358 RESUMO 19ªEXPANDIDO RAIB 202/458 ANÁLISE QUALITATIVA E QUANTITATIVA DE ECTOPARASITAS DE PYGOCENTRUS NATTERERI KNER, 1860 (CHARACIFORMES: CHARACIDAE) DA BACIA DO RIO ARAGUAIA, GO L.Q.L. Hirano, A.C.S. Bosso, L.G. Vieira, F.M.M. Brito, H.C. Pereira, L.M. Silva Júnior, J.M.M. Silva, P.C. Pereira, A.L.Q. Santos Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Medicina Veterinária, Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres, Av. Amazonas, 2245, CEP 38405-302, Uberlândia-MG, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO A Pygocentrus nattereri, conhecida como piranha vermelha é uma formidável predadora dos cursos de água da América tropical. São animais ferozes, têm mandíbulas fortes e salientes e dentes afiados, são carnívoros e podem atingir até 30 cm de comprimento. Apesar de a sua constituição ser forte, é um peixe susceptível a doenças quando o ambiente não está de acordo com as suas necessidades. Este estudo teve como objetivo identificar ectoparasitos em piranhas da espécie P. nattereri, na Bacia Rio Araguaia, em Nova Crixás, Goiás, Brasil. Foram capturados 150 espécimes de P. nattereri no período de agosto de 2005. Analisou-se toda sua extensão corporal, incluindo as cavidades branquiais, para verificação da presença de ectoparasitos, com o auxílio de uma lupa manual (10 x). Estes ectoparasitos foram identificados quanto à espécie, quantidade e localização no corpo do hospedeiro. Do total de peixes analisados, foram encontrados ectoparasitos em 52% deles, com média de 2,83 por animal, sendo que as espécies identificadas foram a Anphira branchialis, em menor quantidade e Dolops sp., na maioria dos animais. Todas as A. branchialis estavam localizadas nas brânquias dos peixes, e os ectoparasitos do gênero Dolops, localizavam-se predominantemente na região das nadadeiras peitorais, e em menor número nas nadadeiras pélvicas, na parte externa do opérculo, na cabeça, na região lateral corpo, na parte interna do opérculo e na nadadeira anal. Conclui-se que a P. nattereri é uma espécie significantemente parasitada, principalmente por Dolops sp., parasita que é encontrado frequentemente na região das nadadeiras peitorais e por A. branchialis, espécie que sobrevive nas brânquias dos peixes. PALAVRAS-CHAVE: Pygocentrus nattereri, ectoparasitos, peixes, Anphira branchialis, Dolops sp. ABSTRACT QUALITATIVE AND QUANTITATIVE ANALYSIS OF ECTOPARASITES OF PYGOCENTRUS NATTERERI KNER, 1860 (CHARACIFORMES: CHARACIDAE) FROM ARAGUAIA RIVER, GO. Pygocentrus nattereri known as red piranha is a formidable predator of the water courses of tropical America. They are fierce animals, have strong jaws, salient and sharp teeth, they are carnivorous and can reach up to 30 cm of length. Although their strong constitution, they are susceptible to illnesses when the water is not according with their necessities. This work had as objective to identify ectoparasites in P. nattereri from Araguaia River basin, in Nova Crixás, Goiás. We collected 150 specimens of P. nattereri in Araguaia River basin in the period of July to December of 2005, we analyzed all their corporal extension, including the branchial sockets, to verificate the presence of host-parasites using a magnifying glass, these parasites had been identified according the species, number, and localization in the host’s bodies. We found host–parasites in 52% of them, in a average of 2,83 parasites for each animal and the identified species were Anphira branchialis, in lesser amount and Dolops sp. in the majority of the animals. All of A. branchialis was collected in the gills of the fish, and Dolops sp. had predominantly localized in the region of pectoral paddles, being also found in pelvic paddles, external part of operculum, in face, lateral of the fish, internal part of opérculo and in anal paddle. We concluded that P. nattereri is significantly parasited specie mainly for A. branchialis, specie that survive in the gills of the host and Dolops sp. that is frequently found in pectoral paddles region. KEY WORDS: Pygocentrus nattereri, host-parasites, fish, Anphira branchialis, Dolops sp. Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.358-360, 2006 359 19ª RAIB INTRODUÇÃO Os peixes são vertebrados que tem demonstrado suscetibilidade a serem parasitados devido aos sistemas aquáticos facilitarem a reprodução e a dispersão de organismos parasíticos (Malta, 1984). Diretamente e indiretamente esses parasitas reduzem o crescimento do hospedeiro e sua sobrevivência (Rawson, 1977; Kabata, 1981). Efeitos diretos como fraqueza do hospedeiro e podem causar conseqüências indiretas, tal como aumento da vulnerabilidade a predadores e diminuição da resistência à pressão do ambiente (Lewis & Hettler, 1968). A biologia de endoparasitos de peixe está bem representada na literatura atual (Carvalho, 2004). No entanto, há uma falta de dados na infecção e índices de transmissão de ectoparasitos crustáceos de peixes em