sob a forma de pergunta: “O
senhor
acredita
ser importante o
conhecimento sobre característica da raça e
comportamento animal para se criar
corretamente um cão? A resposta
afirmativa indicaria discordância da
questão anterior. Este procedimento foi
realizado com todas as demais respostas
negativas a fim de evitar problema de
entendimento e, conseqüentemente, dúvida
a respeito da resposta. Desta situação podese depreender o seguinte: os proprietários
que concordaram com a terceira questão e
discordaram das questões sete e nove,
reputam importância ao conhecimento
adquirido durante a vivência, no entanto,
acreditam igualmente que a aquisição de
informações sobre o bem-estar, o
comportamento e a característica da raça,
assume grande importância no sucesso da
criação do animal. Da mesma forma, as
respostas à questão onze demonstram que
80% dos proprietários preocupam-se com a
educação do seu cão.
Oitenta e cinco por cento dos proprietários
consideram a promoção do bem-estar do
seu cão algo que lhes custa muito dinheiro
e lhes toma muito tempo (pergunta 10). O
alto índice de respostas revela que a atual
conjuntura concebida como nova forma de
convivência com o cão, remete o
proprietário a uma preocupação com o
bem-estar do animal. Todavia, por não
perceberem a inter-relação homem-animal
como simbiótica, em que ambas as partes
são beneficiadas, divisam na relação custobenefício somente os dividendos obtidos
com a convivência. Esta conjectura é
apoiada nas respostas dada às questões 15 e
16, onde mais de 90% dos proprietários
concordaram que a relação homem-animal
traz benefícios para a saúde e qualidade de
vida do homem e que os animais podem
atuar como co-terapeutas.
Case (1999) assinala que os benefícios de
saúde proporcionados pela propriedade de
um animal de estimação não estão
associados necessariamente ao estilo de
vida mais saudável nem aos atributos dos
proprietários que escolhem compartilhar
suas vidas com os cães. A condição de
pertença de um cão por si só pode oferecer
importante benefício à saúde.
Na sexta questão, a grande maioria dos
proprietários (86,7%) concordou com “A
promoção ao bem-estar animal leva ao
consumismo”. Um proprietário progressista
apesar de estar aberto à mudança não
precisa necessariamente transformar-se em
um
consumista
para
atender
às
necessidades de seu cão. Porquanto, o
consumismo é uma noção conservada na
tradição de algumas pessoas que afeta não
só a criação de seus filhos, mas também de
seu cão. Os animais precisam de atenção,
carinho e respeito e não de uma grande
variedade de brinquedos, roupinhas e
quitutes.
As questões 12 e 18 mostram a importância
do movimento mundial a favor da causa
animal e da informação midiática para o
123
bem-estar animal. Exatamente 58,3% dos
proprietários acreditam que a defesa à
proteção e ao direito animal não é
modismo, e sim estratégias sérias
estabelecidas por movimentos organizados
mundialmente. Em contrapartida, 35% não
têm opinião formada sobre o assunto. As
respostas à questão 18 revelam que 61,7%
dos proprietários acreditam que os
protestos
organizados
mundialmente
influenciam
positivamente
o
relacionamento com o seu cão.
Cem por cento dos proprietários (pergunta
21) crêem que os animais são seres
sencientes, capazes de sentir os mesmos
sentimentos experimentados pelos seres
humanos. Exatamente 98,3% têm ciência
da existência de direitos dos animais
(pergunta 22).
As respostas relativas às atitudes positivas
(perguntas 19 a 24) mostram uma
discrepância entre o posicionamento da
maioria dos proprietários e o resultado
obtido pela classe de variável ‘bem-estar
adequado’. Exatamente 98,3% dos
proprietários concordaram que promover o
bem-estar animal significa também se
preocupar com a sua saúde física e mental,
no entanto, somente 43,3 % dos cães
experimentavam o bem-estar. Como pode
ser visto na figura 2, não há nenhuma
representação de atitude negativa e apenas
8,3%
dos
proprietários
foram
caracterizados como conservadores. Assim,
de acordo com este ensaio, pode-se afirmar
que as atitudes e a progressividade dos
proprietários, por si só, não são fatores
determinantes para a promoção do bemestar animal. A hipótese foi rejeitada. Este
resultado abre caminho a reflexões, pois
quando se aceita um resultado como uma
premissa deve-se admitir também as
conclusões dela derivadas. Porque os altos
índices
de
atitudes
positivas
e
progressividade dos proprietários não são
capazes de proporcionar alto índice de
bem-estar aos animais? Que fatores
explicariam a discordância entre os altos
índices
relativos
à
tendência
de
comportamento encerrado nos princípios
ou opiniões dos proprietários sobre o bemestar e o resultado obtido?
Para tentar responder a essas perguntas,
primeiramente, tentar-se-á esclarecer o que
é um pensamento atitudinal.
John Dewey (1959) conceitua o pensar
como uma técnica operativa por meio da
qual a inteligência atua sobre a experiência
com o propósito de conhecê-la ou
transformá-la. Estar ou não atuando sobre a
experiência com uma finalidade é que vai
decidir a qualidade de uma forma de
pensar. Ao expressar-se através de suas
atividades, o sujeito demanda pelo menos
dois níveis de pensamento - o atitudinal e o
operativo. Ao criar "pensamentos" numa
atitude indiferente ou submissa para a
realidade, não está propriamente pensando.
A atitude é um complexo de escolhas que
se tem quase como um patrimônio natural.
As atitudes chegam ao sujeito naturalmente
ao pensar, anteriores ao pensar, por detrás
do pensar (Dewey, 1980).
Independente do grau de informação e
sofisticação intelectual, o pensamento é
qualificado por atitudes que se adquire
culturalmente.
A
investigação
do
pensamento atitudinal irá examinar quais
as opções categóricas que são produzidas e
transmitidas na cultura em que vive o
sujeito pensante. Suas atitudes formam um
corpo de pensamentos básicos que
antecede e determina a qualidade do
pensamento operativo do sujeito. É um
equívoco aceitar a crença segundo a qual a
aquisição de conhecimentos teria o poder
de aumentar a qualidade do pensamento
operativo do sujeito. O real comportamento
pensante das pessoas em suas atividades
decisórias revela o nível do seu
pensamento básico e a qualidade do uso
operacional que ele está fazendo das
informações que acumulou através de sua
124
vivência. Este nível irá determinar a
facilidade ou dificuldade da intervenção do
sujeito pensante no contexto onde vive.
As pessoas vão adquirindo, desde a
infância, uma conformação a tudo que seja
adjetivado de normal. Diante deste
acatamento passivo, vai se produzindo
nelas uma atitude que anula suas
potencialidades de ingerência operativa,
dificultando seu discernimento sobre o que
é ou não normal. Nesta situação
desenvolvem pensamentos atitudinais que
dificultam as mudanças necessárias. O
pensamento operativo pode estar alheio à
realidade, não havendo intervenção na
situação estabelecida (Dewey, 1959).
O proprietário do cão a despeito de
concordar com atitudes positivas pode
assumir uma atitude de espectador diante
dos desafios concernentes à criação do
animal e encontrar dificuldade para
transitar do conhecimento para a
consciência que gera ação. A morosidade
nos circuitos internos da consciência
revela-se através de comportamento típico
do espectador que jamais chega a ser
protagonista. Não percebe a situação como
desafiadora, carente de transformação.
Quando consegue identificar o problema,
não se envolve, mas trata de subestimá-lo e
encontrar algum responsável. Este tipo de
atitude é naturalmente adquirido pela
cultura, ao passo que as atitudes operantes
são conquistadas mediante a dedicação
constante. Trata-se de um estilo filosófico
que leva o sujeito pensante a envolver-se.
O princípio desta postura é um sentimento
ou um senso de responsabilidade que incita
o sujeito pensante a perquirir e a
empenhar-se de forma crítica diante da
realidade.
A
conscientização
do
proprietário de seu papel interventor é a
primeira atitude mental favorável à
promoção do bem-estar adequado de seu
animal. A segunda seria o questionamento
vivencial de atitudes comprometedoras,
paralelamente ao cultivo de atitudes
estimuladoras.
A promoção do bem-estar do cão,
portanto, não é simplesmente querer,
concordar ou discordar. É uma decisão
vigorosa, que precisa de conhecimentos
específicos periodicamente confrontados e
realimentados.
Um outro aspecto de grande relevância a
ser considerado em relação ao proprietário,
intimamente ligado ao bem-estar animal, é
o processo de cuidar. É necessário
identificar o que move o comportamento
daquele que conduz esse processo. Cuidar
é uma atividade que implica algum tipo de
responsabilidade e compromisso contínuos
(Tronto, 1997), é mais que um ato, é uma
atitude de preocupação, responsabilização
e de envolvimento afetivo com o outro
(Boff, 2003). O cuidado traz implícito o
sentido de diligencia, desvelo e atenção ao
fazer-se algo. Nele identificam-se os
princípios, os valores e as atitudes que
fazem da vida um bem-viver (Boff, 2003).
A ação própria dos cuidados cotidianos é
de sustentar a vida, provendo-a de energia
de natureza física, afetiva ou psicossocial.
Os cuidados fundamentam-se nos hábitos
de vida, nos costumes e nas crenças.
Cuidar de alguém ou de um animal de
estimação requer estar presente física e
emocionalmente, com a preocupação de
compreender e auxiliar o outro; satisfazer
suas necessidades e proporcionar-lhe bemestar. Como um fenômeno que ocorre no
mundo real das vivências, o cuidado
dispensado a um cão por envolver uma
relação com humanos encerra todos os
potenciais
e
limitações
de
cada
participante. O proprietário age sobre o cão
assim como o cão age sobre o proprietário.
Um e outro têm, no mundo da vida, a
possibilidade de proporcionar mudanças e
um crescimento mútuo.
Para
alcançar
o
que
motiva
o
125
comportamento
do
proprietário
é
necessário elucidar seu argumento de vida,
o guia das motivações básicas para as
interações sociais. Para Berne (1988) o
argumento de vida é um projeto elaborado
na primeira infância, sob ingerência dos
pais, que governa a conduta do indivíduo
nos aspectos mais importantes de sua vida.
