FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO ACADÊMICO EM PSICOLOGIA FAGNER ALFREDO ARDISSON CIRINO CAMPOS A ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO DA DEPRESSÃO EM ADULTOS (PDDA): UMA EXPERIÊNCIA NO CAPs II Porto Velho - RO 2015 FAGNER ALFREDO ARDISSON CIRINO CAMPOS A ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO DA DEPRESSÃO EM ADULTOS (PDDA): UMA EXPERIÊNCIA NO CAPs II Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Programa de PósGraduação Mestrado Acadêmico em Psicologia (MAPSI) da Fundação Universidade Federal de Rondônia, como requisito para obtenção do título de Mestre em Psicologia. Orientador: Prof. Dr. Fabio Biasotto Feitosa. Linha de Pesquisa: Psicologia da Saúde e Processos Psicossociais. Porto Velho - RO 2015 FICHA CATALOGRÁFICA BIBLIOTECA PROF. ROBERTO DUARTE PIRES C198e Xxxxxx Campos, Fagner Alfredo Ardisson Cirino A elaboração do protocolo de diagnóstico da depressão em adultos (PDDA): uma experiência no CAPs II / Fagner Alfredo Ardisson Cirino Campos. - Porto Velho, Rondônia, 2015. 93f. Orientador: Prof. Dr. Fabio Biasotto Feitosa Dissertação (Mestrado Acadêmico em Psiciologia) - Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR 1.Gestão em saúde. 2.Psiquiatria. 3.Depressão – protocolo clínico. I. Feitosa, Fabio Biasotto II. Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR.III. Título. CDU: 616.89-008.454 Bibliotecária Responsável: Carolina Cavalcante CRB11/1579 Dedico a Deus, a minha família e aos meus amigos. Dedico, especialmente, ao meu querido orientador, Fabio Biasotto Feitosa, professor Clarides, Marinete Ardisson, Maria Ivanildes Silva de Azevedo, Christian Felipe Ardisson Campos, Maria Cristina, Rafael João Sampaio, equipe de saúde mental do CAPS II e a CAPES. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela sabedoria em guiar-me na execução desta pesquisa. A minha mãe, por me apoiar no mestrado e sempre dizer: Vá em frente!!! Ao meu orientador, por ser paciente e contribuir com seu tempo e sabedoria. Aos meus amigos, por estarem sempre ao meu lado. A Maria Ivanildes Silva de Azevedo, por sua amizade durante o mestrado. E, ao professor Clarides, por suas sugestões. A professora Ana Maria, por sua contribuição. Não há bem maior que o da saúde. Porque ela é a vida. E a vida deve ser a preocupação fundamental da sociedade humana. Quando a vida é desrespeitada, amesquinhada, na pessoa dos cidadãos, é a sociedade que se humilhou, se aviltou e envileceu. (Waldir Pires) A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê. (Arthur Schopenhauer) CAMPOS, Fagner Alfredo Ardisson Cirino. A Elaboração do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA): Uma experiência no CAPs II. 2015. 93 f. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, RO, 2015. RESUMO Ofertar condições adequadas de atendimento nos sistemas de saúde, sendo público ou privado, requer que o tratamento esteja ajustado às especificidades do diagnóstico e da pessoa. A utilização de um protocolo de diagnóstico deve favorecer a identificação de transtornos mentais por sistematizar o trabalho avaliativo de reconhecimento dos seus sintomas pelos profissionais da saúde. Sendo assim, a presente pesquisa teve como objetivo geral elaborar um protocolo para o diagnóstico da depressão em adultos. A metodologia seguiu os passos da pesquisa participante. Esta implica necessariamente na participação colaborativa, tanto dos pesquisadores, como também dos participantes da pesquisa. A pesquisa participante tem um forte caráter no sentido de trabalhar com problemas reais proporcionando ações que gerem conhecimento para a solução do problema. Assim, participaram desta pesquisa os profissionais da saúde que compõem a equipe interdisciplinar do Centro de Atenção Psicossocial, nível II, de Porto Velho-RO (Brasil), sendo 03 psicólogas, 01 enfermeiro e 01 assistente social, além do pesquisador principal e secundário. A presente pesquisa resultou na elaboração de uma tecnologia leve-dura denominada de Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA) e seu manual. Foi feita também, uma testagem piloto deste protocolo pela equipe de saúde mental que participou da presente pesquisa. Para construção do PDDA foram utilizadas as diretrizes de elaboração de protocolos clínicos do Grupo Hospitalar Conceição do Rio Grande do Sul e usada como fundamentação científica para diagnósticos a Classificação Internacional dos Transtornos Mentais e de Comportamento da CID10; para a elaboração do Manual do PDDA foi feita uma revisão não sistemática da literatura nacional e internacional. Para a validação do protocolo pela equipe de saúde mental, o PDDA foi submetido aos mesmos que avaliaram a operatividade, uso em serviço de saúde, sugestões, potencialidades e dificuldades. Portanto, o PDDA mostrou ser uma tecnologia leve-dura que pode ser utilizada no serviço de saúde mental e em qualquer serviço de saúde pública ou privado para facilitar o diagnóstico da depressão, permitido que o paciente ou usuário seja encaminhado à rede de saúde mental para iniciar o tratamento precoce. Entretanto é necessário considerar que este protocolo ainda precisa ser aplicado em pesquisas científicas com delineamentos mais robustos para sua validação na especificidade do diagnóstico da depressão. Palavras-chave: Gestão em saúde. Psiquiatria. Protocolo clínico. Depressão. CAMPOS, Fagner Alfredo Ardisson Cirino. The Elaboration of a Protocol of Depression Diagnosis in Adults (PDDA): An Experience in CAPS II. 2015. 93 f. Dissertation (Master’s Degree) – Psychology Department, Federal University of Rondonia, Porto Velho, RO, 2015. ABSTRACT Offering adequate assistance conditions in both public and private health systems requires that the treatment be adjusted to the specificities of the diagnosis and the person. The use of a diagnosis protocol must support the identification of mental disorders by systemizing the evaluative work through which the health professionals recognize the symptoms. As such, this research generally aimed to elaborate a protocol for the diagnosis of depression in adults. The methodology followed the guidelines of the participatory research. This necessarily involves the collaborative participation of both the researchers and the participants of the research. The participatory research is strongly characterized by working with real problems offering actions that produce knowledge for problem-solution. As such, the health professionals who compose the interdisciplinary staff of the Psychosocial Care Centre- level II- in Porto Velho –RO (Brazil) took part of the research: 03 psychologists, 01 nurse and 01 social worker besides the main and secondary researchers. This research resulted in the elaboration of a light-hard technology denominated Protocol for the Diagnosis of Depression in Adults (PDDA) and its guide. A pioneer testing with this protocol was done by the mental health staff that took part of this research. For the construction of the PDDA, the protocol elaboration guidelines of Conceição Hospital Group from Rio Grande do Sul were used as well as the International Classification of Diseases ICD-10 for the scientific validity of the diagnoses. A non-systematic revision of national and international literature was conducted for the elaboration of the PDDA guide. For the validation of the protocol by the Mental Health staff, the PDDA was submitted to them. These assessed its operability, use in Health Services or in any other public or private health service in order to facilitate the diagnosis of depression, enabling that the patient or user be referred to the Mental Health network to initiate the precocious treatment. Keywords: Health Management. Psychiatry. Clinical Protocol. Depression LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CAPs Centros de Atenção Psicossocial CID-10 Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde GHC Grupo Hospitalar Conceição HS Habilidades Sociais NOAS Normas Operacionais de Assistência à Saúde OMS Organização Mundial da Saúde PDDA Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos PNA Política Nacional de Humanização PTS Projeto Terapêutico Singular SUS Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11 2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................15 2.1 O SUS - CONCEITOS FUNDAMENTAIS E SAÚDE MENTAL ...........................15 2.2 CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, MODELO BIOPSICOSSOCIAL E BIOPSICOSSOCIOESPIRITUAL ........................................................................20 2.3 MULTIDISCIPLINARIDADE, TRABALHO MULTIPROFISSIONAL, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE EM SAÚDE MENTAL .............................................................................................................25 2.4 CASE MANAGEMENT EM SAÚDE MENTAL E O PAPEL DO ENFERMEIRO ..28 2.5 DEPRESSÃO ......................................................................................................34 2.6 PROTOCOLOS CLÍNICOS NA SAÚDE MENTAL...............................................38 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA .....................................44 3.1 A PESQUISA PARTICIPANTE COMO ESCOLHA METODOLÓGICA E TECNOLOGIA EM SAÚDE .................................................................................44 3.2 LOCAL.................................................................................................................48 3.3 PARTICIPANTES ................................................................................................48 3.4 PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS ....................................................49 3.4.1 Primeira fase da pesquisa participante: construção do protocolo de diagnóstico da depressão – PDDA e seu manual ......................................49 3.4.2 Segunda fase: reunião com a equipe de saúde mental e discussão dos objetivos da presente pesquisa ..................................................................51 3.4.3 Terceira fase da pesquisa participante: aplicação do questionário a equipe de saúde mental para validação do protocolo diagnóstico da depressão (ver p. 89) ....................................................................................52 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................53 4.1 MANUAL DO PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO DA DEPRESSÃO EM ADULTOS (PDDA) ..............................................................................................55 4.1.1 Critérios do diagnóstico da depressão em adultos ....................................55 4.1.1.1 Depressão Leve (F32.0); Depressão Moderada (F32.1) e Depressão Grave (F32.2) .......................................................................................................................55 4.1.1.2 Depressão Grave com Sintomas Psicóticos (F32.3) .....................................56 4.1.1.3 Outros Episódios Depressivos (F32.8) ..........................................................57 4.1.1.4 Depressão Atípica (F32.9) .............................................................................57 4.1.1.5 Depressão Secundária (F06.32)....................................................................57 4.1.1.6 Depressão Bipolar (F31. 3 A F31. 6) .............................................................57 4.1.1.7 Depressão Pós-Parto (F53.0) ........................................................................58 4.1.1.8 Depressão Recorrente Leve (F33.0) .............................................................58 4.1.1.9 Depressão Recorrente Moderada (F33.1) .....................................................59 4.1.1.10 Depressão Recorrente Grave (F33.2) .........................................................59 4.1.1.11 Depressão Recorrente Grave com Sintomas Psicóticos (F33.3).................59 4.1.1.12 Transtorno Depressivo Recorrente, Atualmente em Remissão (F33.4) ......60 4.1.1.13 Outros Transtornos Depressivos (F33.8) ....................................................60 4.1.1.14 Transtorno Depressivo Recorrente, Atípico (F33.9) ....................................60 4.1.1.15 Ciclotimia (F34.0) ........................................................................................61 4.1.1.16 Distimia (F34.1) ...........................................................................................61 4.1.1.17 Outros Transtornos Persistentes do Humor (Afetivos (F34.8); Transtorno Persistente do Humor (Afetivo), Não Especificado (F34.9) .......................................61 4.1.1.18 Episódio Afetivo Misto (F38.00); Transtorno Depressivo Breve Recorrente (F38.10); Outros Transtornos Especificados do Humor (F38.8); Transtorno do Humor (Afetivo), Não Especificado (F39) ..............................................................................62 4.2 VIABILIDADE DO USO DE PROTOCOLO PELA EQUIPE DE SAÚDE MENTAL ............................................................................................................................63 5 CONCLUSÕES ......................................................................................................71 REFERÊNCIAS .........................................................................................................74 APÊNDICES .............................................................................................................87 APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA EQUIPE DO CAPS II .................................................................................................88 APÊNIDECE B – QUESTIONÁRIO DE VALIDAÇÃO DO PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO DA DEPRESSÃO EM ADULTOS (PDDA) .......................................89 ANEXO......................................................................................................................90 ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ................................................................................................................91 11 1 INTRODUÇÃO O presente pesquisador iniciou sua carreia universitária quando ingressou no curso superior de enfermagem e, ali, teve uma estrutura curricular exigente e voltada para o cuidado integral, permeado pela interdisciplinaridade na saúde. Ainda na universidade, cursou o estágio curricular em gerenciamento do cuidado de enfermagem, produzindo um portfólio profissional com os principais protocolos de enfermagem que elaborou e instituiu em uma unidade hospitalar de cuidados críticos, apresentando eficiência no serviço, de forma empírica. Logo, depois de formado, atuou como enfermeiro assistencialista em uma clínica médica e sentiu a necessidade de cursar um mestrado em psicologia por entender que lhe possibilitaria novos conhecimentos na gestão de trabalho, liderança, e principalmente um embasamento psicossocial do ser humano. A primeira ideia, de realizar uma pesquisa de mestrado, que trabalhasse com a construção de protocolo clínico de saúde, surgiu da oportunidade de participar do grupo PET-Saúde do Psicólogo Fabio Biasotto Feitosa (orientador desta pesquisa e pesquisador secundário) como enfermeiro. Neste grupo, o estudo era dirigido para a depressão, e percebemos que na saúde mental há carência de protocolos de saúde. Assim, resolvemos embarcar na ideia de produzir um protocolo de saúde interdisciplinar. A meta foi elaborar um protocolo de diagnóstico interdisciplinar para depressão do Centro de Atenção Psicossocial em que o grupo PET-Saúde ocorria. A literatura é clara ao referir que os protocolos não são impostos verticalmente, ou seja, são construídos com base na realidade do estabelecimento de saúde, respeitando os recursos materiais e humanos. Estes são elaborados para solucionar um problema de saúde. Dessa forma, foi necessário frequentar o CAPs II no período em que não havia programação no mestrado, para conhecer o problema de saúde pública a ser resolvido pelo protocolo proposto. Além disso, havia a necessidade de conhecer os profissionais, os recursos disponíveis e as dificuldades na assistência da saúde. Após várias visitas, constatou-se que os pacientes com transtornos depressivos demoravam 30 dias, ou mais, para serem atendidos por um psiquiatra. Fato que justificava a necessidade de elaborar um protocolo de operacionalização do diagnóstico da depressão, para que ao se identificar o transtorno depressivo, o paciente tivesse seu tratamento iniciado por um profissional de saúde, visto que a 12 morosidade no tratamento da depressão aumenta o risco de suicídio (LEWIS et al., 2010; SCHMIDT; OGUSSO, 2010; XIMENES NETO et al., 2009) e piora o quadro da doença (SANTOS et al., 2010; WHO, 2014). Outro aspecto relevante foi o fato de não haver um protocolo para direcionar o diagnóstico da depressão, especificamente nos protocolos do Ministério da Saúde. Futuramente, a depressão será a doença que mais atingirá os seres humanos, precisando de intervenções de saúde pública conduzidas por profissionais que saibam lidar com o problema e saibam utilizar com equidade os recursos públicos. Neste contexto, a justificativa desta pesquisa caracteriza-se na elaboração de um protocolo clínico para o diagnóstico da depressão, sendo necessário para efetivar e desfragmentar o serviço de saúde mental oferecido em um CAPs II. Sua elaboração é justificada pelo fato de a depressão ser um transtorno mental que, segundo a literatura, possui diagnóstico clínico subestimado ou camuflado em outras patologias. Este instrumento tem a função de proporcionar o esclarecimento do diagnóstico de depressão por meio de procedimentos padronizados e baseados na literatura científica atual. E proporciona a valorização do trabalho em equipe interdisciplinar, atendendo a filosofia e regulamentos do SUS, e pode garantir o atendimento integral em saúde mental, operacionalizando o atendimento do serviço em um enfoque biopsicossocioespiritual. Além do mais, a elaboração de um protocolo em saúde mental que oriente e que ofereça subsídios à equipe de saúde é fundamental no novo paradigma que vem sendo discutido na literatura, apresentando que em 20 anos, esta patologia será a segunda causa de doença incapacitante em todo o mundo. Fomentando a crescente necessidade de cuidados humanizados, sólidos e específicos (OMS, 2001). Consultando a literatura, percebe-se que não existe uma diretriz clínica do Ministério da Saúde que oriente o tratamento de depressão (BRASIL, 2001d) e os protocolos de saúde mental são vagos e inoperantes, sem descrever as funções da equipe de saúde nesse serviço, principalmente no CAPs (BRASIL, 2004b), Existe também, a justificativa pessoal de se contribuir com a elaboração de um protocolo de diagnóstico da depressão na região Amazônica, como forma de orientar as ações dos profissionais de saúde que atuam nesse cenário, de forma que sua assistência em saúde mental seja sistematizada e humanizada. Deste modo, a problemática desta pesquisa pode ser caracterizada de modo a compreender que os protocolos clínicos viabilizam a sistematização e 13 padronização dos tratamentos de doenças, e que, quando conduzidos adequadamente, produzem resultados positivos em saúde (OLIVEIRA et al., 2013). Por isso, se faz necessário elaborar e implementar nos serviços de saúde mental, seguindo as premissas biopsicossocioespiritual e interdisciplinar, um protocolo para o diagnóstico da depressão. Padronizar critérios de diagnósticos segundo a CID-10 possibilita que os profissionais de saúde possam diagnosticar a depressão precocemente e iniciar o tratamento no serviço de saúde mental com maior eficácia. Pois, na legislação brasileira vigente, é permitido que profissionais não médicos realizem diagnósticos clínicos quando amparados por protocolos do SUS (BRASIL, 2013b). Neste presente trabalho será utilizado o manual das diretrizes clínicas/protocolos assistenciais do Grupo Hospitalar Conceição do Rio Grande do Sul (2008), publicado na revista científica Movimento & Perspectivas em Saúde, pois ele é sistemático e baseado em saúde fundamentada em evidência científica (BRASIL, 2008a). O Grupo Hospitalar Conceição é Referência no atendimento do Sistema Único de Saúde, é formado pelos hospitais Conceição, Criança Conceição, Cristo Redentor e Fêmina, além da UPA Moacyr Scliar, de 12 postos de saúde do Serviço de Saúde Comunitária, de três Centros de Atenção Psicossocial e do Centro de Educação Tecnológica e Pesquisa em Saúde. No GHC é oferecido um serviço de saúde que garanta o acesso ao atendimento universal e gratuito e, portanto, estão de portas abertas para que a população tenha o seu direito à saúde. O GHC é vinculado ao Ministério da Saúde, formando a maior rede pública de hospitais do Sul do país, com atendimento 100% pelo SUS. Com uma oferta de 1.410 leitos, é responsável pela internação de 56,7 mil gaúchos por ano. Esta instituição também possui uma equipe de 9.491 profissionais, sendo responsável por cerca de 1,4 milhão de consultas e outras 30,9 mil cirurgias anuais. Em exames, o Grupo contabiliza cerca de 3,7 milhões por ano (GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO, 2015). Deste modo, esta pesquisa possui a seguinte questão: Para a construção do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA) poderiam ser seguidas as diretrizes do manual de elaboração de protocolos clínicos do Grupo Hospitalar Conceição (2008) do Rio Grande do Sul? O processo de pesquisa foi guiado pelos seguintes objetivos: a) Objetivo geral: Elaborar um protocolo para o diagnóstico da 14 depressão em adultos. b) Objetivos específicos: - Caracterizar os diferentes tipos de depressão obtendo dados de prevalência como parte do processo de construção do Manual do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA); - Aplicar o manual para elaboração de protocolos clínicos do Grupo Hospitalar Conceição (2008) do Rio Grande do Sul na elaboração de um Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA); - Empreender uma avaliação piloto da viabilidade de uso do protocolo de diagnóstico da depressão pela equipe interdisciplinar de saúde mental que participaram da pesquisa. 