A AULA UNIVERSITÁRIA: DEFINIÇÃO, TIPOS E IMPORTÂNCIA NA QUALIDADE DO ENSINO RESUMO Prof. Dr. Benito Almaguer Luaiza CEPEDH. Imperatriz/MA Diretor do Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento Humano Psicanalista do Consultório Equilíbrio Núcleo de estudos e pesquisas educacionais “Andrea L. Rojas” Email: [email protected] Este artigo inédito é resultado de vários anos de pesquisas teóricos e empíricas, incluindo também, uma revisão da literatura de pesquisa didático-pedagógica e reflexões críticas sobre experiências em diversos contextos. Tentar-se-á esclarecer aos interessados no assunto o que é uma aula como categoria didática; a partir de uma breve, mas cientificamente fundamentada teoria produzida pela pesquisa e prática do autor, pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Central de Ciências Pedagógicas –ICCP (Cuba), e o Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento Humano –CEPEDH (Brasil), e outras práticas e experiências internacionais. Depois de definir o que é uma aula, se passa a identificar sua estrutura, sua tipologia, e logo, a importância de esta operação didática que determina a qualidade do ensino superior, entre muitos outros aspectos subjetivos e objetivos do processo docente. Incluem-se ao final, os tipos de aulas metodológicas que têm o papel de desenvolver as competências didático-pedagógicas dos professores universitários. O resultado significativo está na delimitação do conceito de aula como o principal componente da estrutura ensinante, e núcleo entre as outras duas categorias didáticas de Docência e Aprendência, onde se concretizam e se articulam a dinâmica do ensino e o desenho curricular, também, é digno destacar a tipologia que ajudará no planejamento didático. PALVRAS CHAVES: Aula, Ensino Superior, Professor Universitário. INTRODUÇÃO Toda ciência sustenta sua fundamentação teórica a partir de suas categorias. A Didática, como ciência autônoma, não é diferente; e por isso, seu estudo se sustenta, entre outras coisas, nas três principais categorias gerais: docência, aula e aprendência. Neste trabalho em particular se centrará a análise na categoria aula, como foi definido no título do trabalho. Este trabalho constitui um esforço para esclarecer o que realmente se deve identificar como aula, no contexto universitário. A palavra aula, na prática do dia-a-dia se associa ou bem a espaço ou a tempo. Por exemplo, segundo Antunes,C (2009) um dos conceitos para aula é bem mais espaço ou local para o ensino do que propriamente a forma de construí-lo. Ainda, sobre essa conceição de espaço é interessante sinalar que em espanhol a palavra aula, com igual pronunciação e igual grafia, designa o espaço onde se desenvolvem as lições (“clases” em espanhol). O seja que sala de aula em espanhol se diz “aula”; enquanto ao que se conhece no português como aula, no espanhol se identifica como “clase”. Por outro lado, os que não consideram aula relacionada diretamente ao espaço, a relacionam ao tempo. Daí, que existe uma falsa consideração, na qual toda atividade que realiza um professor na sala de aula que dure aproximadamente de 45 a 60 minutos é uma aula. No dia-a-dia, também, se fala em diversos contextos escolares de aula, como unidade de medida do trabalho do professor. Inclusive, muitas instituições de iniciativa privada, pagam erroneamente, a partir do número de “aulas” que tem o professor. Por isso, é comum escutar, inclusive algum que outro professor dizer algo assim como: “_Ainda, tenho duas aulas para concluir meu trabalho, hoje”, quando na verdade se está referendo a dois turnos, contactos, encontros, etc, ou seja, um determinado tempo que tem com os estudantes. Se a essência da aula, como termo, e ainda mais que termo, como categoria didática, não é determinado nem por o tempo, que naturalmente influi nela, nem por o espaço, que também vai influir, mas não o vai determinar, o quê será o essencial e determinante na sua definição e, portanto, na sua identidade? A seguir se tratará de definir este termo, como uma categoria da ciência autônoma que tem como objeto de estudo o ensino, por tanto é importante considerar que no trabalho se abordam os conceito de atividade, ação e operação dentro do contexto de suas relação que implica ir desde o geral ao particular através destas três instancias do quefazer humano. 