Ao se descobrir as crenças básicas
referentes ao argumento de vida podem-se
identificar as crenças relativas aos cuidados
cotidianos e habituais de vida, como o
cuidado é vivido e estruturado no cuidador.
As crenças, os sentimentos e os valores
positivos
são
fundamentais
no
favorecimento da qualidade de vida da
pessoa. Elas orientam os pensamentos e as
opiniões,
e,
conseqüentemente,
as
realizações
pessoais.
Quando
o
desenvolvimento
da
personalidade
proporciona bem-estar, o indivíduo tem
percepção exata de si e dos outros e as
crenças são coerentes com a realidade.
Nestas pessoas saudáveis que valorizam as
coisas belas da vida as crenças são
submetidas a processo de constante
reorganização.
As crenças culturais ao cumprirem uma
função social desvelam o poder simbólico
na estruturação de condutas das pessoas em
relação às manifestações e aos cuidados
dispensados ao outro. (Loyola, 1984). Os
hábitos de vida assim como as crenças,
ligam-se aos valores e estes formam uma
categoria especial de convicção íntima que
revela a importância de algo para a pessoa.
A crença em conceitos e valores falsos e
distorcidos predisporá a adoção de um
estilo de vida para justificar o
condicionamento adquirido. Os valores dão
sentido à vida e o sentido é encontrado ao
se perscrutar a serventia de algo e o bem
derivado dele (Kretschmer, 1990). Os
valores de uma pessoa e o sentido de sua
vida determinam o seu desempenho nas
múltiplas tarefas do seu dia a dia. Os
valores e as crenças são transmitidos por
herança cultural e são suscetíveis de
modificação e o sentido é reprogramado
em atitudes melhores e mais eficazes
(Chung, 1997). Cada grupo cultural possui
um argumento padronizado ao interagir uns
com os outros e para cuidar de si e do
outro, segundo a sua prioridade de vida. A
vida e o bem-estar são responsabilidades de
cada um. Depende da realidade interior e
de mecanismos com os quais a pessoa
consegue ler o mundo ao agir sobre ele. Se
a sua prioridade de vida é o próprio bemestar, se esforçará em alcançá-lo
igualmente para o outro submetido aos seus
cuidados (Berne, 1988).
Todas as ações são conseqüências do
argumento de vida, que serve de referência
mental. Se a pessoa vive em equilíbrio
psicoemocional e acredita no seu valor
pessoal, conseqüentemente aumentará a
sua auto-estima e autoconfiança. A
consciência do próprio valor favorece o
cuidar de si e do outro com sabedoria,
responsabilidade, consideração e amor. Em
contrapartida, a desordem interior gera
sofrimento na esfera emocional e um
estado de desassossego íntimo e de
desamor a si próprio (Silva, 1994). O bemestar biopsicossocial, pois, dependerá da
mente saudável com crenças de valorização
da vida, e o seu modo de viver influenciará
o cuidado dispensado a si próprio e aos
outros. Assim, o bem-estar do cão está
atrelado ao modo de viver e ao bem-estar
do proprietário e de sua família.
Outra possível explicação para essa
aparente incoerência entre progressividade/
atitude
versus
bem-estar
estaria
fundamentada na reflexão de Amatuzzi
(2001) sobre o distanciamento ou distorção
da verdade. Segundo o autor, aquilo que
uma pessoa pensa de si mesma
(autoconceito) pode funcionar como um
filtro para a expressão do vivido. Se a
pessoa se imagina de tal forma que
determinadas experiências subjetivas ou
intencionais fiquem excluídas, então não
126
têm como dizê-las ou apresentá-las
adequadamente. Distorce-as então. A
pessoa que desenvolve um sentimento de
ser cumpridora de seus deveres,
dificilmente se conscientizará de uma
negligência. Isto acontece porque a
negligência é incompatível com a minha
imagem de cumpridor de meus deveres. A
sua resposta então, distorce um pouco a
verdade das coisas. Principalmente quando
a verdade não é muito favorável a seu
respeito. Esta distorção pode sobrevir por
motivos individuais, mas também pode
acontecer por motivos culturais.
O eu do indivíduo, integra à esfera social
onde vive assim como o seu pensamento e
sua consciência que lhe ministra padrões
através dos quais o incita a pensar em si ou
pensar o contexto situacional. Estes
padrões podem ser limitados quanto à
captação precisa da sua experiência. A
relação homem-animal vivenciada e
preconizada por legislação no ocidente, por
exemplo, não é igualmente aplicada na
China, onde cães são criados com o
objetivo de servirem de alimento ao
homem.
Padrões
culturais
podem
influenciar a percepção dos fatos e definir
o modo como são vistos ou expressados.
Tanto os padrões individuais relativos ao
autoconceito, como os socioculturais
incorporados do meio ambiente, são
resultantes da adaptação do viver. Eles
definem o indivíduo de modo rígido ou
flexível. A rigidez de padrões leva o
indivíduo a criar hábitos de pensar, que
podem distanciá-lo dos fatos ou da
experiência vivida como eles são. Em
certas situações tem relação com a
facilitação das rotinas. Já a forma flexível
poderá interferir na vivência modificando
alguns padrões.
Por ocasião da entrevista, ao tentar
conhecer o modo de proceder ou tendência
de comportamento do entrevistado através
do seu assentimento objetivo ou subjetivo,
o pesquisador colhe e o que pode ser visto,
pensado, e dito, a partir das estruturas do
autoconceito ou socioculturais, podendo
estar enrijecidos pela força do hábito do
pensamento. Porém, colher informações já
prontas através de um questionário não
permite distinguir se a opinião acerca do
objeto de estudo é uma representação
individual ou social. Somente através da
pesquisa fenomenológica é possível a
maior aproximação do vivido. Conhecer o
que acontece, indo além dos modos
habituais de pensar, facilitar a compreensão
do fenômeno e apreensão do conhecimento
da essência. No entanto, indiferentemente
da pesquisa seguir uma abordagem objetiva
ou subjetiva, a distorção da verdade que
pode sobrevir por motivos individuais ou
culturais, é um fato de natureza moral ou
social inerente ao ser humano.
4.7
Análise multivariada de
correspondência múltipla
Na análise multivariada de correspondência
múltipla as variáveis estão associadas no
mesmo quadrante de forma tridimensional
- valores positivos acima e negativo
abaixo. A força de associação é medida
pela aproximação euclidiana do sistema
algébrico que se traduz pela distância entre
as variáveis no gráfico. Este recurso
estatístico não proporciona quantificação
Não foi possível incluir todas as variáveis
do estudo na análise de correspondência
múltipla devido a três fatores concorrentes
para a diminuição do valor da inércia:
1- Algumas variáveis não apresentaram
dispersão representativa devido à baixa
representação no universo estudado;
2- A categorização necessária das variáveis
progressividade, atitude e das classes de
renda, ao contrário das variáveis
dicotômicas, comprometeu o valor da
inércia;
127
3- A reunião de todas as variáveis
dicotômicas e categorizadas resulta em má
distribuição de algumas variáveis.
Somente após a repetição de várias análises
foi possível decidir qual a inércia a
considerar e quais variáveis seriam
reputadas como mais importantes para o
teste de associação. Assim, em virtude da
exigência de alcançar o maior valor
possível de inércia (Tabela 8), apenas treze
variáveis foram inseridas no plano
matemático.
Foram elas: ‘bem-estar’, ‘progressividade’,
‘atitude positiva’, ‘renda familiar’,
‘condição corporal’, ‘índole’, ‘estado de
tranqüilidade’, ‘brincar’, ‘passear’, ‘entrar
na residência’, ‘dormir dentro da
residência’, ‘tipo de residência’ e ‘outros
animais de estimação’. Como pode ser
verificado na Tabela 9, foram envolvidas
29 classes de variáveis correspondentes as
13 variáveis principais: Bea+ (bem-estar
positivo), Bea – (bem-estar negativo), Pk1,
Pk2 e Pk3 (classes de progressividade), Ak
1, Ak 2 e Ak3 (classes de atitude positiva),
A, B e C (renda familiar), Fit- (condição
corporal inapropriada), Fit + (condição
corporal ideal), bravo, manso, intranq
(intranquilo), tranq (tranqüilo), brinca, não
brinca, passeia, ñpasseia (não passeia),
entra, ñentra (não entra), dormden (dorme
dentro), dormfor (dorme fora), apto
(apartamento), casa, +pet, (outros animais
de estimação) e exclu (cão como animal
exclusivo ).
Tabela 8- Valores da inércia nos eixos 1, 2, e 3
na análise de correspondência múltipla. Inércia
total de 62%.
Eixos principais
1
2
3
Autovalor
0,55
0,44
0,36
Inércias
0,30
0,19
0,23
Apesar do sistema constituir-se por um
espaço dimensional com treze eixos
principais, a leitura e interpretação do
gráfico é realizada seqüencialmente através
de três eixos principais, conforme mostrado
na Figura 3. Os eixos principais um e dois
apresentam os maiores valores de inércia,
0,30 e 0,29 %, respectivamente. Entre os
três eixos imaginários eles são os que
melhor representam as semelhanças e
diferenças entre as observações devido aos
maiores pontos de inércia.
As variáveis incluídas na análise
multivariada de correspondência múltipla
desse estudo são consideradas estratégicas
para testar a hipótese e conhecer o universo
das associações do bem-estar com as
variáveis socioeconômicas e as referentes
ao sistema de criação do animal (Tabela 9).
Os resultados obtidos com essa análise não
estão sob a forma de correlação entre
variáveis e, portanto, não são apropriados
para demonstrar conexão causal. Por outro
lado, é possível, através das associações
constituídas entre as variáveis, tentar
estabelecer explicações plausíveis.
Os resultados mais notáveis que se
depreendem da observação do gráfico estão
agrupados em tópicos para melhor
compreensão da conexão entre as variáveis
que representam fatores concorrentes para
o bem-estar animal. É de interesse desde o
ponto de vista de interpretação da análise
multivariada, constatar como as variáveis
se associam entre si.