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO Este item consiste em realizar uma revisão da produção cientifica existente, de forma que seja verificado o estado do problema de pesquisa. Tem o objetivo de fundamentar e nortear o presente estudo realizado nesta dissertação. 2.1 O SUS - CONCEITOS FUNDAMENTAIS E SAÚDE MENTAL O Sistema Único de Saúde foi marcado por processos histórico-sociais que determinavam as ações políticas do Brasil. Dos anos de 1967 até 1970, a saúde era, predominantemente, conduzida pela rede privada, com poucos investimentos em serviços de saúde pública. Na década de 1980, com a crise da previdência social, houve crítica em relação à eficiência do sistema de saúde vigente, que incluía apenas os assegurados com trabalho formal, havendo a necessidade de uma reforma sanitária no Brasil que considerasse a universalidade, descentralização, integridade e controle social. Este movimento de reforma sanitária foi representado por conselhos de classes, associações, entidades profissionais e a frente parlamentar, comungando para a promulgação do SUS na constituição federal, como direito do cidadão brasileiro (CORDEIRO, 2005; SANTOS, 2009). O SUS foi instituído na Constituição Federal de 1988, na seção II, que dispõe a saúde como um direito de todos os cidadãos brasileiros e dever do Estado, especificando que o financiamento desse sistema seria com recursos do orçamento público para implementar políticas e ações de promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1988; BRASIL, 2009d). A Lei Orgânica da Saúde, de n. 8.080/1990 (regulamentada pelo decreto n. 7.508/2011), é enfática ao dispor que todas as ações e serviços de saúde disponíveis e prestados por qualquer órgão ou instituições públicas constituem o Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1990a). O SUS está em construção a partir da implementação de ações concomitantes e articuladas que priorizam a universalidade de acesso, integralidade, descentralização, participação social e padrões de gestão do sistema, para atenderem a necessidade do indivíduo e população (SANTOS, 2009; BRASIL, 1990b). 16 Ainda, no artigo 7, da Lei n. 8.080/1990, são mencionados, os princípios do SUS, que devem ser seguidos pelas instituições de saúde pertencentes a esse sistema, a saber: I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII - participação da comunidade; IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo: a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios; b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde; X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. A citação anterior reforça que o SUS prioriza a integralidade e equidade no acesso a saúde. Revolucionando os conceitos de saúde utilizados na época, que eram curativos. Treze anos depois, a Lei n. 12.864/2013 revogou o artigo terceiro da lei 8080/1990, considerando a determinação socioeconômica do processo saúdedoença, reconhecendo a multicausalidade no adoecer, in verbis: Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais (BRASIL, 2013c). Conforme a citação anterior evidencia-se os conceitos primordiais de saúde coletiva, em que a saúde é determinada e condicionada pela forma de viver e trabalhar dos usuários do serviço público de saúde. Portanto, o acesso à 17 alimentação, moradia, saneamento etc, determinarão a qualidade de vida e influenciará no processo de saúde doença. Figueiredo e Tonini (2008) assim sintetizam os princípios doutrinários do SUS: a) Universalidade: garantia de assistência gratuita à saúde a qualquer cidadão; b) Integralidade da assistência: o usuário do serviço é atendido como um ser integral e biopsicossocial, com ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação; c) Equidade: é a garantia de ações, procedimentos ou qualquer serviço em todos os níveis do SUS, conforme a complexidade exigida em cada caso e situação, sem privilégios ou barreiras. Os recursos de saúde são disponibilizados conforme a necessidade de cada usuário; d) Descentralização político-administrativa: parte do pressuposto de quem está mais próximo da população possui maior probabilidade de acertar na solução dos problemas de saúde. Por isso o SUS contempla o governo federal, estadual e municipal de forma descentralizada e cooperante; e) Participação da comunidade: ocorre por meio de conselhos regionais, intensificando a democracia do sistema, visto que dispõe de mecanismos para assegurar o direito e a participação de todos os segmentos envolvidos. Em consonância com estes princípios, o Ministério da Saúde lançou, em 2003, a Política Nacional de Humanização - conhecida como “HUMANIZASUS”. Essa política definiu humanização como a valorização dos diferentes sujeitos participantes do processo de produção de saúde. A PNH é operacionalizada de maneira que fortaleça o trabalho em equipe multidisciplinar, reduza filas e tempo de espera, fragmentação do processo de trabalho e burocratização, proporcionando o acesso e atendimento acolhedor, acompanhamento do usuário e ampliação do diálogo entre os profissionais de saúde, com ênfase na resolutividade do serviço (BRASIL, 2004a). A PNH segue o conceito de clínica ampliada, a definição de protocolos clínicos, efetivação de protocolos de referências e contra-referência para a otimização do atendimento do usuário pela equipe multidisciplinar, com diferentes saberes, terapêutica e reabilitação, reportando a existência de acolhimento e avaliação de risco (BRASIL, 2004a). 18 Humanizar é cuidar do ser humano em todas as suas dimensões, incluindo a saúde mental. Esta precisa ser orientada pela humanização e qualidade no serviço oferecido, criando estratégias de modificação da realidade do usuário e desfazendo o modelo psiquiátrico focado na patologia. O serviço oferecido pela saúde mental necessita ser integrado à rede de cuidado e princípios do SUS (DIMENSTEIN, 2004). Para conceituar a saúde mental, é necessário, considerar o contexto de tempo e espaço, a capacidade de adaptação ao meio-ambiente em que os indivíduos recorrem aos mecanismos de defesas adequados para solução das dificuldades impostas. As habilidades de indivíduos mentalmente saudáveis são: percepção acurada da realidade, demonstração de certo domínio do ambiente, produção de pensamentos e ações independentes, aceitação de suas potencialidade e limitações, obtenção de uma visão unificadora e integradora sobre a vida (MELO, 2009). Para Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001), a saúde mental é interligada com saúde física e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. A saúde mental é um estado que abrange o bem-estar subjetivo, autoconfiança, autonomia, competência, dependência e autorrealização. Já os transtornos mentais são considerados condições clínicas que caracterizam alterações de pensar, humor e comportamentos inapropriados, atendendo clinicamente sinais e sintomas específicos. É difícil de definir um conceito universal de saúde metal, pois os elementos culturais influenciam nessa definição, como também a percepção individual. A incompreensibilidade e relatividade cultural estão presentes na definição de saúde mental. Incompreensibilidade é quando os observadores, por não entenderem determinado comportamento rotulam como doente mental. Já relatividade cultural significa que um comportamento que é normal em uma cultura pode ser inapropriado em outra. Assim, saúde mental poderia ser definida como: adaptação bem-sucedida a fatores de estresse do ambiente interno ou externo, evidenciado por pensamentos, comportamentos e sentimentos que são apropriados para idade e congruentes com normas, locais e culturais (MELO, 2009; TOWNSEND, 2002). No Brasil, os acontecimentos referentes à psiquiatria e saúde mental ocorrem no final do século XIX, quando os médicos psiquiatras começam a tratar os doentes mentais. Com a sanção da Lei Federal n. 3.071/1916 é determinada a 19 internação dos doentes mentais, comungando para que surgissem os hospitais psiquiátricos. Estes hospitais chegaram ao ápice na década de 1970, quando seus serviços são denunciados pelos profissionais de saúde e familiares por maus tratos aos seus pacientes. Em 1980, movimentos referentes à saúde mental defenderam outros tratamentos alternativos para os usuários destes serviços, além do modelo biomédico, em uma perspectiva psicossocial (MELO, 2009). A 8ª Conferência Nacional de Saúde, cujas propostas foram contempladas pela Constituição Federal de 1988 e na Lei Orgânica de Saúde, contribuiu para que movimentos sociais questionassem o modelo de atenção utilizado no Brasil pela psiquiatria, pautado no modelo biomédico e institucionalização, os quais desconsideravam a inserção social destes indivíduos. Neste ínterim em cenário mundial, a Declaração de Caracas, redigida em 1990, julgou que a atenção psiquiátrica convencional não era compatível com a assistência comunitária, que é descentralizada, participativa, integral, contínua e preventiva. E que havia a necessidade dos países instituírem leis que garantissem os direitos e respeito aos doentes mentais (VENEZUELA, 1990). Na Segunda Conferência Nacional em Saúde Mental, realizada em 1992, no Brasil, foram reafirmados os mesmos princípios norteadores da Primeira Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em 1987, que apontou que a forma como a saúde mental vinha sendo conduzida em âmbito nacional precisaria ser revista com urgência, necessitando de uma reforma sanitária contra o modelo assistencial hospitalocêntrico e psiquiatrocêntrico. Para os conferencistas presentes, o doente mental precisaria ser assistido em um sistema extra-hospitalar, multiprofissional, em que considerasse a desinstitucionalização e desospitalização. Referindo a necessidade de implementar instituições que seriam atualmente os Centros de Atenção Psicossocial (BRASIL, 1992). O texto elaborado na Segunda Conferência de Saúde Mental compôs parte da Lei n. 10.216, que foi sancionada em 2001. Esta Lei concedeu direitos aos portadores de transtornos mentais, como: o acesso ao melhor tratamento de saúde, tratamento humanizado e respeitoso, objetivando alcançar a recuperação e inserção social, proteção do usuário contra abuso e exploração, garantia do sigilo, assistência multiprofissional, acesso aos meios de comunicação disponível, informação sobre sua doença e tratamento, tratamento em ambiente preferencialmente - em serviço comunitário (BRASIL, 2001c). terapêutico - sendo 20 Conforme a Lei anteriormente mencionada, o Estado é responsável por desenvolver política de saúde mental, assistência e promoção da saúde aos portadores de transtornos mentais. O tratamento oferecido deve ser integral e objetivar a reinserção social do usuário ao seu meio, vedando à internação de usuários com transtornos mentais em ambientes asilares. A integralidade da assistência à pessoa com transtorno mental requer, de maneira impreterível, uma visão biopsicossocial do ser humano. 2.2 CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL, MODELO BIOPSICOSSOCIAL E BIOPSICOSSOCIOESPIRITUAL O modelo biopsicossocial defende uma visão integral do ser humano, e que o adoecer é resultante da desordem nas dimensões físicas, psicológicas e sociais, valorizando, por isso, o trabalho multidisciplinar. Quando implementado no contexto de saúde, deve proporcionar o bem-estar do usuário, contribuindo para a organização e reorganização do serviço de saúde, oferecendo estímulos e oportunidades de atividades, apoio espiritual e orientação aos usuários sobre seus direitos (MARCO, 2006). Este modelo pode ser mais eficiente que o modelo biomédico no controle e tratamento da doença, por considerar o ser humano como ser complexo e que interage no meio social, psicológico e ambiental (ENGEL, 1977). O modelo biopsicossocial vem sendo criticado na comunidade científica por não considerar a espiritualidade do usuário do serviço de saúde. A espiritualidade é uma dimensão que foi considerada como importante na medicina antiga no restabelecimento da saúde. Atualmente, é valorizada, recebendo atenção especial e equivalente aos aspectos biológicos, psicológicos e sociais. A espiritualidade é definida como a busca pessoal por sentido, objetivo de vida e por transcendência. Ela pode se manifestar por meio da religião ou na relação da pessoa com a arte, sociedade e natureza (BREDEMEIER, 2005). A Enfermagem também valorizou a espiritualidade em sua ciência, ao definir diagnósticos de enfermagem que abordem essa dimensão humana (ESTADOS UNIDOS, 2010). Assim, o modelo biopsicossocioespiritual oferece uma proposta integradora que interliga o corpo, mente, espírito e sociedade. E a espiritualidade descrita neste modelo é diferente de religião, que é apenas um fragmento de expressão da 21 espiritualidade do sujeito. A saúde oriental conseguiu inserir este modelo em seu serviço de saúde, entretanto, no ocidente, tal modelo ainda não recebeu a devida atenção na prática clínica (BREDEMEIER, 2005). O modelo biopsicossocioespiritual pode ter aproximações com teorias presentes na área da saúde. A Teoria da Motivação de Maslow (1991) concebe o ser humano como um indivíduo holístico em que o todo é integrado e organizado em um único ser. Todo o indivíduo é motivado e não a parte, passivo de necessidades e busca sua satisfação. A Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Horta (2007), por sua vez, aborda que o ser humano é um ser indivisível e quando suas necessidades não são atendidas ou são atendidas inadequadamente, gera desconforto, prolongando o estado patológico. As necessidades humanas básicas são de dimensões psicobiológica (refere-se às funções fisiológicas e orgânicas do corpo humano, como a necessidade de oxigenação, hidratação, nutrição, exercício, mobilidade, integridade cutaneomucosa, regulação dos sistemas, ambiente e terapêutica), psicossocial (são atreladas ao instinto social, manifestada na convivência e afirmação como ente humano: segurança, amor, liberdade, comunicação, criatividade, aprendizagem, autoestima, recreação etc.) e psicoespiritual (manifesta no desejo religioso ou teológico, ético ou de filosofia de vida) (HORTA, 2007). A Teoria Holística de Levine (1967) também se aplica ao modelo biopsicossocial, porque compreende o ser humano como um ser complexo, dinâmico e em constante interação com o meio ambiente. O usuário do serviço de saúde é tratado como um todo e não como um ser fragmentado, que foi concebido no modelo biomédico de saúde. Visto que o todo do indivíduo é refletido em cada pormenor de seu ser no processo saúde-doença. Os conceitos desta teoria são: I - a conservação de energia (que regulamenta o metabolismo e as respostas às causas das doenças), II – conservação da integridade estrutural (manutenção e recuperação das estruturas corporais), III - conservação da integridade pessoal (identidade, autoestima, independência e privacidade, etc.), IV – conservação da integridade social (reconhecimento do usuário de saúde como um ser social) (SILVA JUNIOR et al., 2013). A atenção à saúde integral e cuidado holístico, são termos utilizados na saúde como sinônimos, se referem à integralidade. Para Gomes e Pinheiro (2005), a integralidade assimila as ações de proteção, promoção à saúde do indivíduo e família, podendo compreendê-la como uma ação resultante da interação 22 democrática, que ocorre entre os autores e sua prática nos diferentes contextos da saúde. Não existe integralidade sem acolhimento e construção de vínculo profissional de saúde e o usuário. A Atenção Básica é o que mais se aproxima do princípio de integralidade implementada no SUS, porque enfatiza a promoção, educação e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e redução de danos, priorizando ações voltadas para o empoderamento do usuário, concebendo uma visão holística do cuidado e trabalho em equipe multiprofissional de saúde (BRASIL, 2012c; BRASIL, 2011c). Gomes e Pinheiro (2005) definiram integralidade como traço de uma boa medicina, organização do serviço de saúde ou ação política. A integralidade como traço de uma boa medicina é definida como uma resposta ao sofrimento do usuário que busca o serviço de saúde, cuidando para que a assistência fornecida não se limite a intervenções biológicas. Neste contexto, a integralidade será permeada pela comunicação, atitude profissional e equidade no uso dos recursos disponível em saúde. A integralidade como modo de organizar o serviço de saúde, em sua prática, objetiva a horizontalização dos programas verticais do Ministério da Saúde, superando a fragmentação. E, para