1 Definição de aula e sua estrutura A aula será espaço? Será tempo? O que será? O espaço não define a aula, pois esta pode acontecer em diversos contextos. A aula pode acontecer, não só na sala de aula, mas também, na rua, na praça, no hospital, na fábrica, na comunidade, no escritório, etc. E o tempo vai definir a aula? Enquanto ao tempo, esse vai variar, pelo seu caráter flexível, mas influenciado diretamente pela relação do currículo e a dinâmica de ensino, concretizado na docência. “Sua duração esta determinada de acordo com pontos de vistas pedagógicos e da organização escolar.” (NEUNER,G. ET AL, 1981, p.304. Trad. autor). Naturalmente, que estas categorias universais de tempo e espaço vão influenciar as próprias características de uma determinada aula, não obstante, elas não a vão a definir. Ainda, o termo aula tenha sua etimologia ligada ao conceito de lugar, não é esta particularidade o que vai a definir-la. Etimologicamente, a palavra portuguesa aula deve ter suas origens na palavra grega “aulé” que significa “espaço livre” ou do Latin “Aula” com a significação de “pátio”. É notório que em todos os casos seu referente é lugar e não ação ou processo. Não obstante, aqui se valorará não a palavra aula, e sim, o termo didático, que a sua vez constitui ser uma categoria da didática, junto à docência e a aprendência. Tem autores que referem a tempo e espaço onde vai-se desenvolver o aprendizagem. “A aula é o espaço e o tempo no qual e durante o qual os sujeitos do processo de aprendizagem (o professor e alunos) se encontram para juntos realizarem uma série de ações...” (MASETTO M.T. 2001, p. 85.) Tem autores, que como Bueno,T (2009) enfocam a aula, na sua definição na linha daqueles que consideram a aula como espaço, local, e não, os que consideram a aula como ação, operação (processo) didático. Não obstante, ela destaca o “processo de busca constante e contínua de construção e reconstrução de significados para cada universo individual” que está inserido em cada aula. Para esta autora: A aula é um espaço de convivência múltipla, onde as diversas áreas do conhecimento se confrontam e se fecundam, num processo de busca constante e contínua de construção e reconstrução de significados para cada universo individual. É nessa dinâmica que se vai construindo e reconstruindo historicamente o sujeito epistêmico: sujeito do conhecimento. (BUENO,T.R. 2009) Autores que seguem esta linha estão referendo-se à sala de aula, e não a aula como categoria didática. Claro, que se fez esta citação pelo seu valor, já que a mesma enfatiza vários aspectos a serem considerados na definição de aula. Nesta concepção destaca-se, o que deve ser considerado essencial na sua definição, e é o conjunto de aspectos a serem considerados na sua definição: o processo, o tempo, a dinâmica e o espaço. Portanto, ainda colocando que “aula é um espaço”, o autor enfatiza “num processo de busca constante e contínua de construção e reconstrução de significados para cada universo individual”, induzindo a pensar que a aula, na verdade, é o processo dado em tempo e espaço. Pois, o espaço, onde ela acontece, tem uma definição, na teoria e na prática denominada “sala de aula”. Portanto, o espaço será a “sala”, enquanto, a aula será o processo que se dará numa relação tempo-espacial. A Aula, como categoria didática, constitui a principal operação docente, onde se concreta holisticamente as duas partes da didática: a dinâmica do ensino e o desenho curricular. Por exemplo, para o Instituto Central de Ciências Pedagógicas, de Cuba, em importante obra escrita por um grupo de destacados profissionais da área da formação docente, explicitavam que “A forma fundamental de organização do processo docenteeducativo é a aula” (ICCP,1988,p.283.Trad. Autor) considerado para poder desenvolver uma aula, como operação docente. Estes autores ressaltam a organização e planejamento da mesma. Usando outros termos, esses autores também, referem à estrutura que deve configurar em qualquer aula, ao mencionarem objetivos, recursos didáticos, os conteúdos ou conhecimentos que serão desenvolvidos, entre outros. Então, se a aula não é só tempo, nem só espaço; será a forma de organizar o processo docente-educativo? Para poder entender o conceito de aula, é necessário se abstrair à relação que essa operação sucinta. Fazendo uma análise do geral ao particular, seria interessante ver a relação que se estabelece entre atividade – ação – operação. E se se considerara ela, a aula, como uma operação? O que seria a ação onde ela estaria inserida? Essa ação formando parte de que atividade? Ÿ Quando o professor vai planejar