Progressividade e atitude
As variáveis ‘progressividade’ e ‘atitude
positiva’ não apresentaram dispersão
representativa ao serem submetidos à
análise de correspondência múltipla. Em
virtude deste resultado, optou-se pela
categorização dos índices Pk e Ak em seis
classes - Pk1, Pk2, Pk3 e Ak1, Ak2, Ak3.
Estabeleceu-se que as classes Pk1 e Ak1
seriam classes com valores mais altos, Pk2
e Ak2 com valores médios e classes Pk3 e
Ak3 com valores mais baixos.
128
129
Tabela 9. Valores das coordenadas da análise de correspondência múltipla e freqüência relativa
(%) das variáveis estudadas referente aos cães de estimação da Região Administrativa
da Pampulha - Belo Horizonte - MG - 1997.
Variável
Classe/sigla
Eixo 1
Eixo 2
Eixo 3
Freq.
Bem-estar1
bea bea+
fit fit +
bravo
manso
intran
tranq
brinca
não brinca
ñpasseia
passeia
-0,14
0,19
-0,09
0,06
0,32
-0,06
-0,13
0,01
-0,09
0,5
0,57
-0,65
0,73
-0,96
0,71
-0,47
1,52
-0,3
0,79
-0,09
-0,3
1,68
-0,22
0,25
-0,12
0,16
-0,39
0,26
1,06
-0,21
0,13
-0,01
-0,16
0,89
0,16
-0,18
0,57
0,43
0,40
0,60
0,17
0,83
0,10
0,90
0,85
0,15
0,53
0,47
entra
ñentra
dormden
dormfor
apto
casa
+pets
exclu
A
B
C
Pk1
Pk2
Pk3
-0,46
1,26
-0,68
1,09
-0,91
0,74
0,34
-0,28
-0,5
-0,34
0,78
1,03
-0,39
-0,59
0,06
-0,17
0,12
-0,2
0,02
-0,02
-0,28
0,23
-0,84
-0,2
0,23
0,21
0,14
-0,41
-0,04
0,1
0,04
-0,06
0,002
-0,002
-0,35
0,29
1,17
-0,35
-0,21
0,04
-0,63
0,76
0,73
0,27
0,62
0,38
0,45
0,55
0,45
0,55
0,20
0,47
0,33
0,32
0,38
0,30
Ak1
Ak2
Ak3
1,23
0,62
-0,65
0,52
0,08
-0,17
1,1
-0,84
0,22
0,13
0,32
0,55
Condição corporal2
Indole
Estado de tranquilidade
Brincar
Passear
Entrar no interior
residência
Dormir no interior da residência
Tipo de residência
Outros animais de estimação3
Renda familiar
Progressividade
Atitude
positiva
1
Bem-estar pobre/ adequado
2
Condição corporal inapropriada/ ideal
Outros animais de estimação (pet +) / cão como animal exclusivo
3
A
localização
das
variáveis
‘progressividade alta’ e ‘progressividade
baixa’ no plano tridimensional mostra-se
quase eqüidistantes do ‘bem-estar pobre’ e
‘bem-estar adequado’. A ‘progressividade
média’ está mais associada ao ‘bem-estar
pobre’.
A baixa ‘atitude positiva’ está mais
associada ao ‘bem-estar pobre’, enquanto a
alta e média ‘atitude positiva’ estão
eqüidistantes do ‘bem-estar pobre’ e ‘bemestar adequado’.
Dentre
todas
as
categorias
de
130
’progressividade’ e ‘atitude positiva’, a
‘progressividade baixa’ está mais próxima
do ‘bem-estar adequado’, mas ainda assim,
está quase eqüidistante do ‘bem-estar
pobre’ e ‘bem-estar adequado’. Portanto,
nenhuma categoria de ‘progressividade’ e
‘atitude positiva’ está associada de modo
satisfatório ao ‘bem-estar adequado’. A
hipótese foi rejeitada.
universo estudado (A1= 6,7%, A2= 13,3%,
B1= 18,3%, B2= 28,3%, C= 13,3%,
D=13,3%, E= 5,00%) decidiu-se agrupá-las
em três classes principais a fim de estudar
o maior potencial desta variável. A ‘classe
A’ passou a constituir-se pela soma das
freqüências das classes A1 e A2, a ‘classe
B’ das classes B1 e B2 e a ‘classe C’ das
classes C, D e E.
Os
proprietários
detentores
de
‘progressividade baixa’ e ‘atitude positiva
baixa’ para o bem-estar moram de
ordinário em ‘apartamento’, possuem
apenas o cão como ‘animal de estimação’,
permitem que o mesmo ‘entre no interior
residência’ e ‘durma no interior da
residência’ e ‘dormir no interior da
residência’. O cão desses proprietários
geralmente é ‘manso’, ‘tranqüilo’, ‘brinca’
e pode apresentar ‘condição corporal
ideal’.
Classe A
Os
proprietários
que
apresentam
‘progressividade alta’ e níveis médio e alto
de ‘atitudes positivas’ geralmente vivem
em ‘casa’, possuem ‘mais de um animal de
estimação’, ‘não passeiam’ com o animal e
não os deixam ‘entrar no interior da
residência’ e ‘dormir no interior da
residência’.
A
associação
desses
proprietários com a ‘condição corporal’
não mostrou diferenças significativas entre
as classes dessa variável.
Assim os cães pertencentes a esses
proprietários podem apresentar uma
‘condição corporal’ ideal ou inapropriada.
Os animais desses proprietários podem ser
‘tranqüilos’, ainda que a diferença da
aproximação euclidiana de ‘tranqüilo’ e
‘intranqüilo’ em relação a essas variáveis
‘progressividade’ e ‘atitude positiva’ não
seja muito expressiva
Classes de renda
Devido a algumas classes de renda
apresentarem baixa representação no
A ‘classe A’ se mostrou pouco
representada, mas com baixos níveis de
‘progressividade’ (Pk3) e ‘atitude positiva’
(Ak3). Segundo a aproximação euclidiana
do sistema algébrico a associação da
‘classe A’ para um tipo específico de
moradia tende apontar o ‘apartamento’
como mais representativo, ainda que a
diferença em relação à ‘casa’ não seja
muito
expressiva.
Igualmente,
os
proprietários desta classe ’passeiam’ ou
‘não passeiam’ com o seu cão e possuem
ou não ‘outro animal de estimação’. Os
cães geralmente ‘brincam’ com os
integrantes da família, são ‘mansos’,
‘tranqüilos’ e apresentam ‘condição
corporal ideal’. É a classe que exibe maior
associação com a caracterização positiva de
‘bem-estar’.
Classe B
Nesta classe de renda a ‘progressividade’
dos proprietários se apresentou com
valores médios e a ‘atitude positiva’ variou
entre valores baixos e médios. Em geral o
cão que representa essa ‘classe de renda’
vive em ‘apartamento’, ‘passeia’, é animal
‘exclusivo‘, ‘entra no interior da
residência’ e ‘dorme no interior da
residência’.
Esta classe dentre todas as demais está
mais próxima do ‘bem-estar pobre’, com
cães geralmente ‘intranqüilos’, com
‘condição corporal comprometida’, apesar
de esses cães ‘passearem’. Ao mesmo
131
tempo, a classe B é a classe que apresenta
maior proximidade com a classe de
variável ‘tranqüilidade’. Em decorrência da
eqüidistância de algumas classes de
variáveis em relação às classes A e B, esta
classe de renda assim como a ‘classe A’,
pode estar representada por cães ‘mansos’
que ‘brincam’ e apresentam ‘condição
corporal ideal’.
situações no contexto familiar compromete
o seu equilíbrio emocional. Alguns cães
podem mostrar-se incapazes de se adaptar
ao ambiente proporcionado pelo homem.
Esta incapacidade pode ser inerente aos
sentimentos do animal e de seu controle
sobre o ambiente, traduzido pela
efetividade de suas estratégias utilizadas
para contornar situações pouco favoráveis.
A ‘classe B’ apesar de estar mais associada
a cães que ‘passeiam’, ‘brincam’ e estão
mais próximo dos integrantes da família, é
a ‘classe de renda’ mais associada ao ‘bemestar pobre’. Embora esta classe esteja
associada consideravelmente com as
classes ‘intranqüilidade’ e ‘condição
corporal inapropriada’, apresenta uma
associação considerável também com as
classes ‘tranqüilidade’ e ‘condição corporal
ideal’.
Classe C
Estas associações são complexas e difíceis
de interpretar. O paradoxo revelado nos
leva
a
seguinte
conjectura:
em
determinadas
situações,
a
maior
proximidade (viver em apartamento) do
cão com a família resulta em uma
associação íntima não muito favorável para
o cão, podendo estar o seu bem-estar
comprometido com um componente
emocional importante que vai além do não
cumprimento de suas necessidades (brincar
e passear). Provavelmente, algumas
pessoas adquirem o cão para melhorar o
ambiente familiar, visto que a influência
mútua entre o cão e o ser humano
influência tanto o bem-estar do homem
quanto do animal. Por outro lado, a
qualidade do bem-estar depende da
qualidade dessa relação. Certos problemas
não
surgem
necessariamente,
em
decorrência do comportamento anormal do
cão ou do proprietário, mas da relação
entre eles. A interação interespécie pode
ser a causa primária ou secundária de
muitas desordens de comportamento do
animal. O ambiente onde o cão vive está
repleto de estímulos que em algumas
Esta classe exibe os maiores índices de
‘progressividade’ e a ‘atitude positiva’ e
apresenta valores que variam de médio
aalto. Os proprietários que têm em sua
residência ‘mais de um animal de
estimação’ tendem a ter ‘atitude positiva
média’. Os cães que representam essa
classe geralmente vivem em ‘casa’, ‘não
entram no interior da residência’ e ‘ não
dormem no interior da residência’.
Comumente, ‘não passeiam’, e a ‘condição
física’ pode ser indiferentemente ideal ou
comprometida.
