caderno de resumos - workshop sobre gramaticalização

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II WORKSHOP SOBRE GRAMATICALIZAÇÃO
Universidade Federal Fluminense, 7 e 8 de maio de 2014
CADERNO DE RESUMOS
Organização
Maria da Conceição de Paiva
Ivo do Rosário
Equipe de Revisão
Jocinéia Andrade
Sirley Ribeiro Siqueira
Tharlles Lopes Gervasio
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
APRESENTAÇÃO
Repetindo a história da sua primeira edição, o II WORKSHOP SOBRE
GRAMATICALIZAÇÃO realiza-se graças à ação solidária, ao esforço e ao
desejo de um grupo de pesquisadores em dar continuidade à discussão e
trocas de experiências com respeito aos processos, mecanismos e problemas
envolvidos nos estudos de gramaticalização.
Promovido, este ano, por iniciativa da Universidade Federal Fluminense
e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o evento chega à sua segunda
edição, impulsionado pelas mesmas motivações que orientaram sua criação:
promover um encontro de pesquisadores interessados na reflexão e discussão
acerca de questões afetas ao fenômeno da gramaticalização e, ainda, na troca
de experiências e socialização de suas pesquisas.
O II WORKSHOP SOBRE GRAMATICALIZAÇÃO compreende
palestras, minicursos, mesa-redonda e grupos de trabalhos temáticos que
abrigam estudos e resultados de pesquisas cujos resumos encontram-se nas
páginas seguintes. Refletindo a forma como o evento foi organizado, os
resumos estão agrupados por grupo de trabalho e, a seguir, por autores, em
ordem alfabética.
A
Comissão
Organizadora
do
II
WORKSHOP
SOBRE
GRAMATICALIZAÇÃO, esperando que os objetivos que nortearam a
realização deste evento sejam plenamente atingidos, agradece a participação
de todos.
COMISSÃO ORGANIZADORA
Prof. Dra. Jussara Abraçado – Presidente
Prof. Dra. Maria Luiza Braga – Vice Presidente
Prof. Dra. Maria Conceição Paiva –1ª- Secretária
Prof. Dr. Ivo do Rosário – 2º. Secretário
Prof. Dra. Nilza Barrozo Dias – Tesoureira
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
SUMÁRIO
GT1 – Gramaticalização: processos e fenômenos
Agora: o funcionamento de um item linguístico
Andréia Prado Lima, Jorge Augusto A. da Silva ,Valéria Viana Souza e
Vânia R. S. Amorim
A evolução do particípio presente em português
Elaine Ferreira Dias
Construções perifrásticas com o verbo passar em uma perspectiva de
gramaticalização
Geisa Maria J. Jordão
A construção Xmente do latim ao português
Júlia O. C. Nunes e Júlia L Campos
A gradiência da construção quer dizer no português coetâneo
brasileiro
Luana Nascimento Cunha
Entretanto e no entanto: a emergência de dois conectores no
Português Medieval
Priscilla T. Medeiros
Gramaticalização de estar em espanhol e em português brasileiro
Telma Aparecida F. da Matta Cori
GT2- Gramaticalização e gramática de construções
Gramaticalização da microconstrução “foi quando”
Alexsandra Ferreira da Silva
Construcionalização do conector “daí que”: uma abordagem centrada
no uso
Ana Beatriz Arena
O papel dos elementos verbais e locativos na composição da
hierarquia construcional VLoc
Ana Cláudia M. Teixeira
O papel da analogia na emergência ou extensão das construções
Angélica Rodrigues e Carolina Coelho
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Gramaticalização da construção de espaço/tempo aproximado: “lá
para” em contextos narrativos
Eder Nicolau Alves Venâncio
Marcadores discursivos no âmbito da abordagem da gramaticalização
de construções
Lauriê Ferreira Martins e Patrícia F. da Cunha Lacerda
SnLoc: um processo de gramaticalização e lexicalização
Milena Torres de Aguiar
Instanciações da macroconstrução verbal conectiva LocV
Rossana Alves
GT3- Gramaticalização e cognição
Gramaticalização e construções encaixadas na aquisição da linguagem
Carmelita Minello da Silva Amorim
Gramática e cognição: um estudo das construções binominais
Caroline P. Martins Santos
Manchetes de jornais online: extensão de sentidos do presente do
indicativo em referência ao passado recente
Caroline Soares da Silva
Construção optativa V-RA no português: perda de esquematicidade e
chunking
ellen Cozine Martins e Maria da Conceição de Paiva
Gramaticalização do verbo dar: de sentido pleno a verbo suporte
Luana Carvalho Coelho,Valéria V, Souza e Jorge Augusto Alves
Evidências sobre a polissemia e a gramaticalização do verbo “ver”
Priscilla Teixeira M. Simonis
Processo de gramaticalização da construção dice que/diz que: uma
abordagem cognitiva
Thayssa Taranto Ramires
Marcas de subjetividade, construções e gramaticalização
Vânia Casseb Galvão
GT4- Gramaticalização e Sociolinguística
Gramaticalização e variação: perífrases terminativas/cessativas no
português brasileiro e europeu
Rubens Lacerda Loiola (UFRJ)
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Variação e gramaticalização no uso de preposições em contextos de
verbos de movimento no português brasileiro
Marcus Luiz Wiedemer
PARA: processos de variação e de gramaticalização?
Odete Menon
Aí, daí e então em Campo Grande (MS) e São Paulo (SP)
Marília Vieira
A partícula lá e seus usos nos diversos comunicativos
Dalva Barreto de Araújo e Almirene Santana
O processo de gramaticalização do verbo ir
Leila Maria Tesch
Gramaticalização, sociolinguística
estrangeira
Luis Alejandro e Susana Caribaux
e
português
como
língua
GT5- Gramaticalização e abordagens formais
Gramaticalização de “que” em exclamativas
Bruna Karla Pereira
Podem construções de baixa frequência se gramaticalizar? Um
estudo das construções segundo e conforme no período arcaico
. Cassiano dos Santos
Construções causativas do português brasileiro: gramaticalização e
reanálise
Dalmo Vinicius C. Borges e Heloísa Salles
Prepositions as complementizers and modal markers in Brazilian
Portuguese
Daniel Machado e Heloísa Sales
Gramaticalização e mudança de ordem nas perguntas-Q
Mary Kato
Aspectos sintáticos do modo imperativo no português brasileiro
Moacir Natércio Ferreira Júnior
Gradualismo do processo de gramaticalização e princípio da
persistência: indício de uma hierarquia de traços.
Sueli Maria Coelho
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GT6- Gramaticalização e modelos baseados no uso
Chunking, constructions e constructionalization:
equivalentes em gramaticalização?
André Luiz Rauber
fenômenos
The grammaticalization of the Spanish modal periphrasis tener que +
infinitive: a functional discourse grammat view
Hella Olbertz
A gramaticalização dos verbos modais
abordagem sincrônica
Marize Dall’ Aglio Hattnher e Kees Hengeveld
em
português:
uma
Gramaticalização de orações encaixadas subjetivas: uma perspectiva
construcionista
Marcela Zambolim de Moura e Patrícia A, da Costa Lacerda
Construções com verbo suporte: percepção e uso no Brasil
Márcia Vieira Machado
De repente: rumo à gramaticalização?
Sirley Ribeiro Siqueira
Os conectores condicionais em português
Taísa Peres de Oliveira
Afixação do clítico te no português brasileiro
Thiago Laurentino de Oliveira e Célia R. Lopes
GT7- Gramaticalização e mecanismos de implementação
Gramaticalização de verbos no contexto morfossintático de segunda
pessoa do singular e processos metafóricos
Cristina Carvalho
Estrutura informacional e gramática de construções: análise das
construções de foco no português brasileiro contemporâneo
Felipe Aleixo
Gramaticalização: análise do locativo he em Xipaya
Flávia de Freitas Berto
Genesis of an evidential category: revelation from the noisy situation
Kristine Stenzel
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A expressão da condicionalidade no sistema verbal do português
brasileiro: um estudo diacrônico, sincrônico e comparado
Luiz Queriquelli
As construções verbais paratáticas
Patrícia Bomtorin
Gramaticalização da construção de movimento com propósito em
português
Patrícia Orefice
Instabilidade gramatical dos clíticos
Tauanne Tainá Amaral
GT8- Gramaticalização e projetos em andamento
A construcionalização de “A GENTE” no português brasileiro: uma
abordagem da linguística centrada no uso
Bruna das Graças Soares Aceti
Gramaticalização da construção “pois não”
Célia Márcia G. N. Lobo
Orações encaixadas com os verbos QUERER, PRETENDER E
DESEJAR: uma proposta a partir da abordagem construcionista da
gramaticalização
Fernanda Cunha Souza
O pretérito-mais-que-perfeito simples já não é mais o mesmo.
Joalede Gonçalves
“Não” como prefixo na história da língua portuguesa
Lucas Campos Santos
Gramaticalização de TMA fora de verbos: quando a palavra “tempo”
tempo tem.
Marcus Lira
O desenvolvimento do uso volitivo de buscar e esperar: uma proposta
a partir da abordagem construcionista da gramaticalização
Nathália Félix de Oliveira e Patrícia Lacerda
GRAMATICALIZAÇÃO E VARIAÇÃO: NÃO
OBSTANTE ~ EMBORA; NÃO OBSTANTE ~ NO
histórico
Pamela Pereira e Maria do Carmo Viegas
OBSTANTE ~ APESAR DE~ NÃO
ENTANTO – estudo em corpus
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GT9 - Gramaticalização e novas propostas de pesquisa:
interfaces
A funcionalidade das expressões cristalizadas no dialeto goiano: uma
hipótese de gramaticalização
Déborah Magalhães de Barros
Gramaticalização e subjetividade no estudo do futuro perifrástico
(verbo ir no presente + infinitivo) no português brasileiro
Jussara A. de Almeida
Categorias cognitivas em novas perspectivas – Renata Barbosa
Vicente
Recursividade, analogia, e consciência: evolução e evolução
filogenética
Maria Célia Lima-Hernandes
Categorias cognitivas em novas perspectivas
Renata Barbosa Vicente
A gramaticalização das orações completivas impessoais com ser +
nome
Nilza Barrozo Dias
Mudança gramatical, história social e tradição discursiva: um olhar
interfacetado sobre as formas tratamentais tu-você em cartas
pessoais pernambucanas dos séculos XIX e XX
Valéria S. Gomes
Mecanismo de especificação
gramaticalização e lexicalização
Vanda Cardoso de Menezes (UFF)
referencial
Usos de tipo no PB
Violeta Rodrigues e Heloise V. G. Thompson
em
processos
de
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GT1- GRAMATICALIZAÇÃO: PROCESSOS E FENÔMENOS
Coordenadora: Maria Luiza Braga (UFF)
AGORA: O FUNCIONAMENTO DE UM ITEM LINGUÍSTICO
Andréia Prado Lima
Jorge Augusto A. da Silva
Valéria Viana Souza
Vânia Raquel Santos Amorim
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
O presente trabalho tem por objetivo analisar, à luz da Teoria Funcionalista, o
processo de Gramaticalização do item agora que, na Tradição Gramatical, é
comumente classificado como um advérbio de tempo presente e, em uma
abordagem sincrônica, observa-se, no entanto, que tal elemento pode ser
categorizado em outras funções. Nessa perspectiva, foram selecionados e
analisados os padrões funcionais do agora, encontrados em 24 (vinte e quatro)
entrevistas do Corpus de Português Popular de Vitória da Conquista – BA,
constituído pelo Grupo de Pesquisa em Linguística Histórica e pelo Grupo de
Pesquisa em Sociofuncionalismo – CNPq. Neste trabalho, inicialmente,
apresentamos uma sucinta abordagem sobre o Funcionalismo cujo propósito
principal é observar a língua do ponto de vista do uso. Descreveremos o
processo de Gramaticalização, a partir dos postulados de Hopper (1991) e
Gonçalves (2007), que discutem como um item que ocupa a classe dos
advérbios pode migrar para uma função de conector. Demonstramos que tal
processo vem ocorrendo com o item linguístico agora e, para constatação,
trazemos, antes da análise de dados, a história desse item e como ele é
exposto em compêndios gramaticais e em dicionários etimológicos do
português. Em seguida, observamos como esse elemento linguístico é tratado
em trabalhos recentes, especialmente, em Rodrigues (2009) e Duque (2009) e,
finalmente, analisamos as ocorrências da unidade e as categorizamos segundo
a função no corpus supracitado. Os resultados da pesquisa nos sinalizam que
o item agora transita por classes além dos advérbios e que, em consonância à
Neves (2001), parte de uma função mais concreta, advérbio de tempo, para,
em funcionamento na língua em uso, ser realizado com uma função mais
abstrata, conjunção adversativa ou introdutor discursivo, depois de sofrer o
processo de Gramaticalização. Além desses resultados, na amostra do Corpus
analisado, podemos afirmar que o item agora enquadra-se no arranjo linear
ESPAÇO > TEMPO > TEXTO e que tem o seu espectro temporal ampliado,
ocupando um nível de abstração ainda mais alto.
Referências Bibliográficas
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BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37 ed., São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 2004.
CÂMARA JR. Joaquim Mattoso. História e estrutura da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Padrão, 1976.
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Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.
DUQUE, P. H. O elemento agora, sob o enfoque da gramaticalização. Rio de
Janeiro: URFJ, Fac. de Letras, 2002. 139 fl. Mimeo. Dissertação de Mestrado.
GONÇALVES, S. C. L. et al. Introdução à gramaticalização: princípios teóricos
e aplicação. São Paulo: Parábola, 2007.
HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. Grammaticalization.Cambridge: CUP,1993.
MACHADO, J. P. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Lisboa:
Editorial confluência. 2.ed. 1967.
NEVES, M. H. de M. A Gramática Funcional. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
PERINI, M. A. Para uma nova gramática do Português. 10. ed. São Paulo:
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RODRIGUES, F. C. D. Padrões de uso e gramaticalização de agora e então.
309 f.; 2 v. Tese (Doutorado). Universidade Federal Fluminense, Instituto de
Letras,
2009.
Disponível
em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_actio
n=&co_obra=148767>. Acesso em julho de 2012.
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A EVOLUÇÃO DO PARTICÍPIO PRESENTE EM PORTUGUÊS
Elaine Ferreira Dias
Pontíficia Universidade Católica (PUC-Minas)
Com vistas a contribuir para o estudo dos processos de mudança linguística,
este trabalho tem por objetivo apresentar uma discussão geral sobre a
evolução do particípio presente. Para tanto, realiza-se um estudo diacrônico,
levando-se em consideração os diferentes estágios dessa forma participial
desde a sua proto-forma, o particípio presente latino. Como ésabido, a
mudança do particípio presente ocorreu desde o latim, e se estendeu
inevitavelmente ao português, com importantes consequências, que fazem dele
uma forma produtiva. A pesquisa se fundamenta nos estudos da linguística
funcional, especificamente os estudos de gramaticalização e lexicalização,
tanto do ponto de vista sincrônico, quanto diacrônico. Como principal
contribuição, este trabalho, além de apresentar e discutir a gênese dos nomes
departicipiais, o adjetivo e o substantivo, faz uma descrição sintático-semântica
dessas formas, isto é, são analisados a estrutura sintática e os papeis
semânticos que essas construções desempenham, a partir do estudo dos
dados do corpus diacrônico do português.
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Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Referências Bibliográficas
BRANDÃO, Cláudio.O particípio presente e o gerúndio em português. Belo
Horizonte:[Imprensa Oficial], 1933.
BRINTON, L. J.; TRAUGOTT, E. C. Lexicalization and
Change.Cambridge University Press (United Kingdom), 2005.
Language
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R.;
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AIKHENVALD,
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EPIFÂNIO DIAS, A. da S. Sintaxe Histórica Portuguesa. Lisboa: Livraria
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HEINE, B.; CLAUDI, U.: HÜNNEMEYER, F. Grammaticalization: a conceptual
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LEHMANN, Christian. Grammatikalisierung und Lexikalisierung.Zeitschrift für
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LURAGHI, Silvia.Il suffisso –ante/-ente in italiano: fra flessione e derivazione. In
A. Mionie L. Vanelli, a cura di, Atti d XXXI Congresso SLI, Roma, Bulzoni, 1999,
261-272.
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CONSTRUÇÕES PERIFRÁSTICAS COM O VERBO PASSAR EM
UMA PERSPECTIVA DE GRAMATICALIZAÇÃO
Geysa Maria Jayme Jordão
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Este trabalho apresenta pesquisa sobre perífrases verbais com o verbo passar,
nas quais o verbo aparece ora como verbo pleno ora como verbo auxiliar,
conforme os dois exemplos destacados do Corpus do Português: (1) “... que
reclamava afeto e apoio incondicional dos que nem sequer suspeitavam de sua
existência. Sabia passar por entre todos que a cercavam como um
fantasma...”. (2) “Foi a partir do século XVII que as mulheres passaram a fazer
parte das atuações teatrais na Inglaterra e na França.” O enfoque teórico dá
prioridade à língua em uso, cuja natureza heterogênea abriga a variação e a
mudança. Segundo Martelotta (2011, p. 73), “As pesquisas sobre mudança em
linguística de uso têm refletido, predominantemente, uma preocupação com os
processos de gramaticalização e com a relação entre esse fenômeno de
mudança e o desenvolvimento das construções gramaticais, que refletem as
regularidades de uma língua.” Apresentamos duas abordagens nesse estudo, a
primeira uma abordagem tradicional das perífrases verbais referenciadas nas
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gramáticas tradicionais, conforme Bechara (2004), Cegalla (2005), Cunha e
Cintra (1985) e a segunda, uma abordagem funcionalista com as contribuições
da linha cognitivista nos processos de gramaticalização. Destacamos os
estudos de Bybee (2010), Dias (2007), Heine (2008), Hopper (1991), Martelotta
(2010, 2011), Oliveira (2012), Travaglia (2002, 2003), Traugott (2008),
Traugott&Dasher (2002), Goldberg (1995), Raposo (2013), Silva (2011) e
outros. Esse estudo faz parte das pesquisas relativas à Tese de Doutorado,
que investe nas construções com o verbo passar em uma perspectiva de
gramaticalização. Para essa apresentação três hipóteses foram levantadas: 1)
O uso do verbo passar pleno é mais recorrente e prototípico; 2) as perífrases
com o verbo passar podem ser analisadas em seus usos aspectuais e modais
e 3) o verbo passar como auxiliar tem uso mais restrito e apresenta-se não só
como perífrase simples, mas também como perífrase complexa. Para
comprovar essas hipóteses, os seguintes objetivos foram traçados: 1)
Investigar a função aspectual e modal do verbo passar; 2) detectar a diluição
de fronteiras entre verbo pleno e verbo auxiliar e 3) analisar toda construção
textual e não apenas a locução verbal. Como metodologia de pesquisa,
selecionamos construções em que o verbo passar se apresenta como pleno e
como auxiliar e o critério de seleção foi identificar os dez primeiros casos
encontrados para cada uso, totalizando um corpus de vinte casos. Foram
pesquisadas três fontes: o corpus do D&G; o Corpus do Português e notícias
veiculadas pela Internet. Selecionado o corpus, propôs-se um estudo de
gradiência dos casos, partindo de usos lexicais para usos gramaticais e usos
mais gramaticais, entendendo-se que, nesse processo de gramaticalização, a
mudança vai ocorrer na direção do final de um continuum.
Referências Bibliográficas
BYBEE, Joan. Language, Usage and Cognition. Cambridge: Cambridge
University Press, 2010.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucena,
2004.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa.
São Paulo: Ed Nacional. , 2005.
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
DIAS, N. B; SIGILIANO, N. S. Mudança semântica e polissemia verbal nas
construções do pegar no discurso. In: Estudos da língua em uso – Da
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GOLDBERG, Adele E. Constructions: a construction approache to argument
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HEINE, B. Grammaticalization. In: J.; J. (editors). The Handbook of Historical
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
HOPPER, P. J. On some principles of grammaticalizationinTRAUGOTT, E. C. e
HEINE, Bernd (eds.). Approaches to grammaticalization, volI – Focus on
theoretical and methodological issues. Amsterdam / Philadelphia: John
Benjamins Publishing Company, 1991: 17-36.
MARTELOTTA, M. E. Mudança linguística: uma abordagem baseada nouso.
São Paulo: Cortez, 2011.
________. Categorias cognitivas e unidirecionalidade. In: LIMA-HERNANDES
et al (org.). Gramaticalização em Perspectiva Cognição, Textualidade e Ensino.
São Paulo: Paulistana, 2010.
OLIVEIRA, M. R. de. Tendências atuais da pesquisa funcionalista. In:
Funcionalismo Linguístico /Novas Tendências Teóricas. Rio de Janeiro:
Contexto, 2012.
RAPOSO, E. et al. (org). Gramática do Português. Vol II. Lisboa: Fundação
CalousteGulbenkian, 2013.
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Revista Portuguesa de Humanidades/ Estudos Linguísticos. Vol. 15-1.
Universidade Católica Portuguesa: Braga, 2011, 93-110.
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The Handbook of Historical Linguistic. Balckwell Publising, 2008,pp. 624-648.
TRAUGOTT, Elizabeth C. & Dasher, R. B. Regularity in Semantic Change.
Cambridge, Cambridge University Press, 2002, 19-23.
TRAVAGLIA, L. C..Gramática Ensino Plural. São Paulo: Cortez, 2003.
_________ Gramaticalização de verbos – Relatório de pesquisa. Rio de
Janeiro: Faculdade de Letras / UFRJ, Relatório de Pós-Doutorado em
Linguística, 2002.
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A CONSTRUÇÃO XMENTE DO LATIM AO PORTUGUÊS
Júlia O. C. Nunes e Júlia L. Campos
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Esta pesquisa visa analisar a construção Xmente, produtiva na formação de
advérbios na maioria das línguas românicas, desde sua origem no latim até o
século XX. Utilizamos os pressupostos teóricos da Linguística Funcional
Centrada no Uso, na qual, tendo em vista que a linguagem é um instrumento
de interação social, se considera que a investigação linguística está além da
estrutura gramatical, contemplando as motivações para os fatos da língua no
contexto discursivo. A formação do padrão construcional Xmente é o resultado
da gramaticalização de um contexto discursivo originado no latim, como ex:
devota mente, em que mente designa estado mental e é modificado por um
adjetivo em acordo semântico com ele. Uma vez que construções são
pareamento de forma e sentido e o valor semântico não é predizível pelas
partes que as compõem, acreditamos que, nas sincronias do latim, esta forma
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apresentava ainda um valor semântico composicional. Já no início das línguas
românicas, o padrão Xmente, mais abstrato e não-composicional, era bastante
produtivo, o que nos leva a crer que a gramaticalização desta estrutura tenha
ocorrido na fala, no latim vulgar, berço das línguas românicas. Um dos
objetivos desta pesquisa é mostrar de que maneira ocorreu a gramaticalização
desse contexto inicial até a perda da composicionalidade dessa estrutura e sua
reanálise propiciando a formação da construção Xmente. Além disso,
trabalhamos com a premissa de que a construção Xmente, uma vez formada e
com a produtividade aumentando no português, perdeu analisabilidade, mas
ainda é parcialmente composicional. Mente não pode mais ser recuperado
como o substantivo, mas a construção ainda mantém as propriedades
semântico-morfológicas da base adjetival. Se a base é monossêmica, o
advérbio também será. Os advérbios de base polissêmica são mais propensos
à mudança semântica do que aqueles considerados monossêmicos. Para o
estudo da mencionada construção, trabalhamos com as noções propostas por
Bybee (2003; 2010) de frequência, analogia, categorização e chunking. Além
disso, tomaremos por base algumas das questões abordadas em trabalhos
anteriores, mas com a aplicação de um viés teórico mais recente, como a
questão da construcionalização e mudanças construcionais abordada
principalmente em Traugott & Trousdale (2013).
Referências Bibliográficas
BYBEE, J. Cognitive processes in grammaticalization. In: TOMASELO, M. (ed).
The New Psychology of Language. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates
Inc, volume II, p. 145 – 167, 2003.
BYBEE, J. Language, usage and cognition.Cambridge: C. U. P., 2010.
CAMPOS, J. L. A gramaticalização da construção Xmente: uma história do
latim ao português. Rio de Janeiro: dissertação de mestrado, UFRJ, 111 fl,
2013.
COSTA N.; J. O. Mente de Antigamente. Rio de Janeiro: tese de doutorado,
UFRJ, 178 fl., 2013.
TRAUGOTT, E. C. & TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional
Changes.Oxford: Oxford University Press, 2013.
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A GRADIÊNCIA DA CONSTRUÇÃO QUER DIZER NO
PORTUGUÊS COETÂNEO BRASILEIRO
Luana Silva do Nascimento Cu nha
Universidade Federal Fluminense (UFF)
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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Este trabalho consiste numa análise do padrão construcional do
português composto pelo verbo volitivo querer seguido do verbo
dizer em textos jornalísticos argumentativos. Assim, examinamos a
construção quer dizer em editoriais, cartas do leitor e textos de
opinião do jornal Folha de São Paulo. Embasados nos conceitos de
Bybee (2001, 2010), Traugott (2008), Traugott e Dasher (2005),
Croft (2001) e outros autores, buscamos analisar a gradiência
dessa construção nas relações texto e contexto, focalizando a
interação entre os participantes de um evento comunicativo, tendo
em vista a importância do ambiente situacional e cultural para os
sentidos construídos pela língua em uso. O objetivo é demonstrar
que essa expressã o constitui padrão construcional em uso no
português do Brasil a caminho da gramaticalização.
Referências Bibliográficas
BYBEE, J. (2010). Language, usage and cognition. Cambridge:
Cambridge University Press.
BYBEE, J.; HOPPER, P. (org.) Frequency and the emergence of
linguistic structure . Amsterdam: John Benjamins, 2001.
CROFT, W . Radical construction grammar: syntactic theory in
typological perspective . Oxford: Oxford University Press, 2001.
TRAUGOTT, E. (2008). Grammaticalization, constructions and the
incremental development of language: Suggestions from the
development of degree modifiers in English. In: Eckard, R. et al
(eds) Variation, Selection, Development – Probing the Evolutionary
Model of Language Change . Berlin/New York: Mouton de Gruyter,
219-250.
TRAUGOTT, E. C; DASHER, R.
change.Cambridge : C. U. P., 2005.
B.
Regularity
in
semantic
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ENTRETANTO E NO ENTANTO: EMERGÊNCIA DE DOIS
CONECTORES NO PORTUGUÊS MEDIEVAL
Priscilla Thaís Medeiros
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Estudos de gramaticalização têm sido de fundamental importância para
explicar a formação de conectores oracionais que introduzem orações
adverbiais, presumivelmente a partir de uma trajetória de [- subjetivo]>[+
subjetivo] (Traugott e König, 1991; Traugott 1995, Lee 2006, Traugott 2003,
Traugott 2010). É nesta perspectiva que focalizamos, nesta comunicação, a
gramaticalização dos conectores adversativosentretanto e no entanto, ambos
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originados da base “tanto”. Limitamo-nos ao período arcaico do português, com
o objetivo de identificar as construções que teriam permitido o desenvolvimento
do uso adversativo destes elementos. A hipótese central que norteia o estudo é
a de que ambos seguiram uma trajetória de subjetivização gradativa,
investindo-se de valores que podem ser distribuídos numa escala conector
temporal > conector causal > conector adversativo. Através da análise de
textos dos séculos XIII a XV, digitalizados pelo projeto Corpus Informatizado do
Português Medieval, procuramos identificar as construções que autorizaram a
emergência do sentido adversativo. A análise permite mostrar que a
abstratização deentretanto e no entanto já pode ser atestada no português
arcaico, em construções ambíguas que, além do sentido temporal, permitem a
emergência de valores como contraste ou contra-expectativa. A possibilidade
de interpretação adversativa está associada a determinadas propriedades
modo-temporais, destacando-se as orações que codificam estados de coisas [realis]. Destaca-se, ainda, a relevância de considerar a relação entre as
orações ligadas por estes dois elementos.
Referências Bibliográficas
HOPPER, P and TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. 2. ed. Cambridge: C.
U. P., 2003.
LEE, Binna. A Corpus-based Approach the Development of Conjunction
While.SNU Working Papers in English Linguistics and Language 5, 2006. p. 7489. Disponívelem: <http://hdl.handle.net/10371/2052>. Acesso em: 29 de julho
de 2012.
TRAUGOTT, E. C. and König, Ekkehard. The Semantics-Pragmatics of
Grammaticalization Revisited. In: TRAUGOTT, E.C. and HEINE, B. Approaches
to grammaticalization. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. 1991. p. 189
– 218.
TRAUGOTT, E. C. Subjectification in Grammaticalization. In: STEIN, D. and
WRIGHT, S. (eds.) Subjectivity and Subjectivisation. Cambridge: University
Press. 1995. p. 31 – 54.
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(ed) Motives for language change. Cambridge: C. U. P., 2003, p. 124-142.