suas atividades, ações e operações do processo Docente-Educativo devem considerar a estrutura da Docência, e logo, particularizar na estrutura da aula. Segundo o ICCP (1983, p. 286) “a estrutura da aula não pode ser arbitraria”, ainda, seja “um processo criativo”. Esse caráter criativo do planejamento das aulas não contradiz a determinação de algumas exigências, que permitem a estruturação da aula, tais como: Pois bem, o ensino, como objeto de estudo e pesquisa da didática, é uma atividade direcionada por gestores, executada pelos docentes, à formação qualificada dos discentes, e que ela se concretiza através da ação didática denominada docência. A sua vez, o que caracteriza a docência como categoria didática é precisamente um sistema de operações didáticas que interagem sistematicamente. No núcleo dessas operações didáticas se encontra a aula. Resumindo, se considera que uma aula é uma operação docente, processo nuclear, que possibilita a concretização do desenho curricular e a dinâmica do ensino, estruturada, essa operação, com quatro elementos básicos que permitem a configuração dos princípios didáticos: o objetivo, o conteúdo, a tática e o controle. Naturalmente, como toda operação docente, se dará em tempo e espaço. Mas esse tempo e esse espaço dependerão das características da docência que demarcarão seus limites. Cada professor tem seu próprio estilo de desenvolver ou executar as operações didáticas denominadas aulas. A efetividade de cada uma dela depende da criatividade do docente. Não obstante, exista essa flexibilidade e diversidade de tipos e formas de desenvolver cada aula, existe em qualquer aula uma estrutura mínima sistemática que a define como tal. Essa estrutura interna de cada aula deve fluir em correspondência ao sistema de aulas envolvidas dentro da docência. A aula, como momento planejado e organizado do ensino traz consigo características que requerem do professor a necessidade de sistematização de seu trabalho junto aos alunos, pois é preciso definir os objetivos que se pretende atingir, pensar sobre os problemas e desafios que devem ser superados no momento da aula, as características dos grupos de alunos a que essa aula se destina, os conhecimentos que serão desenvolvidos, os recursos didáticos a serem selecionados, enfim trata-se de um processo amplo, que terá sua concretização no encontro com os educandos. (ZANON & MENDES, 2009) Nessa citação se destacam os aspectos a ser Ÿ Determinação dos objetivos instrutivo-educativos de cada aula, em correspondência com os objetivos de cada unidade temática (unidade didática) do Programa da Disciplina (Plano de Ensino) e do diagnóstico dos discentes e do contexto (estruturafísica e estrutura subjetiva); Ÿ Análise e seleção dos conteúdos e sua relação direta com os objetivos e nível de desenvolvimento intelectual, procurando especificamente o conhecer, o saber, o fazer e o ser; Ÿ Planejar estrategicamente, que permita a flexibilidade do tratamento tático em cada aula. Nesse planejamento devem aparecer os possíveis métodos, técnicas, e procedimentos a serem desenvolvidos nas aulas, junto com a forma da docência e os recursos ou meios didáticos a serem empregados; e Ÿ Estabelecer as formas e vias de o professor e os estudantes saber como exteriorizar a aprendência, em outras palavras, o professor e o estudante devem saber o grau e nível em que cada objetivo foi atingido. A operação docente que viabiliza a concretização dos conteúdos dos programas das disciplinas (currículo) e o dinamismo que se impõe na execução dessa aula, não é possível num só momento. Por tanto, uma palestra isolada num evento, não é didaticamente falando uma aula, ainda, como é lógico exista uma aprendizagem na mesma. Em uma missa se aprende. Em um bate papo informal num restaurante, também, se aprende. A conversa entre casais deixa uma aprendizagem. A conversa com os amigos, com os vezinhos, na reunião de trabalho, etc; todas essas ações permitem a interação e com isto uma aprendizagem. Não obstante, essas ações ou operações não constituem aulas. A Aula, como termo didático, só se concretiza a través de um sistema de operações docentes denominadas Sistema de Aulas. Esse carácter sistémico que deve estar implícito ou explictado no conceito de aula, fica evidente nas considerações ao respeito desenvolvida por Nagore S. PRAHBU (2009) que explicita de forma sucinta o que se esta tratando de esclarecer aqui. Devo iniciar por uma concepção familiar de aula, isto é, a