Nesta classe, os proprietários que
apresentam ‘atitude positiva média’
possuem normalmente cães ‘mansos’ que
‘brincam’, já os cães de proprietários com
‘atitude positiva alta’ podem ser ‘bravos’ e
‘não brincam’. Esta classe está mais
associada ao ‘bem-estar pobre’, ainda que a
diferença da distância dessa classe de renda
em relação o ‘bem-estar adequado’ e o
‘bem-estar pobre’ não seja muito
expressiva.
Bem-estar
A ‘índole’, o ‘estado de tranqüilidade’ e a
‘avaliação corporal’ foram os três
indicadores utilizados para a medição do
bem-estar animal. O animal ‘manso’,
‘tranqüilo’ que apresentava uma ‘avaliação
corporal’ ideal foi considerado desfrutar do
bem-estar adequado. Exatamente 83,3%
dos cães investigados eram ‘mansos’, 90%
132
eram ‘tranqüilos’ e 56,6% apresentavam
uma boa ‘condição corporal’. Entretanto,
apenas 43,3% da população canina
experimentavam bem-estar adequado por
ocasião da entrevista. Em outras palavras,
menos da metade dos cães estudados era
simultaneamente, ‘mansa’, ‘tranqüila’ e
apresentava ‘condição corporal ideal.
A localização de algumas classes de
variáveis no plano tridimensional evidencia
certa dificuldade em discriminar a
associação de algumas classes em relação
ao ‘bem-estar’. Embora a classe
‘apartamento’ esteja mais próxima da
classe ‘bem-estar pobre’, a associação entre
essas classes é considerada fraca.
Dentre os três indicadores utilizados, as
classes ‘intranqüilidade’ e a ‘condição
corporal
inapropriada’
apresentaram
fortíssima associação com bem-estar pobre.
A classe ‘condição corporal ideal’ seguida
da ‘mansidão’ mostraram associação mais
fraca com o ‘bem-estar adequado’. A
agressividade apresentou fraca associação
com as demais classes de variáveis
analisadas.
A classe ‘casa’ está quase eqüidistante do
‘bem-estar adequado’ e do ‘bem-estar
pobre’. O cão que vive em ‘casa’ pode
indiferentemente apresentar ‘bem-estar’
adequado ou pobre. Ele pode experimentar
algum grau de bem-estar psicológico
indiferentemente em casa ou em
apartamento. Estes resultados sugerem que
a circunstância ‘morar em casa’ não é
condição absolutamente necessária para
favorecimento do bem-estar, e morar em
‘apartamento’ não é um fator determinante
para a ocorrência de ‘bem-estar pobre’.
Bem-estar adequado
A classe de variável ‘bem-estar adequado’
está mais associada à ‘condição corporal
ideal’, seguida das classes ‘mansidão’,
‘brincar’ e ‘tranqüilidade’.
Os
proprietários
de
cães
que
experimentavam ‘bem-estar adequado’
possuíam ‘outro animal de estimação’, ‘não
passeavam’ com o animal, mas permitiam
que ele ‘entrasse no interior da residência’
e ‘dormisse no interior da residência’.
Bem-estar pobre
O ‘bem-estar pobre’ ocorre geralmente em
cães ‘intranqüilos’, com ‘condição corporal
inapropriada’. Os cães podem ser
indiferentemente ‘mansos’ ou ‘bravos’.
Quando o cão é ‘agressivo’ os integrantes
da família comumente ‘não brincam’, mas
podem ‘passear’ com o animal. Os
proprietários geralmente moram em
‘apartamento’, têm o cão como ‘animal
exclusivo’ e permitem que ele ‘entre’ e
‘durma no interior da residência'.
Os proprietários que moram em
‘apartamento’ freqüentemente só têm o cão
como ‘animal de estimação’, ‘passeiam’
com seus animais que ‘entram’ e ‘dormem’
no interior da residência. Quando o animal
é ‘manso’ e ‘brinca’, mas é ‘intranqüilo’ e
apresenta
uma
‘condição
corporal
inapropriada’ pode morar indiferentemente
em ‘apartamento’ ou em ‘casa’, no entanto,
o animal ‘tranqüilo’ e com ‘condição
corporal’ ideal’ vive mais provavelmente
em ‘casa’. O cão que vive em
‘apartamento’ pode apresentar uma
‘condição
corporal’
ideal
ou
comprometida.
Geralmente, o animal que mora em ‘casa’,
‘não passeia’, mas pode apresentar
‘condição corporal’ ideal. O proprietário
pode ter ‘mais de um animal de estimação’
e não permitir que seu cão ‘entre no
interior da residência’ e ‘durma no interior
da residência’.
Outro animal de estimação
Tipo de residência
133
Embora o tipo de análise empregada não
permita
explorar
correlações,
as
associações evidentes entre possuir ‘outro
animal de estimação’ e o animal ser
‘manso’, ‘tranqüilo’ e apresentar ‘condição
corporal ideal’ colaboram para estabelecer
relação entre ‘bem-estar adequado’ e a
existência de ‘outro animal de estimação’.
Provavelmente, um proprietário que tem
mais de um animal de estimação preocupase em enriquecer a vida de seu cão com um
companheiro, ou simplesmente, gosta de
interagir e desfrutar ativamente da
companhia de vários animais. A relação
simultânea com os animais talvez evite o
apego exagerado com o seu cão e
problemas subseqüentes prejudiciais para o
estabelecimento do bem-estar.
Estes resultados validam uma crença
sustentada pelo senso comum: os animais
parecem ficar mais calmos quando tem
outro animal como companheiro ou
vivendo na mesma casa. A análise
comprovou que o ‘bem-estar adequado’ do
cão está mais associado a ‘outros animais
de estimação’ que a condição de cão
‘exclusivo’. Ao mesmo tempo, o ‘bemestar pobre’ está mais associado ao cão
como animal ‘exclusivo’.
Entrar ou dormir no interior da
residência
O cão que não ‘entra’ e nem ‘dorme no
interior da residência, geralmente é
‘tranqüilo’ e está em boa ‘condição
corporal’. As classes ‘entrar no interior da
residência’ e ‘dormir no interior da
residência’ estão mais associadas ao ‘bemestar pobre’. Já as classes ‘não entrar’ e
‘não dormir no interior da residência’
apesar de apresentarem uma associação
fraca, estão mais próximas ao ‘bem-estar
adequado’.
Como já foi visto
anteriormente, a proximidade íntima do
animal com os familiares em algumas
situações talvez não seja um
concorrente para o seu bem-estar.
fator
Mansidão e brincar
Entre todas as classes de variáveis
estudadas,
‘mansidão’
e
‘brincar’
apresentaram maior associação entre si. A
notável associação das classes ‘manso’ e
‘brincar’ tem um sentido ambíguo: os
animais brincam porque são mansos (fator
hereditário) ou o fato de interagir por
intermédio de brincadeiras com os seus
familiares (fator ambiental) desde o
período de socialização tornou esses
animais mansos? Este estudo não permite
explicar essa ambigüidade, mas sinaliza
mostrando claramente que o cão agressivo
não brinca com seus familiares.
Ordinariamente o proprietário que brinca
com o seu cão ‘não passeia’ com ele,
deixa-o ‘entrar’ e ‘dormir no interior da
residência’, pode ou não conviver com
outros ‘animais de estimação’, morar em
‘casa’ ou ‘apartamento’.
Um cão ‘manso’ ‘brinca’ rotineiramente e
geralmente é ‘tranqüilo’. Sua ’condição
corporal’ comumente é satisfatória e o seu
‘bem-estar é adequado’.
Um cão ‘intranqüilo’ comumente
experimenta ‘bem-estar pobre’ e pode
‘brincar’ ou ‘não brincar’ com os
integrantes da família. Assim, a brincadeira
pode favorecer a manutenção do estado de
tranqüilidade, da ‘condição corporal ideal’
e o ‘bem-estar adequado’, no entanto, pode
não evitar, que o animal seja intranqüilo,
apresente ‘condição corporal inapropriada’
e experimente ‘bem-estar pobre’.
Apesar de ‘brincar’ estar bastante
associado à ‘tranqüilidade’ e ser um fator
importante no estabelecimento de interação
mais íntima e prazerosa entre o proprietário
e o seu cão, ‘brincar’ é apenas um fator
concorrente
para
o
‘estado de
134
tranqüilidade’, devendo haver outros
fatores positivos ou negativos de cunho
emocional concorrentes tanto para o estado
de ‘tranqüilidade’ como para o estado de
‘intranqüilidade’.
Passear
O cão que ‘passeia’ não apresenta
necessariamente uma ‘condição corporal
ideal’ e tampouco é sempre ‘tranqüilo’,
‘manso’ e ‘brinca’. Ao mesmo tempo, o
cão ‘manso’ que ‘brinca’ com os
integrantes da família geralmente ‘não
passeia’.
Foi observada uma alta associação entre o
cão que ‘passeia’ com a sua condição de
ser o animal de estimação ‘exclusivo’,
morar em ‘apartamento’, ‘entrar’ e ‘dormir
no interior da residência’. O cão que
‘passeia’ está mais associado ao ‘bem-estar
pobre’ e a ‘classe de renda B’.
Os
proprietários
que
vivem
em
apartamento tentam compensar o pequeno
espaço em que seu animal vive
proporcionando-lhes passeios diários.
Contudo, o passeio por si só, parece não ser
uma contribuição satisfatória para o
estabelecimento do bem-estar adequado.
Os proprietários que ‘não passeiam’ com
seus cães vivem em ‘casas’ com mais de
um ‘animal de estimação’. A classe ‘não
passear’ está associada fracamente ao
‘bem-estar adequado’ e fortemente a
‘classe de renda C’.
Sintetizando, o passeio não é um fator
importante para a manutenção de uma
condição corporal ideal, para garantir a
mansidão e o estado de tranqüilidade do
animal. O cão que passeia pode ser obeso e
‘intranqüilo’. O cão que não passeia pode
apresentar condição corporal ideal, ser
tranqüilo e manso.
Estes
resultados
evidenciam que
na
população estudada, brincar e passear
influenciam o bem-estar do cão de maneira
diferente. Possivelmente, o nível de
interação resultante do ato de brincar seja
um fator mais importante, uma vez que a
brincadeira proporciona mais experiências
emocionais e contato físico.