______. (Inter)subjectivity and (inter)subjectification: a reassessment. In:
DAVIDSE, Kristin et alii (org), Subjetification, intersubjetification and
grammaticalisation.Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2010, p. 29-74
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GRAMATICALIZAÇÃO DE 'ESTAR' EM ESPANHOL E EM
PORTUGUÊS BRASILEIRO
Telma Aparecida Félix da Matta Cori
Universidade de São Paulo (USP)
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
O trabalho ora apresentado visa a uma discussão a respeito dos processos de
gramaticalização do verbo copulativo estar do espanhol e do português
brasileiro, oriundos da forma latina stare. Na proposta de análise a ser
apresentada, considera-se que a cópula, em cada uma das línguas moderna
sem questão especializou-se no cumprimento de uma função específica,
correspondente a um dos traços do feixe presente no verbo latino. Conforme
observado por Batllori & Roca (2011) em espanhol o verbo estar é o verbo
locativo por excelência, sendo empregado em variados contextos, alguns dos
quais, em PB requeririam a cópula ser: ''La panaderia está al otrolado (de la
calle)''/ ''A padaria é do outro lado (da rua)''. Em um contexto como este, o uso
e de estar em PB, conforme notado por Kewitz (2002) apenas ocorreria
mediante a intenção de informar-se uma localização relativa, por exemplo em
uma situação na qual, desde um automóvel se procura um ponto de referênçia
para a própria localização no espaço. Em espanhol, diferentemente, estar
também aparece em construções com particípio, em que o PB só aceitaria o
verbo ser: El prémio está patrocinado por uma fundación benéfica/ O prêmio é
patrocinado por uma fundação beneficiente. Partindo dos significados do verbo
originário stare do latim, 'estar de pé', 'ainda estar de pé', 'permanecer em
posição de pé', 'levantar-se rigidamente' (Batllori & Roca, 2011:79), podemos
considerar que em espanhol a verbo estar reteve os componentes semânticos
da origem aos quais nos referiremos como <<persistência de uma dada
configuração. Nossa hipótese é consoante com a análise de Ruiz (1963:73,
apud Cardoso & Battaglia, p. 176, 2005) quem analisa estar como um ''verbo
atributivo de permanência''. Também se argumentará em favor da ideia de que,
em português brasileiro, o verbo estar conserva a interpretação eventiva do
stare latino, razão pela qual, nesta língua moderna, estar tenderia mais à
expressão de estados dinâmicos do que naquela.
Referências Bibliográficas
BATLLORI, M.; ROCA. F. Gramaticalisation of Ser and Estar in Romance In
JONAS, D. (Ed.). Gramatical Change: Origins, Nature, Outcomes, Oxford,
Oxford University Press, 2011, p 73-92
BELINE, R.A gramaticalização de estar + gerúndio no português falado.1999,
112 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Estudos da
Linguagem, UniversidadeEstadual de Campinas, Campinas, 1999.
CARDOSO, M.; BATAGLIA, M. H. V. Os verbos ser e estar do português em
oposição ao verbos ein do alemão. In: Pandaemonium Germanicum. São
Paulo, v. 1, n. 5,p. 169-192, 2001.
KEWITZ, V. A gramaticalização de ser e estar no período medieval e no século
XIX.2002, 123 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Departamento de
LetrasClássicas e Vernáculas, FFLCH-USP, 2002
MARÍN, R.El componente aspectual de la predicación.2001, 291 f. Tese
(DoutoradoemFilologiaEspanhola) - Departament de Filología Espanyola,
Universitat Autònoma de Barcelona, Barcelona, 2001
RAMOS, J.; VITAL, L. Algumas diretrizes para uma abordagem formal da
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
gramaticalização In RAMOS, J. ; ALKMIN, M. (orgs.) Para a História do
Português Brasileiro, v 5, Belo Horizonte, FALE/UFMG, 2007, p 317-328.
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GT2 - GRAMATICALIZAÇÃO E GRAMÁTICA DE
CONSTRUÇÕES
Coordenadora: Mariângela Rios de Oliveira (UFF)
GRAMATICALIZAÇÃO DA MICROCONSTRUÇÃO “FOI
QUANDO”
Alexsandra Ferreira da Silva
Universidade Federal Fluminense (UFF)
O presente trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades de mudança
por gramaticalização da microconstrução “foi quando”, nos termos de Traugott
(2008). Adotamos pressupostos teóricos da Linguística Centrada no Uso, que
congrega conceitos da teoria funcionalista – na linha de Heine e Kuteva (2006),
Traugott (2008, 2010), Traugott e Dasher (2005), entre outros – e princípios
cognitivistas, conforme Goldberg (1995, 2006) e Croft (2001). Partimos da
hipótesede que “foi quando”, em viés sincrônico, apresenta graus distintos de
gramaticalidade em que seu uso mais gramatical se apresenta de maneira
integrada na língua, como uma microconstrução. Hipotetizamos, ainda, que os
diferentes graus de gramaticalidade de “foi quando” sejam decorrentes de um
processo de gramaticalização, como resultado de mudança diacrônica. A
gramaticalização da microconstrução “foi quando” é estudada através da
análise dos contextos de micromudanças, conforme Heine (2002), na
perspectiva de construcionalização gramatical proposta por Traugott (2012).
Observamos, também, a atuação dos mecanismos de reanálise e de analogia,
estritamente relacionados aos processos de inferência metonímicos e
metafóricos. Para esse estudo, procedemos, inicialmente, a uma pesquisa
sincrônica na qual são analisadas notícias publicadas nos sites:
www.g1.globo.com e www.odia.ig.com.br, haja vista a recorrência de uso de
“foi quando” nesse gênero textual. Posteriormente, pesquisamos dados
diacrônicos em textos narrativos no Corpus do Português. Verificamos que “foi
quando”, em perspectiva sincrônica, apresenta-se em três padrões de uso: I –
[foiverb.ligação(+)] e [quandoadv.integrante]; II – [foiverb.ligação(-) + quandoadv.relativo]; III –
[foiquandoconector]. Ressalta-se que o padrão III, em que “foi quando” atua como
um conector, representa a maioria dos dados. Esse padrão de uso
construcional mostrou-se recente na língua, de acordo com nossa pesquisa em
dados diacrônicos. Assim, dedicamo-nos, nesta comunicação, a apresentação
de “foi quando” em seus diferentes graus de gramaticalidade, enfatizando que
seu uso como mecanismo coesivo apresenta uma leitura holística de seus
constituintes, formando uma microconstrução. Salientamos que os diferentes
graus de gramaticalidade podem ser vistos como resultado de mudança
diacrônica, por meio de um processo de gramaticalização.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Referências Bibliográficas
CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological
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Oxford: Oxford University Press, 2006.
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Oxford University Press, 2006.
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Selection, Development – Probing the Evolutionary Model of Language
Change.Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008.
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CONSTRUCIONALIZAÇÃO DO CONECTOR CONCLUSIVO “DAÍ
QUE”: UMA ABORDAGEM CENTRADA NO USO
Ana Beatriz Arena
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Concluir é não só um processo cognitivo subjacente à elaboração do
conhecimento e, como tal, pertinente à condição humana, como também uma
ação lógico-argumentativa, codificada linguisticamente por meio de diferentes
formas. Uma delas é a expressão “daí que”, objeto deste estudo, para a qual se
defende que segue uma trajetória diacrônica de gramaticalização, assumindo
sincronicamente o estatuto de conector conclusivo. Seguimos os pressupostos
teóricos da Linguística Funcional Centrada no Uso, que conjuga o
Funcionalismo Linguístico, especialmente no que diz respeito à
gramaticalização de construções, nos termos, principalmente, de Traugott
(2010, 2012), Trousdale (2008) e Bybee (2010), e princípios da perspectiva
cognitivista no que tange à Gramática de Construções, com foco nos estudos
de Croft (2001). Entendem-se construções como expressões complexas,
constituindo estruturas relativamente fixas. No caso em estudo, à contração da
preposição “de” com o locativo “aí”, soma-se a conjunção subordinativa
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
integrante “que”, formando um todo sintático-semântico de valor conclusivo. A
análise diacrônica, que remonta ao século XIII, aponta para instanciações de,
pelo menos, dois grupos de estruturas linguísticas possivelmente participantes
na gênese do conector “daí que”: 1) “daí se infere que”, “Daí se seguirá que”; e
2) “seguiu-se daíque”, “Não se infira daíque”, que Diewald (2006) chama,
respectivamente, de “contexto atípico” e “contexto crítico”. Os dados da análise
sincrônica indicam que o conector “daí que” é uma inovação linguística
bastante recente, remontando provavelmente ao início do século XX, com
ocorrência predominante nas sequências narrativas e argumentativas.
Verificamos que, após passar por sucessivas neoanálises (Traugott, 2012), “daí
que” é empregado como conector conclusivo a partir do século XX,
apresentando perda de fronteira e de composicionalidade entre seus
componentes, pareando forma e sentido: “A leitura do mundo precede a leitura
da palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da
continuidade da leitura daquele” (Trecho de discurso proferido por Paulo Freire
em 1981). Com este estudo, objetivamos investigar a origem do operador “daí
que”, consultando textos escritos de diferentes gêneros e tipologias textuais
dos períodos arcaico, moderno e contemporâneo da língua portuguesa. Por
meio do levantamento das frequências type e token (Bybee, 2003),
objetivamos, ainda, verificar a produtividade da expressão sob investigação e
reconhecer padrões de uso determinantes na sua fixação como conector
conclusivo.
Referências Bibliográficas
Bybee, Joan. Language, Usage and Cognition. New York: Cambridge
University Press, 2010.
CROFT, William. Radical Construction Grammar.Syntatic theory in typological
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TRAUGOTT, Elizabeth C. Toward a coherent account of Grammatical
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English. In: TROUSDALE, G. & GISBORNE, N. (orgs.) Constructional
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O PAPEL DOS ELEMENTOS VERBAIS E LOCATIVOS NA
COMPOSIÇÃO DA HIERARQUIA CONSTRUCIONAL VLoc
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Ana Cláudia Machado
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Este trabalho investiga a composição da hierarquia construcional (Trousdale,
2008) VLocMD a partir do papel dos elementos verbais e locativos. Busca-se
demonstrar que a interação entre esses elementos promove um elo de
correspondência simbólica (Croft, 2001) que permite distribuir diferentes
instanciações em distintos padrões de uso. Nesse sentido, objetiva-se
examinar: i) o papel dos elementos verbais de base locativa e perceptiva na
formação de mesoconstruções (Traugott, 2008), ii) a importância da
perspectivização espacial fina e vasta (Batoréo, 2000) na identificação de
particularidades das microconstruções (Traugott, 2008), iii) a relação entre os
tipos de contextos e os micropassos da mudança e iv) a atuação dos
mecanismos que levam a mudanças construcionais e à construcionalização
(Traugott & Trousdale, 2013). Parte-se da hipótese de que a construção
marcadora discursiva VLoc tem origem em contextos de frame espacial em que
o verbo integra categoria lexical e o pronome locativo atua como advérbio,
ainda no nível do predicado. Em uma trajetória de abstratização, os elementos
tornam-se amalgamados, motivados por inferências sugeridas (Traugott e
Dasher, 2005), forjadas em ambientes interacionais específicos, e passam a
articular um terceiro e distinto sentido em instanciações, tais como: vem cá,
está aí, espera aí, vê lá, entre outras que cumprem função de marcação
discursiva na expressão de crenças, valores, modalidades em que se percebe
a presença mais explícita do falante/autor. A pesquisa embasa-se na
Linguística Funcional Centrada no Uso na qual se compatibilizam as vertentes
funcionalista e cognitivista, postulando que os usos linguísticos são modelos
convencionalizados, construídos a partir da inter-relação linguagem, cognição e
ambiente sócio-histórico. O corpus selecionado compreende os séculos XIII a
XX, retirados do site “corpusdoportugues.org”. A análise focaliza sequências
tipológicas, em que se percebe a atuação de pressões metonímicas levando à
metaforização e fixação de padrões de uso.
Os resultados parciais
demonstram que as instanciações formam esquemas mentais situados
contextualmente, o que implica menor esforço cognitivo e maior efetividade nas
práticas comunicativas; apontam para “vem cá” como um type específico
funcionando como exemplar da hierarquia; esse exemplar motiva novas
instanciações compostas por verbos de base locativa e perceptiva através de
processos de gramaticalização por redução e expansão e de analogização
(Traugott & Trousdale, 2013).
Referências Bibliográficas
BATORÉO, H. “Expressão do Espaço no Português Europeu. Contributo
Psicolinguístico para o Estudo da Linguagem e Cognição”, Textos
Universitários de Ciências Sociais e Humanas.Lisboa: FCT e Fund. C.
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CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological
Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001.
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TROUSDALE, G. Constructions in grammaticalization and lexicalization:
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approaches to English grammar. Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 33-67,
2008.
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O PAPEL DA ANALOGIA NA EMERGÊNCIA OU EXTENSÃO DE
CONSTRUÇÕES
Angélica Rodrigues
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP)
Carolina Medeiros Coelho
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
O modelo da gramática das construções, com base em Goldberg (1995),
pressupõe uma relação de herança entre as construções da língua de modo
que uma construção A, por exemplo, motiva a construção B se B é herança de
A (GOLDBERG, 1995, p. 67). As relações de herança entre construções, no
entanto, suscitam discussões quando aplicadas à análise empírica. Bybee
(2010), por exemplo, salienta que a similaridade (fonológica ou semântica)
representa uma motivação importante que atua na formação ou na extensão de
modelos construcionais. Segundo a autora, essa relação de similaridade
corrobora a hipótese de que a analogia funciona como fonte para novas
construções. Bybee (2010, p. 57) utiliza o termo analogia para se referir ao
“processo pelo qual os falantes passam a usar um novo item em uma
construção”. Nosso objetivo é discutir a partir dos conceitos de herança de
Goldberg (1995), de analogia de Bybee (2010) e de produtividade de Barddal
(2008) a relação entre as construções transitivas, com verbo suporte,
paratáticas e subordinadas envolvendo os verbos agarrar, catar e pegar no
português brasileiro e europeu. Consideramos que essas construções estão
interligadas por uma rede de herança motivada pelo esquema imagético de
movimento evocado pelos verbos, em que os verbos agarrar, catar e pegar
passam de verbos lexicais a verbos gramaticais, evidenciando um processo de
gramaticalização.
Referências Bibliográficas
BARDAL, Jóhanna. 2008. Productivity: Evidence from Case and Argument
Structure in Icelandic. Amsterdam: John Benjamins.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
BYBEE, J. Language, Usage e Cognition. New York: Cambridge University
Press, 2010.
GOLDBERG, A.Constructions: A Construction Grammar Approach to
Argument Structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.
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GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE ESPAÇO/TEMPO
APROXIMADO “LÁ PARA” EM CONTEXTOS NARRATIVOS
Eder Nicolau A. Venâncio
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Este trabalho insere-se às pesquisas do grupo Gramaticalização e gramática
de construções (GT II) com objetivo de acrescer informações concernentes ao
estudo da linguística funcional centrada no uso (Martelotta, 2011), que concebe
a gramaticalização como fenômeno contextual (Croft, 2006 apud Traugott,
2008), divergindo das propostas clássicas que visavam ao estudo de
elementos gramaticais isolados. Por descategorização e variação funcional,
certas construções, frutos de combinações de unidades formais fixas (Batoréo
e Silva, 2008), são naturalmente formadas, expandindo o sentido de
determinado padrão linguístico em contextos específicos a fim de oferecer
novas possibilidades de expressão comunicativa ao usuário da língua que,
como diz Fried (2008), é incentivado pela força de fatores externos. A
mudança, então, passa pela criação e aceitação, nos discursos, desses
padrões (Noël, 2007), que são qualquer estrutura que faça referência entre
forma e significados (Batoréo e Silva, 2008). Na pesquisa, destacar-se-á o uso
do padrão construcional formado com “lá para” em contextos narrativos nos
quais essa construção esteja indicando lugar/tempo aproximado; diferenciandose, assim, dos sentidos expressos pelos vocábulos que a formam, analisados
separadamente. Em “[...] minha avó pegou [o passarinho morto]... aí jogou lá
pro meio do mato... [...] (Corpus D&G Rio de Janeiro), por exemplo,o locativo
“lá” e a preposição “para” (“pra”) juntam-se e passam a funcionar como
construção de indefinição espacial, introduzindo um padrão circunstancial mais
abstrato. Posteriormente, por projeção de domínio (Traugott e Dasher, 2005),
como acontece em “[...] nós fomos passear...lá para as onze horas... [...]”
(Corpus D&G Rio de Janeiro), a temporalidade apresenta-se como forma
aceitável uma vez que, cognitivamente, existe a naturalidade do uso de formas
locativas para expressar tempo. Independente da categoria em si, observa-se
que as noções de advérbio e preposição fundem-se, em perspectiva mais
ampla, não permitindo a caracterização padrão dessas classes. Uma vez
formados novo sentido e forma indissolúvel, passando a cumprir nova função,
justifica-se a mudança gramatical, mesmo que não haja uma especificação
categorial.
Referências Bibliográficas
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
BATORÉO, H. J.; SILVA, A.S. Gramática Cognitiva: estruturação conceptual,
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and attribution. Princeton University. In: BERGS, A.; DIEWALD, G. (eds)
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TRAUGOTT, E. C; Dasher, R. B..Regularity in semanticchange. Cambridge:
Cambridge University Press, 2005.
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MARCADORES DISCURSIVOS NO ÂMBITO DA ABORDAGEM
DA GRAMATICALIZAÇÃO DE CONSTRUÇÕES
Lauriê Ferreira Matins
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Patrícia Fabiane Amaral da Cunha Lacerda
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
O presente trabalho tenciona discutir a pertinência de se abordar o
desenvolvimento de marcadores discursivos (MDs) a partir da abordagem da
gramaticalização de construções (TRAUGOTT, 2008, 2011; BYBEE, 2011;
TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013). Dessa maneira, o trabalho encontra-se
em comunhão com o GT2 do Workshop de Gramaticalização, denominado
Gramaticalização e gramática de construções. Embora o desenvolvimento de
MDs envolva aumento de escopo estrutural e de liberdade sintática –
características que violam os parâmetros formais da variabilidade sintagmática
e do escopo, propostos Lehmann (1995[1982]) –, há, ainda, a articulação de
características fundamentais à abordagem da gramaticalização de construções,
como aumento em esquematicidade e em produtividade e decréscimo em
composicionalidade (TRAUGOTT, 2011; TEIXEIRA & OLIVEIRA, 2012). É
nesse contexto que realizaremos a sistematização de MDs derivados dos
verbos “olhar” e “ver” em configuração imperativa a partir dos quatro níveis de
esquematicidade estabelecidos por Traugott (2008) – macroconstrução,
mesoconstrução, microconstrução e construto. Para tanto, adotaremos uma
abordagem pancrônica, mediante amostras do português falado e da
modalidade escrita da língua. O corpus sincrônico oral é composto pelos
seguintes corpora: “Projeto Mineirês: a construção de um dialeto”, “PEUL –
Programa de Estudos sobre o Uso da Língua” e “NURC/RJ – Projeto da Norma
Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro”. Quanto ao corpus diacrônico escrito,
este é composto pelos projetos “CIPM – Corpus Informatizado do Português
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Medieval” e “Corpus Histórico do Português Tycho Brahe”. Os resultados
apontam que o esquema construcional verbo de percepção visual em
configuração imperativa e em P2, que atua na chamada de atenção do ouvinte,
configura a macroconstrução, que, juntamente com as mesoconstruções, seria
responsável pelo surgimento de novas construções e pelo estabelecimento de
uma rede construcional. Identificamos, também, os seguintes contextos de
atuação discursiva destes MDs, que, cada qual com seu padrão construcional,
comporiam
as
mesoconstruções:
prefaciação,
opinião/sustentação,
discursoreportado, interjeição e contraexpectativa. Sendo assim, no presente
trabalho, parte-se da possibilidade de se projetar um esquema abstrato que
seja responsável pela emergência de novos padrões construcionais, ao mesmo
tempo em que seja por eles afetado.
Referências Bibliográficas
BYBEE, J. Usage-based theory and grammaticalization In: NARROG, H.;
HEINE, B. (eds.). The Oxford Handbook of Grammaticalization. New York:
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marcadores discursivos com base no esquema construcional Verbo Locativo.
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______.; TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional
Changes.Oxford: Oxford University Press, 2013.
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SNLOC: UM PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO E
LEXICALIZAÇÃO
Milena Torres de Aguiar
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Baseados na Linguística Funcional Centrada no Uso, estudamos os locativos
aí, lá, aqui e ali pós Sintagma Nominal, constituindo a construção SNloc.
Percebemos que o locativo pós SN foge de seu uso normal (Heine, 2002)
segundo as gramáticas normativas. De acordo com as nossas pesquisas, tais
locativos passaram por uma trajetória de gramaticalização, partindo de um uso
mais concreto e original como padrão dêitico; que, por conta de pressões de
natureza metonímica e metafórica migrou para referências fóricas, atuando na
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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organização do texto como advérbio catafórico e posteriormente, anafórico,
sendo assim contextos-ponte (Heine, 2002) para o último uso, o mais
abstratizado, o qual acreditamos ser um estágio já gramaticalizado do locativo,
desempenhando uma função nova: a de clítico. Nesse último padrão, como
contexto de mudança (Heine, 2002), o locativo passa a funcionar como um
morfema gramatical que atua sintagmaticamente e está preso fonologicamente
ao SN anterior formando uma construção fixa SNloc, segundo Traugott (2003,
2007), a qual nomeamos como construção nominal atributiva SNloc. Tal
construção possui realizações bastante recorrentes pelos usuários da língua,
como observamos em: “a reunião estava marcada às sete e meia... eu fui
convidado e tinha um... um rapaz... que... saiu devido a uns problemas lá...
questão de disciplina... não sei que questão...”, em que nela não podemos
perceber tão claramente a ideia de lugar própria do pronome locativo em seu
uso primitivo e original como um item lexical isolado. Ao olhar a vinculação de
SNloc, percebemos que a construção como um todo está passando por um
processo de lexicalização, segundo Brinton e Traugott (2005), Brinton (2011) e
Lehmann (1989, 2002), já que se torna progressivamente mais fixada e
fossilizada, perdendo sua composicionalidade semântica e entrando para o
inventário da língua. Baseados no Corpus Discurso & Gramática e no Corpus
do Português, realizamos um levantamento qualitativo e quantitativo em textos
orais e escritos.
Referências Bibliográficas
BRINTON, L. J.; TRAUGOTT, E. C. Research Surveys in Linguistics:
Lexicalization and Language change. New York: Cambridge University Press,
2005.
BRINTON, L.J. The Grammaticalization of Complex Predicates. In: HEINE &
NARROG (eds). The Oxford Handbook of Grammaticalization. Oxford: Oxford
University Press, 2011.
HEINE, Bernd. On the role of context in grammaticalization.In Wischer and
Diewald, Eds., 83-101, 2002.
LEHMANN, C. Grammaticalization and lexicalization. Journal of Phonetics,
Linguistics and Communication Research 42:11-19, 1989.
__________. New reflections on grammaticalization and lexicalization. Wischer,
Ilse
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Diewald,
Gabriele
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grammaticalization.Amsterdam & Philadelphia: J. Benjamins (TSL, 49); p. 1-18,
2002.
TRAUGOTT, E. C. Constructions in Grammaticalization. In: JOSEPH, B.;
JANDA, R. D. (orgs.). The Handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blackwell,
2003.
__________. The concepts of constructional mismatch and type-shifting from
the perspective of grammaticalization. In: DABROWSKA, E. (org.) Cognitive
Linguistics. v. 18-4. New York: Mounton de Gruyter, 2007.
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
INSTANCIAÇÕES DA MACROCONSTRUÇÃO VERBAL
CONECTIVA LOCV
Rossana Alves
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Esta pesquisa insere-se no projeto Pronomes locativos em construções
nominais e verbais do português contemporâneo: ordenação, polissemia e
gramaticalização (Oliveira, 2010) e investigapadrões de uso da
macroconstrução verbal conectiva LocV por meio de instanciações de
microconstruções como “aí vem”e “aí está” no banco de dados do siteCorpus
do Português. Embasados na orientação teórica de Bybee (2010), Traugott
(2008), Traugott e Dasher (2005), Traugott &Troudale (2013), Diewald (2002),
Croft (2001), entre outros, partimos das seguintes hipóteses: (i) construções
verbais em torno de locativos são, em contextos específicos, instanciações da
macroconstrução LocV, uma unidade de sentido e forma que atua como
elemento de conexão sintática ou textual; (ii) contextos atípicos e críticos
motivam, via neoanálise e analogização, mudança linguística gradual; (iii)
microconstruções envolvem redução e aumento de dependência (GR) e
expansão de frequência de uso como elementos de conexão (GE), resultantes
de processos de gramaticalização que são complementares; (iv) membros
exemplares da classe das instanciações da construção LocV atuam como base
para o surgimento e para a fixação de novos padrões de uso. Assumindo que
fatores de ordem pragmática e cognitiva interagem para a criação das
microconstruções, analisamos suas propriedades semântico-sintáticas e
discursivo-pragmáticas, via modelo topdown, quando o sistema linguístico é
afetado descendentemente, promovendo assim o surgimento dessas
expressões e, via bottom up,quando a fixação de seus usos afeta o sistema,
ampliando sua representação. Levamos em conta, ainda, mecanismos
dominantes de mudança como a metáfora e a metonímia: esta relacionada às
pressões estruturais, numa relação de superfície em que a contiguidade
conceitual reflete associação e indexicalidade, atuando, assim, no nível
sintagmático; e aquela se referindo à transferência de domínios, sendo a
consequência, o resultado das relações metonímicas, atuando no nível
paradigmático. Relacionamos, também, o processo de gramaticalização ao que
Traugott e Dasher (2005) chamam de “inferência sugerida”, já que o emissor
lança mão de elementos originalmente do nível da gramática, como o pronome
locativo e o verbo de movimento, para a articulação de outro sentido, com
vistas à adesão e anuência de seu interlocutor. Nessa trajetória ascendente de
gramaticalização, está envolvida a alteração do estatuto categorial dos
elementos, atribuindo funções gramaticais aos materiais lexicais, e, se já
gramaticais, como o verbo e o locativo, funções ainda mais gramaticais, como
a função de elemento de conexão, em contextos morfossintáticos e semânticopragmáticos altamente restritos (Traugott, 2003). Em virtude do que foi
mencionado, esse estudo visa a contribuir para o maior conhecimento dos
aspectos funcionais envolvidos no uso das “construções com locativos” em
língua portuguesa e, em âmbito maior, para a investigação dos mecanismos
que marcam o processo de gramaticalização de construções, na interface mais
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Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
recente dos estudos funcionalistas e cognitivistas.
Referências Bibliográficas
BYBEE, J. Language, usage and cognition.Cambridge: Cambridge University
Press, 2010.
CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological
Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001.
DIEWALD, G. A model of relevant types of contexts in grammaticalization. In:
WISCHER,
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DIEWALD,
G.
(Ed.).
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grammaticalization.Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2002.
OLIVEIRA, M. R. de. Pronomes locativos em construções nominais e verbais
do português contemporâneo: ordenação, polissemia e gramaticalização.Rio de
Janeiro: 2010. Projeto de pesquisa enviado ao CNPq.
TRAUGOTT, E. C. “Grammaticalization, constructions and the incremental
development of language: Suggestions from the development of degree
modifiers in English", Variation, Selection, Development-Probing the
Evolutionary Model of Language Change. Berlin/New York: Mouton de Gruyter,
219-250, 2008
TRAUGOTT, E. C. & DASHER, R. B. Regularity in semantic change.
Cambridge: Cambridge University Press, 2005.
TRAUGOTT, E. C. & TROUSDALE, G. Constructionalization and Constructional
Changes.UK: Oxford University Press, 2013.
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GT3 – GRAMATICALIZAÇÃO E COGNIÇÃO
Coordenador: Tiago Torrenti (UFF)
MANCHETES DE JORNAIS ONLINE: EXTENSÃO DE SENTIDOS
DO PRESENTE DO INDICATIVO EM REFERÊNCIA AO
PASSADO RECENTE
Caroline Soares da Silva
Universidade Federal Fluminense (UFF)
O tema do estudo é o uso do tempo presente do indicativo em manchetes de
jornais online, em referência ao passado recente. Isso ocorre, em geral, em
manchetes que destacam fatos ocorridos há poucos instantes ou que ainda
estão em processo de realização. A Internet, com suas novas ferramentas e
tecnologias, tem provocado algumas transformações no modo de transmitir a
informação, há uma tentativa de aproximar dois momentos opostos em uma
cadeia temporal, o instante do surgimento do acontecimento do instante do
consumo da notícia (Charaudeau, 2007). A análise se baseia em dados
extraídos de corpus composto por manchetes dos jornais online O Globo,
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Jornal do Brasil (JB), O Dia e O Extra, selecionadas da editoria de Capa, no
período de fevereiro a julho de 2012 (SILVA, 2013).Na fase em que se encontra
a pesquisa, buscamos descrever a forma de organização das informações
dessas manchetes, seu valor expressivo e a extensão de sentidos do tempo
presente. Com base na Linguística Cognitivo-Funcional, nos moldes de
Goldberg (1995); Langacker (1991; 2000); Croft (2001; 2004), entre outros,
pretendemos discutir o mecanismo de extensão metafórica, a partir do modelo
da gramática de construções, como um dos fatores que motivam a polissemia
de sentidos de um padrão gramatical (LUCENA; CUNHA, 2011). Resumindo, o
foco é a investigação dos verbos empregados no presente do indicativo,
referindo-se ao passado recente, como uma construção formada via extensão
de sentido relacionada ao passado padrão e à noção de instantaneidade.
Referências Bibliográfica
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias. 1. ed., 1ª reimpressão. São
Paulo: Contexto, 2007.
CROFT, W. Radical Construction Grammar.Syntactic Theory in Typological
Perspective. New York: Oxford University Press, 2001.
CROFT, W.; CRUSE, A. Cognitive linguistics. Cambridge: Cambridge University
Press, 2004.
GOLDBERG, A. E. A construction grammar approach to argument
structure.Chicago: University of Chicago Press, 1995.
LANGACKER, R. Foundations of cognitive grammar. V.1. Stanford: Stanford
University Press, 1991.
LANGACKER, R. A dynamic usage-based model. In: BARLOW, M.; KEMMER,
S. Usage-based model of language. Stanford: SLI, Publication, 2000.
LUCENA, Nedja Lima de; CUNHA, Maria Angélica Furtado da.Relações de
herançaemoraçõestransitivas:
o
mecanismo
de
extensãometafórica.
RevistaLetras e Letras. V. 27, n. 1, p 86-95, Uberlândia: UFU, jan-jun, 2011.
SILVA, Caroline Soares da.O tempo presente em manchetes online: o uso do
presente do indicativo para referência ao passado recente. Dissertação
(Mestrado em Letras). Instituto de Letras. Universidade Federal Fluminense,
Niterói: 2013.
