Competição monopolística Até os anos 30 do século passado, a teoria econômica se baseava quase que totalmente no modelo de competição perfeita. Isso refletia a realidade econômica e empresarial da segunda metade do século XIX na Inglaterra, país em que então se desenvolvia a análise econômica. Naquela época, preponderava o mundo das pequenas e médias empresas. A realidade histórica, no entanto, foi mudando à medida que a Revolução Industrial amadurecia nas décadas finais do século XIX. Em particular, começam a surgir grandes empresas, e mesmo alguns monopólios, principalmente nas duas potências econômicas que assumem a dianteira do progresso na virada do século XIX para o século XX: Estados Unidos e Alemanha. Nos EUA, surgem e se consolidam grandes ferrovias, siderurgias, empresas de petróleo, fabricantes de automóveis, atacadistas comerciais e outros. Surge a expressão trust, para designar essas poderosas empresas. Na Alemanha, a indústria química, têxtil, siderúrgica, ferroviária, ótica, etc. também cresce, por meio de grandes empresas, em estruturas de oligopólio ou mesmo monopólio. Surgem os famosos kartells, ou cartéis. Dessa maneira, já no começo do século XX, era uma agressão à realidade achar que se vivia em um mundo de competição. As ciências sociais, em geral, costumam vir a reboque dos acontecimentos que se passam no mundo real da economia. Quando, porém, se despertam para um determinado problema, a teoria econômica avança em grandes saltos. Isso aconteceu no campo da teoria econômica da organização industrial. Em 1933, dois livros de extraordinária importância foram publicados. Um, na Inglaterra, pela Professora Joan Robinson, com o título The economics of imperfect competition. Outro, nos Estados Unidos, pelo Professor Edward H. Chamberlin, com o título Theory of monopolistic competition. Joan Robinson estudou com mais profundidade as condições de monopólio e deu um tratamento bastante adiantado em termos matemáticos e formais. Focou seu trabalho, entretanto, em aspectos bastante teóricos. Edward H. Chamberlin, por outro lado, buscou desenvolver uma teoria que explicasse o que estava acontecendo na economia norte-americana nos anos 1930, em termos de organização industrial. Ele se interessou e desenvolveu uma teoria e modelos, que denominou de competição monopolística. Queríamos adicionar e ressaltar, no presente texto, cinco aspectos importantes: Primeiro, que Chamberlin achava que, em equilíbrio de longo prazo, a competição forçava as empresas a não terem lucros acima do normal. Isso representa uma grande qualidade em termos do bem-estar social. Segundo, que, embora as empresas, nesse tipo de mercado, operassem com custos médios maiores – e escalas de produção menos eficientes – que as firmas do modelo competitivo, isso era mais do que compensado pela diversidade de bens produzidos. Ou seja, para Chamberlin, em uma sociedade moderna, as pessoas não querem consumir apenas commodities – elas querem, e estão dispostas a pagar, por produtos diferenciados. Terceiro, Chamberlin enfatizava o fato de que as empresas, no modelo de competição monopolista, tinham um certo poder de monopólio. Esse poder, no entanto, era muito reduzido. Uma das principais razões desse poder de monopólio era a localização. Por exemplo, um vendedor de sorvetes na praia, com seu isopor a cerca de 10 metros de você, tem esse poder, caso sua alternativa seja andar 2 quilômetros para conseguir o mesmo sorvete. Esse vendedor próximo, portanto, 1 pode cobrar um preço maior. Mas se exagerar, você anda os 2 km – paga mais barato e ainda gasta as calorias que vai adquirir com o consumo do sorvete! Quarto, Chamberlin deu grande importância ao papel do marketing e da publicidade. Essa diferenciação de produtos, por meio dessas técnicas, poderia ficar mais aguçada na mente dos consumidores, refletir-se em maior consumo, e justificar os gastos de propaganda da empresa. Finalmente, essa diferenciação não precisa ser real. Pode ser apenas psicológica, tal como a Aspirina Bayer e os outros medicamentos similares. Fonte MELLO, Pedro Carvalho de. Competição monopolística. Rio de Janeiro: FGV Online, 2006. 2