que isto ocorra, é necessária a aplicação de protocolo de diagnóstico e identificação de situação de risco para saúde, como também desenvolvimento de ações coletivas em saúde. A integralidade como ação política é determinada a um tipo característico de população que demande solução de um determinado problema de saúde (GOMES; PINHEIRO, 2005). Isto acontece, por exemplo, quando o serviço de saúde mental garante aos seus usuários as medicações psicotrópicas. Além da Atenção Básica, os Centros de Atenção Psicossociais incorporam princípios da integralidade e do modelo biopsicossocial no atendimento ao usuário do SUS. Os quais foram estabelecidos pela portaria n. 336/2002, do Ministério da Saúde, que definiu que estas instituições de saúde podem ser divididas conforme o tipo de serviço oferecido em CAPs I, CAPs II, CAPs III, CAPs AD e CAPs i. Estes serviços são instituídos conforme a complexidade e abrangência populacional, sendo capacitados para realizarem atendimentos prioritários de usuários com transtornos mentais severos e persistentes em sua área territorial, oferecendo 23 tratamento intensivo, semi-intensivo e não-intensivo; almejando sempre a reabilitação psicossocial (BRASIL, 2002a). Para Milhomem e Oliveira (2007), os CAPs são definidos como um estabelecimento de saúde de referência e tratamento para pessoas em sofrimento psíquico, cuja severidade clínica ou persistência justifiquem sua permanência num regime terapêutico intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida. Além disso, os CAPs objetivam oferecer atendimento a população da sua área territorial, acompanhamento clínico, reinserção social dos usuários por meio do acesso ao trabalho, lazer, cidadania, fortalecer os laços familiares e comunitários; visando substituir a internação em hospitais psiquiátricos. A reabilitação psicossocial é uma estratégia direcionada para o aumento da possibilidade de trocas, valoriza a subjetividade, proporcionando a contratualidade e solidariedade. Reabilitar, neste contexto, implica em permitir ao usuário do serviço mental recuperar sua capacidade de gerar sentido, cidadania e criar vínculos. Viabilizando a autonomia, autocuidado, independência, reinserção social e autorreorganização pessoal. Exigindo trabalho em equipe e acompanhamento (PEREIRA, 2007). Conforme explicam Pinto et al. (2011), os CAPs foram criados para prover um tratamento integral e humanizado, permitindo em sua filosofia de estabelecimento, a valorização do saber e as opiniões dos usuários na elaboração do plano terapêutico; como também enfatizam a singularidade do sujeito, a abordagem terapêutica, a escuta e educação em saúde. O profissional que acolhe é responsável pelo regime terapêutico deste usuário (PINTO et al., 2011). A filosofia que deve fazer parte da cultura organizacional dos CAPs é a pautada na humanização, acolhimento e reabilitação psicossocial. Concebendo o usuário do serviço de saúde mental pelo olhar da integralidade. Assim, o local da pesquisa foi um CAPs II, que por definição possui a capacidade operacional para atender municípios com 70.000 e 200.000 habitantes, funcionando em dois turnos durante cinco dias da semana. E oferece aos usuários atendimento individual, atendimento em grupos, atendimento em oficinas terapêuticas, visitas domiciliares e atendimento familiar. A equipe multidisciplinar é composta para atender de 30 a 45 usuários por turnos, integrando: um médico psiquiatra, um enfermeiro psiquiatra, quatro profissionais de nível superior (psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional e pedagogo ou outro 24 profissional), seis profissionais de nível médio (técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão) (BRASIL, 2002a). Após nove anos da promulgação da portaria mencionada, o Decreto n. 7.508/2011 definiu a atenção psicossocial como integrante dos serviços mínimos de saúde oferecida aos usuários do SUS (BRASIL, 2011b). Entretanto, no modelo de saúde imposto no atual paradigma brasileiro, mesmo nos CAPs (ABUHAB et al., 2005), ainda está presente a fragmentação da assistência ou tentativas parciais de recomposição desta assistência por meio de justaposição de profissionais de diversas especialidades, com independência total de suas práticas (PEDUZZI, 1998). Abuhab et al. (2005), descreve que o trabalho realizado nos CAPS é fragmentado por estar imerso em uma abordagem aleatória e individualizada, a qual é preconizada pelos profissionais de saúde, que ainda possuem dificuldade em trabalhar em multidisciplinaridade, não realizando ações compartilhadas. Esta abordagem interfere negativamente no resultado terapêutico, gerando dificuldade para equipe e usuários. Ironicamente, é implementada uma assistência em saúde mental que não é integral, contraditória ao princípio de integralidade do SUS (BRASIL, 1990a). A noção de equipe de saúde, aludindo ao trabalho multidisciplinar em saúde, surgiu da saúde mental na década de 1930, época em que a Psicologia reagiu desfavorável ao excesso de divisão de trabalhos e despersonalização das relações humanas em um trabalho tecnológico e burocrático (PEDUZZI, 1998). A equipe de saúde assume a responsabilidade coletiva pelo usuário e não apenas o médico é responsável pelo tratamento do doente, onde é reconstruída a unidade do todo perdida no modelo biomédico. O trabalho em equipe é constituído em diálogo, comunicação, eficiência técnica, envolvimento em grupo e relação interpessoal (PEDUZZI, 1998). Para que existam as relações interpessoais na equipe de saúde mental é necessário que os profissionais de saúde exerçam as habilidades sociais. As HS facilitam a iniciação e manutenção de relacionamentos sociais positivos e contribuem para a aceitação entre os membros da equipe. E estes são comportamentos aprendidos e socialmente aceitáveis que possibilitam o indivíduo interagir efetivamente com os outros, e conseguir evitar ou fugir de comportamentos não aceitáveis que resultariam em interações sociais negativas (DEL PRETTE; DEL 25 PRETTE, 2009), melhorando, portanto, o trabalho em equipe na saúde mental, inclusive no CAPs. O trabalho em equipe no CAPs permite a transição do trabalho individual para a articulação e integração dos saberes, beneficiando o usuário em sua totalidade, condizente com o modelo biopsicossocial (ABUHAB et al., 2005) e biopsicossocioespiritual, que foi a perspectiva pautada nesta dissertação. Para Townsend (2002), o trabalho em equipe, em saúde mental, é fundamental e necessário, girando em um contexto em que transcende a interdisciplinaridade. 2.3 MULTIDISCIPLINARIDADE, TRABALHO MULTIPROFISSIONAL, INTERDISCIPLINARIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE EM SAÚDE MENTAL Os termos usados em saúde, como multidisciplinaridade, trabalho multiprofissional, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, mais confundem do que explicam. Pois os profissionais da saúde não sabem sua diferença e usam estes termos como sinônimos em sua prática clínica (COSTA, 2007). Por isso a necessidade de conceituá-los de forma mais objetiva e pragmática para os profissionais de saúde mental. O trabalho em equipe responde à necessidade de integrar as disciplinas e profissões compreendidas como imprescindíveis para o desenvolvimento das práticas de saúde, considerando a perspectiva biopsicossocioespiritual no processo saúde-doença. A equipe de saúde pode ser definida como um agrupamento de agentes ou a integração de trabalho. A primeira noção é caracterizada pela fragmentação, pois seria aquela que existe atualmente no serviço de saúde, onde há várias especialidades em saúde, em que cada especialista atua independentemente. A segunda noção de equipe é fundamentada na proposta da integração. A equipe de saúde pautada na integração busca uma assistência em saúde interdependente, objetivando uma comunicação e articulação entre os profissionais que assistem ao usuário do serviço de saúde (PEDUZZI, 2001; PEDUZZI, 2009). Para Milhomem e Oliveira (2007), a equipe integrada é requerida na atenção psicossocial, por ser necessária a busca de articulação das ações e superação do isolamento do saberes. A multidisciplinaridade é definida como um conjunto de disciplinas que vão tratar simultaneamente de uma questão, problema ou assunto, sem que os 26 profissionais que estão implicados estabeleçam, entre si, relações efetivas no campo técnico ou científico. Neste sistema, há a justaposição de disciplinas, sem que haja a cooperação sistemática entre os diversos campos disciplinares. Isto ocorre nas práticas ambulatoriais tradicionais ou hospitais, onde os profissionais de saúde atuam conforme sua própria competência, de maneira desfragmentada, sem cooperação mútua ou intercâmbio, com comunicação baseada por prontuários (ALMEIDA FILHO, 1997). Para Milhomem e Oliveira (2007), multidisciplinaridade é sinônimo de multiprofissionalidade, e é definido como um conjunto de diferentes profissionais de diversas áreas trabalhando isoladamente, embora no mesmo espaço institucional, sobre uma coordenação administrativa. Entretanto, diferente do conceito proposto por Milhomem e Oliveira (2007), Peduzzi (1998) definiu o termo “multiprofissional” como uma modalidade de trabalho coletivo, construído por relação recíproca, “de dupla mão”1, considerando as múltiplas intervenções técnicas e a interação de profissionais de variadas áreas, permeado pela articulação das ações e a cooperação. A interdisciplinaridade é conceituada pelo grau da integração entre as disciplinas e a intensidade de compartilhamento e trocas entre os especialistas, no qual todas as disciplinas devam sair enriquecidas deste processo interativo. Não basta tomar emprestado, é preciso analisar e produzir uma disciplina modificada (COSTA, 2007), em que seja viabilizada a troca de conhecimentos, crescimento, profissional e assistência holística com qualidade e eficiência (RODRIGUES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2011). A equipe interdisciplinar discute e programa as opções de tratamento dos usuários do serviço de saúde com doenças similares (ROGGENKAMP; WHITE; BAZZOLI, 2005). Para Almeida Filho (1997), a interdisciplinaridade não atua somente como função mediadora e integradora das disciplinas, mas como coordenadora do campo disciplinar. Ainda, tal modalidade deve ser integradora do serviço de saúde mental, possibilitando a reciprocidade, enriquecimento mútuo e horizontalização do poder entre as disciplinas. Para Stampa et al. (2012), a interdisciplinaridade se faz necessária na resolução de situações complexas de saúde. 1 Para Peduzzi (1998) a expressão “de dupla mão” alude ao trabalho em equipe, onde deve existir a cooperação mútua entre os integrantes. 27 A necessidade da interdisciplinaridade na saúde mental decorre do fato de que o sofrimento psíquico não é um fenômeno simples e homogêneo, porém complexo e multifacetado, pois o sofrimento psíquico é uma complexa teia de eventos biológicos, sociais, psicológicos, emocionais, culturais e políticos. Logo, justaposições das ações dos profissionais da saúde não proporcionam melhoria na atenção psicossocial. Apenas a integração em equipe pode trazer benefícios e transformações no fazer cotidiano na saúde mental (MILHOMEM; OLIVEIRA, 2007). Justificando a sua escolha como referencial a ser trabalhado na perspectiva biopsicossocioespiritual neste trabalho. Além disso, a transdisciplinaridade é a integração das disciplinas de um campo particular de conhecimento compartilhado. É fundamentada em um sistema de vários níveis e objetivos, coordenados por referência a uma finalidade comum, tendendo a horizontalização do poder entre as especialidades. Ela seria uma radicalização da interdisciplinaridade com a criação de um campo teórico amplo, operacional e novo (ALMEIDA FILHO, 1997). Para Santos (2005), a transdisciplinaridade não se apoia nos princípios cartesianos baseados na fragmentação, descontextualização, simplificação, redução, objetividade e dualismo. O homem é um ser transdisciplinar, e a ciência dicotomizada não o explica, quanto menos o sentido da sua vida. Pois a vida só existe quando contextualizada através de todo o conhecimento acumulado e reconhecendo o direito do ser humano, que advém do respeito a sua ideologia, religião, sexualidade, cultura, diferenças e etc. Na transdisciplinaridade, há a busca do sentido da vida por meio da relação harmônica entre as ciências em uma democracia cognitiva, onde nenhuma ciência é mais importante do que a outra e todas estão no mesmo patamar da ciência. A simples somatória de várias ciências a fim de compreender o ser humano é infrutífera, de maneira que na transdisciplinaridade é construída a multidimensionalidade. Os cuidados de saúde em um plano interdisciplinar exigem o planejamento da articulação entre muitas especialidades, e o conceito organizacional case management, como método de gestão, é uma opção desejável à implementação da assistência integral aos usuários do SUS. Neste método, é operacionalizado o trabalho interdisciplinar, por envolver todos os membros da equipe de saúde, como também o usuário (FLETCHER; SHERRILYN, 1999). 28 2.4 CASE MANAGEMENT EM SAÚDE MENTAL E O PAPEL DO ENFERMEIRO O termo case management foi usado em 1985 em New England Medical Center Hospital, em resposta ao plano de saúde público americano, o medicare, com objetivo de avaliar o serviço de saúde. Todavia, há registros na literatura científica que um estilo de gestão semelhante ao case management já era usado no serviço de enfermagem no ano de 1900 (ROGGENKAMP; WHITE; BAZZOLI, 2005). Na saúde mental, o Case Management surge contemporâneo ao movimento de desospitalização nos Estados Unidos (por volta da década de 1970) e foi visto como uma metodologia efetiva para garantir a continuidade do tratamento para pacientes com transtornos mentais graves (SILVEIRA et al., 2013). Nos Estados Unidos, o case management foi adotado como possibilidade de inovação na gestão dos cuidados de saúde, por possibilitar vantagem competitiva. Acredita-se que 71% dos hospitais americanos adotam alguma forma de case management; e para sua implementação é necessário analisar os fatores econômicos e organizacionais (ROGGENKAMP; WHITE; BAZZOLI, 2005). O Case Management é um método de cuidado com um objetivo comum para a equipe de saúde mental na busca de resultados de qualidade para os usuários, família, membros envolvidos no cuidado, priorizando usuários que necessitam a assistência específica contínua e qualificada por um longo período de tratamento (SILVEIRA et al., 2013). Para Arnold e Elder (2013) o case management pode ser definido como a síntese de todo o serviço necessário para conhecer o tratamento, reabilitação e a necessidade de cuidados necessários aos usuários do serviço de saúde. E tem sido utilizado na Austrália como parte integral da reabilitação de pacientes com traumatismo craniano. No case management se designa um profissional da saúde (pode ser também uma equipe) para se responsabilizar pela assistência de saúde ao usuário, durante o tratamento clínico, fazendo julgamentos sobre os serviços prescritos e recebidos (GONZALES et al., 2003). Além disso, o case management é um processo colaborativo de planejar, avaliar, implementar, coordenar, monitorar os recursos e opções requeridas para cada usuário do serviço de saúde. Para sua operacionalização são necessárias a comunicação e avaliação dos recursos 29 disponíveis para promover a qualidade, contenção dos custos e resultados positivos em saúde (ROGGENKAMP; WHITE; BAZZOLI, 2005). Para a execução do case management, é necessário avaliar os problemas de saúde do usuário, encaminhá-lo aos serviços apropriados, assegurar que os cuidados de saúde sejam prestados conforme a necessidade e condizente com o seu quadro clínico. Proporcionar qualidade e eficiência de custo, qualidade de cuidado, redução do tempo de permanência na instituição e utilização correta dos recursos disponíveis (GONZALES et al., 2003). No case management os usuários são selecionados conforme sua doença, acompanhados e tratados por protocolos clínicos. Os usuários do serviço mental podem ser beneficiados com este método de gerenciamento (TOWNSEND, 2002). No Brasil, a Portaria n. 2.488/2011 do Ministério da Saúde já previa o case management no serviço de saúde oferecido pelo SUS. Nesta Portaria, o case management alude ao termo “Gestão do Cuidado”, e foi concebido como uma forma do SUS responsabilizar-se pela atenção ao usuário, através de uma relação horizontal, contínua e integrada que objetiva produzir uma gestão compartilhada na atenção integral. Apropriando-se de ferramentas para que isto ocorra, como: o encaminhamento a especialistas clínicos, realização de procedimentos, solicitação de exames, elaboração de protocolos de atenção à saúde e discussão de casos (BRASIL, 2011c). Segundo o estudo de relato de experiência, realizado por Silveira et al. (2013), em um hospital psiquiátrico brasileiro que atende pacientes com transtorno do humor e outros transtornos mentais, constatou-se que após um ano de implementação do case management neste hospital, operacionalizado por enfermeiros, houve o baixo abandono do tratamento entre os pacientes acompanhados (dos 228 pacientes, 11% destes abandonaram o tratamento). Nos pacientes com transtornos afetivos (bipolaridade e depressão) e ansiedade, a taxa de abandono foi de 10% de 361 pacientes. Esta experiência permitiu inferir que o case management proporcionou cuidado mais coordenado e efetivo, diminuindo entraves, como a comunicação inadequada, e a perda da continuidade do tratamento. Assim sendo, houve responsabilização pelo cuidado longitudinal dispensado aos pacientes. Deste modo, implementar o case management em saúde mental é uma possibilidade de proporcionar uma assistência de saúde fundamentada no modelo 30 biopsicossocioespiritual aos usuários do SUS. Oferecendo um tratamento desfragmentado, com plano terapêutico interdisciplinar, direcionado em um protocolo clínico. E em especial por compreender-se que o case management pode favorecer o cumprimento da Lei n. 10.216/2001 e legislação do SUS. De acordo com a legislação pertinente, o case management pode ser operado pelo enfermeiro devido às suas habilitações específicas. Roggenkamp, White e Bazzoli (2005) referem que o case management é uma ferramenta da gestão utilizada por enfermeiros. O Nurse Case Manager, expressão que denomina quando é um enfermeiro que opera o case management, é designado para fornecer cuidados de qualidade aos usuários e promoção do custo-efetividade do serviço de saúde. Neste papel, o enfermeiro necessita saber negociar com a múltipla equipe o uso de conhecimentos, competências e cuidados individuais. A perspectiva biopsicossocial ou biopsicossocioespiritual é enfatizada, por requerer a colaboração de diversas disciplinas, promovendo a continuidade do cuidado e satisfação do usuário. O trabalho multidisciplinar está presente na prescrição do tratamento, facilitando o trabalho interdisciplinar em equipe, principalmente em usuários clinicamente graves (LANCERO; GERBER, 1995). O Nurse Case Manager (considerando o contexto da enfermagem nos Estados Unidos) se fundamenta nos diagnósticos de enfermagem e intervenções multidisciplinares, e pode recomendar serviços de saúde, tratamentos ou procedimentos, indicar terapia e intervenção de outras