JORNAIS ONLINE
JORNAL DO BRASIL. Disponível em: <www.jb.com.br>. Acesso em: fevereirojulho de 2012.
JORNAL O GLOBO. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/>. Acesso em:
fevereiro-julho de 2012.
JORNAL O DIA. Disponível em: <http://odia.ig.com.br/portal/>.Acesso em:
fevereiro-julho de 2012.
JORNAL O EXTRA. Disponível em: <http://extra.globo.com/>. Acesso em:
fevereiro-julho de 2012.
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EVIDÊNCIAS SOBRE A POLISSEMIA E A GRAMATICALIZAÇÃO
DO VERBO “VER”
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Priscilla Teixeira Matos Simoni
Este trabalho investiga a polissemia e a gramaticalização do verbo “ver”,
buscando identificar seus diferentes usos. Além disso, procuramos estabelecer
o padrão construcional que caracteriza cada um dos usos identificados.
Durante a pesquisa, operamos com as hipóteses de que (i) “ver” desenvolveria,
no decorrer do tempo, funções discursivas que percorreriam um caminho de
crescente (inter)subjetivização (FINEGAN, 1995; TRAUGOTT, 1995, 2010;
TRAUGOTT & DASHER, 2005); e que (ii) os diferentes usos do verbo estariam
relacionados semanticamente, revelando polissemia. A fim de comprovar essas
hipóteses, foi realizada uma pesquisa sincrônica, que considerou a distribuição
e a frequência de uso (BYBEE, 2003; VITRAL, 2006; MARTELOTTA, 2009) do
verbo “ver” no português contemporâneo, mais especificamente no dialeto
mineiro. Para isso, utilizamos o corpus do projeto Mineirês: a construção de um
dialeto, que recobre as cidades de Belo Horizonte, Arceburgo, Mariana, Ouro
Preto, Piranga e São João da Ponte. A partir da análise dos dados, foi
comprovado que “ver” desenvolveu-se de um uso [- subjetivo], baseado na
percepção sensorial, para usos [+ subjetivos], relacionados à percepção
cognitiva. Foram, ainda, identificados outros usos [+ (inter)subjetivos], dentre
os quais se destacam marcadores discursivos.
Referências Bibliográficas
BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticalization: the role of
frequency. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, J. (eds.). The handbook of Historical
Linguistics. Oxford: Blackwell, 2003.
FINEGAN, E. Subjectivity and subjectification. In: STEIN, D.; WRIGHT, S.
Subjectivity and subjectification. New York: Cambridge University Press,
1995.
MARTELOTTA, M. E. T. Funcionalismo e metodologia quantitativa. In:
OLIVEIRA, M.; ROSÁRIO, I. (org). Pesquisa em linguística funcional:
convergências e divergências. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2009.
p. 1-20.
TRAUGOTT, E. C. Subjectification in grammaticalization. In: STEIN, D.;
WRIGHT, S. Subjectivity and subjectification. New York: Cambridge
University Press, 1995.
______. (Inter)subjectivity and (inter)subjectification: a reassessment. In:
DAVIDSE, K.; VANDELANOTTE, L.; CUYKENS, H. (org.). Subjectification,
intersubjectification and grammaticalization. Berlim/New York: De
GruyterMouton, 2010.
______. & DASHER, R. Regularity in semantic change. New York:
Cambridge University Press, 2005.
VITRAL, L. O papel da frequência na identificação de processos de
gramaticalização. Scripta, vol. 9, n. 18. Belo Horizonte, 2006. p. 149-177.
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
GRAMÁTICA E COGNIÇÃO: UM ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
BINOMINAIS
Caroline P. Martins Santos
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Este estudo tem por objetivo geral investigar a flutuação de sentido quantidadequalidade licenciada pelo uso de construções binominais do tipo N1 de N2 no
português do brasil. Nesse sentido tomando-se um exemplo como xícara de
chá, podem se depreender pelo menos dois sentidos: i) tipo de xícara, ou seja,
uma xícara específica para tomar chá (valor qualitativo) e ii) quantidade de chá,
isto é, percebemos uma relação parte-todo entre xícara e chá, em que xícara
se refere à parte de vinho, que representa o todo (valor quantitativo).
Defendemos que essa dupla possibilidade de interpretação das construções
binominais se deve à relação parte-todo estabelecida entre N1 e N2.
Com base na combinação do arcabouço teórico da Linguística Centrada no
Uso(Bybee, 2010; Barlow &Kemmer, 2000; Tomasello, 2003, Traugott, 2008) e
da Linguística Cognitiva (Goldberg, 1995), buscamos descrever as
propriedades morfossintáticas e semântico-pragmáticas dos usos das
construções que favorecem uma leitura ora qualitativa, ora quantitativa no que
se refere à relação entre N1 e N2. Tomaremos também como referencial
teórico os estudos em gramática das construções, por entendermos que a
gramática de uma língua não consiste de um conjunto de regras, mas é
caracterizada por uma série de construções entrelaçadas no formato de uma
rede em que construções mais básicas gerariam construções mais complexas.
Entendemos por construção gramatical a unidade que associa forma e função
e que se constitui parte do nosso conhecimento sobre a língua. Partimos do
princípio de que o sentido da construção não pode ser analisado fora do
contexto, já que este é responsável por orientar a leitura, quantitativa ou
qualitativa. A hipótese geral é, portanto, a de que essas estruturas binominais
podem ser tratadas em termos de construções gramaticais e que, com isso, é
possível estabelecer os fatores tanto em termos de sua forma quanto de seu
sentido que as caracterizam. Como procedimento metodológico, coletamos e
analisamos as construções binominais a partir de exemplos retirados do livro
de crônicas intitulado Em algum lugar do Paraíso, de Luis Fernando Veríssimo.
Apesar de entendermos que o fenômeno estudado é amplamente encontrado
em diferentes gêneros textuais, concentramos nossa análise nesse gênero,
pelo fato dele apresentar como conteúdo temático fatos do cotidiano e possuir
marcas típicas da oralidade.
Referências Bibligráficas
BARLOW, M., KEMMER, S. (Org.). Usage based models of language. Stanford,
California: CSLI Publications, 2000. BYBEE, J. Language, usage, and
cognition. Cambridge, UK: CUP, 2010. GOLDBERG, A. E. Constructions: A
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
construction grammar approach to argument structure. Chicago: University of
Chicago Press, 1995.
TOMASELLO, Michael. Origens culturais da aquisição do conhecimento
humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
TRAUGOTT.E. C. Grammaticalization, constructions and the incremental
development of language: Suggestions from the development of degree
modifiers in English. In: ECKARDT, R.; JÄGER G.; VEENSTRA, T. (Eds.).
Variation, Selection, Development--Probing the Evolutionary Model of
Language Change.Berlin/New York: Mouton de Gruyter, 2008. p. 219-250.
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PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO
DICE QUE/DIZ QUE: UMA ABORDAGEM COGNITIVA
Thayssa Taranto Ramirez
Universidade Federal Fluminense (UFF)
O presente trabalho visa a analisar o emprego da construção dice que/diz que
na variedade de espanhol peruano com base no conceito de chunk. De acordo
com Bybee (2010), quando duas ou mais palavras são utilizadas juntas com
frequência, elas acabam por desenvolver uma relação sequencial, cuja força é
determinada pelo número de vezes que essas palavras aparecem juntas. No
caso de chunks que possuem frequência de ocorrência muito alta, poderá
ocorrer gramaticalização. Esse fenômeno se dá quando uma construção
adquire outros usos, sofre redução fonética, mudança semântica e começa a
não ser analisada considerando suas partes, mas como uma unidade
independente. Em situações padrão de uso, dice que atua como predicador, a
partir do qual se estabelece o argumento externo (sujeito), com sentido pleno
de verbo de elocução (Ex.: “Maria dice que no viene”), porém no caso
examinado, têm-se contextos em que as características elocutórias do verbo
“dizer” perdem força e o referente não pode mais ser recuperado na frase
(Ex.:“Dice que/Diz que a Juan le gusta emborracharse”).
De acordo com Kany (1944), o emprego de dice que/diz que como expressão
apareceu primeiramente no espanhol antigo, e embora tenha caído em desuso
na Espanha, permanece entre falantes americanos. De acordo o DPD (2005),
esta expressão possui a mesma função do advérbio “supostamente”, podendo
ser empregada ainda como adjetivo invariável, anteposto ao substantivo, com o
sentido de “suposto” (Ex.: “El diz que doctor me ha examinado”).
Segundo Olbertz (2005), essa função é reportativa, pois realiza a descrição de
um evento não presenciado pelo autor, introduzindo uma informação de
segunda mão. Assim, um de seus objetivos é expressar o não
comprometimento do falante com a veracidade do dito.
De acordo com o corpus observado (uma coluna de fofocas de um jornal
popular peruano), o uso de dice que/diz que com função reportativa permanece
ativo entre os falantes daquela variedade. Em ambos os casos, temos formas
gramaticalizadas, haja vista sua frequência (registramos treze ocorrências de
diz que no material citado durante o período de trinta dias) e a mudança
gramatical/semântica sofrida (a função elocutória dá lugar à reportativa,
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
passando a forma a ser empregada como advérbio). No caso específico da
forma diz que, observamos ainda uma redução fonética (“diz” é uma apócope
da forma “dice”). No registro oral, que parece privilegiar a forma dice que,
desempenha inclusive a função de marcador discursivo, uma vez que amarra
as partes do discurso tanto no plano linguístico quanto cognitivo.
Referências Bibliográficas
BYBEE, Joan. Chunking and degrees of autonomy. In: BYBEE, Joan.
Language, usage, and cognition.Cambridge: CUP, 2010.
DIZQUE. In: DICCIONARIO PANHISPÁNICO DE DUDAS. 2005. Disponível
em: <http://lema.rae.es/dpd/srv/search?key=dizque>. Acesso em: 29 jan. 2014.
KANY, Charles. Impersonal dizque and its variants in American
Spanish.HispanicReview, 12/2, p. 168-177, 1944.
OLBERTZ, Hella. Dizque en el español andino ecuatoriano: conservador e
innovador. In: OLBERTZ, Hella; MUYSKEN, Pieter (Eds.). Encuentros y
conflictos: bilingüismo y contacto de lenguas. Madrid / Frankfurt: Iberamericana
/ Vervuert, 2005, p. 77-94.
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GRAMATICALIZAÇÃO E CONSTRUÇÕES ENCAIXADAS
NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Carmelita Minelio da Silva Amorim
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
O fenômeno da aquisição da linguagem é um tema que chama a atenção de
estudiosos interessados em compreender como se processam as informações
adquiridas nos primeiros anos de vida da criança. Intriga aos cientistas o fato
de que, embora as capacidades mentais de uma criança pareçam, em muitos
aspectos, bastante limitadas, a capacidade específica de dominar a estrutura
extremamente complexa de sua língua nativa, por volta dos três ou quatro anos
de idade, é bastante significativa. As crianças adquirem a língua a partir do que
ouvem e são criativas em relação ao que adquirem desde o nascimento, e,
cognitivamente, é possível que tenham expectativas claras sobre a maneira
como os objetos irão se comportar. Antes de completarem o primeiro
aniversário, são capazes de formar categorias de objetos com base na forma e,
em certa medida, na função. Dentre todas as conquistas alcançadas pelas
crianças no início da aquisição da linguagem, interessa-nos investigar aspectos
morfossintáticos no que se refere à aquisição da construção verbo + verbo não
finito, especialmente verbo querer + verbo não finito, construção
aparentemente complexa, a fim de confirmar o uso do primeiro verbo como um
auxiliar, mostrando que esse tipo de estrutura é adquirido pela criança em
bloco, como uma unidade constituída, via processo de gramaticalização.
Analisamos situações reais de uso da língua, considerando aspectos
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
estruturais e pragmáticos, a partir de amostras de fala de crianças na faixa
etária entre um ano e sete meses a seis anos de idade. Como orientação
teórica, adotamos a perspectiva funcionalista e contribuições dos modelos
baseados no uso, principalmente com base nos pressupostos que
fundamentam os trabalhos de Givón (1979, 1995), Heine et al. (1991), Heine
(1993, 2006) e Bybee (1994, 2001, 2006), Tomasello (1992; 2006), Slobin
(1994).
Referências Bibliográficas
ABRAÇADO, J. A unidirecionalidade e o caráter gradual do processo de
mudança por gramaticalização. SCRIPTA, Belo Horizonte: Editora PUCMinas,
v. 9, n. 18, 1º sem. 2006, p. 130-148.
AMORIM, C. M. S. Construções encaixadas na linguagem infantil: emergência
e uso. Dissertação (Mestrado). Niterói-RJ: Universidade Federal Fluminense,
2007.
BYBEE, J. et al. Mechanisms change in grammaticalization: the role of
frequency. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, R. D. (Eds.). The handbook of historical
linguistics.2.ed. USA: Blackwell Publishing Ltd, 2006 (2003).
GIVÓN, T. From discourse to syntax: grammar as a processing strategy. In:
GIVÓN, T. (Ed.). Syntax and Semantics.New York, Academic Press, v. 2, 1979.
______. Functionalism and grammar.Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins,
1995.
HEINE, B. Auxiliaries: cognitive forces and grammaticalization. New
York/Oxford: Oxford University, 1993.
______. Grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, R. D. (Eds.). The
handbook of historical linguistics. 2. ed. USA: Blackwell Publishing Ltd, 2006
(2003).
SLOBIN, D. I. Talking perfectly. Discourse origins of the present perfect. In:
PAGLIUCA, W. (Ed.). Perspectives on grammaticalization. Amsterdam:
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TOMASELLO, M. First verbs: A case study of early grammatical development.
USA: Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
______.
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kids,
2006.
Disponível
em:
<www.constructions-online.de>. Acesso em 09 de set. 2009.
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CONSTRUÇÃO OPTATIVA V-RA NO PORTUGUÊS: PERDA DE
ESQUEMATICIDADE E CHUNKING
Kellen Cozine Martins
Maria da Conceição de Paiva
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
A desinência -ra para a indicação de pretérito mais-que-perfeito (mandara)
praticamente desapareceu do português brasileiro falado contemporâneo,
suplantada pela forma perifrástica com ter (tinha mandado) (Mattoso Câmara
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Jr., 1984; Coan, 1997). Sobrevive, no entanto, em construções como quem me
dera, tomara, quisera, pudera (eu), utilizadas para expressão de um desejo,
como nos exemplos a seguir:
(1) F: Eu às vezes fico até achando: “Tomara que eu... seja contratada
da Globo!...” Aí que eu... de repente eu seje uma correspondente no exterior!...
Ou então até por aqui mesmo, porque... eu gosto. Mas... Tomara que eu ganhe
bem... Essa é minha meta: ganhar bem, muito bem. (Censo - RJ, Amostra
2000)
(2) F: Cheguei lá a professora começou falar comigo, eu endoidei ("com
ela"), xinguei ela, aí ganhei outra advertência. "Só entra na escola com
responsável!" Aí eu falei: "não vou voltar, amanhã, à escola." (…) Nunca mais
eu voltei na escola para nada. Mas eu tenho vontade de estudar ainda. Quem
dera se eu pudesse acabar meu estudo todo. (Censo- RJ, Amostra 80)
Estas construções são focalizadas nesta comunicação em uma perspectiva
diacrônica que busca depreender, por um lado, a perda da produtividade da
desinência V-ra e, por outro, os movimentos que permitiram sua cristalização
em construções optativas. Sustentamos a hipótese de que estas construções
se originam em mudanças que atingiram a desinência -ra, dentre elas, seu uso
para a expressão de estados de coisas [-realis], como o imperfeito do
subjuntivo e o futuro do pretérito. Através da análise de textos representativos
de diferentes estágios do português, destacamos os contextos que autorizaram
esse deslocamento funcional. Mostramos que os valores semânticos [-realis]
emergem em contextos particulares, como o da condicionalidade e de verbos
epistêmicos. Em estágios anteriores do português, a construção V-ra era mais
esquemática e de significativa produtividade, podendo a posição V ser
preenchida por uma diversidade de verbos.
Ao longo dos cinco últimos
séculos, o emprego de V-ra em contextos [-realis] declina sensivelmente,
reduzindo sua esquematicidade. As construções optativas, por sua vez, vão,
gradativamente, se restringindo ao modal poder, ao desiderativo querer e,
ainda, aos verbosdar e tomar. Nos termos de Bybee (2010), estas construções
se tornam chunks que, à força de repetição, se investem de funções
comunicativas específicas.
Referências Bibligráficas
BECKER, Martin. From temporal to modal: divergent fates of the Latin synthetic
pluperfect in Spanish and Portuguese. In: Detges, Ulrich and Richard Waltereit
(eds). The Paradox of Grammatical Change: perspectives from romance. Vi,
252, 2008, p. 147-180.
BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.Cambrigde, UK: CUP, 2010.
COAN, Márluce. Anterioridade a um ponto de referência passado: pretérito
(mais-que) perfeito. 1997. 177f. Dissertação (Mestrado em Linguística) –
Universidade Federal de Santa Catarina: Florianópolis, 1997.
MATTOSO CAMARA JR., Joaquim. Estrutura da língua portuguesa. 14. ed.
Petrópolis: Vozes, 1984.
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
MARCAS DE INTERSUBJETIVIDADE, CONSTRUÇÕES E
GRAMATICALIZAÇÃO
Vânia Cristina Casseb Galvão
Universidade Federal de Goiás (UFG/CNPq)
A noção de intersubjetividade envolve o reconhecimento de que locutor e
interlocutor contribuem efetivamente e na mesma proporção para o sucesso de
um ato de fala e deixam marcas desse empreendimento dialógico no discurso
ao se constituírem sujeitos de linguagem, base do que se conhece por
subjetividade. A interação, portanto, o uso da língua contribui para a
constituição de subsistemas linguísticos. Em consonância com Traugott e
Dasher (2002) e Traugott (2010), reconheço a intersubjetividade como um
amplo domínio, relativo à organização da interação, e, por isso mesmo, um
campo fértil para arranjos no nível semântico e reanálise no nível sintático,
envolvendo significados relativos tanto às manifestações do falante quanto do
ouvinte. Esse reconhecimento me leva a identificar e descrever os usos que
integram um provável contínuo de gramaticalização de expressões do tipo Pra
mim, que eu saiba, se não me falha a memória; mensurar seu grau de
gramaticalidade, mostrar os deslizamentos discursivo-funcionais que os usos
de uma mesma forma apresentam na transposição do léxico para a gramática
ou, numa visão mais ampla, para a o discurso (visto como uma unidade
interpessoal), e, também, descrever a funcionalidade dessas expressões no
português falado em Goiás. Os postulados da Teoria (Clássica) da
Gramaticalização (TCG) seriam suficientes para se atingir esses objetivos não
fosse por um relevante detalhe: a constituição estrutural dessas expressões.
Nos usos mais abstratos de Pra mim; Que eu saiba e Se não me falha,os
elementos estruturais aparentemente perderam suas propriedades
composicionais e, tudo indica, constituem uma unidade semântico-discursiva.
Além disso,“Pra mim”, “Que eu saiba”, “Se não me falha a memória” em sua
acepção mais conceitual funcionam, respectivamente, como dativo, predicado
encaixado e oração condicional.
A ideia é recorrer aos parâmetros clássicos para aferir a gramaticalização e
para descrever seus desencadeadores, seguindo, especialmente, os
postulados de Heine; Claudi e Hünnemeyer (1991), e recorrer às postulações
cognitivo-funcionais da Teoria das Construções (TC) para mostrar a
reconfiguração subsistêmica, o que permite, até mesmo, a ampliação da
concepção de léxico como repertório representativo das categorias da língua.
Um exemplo de trabalho dessa natureza é assinado por Braga e Paiva (no
prelo), que estudam as orações complexas de causa no tempo real afim de
mostrar a evolução dessas construções no português entre os séculos XVIII a
XX, e de relacionar essas mudanças entre si, de forma a evidenciar a
reorganização do conjunto de construções causais ao longo desse período.
Goldberg (1995, 2006) são trabalhos fundamentais para a TC, pois oferecem
postulações relevantes quanto a uma definição coerente de construção, aos
princípios cognitivos que orientam a propositura dessa perspectiva de análise e
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
aos parâmetros de análise dos valores semânticos e funcionais das
construções, além de oferecerem base epistemológica para se traçar o
contínuo de mudança que levou ao desenvolvimento de construções nas
línguas. Para Goldberg (2006), determinado padrão é uma construção na
medida em que algum de seus aspectos formais ou funcionais não seja
previsível dos seus elementos composicionais ou de construções préexistentes. Pretende-se, nesta comunicação, mais especificamente apresentar
reflexões acerca de alguns princípios da TC e sua aplicabilidade à descrição do
possível processo de gramaticalização dos usos anteriormente mencionados.
Constituem a base teórica da pesquisa, além das obras de Heine; Claudi e
Hünnemeyer (1991), Traugott (1989, 2003, 2003a), Bybee, Perkins e Pagliuca
(1994) etc, básicas para a TC; Goldberg (1995, 2006), Heine; Kuteva (2004,
2005, 2006), além de outras obras de referência na Linguística Cognitiva, como
Langacker (2008) e Croft (2001), e da teoria da (inter)subjetividade,
desenvolvida especialmente por Traugott (2010).
Referências Bibliográficas
BRAGA, M. L; PAIVA, M. C. gramaticalização e gramática de construções:
estabilidade instabilidade no uso de orações complexas de causa em tempo
real (no prelo).
BYBEE, J.; PERKINS, R.; PAGLIUCA, W.The evolution of Grammar.Tense,
aspect, and modality in the languages of the world.Chicago: The Universityof
Chicago Press, 1994.
CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological
Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001.
GOLDBERG, A. E.Constructions: a construction grammar approach to
argument structure. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.
________.Constructions at work.The nature of generalization
in
language.Oxford: Oxford University Press, 2006.
HEINE, B.; CLAUDI, U.; HÜNNEMEYER, F. Grammaticalization: a conceptual
framework. Chicago: Chicago University Press, 1991
HEINE, B; KUTEVA, T. World lexicon of grammaticalization.Cambridge:
Cambridge University Press, 2004.
_________. Language contact and grammatical change.Cambridge: Cambridge
University Press, 2005.
_________. T. The changing languages of Europe. Oxford: Oxford University
Press, 2006.
LANGACKER, R. Cognitive Grammar. A basic introduction. Oxford: Oxford
University Press, 2008.
TRAUGOTT, E. C. On the rise of epistemic meanings in English: an example of
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______. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.; JANDA, J.
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______. From subjectification to intersubjectification. In: HICKEY, R. Motives for
language change.Cambridge:Cambridge University Press, 2003, p. 124-139.
______. (Inter)subjectivivity and intersubjectification: a reassessment. In:
CUYCKENS, H.; DAVIDSE, K.; VANDELANOTTE, L. (Ed.). Subjectification,
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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_____; DASHER, Richard. Regularity in semantic change. (Cambridge Studies
in Linguistics 97). Cambridge: Cambridge University Press, 2002.
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GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO DAR: DE SENTIDO PLENO A
VERBO SUPORTE
Luana Carvalho Coelho
Vâléria Viana Souza
Jorge Ausguto A. da Silva
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)
O verbo dar, a rigor, tem sido apresentado pela tradição gramatical da língua
portuguesa como responsável por atribuir papel temático aos argumentos, visto
apenas com valor semântico básico de transferência. No entanto, observando o
seu uso na língua, em diversos contextos de fala, é possível verificar a
descentralidade do verbo dar fazendo surgir novas categorias gramaticais com
as quais este verbo se relaciona configurando-se, assim, a sua
polifuncionalidade. Conforme Salomão (1999), o verbo dar tem um sentido
básico capaz de irradiar muitos outros. A partir dessa perspectiva, tenciona-se
com esse estudo (i) refletir sobre a natureza polissêmica do verbo darno
português brasileiro àluz da teoria funcionalista a fim de investigar as
alterações sofridas por esse verbo e (ii) averiguar as características que
afastam esse item da categoria lexical e o aproximam do caráter gramatical ou,
em outras palavras, investigar as características que afastam o verbo dar do
seu sentido pleno e o aproxima de verbo suporte constituído como um
substantivo. Para análise dos dados, selecionamos cinco entrevistas extraídas
do Corpus de Português Popular da Comunidade de Vitória da Conquista
(projeto
Estudos
de
Fenômenos
Linguísticos
na
Perspectiva
Sociofuncionalista), localizamos as ocorrências que continham esse verbo e
realizamos a categorização em: verbo auxiliar, verbo predicador não pleno,
noção de transferência, de causa e em casos em que o sujeito sofre a ação em
vez de provocá-la.Para isso, historiamos suas origens e os sentidos que
acumulou desde sua base histórica de acordo com os estudos de Neves
(1997), Silva (2005) e Esteves (2008). Nesse estudo, constatamos que o
processo de gramaticalização é o responsável pela capacidade categorial
desse verbo. Além disso, percebemos a potencialidade e produtividade do
verbodarquer seja através do comportamento polissêmico, quer seja através do
seu comportamento sintático e semântico no corpus em análise.
Referências Bibliográficas
SALOMÃO, M. M. M. Polysemy. Aspect and modality in Brazilian Portuguese.
The case for a cognitive explanation of grammar. Tese de doutorado.University
of California at Berkeley, 1990.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Scher, A. P. As construções com o verbo leve "dar" e as nominalizações em ada no português do Brasil / Ana Paula Scher. - Campinas, SP : [s.n.], 2004.
SILVA, Liliane. Construções Lexicais Complexas com o verbo dar: estruturas
de significados ou instrumentos de Construção de sentidos. Estudos
Linguísticos, p. 563-568, 2005.
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GT4 - GRAMATICALIZAÇÃO E SOCIOLINGUÍSTICA
Coordenadora: Odete Menon
A PARTÍCULA LÁ E SEUS USOS NOS DIVERSOS CONTEXTOS
COMUNICATIVOS
Dalva Pereira B. de Araújo
Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
Almirene Santana
Universidade Estadual de Feira de Santana
A variação e a mudança linguísticas são processos inerentes às línguas, pois
estas são sistemas dinâmicos, heterogêneos e que funcionam de acordo com
as necessidades comunicativas dos seus usuários. O uso linguístico,
normalmente, não se restringe ao modo como as gramáticas tradicionais
descrevem a língua. Ao analisar o uso dos advérbios em determinados
contextos discursivos, percebe-se que a função dessa classe de palavras é
ampliada além do que é instituído pela Gramática Tradicional. O advérbio é
uma classe de palavras que desempenha na língua variadas funções, as quais,
normalmente, não são consideradas pela tradição gramatical. A abordagem
tradicional, encontrada nos dicionários e gramáticas, restringe a função do
advérbio sem levar em conta a heterogeneidade típica dos locativos. Já os
estudos funcionalistas, ao tratar dessa classe de palavras, fazem uma
abordagem ampla através do estudo e análise dos contextos comunicacionais
e atestam a diversidade de funções que os advérbios podem exercer,
comprovando seu caráter heterogêneo e multifacetado. Neste trabalho será
feita uma análise comparativa entre os diversos usos que a partícula lá,
tradicionalmente classificada como advérbio de lugar, apresenta nas
variedades do português brasileiro culto e rural e do português de Angola, com
o propósito de descrever as novas funções assumidas por essa partícula, a
partir do processo de gramaticalização, nos diversos contextos comunicativos e
observar se esses novos usos ocorrem nas três variedades do português em
análise. Para tanto, utilizamos os pressupostos teóricos da teoria laboviana e
dos estudos funcionalistas, com o objetivo de ampliar a perspectiva da
proposta tradicional de classificação categorial singular e passar a considerar o
advérbio, em especial a partícula lá, como um item lexical que se gramaticaliza
e que, a depender do contexto comunicacional em que ocorra, pode
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Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
desenvolver e exercer funções diferentes da sua original, tendo em vista que a
língua representa social e culturalmente o falante e a comunidade de fala à
qual ele pertence, pois carrega as marcas sociais e culturais que constituem tal
comunidade.
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O PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO DO VERBO IR
Leila Maria Tesch
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Esta pesquisa pretende descrever e interpretar as circunstâncias discursivas
em que são construídas as perífrases com ir para indicar futuro, considerando
tanto as ocorrências de ir no futuro do presente (irei estudar), como no
presente do indicativo (vou estudar). Para isso, analisaram-se essas perífrases
em corpora de língua escrita – jornal A Gazeta nas décadas 1930, 1970 e em
2008 – e de língua falada – PortVix. Para a realização deste trabalho, partimos
do quadro teórico proposto por Hopper & Traugott (1993) e Heine (1991).
Pode-se constatar o processo de gramaticalização com o verbo ir a partir do
parâmetro de frequência. Para Bybee (2003), a frequência não é resultado do
processo, mas contribui para que ocorra uma força que instiga a mudança. A
linguista apresenta dois tipos de frequência para se analisarem os processos
de gramaticalização: a) frequência de ocorrência que, como diz o próprio nome,
analisa a frequência de ocorrência de uma unidade e b) frequência de tipo, a
qual se refere a um tipo de estrutura em particular. A perífrase ir + verbo no
infinitivo é uma estrutura mais gramaticalizada, basta comparar construções
como Vou à escola amanhã e Vou estudar amanhã. Espera-se que esse
segundo tipo seja mais frequente, observando a frequência de ocorrência. A
hipótese relacionada à frequência de tipo é que esse verbo se apresenta com
tipos de verbos mais variados e para isso utilizaremos a classificação de
Halliday (1994). Ao analisar esses corpora, constataram-se usos do verbo ir
expressando futuro em diversos valores semânticos. Para explicitá-los,
exemplificam-se esses usos a partir de alguns esquemas de frases, por meio
dos traços gramaticais que apresentam, com a finalidade de expor a estrutura
dessas orações. O verbo ir apresenta, em situações reais de interação social,
diferentes funções e sentidos, caracterizados como um processo de mudança
semântica, em que de uma categoria lexical (verbo pleno) passa a ser usada
também como uma categoria gramatical (verbo auxiliar). Por isso, este estudo
segue os pressupostos da gramaticalização. A partir da análise dos dados,
pode-se constatar que quase não se encontra a forma plena do verbo ir, com o
significado de movimento, principalmente nos corpora mais recentes – A
Gazeta 2008 e PortVix. O maior número desses dados é na modalidade escrita
na década de 1930, o que comprova que o processo de gramaticalização se dá
de maneira gradativa. Ao mesmo tempo, vale ressaltar que não foi constatada
na fala capixaba a ocorrência do tipo irei/vou ir à escola, demonstrando,
aparentemente, que os falantes ainda não dissociaram totalmente a noção de
movimento do auxiliar ir, como já fizeram os falantes do inglês, ao dizer i’m
goingo to go.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Referências Bibliográficas
BYBEE, Joan. Mechanisms of change in gramaticalization: the role of
frequency. In: JOSEPH, Brian & Janda, Richards (eds). A handbook of
historical linguistics.Blackweel, 2003.