É conhecido por todos a importância do
passeio como um fator concorrente para a
manutenção da condição corporal, no
entanto, assim como a nutrição e o
exercício, talvez o fator emocional deva ser
reputado no caso do cão. Esta consideração
apóia-se na forte associação obtida entre as
classes brincar e condição corporal ideal.
Estado de tranqüilidade
O animal ‘tranqüilo’ não experimenta
necessariamente ‘bem-estar adequado’,
contudo, a
‘intranqüilidade’ está
fortemente associada ao ‘bem-estar pobre’.
A classe ‘tranqüilidade’ está mais
associada às classes ‘não passear’,
‘brincar’, ‘mansidão’ e ‘condição corporal
ideal’. ‘Passear’ não garante o estado de
‘tranqüilidade ‘ do animal. Provavelmente,
neste caso, passear não é considerada uma
necessidade para o animal.
A classe ‘tranqüilidade’ está quase
eqüidistante do ‘bem-estar adequado’ e
‘bem-estar pobre’. O cão ‘tranqüilo’ pode
tanto experimentar ‘bem-estar adequado’
como ‘bem-estar pobre’. Segundo este
resultado, o ’estado de tranqüilidade’ não
atesta o ‘bem-estar adequado’. Um animal
aparentemente tranqüilo pode não estar
experimentando bem-estar adequado.
A classe ‘intranqüilidade’ está altamente
associada
à
‘condição
corporal
inapropriada’ e ao ‘bem-estar pobre’e
quase eqüidistante das classes ‘brincar’ e
‘não brincar’. O cão ‘intranqüilo’ pode
‘brincar’ ou ‘não brincar’ com os
integrantes da família. ‘Brincar’ é um fator
135
contribuinte
para
o
estado
de
‘tranqüilidade’, no entanto, um animal
‘intranqüilo pode ‘brincar’ com seu
proprietário. Destarte, ‘brincar’ com o cão
não garante a sua ‘tranqüilidade’. Outros
fatores ambientais além de ‘brincar’ devem
influenciar o ‘estado de tranqüilidade’ do
cão, e garantir o seu bem-estar.
em relação às demais classes, não obstante,
um cão que experimenta o bem-estar pobre
pode, indiferentemente, ser agressivo ou
manso. Este resultado é corroborado por
Duncan (1996) ao considerar que mansidão
não indica necessariamente bem-estar
adequado e a presença de agressividade não
justifica bem-estar pobre.
Condição corporal
A alta proximidade da ‘agressividade’ com
a classe ’não brinca’ permite afirmar que o
cão ‘bravo’ ‘não ‘brinca’. Neste contexto,
devido à associação das classes ‘bravo’ e
‘bem-estar pobre’ ser fraca, presume-se que
os indicadores condição corporal e estado
de tranqüilidade são mais precisos para
indicar o bem-estar pobre.
A ‘condição corporal inapropriada’ está
fortemente associada à ‘intranqüilidade’ e
ao ‘bem-estar pobre’, enquanto a ‘condição
corporal
ideal’
está
associada
medianamente ao ‘bem-estar adequado’. A
associação não muito forte da ‘condição
corporal ideal’ com ‘bem-estar adequado’
encontra apóio em Novak e Suomi (1988)
que apesar de considerarem haver uma
estreita relação entre o bem-estar
psicológico e a saúde física, reiteram que
um animal fisicamente saudável ainda
poderia estar infeliz ou descontente.
A ‘condição corporal’ e o ‘estado de
tranqüilidade mostraram-se ser indicadores
mais apropriados para medir o ‘bem-estar
pobre’ que o ‘bem-estar adequado’.
Agressividade
Na representação gráfica das variáveis
estudadas no sistema tridimensional, a
classe ‘bravo’ se mostrou pouco associada
3
Freqüência dos itens do sistema de criação: espaço
disponibilizado para o desempenho das atividades do
animal (96,7%); a liberdade (83,3%); a domiciliação
(98,3%); o manejo alimentar (78.3%); a higienização
dos locais onde o animal dorme (95%) e faz suas
necessidades fisiológicas (95%); a imunização contra
raiva (98,3%) e outras doenças infecciosas (65%); o
controle de parasitos internos (76,7%) e externo
(98,3%); o tratamento respeitoso (86,7%) e a efetiva
participação dos proprietários nos momentos de
interação através de brincadeiras (85%) e passeios
(46,7%).
4.8 A relação homem-animal
Foi estabelecido neste estudo que a
caracterização da relação homem-animal
seria realizada a partir: 1) da avaliação do
sistema de criação empregado pelos de
proprietários; 2) da caracterização dos
proprietários quanto à progressividade e
atitude e 3) da avaliação do bem-estar dos
cães.
As frequências3 dos itens referentes ao
sistema de criação demonstram que a
maioria dos proprietários cuida bem de
seus cães e brinca com o seu animal.
Somente a freqüência relativa ao item
passeio mostra-se abaixo de cinqüenta por
cento. Igualmente, a maior parte dos
proprietários foi classificada como
progressista e com atitude positiva em
relação ao bem-estar animal.
De acordo com o ensaio experimental e os
indicadores utilizados na avaliação do bemestar, pode-se inferir que a progressividade,
a atitude positiva e o comprometimento do
proprietário com os cuidados necessários
para proporcionar uma boa qualidade de
vida ao cão, não são suficientes para
136
favorecer o bem-estar da maioria dos
animais. Estes animais devido às
circunstâncias
ou
as
condições
estabelecidas para sua convivência no
âmbito familiar não conseguiram adaptar-se
ao ambiente onde vivem.
Como ficou demonstrado, o cão manso e
tranqüilo, que brinca e vive no interior da
residência, pode não experimentar bemestar adequado. Provavelmente, a maior
proximidade do cão com os familiares seja
um aspecto psicossocial do ambiente
desfavorável ao desfrute de uma
coexistência saudável promotora de bemestar adequado.
A partir da negação da hipótese e da
freqüência de animais que experimentavam
bem-estar pobre (56,6 %), entende-se que
possivelmente, a relação da maioria dos
proprietários com seus cães não seja
satisfatória.
Concluindo este capítulo, os resultados
evidenciam que alguns proprietários
embora sejam progressistas com atitudes
positivas, não conseguem proporcionar
bem-estar adequado aos seus cães.
Igualmente, apesar, de 85% dos
proprietários garantirem o compromisso de
brincar com seus cães e a variável ‘brincar’
se mostrar satisfatoriamente associada ao
‘bem-estar
adequado’
na
análise
multivariada de correspondência múltipla,
muitos dos cães não conseguem
experimentar bem-estar adequado. Apenas
43,3% dos animais experimentavam bemestar adequado. Este resultado é
corroborado com a opinião de Baxter
(1988b, p.347) ao declarar que o
desempenho comportamental não é o único
meio de satisfazer necessidades de bemestar.
Surgem então duas questões: seria
insatisfatório
o
envolvimento
do
proprietário na execução dessa atividade
com o cão? Quais seriam os fatores que
concorreriam para o impedimento do
estabelecimento do bem-estar nas situações
onde o atendimento das atividades brincar
e passear é cumprido? Alguns autores
estabeleceram
conceitos
por
hora
suficientes para responder a essas questões.
Duncan (1996) propôs que todos os
organismos têm certas necessidades básicas
e reagirão adversamente se estas
necessidades não são satisfeitas. Dawkins
(1988) acentuou que em um estudo sobre
bem-estar é fundamental tentar descobrir se
ao manter os animais em condições onde
eles não executam comportamentos típicos
da espécie, isso os faz sofrer.
Esses notáveis autores levaram a autora do
presente trabalho a incluir na avaliação de
bem estar as variáveis ‘brincar’ e ‘passear’
para averiguar as possíveis associações
dessas duas variáveis com o bem-estar dos
cães participantes do estudo.
A despeito dessas proposições sobre a
necessidade dos animais, Hughes (1988)
apoiado por muitos autores advertiu que o
atendimento dessas possíveis necessidades
comportamentais não são sempre fatores
básicos determinantes para o bem-estar.
Determinadas
necessidades
de
comportamento de uma determinada
espécie não seriam válidas para todos os
ambientes, visto que há de se considerar a
fonte de variação na contribuição interna
para motivação que pode ser muito
diferente (Jensen e Toates, 1993). Em um
estudo de bem-estar é fundamental
considerar a espécie e a variação individual
nas tentativas para se adaptar as
adversidades e aos efeitos que adversidade
causa ao animal. Nicol (1987) acrescenta
que a privação de algumas atividades leva
à conseqüência mais séria para o bem-estar
que a privação de outras.
O bem-estar tem implicações cognitivas, se
um animal não estiver atento ou
137
antecipando um fato, a não realização do
evento não afetará necessariamente o seu
bem-estar (Hughes, 1988). Neste caso,
para alguns animais é muito importante
passear e brincar, mas não para outros. O
passeio e a brincadeira podem não estar
envolvidos com o processo de cognição e,
conseqüentemente, não se caracterizar
como uma necessidade. Broom (1998)
enfatiza que o sentimento - componente
das emoções relacionadas ao processo
cognitivo - pode mudar o comportamento
imediatamente ou eventualmente, mas
necessidade não atua desse modo. O não
atendimento
das
necessidades
está
freqüentemente,
mas
nem
sempre,
associado aos sentimentos que prejudicam
o
animal,
enquanto
sentimentos
desenvolvidos pelo animal que favorecem
o bem-estar estão associados à satisfação
das necessidades (Broom e Fraser, 2007).
Estes conceitos elucidam porque brincar
não está tão fortemente associado ao bemestar adequado e passear está mais
associado ao bem-estar pobre. Se a
privação de brincadeiras e passeios não
causam sofrimento a um determinado
animal, brincar e passear para esse animal
não se constitui uma necessidade. Neste
caso específico, o passeio e a brincadeira
não estão envolvidos com o processo de
cognição e, por conseguinte com o
sentimento.