especialidades. Sendo responsável em assegurar que as tarefas interdisciplinares sejam realizadas (TOWNSEND, 2002). No Brasil, o Nurse Case Manager apresenta atribuições específicas, de acordo com Silveira et al. (2013), como: acompanhar o usuário do serviço de saúde desde a admissão à alta, consulta de enfermagem, elaborar e implementar o plano terapêutico do usuário junto com a equipe multiprofissional, incluindo os levantamentos de problemas de saúde, direcionando os recursos aos casos de maior complexidade, como também discuti-los em equipe, socializar a equipe as intercorrências com o usuário, garantir a continuidade do tratamento por meio de busca ativa (telefonema, visita domiciliar e etc.), psicoeducação, aperfeiçoamento profissional relacionado à linha de gerenciamento (depressão, esquizofrenia e etc.), atender as demandas dos usuários, manter em seu controle uma tabela gerencial com as informações do usuário (seus dados e história clínica compartilhada pela 31 equipe), reavaliar periodicamente o plano terapêutico do usuário, delegar ou supervisionar o cuidado de enfermagem ao usuário/paciente realizado pelo técnico de enfermagem. É necessário conhecer as competências dos enfermeiros, pois quando assume o papel de Nurse Manager, ainda pode exercer com autonomia sua profissão conforme os limites legais de sua prática. Para Secoli, Machado e Cruz (2001), o enfermeiro tem a competência de intermediar e cuidar do usuário, apropriando-se da enfermagem (ciência do cuidado2), onde cuidar é aliviar o sofrimento humano e manter a sua dignidade. O exercício profissional da enfermagem possui sua prática legitimada legalmente pela Lei n. 7498/86 que dispõem sobre a regulamentação dessa profissão. Esta lei reza no artigo 6 que enfermeiros são cidadãos que possuem diploma em Ciência de Enfermagem ou Bacharelado em Enfermagem (BRASIL, 1986, 1987). Complementando o expresso na legislação anterior citada, o Conselho Nacional de Educação (2001) considera que o enfermeiro possui a capacidade de identificar as dimensões biopsicossociais dos usuários de saúde, como também os determinantes e condicionantes do processo saúde e doença (BRASIL, 2001b). O enfermeiro atua no desenvolvimento de ação de prevenção, promoção, proteção e reabilitação em saúde, diagnostica e soluciona problemas de saúde, conduz a equipe interdisciplinar de saúde, intervém no processo saúde-doença e se responsabiliza pela qualidade da assistência (BRASIL, 2001b). Entre os profissionais de saúde, apenas o enfermeiro tem uma formação universitária que concebe o usuário como um todo, sem enfocar uma parte do indivíduo ou apenas o diagnóstico da doença (BRASIL, 2001b, ALFARO-LEFEVRE, 2005). O enfermeiro pode prescrever medicamentos previamente protocolados em programas de saúde e em rotinas das instituições de saúde, solicitar exames de rotinas e complementares, realizar consulta de enfermagem, procedimentos assistenciais, atividades de acompanhamento de grupo específicos saudáveis ou não, e encaminhar usuários dos serviços de saúde para outros profissionais (BRASIL, 1993a; BRASIL, 1987; BRASIL, 1997; BRASIL, 2003b; BRASIL, 2006; 2 A enfermagem é definida como uma arte e uma ciência. A sua ênfase no passado estava no cuidado ao paciente doente, atualmente enfatiza-se a promoção da saúde. Para American Nurses Association a enfermagem constitui-se do diagnóstico e o tratamento da resposta humana a problemas de saúde reais e potenciais (NETTINA, 2012). 32 BRASIL, 2008b; BRASIL, 2009a; BRASIL, 2010a; BRASIL, 2010c; BRASIL, 2011c; BRASIL, 2013a). Além disso, Alfaro-Lefevre (2005) enfatiza que todo o trabalho do enfermeiro é baseado em um método cientifico denominado de processo de enfermagem. Este método é sistemático, por ser dividido em cinco fases, e por maximizar a eficiência e obter resultados benéficos de longo prazo. É também dinâmico e humanizado, dirigido para resultados positivos em saúde por serem planejados (BRASIL, 2009b). Tannure e Pinheiro (2011) definiram as fases do processo de enfermagem em anamnese e exame físico, diagnósticos de enfermagem, planejamento dos resultados esperados, intervenção e avaliação. É importante ressaltar que nas intervenções de enfermagem, existe a abertura para a equipe interdisciplinar, pois elas também podem ser interdependentes, na visão de Tannure e Gonçalves (2008), permeando uma atenção integral ao usuário, colaborando para uma efetiva comunicação entre os profissionais. O enfermeiro também ajuda o usuário de saúde a prevenir e enfrentar as experiências das doenças e o sofrimento consequente, e se possível ajudar o usuário a descobrir o sentido para essa experiência. Para os enfermeiros em saúde mental, o ser humano é único, indivisível e precisa de um cuidado integral e holístico. Os enfermeiros particularmente atuam no serviço mental na criação do ambiente terapêutico (acolhe o usuário), agente socializador (proporciona o aumento da autoestima e segurança do usuário), conselheiro (ajuda a formar opiniões e tomar decisões), educador (facilitador da aprendizagem), figura significativa (ajuda a corrigir experiências anteriores não satisfatórias), técnico (colabora para manutenção do tratamento do usuário) e terapeuta (aplica a terapia relação enfermeiro-paciente de Peplau) (MELO, 2009). A terapia relação enfermeiro-paciente de Peplau definiu a enfermagem como um processo interpessoal por meio do qual o enfermeiro e paciente podem obter crescimento e desenvolvimento pessoal. Peplau (1988) dividiu esse contato interpessoal em quatros etapas ou fase: 1ª - orientação (contato inicial entre enfermeiro e usuário em que se possibilite identificar e compreender as necessidades do problema existente), 2ª - identificação (o usuário escolhe alguém do grupo ou o enfermeiro para ajudá-lo na solução de seu problema), 3ª exploração (o usuário identifica o enfermeiro como sendo aquele que reconhece e compreende as relações interpessoais da situação, passando a explorar todos os 33 serviços que lhe são oferecidos), 4ª - resolução (o usuário começa a desfazer o elo que existe entre o mesmo e enfermeiro, estando fortalecido e capacitado para agir por si mesmo) (MORAES; LOPES; BRAGA, 2006; ALMEIDA; LOPES; DAMASCENO, 2005; JONES, 1995; PEPLAU, 1987, 1988, 1999). Esta terapia é usada para pacientes com diferentes transtornos mentais (depressão, esquizofrenia, retardo mental e etc.) (THELANDER, 1997). O trabalho do enfermeiro, possui ainda, uma ênfase em gestão, visto que, conforme a Lei n. 7498/86, cabe ao enfermeiro participar no planejamento e programação das instituições e serviços de saúde de forma que seja incluída a assistência de enfermagem e a prescrição de enfermagem, participar no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde e participar na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde (BRASIL, 1986). Aspectos que legitimam o uso do case management entre os enfermeiros brasileiros. Dessa forma, o enfermeiro do serviço mental pode se apropriar da ferramenta gerencial, case management, incorporando suas competências, conforme mostradas anteriormente, sendo o elo entre a equipe de saúde e usuário, possibilitando que a integralidade no cuidado do usuário do serviço de saúde seja efetivada. Pautando-se na perspectiva biopsicossocioespiritual e no trabalho em equipe, permeado pela interdisciplinaridade entre as intervenções de saúde. O case management, para ser operacionalizado, requer um protocolo que direcione as ações de saúde oferecidas ao usuário de serviço. Há uma necessidade de padronizar as intervenções interdisciplinares por meio de protocolos clínicos, para melhorar a comunicação entre os profissionais e direcionar o plano terapêutico fornecido ao usuário de forma eficiente, sem dicotomia nas ações, e perda na qualidade do serviço de saúde. No presente trabalho, assume-se o pressuposto de que o case management com o uso de protocolo poderia favorecer a qualidade do serviço em saúde mental oferecido pelo CAPs, considerando os princípios da integralidade (conforme a perspectiva biopsicossocioespiritual), do trabalho interdisciplinar, especialmente na assistência a pessoas com depressão. Um trabalho dessa envergadura, articulando o case management ao trabalho biopsicossocioespiritual em um CAPs, precisaria iniciar pelas suas etapas mais básicas, e a primeira delas é a elaboração de um 34 protocolo de diagnóstico de um transtorno mental. E este transtorno mental seria a depressão, como problema de saúde pública. 2.5 DEPRESSÃO A depressão é uma patologia subestimada nos serviços de saúde e, por ser multideterminada, caracterizada por alterações no humor, cognição, comportamental e somática (FURLANETTO, 2001); exigindo um tratamento que incorpore a perspectiva biopsicossocioespiritual em equipe interdisciplinar. A depressão é concebida em diferentes abordagens, para alguns pesquisadores é uma extensão da dor, uma conduta autodestrutiva, uma experiência inevitável, resultado de uma adversidade. Já para a psiquiatria a depressão seria um mau funcionamento do sistema neurotransmissor (SNAITH, 1993). A psiquiatria biológica compreende que a ação de um neurotransmissor pode interferir nas ações de outros, provocando o desequilibro do humor (BUENO; NARDI, 2000). Uma hipótese antiga é a monoaminérgica que defende a relação entre depleção (diminuição) dos estoques cerebrais de monoaminas com o aparecimento do transtorno depressivo (IVERSEN, 2007). Outros achados biológicos apontam que o eixo Hipotámico-HipofisárioAdrenal, regulante do cortisol no organismo, não funcionaria adequadamente em depressivos (IVERSEN, 2007; COHEN; KISSLER; GORDON, 1997). Além disso, uma observação morfológica concluiu que a redução na densidade neural e glial no córtex-frontal estariam relacionadas com o transtorno de humor (depressão e bipolaridade) (ONGÜR; DREVETS; PRINCE, 1998). Melo (2009), Fráguas Junior e Figueiró (2001) descrevem que por meio de tomografia computadorizada por emissão de fóton único, é identificado à diminuição do fluxo sanguíneo na região frontal; e a tomografia computadorizada visualiza o alargamento dos ventrículos cerebrais em pacientes com depressão. Caspi et al. (2003) ressaltou que o polimorfismo na região promotora dos genes transportadores de serotonina moderam eventos estressantes na depressão. As explicações psicológicas somam às biológicas. Para a psicanálise, a depressão seria consequência do luto mal elaborado (LUCAS, 2003; TEIXEIRA, 2005). Os cognitivistas compreendem a depressão como uma distorção nos 35 esquemas cognitivos, contribuindo para que os indivíduos tenham pensamentos e humor negativos (POWELL, 2008). Os comportamentais acreditam que comportamentos indesejáveis (antissociais, expressões de sofrimentos, queixas, sentimento de impotência e etc.) seriam reforçadores para a incidência de depressão (DUBOVSKY; DAVIES; DUBOVSKY, 2006). Para a Teoria Interpessoal, a depressão seria causada por situações sociais e interpessoais conflituosas (SOARES, 2010, SOUZA; FLECK, 2010). Por sua vez, a Teoria das Habilidades Sociais considera que a depressão seria originária em pessoas com déficit de habilidade sociais e comportamentos prossociais (FEITOSA et al., 2009; FEITOSA, 2014). Além disso, o modelo biopsicossocial defende que existe relação nos fatores biológicos, psicológicos, sociais e ambientais para a expressão da depressão no ser humano (WHO, 2014; NIEVAS et al., 2006). E o atual modelo biopsicossocioespiritual acrescenta a espiritualidade como parte do tratamento. Parker e Parker (2007) apresentam os fatores de risco para o aparecimento da depressão: idade, sexo, raça, hereditariedade, doenças crônicas ou infecciosas, perda parental na primeira infância, filhos de pais superprotetores e que não os proporcionavam cuidados, filhos primogênitos, pouca proximidade com os irmãos, não ter um irmão disponível na adversidade, bullying, abuso sexual na infância, privação de apoio social, baixo apoio emocional do cônjuge ou filhos ou supervisores do trabalho, baixo nível socioeconômico, desemprego ou insatisfação ou muita exigência no emprego, solteiros, casamentos em crise, e aposentadoria - quando o sujeito tem percepção de perda de seu papel social. As depressões primárias são de ordem menor (depressões subsindrômicas e distimia) e maior. Sua diferença é fundamentada na quantidade maior de sintomatologia depressiva e sua gravidade, satisfazendo o critério de alteração do humor. Entretanto, a depressão deve ser analisada como um continuum sintomático, pois existem evidências de que os sintomas depressivos menores, distímicos, maiores e subsindrômicos aumentam e diminuem em um mesmo paciente (AKISKAL; JUDD, 2007). Ainda a depressão menor é uma variante das depressões menos graves, evolvendo menos sintomas e menor incapacidade. Entretanto o indivíduo pode evoluir para uma depressão maior ou distimia. 36 Para Akiskal e Judd (2007), a distimia é um conceito de forte cunho dimensional que apenas pode ser computado como anormal no sentido estatístico. Assim, o limite esperado normal entre a tristeza e o transtorno distímico é uma questão de convenção clínica. Convencionou-se a distimia como diagnóstico clínico quando apresenta sintomas depressivos intermitentes por seis meses. A distimia é uma doença muito debilitante à qualidade de vida em áreas sociais, pessoais, trabalho e lazer. Estima-se que 4 a 5% da população geral sofrem de distimia. Por sua sintomatologia reduzida, 50% dos indivíduos distímicos não são diagnosticados. Além disso, devido à natureza crônica da distimia, os pacientes queixam da perda da qualidade de vida por ficarem dias no ano de cama. Indivíduos distímicos são taciturnos, lúgubres, incapazes de se divertir, autocríticos, sorumbáticos, propensos a sentimentos de culpa, sem confiança ou autoestima, desestimulado com facilidade, cansam-se muito rápido, são lentos e atrelados à rotina, sem assertividade, abnegados, dedicados, tímidos e sensíveis. As depressões subsindrômicas aparecem em pacientes que não preenchem os critérios para depressão maior ou distimia, e estão associadas a disfunções psicossociais significativas e ao comprometimento de áreas importantes para o funcionamento cotidiano do paciente, estando associada à incapacidade prejudicial. Os sintomas depressivos subsindrômicos são definidos como dois ou mais sintomas simultâneos da depressão, presentes na maior parte do tempo, por pelo menos duas semanas em sujeitos que não satisfaçam os critérios para depressão maior ou menor ou distimia (sem humor depressivo ou anedonia). Os sintomas mais comuns são: insônia, fadiga, pensamento recorrentes sobre morte e lentidão psicomotora. É relevante mencionar que o uso do serviço de saúde, como também problemas psicossociais, estão associados a sintomas subsindrômicos (AKISKAL; JUDD, 2007). Para Furlanetto (2001), para a depressão maior, segundo o DSM-IV, são requeridos 5 critérios especificadores, dentre os nove especificados neste manual, com duração de pelo menos duas semanas, devendo estar presente a anedonia. Para Calil e Pires (1998) as principais categorias dos sintomas de depressão são: a) Humor – inclui a tristeza, perda de interesse e/ou prazer, crises de choro, variação diurna do humor (que pode também ser classificada na categoria de sintomas vegetativos); 37 b) Vegetativos ou somáticos – refere-se a alterações no sono (podendo ser insônia ou hipersonia), apetite e peso. Além disso, existe a perda da libido, obstipação e fadiga; c) Motores: inclui a inibição ou retardo, agitação e inquietação; d) Sociais: inclui a apatia, isolamento, incapacitação para o desempenho das tarefas cotidianas; e) Cognitivos: refere-se à desesperança, desamparo, ideias de culpa e de suicídio, indecisão e perda de insight (não reconhece que está doente); f) Ansiedade: inclui a ansiedade psíquica, somática e fóbica. Esta categoria é pouco analisada nas escalas de avaliação da depressão; g) Irritabilidade: alguns autores classificam-na na categoria de alteração do humor. Pode se referir à hostilidade (auto - e heterodirigida), incluindo-se, aqui, também a autoagressão, que é associada com o risco de suicídio. A prevalência de depressão na população geral está entre 3% e 11%, sendo a principal causa de incapacidade e morte prematura na faixa etária entre os 18 e 44 anos (BRASIL, 2001a; BRASIL, 2010b, p. 69; BELLETTINI; MARTINS, 2013). Nos Estados Unidos e em outros países a depressão parece estar aumentando entre a população adulta. É possível que um indivíduo com depressão maior não tratada, apresente episódios depressivos recorrentes dentro de um ano (40%) e dois anos (20%). A prevalência de distimia é de 1,6% em indivíduos com mais de 18 anos (WONG, 2007). Para Wong (2007), o primeiro episódio de depressão maior pode ocorrer em qualquer idade, entretanto, existe uma consistência nos estudos dela se iniciar por volta do final da faixa etária dos 20 anos. O risco de se desenvolver depressão é maior em indivíduos com história pregressa desta doença. Acredita-se que aproximadamente 60% dos indivíduos que tiveram depressão sofrerão um segundo episódio. As depressões secundárias são decorrentes das alterações fisiológicas de outras doenças preexistentes ou morbidades, como doença de Cushing, estresse, Parkinson, Lúpus Eritematoso Sistêmico e outras; hospitalização e por indução medicamentosa. A depressão secundária pode ser difícil de ser diagnosticada por que sua sintomatologia clínica pode ser confundida com outras morbidades, como o 38 emagrecimento, dores, inapetência, atonia, distúrbios do sono e cansaço dentre outros (FRÁGUAS JUNIOR; FIGUEIRÓ, 2001). Para Fráguas Junior e Figueiró (2001), os indivíduos que são acometidos por Cushing possuem 83% de chances de desenvolver a depressão devido ao alto nível de cortisol sérico no seu organismo. Quanto maior os níveis de estresse do paciente, maior a probabilidade de se desenvolver a depressão secundária. Considerando a alta prevalência e gravidade da depressão, bem como a necessidade de padronizar ações e tratamento no serviço de saúde mental, percebe-se a necessidade de elaborar protocolos clínicos focados na depressão, com abordagem interdisciplinar e perspectiva biopsicossocioespiritual. Visto que a depressão é uma patologia que exige uma abordagem biopsicossocioespiritual no seu tratamento. Um protocolo clínico interdisciplinar favorecerá a comunicação efetiva entre os profissionais integrantes de um CAPs e a indicação de intervenções de saúde que sejam condizentes com o quadro clínico do usuário, baseadas em evidências científicas. Além disso, o protocolo interdisciplinar, aliado ao case management, poderá desfragmentar e melhorar a acessibilidade dos usuários depressivos ao serviço de saúde mental, por se estabelecer um grupo de usuários por profissionais de saúde, os quais se responsabilizam em acompanhar o tratamento oferecido. Poderá, também, auxiliar os profissionais de saúde no diagnóstico, planejamento e intervenções para a depressão, de acordo com os princípios de equidade e integralidade. Dessa forma convém especificar a relevância do uso de protocolos em saúde, em particular na saúde mental no tratamento da depressão. 