HALLIDAY, M.A.K.An Introduction to Functional Grammar.London: Edward
Arnold, 1994
HEINE, Bernd et al. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago:
University Chicago Press, 1991.
HOPPER & TRAUGOTT.Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University
Press, 1993.
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GRAMATICALIZAÇÃO, SOCIOLINGUÍSTICA E PLE
Luis Alejandro Ballesteros
Universidad Nacional de Córdoba (UNC)
Susana Caribaux
Universidade Nacional de Córdoba)
Esta comunicação apresenta conclusões de pesquisas que vimos
desenvolvendo desde 2010 até o momento atual na Universidade Nacional de
Córdoba (Argentina) sobre as propriedades sintáticas do português brasileiro
(PB) e a importância da sua inclusão na formação docente em português como
língua estrangeira (PLE) na Argentina. Nosso marco teórico está conformado
pela ecolinguística (Couto, 2009) em sua relação com a sociolinguística
(Scherre, 2005) desenvolvida no Brasil nos últimos anos e as pesquisas mais
atuais sobre o PB já apresentadas em forma de gramáticas orgânicas (Perini,
2010; Castilho, 2010; Bagno, 2012). Quanto às diferentes linhas teóricas em
torno da gramaticalização, partimos de considerar, segundo Hopper & Traugott
(1993), que há relação entre os fatores motivadores da mudança linguística e
aqueles que operam na gramaticalização. Entre esses fatores, os diferentes
tipos de contato linguístico estudados pela sociolinguística. Hopper & Traugott
(id.: 36) destacam a necessidade de marcar a diferença entre "mudança" e
"extensão da mudança". Assim, em nosso trabalho o foco é a gramaticalização
de estruturas sintáticas ou “sintatização” (Castilho op. cit.) de ampla extensão
no PB. Sabemos que há enormes conflitos terminológicos dentro do campo
teórico da gramaticalização (Sánchez Marco, 2008). Porém, com base no já
exposto, consideramos que no (PB) atual acontece a convivência (e a
concorrência) de duas formas de marcação do plural no sintagma nominal (SN)
(Perini op. cit.; Castilho op. cit.), bem como três formas de construção das
orações relativas (Perini id.; Castilho id.). Isto é, 1) no (SN) plural no PB
acontece tanto a concordância plena, quanto a marcação apenas em algun(s)
de seus itens léxicos, com forte tendência no PB para a segunda das
possibilidades (de acordo com regras estudadas v. gr. por Scherre op. cit. e por
Castilho op. cit.); 2) nas relativas ocorrem (e concorrem) três estruturas no PB:
a) a relativa tal como descrita (e prescrita) nas gramáticas tradicionais; b) a
relativa cortadora (v. gr. Perini op. cit.; Castilho op. cit.); c) a relativa copiadora
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(v. gr. Perini id.; Castilho id.).Segundo os estudos sociolinguísticos e
gramaticais do PB, as mudanças no SN e nas relativas têm mais vitalidade do
que seus correlatos descritos pela prescrição gramatical. Isto sem negar a
avaliação social de cada uso nem a avaliação social do falante de acordo com
esse uso. Nosso interesse é salientar que a nova gramática do PB está quase
ausente do ensino de (PLE) na Argentina. Enfatizamos o necessário
questionamento do modelo de língua a ensinar e os conteúdos gramaticais e
meta-gramaticais a serem incluídos nos cursos de formação docente em PLE.
Concluímos que os traços definidores do PB não podem ficar fora dessa
formação se aspiramos a propiciar um conhecimento da língua fundado no
compromisso empírico da linguística (Fiorin, 2003) e respeitoso ao mesmo
tempo de diferenças linguísticas que se correlacionam com diferenças sociais
(v. gr. Bagno, 2003; Scherre op. cit.) e, além do mais, inserido na realidade
geopolítica e linguística latino-americana.
Referências Bibliográficas
BAGNO, M. A norma oculta. Língua & poder na sociedade brasileira. São
Paulo: Parábola, 2003.
-------------. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo, Parábola:
2012.
CASTILHO, A. T. Nova gramática do português brasileiro. São Paulo, Contexto:
2010.
COUTO, H. H. Linguística, ecologia e ecolinguística. Contato de línguas. São
Paulo: Contexto, 2009.
FIORIN, J. J.. “José Luiz Fiorin”, em Xavier, C. A. & S. Cortez. 2003. Conversas
com linguistas. São Paulo: Parábola, 2009. 71-76.
HOPPER, P. & E. C. TRAUGOTT. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge
University Press, 1993.
PERINI, M. A. 2010. Gramática do português brasileiro. São Paulo: Parábola,
2010.
SÁNCHEZ, M. C.2008. “La diversidad metalingüística de la gramaticalización”,
em http://www.lllf.uam.es/clg8/actas/pdf/paperCLG106.pdf, 10-01-2014.
SCHERRE, M. M. P. Doa-se lindos filhotes de poodle. Variação linguística,
mídia e preconceito. São Paulo: Parábola, 2008.
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VARIAÇÃO E GRAMATICALIZAÇÃO NO USO DE
PREPOSIÇÕES EM CONTEXTOS DE VERBOS DE MOVIMENTO
NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Marcos Luiz Wiedemer
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-FFP)
Esta comunicação tem como objetivo apresentar, a partir dos resultados da
minha tese de doutorado (WIEDEMER, 2013), a variação e a mudança, via
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gramaticalização, envolvendo as preposições a/para/em que introduzem
complementos locativos de verbos de movimento (caminhar, chegar, entrar, ir,
levar, mudar, partir, sair, voltar). Embasam, portanto, esta investigação
postulados da Gramaticalização (HOPPER; TRAUGOTT, 1993, LEHMANN,
2002) e da Sociolinguística (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968).
Investigamos amostras do português brasileiro (PB) provenientes de duas
sincronias: amostra de fala do século XXI, proveniente do português falado na
região noroeste do estado de São Paulo (Projeto ALIP: GONÇALVES, 2007), e
amostra de escrita do século XIX, proveniente de textos escritos, com o
objetivo de mapear os aclives de mudanças por que passam as preposições
ligadas ao complemento locativo de verbos de movimento no PB. Em relação
aos resultados, no português contemporâneo, constatamos o processo de
variação estável das preposições em e para com maior abstratização de
significado, fato que explica a inserção de novos tipos de complementos e a
atuação de fatores sociais e linguísticos na seleção de uma determinada
preposição, e um processo de recuo gradativo da preposição a. Além disso,
evidenciamos que há um processo de generalização por especificação, com
indicadores de contextos particularizados para as três preposições: a
preposição a associa-se mais a locativo objeto, para, mais a espaço
geográfico, e em, mais a evento, corroborando que o funcionamento das
preposições que introduzem complemento locativo dos verbos de movimento
apresenta-se num continuum de variação/gramaticalização. A partir da análise
da amostra do PB do século XIX, evidenciamos três tipos de mudança, via
gramaticalização, em relação às preposições: (a) gramaticalização por
generalização da preposição para; (b) gramaticalização por especialização da
preposição em; (c) lexicalização da preposição a. Por fim, os resultados
ratificam que a mudança semântica envolvida na gramaticalização das
preposições é geralmente uma extensão de significado muito regular entre um
significado básico e um significado genérico e do aumento gradual da
pragmatização (inferência) e abstratização (estratégias metafóricas) no uso
dessas preposições.
Referências Bibliográficas
GONÇALVES, S. C. L. O português falado na região de São José do Rio Preto:
constituição de um banco de dados anotado para o seu estudo: relatório
científico final à FAPESP. São José do Rio Preto, Instituto de Biociências,
Letras e Ciências Exatas, UNESP, 2007.
HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge
University Press, 1993.
LEHMANN,
C.
New
reflections
on
grammaticalization
and
lexicalization.WISCHER;
I.;
DIEWALD
(Ed.).New
reflections
on
grammaticalization. Amsterdam: John Benjamins (TSL, 49), p. 1-18, 2002.
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Empirical foundations for a theory
of language change. In: LEHMANN, W. P.; MACKIED, Y. (Ed.). Directions for
historical linguistics.Austin: University of Texas Press, p. 97-195, 1968.
WIEDEMER, M. L. Variação e gramaticalização no uso de preposições em
contextos de verbos de movimento no português brasileiro. 2013. 250p. Tese
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
(Doutorado em Estudos Linguísticos) – Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas. UNESP-São José do Rio Preto, 2013.
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
AÍ, DAÍ e ENTÃO EM CAMPO GRANDE (MS) e SÃO PAULO (SP)
Marília Vieira
Universidade de São Paulo (USP)
Com base em uma amostra de 48 entrevistas, realizadas nas capitais Campo
Grande (MS) e São Paulo (SP), analisa-se o uso variável de AÍ, DAÍ e ENTÃO
como articuladores de orações. A partir dos postulados de Traugott e Heine
(1991) acerca da gramaticalização de operadores argumentativos,pressupõese que tais elementos tenham percorrido o trajeto espaço > (tempo) > texto,
alcançando, ainda, um estágio posterior, o do discurso. Desse modo, AÍ, DAÍ e
ENTÃO atuam como advérbios (“o mundão está AÍ, né?”; “a gente sente
fragilizado nisso DAÍ”; “saí do bairro e, desde ENTÃO, não fui mais na casa
dela”), como conectores e partículas anafóricas. Para Traugott e Heine (1991),
no processo dêitico-discursivo, ocorre transferência do contexto situacional
externo ou referencial para o contexto discursivo interno, resultante do
conhecimento compartilhado por falante e ouvinte. Este trabalho pretende
demonstrar, nos termos da Sociolinguística Variacionista (Labov, 2001) e de
teorias sobre gramaticalização (Givón, 1995), a intercambialidade desses itens
em cinco contextos linguísticos: 1) Sequenciação ordenativa (“eu estava no
ônibus aí/daí/então sentou um moleque... (...) do meu lado”); 2) Sequenciação
não-ordenativa (“trabalho por conta aí/daí/então quando tem o serviço eu vou e
faço, quando não tem eu fico em casa”); 3)Causa e efeito (“elefalava que eu
era de Campo Grande aí/daí/então ficava difícil as pessoas não saberem isso”);
4)Repetição de tópico discursivo (“jáfui pra Americana, mas só fui a trabalho,
que teve uma feira né? da Darling aí/daí/entãoeu peguei e fui”); e 5)Síntese
(“não sei, acho que São Paulo tem muita contradição, aí/daí/então é isso”).Nos
três primeiros contextos, AÍ, DAÍ e ENTÃO atuam como juntivos; nos últimos
dois, como marcadores discursivos. De acordo com Braga & Paiva (2003),
quando comparados aos juntivos, os marcadores discursivos são formas mais
gramaticalizadas; consequentemente, têm carga semântica enfraquecida e
apresentam menor mobilidade sintática. Desse modo, a análise qualitativa dos
dados dirige à sua organização em dois envelopes de variação, que se definem
não só pelas especificidades desses dois conjuntos, mas também pela
necessidade de discutir, teórica e metodologicamente, os limites funcionais de
AÍ, DAÍ e ENTÃO nos pontos focais (juntivo e marcador discursivo) e contextos
considerados. Atentando para a existência de correlações entre esses itens, os
contextos discursivos elencados e os fatores estruturais e sociais, as análises
quantitativas do Goldvarb X (Sankoff et al., 2005) identificarão convergências e
divergências no uso de tais elementos em Campo Grande e São Paulo.
Referências Bibliográficas
BRAGA, M. L; PAIVA, M. C. Do advérbio ao clítico é isso aí. In: RONCARATI,
C; ABRAÇADO, J. (org). Português
brasileiro
–
contato
linguístico,
heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003. p.206-212.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
GIVÓN, Talmy. Functionalism and Grammar. Amsterdam/Philadelphia: John
Benjamins, 1995.
LABOV, W. Principles of linguistic change: social factors. Oxford: Blackwell,
2001.
SANKOFF, D.; TAGLIAMONTE, S. & SMITH, E. Goldvarb X: A variable rule
application for Macintosh and Windows.Department of Linguistics, University of
Toronto, 2005.
TRAUGOTT,
Elizabeth
Closs;
HEINE,
Bernd.Approaches
to
Grammaticalization. Amsterdam: Benjamins, 1991.
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PARA: PROCESSOS DE VARIAÇÃO E DE
GRAMATICALIZAÇÃO
Odete Pereira da Silva Menon
Universidade Federal do Paraná (UFPR/ CNPq)
No português, assim como no espanhol, a preposição para, proveniente de per
ad [pe’rad] com reforço da preposição, pois ambas indicam “movimento em
direção a” (BARBOSA, 1875; MAURER, 1959) teve um percurso histórico
envolvendo tanto variação quanto gramaticalização. Da primeira redução
(perda da consoante final) pera, encontramos em documentos antigos uma
forma variante, pora (também em espanhol). A partir do final do século XVI,
começa a aparecer a forma escrita para (a alternância se observa no
manuscrito, considerado autógrafo, da história de Portugal, de Fernão de
Oliveira, existente na Biblioteca Nacional da França), ao mesmo tempo em que
se registra a forma gráfica apostrofada p’ra, como em Camões. Temos,
assim,1. processos de variação: (i) pera/pora; (ii); pera/p’ra; (iii) pera/para, (iv)
pra/pa, ao lado de 2. (i) do primeiro processo de gramaticalização, com perda
de substância fonética: per ad>pera>pra (atualmente, também pa, com perda
do [r] do ataque da sílaba, processo românico comum, conforme francês
quatre>quat [‘kat], embora mais frequente em português quando há outra
líquida, como em listra/lista, fralda/falda; registro/registo; rostro/rosto);
acompanhando somente nomes; assim como (ii) de um segundo (?), em que
essa preposição, como outras (com, por, sem), passa a funcionar como
conjunção, com verbos no infinitivo (orações reduzidas de infinitivo) e, ainda no
período arcaico, recebendo o subordinador que: pera/para que, integra-se num
paradigma já produtivo na língua (como em: por, pero, empero, pois, posto,
dado, visto, ainda, já, primeiro, uma vez, como quer + QUE) e passa a ter como
concorrente a fim de que. Tanto a variação como a gramaticalização de para
têm que ser relacionadas com outros processos coetâneos: (i) a confluência
per/por (este proveniente do latim pro e que até hoje mantém o significado
latino: “fazer algo por alguém”, i.e, em benefício de alguém; diferente de “algo
ser feito por alguém”, com significado agentivo), que perdura até o século XVII
no inicialmente composto per lo/la: pello/pollo (DIAS, 1970; MATTOSO
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
CÂMARA, 1979); (ii) a alternância vocálica mais generalizada entre e/a
(entre/antre)e e/o (fermoso/formoso); assim como (iii) a síncope da vogal da
pretônica (dreto), queda que não se restringia, aparentemente, só à das
postônicas das proparoxítonas; (iv) a produção de novas conjunções por
gramaticalização, com adjunção de que, ainda vigente (enquanto que; sendo
que); (v) processos de gramaticalização da ordem dos constituintes
(prótase/apódose). Como se vê, há um largo espectro de variação e
gramaticalização ao longo de um período estendido – do séc. XII, com
pera/pera que, ao XX ou XXI, com pa. Devemos estudar separadamente cada
um dos processos? Eles se acavalam em certos períodos: como então
delimitar onde começa a variação e onde se situa a gramaticalização nessa
sequência de mudanças? O que é mais gramaticalizado: a preposição ou a
conjunção?
Referências Bibliográficas
BARBOSA, Jeronymo Soares. Grammatica philosophica da lingua portugueza.
6. ed. Lisboa: Acad. Real das Sciencias. 1875.
DIAS, Epiphanio Silva. Syntaxe historica do portuguez. 5. ed. Lisboa: Clássica.
1970.
MATTOSO CÂMARA JR., J. História e estrutura da língua portuguesa. 3. ed.
Rio de Janeiro: Padrão. 1979.
MAURER, Theodoro H. Gramática do latim vulgar. Rio de Janeiro: Acadêmica.
1959.
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GRAMATICALIZAÇÃO E VARIAÇÃO: PERÍFRASES
TERMINATIVAS/CESSATIVAS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E
EUROPEU
Rubens Lacerda Loiola
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Esta comunicação tem como objetivo discutir alguns aspectos relativos ao
processo de gramaticalização das construções perifrásticas indicativas de
aspecto terminativo-cessativo que se enquadram no esquema [V1 acabado prep.
V2 não finito], como em acabar de + infinitivo, deixar de + infinitivo, terminar
de + infinitivo, cessar de + infinitivo, parar de + infinitivo, largar de +
infinitivo (CASTILHO, 1968; TRAVAGLIA, 2006, 2010). Mais especificamente,
queremos discutir questões ligadas à seleção das formas que figuram na
posição V2, imposta pela forma que figura na posição V1 (COELHO E VITRAL,
2011). Uma questão que pode ser colocada com relação a estas perífrases diz
respeito à intercambialidade entre as diferentes formas verbais focalizadas, ou
seja, à possibilidade de que elas ocorram no mesmo contexto e à forma como
algumas restrições ligadas a características semânticas de V2 podem explicar
o grau de gramaticalização diferenciado destas perífrases. Uma primeira
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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observação dos fatos permite constatar que nem sempre é possível a
substituição de uma das formas verbais pelas demais. Consideremos o
exemplo seguinte, extraído das Cartas do Pe. Antônio Vieira: “Eu até agora o
fiz como capelão em meus sacrifícios; e porque no ano passado, em espaço de
oito dias, perdi totalmente a vista e acabeideperder o ouvir, o farei daqui por
diante como o faço em todas as minhas orações.” (CP, Cartas, Pe Antônio
Vieira, XVII). No exemplo citado, acabei de perder apresenta aspecto pontual,
pois perder é télico e acabei apresenta uma ação decursa. Essas
características impedem a substituição de V1 acabar por cessar, terminar,
deixar, largar ou parar (*perdi totalmente a vista e cessei deperder o ouvir;
*perdi totalmente a vista e terminei deperder o ouvir; *perdi totalmente a vista
e deixei deperder o ouvir; *perdi totalmente a vista e larguei deperder o ouvir;
perdi totalmente a vista e parei deperder o ouvir),pelo menos no contexto em
questão. Na perífrase em análise, o V1 passou por transformações que o
levaram a se gramaticalizar, mas cada verbo que ocupa a posição V1 deve
estar em estágio de gramaticalização diferente. Análises posteriores irão
apresentar novos dados para confirmar ou refutar essa hipótese.
Referências Bibliográficas
CASTILHO. Ataliba Teixeira de. Introdução ao estudo do aspecto verbal na
língua portuguesa. Alfa, Marília, v.12, p.7-135, 1968.
COELHO, Sueli Maria, VITRAL, Lorenzo Teixeira. Seleção da forma nominal no
interior da perífrase verbal: resultado de uma restrição sintática da
gramaticalização de auxiliares. Rev. Let. & Let. Uberlândia-MG, v. 27 n. 1 pp.
179-200 jan./jun. 2011.
DAVIES, Mark; FERREIRA, Michael. Corpus do Português: 45 million words,
1300s-1900s. Disponível em http://www.corpusdoportugues.org, 2006.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. O aspecto verbal no português: a categoria e sua
expressão verbal. – 4ª Ed. Uberlândia: EDUFU, 2006.
_______. Uma gramaticalização em cadeia para indicação de aspectos? In.
VITRAL, Lorenzo; COELHO, Sueli (org.). Estudos de processos de
gramaticalização em português: metodologias e aplicações. Campinas, São
Paulo: Mercado de Letras, 2010.
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GT5 - GRAMATICALIZAÇÃO E ABORDAGENS FORMALISTAS
Coordenadora: Jânia Ramos (UFMG)
GRAMATICALIZAÇÃO DE ‘QUE’ EM EXCLAMATIVAS
Bruna Karla Pereira
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Este trabalho tem como objetivo investigar se ‘que’ sofre gramaticalização em
exclamativas do português não padrão, que, diferentemente de (1a), podem ser
realizadas como (1b), especialmente no dialeto mineiro.
(1)
a. Que meninas bonitas!
b.Ques menina bonita!
Em (1b), observa-se que o pronome ‘que’ recebe uma marca de flexão ‘-s’ e
precede o SN “menina bonita”. Este estabelece concordância em número, de
forma não redundante, por meio de uma variante zero de plural (SCHERRE,
1997). Por esta regra, a forma explícita de plural aparece apenas no primeiro
item da estrutura nominal, que é o determinante (D). Exatamente isso parece
acontecer com ‘ques’, em (1b), que, ao receber marca de flexão, atuaria
também como D. A partir dessas observações, podem ser feitas as seguintes
perguntas: i) Qual o estatuto categorial de ‘ques’ (C ou D)? ii) Como explicar o
aparecimento de um morfema de plural em ‘que’? iii) O fenômeno indicaria uma
mudança em processo? iv) Qual o teor desta mudança? Na tentativa de
respondê-las, pontua-se inicialmente que ‘ques’, em (1b), pronunciado como
‘quis’, é homófono ao pronome interrogativo ‘quais’, em (3b).
(2)
a. Quais meninas bonitas você conhece?
b.Quesmenina bonita você conhece?
Esta constatação nos leva a três hipóteses. Primeira: por analogia, o falante
entenderia que, se ‘quis’ (‘quais’) é a forma plural do item WH em (2b), uma
interrogativa, então a forma plural do item WH é também ‘quis’ (‘que+s’) em
(1b), uma exclamativa. Há muitas semelhanças entre interrogativa e
exclamativa: uma delas fica evidente em (3), em que a mesma estrutura
sintática apresenta força sentencial de interrogação e força ilocucional de
exclamação (ZANUTTINI & PORTNER, 2003).
(3)
Ques menina bonita é essas?
Ocorre, porém, que, além da analogia, parece se evidenciar em (1b) uma
reanálise de ‘que’ como D, para permitir a presença da flexão. Esta seria a
segundahipótese. Segundo Roberts & Roussou (2003, p. 16), a
gramaticalização envolve a criação de novo material funcional tanto pela
reanálise de material lexical quanto pela reanálise de material funcional já
existente. Este parece ser o caso de (1b), pois estão sendo licenciadas
propriedades de duas categoriasfuncionais: C e D. Além disso, segundo Vitral
&Ramos (2006, p. 157), o processo de gramaticalização ocorre não apenas
pela criação de uma categoria funcional, mas também pela mudança de
estatuto de XP para X. Surge então a terceira hipótese: tanto em (1a) quanto
em (1b), a exclamativa nominal, que é um DP, ocupa a posição Spec,CP.
Contudo, internamente, em (1a), ‘que’ seria um XP em Spec,DP [ DPSpecQue
[Dø [NPcoisas interessantes]]], e em (1b), ‘quis’ seria o núcleo de DP [ DP [Dquis
[NPcoisa interessante]]]. Trata-se, portanto, de hipóteses, aindaincipientes,
lançadas comoumprimeiropassoparaque se possa empreender uma
investigaçãosobre o fenômeno.
Referências Bibliográficas
ROBERTS, I; ROUSSOU, A. Syntactic change: a minimalist approach to
grammaticalization. Cambridge: C.U.P., 2003.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
SCHERRE, M. Concordância nominal e funcionalismo. In: ALFA, v.41, n. esp.,
p.181-206, São Paulo, 1997.
VITRAL, L.; RAMOS, J. Gramaticalização: uma abordagem formal. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro; BeloHorizonte: FaLe/UFMG,2006.
ZANUTTINI, R.; PORTER, P. Exclamative clauses: at the syntax-semantics
interface. In: Language, v.79, n.1, p.39-81, March, 2003.
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PODEM CONSTRUÇÕES DE BAIXA FREQUÊNCIA SE
GRAMATICALIZAR? UM ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES
SEGUNDO E CONFORME NO PORTUGUÊS ARCAICO
Cassiano dos Santos
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Dentre os processos que se inserem na mudança linguística, o processo de
gramaticalização recebe papel de destaque. Denomina-se gramaticalização o
processo de acordo com o qual uma construção (ou partes dela) é utilizada
com uma função gramatical, ou uma construção já gramatical é empregada
com função ainda mais gramatical (Traugott, 2009). Costuma-se admitir que,
para haver gramaticalização, a construção apresentealta frequência de
ocorrência. Esta alta frequência funcionaria como uma espécie de “gatilho”
para que os fenômenos associados ao processo ocorressem: habituação,
automatização, redução de formas e emancipação, Bybee (2003). Por
exemplo, porque uma construção apresenta alta ocorrência textual, ela poderá
apresentar redução fonético-fonológica, isto é, sobreposição de seus gestos
articulatórios. Esta sobreposição, por sua vez, levará ao desbotamento
semântico, pois com a perda de partes da construção, haveria uma gradativa
desassociação do significado das partes com o significado do todo, que por sua
vez levaria a outros processos, configurando-se um caso de gramaticalização.
Entretanto, uma proposta alternativa advoga que a alta frequência textual não é
essencial para haver gramaticalização (em Swahili, por exemplo, nenhum dos
15 itens mais frequentes serviu como fonte de gramaticalização, além disso,
itens de alta frequência podem ser “resistentes” ao processo, (Hoffmann 2005:
147)). Hoffmann (2005) demonstra que itens de baixa de frequência podem
também se gramaticalizar, como é o caso das preposições complexas do
inglês. Assim, confrontando estas duas propostas, discutirei o papel da
frequência na gramaticalizaçãodas construções segundo e conforme tomando
como base corpora de português arcaico. Mostrarei o padrão construcional
delas e distribuição ao longo dos séculos. Discutirei também a relação destas
construções com o gênero textual. Provo que apesar de sua baixa frequência,
estas construções também passam por um processo de gramaticalização.
Referências Bibliográficas
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticalization: the role of frequency.
In: Joseph, B. & Janda, R. (edts). A handbook of historical linguistics.Blackwell,
2003.
HOFFMANN, S. Grammaticalization and English complex prepositions: a
corpus based study. London: Routledge, 2005.
TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization and construction grammar. In:
CASTILHO, A. (org) p. 91 -102, 2009:
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CONSTRUÇÕES CAUSATIVAS DO PORTUGUES BRASILEIRO:
GRAMATICALIZAÇÃO E REANÁLISE
Dalmo Vinícius Coelho Borges e Heloísa Salles
Universidade de Brasília (UnB)
Este trabalho investiga o fenômeno da perda das propriedades da preposição
'a' no licenciamento do causado em construções causativas do Português
Brasileiro (PB), tendo em vista a hipótese de Torres Morais & Salles (2010)
para a mudança linguística na codificação do objeto indireto no PB. Dessa
perda, resulta o desaparecimento de (1), mas não de (2), na qual o causado é
foneticamente nulo e tem interpretação arbitrária (Borges, 2008):
(1) Maria fez lavar o carro ao João.
(2) Maria fez lavar o carro.
Enquanto o licenciamento pela preposição ‘a’ é associado a estruturas com
verbo encaixado transitivo, com predicados encaixados intransitivos, o causado
é licenciado pelo núcleo funcional ‘v’ na projeção do verbo causativo, ocorrendo
posteriormente ao verbo encaixado (cf. 3).
(3) Maria fez dormir acriança.
Supõe-se que em (1) e (3) ocorre movimento de V encaixado para um núcleo
funcional ASP na projeção estendida do VP (Wurmbrand, 2001), o que exclui a
posição canônica de sujeito, possibilitando a reestruturação dos predicados.
Nessa configuração, a pronominalização do causado é feita por meio de um
núcleo funcional na estrutura do predicado causativo, seja pelo clítico dativo,
seja pelo clítico acusativo, conforme (4a) e (4b).
(4a) Maria [XP lhe [fez lavar o carro]].
(4b) Maria [XP a [fez dormir]].
Diante da perda do sistema de licenciamento do causado em (1), (3) e (4), o
PB aciona a estratégia ECM (cf. Borges (2008), entre outros). Essa estratégia
está vinculada a uma configuração em que a preposição ‘a’ e a reestruturação
dos predicados não são acionadas, sendo o causado situado na posição de
sujeito – provavelmente em specTP. Nessa configuração, a pronominalização é
feita por meio do pronome forte (ele(s) / ela(s)), o qual é licenciado pelo núcleo
‘v’ na projeção do predicado causativo (5).
(5a) Maria fez... [TP o João [lavar o carro]].
(5b) Maria fez... [TP ele [lavar o carro]].
A gramaticalização seria o processo pelo qual a categoria ‘a’ perde as
propriedades de licenciadora do DP, sendo acionado uniformemente o núcleo
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funcional ‘v’ na projeção do verbo causativo, a que se associa a perda do
processo de reestruturação. Esse processo pode ser discutido na perspectiva
da mudança sintática, de acordo com Roberts & Roussou (2003, p. 35), em que
a “gramaticalização envolve a reanálise do conteúdo de uma categoria
funcional”. Na presente análise, a gramaticalização consiste em ativar o núcleo
funcional ‘v’, mediante a presença de um traço formal não-interpretável de
Caso no domínio de busca dessa categoria – em particular a posição de
specTP do predicado encaixado (indisponível na configuração de
reestruturação).
