Linguagem e os sentidos do agir

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Fernanda Henriques
Universidade de Évora
2007
Faz sentido este título?
A linguagem é uma acção?
A linguagem é um poder?
A linguagem é uma acção?
•
Podemos dizer que a linguagem é um
certo tipo de acção
• Acção directa:
1.a linguagem fere, podemos magoar,
ofender, etc, através da linguagem
2.se nos lembrarmos do Génesis
lembramo-nos que aí a linguagem tem
um poder criador
• Acção indirecta:
Uma vez que as línguas são sistemas de
valores, quando falamos transportamos
uma tradição valorativa acumulada na
língua. Ora, o campo semântico das
palavras conota a realidade a que nos
referimos.
Ou seja, falar nunca é neutro!
A linguagem tem alguma
coisa a ver com o poder?
•
Poder directo:
Este poder decorre do anterior e
materializa-se no poder de falar:
• Quem dá ordens?
• Quem tem a última palavra?
• Não disse S. Paulo que as
Mulheres deveriam guardar
silêncio nas Assembleias?
• E as crianças: não dizemos a
menina ou o menino cala-se?
• Poder indirecto:
Este poder também decorre do
anterior.
Dar nome às coisas, nomeá-las é darlhes sentido. Se não se tem nome não
se existe. É por isso que há palavras
que não se dizem…
Georges Gusdorf afirma mesmo: a linguagem é o real
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A linguagem, que está em nós e na qual nós somos, permanece a grande
testemunha da nossa Condição porque sendo órgão-obstáculo ela constitui a
experiência permanente, no decurso da qual o ser humano se confronta
consigo próprio.
Jean BRUN, L’Homme et le langage.
A linguagem é o
nosso interface.
A outra face
visível de nós
Somos
Seres
linguísticos
Para Julia Kristeva: a
linguagem é o lugar onde
se faz e refaz o sujeito
falante
órgão-obstáculo
Possibilitador
A linguagem. é um recurso
de expressão,
de liberdade e de
afirmação, de comunicação
Limitador
A linguagem é também
constrangimento:
Regras, tradições
de significação…
É esse carácter da
linguagem que suscita a
criatividade
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As palavras são portadoras e geradoras de ideias, […].
Julgamos que progredimos através das ideias […], mas são ainda as
próprias palavras que geram ou regeneram as ideias, que fazem o papel
de “transmissores”.
Jean BAUDRILLAR, Palavras de Ordem.
Segundo Paul Ricoeur,
as palavras são
acumuladores
semânticos
É preciso novas palavras para dar
visibilidade a novas realidades.
Os significados acumulados
nas palavras vão regenerando as
ideias
Esses poderes da linguagem como acção interventora na realidade
podem realizar-se na dupla dimensão de órgão e obstáculo
Poder ou acção de
MOSTRAR
e
OCULTAR
Poder ou acção de
DENEGRIR
DIMINUIR
MENOSPREZAR
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O homem, ao inventar a agricultura,
iniciou um processo irremediável de ligação à terra
Dentro da sala de aula havia 20 raparigas e 1 rapaz,
todos eles se regozijaram por poderem participar
na iniciativa proposta
Os cidadãos portugueses devem cumprir o seu
direito de voto
Os avós ainda são um grande apoio
na sustentabilidade das famílias portuguesas
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Bilhete de Identidade
de
Cidadão nacional
Cartão de eleitor
Loja do Cidadão
Onde estão as Mulheres?
Onde está o feminino?
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O mutismo das mulheres não provém apenas
da injunção milenária do silêncio,
da surdez em relação ao que elas disseram e
dizem.
É a própria linguagem que não admite a
feminilidade
a não ser como caso particular,
que a ignora ou a confunde com um masculino
pensado como neutro.
Gisela BREITLING, 1990
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Em lugar de se dizer sempre o homem, ele, eles,
poderemos tentar construir os textos recorrendo aos
diferentes recursos da língua.
.
Eles e Elas
Alun@s
Médic@s
Os indivíduos
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Burro velho não aprende
línguas
O trabalho é bom para o preto
Maria rapaz
Discriminação
com base na idade
Racismo puro
Estereotipo
de
género
Semítico
Alarve
Filho da…
Corno
……………
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A questão da transformação da linguagem é, certamente, um dos
sectores mais resistentes à mudança. Mas é também igualmente
certo que a linguagem representa um dos sectores mais
importantes a serem transformados
Temos de transformar a linguagem porque não podemos permitir
que quando falamos, se fale através dos nossos discursos um
conjunto de valores muitas vezes em contradição com o que,
genuinamente, julgamos pensar. Valores que, não só não
partilhamos. como queremos transformar.
Dir-se-á que a há regras gramaticais claramente estabelecidas e
que a gramática é de natureza puramente linguística. Ambas as
coisas, mesmo que fossem pacificamente aceites como verdade,
não podem ser tidas como sendo imutáveis.
As regras gramaticais também são históricas e, por esse motivo,
alteráveis. Georges Gusdorf não só aponta para o carácter mutável
da gramática como também faz o levantamento de algumas
situações históricas em que havendo necessidade de uma
transformação das mentalidades se recorreu à reorganização
gramatical e lexical.
Diz ele, na sua obra dos anos 50, La parole: se o discurso humano
tem um enorme poder […] na configuração das visões do mundo, é
natural que todas as transformações conceptuais e ideológicas
correspondam, igualmente a momentos de modificações linguísticas .
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É, pois, necessário realizar
uma transformação quer
na gramática, quer no léxico
de maneira que exploremos a linguagem como
ÓRGÃO
Promotor da realização
equilibrada de todos
os falantes e de todas as
falantes de uma língua
Que possibilite a expressão plena de
Homens e de Mulheres, não permitindo
nenhuma discriminação
Há muitas e boas formas de escrever bons textos sem
recorrer de modo sistemático ao suposto e falsamente
considerado universal neutro.
E, de cada vez que pensarmos que esta questão é
despicienda, devemo-nos lembrar sempre que Os Direito do
Homem e do Cidadão que a Revolução Francesa proclamou,
na verdade, apenas se referiam ao homem masculino e
branco, excluindo, portanto, desses direitos muito mais do
que metade da Humanidade
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