2.6 PROTOCOLOS CLÍNICOS NA SAÚDE MENTAL O atendimento em saúde, organizado na forma de protocolos, fundamentados em evidências científicas, constitui-se em países desenvolvidos há mais de três décadas. A padronização das ações em saúde, com embasamento científico consistente e, atualizado, tem sido uma solicitação comum dos profissionais de saúde, atrelado ao fato dos administradores de saúde exigirem o uso racional dos recursos de saúde disponíveis e limitados (SCHNEID et al., 2003). No Brasil, os protocolos foram criados para atender a expansão da atenção básica de saúde, proporcionando os atendimentos aos usuários, conforme os perfis 39 epidemiológicos e recursos disponíveis (WERNECK; FARIA; CAMPOS, 2009). Eles foram viabilizados pelas Normas Operacionais de Assistência à Saúde (NOAS) de 2001 e 2002, as quais já preconizavam a elaboração de protocolos clínicos (BRASIL, 2001e; BRASIL, 2002b). Atualmente, existe no Ministério da Saúde, o Comitê Gestor Nacional para avaliar, revisar e sugerir aprimoramento nos protocolos de saúde pública nacional (BRASIL, 2005). Segundo Werneck, Faria e Campos (2009), os protocolos são viáveis para o desenvolvimento das ações de saúde e devem ser empregados com critérios técnicos, científicos e políticos. Sendo úteis na organização do processo de trabalho e na construção de modelo de atenção na saúde por: 1º - reduzir a variação de práticas clínicas (proporciona efetividade e eficiência no cuidado), 2º - utilizar procedimentos e ações científicas, 3º - implementar medidas para aumentar o acesso ao serviço de saúde, 4º - estabelecer relação efetiva com o usuário, 5º produzir indicadores e facilitar a avaliação do serviço oferecido. Para Schneid et al. (2003), os protocolos são ferramentas que podem conter custos e direcionar as intervenções, ações e condutas em saúde. Desta forma, as ciências de Enfermagem e Medicina têm investido maximamente em elaboração de protocolos com base em evidências científicas, pois acreditam que os protocolos podem solucionar as dificuldades organizacionais presentes na saúde pública, e reduzir a distância entre o ideal e o real nas instituições de saúde. A Psicologia, por sua vez, pode também ser beneficiada nesses termos ao investir em protocolos de saúde, embora não seja uma prática comum nessa área do conhecimento. Protocolos de saúde são fundamentados nos conhecimentos científicos e práticos, elaborados para normatizar e orientar as ações dos profissionais de saúde (conforme a literatura e legislação profissional específica), recursos e perfil epidemiológico da população, melhorando a qualidade do serviço de saúde. Estes podem: (1º) reorganizar o processo do trabalho em saúde baseado na interdisciplinaridade, que permite a troca de conhecimentos, enriquecimento profissional, possibilitando uma visão mais ampla do paciente; (2º) organizar a assistência de saúde por estabelecer condutas e procedimentos que aperfeiçoam o processo de trabalho, beneficiando a gestão, profissionais e pacientes; (3º) proporcionar a autonomia profissional; (4º) valorizar as competências técnicas científicas da equipe de saúde; (5º) oferecer um cuidado de saúde eficaz e qualificado (RODRIGUES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2011). 40 Para Dumpe (2005) os protocolos são uma forma de se alcançar os objetivos bioéticos com mais eficácia e facilidade, os quais devem ser fundamentados em pesquisas, evidências clínicas e na prática assistencial. Estes precisam ser elaborados e planejados de maneira prática e objetiva, conforme a realidade e necessidade do usuário e serviço oferecido. Além de possibilitar que o profissional de saúde haja com precisão e decisão em diversas situações clínicas que ele venha a enfrentar. Os protocolos de saúde devem atuar de forma que facilite o fluxo, organizando o sistema de referenciamento e contra-referenciamento, com o objetivo de racionalizar os custos no atendimento do usuário. Dentre os grupos de protocolos, existem os protocolos clínicos que são aqueles recursos de tecnologia e saúde classificados como lógicos ao lado dos recursos materiais, físicos e humanos (SCHNEID et al., 2003). Os protocolos não tiram a especificidade da equipe interdisciplinar, apenas possibilitam uma nova modalidade de enfrentar os problemas de saúde dos pacientes. Ações são padronizadas com o intuito da equipe se responsabilizar em compartilhar, conhecer, tratar ou controlar os problemas de saúde dos usuários (WERNECK; FARIA; CAMPOS, 2009). Ainda, protocolos clínicos são recomendações sistematizadas para auxiliar no manejo de um problema de saúde, dentro de uma circunstância clínica específica. Preferencialmente, é baseado em evidências e são orientações objetivas e concisas sobre testes, diagnósticos e tratamentos. São importantes ferramentas para a atualização na área de saúde e utilizados para reduzir variação inapropriada na prática clínica (BRASIL, 2008a). Para Almeida et al. (2012), os protocolos clínicos são instrumentos construídos com o objetivo de garantir um atendimento mais qualificado ao paciente. O Decreto n. 7.508/2011 definiu protocolos clínicos como documentos que estabelecem os critérios para a realização do diagnóstico e tratamento preconizado (BRASIL, 2011b). Para o Hospital Israelita Albert Einstein (2003), os protocolos clínicos são guias de condutas e padronização de procedimentos, com intenção de encorajar a uniformização das ações em saúde, pretendendo melhorar a eficácia e qualidade do serviço, não sendo uma garantia absoluta sobre os resultados esperados (BRASIL, 2003a). Os protocolos clínicos se caracterizam pela flexibilidade, são adaptáveis à realidade do serviço de saúde, subsidiados por evidências científicas. Todavia 41 percebe-se que os protocolos do sistema público de saúde possuem, basicamente: introdução, objetivos, classificação da doença, diagnóstico e tratamento, fatores de risco, sintomatologia, tratamentos e procedimentos, atribuições dos profissionais e fluxogramas (BRASIL, 2012b; BRASIL, 2009c). Paim (2004) complementa ao dizer que a qualidade do serviço de saúde pode ser efetivada pela elaboração e implementação de protocolos clínicos. O Grupo Hospitalar Conceição do Rio Grande do Sul elaborou um manual para a elaboração dos protocolos e sugere passos como escolha do tema, justificativa, magnitude, transcendência, vulnerabilidade, informar os níveis de evidências das literaturas consultadas, organizar o protocolo em algoritmos e referências bibliográficas (BRASIL, 2008a). E para se elaborar os protocolos brasileiros parece ser mais adequado seguir esse manual por ser sistemático e padronizado. Os protocolos clínicos do Hospital Israelita Albert Einstein são objetivos, didáticos e estruturados em: critérios para níveis de evidência e graus de recomendação, tempo de permanência hospitalar previsto, introdução, critério de inclusão, critério de exclusão, critério de admissão e alta hospitalar, critérios de admissão e alta de UTI/semi-intensiva, história e exame físico, plano terapêutico, instruções específicas por ocasião da alta, indicar grupos ou associações na comunidade que ajudem ou orientem pacientes abordados neste protocolo, abreviaturas explicativas usadas, tabelas e anexos, referências bibliográficas e data da última revisão (BRASIL, 2003a). Na enfermagem, o parecer do Conselho Regional de Enfermagem do Estado do Tocantins3, n. 2/2009, orienta a elaboração de protocolos (principalmente os de solicitação de exames e prescrição de medicamentos), aconselhando que no corpo teórico do projeto deve-se levantar o perfil epidemiológico, e colocar na estrutura um padrão composto por capa, ficha técnica, apresentação, sumário, 3 Na enfermagem os pareceres dos Conselhos Regionais são considerados como importantes e fonte de consulta, independente da jurisdição de conselho, entretanto, os pareceres do Conselho Federal são supremos e as resoluções têm força maior em questões jurídicas, do que um parecer. Em relação à elaboração de protocolos, os enfermeiros se fundamentam neste parecer do Conselho Regional do Tocantins como fonte legal e direção, para elaborar protocolos de enfermagem em saúde, principalmente de solicitação de exames e prescrição de medicamentos. Legitimando o exposto, o parecer do Conselho Federal de Enfermagem n. 030/2009 considerou que protocolos de prescrição de medicamentos por enfermeiros sejam elaborados em consonância com a equipe multidisciplinar de saúde, sugerindo apenas os passos para elaborar protocolo de prescrição de medicamentos. Neste parecer n. 030/2009 é citado o parecer CTA do Conselho Federal n. 70/2008, que ressalta que a prática do enfermeiro é definida por protocolos e “tem a pactuação legal prevista em todas as instâncias do sistema de saúde, a saber: federal, estadual, municipal, distrital e institucional”. 42 introdução e referencial teórico e bibliográfico. E, que o protocolo esteja em consonância com as legislações vigentes e diretrizes do SUS, que devem serem revistos periodicamente (BRASIL, 2009c). Fatos em consonância com os pareceres do Conselho Federal de Enfermagem n. 030/2009 e n. 09/2010. Na construção de um protocolo é necessária a reflexão e o equilíbrio entre o consenso científico e a realidade do serviço oferecido, sempre considerando as vivências e valores profissionais, como também que a equipe participe do processo de elaboração e decisão (SCHNEID et al., 2003; WERNECK; FARIA; CAMPOS, 2009). Os protocolos envolvem muitos fatores desde organizacionais, sociais e comportamentais, econômicos e a realidade de saúde que é dinâmica, o que obriga os protocolos a serem revistos e modificados constantemente (RODRIGUES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2011). Entretanto, os protocolos de atenção à saúde possuem fatores limitantes, por se restringirem a atos e procedimentos pré-estabelecidos e algumas vezes não se aplicarem a casos clínicos diferentes ou situações imprevistas no protocolo. E quando os protocolos são desprovidos de revisão periódica e avaliação de sua eficácia, constituem um fator de risco à saúde do usuário do serviço de saúde (WERNECK; FARIA; CAMPOS, 2009). Apesar das suas limitações, os protocolos clínicos são desejáveis pela utilidade na reorganização do trabalho em saúde e favorecer o trabalho integral em equipe interdisciplinar. Os protocolos clínicos na saúde mental proporcionam acesso equitativo aos recursos disponíveis, definindo ações dirigidas aos usuários em sofrimento psíquico (BRASIL, 2010b). Como também, os protocolos clínicos podem facilitar e nortear a equipe interdisciplinar do CAPs na organização do plano terapêutico programado ao usuário. Além disso, padronizar os diagnósticos da depressão por meio de um protocolo clínico é uma ação necessária na saúde mental. Visto que há sistematização da depressão em categorias, as quais facilitam a identificação precoce da depressão no usuário de saúde. Por outro lado, existe uma falta de clareza conceitual sobre a divisão do trabalho em saúde e na área da saúde mental não é diferente. Em algumas situações, quando ações multiprofissionais não estão bem delimitadas, causam algum desconforto para os profissionais de saúde (PINHO, 2006), por não terem uma direção a seguir. Ideais filosóficos e teóricos, às vezes, antagônicos (assumidos 43 por psiquiatras e psicólogos, médicos e enfermeiros), tendem a reforçar o desconforto durante tentativas de se trabalhar de maneira interdisciplinar. Deste modo, se acredita que os protocolos clínicos, talvez, fossem uma solução para isto, no qual seriam padronizadas as ações interdisciplinares dos profissionais de nível superior no CAPs. Dessa forma, a elaboração e uso de protocolos clínicos contribuiriam para a aproximação da Psicologia com as demais áreas da saúde, favorecendo a integralidade do serviço em saúde mental, particularmente no diagnóstico e tratamento da depressão. 44 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA Neste item será apresentada a pesquisa participante como norteadora da construção do conhecimento em saúde, na elaboração de uma tecnologia leve-dura denominada de Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA). 3.1 A PESQUISA PARTICIPANTE COMO ESCOLHA METODOLÓGICA E TECNOLOGIA EM SAÚDE A pesquisa participante implica, necessariamente, na participação colaborativa, tanto do pesquisador como de sujeitos que fazem parte da pesquisa. Um dos pressupostos mais importantes deste tipo de pesquisa é a crítica à neutralidade, ou seja, o distanciamento entre sujeito e objeto de pesquisa. A pesquisa participante tem caráter aplicado por tratar de problemas reais, demandando a devolutiva do conhecimento obtido junto aos grupos com os quais se trabalhou na busca de transformação positiva da realidade. Este método não quer apenas conhecer a realidade, quer transformá-la e abre espaço para a interdisciplinaridade na construção do conhecimento (SOARES; FERREIRA, 2006). Gil (2010) considera que a pesquisa participante é caracterizada pela interação entre pesquisador e os membros da situação investigada. Além de propiciar que os sujeitos da pesquisa possam participar ativamente da pesquisa, produzindo conhecimento e intervindo na realidade. A pesquisa participante prioriza a solução de um problema identificado na comunidade ou em outros setores, que serão solucionados pela participação dos indivíduos implicados na pesquisa e pesquisadores. No desenvolver e desenrolar da pesquisa participante é almejada uma comunicação horizontal entre todos os participantes (GAJARDO, 1986). A pesquisa participante tem sido explorada em trabalhos da área de saúde, apresentando-a como método eficiente em resolver os problemas de saúde pesquisados (GUARIENTE; BERBEL, 2000; GUIMARÃES, 2009; MELLO et al.,1995; SOARES; FERREIRA, 2006; SCHMIDT, 2008). A pesquisa participante é dividida em etapas ou fases, entretanto essas fases não são rígidas, visto que o pesquisador pode se centrar mais em uma etapa que nas outras, não sendo necessário seguir uma ordem linear dessas etapas. Estas são (OLIVEIRA, 2006): 45 1ª- Montagem institucional e metodológica: produção do marco teórico a ser seguido. 2ª- Estudo preliminar ou provisório: análise dos documentos e entrevistas. 3ª- Análise crítica dos problemas considerados prioritários: discussão livre com os sujeitos de pesquisa. 4ª- Programação e execução de um plano de ação: definir a melhor estratégia para atingir os objetivos de pesquisa de maneira que se respondam os questionamentos levantados nas discussões em grupo. Percebe-se, assim, que por meio da pesquisa participante pesquisadores e participantes da pesquisa constroem juntos soluções e respostas refletidas para problemas e demandas que se apresentam em dado contexto. É possível, nessa lógica, utilizar a pesquisa participante para a produção de tecnologia na área da saúde. Para Silva, Alvim e Figueiredo (2008, p. 292) é interessante considerar os tipos de tecnologia em saúde. Partindo do entendimento de que o trabalho humano, tal como se coloca na atualidade, só é viável por meio das tecnologias que ele engendra, torna-se indispensável refletir sobre a relação que se estabelece entre as tecnologias, o mundo da ciência e o homem, em todos os sentidos e espaços. As tecnologias leves são referentes às relações, produção e comunicação, acolhimento, lúdico e automonitorização. E as tecnologias leve-duras são os saberes bem estruturados no processo de saúde (SILVA; ALVIM; FIGUEIREDO, 2008). Assim, pode-se considerar que um protocolo de diagnóstico para a depressão se enquadra dentro das tecnologias leve-duras, pois este protocolo é fundamentado em uma evidência científica, no caso, a CID-10, e estruturado para melhorar o processo de diagnóstico da depressão, de forma menos impessoal e mais objetiva. A construção deste protocolo foi idealizada pela pesquisa participante por instigar pesquisadores e profissionais de saúde, de diferentes áreas, a trabalharem, de maneira interdisciplinar, em volta de um problema de saúde que merece peculiar desvelo: a sistematização do diagnóstico da depressão. Visto que no Centro de Atenção Psicossocial II pesquisado, para que seja diagnosticada a depressão nos usuários, é necessário decorrer um espaço de 30 dias até os 46 mesmos terem uma consulta com um profissional psiquiatra, devido à alta demanda de atendimento. Dessa forma para a possível solução deste problema, foi utilizada a pesquisa participante como método na elaboração do PDDA. Com o PDDA pronto, espera-se aumentar o número de profissionais habilitados a diagnosticar a depressão e, consequentemente, tomando providências para o devido encaminhamento terapêutico do paciente com economia de tempo. Para tanto, é necessário caracterizar os passos descritos por Oliveira (2006) seguidos na presente pesquisa com o intuito de dirigir nossas ações. Na primeira fase, foi realizada a revisão de literatura para fundamentar o referencial teórico da presente pesquisa. O enfoque foi enfatizado nas bases teóricas das políticas públicas do SUS e saúde mental: os princípios de universalidade, integralidade, equidade e humanização em saúde. Ainda foram revisados os modelos assistenciais em saúde, considerando o modelo biopsicossocioespiritual como o ideal a ser seguido, e o modelo biopsicossocial como possível de ser aplicado na saúde mental, pois ainda a espiritualidade é vista com preconceito na saúde. Foi revisado o conceito de trabalho em equipe, considerando o trabalho interdisciplinar como integrador das disciplinas em saúde mental. Como também, foi apresentado o Case Management como modelo gerencial em saúde mental que possibilita a melhor operacionalização dos protocolos de saúde que, em nossa pesquisa, seria o protocolo de diagnóstico da depressão elaborado: o PDDA. Ainda nessa fase, foi elaborado pelo pesquisador principal o protocolo de diagnóstico da depressão (PDDA), seguindo os seis passos descritos na elaboração de protocolos clínicos sugeridos pelo Grupo Hospitalar Conceição (2008), fundamentando-se na CID-10, especialmente nos especificadores citados para diagnosticar os diversos tipos de depressão definidos. Além disso, foi recorrida a revisão de literatura não sistematizada para a construção do manual de diagnóstico para depressão do PDDA. Na segunda fase da presente pesquisa, considerou-se com o intuito de melhor organizar a pesquisa de campo, a terceira fase da pesquisa participante descrita por Oliveira (2006), em que é feita análise crítica do problema com os sujeitos de pesquisa. Nosso problema era a necessidade de se diagnosticar a depressão de forma rápida e eficiente. Nossa solução era a elaboração de um 47 protocolo de diagnóstico para depressão que atendesse a essa demanda do CAPS II. Este protocolo foi elaborado como descrito na primeira fase pelo pesquisador principal. Além disso, atendendo a segunda fase, foram realizadas três reuniões com a equipe interdisciplinar de saúde mental de um CAPs II de Porto Velho – RO. Com o objetivo de melhor esclarecer para a equipe a proposta de pesquisa. Na primeira reunião, o pesquisador principal apresentou o protocolo de diagnóstico para depressão (o qual foi elaborado na primeira fase), e enfatizou a necessidade do apoio dos profissionais de saúde do CAPs II, que contribuiriam com sua experiência profissional, opiniões e expertises na testagem piloto que ocorreria na terceira fase. Estiveram presentes enfermeiros e psicólogos nesta reunião. Na segunda reunião, o pesquisador principal explorou objetivos propostos no projeto de pesquisa, fez uma breve palestra sobre case management, trabalho interdisciplinar e viabilidade de protocolos no serviço de saúde mental focados no diagnóstico da depressão. Foram respondidas indagações a respeito desses conteúdos apresentados, conforme a solicitação dos membros presentes nessa reunião. Estiveram presentes psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos e assistentes sociais. Na terceira reunião, foi discutido livremente a importância de criar protocolos de saúde mental de diagnósticos para depressão, e as dificuldades e potencialidades de seu uso no tratamento do usuário do serviço mental. Estiveram presentes psicólogos, enfermeiros especialistas em saúde mental e assistentes sociais. Esta entrevista foi gravada e durou aproximadamente uma hora e meia. Além disso, o pesquisador principal visitava o CAPs II periodicamente para interagir com os profissionais e pacientes. Além de pesquisador, é enfermeiro e pode acompanhar os profissionais de saúde durante os atendimentos prestados aos usuários do CAPs II. A terceira fase da presente pesquisa correspondeu à segunda fase da pesquisa participante descrita por Oliveira (2006). oi su metido o protocolo de dia n stico da depressão aos profissionais da e uipe de sa de mental que desejaram participar da presente pesquisa. Esta submissão ocorreu em caráter único, por questão de tempo, e o pesquisador entregou o protocolo de diagnóstico da depressão, com o Questionário de Validação do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA), individualmente a cada participante. Os quais teriam duas semanas para entregarem ao pesquisador principal o questionário respondido. 