Referências Bibliográficas
BORGES, D. Construções Causativas no Português do Centro-Oeste nos
Séculos XVIII-XIX e no Português Atual. Brasília: UnB. Dissertação (Mestrado),
2008.
ROBERTS, I. & ROUSSOU, A. Syntactic Change: A Minimalist Approach to
Grammaticalization. Cambridge University Press, 2003.
TORRES-MORAIS, M. A.; SALLES, H. Parametric change in the grammatical
encoding of indirect objects in Brazilian Portuguese.Probus 22, p.181-209,
2010.
WURMBRAND, S. Infinitives: Restructuring and Clause Structure. Berlin:
Mouton de Gruyter, 2001.
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PREPOSITIONS AS COMPLEMENTIZERS AND MODAL
MARKERS IN BRAZILIAN PORTUGUESE
Daniel Machado e Heloísa Salles
Universidade de Brasília (UnB)
This paper discusses the grammaticalization of prepositions introducing
infinitival clauses in Brazilian Portuguese (BP). Assuming that the C projection
bears features of modality and finitness, as proposed whithin the CP exploded
model (cf. RIZZI 1997; ROUSSOU 2000), we argue that prepositions
introducing infinitival clauses in Brazilian Portuguese carry irrealis properties,
further encoding obviation effects as well as lexical properties (cf. SALLES
2010). The irrealis feature that prepositional complementizers in BP bear can be
attested when the finite counterpart of the infinitival clause may appear in a
subjunctive form (see 1a-b). This is observed in infinitival clauses licensed by
the preposition ‘para’ and a similar behavior is found with the prepositions ‘de’,
‘em’ and ‘com’ (which can be variants in this context, pointing to the
neutralization of their lexical features) (see 2) (cf. MACHADO 2013). Besides,
the preposition ‘para’ in BP carries the property of licensing the obviation effect,
depending of the matrix verb (see 3). Another related fact is that it is possible to
find grammatical examples in which the preposition varies with a null form (see
4). Moreover this phenomenon is found not only with complement (infinitival)
clauses but also with subject clauses (see 5), and the so-called ergative
adjectives with the copula verb to be (see 6) (cf. Cinque 1990). Accordingly the
preposition may be grammaticalized as a licenser not only of complement
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Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
clauses but also of subject clauses. Given this pattern, it is possible to say that
the preposition in fact is marking the reanalysis of the subject infinitival clause
as a complement clause (see 7), as in the presence of the preposition, the
embedded clause cannot be found in the first position. We take this restriction
to interact with the SVO word order pattern of BP.
(1a) Eu pedi a Maria para sair daqui (=Eu pedi a Maria que saísse daqui)
(1b) Eu sugeri dela fazer o bolo (=Eu sugeri que ela fizesse o bolo)
(2) Estou surpreso de/em/?com (Daniel) estar aqui
(3) Eu disse a Maria para lavar o carro.
(4) Eu defendi (d)o voto ser aberto.
(5) Urge (d)ele aparecer aqui hoje.
(6) É audácia demais (d)ela vir aqui hoje.
(7) (*D)ela vir aqui hoje é audácia demais.
Referências Bibliográficas
CINQUE, G. Ergative Adjectives and the Lexicalist Hypothesis. In: Natural
Language and Linguistic Theory, 8: 1 (1990).
MACHADO, D. Preposições introdutoras de orações infinitivas. Dissertação de
Mestrado, Universidade de Brasília, 2013.
RIZZI, L. The fine structure of the left periphery. In Haegeman, L. Elements of
Grammar: Handbook of Generative Syntax. Dordrecht: Kluwer, p. 281-337
ROUSSOU, A. On the left periphery: modal particles and complementizers.
Journal of Greek Linguistics. 1, 65-94.
SALLES, H. M. L. Para/For-infinitives in Brazilian Portuguese and English:
similarities and contrasts in the grammatical encoding of modality. In:
Tsangalidis, A. & R. Facchineti (orgs.). Studies on English Modality: in honour
of Frank Palmer. Peter Lang, Bern, 2009, pp. 157-180, 2009.
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GRAMATICALIZAÇÃO E MUDANÇA DE ORDEM NAS
PERGUNTAS-Q
Mary Kato
Universidade Estadual de Campinas(Unicamp)
Kato e Ribeiro (2007) e Kato (2006, 2009) distinguem dois processos de
mudança nas estruturas de focalização no Português Brasileiro (PB), a partir do
Português Antigo (PA) e do Português Europeu (PE):
 Mudança de ordem:
(1) a. Maravilhosas son estas cousas que contas, padre.(PA) (PE)
b.São maravilhosas estas coisas que o senhor conta, padre (PB)
 Gramaticalização:
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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(2) a.Foi [o Pedro] que a Maria viu.
b.É [o Pedro] que a Maria viu.
c.[O Pedro]que a Maria viu.
(PE)
(PB)
(PB)
No presente estudo, vamos propor, usando perguntas-Q, assumidas como um
tipo de estruturas de focalização, que a mudança de ordem também envolve
gramaticalização. Lopes-Rossi (1996) e KatoDuarte (2002) mostraram que até
o século XIX a ordem QVS era a norma nas perguntas-Q do PB, passando a
existir apenas com verbos inacusativos e a cópula no século XX.
(3)
(4)
a. Mas que tenho eu a temer? (1845)
b.Mas o que tens tu?
(1882)
a. Onde você andou?
(1995)
b.Do que tu tá falando?
(1992)
c.Como nasceu esta paixão?
(XX)
d. E onde está o resto?
(XX)
Ao mesmo tempo, as formas em (3) começam a ter a competição das
estruturas clivadas com é que, com a ordem preferencial SV, com exceção dos
verbos inacusativos.
(5)
a. O que é que eu represento? (XIX)
b.Quando é que acaba Antônio Alves taxista? (XX)
A proposta a ser apresentada: a) a entrada de estruturas clivadas reduz a
ocorrência de verbos temáticos na raíz a um só verbo, a cópula, um verbo de
caráter funcional; b) a partir das clivadas, a cópula entra em processo de
gramaticalização , primeiro tornando-se invariável em tempo, pessoa número,
em seguida favorecendo o apagamento em forma fonética, e finalmente
permitindo apagar o complementizador via a regra estilística da “haplologia.” A
primeira mudança, que foi isolada como mudança de ordem e não de
gramaticalização pode ser considerada como um processo de gramaticalização
pelo fato da ordem envolver apenas uma categoría funcional: a cópula.
Referências Bibliográficas
KATO, M. A. 2006. Focus structures and VS order in Brazilian Portuguese.
Revista do GELNE, 8: n. 1/2:7-16.
KATO, M. A. 2009. Mudança de ordem e gramaticalização na evolução das
estruturas de foco no Português Brasileiro. In: Revista do GEL.Vol. 38,1. 375385.
KATO, M. A.; DUARTE, M. E. 2002. A diachronic analysis of Brazilian
Portuguese wh-questions. In: Santa Barbara Portuguese Studies, vol. VI.326339.
KATO, M. A.; RIBEIRO, I. 2009. Cleft sentences from old Portuguese to Modern
Brazilian Portuguese. In: A. Dufter & D.Jacob (eds). Focus and Background in
Romance Languages.
123-154. Amstrdam : John Benjamins.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
ROSSI, M. A. 1996. A Sintaxe Diacrônica das Interrogativas-Q do Português.
UNICAMP: PhD Dissertation.
ASPECTOS SINTÁTICOS DO MODO IMPERATIVO NO
PORTUGUÊS BRASILEIRO
Moacir Natércio Ferreira Júnior
Universidade de Brasília (UnB)
Este trabalho investiga características sintáticas do modo imperativo no
português brasileiro (PB). O interesse na investigação do modo imperativo no
PB se dá em razão das diferenças sintáticas apresentadas no contraste com a
configuração de sentenças imperativas no português europeu (PE). A tradição
gramatical classifica o PE como língua de imperativo verdadeiro, por possuir
morfologia própria ao modo imperativo, a qual apresenta particularidades
sintáticas que determinam a presença dessa forma verbal. Uma dessas
particularidades diz respeito à impossibilidade de se realizar a negação, sendo
utilizada nesse caso a forma 'supletiva', advinda do subjuntivo (Entra! (2p)/
Entre! (3p/ gramatical); *Não entra!/ Não entres (2p)/ Não entre! (3p/
gramatical)). Essa restrição é analisada em estudos prévios (cf. Rivero 1994).
Pretende-se analisar a sintaxe das orações imperativas no português brasileiro
(PB), tendo em vista as características observadas em relação à sintaxe da
negação, uma vez que o PB não apresenta restrições quanto à realização das
formas do imperativo, as quais ocorrem em três configurações com a negação
(Não faz/faça isso; Não faz/faça isso não; Faz/Faça isso não). A hipótese a ser
testada é a de que o modo imperativo no PB, sendo realizado por formas do
indicativo e do subjuntivo sem restrição no que se refere à polaridade da
sentença, não possui o chamado imperativo verdadeiro, fazendo uso de um
paradigma supletivo, como proposto em Scherre etet al. (2007). Assumindo-se
que o desenvolvimento do paradigma supletivo associado ao indicativo (em
variação com as formas associadas ao subjuntivo) relaciona-se à reanálise do
sistema pronominal e ao sincretismo morfológico decorrente dessa reanálise,
propõe-se que as sentenças imperativas no PB ocorrem em uma configuração
em que o núcleo C é marcado para o traço optativo (característico da
subordinação), a qual se manifesta em virtude da neutralização da oposição
indicativo vssubjuntivo no sistema verbal. A configuração marcada para o traço
optativo, diferentemente da configuração com o imperativo verdadeiro, no PE, é
compatível com as formas do subjuntivo, que não restringe a ocorrência de
marcadores negativos, e também com as formas do indicativo, que, sendo
sincrética com as formas do subjuntivo, manifesta propriedades idênticas em
relação ao licenciamento da negação.
Referências Bibliográficas
RIVERO, M. (1994). Negation, imperatives and Wackernagel effects. In: Rivista
di Linguistica. n.6. p. 39–66.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
SCHERRE, M; CARDOSO, D. B. B. ; LUNGUINHO, M. V.; SALLES, H. M. M. L.
A. (2007) Reflexões sobre o Imperativo em Português. In: DELTA.
Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, v. 23, p. 193241, 2007. 88
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GRADUALISMO DO PROCESSO DE GRAMATICALIZAÇÃO E
PRINCÍPIO DA PERSISTÊNCIA: INDÍCIOS DE UMA
HIERARQUIA DE TRAÇOS?
Sueli Maria Coelho
Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG)
O entendimento de que a mudança categorial resultante da gramaticalização
de itens/construções envolve perda de traços é tão consensual entre os vários
estudiosos do tema que algumas definições do fenômeno apoiam-se nesse
princípio, conforme esta, proposta por Clements (2012): “gramaticalização =
estágio A (item com + traços) > estágio B (item com – traços).” Tal perda de
traços manifesta-se não apenas no plano semântico, em decorrência do
processo metafórico de abstração da forma que se desliza do léxico para a
gramática ou de um estágio menos gramatical para um mais gramatical, como
também no plano da gramática, quando ocorre, segundo prevê o princípio da
descategorização proposto por Hopper (1991), perda de propriedades
gramaticais da forma-fonte relacionada à sua categoria lexical. Entretanto, a
despeito da comprovada perda de traços da forma-fonte ao longo de seu
percurso de mudança categorial, estudos mais recentes (cf. LOPES e RUMEU,
2007; LOPES, 2010) têm demonstrado que, além dos traços semânticos,
alguns traços gramaticais também são mantidos no continuum linguístico da
forma, podendo ser recuperados a partir de uma perspectiva diacrônica de
estudo da mudança. Esse fato motivou-nos a empreender uma reflexão teórica,
visando a comprovar a tese de que os traços definidores das categorias
gramaticais são marcados hierarquicamente no sistema linguístico. Tal
hierarquia, segundo estamos propondo, decorre de um gradualismo na
marcação do traço, isto é, estamos assumindo que alguns traços são mais
fortemente marcados, o que explicaria a persistência de uns e o
desaparecimento de outros ao longo do processo de mudança.
Metodologicamente, partimos da análise diacrônica de um conjunto de
fenômenos de gramaticalização nos quais se atestam resquícios de traços
morfológicos, sintáticos e funcionais mesmo em estágios bastante avançados
do processo. Constitui, pois, objetivo de nossa exposição apresentar
evidências em favor da conjetura da hierarquia de traços, bem como traçar o
continuum gradual dessa hierarquia, em dois níveis, sendo um deles macro,
tomando por parâmetro o estrato em que a mudança categorial se processa, e
o outro micro, analisando-se os traços em cada estrato.
Referências Bibliográficas
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
CLEMENTS, J. C. Congresso Internacional de Linguística Histórica, II, 2012,
São Paulo. The development of key features in the Romance-Languages
Sprachraum: an evolutionary approach. [Minicurso]. São Paulo: Universidade
de São Paulo, 2012.
HOPPER, P. J. On some principles of grammaticalization. In.: TRAUGOTT, E.
C.; HEINE, B. (orgs.) Approaches to grammaticalization.vol. 1.Filadélfia: John
Benjamins, 1991.
LOPES, C. R. dos S. A persistência e a decategorização nos processos de
gramaticalização. In: VITRAL, L.; COELHO, S. M. (orgs.) Estudos de processos
de gramaticalização em português: metodologias e aplicações. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2010, p. 275-314.
LOPES, C. R. dos S.; RUMEU, M. C. de B. O quadro de pronomes pessoais do
português: as mudanças na especificação dos traços intrínsecos. In: Descrição,
história e aquisição do português brasileiro. 1. ed. São Paulo/Campinas:
FAPESP/Pontes Editores, 2007, v. 1, p. 419-436.
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GT6 - GRAMATICALIZAÇÃO E MODELOS BASEADOS NO USO
Coordenador: Sebastião Carlos Gonçalves (UNESP- São José do Rio
Preto)
CHUNKING, CONSTRUCTIONS E CONSTRUCTIONALIZATION:
FENÔMENOS EQUIVALENTES EM GRAMATICALIZAÇÃO? UMA
ANÁLISE CONCEITUAL E O CASO SENDO QUE
André Rauber
Universidade Federal do Mato Grosso ( UFMT )
Esta comunicação objetiva expor e analisar três conceitos relacionados à
organização e à mudança linguística sob o escopo da relação forma-função em
gramaticalização, com enfoque funcionalista. São eles: o conceito de chuking,
discutido por Bybee (2010), de constructions (construções), segundo a
proposta de Golberg (1995, 2006), e a perspectiva denominada
constructionalization (construcionalização), de Trousdale (2008). A metodologia
deste estudo divide-se em dois pontos principais: a análise de conceitos e a
investigação empírica com base em corpus escrito da língua em uso. Nesse
sentido, primeiramente, são citadas e comentadas as definições dos
respectivos linguistas acerca dos conceitos que propõem. Em seguida, tais
descrições são cotejadas a fim de constatar convergências e/ou divergências
entre elas. Finalmente, essas definições serão correlacionadas aos usos da
locução sendo que em dados do português brasileiro, organizado em
sincronias do século XVI ao XX. Os resultados pretendem evidenciar se (e
como) chunking, constructions e construcionalization são fenômenos
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
articuláveis num processo de mudança linguística no qual a gramaticalização é
o domínio alvo.
Referências Biliográficas
BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.United Kingdom: Cambridge
University Press, 2010.
GOLDBERG, Adele E. Constructions: A construction grammar approach to
argument structure. Chicago: Chicago University Press, 1995.
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Oxford University Press, 2006.
TROUSDALE, Graeme. Constructions in grammaticalization and lexicalization:
evidence from the history of a composite predicate construction in English. In:
TROUSDALE, Graeme; GISBORNE, Nikolas (eds.). Constructional approaches
toenglishgrammar. Berlin: Mouton de Gruyter, 2008. p.33-67.
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THE GRAMMATICALIZATION OF THE SPANISH MODAL
PERIPHRASIS TENER QUE + INFINITIVE: A FUNCTIONAL
DISCOURSE GRAMMAR VIEW
Hella Olbertz
Universidade de Amsterdam
The proposed paper discusses diachronic and synchronic aspects of the
grammaticalization of the periphrastic expression of modal necessity tener que
+ infinitive in Peninsular Spanish. Consider the following examples, in which the
construction expresses internal (1), circumstantial (2)-(3), and deontic (4)-(5)
necessities:
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
claro
que
yotengo
que
comer
también
(AdH
S16)
‘of course (even) I have to eat, too’
ya te digo/ no hetenido que/ trasladarme mucho/ muylejosni nada (AdH
S05)
‘as I toldyou/ I didn’thavetotravel a lot/ farawayoranythingthelike’
[aboutanold
piano]
porque claro es que era de madera/ y conloscambios de tiempo conelverano se
contrae// y cuando llegaelotoñotienes que volverlo a afinar (AdH S18)
‘because of course it was from wood/ and duetothe change of the weather in
the summer it contracts// and when the autumn comes you have to tune it
again’
tienes
que
llamarme
de
tú
(AdH
S16)
‘youhavetosaytúto me’
tiene
que
haberununa
moral
familiar
(AdH
S16)
‘thereshouldbe a- a moral norm in thefamilies’
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
When taking a closer look at these examples, we find thatonly (1), (2) and (4)
are directed to a person. Example (5) clearly concerns a state of affairs, and in
(3), although seem ingly directed towards the addressee, the 2nd person
singular is non-referential, i.e. (3) concerns a state of affairs as well. These
examples show that there is reason to distinguish between participant-oriented
and event-oriented modalities as done, amongstothers, in FunctionalDiscourse
Grammar (FDG) as described by Hengeveld& Mackenzie (2008). Example (6)
illustrates a further modal distinctionmade in FDG, i.e. subjective epistemic
modality, which concerns the speaker’s beliefs concerning the truthof a propositional contentand is there foreclassified as proposition-oriented.
(6)
[on the necessity of young adults tostay withtheir parents]
– hay gente casicontreintaaños que no se van nunca ¿no?
–
horrible
[...]
tiene
que
ser
horrible
(AdH
M28)
‘–
there
are
peopleofalmost
30
yearswhoneverleave,
right?
– horrible [...] that must behorrible’
The diachronic development of tener que + inf will be shown to pass through
the followingstages (from lefttoright, where “<” meansincreasing scope):
lexical<participant-oriented<event-oriented<proposition oriented
This grammaticalization path oftener que + infcorresponds to the predictions on
grammaticalization made in Hengeveld (2013).
References
HENGEVELD, Kees. 2013. “A hierchical approach to grammaticalization”.
Paper read at the Workshop on the Grammaticalization Tense, Aspect, Mood
and Modality. University of Amsterdam, 18-19 October.
HENGEVELD, Kees & MACKENZIE, J. Lachlan. 2008. Functional Discourse
Grammar. A typologically-based theory of language structure. Oxford: OUP.
MORENO FERNÁNDEZ, Francisco et al. 2002-2007. La lengua hablada en
Alcalá de Henares. Alcalá de Henares: Universidad de Alcalá. [AdH]
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CONSTRUÇÕES COM VERBO SUPORTE: PERCEPÇÃO E USO
NO BRASIL
Márcia Machado Vieira
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Esta proposta de trabalho fundamenta-se em resultados de estudos sobre
construções com verbo suporte desenvolvidos no âmbito do Projeto
PREDICAR – Formação e expressão de predicados complexos (MACHADO
VIEIRA, 2001; ALVES, 2011; ESTEVES, 2012). Objetiva tratar da descrição de
predicadores complexos sob orientações mais recentes da perspectiva teórica
da Linguística Funcional-Cognitiva que se volta para a gramática das
construções (GOLDBERG, 1995 e 2006; BRINTON & TRAUGOTT, 2005;
TRAUGOTT & TROUSDALE, 2013). E pretende fazê-lo com base em
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
informações obtidas segundo metodologia de constituição e análise de corpora
a partir da coleta de dados do comportamento observável em textos orais e
escritos brasileiros e segundo metodologia de registro e exame de atitudes
linguísticas (FASOLD, 1987). Tratará de aspectos relativos aos processos de
gramaticalização e lexicalização a que se sujeitam tais construções e de seus
padrões de formação e funcionamento detectados a partir da pesquisa de usos
e percepções no Brasil.
Referências Bibliográficas
ALVES, Olívia M. de M. Estudo sociofuncionalista da alternância entre
predicadores pronominais simples e predicadores complexos. UFRJ,
Faculdade de Letras, 2011. Dissertação de Mestrado.
BRINTON, Laurel. J. & TRAUGOTT, Elizabeth C. Lexicalization and language
change. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.
ESTEVES, Giselle A. T. A lexicalização de expressões DAR/FAZER + SN: fiz
sacrifício, dei conta. UFRJ, Faculdade de Letras, 2012.
FASOLD, Ralph. The Sociolinguistics of Society.vol. I. New York, USA: B.
Blackwell, 1987. p.147-179.
GOLDBERG, Adele A. 1995. Constructions: A Construction Grammar Approach
to Argument Structure. Chicago: University of Chicago Press, 1995.
Constructions at work.The nature of generalization in language. New York:
Oxford University Press, 2006.
MACHADO VIEIRA, Marcia dos S. Sintaxe e semântica de predicações com
verbo fazer. UFRJ, Faculdade de Letras, 2001. Tese de Doutorado.
TRAUGOTT, Elizabeth Closs. & TROUSDALE, Graeme. Constructionalization
and Construction changes. UK, Great Britain: Oxford University Press, 2013
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DE REPENTE: RUMO À GRAMATICALIZAÇÃO?
Sirley Ribeiro Siqueira
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Com o intuito de firmar uma interlocução com os participantes do GT 6
“Gramaticalização e modelos baseados no uso”, buscamos apresentar os
resultados de nossa pesquisa acerca da expressão de repente com base nos
pressupostos da Linguística Funcional (Traugott, 2008; Bybee, 2011; Harder &
Boye, 2011.) rastreando, mediante uma investigação de natureza pancrônica,
os condicionamentos envolvidos no processo de mudança por gramaticalização
de nosso objeto de estudo. Nossa hipótese central é que de repente seja uma
expressão polissêmica, em processo de gramaticalização motivado por
mecanismos como reanálise (ligada à subjetivação, com atenção a fatores
contextuais envolvidos na interpretação da expressão), analogia (relacionada
ao processo de metaforização) e aumento na frequência (token e type). Dentre
tais mecanismos, contudo, notamos a relevância do papel da reanálise, uma
vez que o falante, ao enunciar seu ponto de vista sobre determinado assunto,
recruta de repente como modalizador epistêmico de possibilidade e o ouvinte
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
se dá conta deste fato com base em pistas do entorno da expressão. Alguns de
nossos objetivos visam a demonstrar que: (i) em todas as sincronias
estudadas, de repente é utilizado como circunstanciador; (ii) o processo de
gramaticalização de de repente envolve mudança semântica relacionada à
subjetivação, no que se refere ao seu emprego como modalizador epistêmico
de possibilidade, detectado em dados referentes ao século XX; (iii) há
evidências de que a mudança segue em direção à intersubjetivação, no que diz
respeito ao seu uso mais recente como marcador discursivo. Os dados
históricos (séculos XVI ao XIX) são provenientes do site Corpus do Português
(http://www.corpusdoportugues.org). Os dados referentes aos séculos XX e XXI
foram extraídos do acervo do projeto do grupo de estudos Peul, denominado
Amostra Censo, hospedado no site www.letras.ufrj.peul/amostras e de
entrevistas
do
programa
Jô
Soares,
disponíveis
em
http://globotv.globo.com/rede-globo/programa-do-jo/t/videos, respectivamente.
Os dados demonstram que a expressão evidencia um caráter polissêmico,
justificado pelas macrofunções arroladas: circunstanciador, modalizador
epistêmico de possibilidade e marcador discursivo. O primeiro dos usos,
configura-se como forma não-marcada, mais recorrente nos dados, ligado a
sequências narrativas; as duas últimas acepções, mais abstratizadas,
aparecem, com mais prioridade, em sequências argumentativas. Acreditamos
que este estudo possa contribuir com as discussões realizadas durante o
workshop, uma vez que privilegia a visão de língua moldada a partir de usos
efetivos na sociedade.
Referências Bibliográficas
BYBEE, J. Usage-based theory and grammaticalization. In: NARROG, H. and
HEINE, B. (eds). The Oxford handbook of grammaticalization.Oxford: Oxford
University Press, 2011.
HARDER, P.; BOYE, K. Grammaticalization and functional linguistics. In:
NARROG, H. and HEINE, B. (eds). The Oxford handbook of
grammaticalization.Oxford: Oxford University Press, 2011.
TRAUGOTT. E.C. Grammaticalization, constructions and the incremental
development of language: Suggestions from the development of Degree
Modifiers in English. In: Regine Eckardt, Gerhard Jagerand Tonyes Veenstra
(eds.) Variation, Selection, Development-probing the evolutionary Model of
Language Change. Berlim/ New York: Mounton de Gruyter, 2008. p.219-250.
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GRAMATICALIZAÇÃO DE ORAÇÕES ENCAIXADAS
SUBJETIVAS: PERSPECTIVA CONSTRUCIONISTA
Marcela Zambolim de Moura
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Patrícia A. da C. Lacerda
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Este trabalho é parte da pesquisa de doutorado em andamento inserido na
perspectiva da Gramaticalização das Construções. Tenciona-se analisar as
orações encaixadas subjetivas a partir do processo da gramaticalização de
construções e responder lacunas do trabalho de mestrado de Moura (2009).
Moura (2009) analisa a ligação entre orações matrizes do tipo [verbo ser +
predicativo] e suas encaixadas subjetivas na escrita mineira a partir do uso do
Português contemporâneo em uma análise sincrônica. Os dados mostraram
que algumas encaixadas subjetivas estão a caminho de uma independência
sintática, visto que suas matrizes estão funcionando como quase-satélites.
Propôs-se uma escala semântica que hierarquiza os usos das matrizes em
relação ao grau de encaixamento: modalidade deôntica> avaliação >
modalidade epistêmica. O cline, da esquerda para direita, apresenta orações
menos encaixadas a mais encaixadas. Privilegiaram-se aspectos sintáticos e
semânticos. Esse trabalho permite desdobramentos à luz da Gramaticalização
das Construções, uma vez que se verificou que toda a construção matricial
juntamente à realização da encaixada favorece estágios iniciais de mudança. A
noção construcionista permeia o trabalho de Moura (2009) de forma
assistemática. Pretende-se no doutorado pesquisar a possível abstratização
que leva as encaixadas subjetivas a apresentarem, sincronicamente,
desvinculação sintático-semântica e esquematizar o encaixamento das
subjetivas em micro, meso e macro-construções, pautando-se nas crenças de
que a gramaticalização atua em todos os níveis da gramática e de que existe
um pareamento entre forma/sentido das unidades linguísticas. A análise
diacrônica permitirá averiguar o cline através do tempo e instanciar quando os
sentidos subjetivos/mais subjetivos passaram a concorrer no mesmo domínio
funcional dos menos subjetivos. Os dados coletados pertencem aos corpora do
século XIII ao XXI. Contemplam as modalidades escrita e oral da língua
portuguesa no uso. Nos termos de Traugott (2009), a abordagem
construcionista da gramaticalização apresenta três contribuições para esta
pesquisa: alinhamento entre padrões de uso e gramaticais, estabelecimento de
redes construcionais e redefinição do papel da frequência de uso na
gramaticalização. Esta pesquisa tem perspectiva quantitativa e qualitativa, para
responder: (i) a partir da análise diacrônica, as características morfossintáticas
e funcionais seriam as mesmas encontradas na análise sincrônica das orações
encaixadas subjetivas?; (ii) existe um alinhamento forma/sentido, a partir da
observação diacrônica, que comprove a desvinculação sintático-semântica
encontrada em dados sincrônicos?;(iii) quais construções são similares e quais
inovam a esquematicidade das encaixadas subjetivas?; (iv) existe uma rede
construcional para as encaixadas subjetivas no português brasileiro?
Referências Bibliográficas
NOËL, D. Diachronic construction grammar and gramaticalization theory. In:
Functions of language. John Benjamins, 2007.
TRAUGOTT, E. C. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.;
JANDA, R. D. (eds.). The handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwell,
2003.
_________.Grammaticalization and Construction Grammar.In: CASTILHO, A.
T. (org.). História do Português Paulista. Campinas: Unicamp/Publicações IEL,
2009.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
______. Grammaticalization and mechanisms of change. In: NARROG, H.;
HEINE,
B. (eds.). The Oxford handbook of grammaticalization. New York: Oxford
University Press, 2011a.
______. Toward a coherent account of grammatical constructionalization,
Slightlyrevised
version
of
powerpoint
presentation
at
SocietasLinguisticaEuropea (SLE) 44, Spain, September 8th-11th, 2011c.
