[Indíce] [Introdução] [Descrição do ficheiro ExpMatriz.MTH e exemplos] [Listagem do ficheiro ExpMatriz.MTH] [Agradecimentos e Referências] 2. Exponencial de matrizes Seja A uma matriz quadrada de ordem n, de coeficientes complexos. Para n n t A qualquer número real t, a série é (absolutamente) convergente, pelo que n 0 n! n n t A podemos definir uma função de variável real pondo e tA . Prova-se que esta n 0 n! função é diferenciável em qualquer ponto do seu domínio e que e tA Ae tA . Mais precisamente, tem-se o seguinte resultado: ' Teorema 1 Sejam A e B matrizes quadradas de ordem n. Então F( t ) e tA B é a única solução do problema de valor inicial F'( t ) AF( t ), F( 0) B, para t R Demonstração: ver, por exemplo, Ap2. Observação: A exponencial assim definida tem muitas propriedades em comum com a função exponencial usual: por exemplo, e ( t s) A e tA e sA . Não é, no entanto, válido que e A B e A e B para matrizes A e B quaisquer (apresentaremos mais adiante um contraexemplo), embora isto seja válido se AB BA. A solução do sistema homogéneo de equações diferenciais lineares de coeficientes constantes definido por X'( t ) AX( t ) com condição inicial X(0) X 0 , onde X 0 é um vector de dimensão n, é dada pois por X( t ) e tA X 0 . Daqui resulta a enorme importância de dispôr de processos práticos para calcular e tA . É imediato constatar que o cálculo directo a partir da série definidora é, em geral, impraticável, a não ser em casos muito particulares (matrizes diagonais, por exemplo). Começaremos por demonstrar uma proposição simples que vai permitir resolver o problema para matrizes 2x2 e 3x3. Em tudo o que se vai seguir, consideraremos sempre as matrizes sobre o corpo complexo, ainda que os seus coeficientes sejam reais. Assim, os valores próprios coincidem com as raízes (em C) do polinómio característico. Diremos que um valor próprio é simples, duplo, triplo,.... quando ele for raíz simples, dupla, tripla,... do polinómio característico; quando falarmos da multiplicidade de um valor próprio, estaremos sempre a considerar a multiplicidade algébrica. Adoptamos ainda a convenção de que o grau do polinómio idênticamente nulo é . Teorema 2 Seja A uma matriz de ordem n. Então: a) se todos os valores próprios de A são iguais a tem-se n 1 k t k e tA et A Id n . k 0 k ! b) se A tem n valores próprios distintos 1 , 2 , n , então n e tA e t e k t L k (A ), k 1 n sendo L k (A) j1 j k A j Id n k 1, 2,, n. k j c) se A tem 2 valores próprios distintos, e , de multiplicidades n 1 e 1, respectivamente, vem k n2 t tk k k t A Id n t t e A Id n e e k ! n 1 k 0 k ! k 0 n 1 n2 e tA . Demonstração: tk (A Id n ) k ; como o polinómio característico de A é k ! k 0 a) e tA e t e t ( A Id n ) e t 1 n x n , segue-se que A Id n 0, se k n , pelo teorema de Cayleyk Hamilton, donde o resultado. n b) Seja F( t ) e k t L k (A ) ; vamos ver que F é solução do problema de valor inicial k 1 X' AX , donde se seguirá que F( t ) etA , pelo teorema 1. X ( 0 ) Id n Tem-se AF( t ) F' ( t ) e k t A k Id n L k (A ) ; como o polinómio característico de n k 1 A é 1 x 1 x 2 x n , segue-se que A k Id n L k (A) 0 , para k 1, 2, , n pelo