Quando brincar e passear não são
percebidos
como
necessidade,
não
promovem de modo direto a elaboração de
sentimentos e, conseguintemente, não são
fatores que influenciam obrigatoriamente
ao bem-estar dos cães. No entanto, com os
resultados obtidos não é possível saber se
os níveis de motivação de alguns cães,
responsável pela possível indiferença à
brincadeira ou ao passeio, dependem
exclusivamente das características internas
peculiares ao indivíduo, ou se estas
características foram moldadas por
influências do meio ambiente.
Hughes (1988) destacou que quando o
controle ambiental e limitações são
impostos, muitos estímulos externos que
poderiam ativar motivação estariam
ausentes. Neste caso, as limitações
ambientais poderiam impedir a ativação de
mecanismos internos de se expressarem
adequadamente. Um exemplo conhecido é
o comportamento de dormir e se aninhar
das galinhas comerciais que são
governados
por
fatores
internos
importantes que são limitados por
influência ambiental.
Independentemente da gênese de ativação
dos mecanismos internos, se o animal
experimenta frustração o seu bem-estar
estaria comprometido. Se o passeio ou a
brincadeira
não
estão
associados
fortemente ao bem-estar, talvez para o
animal elas não sejam importantes, ou
existam outros fatores associados a essas
duas atividades, que impediriam que elas
por si só se tornassem fatores contribuintes
ao bem-estar. Tanto a boa vontade, o
prazer de brincar e passear com o seu cão,
quanto à falta de entusiasmo para cumprir
uma obrigação, talvez influencie o
momento de interação do cão com o
proprietário. Em ambos os casos, as
diferenças podem ser atribuídas à
qualidade da relação entre o cão e o
proprietário. Estudos de motivação ao
identificarem as necessidades do animal
servem como subsídios para avaliação do
bem-estar de animais cujas necessidades
não são atendidas, contudo, devido a
necessidade ter uma estrutura interna, o cão
deve ser estudado em uma base holística,
ser observado em suas reações fisiológica e
psicológica como um todo.
É importante que estudos futuros busquem
conhecer outros fatores da relação homemanimal que influenciam o bem-estar além
da
progressividade,
atitudes
dos
proprietários e a condição de criação do
cão. Provavelmente, estes fatores poderão
ser conhecidos através de estudos
138
fenomenológicos aplicados a estudos da
psicologia.
6. CONCLUSÕES
A análise dos dados realizada por
intermédio da análise descritiva e da análise
multivariada de correspondência múltipla
nas condições do presente trabalho permitiu
as seguintes conclusões:
A condição corporal e o estado de
tranqüilidade mostraram ser indicadores
mais apropriados para medir o bem-estar
pobre que o bem-estar adequado.
O bem-estar do cão depende de sua
condição corporal.
O tipo de residência não define
necessariamente a categoria de bem-estar.
O cão ao conviver com outros animais de
estimação pode ter uma índole mansa,
apresentar condição corporal ideal e
experimentar bem-estar adequado.
Existe uma associação entre as classes
econômicas e o bem-estar de seus animais.
Nenhuma categoria de progressividade e
atitude positiva está associada de modo
satisfatório ao bem-estar adequado.
A relação da maioria dos proprietários com
seus cães não era satisfatória.
6. CONSIDERACÕES FINAIS
Há algumas décadas, o interesse e a
preocupação acerca do bem-estar animal
têm influenciado a modificação das visões e
atitudes da sociedade, a renovação de
legislações e a garantia da qualidade da
investigação científica.
Este estudo torna patente o desafio de se
desenvolver uma pesquisa acadêmica
envolvendo a relação homem-animal e o
bem-estar de cães. Para alcançar o objetivo
delineado
buscou-se
conceitos
desenvolvidos por estudiosos da área,
aplicou-se
novos
instrumentos
metodológicos e estabeleceu-se indicadores
para a mensuração do bem-estar. A sua
contribuição, ademais de coligir conceitos
teóricos, consiste em mostrar caminhos
metodológicos nunca antes utilizados para
caracterizar a relação homem-animal e a
avaliação do bem-estar do cão.
A sua relevância prática se constitui em
fixar a base intelectual e científica para
crescimento futuro dessas áreas e prover
informação
clínica
prática
para
profissionais e estudantes que lidam com
animais.
Aprimorar a habilidade para identificar as
possíveis causas de sofrimento dos cães tem
valor óbvio para os animais e para os
proprietários. Novos métodos propostos ao
longo das linhas de pesquisas estabelecidas
podem validar os esforços e aguçar as
habilidades de cientistas e técnicos que
tentam de modo peculiar entender a
experiência da relação interespécie.
Provavelmente, a elevação moral resultaria
do uso de tais métodos com suas
implicações de longo alcance. Ela
influenciaria na qualidade da atenção e
permitiria
interações
emocionalmente
seguras e duradouras com vantagens para
ambas as partes. Porém, para a comunidade
científica alcançar um sucesso mais efetivo
teria que tentar entender a experiência
interna dos animais. Estar atenta e sensível
às implicações sociais e psicológicas a fim
de conceber o cão como indivíduo.
A investigação sobre experiência interna
dos animais assumiria certa complexidade
ao
basear-se
em
elucidações
neurofisiológicas dos mecanismos de
neurais
subjacentes
e
mecanismos
139
bioquímicos. Como o comportamento é um
processo, o conhecimento sobre o
funcionamento orgânico que acompanha as
mudanças
emocionais
ajudaria
a
compreensão do sofrimento do animal.
Estes estudos proveriam informações
pertinentes
a
serem
utilizadas
no
aprimoramento das condições de criação
dos cães e no estabelecimento de novos
paradigmas relativos ao comportamento
animal.
Os fatores determinantes do bem-estar
ainda são pobremente compreendidos e
métodos de avaliação do bem-estar
psicológico necessitam ser validados. Temse muita informação sobre necessidades,
mas pouca informação sobre as verdadeiras
causas do bem-estar pobre. Pesquisadores
multidisciplinares de bem-estar animal
deveriam conduzir pesquisas no sentido de
saber por que os cães agem diferentemente
em situações semelhantes. Somente
seguindo esse caminho seria possível saber
com certeza se os cuidados dispensados
pelos proprietários são suficientes e
adequados para lhes proporcionar bem-estar
adequado.
O cão sendo um animal social se submete a
situações que o incitam ao medo, à agressão
e à ansiedade na convivência íntima com o
homem.
Estas
emoções
podem
comprometer o seu bem-estar e colocar em
risco o bem-estar da família que o acolhe.
Provavelmente, os cães que sofrem
instabilidade emocional por conviverem
com uma família humana ainda não estão
programados geneticamente para viver sob
alta pressão, onde a freqüência e a
intensidade de situações especiais que o
induzem às reações de ordem física e
psíquicas capazes de perturba-lhe a
homeóstase, excedem o nível considerado
normal para a sua espécie.
O cão pode ser influenciado pelos
desequilíbrios dos indivíduos humanos em
virtude de sua dependência. Esse
companheiro animal muitas vezes é
impedido de viver uma vida mais próxima
de sua própria natureza. Afastados da
natureza e, portanto, de sua essência, eles
podem refletir e sofrer os mesmos
desequilíbrios das pessoas com quem
convive. O respeito a sua individualidade,
peculiaridades,
necessidades
e
a
oportunidade de passeios ao ar livre,
exercícios e brincadeiras podem servir em
muitas ocasiões como verdadeiros recursos
preventivos contra os desequilíbrios físicos
e emocionais.
Se as pessoas deixarem de conceber o cão
como ser inferior e sem inteligência se
relacionarão de forma mais positiva com
ele, pois se preocuparão mais com a sua
saúde mental e deixarão de ser negligentes,
inconseqüentes e até mesmo abusivas com
eles. O posicionamento correto quando
aprendido por uma criança pode torná-la
uma pessoa respeitosa e aberta com o
restante do mundo. Ela provavelmente se
torna capaz de olhar para as coisas através
dos olhos do animal. Ao atingir a idade
adulta poderá despertar em si mesmo a
necessidade de um cuidar dirigido à
perspectiva do animal inserido em um
ambiente psicossocial. Aprende a respeitar
sua individualidade e a considerá-lo como
um ser singular, com sentimentos e
emoções. Em outras palavras, passa a
conceber o cão com alteridade, ao tentar
compreender o que se passa com ele e a
satisfazer holisticamente suas necessidades
de cuidado.
O conhecimento baseado na fisiologia,
comportamento e necessidades do cão deve
ser o fundamento da nova forma de respeito
e proteção dos direitos desses seres que
compartilham suas vidas conosco. A falta
de conhecimento muito mais que a
negligência, provavelmente é a principal
causa do sofrimento animal. Sofrimentos
resultantes do medo e da ansiedade, por
140
exemplo, podem ser evitados com a
instrução do proprietário e educação
adequada do cão.
A sensibilidade e o comportamento dos
cães precisam ser observados sob uma
perspectiva mais ampla para serem
entendidos completamente. O ambiente
psicossocial no qual o cão vive na
atualidade distingui-se extraordinariamente
dos ecossistemas de seus antepassados.
Profissionais,
como
os
médicos
veterinários, que trabalham diretamente
com animais, deveriam prover aos novos
proprietários informações apropriadas sobre
o status do cão no mundo atual. O cão
como muitos outros animais é um ser
senciente.
O desenvolvimento científico da Medicina
Veterinária realizado em torno da díade
saúde e doença foi conduzido de forma
reducionista e mecanicista. Houve durante
muito tempo por parte dessa ciência
irreflexão acerca de sua responsabilidade na
formulação de ditames morais sobre os
deveres das pessoas em relação aos
animais. O médico veterinário, por estar em
contato direto com os proprietários de cães,
é sem dúvida o profissional mais indicado
para corrigir equívocos relacionados à
criação do cão e instruí-los para a
consecução do bem-estar. No entanto, a
ciência do bem-estar animal por estar
atrelada a ciência animal exige que mais
profissionais
estejam
engajados
na
implementação
de
pesquisas
de
comportamento
para
prover
mais
informação sobre o cão doméstico e auxiliar
na resolução de problemas de bem-estar.
Esta consideração exige que instituições de
ensino em ciência animal neste país
reconheçam a importância de pesquisas na
área de comportamento animal.