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OS CONECTORES CONDICIONAIS EM PORTUGUÊS
Taísa Peres de Oliveira
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)
Este trabalho tem como objeto de estudo a condicionalidade em português,
concebida aqui como uma categoria, nos termos de Dancygier (1998) e
Dancygier e Sweetser (2005). Como especificação, o objetivo central é
descrever os padrões de transferência envolvidos na organização estrutural e
conceitual dos conectores condicionais, identificando os princípios gerais que
sistematizam a formação desses conectores em português. Reconhece-se aí,
principalmente, que o significado dos conectores é formado a partir da
interação entre determinações semântico-pragmáticas e cognitivoperceptivas.O significado de condição, que, de modo mais amplo, pode ser
explicado pelo estabelecimento de causalidade não preenchida entre duas
proposições, manifesta-se em nuances semântico-pragmáticas diversas
(HAIMAN, 1978; TRAUGOTT, 1985, 1986; SWEETSER, 1990; DANCIGYER,
1998; SCHWENTER, 1999; NEVES, 1999; DANCYGIER, SWEETSER, 2005)
que desembocam nos diferentes subtipos de condicional. Assim, este trabalho
pretende investigar de que maneira os diferentes traços implicados na
condicionalidade(predição, hipoteticidade, alternatividade, disanciamento
epistêmico, não assertividade, contexto de fundo, topicalidade)podem estar
ligados ao significado original dos conectores que introduzem a oração. Em
outras palavras, como o significado condicional é considerado a partir de suas
múltiplas possibilidades, o mapeamento dos domínios conceituais possibilita
entender quais traços específicos dão origem a quais tipos de oração
condicional. A proposição deste estudo orienta-se a partir da premissa básica
de que o significado é concebido como uma estrutura flexível, instável e
multifacetada, que se origina a partir de duas tensões principais. Tem uma
base convencional, que emerge da padronização de usos regularizados na
dimensão social e cultural, negociada e partilhada entre os indivíduos. Ao
mesmo tempo, tem uma base cognitiva, já que emerge do conhecimento
individualmente idealizado. A análise realizada leva em consideração princípios
funcionalistas (BYBEE, 2010), pressupostos da Linguística Cognitiva (LAKOFF,
1987; SWEETSER, 1990; DANCYGIER, 1998; SWEETSER; DANCYGIER,
2005; GEERAERTS, 2005, 2006, 2008;) e da Teoria da Gramaticalização
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
(TRAUGOTT, DASHER, 2002; HOPPER; TRAUGOTT, 2003; TRAUGOTT,
BRINTON 2005;). Os dados desta pesquisa serão coletados a partir de uma
perspectiva diacrônica no Corpus do português (FERREIRA, DAVIES, 2005).
Referências Bibliográficas
BYBEE, J. et al The evolution of grammar: Tense, aspect and modality in the
languages of the world. Chicago: The University of Chicago Press, 1994.
DANCYGIER, B. Conditionals and predication (Cambridge Studies in
Linguistics).Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
DANCYGIER, B.; SWEETSER, E. Mental Spaces in Grammar: Conditional
Constructions. Cambridge Studies in Linguistics 108. Cambridge: Cambridge
University Press, 2005.
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LAKOFF, G. Women, fire and dangerous things: what categories reveal about
the mind. Chicago, London: University of Chicago Press, 1987.
SCHWENTER, S. Pragmatics of Conditional Marking: Implicature, Scalarity,
and Exclusivity.New York: Garland. [Outstanding Dissertations in Linguistics],
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SWEETSER. E. E. From etymology to pragmatics: metaphorical and cultural
aspects of semantic structure. (Cambridge Studies in Linguistics, 54).
Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
TRAUGOTT, E. C.; BRINTON, L. Lexicalization and Language Change.
Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2003.
TRAUGOTT, E. C.; HOPPER, P. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge
University Press (2ª ed), 2002.
TRAUGOTT, E. C.; DASHER, R. B. Regularity in Semantic Change.Cambridge:
Cambridge University Press, 2011.
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AFIXAÇÃO DO CLÍTICO TE NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Célia Regina Lopes
Thiago Laurentino de Oliveira
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Este trabalho discute de que forma a alta produtividade de uso do pronome
clítico te no português brasileiro (PB) – seja como acusativo (ex.: Eu te vi), seja
como dativo (ex.: Eu te liguei) – pode ser interpretada como um caso de
gramaticalização. Analisamos os usos pronominais de segunda pessoa do
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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singular nas posições de complemento verbal acusativo e dativo em dados
sincrônicos e diacrônicos do PB. Diversos resultados têm demonstrado que o
te, forma relacionada ao paradigma do pronome tu, é bastante recorrente nas
posições de complemento referidas, mesmo quando se emprega o pronome
você na posição de sujeito. Construções como “Você leu o livro que eu te dei?”
não geram estigma ou estranhamento ao falante do PB, o que pode ter
facilitado a alta produtividade do clítico em questão. Outro uso, marcado
socialmente,que tem se tornado produtivo no PB é a duplicação do
complemento de 2ª pessoa em construções como “Eu te falei para você”. A
partir dessas constatações, discutimos o estatuto gramatical do te nas
construções cujo sujeito é o pronome você ou tu. Para tanto, recorremos aos
pressupostos teóricos da gramaticalização, associando a versão mais clássica,
que prevê a passagem do clítico para afixo, às discussões mais recentes,
sobre o papel da frequência de uso das formas/construções no processo de
gramaticalização (LEHMANN, 1985; BYBEE, 2001, 2003; COMPANY, 2008,
2010). Propomos, por hipótese, que a alta frequência de uso do te frente a
outras formas utilizadas nas posições de complemento verbal favoreceu a
automação da estrutura/construção como marca de segunda pessoa do
singular. Seriam evidências dessa automação: i) a fixação do clítico em posição
proclítica no PB, ii) a ocorrência, em dados atuais, da estrutura com duplicação
do objeto, iii) a alta produtividade da construção com o clítico em detrimento de
outras formas pronominais (você, lheetc). Acreditamos que essa automação,
por um lado, está deslocando a forma te, no continuum de gramaticalização, da
categoria dos clíticos para a categoria dos afixos (fato já observado em outras
línguas) e, por outro lado, pode levar à sua opacidade semântica, gerando as
construções com redobro.
Referências bibliográficas
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Amsterdam/ Philadelphia: John Benjamins, 2001.
BYBEE, J. Mechanisms of Change in Grammaticization: the role of frequency.
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difusión del cambio sintáctico. In: KABATEK, J. (ed.). Sintaxis histórica de le
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Discursivas.
Madrid/Frankfurt:
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(=Lingüística
Iberoamericana 31), 2008b, p. 17-52.
COMPANY, C. C. Reanálisis, ¿mecanismo necesario de la gramaticalización?
Uma propuesta desde la diacronia del objeto indirecto em español. In: Revista
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LEHMANN, C. Grammaticalization: Synchronic Variation and Diachronic
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
A GRAMATICALIZAÇÃO DE VERBOS MODAIS EM
PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA ABORDAGEM SINCRÔNICA
Marize Dall’Aglio Hattnher
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP - São José do Rio Preto)
Kees Hengeveld
Universidade de Amsterdam
O objetivo deste trabalho é investigar em que medida o processo de
gramaticalização que envolve verbos modais em Português do Brasil pode ser
explicado em termos da abordagem em camadas para categorias gramaticais
da Gramática Discursivo-Funcional (GDF, HENGEVELD; MACKENZIE, 2008).
Nesta abordagem, elementos gramaticais são definidos em termos de seu
alcance semântico, e a gramaticalização é vista como um processo no qual
elementos linguísticos alargam o seu escopo (Hengeveld, 2011). No caso de
verbos modais, isto significaria que os elementos modais com escopo menor
desenvolvem-se em elementos modais com escopo maior no seguinte
percurso: proposição ← episódio ←estado-de-coisas ← conceito situacional.
Essa predição diacrônica tem consequências sincrônicos: se um verbo modal
tem múltiplos significados modais, esses significados devem ser de tipos de
escopo contíguos em sua distribuição sincrônica. Para testar essas predições,
a distribuição dos verbos modais em Português do Brasil em vários significados
modais é estudada. Depois de fornecer algumas informações básicas sobre a
GDF e seu tratamento das modalidade, elaboramos as predições decorrentes
da abordagem da GDF. Em seguida, apresentamos os verbos modais incluídos
no estudo (dever, poder, ter de/que e saber) e testamos as previsões usando
exemplos retirados da internet. Com base nos resultados obtidos, concluímos
que a predição é correta. Os quatro verbos modais investigados distribuem-se
entre as várias camadas, ocupando porções contíguas do percurso previsto,
com o verbo dever mostrando a mais ampla gama de usos e saber, a menor,
com poder e ter de/que ocupando posições intermediárias. Além disso, os
quatro modais mostram uma diferença sistemática no que pode ser classificado
como uma etapa de cada vez no percurso, pela linha cheia na Figura 1,
confirmando a predição:
Figura 1 . Distribuição dos verbos modais entre as camadas
Verbo modal
Dever
proposição
episódio
+
+
estado-decoisas
+
conceito
situacional
+
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Poder
+
Ter de/ter que
+
+
+
+
Saber
+
Referências bibliográficas
Hengeveld, K.; Mackenzie, J.L. Functional Discourse Grammar: A typologicallybased theory of language structure. Oxford: Oxford University Press, 2008.
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GT 7- GRAMATICALIZAÇÃO E MECANISMOS DE
IMPLEMENTAÇÃO
Coordenadora: Angélica Rodrigues
GRAMATICALIZAÇÃO DE VERBOS NO CONTEXTO
MORFOSSINTÁTICO DE SEGUNDA PESSOA DO SINGULAR E
PROCESSOS METAFÓRICOS
Cristina Carvalho
Universidade Estadual da Bahia (UNEB)
Nas línguas humanas, alguns verbos têm apresentado usos gramaticalizados
em diferentes contextos morfossintáticos. A depender do contexto em que se
instancia a gramaticalização, parece haver uma influência no resultado da
forma gramaticalizada dos pontos de vista discursivo-funcional e gramatical
(CARVALHO, 2011). No português brasileiro (PB), um dos contextos
morfossintáticos mobilizados é o da segunda pessoa do singular (P2). Nesse
caso, com a gramaticalização da forma verbal, acentua-se a sua função
interpessoal (HALLIDAY; HASAN, 1976), havendo uma reanálise em marcador
discursivo (MD), como se observa nos usos de você vê (CARVALHO, 2009),
veja e olha/olhe (ROST-SNICHELOTTO; GORSKI, 2011). Pesquisas sobre o
PB e outras línguas românicas têm demonstrado que “verbos de percepção
visual migram de categoria para atuar como MDs, situação em que
funcionariam como elementos de chamamento da atenção do O [ouvinte] para
um aspecto do texto do F [falante]” (ROST-SNICHELOTTO; GORSKI, 2011).
Nessa mudança categorial, verifica-se um deslocamento semântico-pragmático
motivado pela atuação da metáfora: transfere-se o foco de atenção do
ambiente situacional para a informação a ser provida pelo falante direcionada
para o ouvinte (ROST SNICHELOTTO, 2008), o que remete à expansão
metafórica espaço físico > espaço discursivo (HEINE, CLAUDI;
HÜNNEMEYER, 1991).Seguindo a esteira de Traugott (1997), neste trabalho,
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
considero que a abordagem da gramaticalização também abrange o
desenvolvimento de marcadores discursivos. Assim, analiso, do ponto de vista
semântico-pragmático, os usos gramaticalizados de verbos (VER, OLHAR,
OUVIR, etc.) instanciados no contexto de P2, na fala popular de Salvador. Para
tanto, utilizo, como amostra, inquéritos do Programa de Estudos sobre o
Português Popular Falado de Salvador (PEPP). Tendo em vista a associação
entre gramaticalização, contexto morfossintático e processos metafóricos,
busco responder à seguinte questão: Que relação pode ser estabelecida entre
o contexto morfossintático e os deslizamentos metafóricos ocorridos nas
formas/construções gramaticalizadas?
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Cristina dos Santos. Gramaticalização do verbo verem
construções sintáticas complexas In: ROSAE – I CONGRESSO
INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA HISTÓRICA, Salvador, julho, 2009.
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http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/40/Vol.40-n.1-Integra.pdf.
Acesso em: 30 jan. 2014.
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HEINE, Bernd; CLAUDI, Ulrike; HÜNNEMEYER, Friederike.From cognition to
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ROST-SNICHELOTTO, Claudia Andrea. Variação dos marcadores discursivos
de base verbal nas línguas românicas. Working Papersem Linguística.,
Florianópolis, 9 (2), p. 41-56, jul./dez., 2008. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/workingpapers/article/viewFile/19848420.2008v9n2p41/9353. Acesso em:30 jan. 2014.
______; GORSKI, Edair Maria. (Inter) Subjetivização de marcadores
discursivos de base verbal: instâncias de gramaticalização. Alfa. São Paulo, 55
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2011.
Disponível
em:
http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/4735/4040. Acesso em: 30 jan.
2014.
TRAUGOTT, Elizabeth C. The role of the development of discourse markes in a
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Versão
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1997.
Disponível
em:
<http://www.stanford.edu/~traugott/papers/discourse.pdf>. Acesso em: 2 mar.
2010.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
ESTRUTURA INFORMACIONAL E GRAMÁTICA DE
CONSTRUÇÕES: ANÁLISE DAS CONSTRUÇÕES DE FOCO NO
PORTUGUÊS BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
Felipe Aleixo
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara)
Esta pesquisa visa investigar a relação que se pode fazer entre a teoria da
Gramática de Construções e a abordagem textual-discursiva relacionada à
Estrutura Informacional. Com esse intuito, busca-se analisar como essa relação
se dá em estruturas canônicas, não canônicas, topicalizadas e, sobretudo, em
clivadas da sentença portuguesa brasileira contemporânea. Do ponto de vista
funcional da presente investigação, o elemento principal da Estrutura
Informacional é seu caráter de interface na organização do conhecimento
linguístico. Assim, sendo a Estrutura Informacional um dos aspectos centrais
com relação à organização do discurso, estando no centro da interação entre
sintaxe, semântica e pragmática, busca-se analisar, sincronicamente, em
corpus de língua escrita contemporâneo, como elementos relacionados à
informação velha/ informação nova, tópico/foco, entre outros, estruturam, em
situações reais de língua, a sentença do português brasileiro contemporâneo. A
princípio, serão consideradas as construções de foco usualmente referidas
como construções clivadas, as quais são caracterizadas como uma estrutura
complexa formada por duas orações, em que uma é introduzida por um
pronome relativo ou “palavra QU”, e a outra, pelo verbo “ser” (flexionado).
Tradicionalmente, a literatura afirma que, em estruturas clivadas, as
construções de foco veiculam informação nova. Levanta-se, então, a seguinte
inquietação: seria impossível que estruturas de foco apresentem, também,
informação dada/velha? A relevância desse tipo de pesquisa reside no fato de
apresentar o atual quadro da sentença com relação à sua perspectiva
funcional, discutindo a importância dos efeitos informacionais associados aos
tipos de construções eleitos nesta pesquisa. Além disso, divulgam-se, com
isso, as presentes teorias e suas relações, a fim de abrir espaço para que mais
estudos surjam na área.
Referências bibliográficas
ILARI, Rodolfo. Perspectiva Funcional da Frase Portuguesa. 2. ed. Campinas:
Editora da Unicamp, 1992.
LAMBRECHT, Knud. Information Structure and Sentence Form: Topic, Focus,
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Cambridge University Press, 1994.
LEHMANN, Christian. Information Structure and Grammaticalization. In:
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empirical issues in grammaticalization. Amsterdam: J. Benjamins, 2008.
(Typological Studies in Language, 77).
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
LONGHIN, Sanderléia Roberta. As construções clivadas: uma abordagem
diacrônica. Campinas: Unicamp, 1999. (Dissertação de Mestrado).
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GRAMATICALIZAÇÃO: ANÁLISE DO LOCATIVO HE EM XIPAYA
Flávia de Freitas Berto
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara)
Este trabalho apresenta algumas questões referentes à Teoria da
Gramaticalização e sua contribuição para os estudos de mudança linguística
nos trabalhos que descrevem e analisam línguas indígenas brasileiras
(GILDEA, 1998). Os estudos de gramaticalização combinam perspectivas que
consideram tanto as fontes de formas gramaticais e das suas mudanças
quanto os processos de gramaticalização do ponto de vista sintático, como um
fenômeno discursivo-pragmático. Ao se coletar dados de uma língua indígena,
devemos antes utilizar uma abordagem dinâmica da língua, como um processo
contínuo de mudanças do que uma distinção clara entre uma abordagem
diacrônica ou sincrônica (Hopper & Traugott, 2003). Ao analisar o locativo
heem Xipaya (RODRIGUES, 1995), língua da família Juruna, dentro da
perspectiva de que a língua é um processo contínuo de mudanças, pudemos
levantar algumas hipóteses desse morfema como estratégia de focalização,
variação que pode evidenciar um possível processo de gramaticalização.
Lambrech (1994), Heine & Kuteva (2002) e Lehmann (2008) são as principais
fontes teóricas desse texto.
Referências bibliográficas
GILDEA, S. On reconstructing grammar: comparative Cariban morphosyntax.
New York, N.Y.: Oxford University Press, 1998.
HEINE, B. & KUTEVA, T. World Lexicon of grammaticalization.New York, N.Y.:
Cambridge University Press, 2002.
HOPPER, P. J. & TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge:
Cambridge University Press, 2003.
LAMBRECHT, K. Information structure and sentence form: topic, focus, and the
mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge
University Press, 1994. xvi, 388 p. (Cambridge studies in linguistics; v. 71).
LEHMANN, C. “Information structure and grammaticalization”. In: María José
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Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, 2008.
RODRIGUES, C. L. R. Etude morphosyntaxique de la langue xipaya (Bresil).
Tese (Doutorado) – Universidade Paris VII, França, 1995.
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
GENESIS OF AN EVIDENTIAL CATEGORY: REVELATION FROM
THE ‘NOISY STREAM’
Kristine Stenzel
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
This paper discusses the structural properties, use, and origin of a category of
NON-VISUAL sensory evidence in Kotiria, an Eastern Tukanoan language spoken
in the Vaupés basin in northwestern Amazonia. The evidential systems of
Tukanoan languages are known for their complexity and their obligatory nature,
and are generally comprised of four basic categories:
i.
the most frequently-occurring category, which indicates direct
sensory evidence and distinctions of person and tense or aspect;
ii. INFERENCE, used to express conclusions based on directly observed, but
after-the-fact, evidence;
iii. ASSUMED/ASSERTION used to express generally known and shared
information; and
iv. HEARSAY, a less-commonly used category.
A few languages have an additional NON-VISUAL category, used in situations
involving other-than-visual sensory evidence, e.g. to refer to the physical
sensations of the speaker (Barnes 1984; Malone 1988; Ramirez 1997; GomezImbert 2007). In Kotiria, evidentials occur on all finite verbs in realis statements,
and the evidential system has five categories, including one indicating ‘direct’,
but specifically NON-VISUAL, evidence, contrasting with the equally ‘direct’ VISUAL
category as well as the ‘indirect’ category of INFERENCE (Stenzel 2008, 2013).
However, unlike the HEARSAY, VISUAL, and ASSERTION categories, which are coded
by suffixes, NON-VISUAL evidence is indicated by a more complex and ‘lexical-like’
construction involving serialized verb roots and a nominalized verbal
complement, as shown in (1).
(1)
VISUAL,
numia ña’aina taa nia koatara
~dubí-a ~ya’á-~ida tá-á
woman- catchcomePL
NOM.PL
(3)PL
~dí-a
be.PROG(3)PL
koá-ta-ra
NONVIS-comeVIS.IMPERF.2/3
‘Women-kidnappers are coming.’ (the speaker hears them)
Based on a corpus of primary data collected in over a decade of fieldwork as
well as crosslinguistic comparison, I discuss the Kotiria NON-VISUAL construction
as likely developed both recently—since no similar NON-VISUAL category exists
in its most closely-related sister language, Wa’ikhana—and independently,
based on contrasts with NON-VISUAL markers in other Tukanoan languages. My
hypothesis is that the Kotiria NON-VISUAL has grammaticalized from a serial verb
construction composed of the lexical roots koa, historically meaning ‘make
noise’ and the movement verb ta ‘come’. While NON-VISUAL evidential markers
more commonly develop from sensory verbs such as ‘hear’ (Anderson 1986,
Aikhenvald 2004), than from verbal roots of the ‘make noise’ type, this latter
path of grammaticalization has also been attested in Vaupés languages (Epps
2008) and may represent a shared areal trait.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Referências bibliográficas
AIKHENVALD, Alexandra Y. 2004 Evidentiality. Oxford: Oxford University Press.
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Typologically Regular Asymmetries. In Evidentiality: The Linguistic Coding of
Epistemology, eds. Wallace Chafe and Johanna Nichols, 273-312. Norwood,
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Berlin/New York: Mouton de Gruyter.
MALONE,
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Development
of
Evidentials.International Journal of American Linguistics 54:119-140.
Tuyuca
GOMEZ-IMBERT, Elsa. 2007. La vue ou l'ouïe: la modalité cognitive des langues
Tukano orientales. In L'éonciation médiatisée, eds. Zlatka Guentchéva and Jon
Landaburu, 65-86. Louvain: Peeters.
RAMIREZ, Henri. 1997. A Fala Tukano dos Ye'pâ-Masa, Tomo I Gramática.
Manaus: CEDEM.
STENZEL, Kristine. 2008. Evidentials and clause modality in Wanano. Studies in
Language 32:2:404-444.
——. 2013. A Reference Grammar of Kotiria (Wanano). Lincoln: University of
Nebraska Press.
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A EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE NO SISTEMA VERBAL DO
PORTUGUÊS BRASILEIRO: UM ESTUDO DIACRÔNICO, SINCRÔNICO E
COMPARADO
Luiz Queriquelli
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Este estudo parte do modelo de Hengeveld (2011), sobre a gramaticalização de
tempo e aspecto, para compreender o processo de gramaticalização das
formas verbais do modo condicional no português brasileiro (PB). Nossa
hipótese é a de que a imperfectividade (pelo menos enquanto aspecto verbal),
dado o caráter inconcluso que ela imprime na ação verbal, pode originar
condicionais pelo menos de duas maneiras: (1) por derivação semântica, sendo
usado em contextos em que é clara a expressão da condicionalidade, sem
alterações morfossintáticas de qualquer ordem; e (2) aplicando-se a auxiliares
de futuro, produzindo primeiramente auxiliares especializados, mas podendo
eventualmente envolver em desinências de um novo paradigma conjugacional.
Atualmente no PB, existem pelo menos três formas que concorrem para
expressar a condicionalidade: o futuro do pretérito, também chamado de
condicional sintético (falaria); a perífrase formada pelo imperfeito do indicativo
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
do verbo ir mais infinitivo (ia falar); e o imperfeito do indicativo (falava). Nossa
percepção é de que cada uma delas manifesta um dos possíveis estágios da
gramaticalização do modo condicional. Assim, procedemos a um estudo
pancrônico e comparado dessas três formas a fim de testar nossa hipótese
principal.
Referências bibliográficas
HENGEVELD, K. “The Grammaticalization of Tense and Aspect.” In: NARROG;
HEINE (eds.). The Oxford Handbook of Grammaticalization.Manchester: The
University of Manchester, 2011. p. 580-594.
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AS CONSTRUÇÕES VERBAIS PARATÁTICAS:
GRAMATICALIZAÇÃO EM ITALIANO
Patrícia Bomtorin
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara)
Neste trabalho propõe-se analisar a ocorrência, na língua italiana, das
construções verbais paratáticas (CVPs, daqui em diante), que se formam a
partir de dois ou mais verbos flexionados, V1 e V2, conectados ou não pela
conjunção e, como em “se ne va e piange” e “prendo e me ne vado”. Nossa
hipótese é a de que as CVPs tenham se originado a partir de construções
coordenadas pelo processo de gramaticalização. Assim, as construções fonte
teriam sido reanalisadas em contextos específicos até ocorrer a mudança e se
chegar às construções alvo. Os verbos em posição de V1 nas CVPs partilham
algumas propriedades em comum com verbos auxiliares – que também
passaram pelo processo de gramaticalização –, na medida em que deixam de
ser verbo pleno e tornam-se mais gramaticais. Porém, as CVPs apresentam
propriedades incompatíveis com auxiliaridade. A principal delas, no que diz
respeito à sintaxe, é a seguinte: nas CVPs, V1 e V2 compartilham as mesmas
flexões verbais; sendo que os verbos principais em casos de auxiliaridade
ficam no infinitivo, enquanto só o verbo auxiliar é flexionado. Há também uma
diferença semântico-pragmática: propomos a interpretação do V1 de uma CVP
como tendo a função de dar ênfase em V2, diferentemente de um verbo
auxiliar, que tem a função de mostrar o tempo e o aspecto da construção.
Nosso objetivo, portanto, é (1) demonstrar o continuum sincrônico de
gramaticalização entre construções coordenadas e as CVPs a partir do
mecanismo da reanálise, além de (2) tratar das diferenças entre as CVPs e as
construções com verbo auxiliar. Sustenta nossas análises uma abordagem
funcional da gramática, que leva em conta os estudos em gramaticalização e
em gramática de construções.
Referências bibliográficas
GOLDBERG, A. E. Constructions. In: _____: A constructional grammar
approach to argument structure. London: The University of Chicago Press,
1995.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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HEINE, B. Auxiliaries: cognitive forces and grammaticalization. Oxford: Oxford
University Press, 1993.
HEINE, B. Grammaticalization. In: Brian D. Joseph & Richard D. Janda (eds.).
The handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwells, 2003; p. 575-601.
HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. (2. ed.). Cambridge:
Cambridge University Press, 2003.
NICHOLS, J. Functional theories of grammar. In: Annual Reviews Anthropol.
13:, 1984; p. 97-117.
RODRIGUES, A. C. T. Eu fui e fiz esta tese: as construções do tipo foi fez no
Português do Brasil. Campinas, 2006. Tese de doutorado, Unicamp.
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GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO DE MOVIMENTO
COM PROPÓSITO EM PORTUGUÊS
Patrícia Orefice
Universidade Estadual de São Paulo (UNESP – Araraquara)
O objetivo deste trabalho é analisar construções do tipo 1 e 2, denominadas de
construções de “movimento com propósito” (motion cum purpose), CMCP.
Essas construções, segundo Lehmann (2001), são formadas por dois verbos,
sendo o primeiro um verbo de movimento orientado e o segundo, um verbo que
se apresenta sempre em sua forma não finita. Para a nossa análise, adotamos
uma abordagem teórica que discute as principais linhas teóricas de
gramaticalização (HEINE, 2003; HOPPER e TRAUGOTT, 1997, 2003).
(1) “Mas o meu príncipe, que descera, enfiado, mandou buscar um
engenheiro à Companhia Central de Eletricidade Doméstica. Por
precaução, outro criado correu à mercearia comprar pacotes de velas”
(CORPUS DO PORTUGUÊS: A casa do Ilustre Ramires: Eça de
Queirós, 1900 – 18: Queirós: Ramires).
(2) “Anônimo – Eu sou meio caseiro mais saio ver o movimento das ruas e
o verde das praças. Sou bucólico, mas sou entusiasta que um dia
iremos viver na Guarapuava que queremos e merecemos” (Disponível
em:
<http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?c,,=93977255&tid=546961055
0569325604&na=4&nst=1&nid=93977255-54696105505693256045489395012699288357> Acesso em: 15 Set.2012).
Lehmann (2011, p. 13) afirma que as construções de “movimento com
propósito”, quando dadas com os verbos de movimento orientado mais
básicos, estão na origem da gramaticalização do futuro perifrástico com ir.
Pretendemos discutirCMCP’s que ocorrem com verbos diferentes dos básicos
ire vir, procurando identificar os processos de gramaticalização sofridos por
elas, além de compreender os mecanismos metafóricos que habilitam a
finalidade nessas construções.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Referências bibliográfica
HEINE, B. Grammaticalization. In JOSEPH, B. e JANDA, R. (org).A handbook
of Historical Linguistics. Oxford: Blacwell, 2003.
HOPEER, P.J. e TRAUGOTT, E.C. Grammaticalization.Cambridge: Cambridge
University, 2003.
LEHMANN,
C.
Gramática
Funcional.
2011.
Disponível
em
<http://www.christianlehmann.eu/publ/gramatica_funcional.pdf> Acesso em 14
Ago.2013.
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GT 8- GRAMATICALIZAÇÃO E PROJETOS EM ANDAMENTO
Coordenador: Luiz Carlos Travaglia (UFU)
A CONSTRUCIONALIZAÇÃO DE A GENTE NO PORTUGUÊS
BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM DA LINGUÍSTICA CENTRADA
NO USO
Bruna das Graças Soares Aceti
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
A tese explicitará o que determinou a construcionalização de “a gente” (artigo +
substantivo) cristalizada na construção pronominal de primeira pessoa “a
gente” no português brasileiro, sob o ponto de vista da Linguística Centrada no
Uso, a partir de uma amostra composta por peças teatrais do século XVI ao XX
na modalidade escrita da língua, e como se deram as mudanças construcionais
até o último século. O estudo levará em conta a Linguística Centrada no Uso
por concebermos que há fatores sintático-semânticos e discursivo-pragmáticos
que, juntos com a cognição humana, atuam na mudança de “(a) gente”
(categoria de substantivo) para “a gente” (categoria de pronome).
Os objetivos serão: (i) realizar o percurso histórico da construção “(a)
gente”(artigo + substantivo) para “a gente”; (ii) observar os contextos críticos do
fenômeno; (iii) verificar as causas da pronominalização de “a gente”; (iv)
investigar se “a gente” é um exemplo de construcionalização “pura” sem
analogia ou se envolve analogia; (v) analisar a gramaticalização da construção
como extensão semântico-pragmática; (vi) evidenciar o papel da frequência de
uso no processo de mudança; (vii) relacionar os processos de mudanças
envolvidos com os processos cognitivos gerais; e (viii) relacionar os resultados
da análise do gênero “peçasteatrais” com outros gêneros.
Os dados serão codificados e analisados qualitativa e quantitativamente.
Utilizaremos o programa estatístico SPSS a fim de obtermos a frequência de
ocorrência de “a gente”, bem como sua frequência de tipo, através dos fatores:
(a) função sintática de “a gente”, (b) tempo verbal e (c) tipo verbal.
Referências bibliográficas
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
BARLOW, M.; KEMMER, S. (Org.) Usage based models of language. Stanford,
California: CSLI Publications, 2000.
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frequency. In: B. D. Joseph and J. Janda (eds.) The Handbook of Historical
Linguistics. Oxford: Blackwell. p. 602-623.
BYBEE, J. Language, usage and cognition. Cambridge: Cambridge University
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CROFT, W. Radical Construction grammar: syntactic theory in typological
perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001.
FERRARI, L.; FONTES, V. Dêixis e mesclagem: a expressão pronominalizada
“a gente” como categoria radial. Revista LinguíStica. Revista do Programa de
Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Volume 6, número 2, dezembro de 2010.