teorema de Cayley-Hamilton, donde F'( t ) AF( t ) . Falta só provar n n que F( 0) Id n , ou seja, que L k 1 k (A ) Id n . Considerem-se os polinómios em x definidos por n xj L k ( x) k 1, 2,, n ; é imediato que se trata de polinómios em x de j1 k j j k grau n 1 , que verificam Lk ( i ) 0 se i k e L k ( i ) 1 se i k . Conclui-se que n P ( x) 1 Lk ( x) é um polinómio de grau menor ou igual a n 1 que tem n raízes k 1 distintas 1 , 2 , , n e é pois idênticamente nulo. Portanto, P( A) 0 e logo n L k 1 k (A ) Id n , como queríamos. c) Tem-se que: e tA t e e t ( A Id n ) tk e (A Id n ) k k 0 k ! t tk tk k t e (A Id n ) e (A Id n ) k k 0 k ! k n 1 k ! t n2 (*) tk t n 1 i k t e (A Id n ) e (A Id n ) n 1 i . k 0 k ! i 0 n 1 i ! t n2 Como A Id n A Id n Id n , conclui-se que A Id A Id A Id A Id n 1 n n n n n n 1 ; como o polinómio característico de A é 1 x x , segue-se que o primeiro membro desta igualdade é nulo (pelo teorema de Cayley-Hamilton), donde n A Id A Id . Por aplicação A Id A Id e portanto n 1 n n n n 1 i n n 1 repetida desta fórmula, vem que n 1 i n t n 1 i t n 1 i i n 1 i (A Id n ) (A Id n ) n 1 i0 n 1 i ! i0 n 1 i ! n 1 n 1 t n2 t k tk k ( A Id n ) k ( A Id n ) e . n 1 n 1 k n 1 k ! k 0 k ! Substituindo esta fórmula na última linha de (*), segue-se o resultado. O teorema 2 resolve completamente o problema do cálculo de e tA para matrizes 2x2 e 3x3. Para matrizes 2x2, os resultados das duas primeiras alíneas são suficientes: uma matriz 2x2 ou tem um valor próprio duplo ou dois valores próprios distintos; no primeiro caso, aplica-se a fórmula da alínea a) e no segundo a fórmula da alínea b). Passando às matrizes 3x3, há três hipóteses a considerar: 1. a matriz tem um valor próprio triplo; usa-se a fórmula da alínea a). 2. a matriz tem três valores próprios distintos; usa-se a fórmula da alínea b). 3. a matriz tem um valor próprio duplo e um valor próprio simples ; usa-se a fórmula da alínea c). Exercício 1 1 Sejam A e B 0 0 1 1 A B AB 0 0 . Mostre que e e e . O caso das matrizes 4x4 é mais complicado. Há cinco hipóteses distintas: 1. a matriz tem um valor próprio quádruplo; usa-se a fórmula da alínea a). 2. a matriz tem quatro valores próprios distintos; usa-se a fórmula da alínea b). 3. a matriz tem um valor próprio triplo e um valor próprio simples ; usa-se a fórmula da alínea c). 4. a matriz tem dois valores próprios simples, e e um valor próprio duplo . 5. a matriz tem dois valores próprio duplos, e . Para tratar estes dois últimos casos, vamos utilizar um método geral para o cálculo da exponencial de matrizes: o método de Putzer. Este método tem a vantagem de ser elementar, não requerendo conhecimentos para além dos referidos na Introdução, ao contrário do que sucede com o “método do polinómio” descrito em WA ou com os processos baseados na forma canónica de Jordan. Teorema 3 (método de Putzer) Seja A uma matriz quadrada de ordem n e 1 , 2 , , n os seus valores próprios, repetidos de acordo com as suas multiplicidades. Então n 1 e tA rk 1 ( t ) Pk A k 0 onde P0 A Id n , Pk A Pk 1 A A k Id n , para k 1, 2,, n 1 e r1 t ,rn t são as soluções dos problemas de Cauchy r1' 1 r1 r1 (0) 1 ' rk 1 k 1 rk 1 rk rk 1 0 0, k 1,, n 1 . Demonstração: Segue-se um método muito semelhante ao usado na prova da alínea b) do teorema 2. n 1 Seja F( t ) rk 1 ( t ) Pk A ; como é evidente que F( 0) Id n , basta provar que k 0 F ( t ) AF( t ) para obter o resultado. Se definirmos r0 0 , vem ' n 1 n 1 F ' ( t ) rk' 1 ( t ) Pk (A ) rk ( t ) k 1 rk 1 ( t )Pk (A ) k 0 k 0 n2 n 1 k 0 k 0 rk 1 ( t ) Pk 1 (A ) k 1 rk 1 ( t ) Pk 1 (A ) donde F ( t ) n F( t ) ' n 2 r k0 k 1 ( t ) Pk 1 ( A ) ( k 1 n ) Pk ( A ) . Como Pk 1 A A k 1Id n Pk A , segue-se que Pk 1 ( A ) ( k 1 n ) Pk ( A ) A n Id n Pk ( A ). Substituindo esta igualdade na expressão obtida para F ' ( t ) n F( t ), vem : n2 F ( t ) n F( t ) A n Id n rk 1 ( t ) Pk (A) A n Id n F( t ) rn ( t ) Pn 1 (A) ' k 0 A n Id n F( t ) rn ( t ) Pn (A) Pelo teorema de Cayley-Hamilton, Pn ( A ) 0 e vem F' ( t ) n F( t ) AF( t ) n F( t ) , donde F' ( t ) AF( t ) , como queríamos. Observações 1) Pelo teorema anterior, podemos concluir que, dada uma matriz quadrada A de ordem n, e tA pode ser escrito como um polinómio em A, de grau menor que n e cujos coeficientes são funções escalares de t. Este resultado pode ser demonstrado directamente, sem recurso ao método de Putzer (ver CF), mas a demonstração aí apresentada não leva a um método prático para o cálculo dos coeficientes. 2) As equações diferenciais verificadas pelos coeficientes rk t são muito simples: lineares, de primeira ordem e coeficientes constantes. O problema é que, para k>1, são não homogéneas, e os seus segundos membros tornam-se cada vez mais complexos, à medida que k aumenta. Vejamos agora como resolver o quarto caso do cálculo de e tA para matrizes quadradas 4x4. A matriz em causa tem dois valores próprios simples, e e um valor próprio duplo . Pelo método de Putzer, devemos considerar o sistema r1' r1 , r2' r2 r1 , r3' r3 r2 , r4' r4 r3 , r1 (0) 1 r2 0 0 r3 0 0 r4 0 0 As duas primeiras equações são muito fáceis de resolver: obtem-se r1 ( t ) e t e 1 r2 ( t ) e t e t , respectivamente. A terceira já é má e a quarta muito pior. Uma maneira de evitar os cálculos extremamente aborrecidos necessários à sua resolução é utilizar o DERIVE. Para isso, basta abrir a utility file ODE1.MTH, contendo funções que permitem resolver simbolicamente uma larga gama de equações diferenciais de primeira ordem. A função que nos interessa é LINEAR1(p, q, x, y, x0,y0), que dá a solução da equação y' p( x) y q ( x) , com a condição inicial y0 y( x0). Basta então copiar esta função para um novo ficheiro e proceder como indicado na listagem a seguir para se obter r3 ( x). Analogamente se obtém r4 : 2 r4 ( t ) e t e t e t t t 1 1 t t 2 2 2 2 Finalmente, vejamos resumidamente como resolver o quinto caso para matrizes 4x4. Sejam e os dois valores próprios duplos. O sistema a considerar é r1' r1 , r2' r2 r1 , r3' r3 r2 , r4' r4 r3 , r1 (0) 1 r2 0 0 . r3 0 0 r4 0 0 A solução pode obter-se tal como para o quarto caso, eventualmente recorrendo ao DERIVE para evitar os cálculos mais morosos. Limitamo-nos a indicar os resultados: r1 ( t ) e t r2 ( t ) te t r3 ( t ) r4 ( t ) e t t t 1 e t 2 e t t t 2 e t t t 2 [Anterior] [Próximo] 3 .