O
estabelecimento de metas requererá
propostas para a revisão de conteúdos
programáticos ou disciplinares das matrizes
curriculares de cursos universitários em
ciência animal que deverão incluir
fundamentos teóricos e práticos de etologia.
Logo, fundos de pesquisa deverão ser
alocados para promover o desenvolvimento
de informação básica e aplicada sobre o
comportamento animal.
São muitas as causas que comprometem a
qualidade de vida do cão. A elaboração de
estudos para o conhecimento dessas causas
tornaria os pesquisadores mais capazes para
investigarem psicodinâmica da interação
homem-animal e intervirem junto ao
proprietário a favor do bem-estar do seu
animal.
O cão, a família do proprietário e o
veterinário formam uma relação triangular
complexa, porque este profissional está em
uma posição singular para testemunhar a
interação entre o cão e os integrantes da
família. Contudo, em virtude dos cursos de
graduação em Medicina Veterinária não
incluiem ensinamentos sobre aspectos
psicológicos dos proprietários, os médicos
veterinários são considerados inábeis para
abordar corretamente os problemas e ajudar
no estabelecimento de uma relação homemanimal benéfica para ambas as partes. No
momento histórico em que a relação
interespécie se encontra, é imperioso que se
reconheça o caráter complexo da relação
homem-animal e se estabeleça uma
integração de ciências comprometidas em
promover um ensino que permeie o caráter
sistêmico implícito na relação homemanimal. Hoje em dia na clínica veterinária, a
compreensão do papel do animal no grupo
social humano é de fundamental
importância para muitos diagnósticos ou
prescrição terapêutica nos casos de
distúrbios físicos e/ou comportamentais.
O médico veterinário do futuro terá que
aprender a reconhecer as nuances
emocionais conflitantes do grupo social
onde o cão está inserido. Será inevitável o
seu envolvimento com a complexa
dinâmica da interação de personalidades do
cão e das pessoas com quem convive. Sua
141
formação,
portanto,
deverá
abarcar
conhecimento interdisciplinar que o
conduzirá a outro ramo da saúde
compartilhada por profissionais da ciência
dos
fenômenos
psíquicos
e
do
comportamento.
O exercício da Medicina Veterinária
quando centrada na relação do homem com
o seu animal se distingue da antiga prática
que focaliza o animal isoladamente. Este
novo enfoque coaduna com os princípios do
bem-estar animal. A ciência do bem-estar
animal estuda procedimentos para melhorar
a vida, e os cientistas dão significativa
contribuição às modificações no sistema de
criação dos animais, sejam eles de produção
ou de companhia. Esta ciência foi criada
porque muitos criadores e proprietários não
se esforçam para dar o que é devido aos
animais, esperam que os animais se
adaptem ás suas condições e preferências.
Esta atitude não está moralmente correta.
Um cão só pode ser mantido como
companheiro se conseguir se adaptar
facilmente ao estilo de vida de seu
proprietário. Ele não deverá sofrer angústia
a fim de proporcionar companhia e bemestar ao seu proprietário.
Todo cão merece consideração e têm direito
à melhor qualidade de vida. Suas
necessidades vão além de casa e comida.
Este membro que pertence à associação
denominada família, necessita de cuidados
que favorecerão tanto sua saúde quanto ao
seu equilíbrio emocional. A preocupação
com a sua educação e a atenção às suas
necessidades
físicas
e
psicológicas
consolidam esse respeito. O estudo do bemestar animal resgata e defende os direitos
que estão por natureza inseparavelmente
ligados aos animais. O bem-estar de um
animal é um direito, um direito à vida
digna. Assim como qualquer espécie viva
no universo, o animal tem o direito à
preservação de suas características e de ter
assistidas suas necessidades. Somos todos
criaturas de Deus. É necessária a
conscientização das pessoas quanto à
importância dos animais em nossas vidas.
Estas criaturas possuem consciência,
sentimentos e habilidade cognitiva, mas por
serem destituídas de linguagem, não podem
reivindicar
seus
direitos,
e
conseqüentemente, em muitas situações,
são tratadas com negligencia ou
preconceituosamente relegadas ao desprezo
e ao sofrimento.
O ser humano ao tentar compreender o
sofrimento sob a perspectiva dos animais
promove a sua elevação moral, pois esse
processo requere uma experiência interna
envolvendo projeção, identificação, empatia
e outros sentimentos nobres.
O proprietário consciencioso ao perceber os
problemas apresentados pelo seu animal
deve admitir o tratamento negligente e
tentar modificá-lo. As repetidas tentativas
de proporcionar uma melhor qualidade de
vida para o seu cão talvez reflita em sua
vida familiar e social. Por outro lado, uma
pessoa que se preocupa com o bem-estar do
seu
semelhante,
se
preocupará
verdadeiramente com o bem-estar do seu
cão. O zelo, não será uma obrigação que
leva a negligência, mas o simples
cumprimento de um princípio de vida.
A escolha dos indicadores fundamentou-se
em uma das premissas que define o estudo
científico como subsídio da práxis. Por
intermédio da condição corporal e do
comportamento,
profissionais
que
trabalham com cães podem facilmente fazer
inferências
fundamentais
sobre
as
necessidades e estado interno dos animais,
ademais de avaliar se as condições de
criação comprometem ou não o bem-estar
do animal. A ilação torna-se possível,
porque a caracterização do bem-estar pobre
está associada a alguns comportamentos
anormais exibidos nos estados de
frustração, de conflito, de angústia, de
medo, de dor e em algumas afecções.
Comportamentos anormais empregados
142
como indicadores de bem-estar pobre
podem freqüentemente, estar associados à
ambientes carentes de estímulos e/ou
conflituosos.
Se o comportamento observado é o
resultado da interação entre as instruções
herdadas e o ambiente em que o animal se
desenvolve, a avaliação do bem-estar
canino e o conhecimento das condições de
criação se revelam úteis para ajuizar se a
relação homem-animal, reflexo do ambiente
onde o animal é criado, está sendo bem
conduzida.
Os resultados obtidos neste estudo são
apenas sugestivos de bem-estar pobre. Para
que eles se tornassem conclusivos, seria
necessário demonstrar que uma mudança na
rotina da vida do animal e na relação com o
seu proprietário fosse capaz de alterar a o
estado de intranqüilidade e retornar a
condição corporal ideal.
Possivelmente, as tentativas de adaptação
dos cães que apresentaram intranqüilidade
ou condição física inapropriada não foram
bem-sucedidas, visto que esses animais não
alcançaram controle da estabilidade mental
e corporal. Talvez, se os proprietários
dispensassem mais atenção aos animais e
lhes proporcionassem uma vida mais
prazerosa, suas necessidades seriam
atendidas. Entretanto, em algumas ocasiões,
o atendimento das necessidades pode não
ser suficiente para garantir bem-estar
adequado. Também, neste caso, o sistema
de controle do animal em relação às
adversidades decorrentes do ambiente
psicossocial pode não ser eficiente o
bastante para garantir a sua adaptação.
Estas duas possibilidades estão relacionadas
com os resultados obtidos neste trabalho. A
progressividade e as atitudes positivas dos
proprietários e o cumprimento dos cuidados
básicos relativos à saúde física e mental do
animal é um fato relevante observado neste
estudo por ocasião da apreciação do sistema
de criação. Os altos índices atestam o
comprometimento dos proprietários com a
criação dos seus cães. Contudo, não houve
uma associação entre o desempenho dos
proprietários e a conquista do bem-estar
adequado. Provavelmente este resultado
deve estar relacionado a outros fatores de
natureza subjetiva inerente à interação
interespécie.
Os resultados obtidos exigem estudos
futuros mais específicos e profundos, onde
o pesquisador precisaria estribar-se em
observações diretas e conhecer o mundo da
vida dos proprietários para apreender o
fenômeno em sua essência. A investigação
seria conduzida presencialmente na
residência dos proprietários e os dados
seriam analisados por intermédio de
metodologia fenomenológica para se
descobrir fatores subjetivos importantes
para bem-estar do cão.
A importância dessa direção investigativa
reside na possibilidade de tornar evidente e
premente a necessidade dos pesquisadores
em instituir novas metodologias para
aquisição de conhecimento relativo a
fatores condicionantes do bem-estar do cão.
Para aprimorar as condições de criação
desse animal, é fundamental perceber como
ele se sente em relação às variadas
condições estabelecidas em sua convivência
com os seres humanos. Um problema
relevante no reconhecimento de sentimento
de um animal a partir de observações de
comportamento resulta da possibilidade do
sentimento existir sem haver qualquer
mudança fisiológica ou comportamental
observável. Esta consideração pode ser
verificada
na
ambígua
associação
encontrada da classe da variável ‘tranqüilo’
com o ‘bem-estar adequado’ e o ‘bem-estar
pobre’. A tranqüilidade isoladamente como
um indicador, poderia não indicar com
segurança o bem-estar adequado.
Até que se consiga estabelecer métodos
para conhecer com mais precisão os
143
sentimentos envolvidos na relação homemanimal, os estudos de bem-estar se basearão
em comparações. Um animal ao apresentar
agressividade excessiva e condição corporal
inapropriada estaria menos adaptado ao seu
ambiente que um animal manso com
condição corporal ideal. O bem-estar desse
animal estaria ainda pior se ele estivesse
experimentando sofrimento percebido por
seu estado de intranqüilidade.
Assim, a negação da hipótese deste estudo
serve como um subsídio para estudos
adicionais ao demonstrar que as atitudes
positivas,
a progressividade dos
proprietários e as boas condições de criação
não são fatores determinantes para a
promoção do bem-estar animal e, ao mesmo
tempo, permite afiançar que o ser humano
está testemunhando o começo de uma
tendência ética favorável para a relação
homem-animal. Não obstante, apesar das
melhorias registradas, a qualidade dessa
relação ainda é insatisfatória para muitos
cães que vivem provavelmente em
condições comprometedoras para o seu
bem-estar.
Futuros estudos deverão comprometer-se
em revelar conexões de alguns aspectos do
ambiente psicossocial e o bem-estar do cão.