48 Nesta fase também, após a devolutiva dos questionários respondidos, o pesquisador principal analisou as respostas obtidas no questionário aplicado à equipe de saúde mental para compor a validação piloto do protocolo de diagnóstico para depressão. Esta fase possibilitou gerar os resultados do quadro 2 (p. 63). A quarta fase da pesquisa participante, como sugerida por Oliveira (2006) não ocorreu, pois a presente pesquisa foi executada nas três fases da pesquisa participante, como citada anteriormente. É pertinente frisar que a pesquisa participante permite, como metodologia a ser seguida, flexibilidade, como expôs Oliveira (2006), ao considerar que o pesquisador pode se centrar mais em uma destas etapas (as quatros etapas da pesquisa participantes) que nas outras, não sendo necessário seguir uma ordem linear dessas etapas. 3.2 LOCAL A pesquisa foi organizada no âmbito do Laboratório de Relações Interpessoais e Saúde da UNIR4 e realizada no ano de 2013-2014, em um Centro de Atenção Psicossocial tipo II, CAPs II, do município de Porto Velho (Rondônia, Brasil). A unidade de saúde oferece atendimento multidisciplinar e humanizado aos usuários com transtornos mentais, psicoses e neuroses graves (BRASIL, 2013d). A equipe do CAPs II era composta durante o período da pesquisa por seis médicos, seis psicólogos, cinco enfermeiros, quatro assistentes sociais, três farmacêuticas, uma fisioterapeuta e uma terapeuta ocupacional. 3.3 PARTICIPANTES (1º) O pesquisador principal tem formação em Bacharelado em Enfermagem (enfermeiro) e especialização em Gestão de Pessoas, com experiência em elaboração de protocolos de saúde em instituição hospitalar. Cumpriu com a função 4 O Laboratório de Relações Interpessoais e Saúde - LARIS está vinculado ao Departamento de Psicologia - DEPSI e ao Núcleo de Saúde - NUSAU da Universidade Federal de Rondônia - UNIR, tendo por finalidade desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão no campo das relações interpessoais. A partir de uma perspectiva biopsicossocial, as atividades do LARIS visam contribuir com: (1) as investigações sobre adaptação social e saúde; (2) a promoção da saúde e da qualidade de vida junto à comunidade; e (3) a formação do psicólogo e demais profissionais da saúde na promoção da saúde coletiva com técnicas e abordagens interpessoais. O grupo é coordenado pelo Professor Fabio Biasotto Feitosa, possuído uma página na internet: < http://www.laris.unir.br/>. 49 de construir o protocolo pautado na revisão da literatura, nas sugestões dos profissionais de saúde e em sua experiência. (2º) O pesquisador secundário tem formação em Psicologia e experiência em orientação de projetos de pesquisa no tema da depressão. Teve a responsabilidade de avaliar e reformular o material produzido seguindo diretrizes metodológicas da pesquisa participante. (3º) Profissionais da saúde que compõem a equipe interdisciplinar do CAPs II, que desejaram participar da pesquisa, sendo 03 psicólogas, 01 enfermeiro e 01 assistente social. Contribuíram como juízes avaliando e aprimorando o protocolo elaborado mediante sugestões, críticas e novas ideias. 3.4 PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS A coleta de dados somente iniciou após obtenção de parecer favorável pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de Rondônia, ocorrendo no mês de março a outubro de 2014 (ver p. 91-93). 3.4.1 Primeira fase da pesquisa participante: construção do protocolo de diagnóstico da depressão – PDDA e seu manual Para a construção do protocolo foi usado como referencial teórico as descrições clínicas e diretrizes diagnósticas da Classificação dos Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 (OMS, 1993). O pesquisador principal analisou a CID-10 fazendo uma leitura flutuante5 para entender as especificidades dos transtornos depressivos descritos na CID-10. Após essa leitura, foram fichados os pontos chave dos diferentes tipos de depressão, de forma a transformá-los em itens que facilitassem o diagnóstico da depressão pelos profissionais da saúde. Recorrendo à literatura, inspirou-se no protocolo da prefeitura de Santa Catarina (BRASIL, 2010b) (apenas no sentido de que este protocolo teve a iniciativa em nível municipal de subsidiar os diagnósticos dos transtornos mentais, mesmo que de forma breve e resumida, sendo apenas um estopim para ideia de se construir um 5 Leitura flutuante é uma das fases da análise do conteúdo. Nela ocorre o contato com o documento a ser analisado, e é possível conhecer o contexto, deixar fluir as impressões e orientações (CAMPOS, 2004). Nesse sentido foi realizada a leitura flutuante com o objetivo de encontrar os indícios essenciais para o diagnóstico da depressão. 50 protocolo de diagnóstico para depressão, como foi proposto na presente pesquisa) e foram seguidos, de forma estrutural, os seis passos descritos, a seguir, na elaboração de protocolos sugeridos pelo Grupo Hospitalar Conceição (2008) para organizar as informações dos fichamentos no formato padrão de um protocolo de saúde: 1) Escolher o título ou tema; 2) Avaliar a magnitude (o quanto frequente é a condição), transcendência (gravidade do problema) e vulnerabilidade (o quanto é efetivo o tratamento); 3) Relatar as evidências e suas fontes bibliográficas pesquisadas; 4) Informar sobre os níveis de evidência encontrados; 5) Organizar o trabalho em um modelo de formulação; 6) Enumerar as referências bibliográficas consultadas. Atendendo ao primeiro passo, foi definido o título do protocolo de saúde: “Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos – PDDA”. No segundo passo, foram definidos: (1) a magnitude da depressão, que se refere à descrição da prevalência e incidência (a qual pode ser consultada no Manual do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos, p. 55-63); (2) a transcendência da depressão, que se refere à sua gravidade caso não seja diagnosticada e tratada, ou seja, o risco de suicídio; e (3) a vulnerabilidade da depressão em relação ao tratamento foi um item desconsiderado pelo fato do instrumento objetivar apenas o diagnóstico da depressão. No terceiro passo, foi eleita apenas a CID-10 como referência para se padronizar os critérios de diagnóstico para depressão, por ser bastante abrangente e amplamente utilizada no Brasil. O quarto passo foi contemplado no terceiro, não sendo feito de maneira independente porque a CID-10 é um consenso de pesquisas já validadas. No quinto passo, o pesquisador organizou o protocolo em quadros por ser mais estético. No sexto passo, foi apenas citada a referência da CID-10. Para elaboração do manual do protocolo de diagnóstico da depressão foi necessário recorrer à revisão de literatura não sistemática na base de dados Portal Periódicos CAPES/MEC6, que abrange materiais científicos de diversas áreas do conhecimento, incluído as ciências médicas. Nesta foram utilizadas palavras-chave como: “depression” e “prevalence”. Foram escolhidos artigos de pesquisas 6 O Portal de Periódicos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), é uma biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil as pesquisas mais relevantes em âmbito internacional. Este conta com um acervo de mais de 37 mil títulos com texto completo, 126 bases referenciais, 11 bases dedicadas exclusivamente a patentes, além de livros, enciclopédias e obras de referência, normas técnicas, estatísticas e conteúdo audiovisual. Para mais informações consultar: <http://www.periodicos.capes.gov.br/>. 51 internacionais que traziam prevalências das diversas depressões apresentadas no protocolo de diagnóstico da depressão, e que eram artigos atuais (nos últimos 5 anos), entretanto também foram mantidos artigos clássicos por serem considerados como importantes e confiáveis, artigos escritos em inglês e disponíveis na íntegra. 3.4.2 Segunda fase: reunião com a equipe de saúde mental e discussão dos objetivos da presente pesquisa Foram realizadas três reuniões com a equipe interdisciplinar de saúde mental do CAPs II. Na primeira reunião, o pesquisador principal apresentou a proposta de se realizar um protocolo de diagnóstico para a depressão e a necessidade do apoio dos profissionais de saúde do CAPs II, que contribuiriam com sua experiência profissional, opiniões e expertises, na validação do PDDA como instrumento efetivo de ser utilizado no serviço de saúde mental oferecido no CAPS II. Estiveram presentes enfermeiros e psicólogos nesta reunião. Na segunda reunião, o pesquisador principal explicou os objetivos propostos no projeto de pesquisa, fez uma breve palestra sobre case management, trabalho interdisciplinar e viabilidade de protocolos no serviço de saúde mental. Foram respondidas indagações a respeito desses conteúdos apresentados, conforme a solicitação dos membros presentes nessa reunião. Estiveram presentes psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos e assistente-sociais. Na terceira reunião, foi discutido livremente a importância de criar protocolos de saúde mental, sempre enfatizando o diagnóstico e tratamento da depressão, como também as dificuldades e potencialidades de seu uso no serviço de saúde mental. Estiveram presentes psicólogos, enfermeiros especialistas em saúde mental e assistente-sociais. Esta entrevista foi gravada e durou aproximadamente uma hora e meia. 52 3.4.3 Terceira fase da pesquisa participante: aplicação do questionário a equipe de saúde mental para validação do protocolo diagnóstico da depressão (ver p. 89) O material assim produzido foi submetido, uma única vez (em razão da disponibilidade), à avaliação dos profissionais de saúde participantes, cujas sugestões de adequação foram atendidas. O material foi deixado dentro de um envelope e entregue pessoalmente com orientações de que poderiam modificá-lo e para responder às perguntas que avaliavam a adequação do protocolo: “Você pensa que este protocolo de rastreamento rápido da depressão é operativo?” “Você usaria este protocolo em seu serviço? Justifi ue.” “Quais sugestões de melhoramento você adicionaria a este protocolo?” “O que você gostou neste protocolo?” “Quais dificuldades você encontraria na aplicação deste protocolo?”. Foi pedido que o retorno fosse dado no prazo de duas semanas. O pesquisador principal procedeu a uma análise do conteúdo das respostas dos participantes. O pesquisador secundário, por sua vez, avaliou o material produzido gradativamente conforme a incorporação das sugestões recebidas dos profissionais e de informações advindas das novas leituras e elaborações do pesquisador principal. 53 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados são apresentados em duas seções, sendo que a primeira caracteriza o Manual do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA) elaborado nesta pesquisa; e a segunda apresenta a viabilidade deste protocolo na concepção de uma equipe de saúde mental, como validação piloto do PDDA. Na primeira seção, temos a Figura 1 (ver p. 54), com o Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA), produto desta pesquisa, que foi elaborado pelos pesquisadores. Ainda nessa seção, com o intuito de esclarecer o Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA), que é apresentado na Figura 1, é apresentado o Manual do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA) (ver p. 55-63). Portanto, a linguagem utilizada é técnica, utilizandose da revisão de literatura não sistematizada, restringindo-se aos achados clínicos epidemiológicos sobre a prevalência da depressão em população adulta. Na segunda seção dessa dissertação, foi apresentada a Viabilidade do Uso do PDDA pela equipe de saúde mental do CAPs II (ver p. 63), sendo uma validação piloto do PDDA, com o propósito de se avaliar operatividade, aplicabilidade, pontos fortes e fracos. 54 Figura 1 - Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos - PDDA 55 4.1 MANUAL DO PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO DA DEPRESSÃO EM ADULTOS (PDDA) A depressão se configura como a quinta causa de mortalidade em todo o mundo, sendo sua incidência maior no sexo feminino (FÉLIX et al., 2013). É caracterizada pela presença de tristeza, perda do interesse ou prazer, sentimento de culpa ou falta de autoestima, insônia, inapetência, fadiga e falta de concentração. Ela pode se tornar crônica ou ser recorrente, prejudicando o trabalho e a realização das atividades diárias, podendo conduzir ao suicídio (WHO, 2014a). A CID-10 define clinicamente a depressão como a dificuldade para prosseguir com o trabalho e atividades sociais normais (OMS, 1993). A depressão é classificada por sua gravidade em leve, moderada e grave, limitando-se a três sintomas fundamentais e oito sintomas acessórios (QUADRO 1). Quadro 1 – Sintomatologia depressiva SINTOMAS FUNDAMENTAIS SINTOMAS ACESSÓRIOS 1- Humor deprimido ou tristeza persistente; 1- Apetite diminuído; 2- Fatigabilidade aumentada ou perda de 2- Atividade diminuída; energia física ou mental; 3- Autoestima e autoconfiança reduzidas; 3- Perda de interesse e prazer. 4- Concentração e atenção reduzidas; 5- Sentimentos de culpa e inutilidade; 6- Pensamentos de atos lesivos ou suicidas; 7- Sono perturbado; 8- Visões desoladas e pessimistas do futuro. 4.1.1 Critérios do diagnóstico da depressão em adultos 4.1.1.1 Depressão Leve (F32.0); Depressão Moderada (F32.1) e Depressão Grave (F32.2) A depressão leve é caracterizada pela presença de dois sintomas fundamentais da depressão e mais dois sintomas acessórios. O indivíduo tem alguma dificuldade em realizar suas tarefas diárias, mas não deixará de fazê-las (OMS, 1993). A depressão moderada é caracterizada pela presença de dois sintomas fundamentais da depressão e pelo menos três ou quatro sintomas acessórios. O 56 indivíduo terá dificuldade considerável em continuar suas atividades diárias (OMS, 1993). A depressão grave é caracterizada pela presença de três sintomas fundamentais da depressão, mais pelo menos quatro dos sintomas acessórios. O indivíduo não realizará suas atividades diárias (OMS, 1993). O estudo de Glattacker, Heyduck e Meffert (2013), realizado na Alemanha, identificaram que entre a amostra de 96 indivíduos (média etária 41,4 anos), sendo 74,0% do sexo feminino, 17,7% possuíam segundo a CID-10 depressão leve, 25,0% depressão moderada e 2,1% depressão grave. Além disso, Prukkanone et al., (2010), encontraram em seu estudo, realizado na Tailândia, com amostra de 1.058 indivíduos depressivos (idade média 46 anos), usando os critérios da CID-10, os diagnósticos: depressão leve (5,8%), depressão moderada (14,6%), depressão grave e depressão grave com sintomas psicóticos (42,4%). Além disso, Bharadwaj et al. (2012), em seu estudo realizado no Norte da Índia, demonstraram que em uma população de 561 indivíduos (idade etária 36,2 anos) 21% possuíam depressão grave, usando os critérios da CID-10. 4.1.1.2 Depressão Grave com Sintomas Psicóticos (F32.3) Na depressão grave com sintomas psicóticos se desenvolve delírios e alucinações. O paciente apresenta insônia ou hipersonia diurna, astenia, fatigabilidade, anorexia e diminuição da libido (BRAVO et al., 2013). Para esse diagnóstico é necessária a presença do diagnóstico de depressão grave mais a presença de delírios, alucinações ou estupor depressivo. De acordo com o estudo de Bharadwaj et al., (2012), 31% de sua amostra tinha depressão grave com sintomas psicóticos. O estudo dinamarquês de Østergaard et al. (2011) incluiu 29.254 indivíduos com diagnóstico de depressão grave ou recorrente (F32.2, F32.3, F33.2 e F33.3). Destes, 9.768 pacientes (33%) tinham depressão grave com sintomas psicóticos ou depressão recorrente grave com sintomas psicóticos; e 19.576 pacientes (67%) tinham diagnóstico de depressão grave ou depressão recorrente grave. 57 4.1.1.3 Outros Episódios Depressivos (F32.8) Depressão que não seja classificada como depressão leve, depressão moderada ou depressão grave ou depressão grave com sintomas psicóticos. O paciente apresenta sintomas depressivos com sintomas não diagnosticados, como preocupação e angústia ou/e sintomas depressivos somáticos não decorrentes de causas orgânicas (OMS, 1993). Kleine-Budde et al. (2013) puderam demonstrar em seu estudo alemão com uma amostra de 117.220 mulheres da zona rural (64,5 anos) que, para a categoria denominada para o “outros diagnósticos depressivos” (F32.8, F32.9, F33.8 e F33.9), 80% delas tinham alguns destes diagnósticos mencionados como “outros diagnósticos depressivos”. 4.1.1.4 Depressão Atípica (F32.9) Depressão com dificuldade de ser especificada. Os sintomas podem ser especificados pelo apetite e sono aumentados, ganho de peso, manter reatividade de humor a situações agradáveis. Achados de Glattacker, Heyduck e Meffert (2013) mostraram que 1% dos indivíduos tinha depressão atípica. 4.1.1.5 Depressão Secundária (F06.32) A depressão secundária é caracterizada por uma alteração no humor ou afeto ocasionado por alguma alteração orgânica no cérebro ou física, cuja presença deve ser demonstrada por exames físico e/ou laboratoriais (OMS, 1993). Para Kalinin e Polyanskiy (2009), 25,7% de 66 indivíduos epiléticos (idade média 32,8 anos) tinham depressão secundária. 4.1.1.6 Depressão Bipolar (F31. 3 A F31. 6) Para Lafer e Soares (2005), a depressão bipolar é caracterizada por episódios depressivos que incidem em portadores do transtorno bipolar. Na fase depressiva é caracterizada pela tristeza patológica, perda de interesse e capacidade de obter prazer. O paciente pode referir desesperança, vazio interno, disforia, 58 ansiedade e angústia intensa. O pensamento é lento, monótono e diminuído, com ideias pessimistas e desagradáveis (BRAVO et al., 2013). Undurraga et al., (2012), evidenciou que entre 290 indivíduos com depressão bipolar, houve prevalência em mulheres (51,7%), 70,7% tinham o diagnóstico de transtorno bipolar tipo 1, e 29,3% o diagnóstico de transtorno bipolar tipo 2. E Bharadwaj et al., (2012) demonstrou que 81% da amostra de seu estudo tinha o diagnóstico de depressão bipolar. 