FISCHER, O. Grammaticalization as analogically driven change? Vienna
English Working Papers 18(2): 3-23. 2009.
GOLDBERG, A E. A construction grammar approach to argument structure.
Chicago/London: The University of Chicago Press, 1995.
HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. Grammaticalization. Cambridge, Cambridge
University Press. 1993.
HOPPER, P.; TRAUGOTT E. Grammaticalization.Cambridge Textbooks in
Linguistics, Cambridge University Press, 2003.xx – 276.
LOPES, C. R. dos. Nós e a gente no português falado culto do Brasil.
Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Faculdade de
Letras, UFRJ, 1993.
NÖEL, D. Diachronic construction grammar vs. Grammaticalization theory.
2006 Disponível em: <://htpp hub.hku.hk/handle/123456789/38694>. Acesso
em abril de 2013.
TRAUGOTT, E.; TROUSDALE, G. Gradience,
Grammaticalization. Amsterdam: Benjamins. 2010a.
Gradualness,
and
TRAUGOTT,
E.
Toward
a
Coherent
Account
of
Grammatical
Constructionalization. Draft for a volume on historical construction grammar.
Edited by Elena Smirnova, JóhannaBardal, Spike Gildea, and
LotteSommerer.March, 2, inédito.
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CATEGORIAS COGNITIVAS EM NOVAS PERSPECTIVAS
Renata Barbosa Vicente
Universidade de São Paulo (USP)
Universidade Bandeirante Anhanguera (UNIAN)
Esta pesquisa tem como objetivo descrever e analisar, a partir das
construções linguísticas usadas para marcar a introdução de um texto
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
dissertativo-argumentativo, pela perspectiva da Gramaticalização e da
Cognição, as categorias linguísticas mais frequentes. Para isso usamos um
corpus que totaliza 1600 redações de vestibular da FUVEST (Fundação para o
vestibular – USP), produzidas no período de 2004 a 2011, sendo 50% delas as
melhores e as outras 50% as piores consideradas pela banca corretora.
Teoricamente, fundamentamos esta pesquisa nos estudos sobre Cognição, a
partir de Tomasello (2003), Damásio (2011), Del Nero (1997) e sobre
Gramaticalização Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991), Bybee (2010) LimaHernandes (2005, 2010, dentre outros). Todo o material analisado teve
tratamento quantitativo e qualitativo e chegou-se à determinação de que a
categoria espaço é a categoria cognitiva mais frequente na defesa de uma tese
e difere da categoria lugar. Foi possível, assim, constatar que espaço,
embora em vários contextos seja utilizado como sinônimo de lugar, sob o
ponto de vista linguístico-cognitivo lugar tem caráter mais concreto,por
determinar localização física, enquanto espaço situa-se mais à direitado
continuum das categorias cognitivas propostas por Heine, Claudi e
Hünnemeyer (1991), após a categoria tempo, apontando para maior grau de
abstração metafórica. Também é foco deste trabalho evidenciar que o
processamento cognitivo para a produção textual envolve vários fatores
mentais como o protos self (condição básica ao indivíduo), self central (todo o
conhecimento adquirido) e self autobiográfico (a forma de externalizar o
conhecimento adquirido em texto escrito). Destacamos também, a forma como
o candidato começa uma dissertação, procurando criar um espaço conjunto de
atenção, que é resultado de todos esses selves trabalhando juntos para a
(inter)subjetividade materializada via categorias cognitivas.
Referências Bibliográficas
BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.Cambridge: University Press,
2010.
DAMÁSIO, A. R. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das
letras, 2009.
DEL NERO, H. S. O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no
Cérebro Humano.São Paulo. Editora Collegium Cognitio, 1997.
HEINE, Bernd et alii. Grammaticalization: a Conceptual Framework. Chicago:
The University of Chicago Press, 1991.
LIMA-HERNANDES, M. C. A interface Sociolinguística/ Gramaticalização Estratificação de usos de tipo, feito, igual e como - sincronia e diacronia. Tese
de doutoramento. Campinas: IEL/UNICAMP, 2005.
________________, M. C. Processos Sociocognitivos da Mudança Gramatical:
Estrutura x-que do português. Tese de livre docência. São Paulo: FFLCH,
2010.
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GRAMATICALIZAÇÃO DE TMA FORA DE VERBO: QUANDO A
PALAVRA “TEMPO” TEMPO TEM
Marcus Lira
Universidade de Brasília (UnB)
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Não é costumeiro que as línguas apresentem morfologia relacionada a tempo,
modo, ou aspecto fora de verbo. É comum que essa possibilidade seja
ignorada, ainda que livros sobre o assunto, como Comrie (1985, p. 13), por
vezes comente a possibilidade por alto. Japonês, por exemplo, possui uma
vasta gama de morfemas de tempo, modo e aspecto que podem ser
encontrados em uma das (sub)classes de adjetivos. Essa (sub)classe pode ser
encontrada tanto em construções atributivas como em construções
predicativas, não havendo qualquer tipo de limitação na possibilidade de uso
desses morfemas em qualquer uma das construções. “Oishi-i udon o tabe-ta”
(gostoso-Ñ.PSD macarrão.udon OBJ comer-PSD) [Comi udon gostoso] é tão
grammatical quanto “Oishi-kattaudon o mainichiomoidas-u” (gostoso-PSD
macarrão.udon OBJ todo.dia lembrar-Ñ.PSD) [Lembro todos os dias do udon
(que era) gostoso], apesar da diferença da morfologia de tempo no adjetivo.
Igualmente, “Udonwaoishi-i” [Macarrão.udon TOP gostoso-Ñ.PSD] (Udon é
gostoso) e “Udonwaoishi-katta” [Macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon
estava/era gostoso) são ambas perfeitamente gramaticais. Qualquer ceticismo
quanto ao status dessa classe de palavras como “adjetivo” é inteiramente
justificável com base nesse comportamento, já que a mesma morfologia ocorre
nos verbos da língua, os quais também podem aparecer em construções
atributivas
e
predicativas:
“Tabe-taudonwaoishi-katta”
[Comer-PSD
macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon que eu comi era gostoso) é um
exemplo de verbo numa construção atributiva, com a primeira oração exemplo
desse resumo sendo um exemplo de verbo em construção predicativa. Isso
também não quer dizer que os adjetivos do início são um tipo de verbo – eles
apresentam características típicas de adjetivos, como a possibilidade de
aparecer em comparações como “udonwa sushi yorioishi-i” [macarrão.udon
TOP sushi ABL gostoso-Ñ.PSD] (Udon é mais gostoso do que sushi), e junto
de intensificadores como “totemooishi-i” [muito gostoso-Ñ.PSD] (muito
gostoso). Já Musqueam, uma língua Salish da costa oeste norte-americana,
não só permite a presença de morfologia de tempo, modo e aspecto nos
adjetivos, como em “kʷθə θí- ctwa məstəyəxʷ” [ART grande-PSD
ESPECULATIVO pessoa] (Aquela grande pessoa, como ele deve ter sido)
(SUTTLES, 2004, p. 65), mas também em substantivos, permitindo orações
como “kʷθə nə-mən-ə ” [ART meu-pai-PSD] (Meu finado pai) (SUTTLES, 2004,
p. 64). Por que a morfologia de tempo, modo e aspecto é restrita aos verbos na
maior parte das línguas, mas em algumas outras ela ocorre em outras classes
lexicais? O presente trabalho procura explicar essa diferença através de
processos de gramaticalização e da hipótese de Harris (2008) e Harris
(2010)de que isso se deve a uma soma de vários fatores de baixa
probabilidade, esses e outros exemplos de morfologia fora do verbo (seguindo
a definição de “verbo” utilizada na apresentação de categorias lexicais em
Dixon(2010)), o presente trabalho faz parte de um levantamento funcional
tipológico – ainda em andamento – que busca analisar e procurar por
afinidades nas gramáticas de 75 línguas geneticamente não relacionadas,
escolhidas de acordo com maior variabilidade possível seguindo Bakker(2011).
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Referências Bibliográficas
BAKKER, D. Language Sampling. In: SONG, J. J. The Oxford Handbook of
Linguistic Typology. Oxford: Oxford University Press, 2011. p. 100-130.
COMRIE, B. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.
DIXON, R. M. W. Basic Linguistic Theory - Volume 1: Methodology. Oxford:
Oxford University Press, 2010.
HARRIS, A. C. On The Explanation of Typologically Unusual Structures. In:
GOOD, J. Linguistic Universals and Language Change. Oxford: Oxford
University Press, 2008. p. 54-76.
HARRIS, A. C. Explaining Typologically Unusual Structures: The Role of
Probability. In: CYSOUW, M.; WOHLGEMUTH, J. Rethinking Universals: How
Rarities Affect Linguistic Theory. Berlin/New York: Walter de Gruyter GmbH &
Co. KG, 2010. p. 91-104.
SUTTLES, W. Musqueam Reference Grammar. Vancouver, Toronto: UBC
Press, 2004.
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GRAMATICALIZAÇÃO DE TMA FORA DE VERBO: QUANDO A
PALAVRA “TEMPO” TEMPO TEM
Marcus Lira
Universidade de Brasília (UnB)
Não é costumeiro que as línguas apresentem morfologia relacionada a tempo,
modo, ou aspecto fora de verbo. É comum que essa possibilidade seja
ignorada, ainda que livros sobre o assunto, como Comrie (1985, p. 13), por
vezes comente a possibilidade por alto. Japonês, por exemplo, possui uma
vasta gama de morfemas de tempo, modo e aspecto que podem ser
encontrados em uma das (sub)classes de adjetivos. Essa (sub)classe pode ser
encontrada tanto em construções atributivas como em construções
predicativas, não havendo qualquer tipo de limitação na possibilidade de uso
desses morfemas em qualquer uma das construções. “Oishi-i udon o tabe-ta”
(gostoso-Ñ.PSD macarrão.udon OBJ comer-PSD) [Comi udon gostoso] é tão
grammatical quanto “Oishi-kattaudon o mainichiomoidas-u” (gostoso-PSD
macarrão.udon OBJ todo.dia lembrar-Ñ.PSD) [Lembro todos os dias do udon
(que era) gostoso], apesar da diferença da morfologia de tempo no adjetivo.
Igualmente, “Udonwaoishi-i” [Macarrão.udon TOP gostoso-Ñ.PSD] (Udon é
gostoso) e “Udonwaoishi-katta” [Macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon
estava/era gostoso) são ambas perfeitamente gramaticais. Qualquer ceticismo
quanto ao status dessa classe de palavras como “adjetivo” é inteiramente
justificável com base nesse comportamento, já que a mesma morfologia ocorre
nos verbos da língua, os quais também podem aparecer em construções
atributivas
e
predicativas:
“Tabe-taudonwaoishi-katta”
[Comer-PSD
macarrão.udon TOP gostoso-PSD] (O udon que eu comi era gostoso) é um
exemplo de verbo numa construção atributiva, com a primeira oração exemplo
desse resumo sendo um exemplo de verbo em construção predicativa. Isso
também não quer dizer que os adjetivos do início são um tipo de verbo – eles
apresentam características típicas de adjetivos, como a possibilidade de
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
aparecer em comparações como “udonwa sushi yorioishi-i” [macarrão.udon
TOP sushi ABL gostoso-Ñ.PSD] (Udon é mais gostoso do que sushi), e junto
de intensificadores como “totemooishi-i” [muito gostoso-Ñ.PSD] (muito
gostoso). Já Musqueam, uma língua Salish da costa oeste norte-americana,
não só permite a presença de morfologia de tempo, modo e aspecto nos
adjetivos, como em “kʷθə θí- ctwa məstəyəxʷ” [ART grande-PSD
ESPECULATIVO pessoa] (Aquela grande pessoa, como ele deve ter sido)
(SUTTLES, 2004, p. 65), mas também em substantivos, permitindo orações
como “kʷθə nə-mən-ə ” [ART meu-pai-PSD] (Meu finado pai) (SUTTLES, 2004,
p. 64). Por que a morfologia de tempo, modo e aspecto é restrita aos verbos na
maior parte das línguas, mas em algumas outras ela ocorre em outras classes
lexicais? O presente trabalho procura explicar essa diferença através de
processos de gramaticalização e da hipótese de Harris (2008) e Harris
(2010)de que isso se deve a uma soma de vários fatores de baixa
probabilidade, esses e outros exemplos de morfologia fora do verbo (seguindo
a definição de “verbo” utilizada na apresentação de categorias lexicais em
Dixon(2010)), o presente trabalho faz parte de um levantamento funcional
tipológico – ainda em andamento – que busca analisar e procurar por
afinidades nas gramáticas de 75 línguas geneticamente não relacionadas,
escolhidas de acordo com maior variabilidade possível seguindo Bakker(2011).
Referências Bibliográficas
BAKKER, D. Language Sampling. In: SONG, J. J. The Oxford Handbook of
Linguistic Typology. Oxford: Oxford University Press, 2011. p. 100-130.
COMRIE, B. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.
DIXON, R. M. W. Basic Linguistic Theory - Volume 1: Methodology. Oxford:
Oxford University Press, 2010.
HARRIS, A. C. On The Explanation of Typologically Unusual Structures. In:
GOOD, J. Linguistic Universals and Language Change. Oxford: Oxford
University Press, 2008. p. 54-76.
HARRIS, A. C. Explaining Typologically Unusual Structures: The Role of
Probability. In: CYSOUW, M.; WOHLGEMUTH, J. Rethinking Universals: How
Rarities Affect Linguistic Theory. Berlin/New York: Walter de Gruyter GmbH &
Co. KG, 2010. p. 91-104.
SUTTLES, W. Musqueam Reference Grammar. Vancouver, Toronto: UBC
Press, 2004.
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GRAMATICALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO “POIS NÃO”
Célia Márcia G. N. Lobo
Universidade Federal de Goiás (UFG)
Em princípio, é possível distinguir, pelo menos, duas possibilidades semânticas
no uso depois não, no português do Brasil: a) Sob a forma afirmativa,
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
equivalente ao sentido de “sim” e/ou “claro”; b) Sob a forma interrogativa,
equivalente ao sentido de “Em que posso ajudar?”. Em ambas as
possibilidades, pois não possui função discursivo interativa, atuando como
orientador da interação. Com base nos parâmetros de gramaticalização,
propostos por Heine e Kuteva (2007) e na Teoria Construcional, de Goldberg
(2006), esse projeto de pesquisa parte da hipótese de quepois não é uma
construção e esse status é decorrente de um processo de gramaticalização de
um uso mais básico, previsível como em “Pois não haveria de realizar seu
pedido?”, por exemplo. Além disso, supõe-se uma relação com o mecanismo
de intersubjetificação (TRAUGOTT, DASHER, 2005), pois o falante ao usarpois
não passa a atentar-se às atitudes e necessidades do ouvinte. Logo, esse
trabalho tem por objetivos: investigar, por meio de um estudo pancrônico, como
ocorre o processo de construcionalidade e de gramaticalização depois não, nas
diferentes nuanças de uso da língua falada como maneira de contribuir para a
descrição do Português Brasileiro; pesquisar os possíveis valores semânticos
de pois não e alocá-los em um cline de gramaticalidade; verificar seu status
construcional; analisar a frequência de sentidos de acordo com os contextos de
uso; e verificar as hipóteses de origem dessa forma. Os dados serão coletados
do corpus do Projeto Fala Goiana, e/ou outras amostras que se fizerem
necessárias. Pretende-se fazer uma análise quantitativa e qualitativa dos
dados, considerando-se critérios sintáticos e semânticos, e os pressupostos da
gramaticalização e da Teoria Construcional. Esta pesquisa fundamenta-se nos
postulados teóricos da Gramática Funcional de Dik (1989; 1997) e Halliday
(1985); no modelo teórico da Gramaticalização, entendida, conforme
Gonçalves, Lima-Hernandes, Casseb-Galvão (2007), Heine e Kuteva (2007),
Traugott e Dasher (2005); na Teoria das Construções (GOLDBERG, 2006); e
em estudos cognitivistas (TOMASELLO, 2010; LANGACKER, 2013).
Referências Bibliográficas
DIK, S. C.The Theory of Functional Grammar.Dorderecht-Holland/ Providence
RI-EUA: Foris Publications, 1989.
______. The theory of functional grammar.Part 2: Complex and derived
constructions. Berlin: De GruyterMouton, 1997.
GOLDBERG, A. Constructionatwork. The natureofgeneralization in Language.
Oxford: Oxford Press, 2006.
GONÇALVES, S. C. L.; LIMA-HERNANDES, M. C.; CASSEB-GALVÃO, V. C.
(Org.). Introdução à gramaticalização. São Paulo: Parábola, 2007.
HALLIDAY, M.An Introduction to Functional Grammar. Baltimore: Edward
Arnold, 1985.
HEINE, B.; KUTEVA, T.The Genesis of Grammar: A Reconstruction. Oxford:
Oxford University Press, 2007.
HEINE, B.et al. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago: The
Universityof Chicago Press, 1991.
LANGACKER, R. W.Essentials of CognitiveGrammar. Oxford: Oxford University
Press, 2013.
TOMASELLO, M. Origins of human communication. Cambridge: MIT Press,
2010.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
TRAUGOTT, E. C., DASHER, R. B. Regularity in semanticchange. Cambridge:
Cambridge University Press, 2005.
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GRAMATICALIZAÇÃO E VARIAÇÃO: NÃO OBSTANTE ~
APESAR DE; NÃO OBSTANTE ~ EMBORA; NÃO
OBSTANTE ~ NO ENTANTO – ESTUDO EM CORPUS
HISTÓRICO
Pamela Pereira
Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFBJM)
Maria do Carmo Viegas
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
O presente projeto (GRAvar) objetiva pesquisar aspectos da mudança
linguística, em especial o fenômeno de gramaticalização (Hopper & Traugott,
1993) envolvendo APESAR DE, EMBORA e NO ENTANTO na história do português e,
ainda, objetiva a análise da variação de tais estruturas com a expressão NÃO
OBSTANTE, conforme apontado em Pereira (2012). Para isso, serão constituídos
três corpora, um com dados de APESAR DE, outro com dados de EMBORA, e outro
com dados deNO ENTANTO, todos do século XIV ao XX, coletados do Corpus do
Português, de Davies e Ferreira (2006-) – o mesmo corpus utilizado em Pereira
(2012) para a análise da gramaticalização do NÃO OBSTANTE. Em Pereira
(2012), verificou-se que a frequência de ocorrência dos diversos sentidos do
NÃO OBSTANTE ao longo da história do português parece ter sido afetada pela
competição dessas construções com outros itens e construções – EMBORA,
APESAR DE eNO ENTANTO - o que parece ter determinado a queda no uso de NÃO
OBSTANTE no século XX. Assim, a proposta deste projeto centra-se na pesquisa
da variação NÃO OBSTANTE ~ APESAR DE, NÃO OBSTANTE ~ EMBORA e da variação
NÃO OBSTANTE ~ NO ENTANTO, considerando a gramaticalização de APESAR DE, de
EMBORA, de NO ENTANTO e de NÃO OBSTANTE no âmbito da gramática de
construções. Justifica-se, portanto, a análise de tais estruturas utilizando um
mesmo corpus para a análise simultânea de fenômenos de variação e
gramaticalização. Pretendemos responder algumas questões como as
seguintes: ocorreu um processo de sintatização dessas construções/itens?
Caso positivo, como e quando se deu esse processo de sintatização? Eles
foram simultâneos nas diversas construções/itens na mesma direção? Em qual
veio primeiro? Ocorreu semantização dessas construções/itens? Caso positivo,
como e quando se deu esse processo de semantização? Eles foram
simultâneos nas diversas construções/itens na mesma direção? Em qual veio
primeiro? Podemos falar em lexicalização?
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II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
“NÃO” COMO PREFIXO NA HISTÓRIA DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Lucas Santos Campos
Universidade Estadual do Sul da Bahia ( UESB)
O projeto de pesquisa "A trajetória de gramaticalização dos prefixos na
história da língua portuguesa" objetiva analisar o processo de derivação
prefixal na história desse idioma, buscando investigar a trajetória de
gramaticalização dos prefixos. Ficamos motivados para empreender a pesquisa
quando verificamos que o não, em construções do tipo não-índio, nãoviolência, organização não-governamental, etc. apresentava-se com uma
função diversa daquela explicada e descrita pela gramática tradicional, qual
seja a de advérbio com sentido negativo, (Cf. Campos, 2001). O estudo
justifica-se pela importância e necessidade um povo conhecer seu passado, a
despeito de viver o presente, a fim de ter um claro e sólido conhecimento das
suas origens, para bem poder transmitir a história e cultura a seus sucessores
e programar seu futuro. A principal hipótese é a de que a maioria dos prefixos
são oriundos de itens lexicais independentes que experimentaram o processo
de gramaticalização. O principal procedimento metodológico tem sido o de (i)
coleta, em documentos do português antigo e contemporâneo, de itens lexicais
prefixados, (ii) análise tanto dos prefixos quanto das bases a eles adjungidas e
(iii) interpretação da trajetória de gramaticalização desses elementos. O aporte
teórico insere-se na Linguística Histórica, particularmente no Funcionalismo
linguístico e especificamente nos estudos sobre gramaticalização. Alguns
resultados já foram alcançados, a exemplo (i) do traçado da rota de
gramaticalização do “não” como prefixo, a partir da exploração de um corpus,
constituído de 123 exemplares de um jornal de grande circulação em uma
capital brasileira (Cf. Campos 2001); (ii) da identificação de uma ocorrência do
“não” com caráter prefixal em um documento do séc. XV. Com base em um
corpus constituído por dez obras em prosa, do período compreendido entre os
séculos XIII e XVI, emprego esse que até o momento pode ser considerado o
primeiro dessa partícula, com caráter prefixal (Cf. Campos 2004) e (iii) do
atestado de que o prefixo “não” ocupa um espaço próprio na estrutura da
língua portuguesa, ou seja, esse prefixo não desempenha um papel de
elemento complementar ou auxiliar no quadro da negação prefixal (Cf. Campos
2009). Consideramos importante socializar e discutir esses resultados com
outros pesquisadores ligados ao processo de gramaticalização. Acreditamos
que esse diálogo poderá trazer uma revitalização para nosso trabalho, assim
como uma contribuição para outros estudiosos.
Referências Bibliográficas
CAMPOS, LUCAS. A gramaticalização do não como prefixo no português
brasileiro contemporâneo. Dissertação de mestrado. Salvador: Instituto de
Letras da UniversidadeFederal da Bahia, 2001.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
CAMPOS, LUCAS. A negação prefixal na história da língua portuguesa. Tese
de doutoramento. Salvador: Instituto de Letras da UniversidadeFederal da
Bahia, 2004.
CAMPOS, LUCAS. O desenvolvimento do prefixo “não”. In: OLIVEIRA,
Klebson; CUNHA E SOUZA, Hirão; SOLEDADE, Juliana (orgs.). Do português
arcaico ao português brasileiro: outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2009.
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O DESENVOLVIMENTO DO USO VOLITIVO DE “BUSCAR” E
“ESPERAR”: UMA PROPOSTA A PARTIR DA ABORDAGEM
CONSTRUCIONISTA DA GRAMATICALIZAÇÃO
Nathália Félix de Oliveira
Patrícia Lacerda
Universidade Federal de Juíz de Fora (UFJF)
O presente trabalho tem como objeto de estudo os verbos “buscar” e “esperar”.
Defendemos que esses verbos teriam passado por um processo de mudança
semântico-pragmática, desenvolvendo um uso volitivo, o qual estaria vinculado
a padrões construcionais específicos. Assumindo como perspectiva teórica a
abordagem construcional da gramaticalização (TRAUGOTT, 2003, 2008a,
2008b, 2009, 2011), partimos do pressuposto de que a gramaticalização de
“buscar” e “esperar” como volitivos consiste na emergência de construções
gramaticalmente identificáveis que, no caso, indexam a vontade/o desejo do
falante. Com a identificação dessas construções individuais, procuramos,
ainda, obter indícios de um sistema hierárquico, com diferentes níveis de
esquematicidade, que estaria envolvido no desenvolvimento de verbos volitivos
(como “querer”, “tentar” e “procurar”) no português. Para tanto, observamos os
quatro níveis propostos por Traugott (2008a, 2008b), a saber: construtos,
microconstruções, mesoconstruções e macroconstruções. Assim sendo,
realizamos uma análise pancrônica, considerando a distribuição do nosso
objeto desde o século XIII até o português contemporâneo. Os dados
diacrônicos foram selecionados do corpus do projeto “CIPM – Corpus
Informatizado do Português Medieval” e do corpus do projeto “TychoBrahe”. Já
os dados sincrônicos recobrem tanto a modalidade oral quanto a modalidade
escrita da língua. Os dados orais foram coletados nos seguintes corpora: o
corpus do projeto “Mineirês: a construção de um dialeto”, o corpus do projeto
“PEUL - Programa de Estudos sobre o Uso da Língua” e o corpus do projeto
NURC/RJ - Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro. Já os
dados sincrônicos escritos foram compostos por textos disponíveis na Internet
retirados de blogs e de revistas de grande circulação nacional (Revista Veja,
Revista Isto é, Revista Época, Revista Caras, Revista Cláudia e Revista Ana
Maria).
Referências Bibliográficas
TRAUGOTT, E. C. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.;
JANDA, R. D. (eds.). The handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blackwell,
2003.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
______. Grammaticalization, constructions and the incremental development of
language: suggestions from the development of degree modifiers in English. In:
ECKARDT, R.; JÄGER, G.; VEENSTRA, T. V. (eds.). Variation, selection,
development: probing the evolutionary model of language change. Berlin/New
York: Mouton de Gruyter, 2008a.
______. All that he endeavoured to prove was...: on the emergence of
grammatical constructions in dialogic contexts. In: COOPER, R. & KEMPSON,
R. (eds.) Language in flux: dialogue coordination, language variation, change
and evolution . London: Kings College Publications, 2008b.
______. Grammaticalization and Construction Grammar. In: CASTILHO, A. T.
(org.). História do PortuguêsPaulista. vol. 1. Campinas: Unicamp/Publicações
IEL, 2009.
______. Toward a coherent account of grammatical constructionalization,
Slightly
revised
version
of
powerpoint
presentation
at
SocietasLinguisticaEuropea (SLE) 44, Spain, September 8th-11th, 2011.
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ORAÇÕES ENCAIXADAS COM OS VERBOS QUERER,
PRETENDER E DESEJAR: GRAMATICALIZAÇÃO OU
MOTIVAÇÃO EM COMPETIÇÃO?
Fernanda Cunha Souza
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Neste trabalho, com base na teoria funcionalista, propomo-nos a estudar as
orações completivas em que os auxiliares modais que indicam volição: querer,
pretender e desejar introduzam as tradicionalmente denominadas orações
subordinadas substantivas objetivas diretas – ou encaixadas. Com base em
Givón (1990), segundo o qual as propriedades sintáticas das completivas estão
relacionadas às propriedades semânticas do verbo da principal (ou matriz),
acreditamos que os níveis de integração das orações completivas introduzidas
pelos volitivos estão ligados a diferentes acepções que esses verbos possam
apresentar. É possível, assim, traçar diferentes níveis de gramaticalização em
completivas introduzidas por querer, com semântica e morfossintaxe que se
aproximam ou mais ou menos de seu uso como verbo pleno. Já as completivas
introduzidas por pretender e desejar não apresentam essa possibilidade; o que
defendemos pode ser explicado pela proposta de “motivações em competição”.
Segundo Dias (2010), as orações matrizes nas construções subjetivas podem
apresentar tanto o processo de gramaticalização quanto as motivações em
competição. Nossa hipótese é de que o mesmo pode considerado em relação
às completivas com verbos volitivos: podem ser vistas como processo inicial de
gramaticalização (HOPPER (1991), TRAUGOTT (2005), BYBEE, PERKINS &
PAGLIUCA, 1994) – se introduzidas por querer, em diferentes configurações
morfossintáticas – ou como forças que estabelecem motivações em
competição (DU BOIS, 1987) – se compararmos as introduzidas por um tipo de
querer específico às introduzidas por pretender e desejar. Para comprovar essa
hipótese, partiremos de exemplos retirados de corpus pancrônico composto
para tese de doutoramento (SOUSA, 2011).
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
Referências Bibliográficas
BYBEE, Joan; PERKINS, Revere; PAGLIUCA, William. The evolution of
Grammar.Tense, aspect and modality in the languages of the word.Chicago:
University of Chicago Press, 1994.
DIAS, Nilza Barrozo. Gramaticalização de Orações Matrizes. In: SEMINÁRIO
DO GEL, 58., 2010, Programação. São Carlos (SP): GEL, 2010. Disponível em:
<http://www.gel.org.br/?resumo=6522-10>. Acessoem: 14.02.2014.
DU BOIS, John V - The discourse basis of ergativity. Language, vol 63, número
4, 1987.
GIVÓN, T. Syntax. A Functional-Typological Introduction, volume 2.
Amsterdam: Benjamins, 1990.
HOPPER, Paul. On some principles of grammaticalization. In: Approaches to
grammaticalization. Traugott & Heine (editors). Volume I. John Benjamins.
1991.
TRAUGOTT, E. Constructions in Grammaticalization. In: Joseph e Janda
(editors). The Handbook of Hisorical Linguistics.BalckwellPublising. 2005
SOUSA, Fernanda Cunha. Volição, futuridade, irrealis: gramaticalização nas
construções com o verbo querer. 2011. 215 ff. Tese de doutorado (Linguística).
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de fora,
2011.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Um estudo textual-discursivo do verbo no Português
do Brasil, Ano de Obtenção: 1991, Doutorado em Linguística. Universidade
Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil.