Para tanto, devem considerar a sugestão de
Duncan (1996, p.34) “Nós temos que
inventar modos de perguntar para o animal
o que ele sente sobre as condições debaixo
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Apêndice A, p.125.
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160
ANEXO 1
Termo de Consentimento Livre a Esclarecido
Você está sendo convidado para participar de uma pesquisa cujo objetivo é
investigar e caracterizar a relação homem-animal na Região Administrativa Pampulha da
cidade de Belo Horizonte.
Esta pesquisa conduzida pela médica veterinária Sheila Regina Andrade Ferreira,
sob a orientação do Professor Ivan Barbosa Machado Sampaio, está vinculada à sua Tese de
Doutoramento desenvolvida na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas
Gerais.
Os dados obtidos serão mantidos sob completo sigilo quanto a sua procedência.
Estes registros, sob a forma de dados estatísticos, poderão ser utilizados posteriormente em
encontros científicos a acadêmicos.
Declaro que li o presente documento e recebi informações claras sobre os objetivos da
pesquisa.
Belo Horizonte, ______de _____________________ de________
____________________________________________________________________
Assinatura do proprietário do animal
Esse projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação em Animal CETEA e pelo Comitê de Ética em Pesquisa - COEP
Telefones: CETEA (3499- 4516)
COEEP (3499- 4592)
Endereços eletrônicos: cetea@ prpq.ufmg.br - [email protected]
Endereço: Av. Antônio Carlos, 6627 – Unidade Administrativa II – 2º andar, sala 2005.
Campus Pampulha – Pampulha – Belo Horizonte – CEP 31270-901
161
ANEXO 2
Formulário referente à identificação do cão e a caracterização socioeconômica
Identificação do Proprietário
Data : .......................
Número do proprietário: ...............
Nome do proprietário: .......................................................................................................
Endereço: ........................................................................................ Telefone: ................
Identificação do cão
01. Nome do cão:.............................. 02. Sexo ( ) 03. Raça: ........................................
04. Idade:......
Caracterização socioeconômica
2. Sexo do proprietário: ( ) masculino ( ) feminino
3. Estado civil:
3.1 ( ) Solteiro
3.2 ( ) Casado
3.3 ( ) Outros
Numero de pessoas no domicilio:
4.1 _____ Adulto
4.2 _____ Criança
4.3 _____ Adolescente
5. Renda familiar (Segundo critério da ANEP)
5.1 (
5.2 (
5.3 (
5.4 (
5.5 (
5.6 (
5.7 (
) Classe A1 - R$ 7.793
) Classe A2 - R$ 4.648
) Classe B1 - R$ 2.864
) Classe B2 - R$ 1.669
) Classe C - R$ 927
) Classe D - R$ 424
) Classe E - R$ 267
6. Escolaridade do proprietário (Segundo critério da ANEP)
6.1 ( ) Primário completo / Ginasial incompleto
6.2 ( ) Ginasial completo / Colegial incompleto
6.3 ( ) Colegial completo/l Superior incompleto
6.4 ( ) Superior completo
7. Tipo de habitação:
( ) Casa
( ) Apartamento
8. Tem outros animais de estimação?
( ) Sim
( ) Não
162
ANEXO 3
Formulário referente ao sistema de criação (perguntas e observações)
1. Espaço disponível:
(
) satisfatório
(
) insatisfatório
2. Liberdade do animal: ( ) livre
( ) acorrentado
( ) canil
3. Acesso às dependências internas da residência:
4. Local onde dorme:
(
(
) sim
(
) não
) dependências internas (
) dependências externas
5. Permanência em domicilio: (
) domiciliado
(
) semi-domiciliado
6. Manejo alimentar
(
) satisfatório
(
) insatisfatório
(
) ração
(
) comida caseira
7. Higienização correta do local onde urina e defeca: (
) satisfatório
(
) insatisfatório
8. Higienização do local onde dormem:
(
) satisfatório
(
) insatisfatório
9. Freqüência de banho:
(
) satisfatório
(
) insatisfatório
10. lmunização contra raiva:
(
) sim
(
) não
11. Imunização contra outras doenças infecciosas:
(
) sim
(
) não
12. Vermifugação:
(
) sim
(
) não
13. Controle de parasitos externos:
(
) sim
(
) não
14. Tratamento respeitoso:
(
) satisfatório
(
) insatisfatório
15. Ensejo para brincadeira e exercício diários:
(
) satisfatório
(
) insatisfatório
16. Ensejo para passeios:
(
) satisfatório
(
) insatisfatório
163
ANEXO 4
Formulário referente à avaliação física e comportamental do animal
(Perguntas a observações)
Avaliação do animal I - Avaliação corporal:
(
) ideal
(
) inapropriada
Avaliação do animal II - Índole:
(
) manso
(
) agressivo
) tranqüilo
(
) intranqüilo
Avaliação do animal III - Estado de tranqüilidade: (
164
ANEXO 5
QUESTIONÁRIO
Proprietário Tradicional
1. O cão é um animal, deve ser tratado como qualquer outro animal de criação.
1.1 (
1.2 (
1.3 (
1.4 (
1.5 (
1.6 (
1.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
2. É o caráter do animal que define a qualidade da relação homem-animal.
2.1 (
2.2 (
2.3 (
2.4 (
2.5 (
2.6 (
2.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
3. Eu sou um proprietário tradicional. O conhecimento adquirido durante a minha vivência é suficiente para
criar corretamente o meu cão.
3.1 (
3.2 (
3.3 (
3.4 (
3.5 (
3.6 (
3.7 (
)
)
)
)
)
)
)
discordo totalmente
discordo parcialmente
discordo um pouco
não sei
concordo um pouco
concordo parcialmente
concordo totalmente
4. Instruir-me sobre como promover o bem-estar animal, não tornaria melhor a minha convivência com o
meu cão.
4.1 (
4.2 (
4.3 (
4.4 (
4.5 (
4.6 (
4.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
5. Eu estou satisfeita com a criação do meu cão. Quero manter as coisas como estão.
5.1 (
5.2 (
5.3 (
5.4 (
5.5 (
5.6 (
5.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
165
6. A promoção ao bem-estar animal leva ao consumismo.
6.1 (
6.2 (
6.3 (
6.4 (
6.5 (
6.6 (
6.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
Atitudes negativas
7. Não é importante adquirir conhecimento sobre característica da raça e comportamento animal para se criar
corretamente um cão.
7.1 (
7.2 (
7.3 (
7.4 (
7.5 (
7.6 (
7.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
8. Cuidar de um animal é fácil. É só dar casa e comida e vaciná-lo.
8.1 (
8.2 (
8.3 (
8.4 (
8.5 (
8.6 (
8.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
9. Não é importante buscar informação sobre como proporcionar bem-estar ao cão, qualquer pessoa sabe
exatamente como cuidar de seu cão.
9.1 (
9.2 (
9.3 (
9.4 (
9.5 (
9.6 (
9.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
10. A promoção do bem-estar animal custa dinheiro e toma muito tempo, coisas que não são muito fáceis de
dispor.
10.1 (
10.2 (
10.3 (
10.4 (
10.5 (
10.6 (
10.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
166
11. A educação do cão é algo que acontece espontaneamente, não exige muita preocupação.
11.1 (
11.2 (
11.3 (
11.4 (
11.5 (
11.6 (
11.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
12. Creio que todo o movimento mundial a favor da causa animal é modismo.
12.1 (
12.2 (
12.3 (
12.4 (
12.5 (
12.6 (
12.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
Progressividade
13. Alguns sentimentos experimentados pelos seres humanos tais como medo, agonia, ansiedade, solidão,
tristeza e alegria são também experimentados por animais.
13.1 (
13.2 (
13.3 (
13.4 (
13.5 (
13.6 (
13.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
14. Os animais possuem direitos, devem ser protegidos por lei.
14.1 (
14.2 (
14.3 (
14.4 (
14.5 (
14.6 (
14.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
15. A relação homem-animal traz benefícios para a saúde e qualidade de vida do homem.
15.1 (
15.2 (
15.3 (
15.4 (
15.5 (
15.6 (
15.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
167
16. Animais podem atuar na recuperação de um doente sob a supervisão de uma equipe médica.
16.1 (
16.2 (
16.3 (
16.4 (
16.5 (
16.6 (
16.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
17. A experiência de vida nos mostra que, de um modo geral, está havendo mais consideração para com os
cães.
17.1 (
17.2 (
17.3 (
17.4 (
17.5 (
17.6 (
17.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
18. Os protestos organizados mundialmente contra os maus-tratos praticados contra os animais influenciam
positivamente o relacionamento do dono com o seu cão
18.1 (
18.2 (
18.3 (
18.4 (
18.5 (
18.6 (
18.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
Atitudes positivas
19. Antes de adquirir um animal devemos considerar a raça mais adequada, a disponibilidade de espaço, de
recursos e de tempo.
19.1 (
19.2 (
19.3 (
19.4 (
19.5 (
19.6 (
19.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
20. Conhecer as necessidades físicas e psicológicas dos cães nos permite entendê-los e tratá-los
apropriadamente.
20.1 (
20.2 (
20.3 (
20.4 (
20.5 (
20.6 (
20.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
168
21. Promover o bem-estar animal significa também preocuparmos com a sua saúde física e mental.
21.1 (
21.2 (
21.3 (
21.4 (
21.5 (
21.6 (
21.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
22. 18. Favorecer o bem-estar animal economiza idas ao veterinário.
22.1 (
22.2 (
22.3 (
22.4 (
22.5 (
22.6 (
22.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
23. A promoção do bem-estar animal deve ser preocupação corrente de todas as pessoas que convivem com
o cão.
23.1 (
23.2 (
23.3 (
23.4 (
23.5 (
23.6 (
23.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo totalmente
24. A preocupação com o bem-estar animal beneficia a relação homem-animal.
24.1 (
24.2 (
24.3 (
24.4 (
24.5 (
24.6 (
24.7 (
) discordo totalmente
) discordo parcialmente
) discordo um pouco
) não sei
) concordo um pouco
) concordo parcialmente
) concordo
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