4.1.1.7 Depressão Pós-Parto (F53.0) A depressão pós-parto provoca alterações emocionais, cognitivas, comportamentais e físicas, iniciando-se de maneira insidiosa, estendendo-se após o parto (FÉLIX et al., 2013), com manifestações significativas que interferem na qualidade de vida do biônimo mãe-filho. A depressão pós-parto está presente em 15% das puérperas (MENEZES, 2012), e Félix et al., (2013) citou que a prevalência seria entre 10 a 42%. Em populações de baixa renda essa prevalência chega a 25% (MENEZES, 2012). Os sintomas, geralmente, são direcionados ao recém-nascido como: irritabilidade, transferência de responsabilidade, negligência em cuidar, agressão, falta de estímulo para amamentar. A puérpera também pode apresentar o desinteresse sexual; e fatores como frustrações em relação às expectativas desejadas na maternidade, conflitos conjugais, baixas condições socioeconômicas e falta de apoio social agravam o seu quadro depressivo (FÉLIX et al., 2013). 4.1.1.8 Depressão Recorrente Leve (F33.0) A depressão recorrente leve é caracterizada por diagnóstico anterior de depressão leve, mais pelo menos dois episódios depressivos (com sintomas fundamentais ou acessórios) de duração de no mínimo duas semanas e separados por vários meses. Ainda segundo Glattacker, Heyduck e Meffert (2013), em seu estudo, 4,2% de sua amostra tiveram o diagnóstico de depressão recorrente. 59 4.1.1.9 Depressão Recorrente Moderada (F33.1) A depressão recorrente moderada é caracterizada pelo diagnóstico de depressão moderada, mais pelo menos dois episódios depressivos (com sintomas fundamentais ou acessórios) de duração de no mínimo duas semanas e separados por vários meses. A depressão recorrente moderada, segundo Lewis et al., (2010), esteve presente em 69,3% das mulheres de uma população de 1.346 casos de indivíduos com depressão recorrente moderada, selecionados no Reino Unido de 1.636 casos de indivíduos depressivos. Porém, Glattacker, Heyduck e Meffert (2013) identificaram que 37,5% de sua amostra tinham depressão recorrente moderada. 4.1.1.10 Depressão Recorrente Grave (F33.2) A depressão recorrente grave é caracterizada pelo diagnóstico anterior de F33.3 Depressão Grave, mais pelo menos dois episódios depressivos (com sintomas fundamentais ou acessórios) de duração de no mínimo duas semanas e separados por vários meses sem perturbação significativa do humor. Glattacker, Heyduck e Meffert (2013) identificaram que 1,0% de sua amostra obteve depressão recorrente grave. Kleine-Budde et al., (2013), também contribuíram ao apresentar em sua pesquisa que 31,4% dos participantes tinham algum diagnóstico de depressão recorrente, e 85,7% tinham outros tipos de depressão. 4.1.1.11 Depressão Recorrente Grave com Sintomas Psicóticos (F33.3) A depressão recorrente grave com sintomas psicóticos é caracterizada pelo diagnóstico de depressão grave, mais delírio, alucinações ou estupor depressivo (sem diagnóstico de esquizofrenia). O paciente apresenta pelo menos dois episódios depressivos (com sintomas fundamentais ou acessórios, incluídos delírios e alucinações) de duração de no mínimo duas semanas e separados por vários meses sem perturbação significativa do humor (OMS, 1993). 60 Čulav-Sumić e Jukić (2010), apresentaram em seu estudo, realizado na Croácia de amostra de 150 mulheres (média etária 50,7 anos), que 33,3% tinham o diagnóstico de depressão recorrente grave com sintomas psicóticos. 4.1.1.12 Transtorno Depressivo Recorrente, Atualmente em Remissão (F33.4) O transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão é caracterizado pela presença de algum tipo de depressão recorrente leve ou depressão recorrente moderada ou depressão recorrente grave ou depressão recorrente grave com sintomas psicóticos no passado, mais pelo menos dois episódios depressivos (com sintomas fundamentais ou acessórios) de duração de no mínimo duas semanas e separados por vários meses (OMS, 1993). O estudo americano de Weck et al., (2013), encontrou 30% de indivíduos com o diagnóstico de transtorno depressivo recorrente, atualmente em remissão, entre a população de 180 pacientes (média etária 48,5 anos). 4.1.1.13 Outros Transtornos Depressivos (F33.8) Outros transtornos depressivos é um diagnóstico caracterizado pela presença de pelo menos dois episódios depressivos (com sintomas fundamentais ou acessórios) de duração de no mínimo duas semanas e separados por vários meses, e episódios depressivos que não sejam classificados como depressão recorrente leve ou depressão recorrente moderada ou depressão recorrente grave. Sheldrick et al., (2011), em um estudo de dissecção de cérebro de depressivos, encontraram 7 indivíduos com diagnóstico de depressão recorrente (F33.0) e outros transtornos depressivos (33.8). 4.1.1.14 Transtorno Depressivo Recorrente, Atípico (F33.9) Transtorno depressivo recorrente, atípico é caracterizado pela presença de pelo menos dois episódios depressivos (com sintomas fundamentais ou acessórios) de duração de no mínimo duas semanas e separados por vários meses. Estes sintomas depressivos recorrentes podem ser marcados pelo apetite e sono aumentados, ganho de peso e possuir reatividade de humor a situações agradáveis. 61 Almeida et al. (2011), em um estudo realizado na Austrália, encontraram em sua amostra de 5.585 participantes (com 70 a 90 anos) o diagnóstico da CID-10 F33.0 e F.33.9 em 8,7% dos participantes. 4.1.1.15 Ciclotimia (F34.0) Para Akiskal (2001) a prevalência da ciclotimia na população geral é de 4 6%. A ciclotimia é formalmente classificada como um transtorno de humor, com uma perturbação do humor flutuante, envolvendo numerosos períodos de sintomas hipomaníacos e sintomas depressivos, e geralmente iniciados na adolescência ou início da vida adulta. Os sintomas da ciclotimia precisam estar presentes por dois anos e não ser secundários a outras condições médicas. Tais mudanças ocorrem bruscamente em dias ou semanas acompanhadas de eventos sociais não adaptáveis (extravagância financeira, promiscuidade etc.). Estimou-se que 14,5% dos pacientes inicialmente diagnosticados com ciclotimia mais tarde poderiam ser classificados com transtorno bipolar (PARKER; MCCRAW; FLETCHER, 2012). 4.1.1.16 Distimia (F34.1) A distimia é uma forma crônica de depressão caracterizada por humor deprimido na maioria dos dias do ano, com os sintomas que duram dois anos ou mais. Pacientes com distimia tendem a ter um curso flutuante dos sintomas e tem, frequentemente, um episódio de depressão maior. A distimia afeta aproximadamente 3% da população adulta; e tem uma prevalência de cerca de 36% dos pacientes ambulatoriais. Pacientes distímicos apresentam neuroticismo, eventos estressantes na vida, transtorno de ansiedade (pânico, fobias e agorafobia), risco de suicídio, prejuízo funcional e história familiar de depressão maior (SANG et al., 2011). 4.1.1.17 Outros Transtornos Persistentes do Humor (Afetivos (F34.8); Transtorno Persistente do Humor (Afetivo), Não Especificado (F34.9) Outros transtornos persistentes do humor (afetivos) são episódios depressivos persistentes que não são suficientemente graves ou duradouros. Não 62 preenchem os critérios para ciclotimia (F 34.0), distimia (F 34.1), depressão leve (F32.0) e moderada (F 32.1), com sintomas clinicamente significativos. Transtorno persistente do humor (afetivo), não especificado são episódios depressivos persistentes por longos anos, que não se enquadram em ciclotimia(F34.0), distimia (F34.1) e outros transtornos persistentes do humor(F34.8). Fiest et al., (2014), em um estudo de revisão de literatura com intuito de validar o diagnóstico da depressão da CID-10, percebeu nos 36 artigos identificados a sensibilidade de 35,6% e especificidade de 99,4% na identificação do F34.8 Outros transtornos persistentes do humor (afetivos) e do F34.9 Transtorno persistente do humor (afetivo), não especificado. 4.1.1.18 Episódio Afetivo Misto (F38.00); Transtorno Depressivo Breve Recorrente (F38.10); Outros Transtornos Especificados do Humor (F38.8); Transtorno do Humor (Afetivo), Não Especificado (F39) Episódio afetivo misto é caracterizado como um episódio afetivo que dura pelo menos duas semanas, caracterizado tanto por uma mistura quanto por uma alternância rápida (usualmente em poucas horas) de sintomas hipomaníacos, maníacos e depressivos (OMS, 1993). Transtorno depressivo breve recorrente é caracterizado pela sua ocorrência, aproximadamente, uma vez por mês (ao contrário da distimia, o paciente não fica deprimido a maior parte do tempo), durante o último ano. Os episódios depressivos individuais têm todos menos de duas semanas de duração (2-3 dias, com recuperação completa) (OMS, 1993). Outros transtornos especificados do humor é uma classificação para os transtornos afetivos que não se classificam nos critérios para quaisquer outras categorias depressivas (seja residual do transtorno bipolar e os mencionados aqui nesta subseção) (OMS, 1993). Transtorno do humor (afetivo), não especificado deve ser usado apenas quando somente nenhum outro critério anterior (F38.00 episódio afetivo misto; F38. 10 transtorno depressivo breve recorrente; F38.8 outros transtornos especificados do humor) é preenchido. Prukkanone et al. (2010), valida os achados anteriores, ao demonstrarem em um estudo de amostra de 1.058 indivíduos depressivos que 3,1% deles tinham 63 algum diagnóstico (F38.00 episódio afetivo misto; F38.10 transtorno depressivo breve recorrente; e F38.8 outros transtornos especificados do humor). 4.2 VIABILIDADE DO USO DE PROTOCOLO PELA EQUIPE DE SAÚDE MENTAL Para a validação do protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA), este foi submetido à avaliação dos profissionais de saúde mental envolvidos na presente pesquisa, conforme representado no quadro abaixo. Os quais responderam às seguintes questões (o questionário pode ser consultado na p. 89): “Você pensa que este protocolo de rastreamento rápido da depressão é operativo?” “Você usaria este protocolo em seu serviço? Justifi ue.” “Quais sugestões de melhoramento você adicionaria a este protocolo?” “O que você gostou neste protocolo?” “Quais dificuldades você encontraria na aplicação deste protocolo?”. Quadro 2 – Atribuições positivas e negativas ao potencial de uso do protocolo de diagnóstico (5 profissionais de saúde mental) Atribuições Positivas Atribuições Negativas Sim, operativo (25) Não operativo (5) “Sim. É operativo” (assist.). “Pode se chegar ao diagnóstico mais rápido e OPERATIVIDADE preciso” (enf.). “Or anizado e coerente” (psi. 1). “Verificar e identificar a CID-10” (psi. 2). “Detalhamento na classificação de cada transtorno depressivo” (psi.3). USARIA EM SERVIÇO SUGESTÕES “Utilizar palavras-chaves” (psi. 1). “Su meter o protocolo a apreciação da classe médica e psiquiátrica, a quem compete diagnosticar os pacientes” (psi.3). “Sim. Eu usaria este protocolo no serviço” (assist.). “ ácil de ser aplicado” (enf.). “Apoio ao diagnóstico da depressão” (psi. 1). “É simples e prático, facilitando o serviço de saúde mental” (psi. 2). “ acilita a compreensão do significado de cada código da CID-10, contribuindo em caso de d vidas” (psi.3). “Na visão do serviço social pelo o que conheço na prática, o protocolo está om” (assist.). “Acrescentaria o histórico atual da doença” “ azer um protocolo mais (enf.). resumido para profissionais que “Melhorar o layout do protocolo de tem a prática” (psi. 1). diagnóstico da depressão” (psi. 1). “Não tenho” (psi. 2). “Sem su estão” (psi. 3). 64 PONTO FORTE “É um bom roteiro de entrevista” (assist.). “A facilidade de diagnosticar a depressão” (enf.). “Este protocolo resume todas as informações” (psi.1). “ acilitaria os atendimentos individuais ou em rupo” (psi. 2). “Na minha visão pessoal o protocolo está ade uado” (psi. 3) DIFICULDADE “Não teria. A CID-10 nos oferece condição de informar aos serviços (INSS, etc), se o paciente tem direito a benefícios sociais” (assist.). “Não teria dificuldade” (enf.). “Não teria” (psi. 1). “Talvez nenhuma, pois, o protocolo é claro” (psi. 2). “Creio que as dificuldades estão relacionadas com conhecimento de psicopatologia, e não em relação ao protocolo” (psi.3). “ alta de tempo” (Enf.). “Este protocolo deve informar com mais clareza para enfermagem e psicolo ia” (assist.). Legenda: Assist.: Assistente Social; Enf.: Enfermeiro; Psi.: Psicólogo Foi possível perceber, pela análise do conteúdo das respostas dos participantes, que o “Protocolo de diagnóstico da depressão em adultos – PDDA” se mostrou adequado e viável para ser utilizado no serviço de saúde mental. A sua operatividade e viabilidade foram confirmadas em 25 afirmações nas respostas. Apenas em seis afirmações nas respostas, os profissionais da saúde indicaram alguma desvantagem na utilização do PDDA (sendo que o psicólogo 1 opinou apenas em relação a operatividade e sugestões. O psicólogo 3 opinou apenas na operatividade. O enfermeiro e assistente social opinaram apenas na dificuldades). Em suma, o protocolo em questão tem o potencial de atender às expectativas do serviço de saúde, por ter sido considerado operativo e viável por uma equipe interdisciplinar de saúde mental. Logo, é necessário discutir a pesquisa realizada, com bases nos resultados. Sendo importante retomar as respostas dos 5 profissionais de saúde, presentes nas 5 categorias temáticas (operatividade, usaria em serviço, sugestões, ponto forte e dificuldade), que na visão desses validam o uso do PDDA no serviço de saúde. Considerando a categoria operatividade é evidente nas falas dos integrantes da equipe de saúde mental participantes desta pesquisa (assiste social, enfermeiro e psicólogos) que o Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos – PDDA é operativo. A operatividade referiu-se a eficiência no processo de diagnosticar a 65 depressão no serviço de saúde. O que é nítido nas falas do assistente social, enfermeiro e psicólogo 2 e 3: “Sim. É operativo” (assist.). “Pode se chegar ao diagnóstico mais rápido e preciso” (enf.). “Verificar e identificar a CID-10” (psi. 2). “Detalhamento na classificação de cada transtorno depressivo” (psi.3). Trouxe também o conceito de organização na fala do psicólogo 1: “Or anizado e coerente” (psi. 1). Estas respostas reforçam a ideia de que o protocolo proposto é operativo por ser padronizado, organizado e sistematizado, sendo um subsídio para facilitar o trabalho em saúde mental. Para Werneck, Faria e Campos (2009), os protocolos são viáveis para o desenvolvimento das ações de saúde e deve ser empregados como critérios técnicos, científicos e políticos. Estes também proporcionam eficiência na assistência à saúde e aumentam a acessibilidade ao serviço de saúde. Dessa forma, o PDDA seria um instrumento que pode ser implementado no SUS, devendo favorecer o acesso universal e equidade no atendimento ao usuário com depressão. Isso ocorre por meio de um diagnóstico rápido e eficiente. Consequentemente o PDDA atende os requisitos exigido na Lei Orgânica de Saúde n. 8.080/1990 que enfatiza os princípios do SUS: a universalidade no acesso à saúde, integralidade, descentralização, participação social e padrões de gestão do sistema, para atenderem a necessidade do indivíduo (BRASIL, 1990a; SANTOS, 2009). Além disso, no momento em que o usuário do SUS tem o diagnóstico da depressão por meio do PDDA, ele precisará de um encaminhamento ao serviço de saúde mental. Aqui é retomado o conceito de equidade, em que Figueiredo e Tonini (2008) citam-na como garantia de ações, procedimentos ou qualquer serviço em todos os níveis do SUS, conforme a complexidade exigida em cada situação a ser analisada. Por outras palavras, os usuários com diagnósticos de depressão terão direito prioritário de serem atendidos. Em relação ao encaminhamento é coerente retomarmos ao modelo gerencial case management, que é um método de gestão que orienta a equipe de saúde na busca de qualidade na assistência de saúde, principalmente no tratamento de usuários que necessitam de uma assistência de saúde específica e contínua por um longo período, no caso a depressão (SILVEIRA et al., 2013). O case 66 management possibilita que os profissionais de saúde encaminhem os pacientes a um atendimento adequado com um especialista clínico ou a uma referência de tratamento, exemplo disso seriam os centros de atenção psicossocial (TOWNSEND, 2002). Sendo operativo o PDDA humaniza o serviço por diminuir o tempo de espera do usuário nas filas de atendimentos. Isso confirma o almejado pela política de Humanização (PNH) que foi implementada no serviço de saúde com o intuito de desfragmentar o serviço e torná-lo eficiente, diminuindo as longas filas de espera (BRASIL, 2004a). Deste modo, o PDDA pode oferecer uma importante vantagem para o diagnóstico rápido da depressão conduzido por qualquer profissional de uma equipe interdisciplinar de saúde mental, após treinamento para uso. O acesso do paciente do SUS ao diagnóstico se torna, portanto, universal e, pela sua agilidade, mais humanizado, o que colabora com os pressupostos da PNH. Em relação à fala do psicólogo 3: “Su meter o protocolo a apreciação da classe médica e psiquiátrica, a quem compete diagnosticar os pacientes”, ressaltase que o PDDA foi submetido à apreciação da classe médica, mas não houve retorno dos mesmos. Aspectos que sugerem que os demais profissionais de saúde não médicos desconhecem os âmbitos legais em relação ao diagnóstico de doenças. Pela legislação brasileira vigente, é permitido aos profissionais não médicos realizar diagnósticos clínicos quando amparados por protocolos do SUS (BRASIL, 2013b). É relevante considerar que nessa perspectiva, a interpretação que um profissional da saúde faz sobre um evento interferirá na forma que ele lidará com este evento. O filtro para processar as informações e experiências, codificá-las e avaliá-las está baseado no sistema de crenças que se desenvolveu ao longo da vida. Isso significa dizer que o entendimento e a significação do problema/evento vão influenciar na forma de enfrentá-lo, nos sentimentos e emoções sentidas e nos comportamentos, o que consequentemente vão interferir na avaliação cognitiva da situação. Essa avaliação também é influenciada pelo contexto histórico e história de vida do indivíduo (BARLETTA; GENNARI; CIPOLOTTI, 2011). Em relação à categoria usaria em serviço ficou subtendido nas falas dos profissionais a finalidade do PDDA (viabilidade, aplicabilidade e praticabilidade na utilização no serviço, subsídio para o diagnóstico da depressão fundamentado na 67 CID-10) da utilização do PDDA. Percebe-se que o PDDA é viável, aplicável e prático de uso no serviço de saúde mental nas seguintes falas: “ ácil de ser aplicado” (enf.). “Sim. Eu usaria este protocolo no serviço” (assist.). “Apoio ao diagnóstico da depressão” (psi. 1). “É simples e prático, facilitando o serviço de saúde mental” (psi. 2). “ acilita a compreensão do significado de cada código da CID-10, contribuindo em caso de d vidas” (psi.3). O PDDA é um protocolo clínico, e conforme a revisão de literatura protocolos clínicos tem a finalidade de padronizar as ações