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O PRETÉRITO MAIS QUE PERFEITO SIMPLES JÁ NÃO É MAIS
O MESMO
Joalede Gonçalves
Universidade de Salvador (UNIFACS)
Toda língua natural, por servir de veículo de comunicação para seres humanos,
está em constante processo de mudança. As transformações que ocorrem, no
entanto, não são imediatamente sentidas pelos falantes, tampouco esses
mesmos falantes estão necessariamente conscientes de tais mudanças, que
são por eles mesmos conferidas. Essa observação nos tem servido de mote
para a realização de estudos ligados a esse campo. Neste trabalho,
apresentamos notas interpretativas do processo de gramaticalização, sofrido
pelo pretérito mais-que-perfeito simples. A forma acabou perdendo totalmente
a noção de tempo verbal, tendo assumido o valor de uma interjeição, em
orações optativas. O corpus se constitui de cartas pessoais e oficiais de
portugueses e brasileiros, escritas nos séculos XVIII, XIX e XX. Optamos pelo
gênero epistolar tendo em vista que é um dos mais antigos registros de escrita
encontrados na história da humanidade, configurando-se como uma
circunstância espontânea de comunicação verbal, cuja característica essencial
é a relação que se estabelece entre o "destinatário" e o "remetente”. Por se
tratar de um estudo que busca analisar a linguagem em uso, dá suporte à
pesquisa a abordagem teórico-metodológica do Funcionalismo linguístico, cujo
pressuposto principal é a concepção da língua como um instrumento de
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
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comunicação, maleável à satisfação das necessidades do falante. No seio do
Funcionalismo, desenvolvem-se os estudos sobre a gramaticalização, um tipo
específico de mudança linguística. Esses estudos buscam analisar a trajetória
de itens lexicais, desde sua atuação como forma plena, passando pelas
alterações morfológicas, fonológicas e semânticas a que são submetidos, até
deixar de se constituir uma forma livre. A abordagem dos conceitos da
gramaticalização e os fenômenos a ela associados. Nesta análise lançamos
mão dos seguintes autores: Heine (1991), Hopper (1991), Lehmann (1982),
Bybee (1994), Neves (2004, 2006). A metodologia adotada foi a de (i)
levantamento das ocorrências do pretérito mais-que-perfeito nos textos do
corpus; (ii) classificação do mais-que-perfeito simples; (iii) interpretação da
trajetória de gramaticalização desses elementos. Esperamos que nossa
participação neste Workshop nos possibilite levar uma contribuição para os
estudos de levantamento histórico da língua portuguesa, à luz do
funcionalismo, como também nos enriquecermos de conhecimentos e
informações que nos possibilite avançar em nossos estudos.
Refêrencias Bibliográficas
BANDEIRA, Joalêde Gonçalves. Carteando e dialogando com o pretérito maisque-perfeito:os caminhos trilhados do século XVI ao XX. Salvador: UFBA –
Universidade Federal da Bahia, 2011. Tese de doutorado.
HEINE, Bernd. Grammaticalization. In: JOSEPH, Brian D.; JANDA, Richard D.
(eds.) The handbook of historical linguistics. Blackwell Publishing, 2003.
HOPPER. P. On some principies of grammaticization. In: HOPPER, P.;
TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University
Press, 1991.
LEHMANN, C. Thoughts on grammaticalization: a programmatic sketch.
Arbeiten des Kõlmer Universalien - Prôjekts 48. Cologne: Universitat zu Koln,
Institut für Sprachwissenchaf, 1982.
NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática funcional. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
______ . Gramática de usos do português. São Paulo: Editora UNESP, 2006.
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GT 9 - GRAMATICALIZAÇÃO E NOVAS PROPOSTAS DE
PESQUISA: INTERFACES
Coordenadora: Maria Célia Lima Hernandes (USP)
A FUNCIONALIDADE DAS EXPRESSÕES CRISTALIZADAS NO
DIALETO GOIANO: UMA HIPÓTESE DE GRAMATICALIZAÇÃO
Déborah Magalhães de Barros
Universidade Estadual de Góias (UEG)
Estudos funcionalistas, dentre eles Barros (2011), vêm atestando que no
Português Brasileiro (PB), na língua falada, há um alto índice de não uso do
pronome clítico em função reflexiva, conforme o que é prescrição da Gramática
Tradicional (GT). Por outro lado, observa-se que o pronome aparece em
outros contextos, como nas “expressões cristalizadas”, a saber: dane-se, se
vire,se manda. Essas expressões, que podem ser analisadas como
construções, sempre se apresentam com a presença do pronome clítico, e não
é possível perceber ou analisar os seus constituintes (verbo e pronome) de
modo isolado. O fato do pronome não ser empregado em outras situações e
sempre ser empregado nessas construções, pode indicar uma hipótese de
gramaticalização, uma vez que elas assumem novos significados discursivos
que são produtivos e funcionais para a interação. Assim, esta pesquisa
verificará se realmente existem indícios de gramaticalização nessas
construções e qual a funcionalidade do emprego delas. Os pressupostos
teóricos estão na Teoria de Gramaticalização, especialmente em Heine, Claudi
e Hünnemeyer (1991), Traugott (2002, 2003), Bybee, Perkins e Pagliuca
(1994), Hopper (1991, 1996) e na Gramática de Construções de Goldberg
(1996, 2006), Croft e Cruse (2004) e Croft (2007) e Langacker (2013). O corpus
é constituído de dados do Projeto “O português contemporâneo falado em
Goiás - Fala goiana”. Estão em análise trechos de falas de homens e mulheres
com até 7 anos de escolaridade.
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Referências bibliográficas
BARROS, D. M. Aspectos funcionais relativos ao (des)uso do reflexivo na fala
goiana. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em Letras e
Linguística, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2011.
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aspect, and modality in the languages of the world.Chicago: The Universityof
Chicago Press, 1994.
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2004.
CROFT, W. Radical Construction Grammar: Syntactic Theory in Typological
Perspective. Oxford: Oxford University Press, 2007.
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University Press, 1993.
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TRAUGOTT, E. C.; DASHER, R. B. Regularity in Semantic Change.(Cambridge
Studies in Linguistics, 97). Cambridge: Cambridge University Press, 2002.
TRAUGOTT, E. C. Constructions in grammaticalization. In: JOSEPH, B. D.;
JANDA, J. (Ed.). The handbook of historical linguistic. Oxford, 2003.
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GRAMATICALIZAÇÃO E SUBJETIVIDADE NO ESTUDO DO
FUTURO PERIFRÁSTICO (VERBO IR NO PRESENTE +
INFINITIVO) NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Jussara Abraçado
Universidade Federal Fluminense (UFF)
No português brasileiro, as formas mais comuns de expressar o tempo futuro
são: (a) verbo ir no presente + infinitivo (vou fazer isso amanhã);b) futuro
simples (Farei isso amanhã); e (c) presente do indicativo (Faço isso amanhã).
Interessa-nos, particularmente, o futuro perifrástico, que melhor se encaixa na
proposta desse trabalho: focalizar a relação entre gramaticalização e
subjetividade, sob a perspectiva da Linguística Cognitiva. Como se
sabe,ofuturo possui um valor temporal que não permite expressar uma
modalidade factual, pois só aceita asserções segundo a avaliação que o falante
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faz da possibilidade ou não da ocorrência de um estado de coisas. Tal
particularidade permite afirmar que há sempre um valor modal ligado ao valor
temporal e, por conseguinte, inerentemente a tudo isso está o fenômeno da
subjetivização. Para Langacker (1990), subjetividade e subjetivação não se
referem a expressões linguísticas, propriamente ditas, mas à maneira como um
elemento de uma conceituação é perspectivamente construído, ou seja, se
objetiva ou subjetivamente. Nesse viés, Langacker usa o termo subjetivização
para se referir a um aumento na subjetividade, ou seja, um aumento na
perspectivação conceptual de alguma noção, o que corresponde a um
realinhamento de uma dada relação do eixo objetivo para o eixo subjetivo
(LANGACKER 1990). Nesses termos, a subjetivação ocorre atrelada a um
processo de desbotamento semântico (semanticbleaching) ou deatenuaçãoda
concepção objetiva, o que se dá em virtude de o componente subjetivo (a
perspectiva do conceptualizador) ser imanente à concepção objetiva, por fazer
parte do próprio processo de conceptualização. Langacker ainda discorre
sobre a relação entre subjetivização e gramaticalização, demonstrando-a
através de relatos de diversos casos como, por exemplo, a evolução, no inglês,
do sentido de futuro do verbo togo. A subjetivização, segundo o autor, é um
fenômeno gradual e multifacetado que se relaciona aos seguintes parâmetros
de mudança: (a) mudança de estatuto (atual > potencial; específico >
genérico); (b) mudança de foco de atenção (perfilado > não perfilado); (c)
mudança de domínio (interação física> interação experiencial ou social); (d)
mudança de fonte de atividade (entidade “em cena” > entidade “fora de cena”).
Com base dados de fala coletados da Amostra Censo (Projeto Censo da
Variação Linguística no Rio de Janeiro, PEUL/UFRJ), pretendemos demonstrar
que fenômeno semelhante ocorre com o futuro perifrástico (verbo ir no
presente + infinitivo)no português do Brasil.
Referência bibliográfica
Langacker, Ronald W. Subjectification. In: Cognitive Linguistics 1(1), 1990, p.538.
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A GRAMATICALIZAÇÃO DE ORAÇÕES COMPLETIVAS
IMPESSOAIS COM SER + NOMEB
Nilza Barrozo Dias
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Abordo, neste trabalho, a gramaticalização de construções completivas
impessoais comverbo ser, na modalidade falada mineira e fluminense.
Confronto as amostras de discurso institucional (PROCON/ Juiz de Fora/ Minas
Gerais, e Audiências Criminais/ Ervália/ Minas Gerais) com as amostras de fala
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mineira espontânea, Juiz de Fora e arredores, que constituem a Zona da Mata
mineira, e com as amostras de fala fluminense espontânea, Itaocara e São
Gonçalo. As completivas impessoais se realizam sintaticamente como oração
matriz + oração completiva na função de sujeito. A hipótese de trabalho prevê
que o espaço inicial da sentença complexa é o espaço de marcação de
(inter)subjetividade, que se faz representar, semanticamente, pelas
modalidades deôntica e epistêmica e pela avaliação do tipo apreciação, afeto e
julgamento. Pode-se observar ainda a marcação da atitude do falante na ordem
em que as orações se posicionam: a ordem não marcada é oração matriz +
oração completiva, em que a oração matriz denota um dos valores semânticos
acima especificados e se faz representar, morfologicamente, por adjetivos,
mais raramente substantivos e verbos de particípio modalizadores e
avaliativos. Os nossos resultados mostram a predominância das completivas
impessoais avaliativas sobre as modalizadoras. Outrofator relevante na análise
das completivas impessoais é a composição semântico-discursiva que se faz
entre a construção completiva impessoal que representa uma informação de
valor genérico, legal, passível de realização por qualquer falante, e o entorno,
que é caracterizado por impressões ou experiências pessoais do falante,
consumidor ou juiz. Observaremos ainda o controle do evento projetado na
oração completiva por parte do falante, consumidor ou juiz. Se a completiva se
realiza na forma de infinitivo, o controle por parte do falante pode ser maior do
que nas formas de subjuntivo ou indicativo, quando o controle do falante pode
não ser tão efetivo,já que o sujeito da oração completiva pode ser diferenciado.
Mas, no caso dos dados do discurso institucional, os resultados mostram que o
controle pode também se possível se for inferido o mundo das leis como
suporte para o juiz na execução do conflito. Os pressupostos teóricos são do
Funcionalismo Americano com contribuições da Semântica Cognitiva.
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USOS DE TIPO NO PB
Heloise Vasconcellos Gomes Thompsoni
Violeta Virginia Rodrigues
Universidade Federal Rio de Janeiro (UFRJ)
O item tipo, apesar de ser facilmente identificado entre os membros da classe
dos substantivos, apresenta, na Língua Portuguesa, usos [+ gramaticais],
caracterizando um caso de gramaticalização (cf. Traugott: 2009). Apesar de
seus novos usos mostrarem-se recorrentes em contextos reais do Português
do Brasil, são pouquíssimos os estudos abordando tal item. Lima-Hernandes
(2005) ocupou-se em descrever alguns deslizamentos funcionais de tipo e de
outros itens em processo de gramaticalização. No entanto, ainda percebemos a
necessidade de uma descrição mais aprofundada de tipo, considerando,
também, os processos de articulação de cláusulas em que ele pode se
materializar. Assim, temos como objetivo descrever suas funções, além de
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propor uma análise para as cláusulas em que é empregado. Para tanto,
utilizaremos os pressupostos teóricos do Funcionalismo, partindo da premissa
de que a língua é um sistema adaptativo, estando em constante reformulação.
Dentre os principais autores funcionalistas a que recorremos, Halliday (2004)
merece destaque. Partilhamos com o autor a ideia de que as cláusulas devem
ser analisadas dentro de seu contexto de uso e para além de sua estrutura.
Nesse sentido, buscamos, também, apresentar as relações semânticas que
emergem da articulação de cláusulas e que são reforçadas por meio do item
tipo no contexto linguístico. Os dados analisados provêm de quatro diferentes
corpora — corpus D&G, corpus Varport, diferentes roteiros de cinema brasileiro
e postagens da rede social Facebook — abarcando tanto dados de língua oral
quanto de língua escrita. Segundo Thompson (2013), há três diferentes
funções para o item tipo, as quais englobam nove usos: substantivo [genérico], substantivo [+ genérico], substantivo delimitador, articulador
delimitador, articulador modificador, articulador de aproximação, articulador de
comparação, articulador de adendo e marcador. A autora coletou um total de
520 dados, que nos ajudam a confirmar a hipótese da multifuncionalidade de
tipo.
Referências Bibliográficas
HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. 3ª ed. NewYork:
Oxford University Press Inc, 2004.
LIMA-HERNANDES, M. C. A interface sociolinguística/gramaticalização:
estratificação de usos de tipo, feito, igual e como. Tese de doutorado.
Campinas: UNICAMP, 2005.
TRAUGOTT, E. C. Grammaticalisation and construction grammar. In.:
CASTILHO, Ataliba T. História do português paulista. Campinas: IEL/ Unicamp,
2009, p. 93-101. Série Estudos, v.1.
THOMPSON, Heloise Vasconcellos Gomes. Do léxico à gramática: os
diferentes usos de tipo. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras/UFRJ, 2013. p.
118, mimeo. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa.
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RECURSIVIDADE, ANALOGIA E CONSCIÊNCIA: EVOLUÇÃO
LINGUÍSTICA E EVOLUÇÃO FILOGÊNICA
Maria Célia Lima-Hernandes
Universidade de São Paulo (USP-CNPq-FAPESP)
Neste trabalho, originado num campo teórico cognitivo-funcionalista, assumo
como objetivo retomar alguns pontos que considerei anteriormente pouco
explanáveis em torno dos processos de gramaticalização e de
construcionalização. Um desses pontos está situado na tensão estabelecida,
ainda nos momentos iniciais dos estudos sobre gramaticalização, entre
lexicalização e gramaticalização. A contribuição de Brinton e Traugott (2005)
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consubstanciou-se como um passo importante para o apaziguamento dos
humores dos que questionavam o princípio da unidirecionalidade à época. Mais
recentemente, questões relativas ao estatuto da construção apareceram.
Solidarizando-nos com Diewald (2002), passamos a voltar a atenção para tipos
de contextos que guiam a construcionalização. Passamos a depositar grande
interesse no que seria, na essência, a construção. É desse ponto, a meu ver
irresolvido, que parto e, para tanto, necessariamente contarei com os mais
recentes avanços das pesquisas desenvolvidas no campo da neurociência em
busca de um diálogo produtivo. Essa decisão justifica-se no paralelo que
costumeiramente traçamos entre ontogenia-filogenia e evolução linguística, o
qual rendeu muitos debates, fazendo emergir alguns consensos também.
Dentre esses citamos dois: o caráter analógico indissociável do indivíduo e
sua habilidade recursiva apreensível nos usos linguístico. Grosso modo,
recursividade refere-se a um processo de repetição e, tecnicamente, pode
nomear variados tipos de respostas que replicariam, em algum nível, uma ideia
essencial e analógica. Na área da linguagem, a recursividade tem sido
demonstrada tanto na função quanto no método para a solução de problemas.
Um ser analógico visa a replicar ações e comportamentos exitosos. Não é uma
questão de falta de criatividade, mas de adaptação, sobrevivência, perícia e
economia de energia. Funcionalistas têm tratado dessa questão toda vez que
lidam com o princípio de iconicidade, por exemplo. Vários trabalhos (Oliveira,
2012; Martelotta, 2010; Lima-Hernandes, 2010; Furtado da Cunha, 2012;
Romerito da Silva et alii, 2013; Defendi, 2013; Rauber & Ribeiro, 2012; Braga &
Paiva, 2011; dentre outros), principalmente inspirados em Givón (2009), têm
colocado a olhos nus que a sintaxe dobra-se sobre si mesma para revelar a
essência do ser. A despeito de soar poético, devemos nos lembrar de que o
indivíduo busca adaptar-se indefinidamente a ambientes e situações para
sobreviver e perpetuar objetivos e interesses em forma de ações,
comportamentos. E o melhor lugar para a visualização disso é o espaço da
reverberação humana: a linguagem. A discussão que proponho desloca para o
foco de atenção a teoria cognitiva elaborada por Damásio (2011), que permitiu,
por imagem cerebral, em larga escala de testagem, verificar a correlação entre
biofísica e graus de consciência humana. Feito isso, demonstro que todo
coespecífico humano, via recursividade, desloca para fora do campo da
perspectiva do outro (e de si mesmo) o que está totalmente adormecido na
consciência. Inversamente, esse mesmo indivíduo é capaz de lançar para o
ponto de atenção corrente o rema, o foco, num jogo interessante, controlado
pela representação icônica. Somente o que está no foco de atenção, em níveis
de consciência mais altos e de forma compartilhada, pode se prestar a
participar desse jogo intersubjetivo que segue marcando graus de
complexidade, níveis de importância e graus de integração cognitiva. Essa
explanação será ilustrada por meio de uma protoconstrução aqui rotulada de
prep-X presente nos usos da língua portuguesa. Por fim, demonstro que o que
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temos desenvolvido no campo da gramaticalização e da construcionalização
instaura-se no espaço de maior consciência, porém, por questões de
perspectivização, pode ocupar uma posição marginal da atenção. A baixa
percepção que carreiam não impede que essas construções não-marcadas
continuem codificadas (e fossilizadas), como a denunciar a ancestralidade
direta de processos gramaticais.
Referências Bibliográficas
BRINTON, L. J. & TRAUGOTT,
Change. Cambridge: C. U. P., 2005.
E.
C..Lexicalization
and
Language
DIEWALD, Gabriele. A model for relevant types of contexts in
grammaticalization. In: WISCHER, Ilse& DIEWALD, Gabriele. New
reflectionsongrammaticalization. Amsterdam: John Benjamins, 2002, pp. 103120.
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1 ed. Granada (Espanha)/Évora: Centro de Estudos em Letras /EditoralAtrio,
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FURTADO DA CUNHA, M. A.. Complements of verbs of utterance and thought
in Brazilian Portuguese narratives.Journal of Portuguese Linguistics, v. 11, p. 334, 2012.
ROMERITO DA SILVA, José et alii. O adjetivo. In: CASTILHO, Ataliba T. de
História do Português do Brasil, inédito, versão de 2013.
DEFENDI, Cristina L."Portanto, conclui-se que": processos de conclusão em
textos argumentativos. Tese de doutoramento. São Paulo: USP, 2013.
RAUBER, André Luiz & RIBEIRO, Marcello. Chegou aqui...chega delirava!
Alguns usos de chegar no português falado - indícios de gramaticalização. In:
SANTIAGO-ALMEIDA, M.M.; LIMA-HERNANDES, M.C. (Org.). História do
português paulista: modelos e análises. 1 ed. Campinas: Unicamp-Publicações
IEL; FAPESP, 2012, v. 3, p. 235-247.
BRAGA, Maria Luiza & PAIVA, Maria Conceição.
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gramática de construções: estabilidade e instabilidade das construções
complexas de causa em tempo reall. Letras & Letras (UFU. Impresso), v. 27, p.
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GIVÓN, T. The Genesis of Syntactic Complexity: Diachrony, Ontogeny, Neurocognition, Evolution. Amsterdam: John Benjamins Publishing, 2009.
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DAMÁSIO, Antonio. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Cia. Das Letras,
2011.
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CATEGORIAS COGNITIVAS EM NOVAS PERSPECTIVAS
Renata Barbosa Vicente
Universidade de São Paulo (USP)
Universidade Bandeirante Anhanguera (UNIAN)
Esta pesquisa tem como objetivo descrever e analisar, a partir das
construções linguísticas usadas para marcar a introdução de um texto
dissertativo-argumentativo, pela perspectiva da Gramaticalização e da
Cognição, as categorias linguísticas mais frequentes. Para isso usamos um
corpus que totaliza 1600 redações de vestibular da FUVEST (Fundação para o
vestibular – USP), produzidas no período de 2004 a 2011, sendo 50% delas as
melhores e as outras 50% as piores consideradas pela banca corretora.
Teoricamente, fundamentamos esta pesquisa nos estudos sobre Cognição, a
partir de Tomasello (2003), Damásio (2011), Del Nero (1997) e sobre
Gramaticalização Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991),Bybee (2010) LimaHernandes (2005, 2010, dentre outros). Todo o material analisado teve
tratamento quantitativo e qualitativo e chegou-se à determinação de que a
categoria espaço é a categoria cognitiva mais frequente na defesa de uma tese
e difere da categoria lugar. Foi possível, assim, constatar que espaço,
embora em vários contextos seja utilizado como sinônimo de lugar, sob o
ponto de vista linguístico-cognitivo lugar tem caráter mais concreto,por
determinar localização física, enquanto espaço situa-se mais à
direitadocontinuum das categorias cognitivas propostas por Heine, Claudi e
Hünnemeyer (1991), após a categoria tempo, apontando para maior grau de
abstração metafórica. Também é foco deste trabalho evidenciar que o
processamento cognitivo para a produção textual envolve vários fatores
mentais como o protosself (condição básica ao indivíduo), self central (todo o
conhecimento adquirido) e self autobiográfico (a forma de externalizar o
conhecimento adquirido em texto escrito). Destacamos também, a forma como
o candidato começa uma dissertação, procurando criar um espaço conjunto de
atenção, que é resultado de todos esses selves trabalhando juntos para a
(inter)subjetividade materializada via categorias cognitivas.
Referências Bibliográficas
BYBEE, Joan. Language, usage and cognition.Cambridge: University Press,
2010.
DAMÁSIO, A. R. E o cérebro criou o homem; tradução Laura Teixeira Motta _
DEL NERO, H. S. O Sítio da Mente: Pensamento, Emoção e Vontade no
Cérebro Humano. São Paulo. Editora CollegiumCognitio, 1997.
HEINE, Bernd et alii. Grammaticalization: a Conceptual Framework.Chicago:
The University of Chicago Press, 1991.
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
LIMA-HERNANDES, M. C. A interface Sociolinguística/Gramaticalização Estratificação de usos de tipo, feito, igual e como - sincronia e diacronia. Tese
de doutoramento. Campinas: IEL/UNICAMP, 2005.
________________, M.C. Processos Sociocognitivos da Mudança Gramatical:
Estrutura x-que do português. Tese de livre docência. São Paulo: FFLCH,
2010.
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MUDANÇA GRAMATICAL, HISTÓRIA SOCIAL E TRADIÇÃO
DISCURSIVA: UM OLHAR INTERFACETADO SOBRE AS
FORMAS TRATAMENTAIS TU-VOCÊ EM CARTAS PESSOAIS
PERNAMBUCANAS DOS SÉCULOS XIX E XX
Valéria S. Gomes
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
A presente proposta consiste em um estudo sócio-histórico dos casos do
sistema tratamental tu-você em cartas pessoais pernambucanas dos séculos
XIX e XX.Nessa perspectiva interfacetada de investigação, “os textos não são
mais o objeto final da nossa investigação, mas o meio para distinguir as
gramáticas dos falantes de português que os escrevem.” (GALVES, 2012, p.
66). Este tipo de análise coloca em evidência o debate acerca da mudança
linguística e textual e das interpretações sobre a nossa formação históricosocial. Este é o objetivo de Lopes (2011, 2012) no processo de investigação do
sistema pronominal de tratamento no português brasileiro. O presente estudo
segue o mesmo propósito, com o intuito de verificar: se há variação entre as
formas relacionadas ao paradigma de você e tu numa mesma carta; em que
contextos morfossintáticos as formas relacionadas a você e/ou tu ocorre; e em
que parte constitutiva da carta as formas tratamentais são empregadas.Nesse
sentido, a análise parte de três eixos: a mudança gramatical; a história social; e
as tradições discursivas. As cartas entre outros gêneros estão submetidas aos
padrões pragmáticos como: a quantidade de interlocutores, o grau de
familiaridade, o conhecimento partilhado, o grau de espontaneidade etc.
(Jacob, 2001). As cartas pessoais apresentam alguns elementos constitutivos
que se encarregam de evidenciar traços prototípicos do texto, mas que estão
sujeitos a variações na estrutura composicional, são eles: data e local;
saudação; contato inicial (captação de benevolência); núcleo da carta; seção
de despedida; e assinatura.São encontrados nesses documentos temas da
intimidade cotidiana das famílias e políticos, o que evidenciao elo entre o tema
abordado nesses documentos e a relação que se estabelecia entre os
interlocutores: se sãoamigos, familiares, amantes etc. Essa relação
estabelecida entre os interlocutores interfere na escolha tratamental.
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Referências Bibliográficas
GALVES, C. Periodização e competição de gramáticas: o caso do português
médio. In: LOBO, T. et. al. (Orgs.). Rosae: linguística histórica, história das
línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2012.
JACOB, Daniel. Representatividad linguística o autonomia pragmática del texto
antiguo. El ejemplo del pasado compuesto. In: Lengua Medieval y Tradiciones
Discursivas em la Península Ibérica. Frankfurt amMain: Vervuert / Madrid:
Iberoamericana, 2001, pp. 153-176.
LOPES, C. R. dos S. Tradição discursiva e mudança no sistema de tratamento
do português brasileiro: definindo perfis comportamentais no início do século
XX. In: Alfa. São Paulo 55(2), 2011, p. 361-392.
________. Os caminhos trilhados por você em cartas cariocas (séculos XIX e
XX). In: LOBO, Tânia et. al. (Orgs.). Rosae: linguística histórica, história das
línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA, 2012.
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O MECANISMO DA ESPECIFICAÇÃO REFERENCIAL EM
PROCESSOS DE GRAMATICALIZAÇÃO E LEXICALIZAÇÃO
Vanda Cardozo de Menezes
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Os mecanismos de generalização e metaforização, por serem tão amplamente
exemplificados na gramaticalização, e também na lexicalização, podem ser
equivocadamente
tomados
como
únicos
mecanismos
semânticos
condicionantes e caracterizadores desses dois processos (HOPPER &
TRAUGOTT, 1993). A hipótese de unidirecionalidade na mudança linguística,
no caso da gramaticalização, ao indicar uma trajetória para o mais abstrato,
favoreceu a hipótese de uma trajetória unidirecional também para o
maisgenérico. Neste trabalho, temos a intenção de mostrar, com base em
Kuteva (2001), que o mecanismo de especificação, ao lado do de
generalização, pode também estar envolvido nos processos de
gramaticalização e de lexicalização. Tomam-se, para esta apresentação, casos
de pesquisa sobre os fenômenos de redução de valência verbal e de
nominalização, em que tanto construções derivadas infinitivas quanto nomes
deverbais passam pelo mecanismo de especificação, ao avançarem no
processo de gramaticalização ou de lexicalização (MACKENZIE, 1985).
Algumas ocorrências no corpus para estudo das orações infinitivas iniciadas
por para (MENEZES, 2001) mostram o predicado infinitivo em processo de
redução de argumento, favorecendo a identificação da construção em um grau
mais avançado denominalizaçãoe de generalização (cf. ... “aquele pessoal que
tinha um status... pra receber... não é?...”), porém outras ocorrências (cf.
“pessoas que tinham autorização para entrar no prédio”) mostram nomes
deverbais na função de argumento do verbo ter em contexto em que devem ser
II Workshop Internacional sobre Gramaticalização
Universidade Federal Fluminense, 07 e 08 de maio de 2014.
considerados mecanismos semânticos aparentemente opostos: generalização
na significação assumida pelo verbo ter; especificação/generalização na
significação do nome deverbal autorização; e especificação na construção
iniciada por para na função de argumento do nome. Cabe, portanto, nesta
etapa dos estudos sobre gramaticalização, questionar definições rígidas de
determinados pontos dos processos gramaticais e lexicais no uso e
desenvolvimento das línguas. Cabe, ainda, discutir o estabelecimento de
rigoroso paralelismo entre a mudança do que se considera sentido mais
concreto para sentido mais abstratoe a mudança do que se considera sentido
mais específico para mais genérico. Cabe, também, reler os estudos
precursores sobre gramaticalização e lexicalização para verificar se, com base
nesse paralelismo, não se estaria descartando mecanismos semânticos, como
o da especificação ou da restrição de significado, também possivelmente
atuantes nesses dois processos que conjugam estabilização desestabilização
referencial.
Referências Bibliográficas
HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: University
Press, 1993.
KUTEVA , T. Auxiliation. An enquiry into the nature of grammaticalization. New
York: Oxford University Press, 2001.
MACKENZIE, J. L. Nominalization and valency reduction.In: A. M. Bolkenstein,
C. de Groot & J. L. Mackenzie (eds.) Predicates and terms on Functional
Grammar.Dordrecht: Foris, 1985. 29-47.
MENEZES, Vanda Cardozo de. Construções infinitivas iniciadas por para:
oracionalidade e redução. 2001, 155p. Tese de Doutorado.Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
___________. Referenciação e gramática: a redução de predicados. In: Atas
Del XV Congreso Internacional da ALFAL, Montevideo: ALFAL, 2008. Home
page: http://www.mundoalfal.org
___________. Expressões lexicalizadas no português brasileiro. In: Roncarat,
C.; Abraçado, J. (org.) Português Brasileiro II. Niterói: EdUFF, 2008, p. 301310.
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