condições naturais (Szalai & Dick, 1991). Malta (1984) e Tanaka (2000) assinalaram que a maioria dos estudos publicados de parasitas crustáceos de peixe (Branchiura) na América do Sul são relacionados à taxonomia. A piranha vermelha (Pygocentrus nattereri Kner, 1860) é um serrasalmídeo típico de ambientes lênticos. Sua distribuição geográfica ainda é mal conhecida e há necessidade de uma melhor definição dos limites de sua ocorrência, porém é uma espécie comum na Amazônia Central e no pantanal Matogrossense (Fink, 1993). Este predador é uma das espécies mais abundantes na várzea do rio Solimões/ Amazonas (Merona & Bittencourt, 1993; Saint-Paul & Zuanon, 2000) e apresenta características biológicas e demográficas que sugerem táticas eficientes à vida em lagos de várzea). Carvalho (2004) relatou a ocorrência de ectoparasitos crustáceos em P. nattereri. As espécies de ectoparasitas registradas foram Argulus sp. e Dolops carvalhoi (Branchiura) e Braga patagonica, Anphira branchialis e Asotana sp. (Isopoda). A transmissão é direta, pois nadam ativamente procurando um peixe para se fixar. Em geral, a infecção resulta em lesões ulcerativas que permite infecções secundárias por fungos, vírus e bactérias. Os estudos sobre a ecologia de interações parasito-hospedeiro são incipientes, sendo a maioria de cunho taxonômico. Sendo assim este estudo teve como objetivo identificar ectoparasitos em piranhas da espécie P. nattereri na Bacia Rio Araguaia, em Nova Crixás, Goiás, Brasil. de linha e anzol utilizando iscas de carne bovina, no período de agosto 2005. Depois de capturados, analisou-se toda sua extensão corporal, incluindo as cavidades branquiais, para verificação da presença de ectoparasitos, com o auxílio de uma lupa manual com aumento de 10 vezes. Após a localização dos parasitas, estes foram recolhidos com uma pinça histológica, colocados em um frasco de vidro identificado com o número do peixe e contendo álcool 70º GL para serem transportados ao Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS), na Universidade Federal de Uberlândia, para identificação. Além da identificação da espécie de ectoparasitos, foi observada a região do corpo da piranha onde esses ectoparasitos foram recolhidos. RESULTADOS Foram identificadas espécies de parasitas em 78 (52%) do total de animais capturados, numa média de 2,83 parasitas por animal. Desses animais parasitados, 3,85% eram hospedeiros de A. branchialis e 96,15% apresentaram somente Dolops sp. Quanto à localização desses crustáceos no corpo do hospedeiro, 100% das A. branchialis estavam localizadas nas brânquias dos peixes, região essa protegida pelo opérculo. Já os organismos do gênero Dolops, localizavam-se predominantemente na região das nadadeiras peitorais (49,09%), sendo encontrados também nas nadadeiras pélvicas (20,81%), na parte externa do opérculo (13,54%), na cabeça (10,82%). Com menor freqüência, foram coletados Dolops sp., na região lateral corpo (10,83%), na parte interna do opérculo (1,81%) e apenas em um animal na nadadeira anal. MATERIAL E MÉTODOS Foram capturados 150 espécimes de P. nattereri, na Bacia do Rio Araguaia, Município de Nova Crixás, Goiás, Brasil (S 13º43’56" e W 50º47’43,3"), com auxilio Fig. 1 - Fotografia de piranha vermelha parasitada por Anphira branquialis. Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.358-360, 2006 360 19ª RAIB Fig. 2 - Fotografia de um exemplar de Anphira branquialis. CONCLUSÕES P. nattereri é uma espécie significantemente susceptível a ectoparasitos. Os ectoparasitos mais comumente encontradas são crustáceos das espécies A. branchialis e Dolops sp. A A. branchialis tem preferência pela região das brânquias do hospedeiro. As espécies do gênero Dolops têm preferência pela região das nadadeiras peitorais, mas podem ocorrer com menos freqüências em outros locais do corpo do peixe. Referências Carvalho, L.N.; Arruda, R.; Del-Claro, K. Hostparasite interactions between the piranha Pygocentrus nattereri (Characiformes: Characidae) and isopods and branchiurans (Crustaceae) in the rio Araguaia basin, Brazil. Neotropical Ichthyology, v.2, n.2, p.93-98, 2004. Fink, W.L. Revision of the piranha genus Pygocentrus (Teleostei, Characiformes). Copeia, n.4, p.665-687, 1993. Kabata, Z. Copepoda (Crustacea) parasitic on fishes: Problems and perspectives. Advanced Parasitology, v.19, p.1-71, 1981. Lewis, R.M. & Hettler, W.F. Effects of temperature and salinity on the survival of young Atlantic Fig. 3 - Fotografia de um exemplar de Dolops sp. menhaden, Brevoortia tyrannus. Transactions of the Aerican. Fishing Society, v.97, p.344-349, 1968. Malta, J.C.O. Os peixes de um lago de várzea da Amazônia Central (Lago Janauaca, Rio Solimões) e suas relações com os crustáceos ectoparasitas (Branchiura: Argulidae). Acta Amazônica, v.14, p.355-372, 1984. Merona, B. & Bittencourt. 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Biológico, São Paulo, v.68, Suplemento, p.358-360, 2006