em saúde com embasamentos científicos consistentes e atualizados (SCHNEID et al., 2003). Rodrigues, Nascimento e Araujo (2011) colaboram enfatizar que os protocolos de saúde organizam a assistência de saúde por se estabelecer condutas e procedimentos que aperfeiçoam o processo de trabalho, beneficiando a gestão, profissionais e pacientes. O PDDA beneficia os profissionais por facilitar identificação da depressão sem ter que recorrer a CID-10. Essa categoria retoma também o serviço de saúde mental, particularmente, o centro de atenção psicossocial, pois é nele que o PDDA foi avaliado por estes profissionais. Pinto et al. (2011), enfatiza que os CAPs foram criados para promover um tratamento integral e humanizado. E o melhor modelo a ser trabalhado nos CAPs seria o modelo biopsicossocioespiritual por conceber o ser humano como um ser integral que possui dimensões físicas, psicológicas, sociais e espirituais (BREDEMEIER, 2005). Este modelo alude à atenção integral de saúde, em que a integralidade pode ser construída pela aplicação de protocolo de diagnóstico e de identificação de situação de risco para saúde (GOMES; PINHEIRO, 2005). Assim, o foco do PDDA prioriza a interdisciplinaridade em saúde mental, pois seu uso é feito por todos profissionais de saúde. Contribuindo para que seja viabilizada a troca de conhecimento, assistência integral com qualidade e eficiência (RODRIGUES; NASCIMENTO; ARAÚJO, 2011). Também em sua elaboração o PDDA manteve o foco interdisciplinar porque ao ser consultado diversos profissionais de saúde mental, foi realizado o compartilhamento e trocas entre as especialidade de saúde, onde todos saíram enriquecidos (COSTA, 2007), e foi produzido um protocolo de diagnóstico da depressão com sugestões desta equipe. Protocolos de saúde organizam o processo de trabalho em saúde baseado na 68 interdisciplinaridade (RODRIGUES; NASCIMENTO; ARAUJO, 2011). Além disso, o case management é operacionalizado pelo trabalho interdisciplinar (FLETCHER; SHERRILYN, 1999). E é visto na saúde mental como uma metodologia efetiva para garantir a continuidade do tratamento para pacientes com transtornos mentais graves (SILVEIRA et al., 2013) incluindo a depressão. O uso do PDDA deve ser pautado no trabalho em equipe e na interdisciplinaridade em saúde mental, pois acreditamos que apenas o compartilhamento das ações em saúde pode trazer a reabilitação do transtorno mental, em particular, a depressão, pois nenhuma profissão ou ciência é capaz de compreender sozinha (como também uma única teoria) a complexidade do ser humano, muito menos a saúde mental. Os protocolos de saúde uma vez baseados em evidências científicas, podem guiar o diagnóstico sistematizado da depressão. Foi notório as falas do psicólogo 1 e 3, por demonstrarem a importância do PDDA no diagnóstico da depressão: “Apoio ao diagnóstico da depressão” (psi. 1); “Facilita a compreensão do significado de cada código da CID-10, contribuindo em caso de d vidas” (psi.3). Isso sugere que por a depressão ser multicasual (DUBOVSKY; DAVIES; DUBOVSKY, 2006; FEITOSA et al., 2009; FEITOSA, 2014; LUCAS, 2003; POWELL, 2008; SOARES, 2010), gera dúvida, insegurança e conflitos ideológicos por esses profissionais durante o diagnóstico. Ao ser sistematizado os conceitos validados em consenso científico da CID-10 no PDDA, contribuímos de forma a minimizar esse conflitos e insegurança. O PDDA configura um processo de diagnóstico mais democrático, uma vez que em tese, qualquer profissional da saúde, com o devido treinamento, poderá utilizá-lo. O mesmo não se dá com a CID-10 em sua versão original para o diagnóstico da depressão, que é de difícil manejo. Os testes psicológicos para o diagnóstico da depressão, por sua vez, além de não contemplarem as amplas especificidades de diagnóstico da CID-10, têm, no Brasil, a sua venda restrita a psicólogos. Para a categoria sugestões não foi atendida a sugestão de melhoria do enfermeiro, que achou pertinente a necessidade de acrescentar o histórico atual da doença, porque o PDDA foca-se na depressão, e é mais relevante citar os especificadores destes diagnósticos, como foi considerado no PDDA, citando a sintomatologia depressiva, com sintomas fundamentais e acessórios. 69 Em consideração a sugestão do psicólogo 1: “ azer um protocolo mais resumido para os profissionais que tem a prática”, também foi desconsiderada pelos pesquisadores principais por ser julgado como algo que iria dificultar o diagnóstico da depressão, pois PDDA já é uma síntese da CID-10. E se isso fosse considerado, poderia prejudicar a facilidade de diagnosticar presente no PDDA. Atendemos a sugestão do psicólogo 1 em relação a sua sugestão: “melhorar o layout do protocolo de diagnóstico da depressão”, pois o PDDA foi submetido a um profissional de informática que utilizou o Corel Draw para fazer o protótipo proposto nesta dissertação. Melhorando, dessa forma o layout. Em relação à categoria Pontos fortes chama atenção a fala do psicólogo 2, que acredita que o PDDA “facilitaria os atendimentos individuais ou em rupo” (psi. 2). Essa fala marca por deixar explícito o conceito de case management que permite o trabalho com grupos ou indivíduos da mesma patologia, em nosso caso a depressão. Nesse método, que é operacionalizado por protocolos, é possível que o profissional de saúde, por meio da interdisciplinaridade e trabalho colaborativo, planeje, avalie, implemente, coordene, monitore e avalie a assistência de saúde prestada (ROGGENKAMP; WHITE; BAZZOLI, 2005). O Case management também permite a designação de um profissional de saúde ou uma equipe de saúde para se responsabilizar pelos os cuidados de saúde (GONZALES et al., 2003) ao usuário depressivo. Este modelo gerencial proporciona, juntamente com o PDDA, a necessidade de a equipe de saúde mental assumir a responsabilidade pelo usuário do CAPs com depressão, garantido seu diagnóstico e tratamento. Fatos que colaboram com a implementação do projeto terapêutico singular aos usuários com depressão (PINTO et al., 2011; BRASIL, 2007). Para a categoria Dificuldades é importante explorar a fala do enfermeiro que relatou como motivo para não implementar o PDDA em seu serviço a “falta de tempo”. Esta resposta chama a atenção, pois como foi demonstrado na revisão de literatura o enfermeiro tem um papel crucial na saúde mental, por ter um formação que concebe o usuário de como um todo, sem focar em uma parte. E também por o enfermeiro conduzir a equipe interdisciplinar de saúde na comunicação com o usuário, pois o enfermeiro é o único profissional de saúde que passa maior tempo com o paciente (BRASIL, 1986, 1987; BRASIL, 2001b). Assim, se o enfermeiro não tem tempo para implementar o PDDA, isso pode sugerir que este profissional não 70 está contribuindo com sua formação e experiência na mudanças no processo organizacional em seu ambiente de trabalho. Entretanto a queixa de falta de tempo entre os enfermeiros não é um achado novo na presente pesquisa, tendo sido relatada em várias pesquisas qualitativas em enfermagem. Pois é comum os enfermeiros atribuírem à falta de tempo, devido as suas inúmeras responsabilidades, competências, atribuições pela assistência aos pacientes e por déficit na equipe de enfermagem, em relação ao dimensionamento do profissional de enfermagem por paciente ou usuário do serviço de saúde (PONTES; LEITÃO; RAMOS, 2008). Como também pela dupla jornada de trabalho. A fala do assistente social sugere que este profissional compreende que o PDDA seria de uso apenas pelos enfermeiros e psicólogos: “Este protocolo deve informar com mais clareza para enfermagem e psicolo ia” Esta compreensão não é sustentada neste trabalho, que com base nos conceitos da interdisciplinaridade não limitará a utilização do PDDA a uma classe ou algumas classes profissionais. O PDDA tem objetivo de ser utilizado por todos os profissionais de saúde que se sentirem aptos para operacionalizá-lo. Claro que para seu manuseio é necessário que o profissional antes leia o Manual do protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA) e se familiarize com o conteúdo do protocolo. Sem dúvida, para o sucesso e eficiência de qualquer protocolo de saúde é necessário aprimoramento profissional e treinamento, como explicita Werneck, Faria e Campos (2009). 71 5 CONCLUSÕES A presente pesquisa contribuiu no sentido de elaborar e apresentar um protocolo para o diagnóstico da depressão válido para ser incluído em futuras pesquisas desenhadas para demonstrar o seu efeito facilitador no trabalho do profissional da saúde. O resultado, contudo, foi obtido enfrentando algumas dificuldades que merecem destaque. Dentre as dificuldades operacionais encontradas na realização da pesquisa, vale mencionar as crenças distorcidas em relação aos protocolos de saúde, visto que alguns profissionais acreditavam que eles poderiam prejudicar o serviço de saúde mental. Alegavam que os protocolos não priorizam a subjetividade do paciente em sofrimento psíquico. Outra dificuldade foi em relação ao diagnóstico da depressão, uma vez que muitos profissionais de saúde relataram não ser da competência deles participar em tal identificação, delegando a função apenas ao médico. Portanto, nesse contexto da pesquisa, não foi possível mobilizar um número maior de profissionais envolvidos na elaboração do protocolo de diagnóstico. A presente pesquisa teve influência da experiência adquirida na graduação em enfermagem, por priorizar o trabalho em equipe, gestão em saúde e uma sólida formação biológica. Na enfermagem, em sua cultura organizacional, há forte ênfase na forma, padronização e rigor técnico na execução das técnicas de enfermagem e sua assistência. É inegável que isso tenha de alguma forma motivado ou até mesmo subsidiado a proposta de elaborar um protocolo para o diagnóstico da depressão em adulto (foram excluídos crianças e adolescentes porque a minha formação em pediatria é genérica e organismo infantil é permeado por transformações e estrutura diferente do adulto). Além disso, foi almejado trazer a padronização dos procedimentos de saúde mental, em particular a depressão, com ênfase na forma de diagnosticar este transtorno, de maneira que o diagnóstico seja acessível e que atendesse os princípios do SUS de equidade e universalidade. Dessa forma é necessário voltar à pergunta inicial que norteou a presente pesquisa: “Para a construção do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos (PDDA) poderiam ser seguidas as diretrizes do manual para elaboração de protocolos clínicos do Grupo Hospitalar Conceição (2008) do Rio Grande do Sul?”. Pela exposição dos nossos argumentos e produto final de nossa pesquisa, o PDDA, pode dizer que as diretrizes do Grupo Hospitalar Conceição (2008), por meio da 72 pesquisa participante, foram um método eficaz na construção deste protocolo, sendo útil na produção de tecnologia leve-dura em saúde. Retomando ao objetivo geral da pesquisa que foi: “Ela orar um protocolo para o diagnóstico da depressão”, concluímos que conseguimos elaborar um protocolo para depressão, o qual denominamos de PDDA. Portanto, o PDDA mostrou ser um instrumento que poderá contribuir com a saúde pública por facilitar o diagnóstico por meio de uma tecnologia leve-dura, de baixo custo, operativa e de fácil uso (desde que capacitado para sua aplicação). Em especial o PDDA contribui para a psicologia por permitir que o diagnóstico da depressão seja realizado por psicólogos, fundamentado em uma evidência internacional (a CID-10), sem ser exclusivamente baseado em teorias psicológicas. Em síntese, o PDDA é viável e operativo para ser utilizado no serviço de saúde mental. E que este atende as principais transformações da saúde atuais e pode ser operacionalizado pelo case management condizente com o trabalho interdisciplinar em saúde mental; permitido o diagnóstico rápido e eficiente da depressão. O case management é a metodologia que deve ser implementada durante a operacionalização do PDDA no serviço de saúde mental, pois é por meio dessa metodologia que respaldamos o trabalho em equipe, o encaminhamento e a utilização de protocolo. Logo o PDDA é viável por ser operativo ao ter elementos que fornecem suporte ao diagnóstico da depressão. A ausência deste protocolo no serviço de saúde pode prejudicar o atendimento aos usuários depressivos, visto que o usuário tem um diagnóstico rápido e efetivo. O PDDA não conseguiu atender todos os requisitos do modelo biopsicossocioespiritual, e permanece focado no modelo biopsicossocial, com ênfase em aspectos biológicos e psicológicos, pois a CID-10 enaltece mais essas dimensões que a sociais e espirituais. Fato que se precisa considerar em novas adaptações, que surgirem nas futuras versões desse instrumento, mediante pesquisas, de forma que se incluam as outras dimensões de compreensão e manifestação da depressão. Enfim, o PDDA é um protocolo que se mostrou viável de ser utilizado pelo julgamento de uma equipe de saúde mental de um CAPs II, composta pelos profissionais de saúde participantes da presente pesquisa. Houve 25 afirmações 73 positivas em relação a unidades temáticas: operatividade, usaria em serviço, sugestões, ponto forte e dificuldades. Todas estas configuram a viabilidade e eficiência deste protocolo quando usado no serviço de saúde mental oferecido pelo CAPs. Além disso, o Manual do Protocolo de Diagnóstico da Depressão em Adultos foi viável por trazer a prevalência dos diversos tipos de depressão apresentado no PDDA. Ressaltamos ainda que a depressão, ou melhor, as depressões não podem ser baseadas apenas em um instrumento de diagnóstico, e ser restrita ao protocolo. É necessário se considerar a experiência profissional, o olhar clínico e exame físico. E que o PDDA precisa ser revisado periodicamente para que possa se mostrar sempre eficaz e válido. Contudo, futuros estudos são necessários para a obtenção de dados mais precisos de validação, checando a extensão de sua eficácia e operatividade no diagnóstico da depressão. Futuras pesquisas, focando a implementação do uso de protocolos para diagnóstico, deveriam contemplar discussões sobre o papel dos profissionais da saúde na condução de um PTS, bem como a importância do uso de protocolos de diagnóstico, considerando as dificuldades operacionais enfrentadas na realização da presente pesquisa. E em cada palavra ou cada etapa desta pesquisa lembrava sempre de Arthur Schopenhauer, na frase que marca o início (e marcará agora o término) desta dissertação: “A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê”. Todos tem uma forma de conceber a depressão, mas ninguém pensou em uma forma de diagnosticá-la sistemática e esquematizadamente dentro de um método de manejo de casos permeado pela filosofia do SUS em geral e do CAPS em particular, com o intuito de possibilitar a universalidade e equidade no atendimento de pessoas com esse transtorno mental. Acredito que o PDDA pode assumir essa responsabilidade! 74 REFERÊNCIAS ABUHAB, D. et al. O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III: um desafio. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre, v. 26, n. 3, dez. 2005. AKISKAL, H. S. Dysthymia and cyclothymia in psychiatric practice a century after Kraepelin. J. Affect Disord., 2001 Jan; 62(1-2), p. 17-31. ______.; JUDD, L. L. O espectro depressivo: reconceituando a relação entre depressões distímicas, subsindrômicas, subsindrômicas e maiores. In: LICINIO, J.; WONG, Ma-Li. Biologia da depressão. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 403. ALFARO-LEFEVRE, R. Aplicação do processo de enfermagem: promoção do cuidado colaborativo. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. ALMEIDA, O. P. et al. Complaints of difficulty to fall asleep increase the risk of depression in later life: The health in men study. J. Affect Disord., nov, 2011. ALMEIDA, R. A. et al. Avaliação da utilização de protocolos na prevenção de úlceras por pressão. 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Enfermería Global., n. 16, jun. 2009. 87 APÊNDICES APÊNDICE 88 APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA EQUIPE DO CAPS II Eu ___________________________________, R.G________________ declaro estar ciente da minha participação no projeto de pesquisa coordenado pelo mestrando Fagner Alfredo Ardisson Cirino Campos e Dr. Fábio Biassoto Feitosa, desenvolvido pela Universidade Federal de Rondônia, intitulado: Elaboração e implementação de um protocolo interdisciplinar de diagnóstico e tratamento da depressão em um CAPs II do município de Porto Velho. O presente trabalho tem por objetivo: Elaborar um protocolo clínico de diagnóstico de depressão para o serviço público em saúde mental. Benefícios: Proporcionar a elaboração e implementação de um protocolo para tratamento interdisciplinar da depressão. Estou informado que os instrumentos de intervenção e registro utilizados para este estudo incluem: Diário de campo, Escala de Avaliação da Satisfação da Equipe em Serviços de Saúde Mental (SATIS-BR), Questionário Para Membros da Equipe de Saúde do CAPS II e entrevistas que poderão ser gravadas individualmente ou em grupo. É me dada à liberdade de recusar-me a continuar ou de retirar meu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização alguma. A qualquer momento posso buscar, junto aos pesquisadores do projeto, esclarecimentos de qualquer natureza, inclusive os relativos à metodologia de trabalho. O desconforto desse trabalho ocorre no fato de poder gerar estresse nos participantes. Os responsáveis pela pesquisa garantem o sigilo que assegure a privacidade quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa. Finalmente, declaro ter ciência de que as atividades são sempre registradas, podendo ser usadas para fins científicos, como publicações e participações em congressos, nos limites da ética e do proceder científico íntegro e idôneo – e de que a minha participação nesse projeto não pode me gerar riscos ou prejuízos a saúde. Além disso, minha participação é isenta de qualquer ônus financeiro, ou indenizações por parte dos pesquisadores, pois a pesquisa não gera nenhum risco a integridade física ou emocional humana. Os pesquisadores responsabilizam-se por disponibilizar os resultados da pesquisa através de publicações científicas, sejam através de artigos ou resumos, como também em apresentações orais a comunidade científica. Nome: ________________________Assinatura: ______________________ Local:______________________ Data: ___/____/2014 Nome dos pesquisadores responsáveis: Fagner Alfredo Ardisson Cirino Campos e Fabio Biassoto Feitosa Telefone de contato: 68 92442882 E-mail: [email protected] 89 APÊNIDECE B – QUESTIONÁRIO DE VALIDAÇÃO DO PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO DA DEPRESSÃO EM ADULTOS (PDDA) Nome:___________________________________________ Profissão:________________ Observe o protocolo de diagnóstico da depressão em adultos anexado no verso dessa folha, e responda as seguintes perguntas: 1- Você pensa que este protocolo de rastreamento rápido da depressão é operativo? 2- Você usaria este protocolo em seu serviço? Justifique. 3- Quais sugestões de melhoramento você adicionaria a este protocolo? O que você gostou neste protocolo? 4- Quais dificuldades você encontraria na aplicação deste protocolo?. 90 ANEXO 91 ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 92 93