de que ela é um estágio da implementação de um curso. O curriculo é normalmente organizado como uma seqüência acumuladora de unidades de ensino, funcionando a seqüência como um todo como forma de alcançar um objetivo maior, e estando cada unidade do plano voltada para atingir sub-objetivos menores. O ensino nas salas de aula é visto como um movimento estável da primeira até a última unidade e qualquer das unidades ensinadas é tomada como um pequeno trecho da viagem percorrido. O que ocorre numa aula pode, desse ponto de vista, ser melhor compreendido através de referências a aulas anteriores e posteriores e da lógica da sequência global. (PRAHBU,N. 2009) Nesse texto Prahbu (2009) destaca a essência da aula “como uma seqüência acumuladora de unidades de ensino”, forma interessante para sinalar seu caráter sistêmico. Como se precisa de mais de um elo para formar uma cadeia, se precisa de mais de uma aula para formar a docência. Naturalmente, que só um sistema de aula não vai caracterizar uma docência, mas não existe docência sem, pelo menos, um sistema de aulas. Esse sistema de aulas se concretiza em cada aula e ao mesmo tempo em que cada aula é um elo dessa cadeia. A Aula guarda direta relação com cada uma das que conformam seu sistema, mas também, guarda uma estrita dependência da docência. A docência como sistema de sistema, se caracteriza pela sua complexidade. A relação tempo-espacial de cada aula é determinada pelas características da docência que abre ou fecha o tempo lógico de cada uma e disponibiliza o local possível de desenvolver essas ações e operações didáticas. Segundo o ICCP (1983) é fundamental que o professor ao momento de planejar suas aulas pense nesse complexo processo docente. O fundamental, quando o professor se prepara para desenvolver suas aulas, é que não esqueça que cada aula é só um elemento a mais dentro do complexo processo de ensino. Uma aula isolada, por correto que seja seu desenvolvimento, não garante o aprendizado e nem a formação dos alunos. Para que isto aconteça, é preciso ver cada aula como parte de sistemas maiores: unidade temática, o curso, o resto das aulas das outras disciplinas ou matérias... (ICCP, 1983, p 285. Trad. Autor). Sustentando uma posição muito parecida, enfatizando inclusive o caráter de sistema de sistema, das aulas, Veiga, Resende e Fonseca (2000) na obra publicada na coletânea de trabalhos sobre Pedagogia Universitária: aula em foco, consideram que: A Aula é parte do todo, está inserida na universidade que, por sua vez, esta filiada ao sistema educacional que também é parte de um sistema socioeconômico, político e cultural mais amplo. Esse estudo investigou a aula universitária como espaço de inovação nos processos de ensinar, aprender e pesquisar. A aula universitária é a concretude do trabalho docente propriamente dito, que ocorre com a relação dialógica entre professor e alunos. Ela é o locus produtivo da aprendizagem que é, também, produção por excelência. O resultado do ensino é a construção do novo e a criação de uma atitude questionadora, de busca e inquietação, sendo local de construção e socialização de conhecimentos e cultura. O objetivo essencial do ensino volta-se, assim, para a construção do conhecimento mediante o processo de aprendizagem do aluno. (VEIGA, RESENDE E FONSECA, 2000, p. 175) Essas importantes obras citadas coincidem em garantir que a eficiência e eficácia das aulas esta no seu próprio sistema. E que a sua vez esse sistema se encontra interligado a outros sistemas de maiores complexidades. Por tanto, uma aula por si só não garante a qualidade dos resultados, mas, sim seu próprio sistema. Esse Sistema de Aula vai estabelecer uma diferenciação entre cada uma delas. Daí, a criatividade do professor tem um papel de destaque. A competência didático-pedagógica do professor deve delimitar, nessa cadeia de aulas, como devem ser configuradas, a partir das tipologias de aulas universitárias. 2. Tipos de aula universitária Uma das maiores dificuldades dos professores da educação superior é, em curtíssimo prazo, definir a organização do seu sistema de aulas: seu planejamento didático. Os passos a serem tomados pelo professor para fazer o plano de atividades são mui importantes. Isto vai depender do grau de percepção que esse profissional tem da matéria, do conteúdo, dos objetivos e da relação que estes componentes têm com as características da turma. Geralmente, o docente universitário alega que preparar aulas com muito tempo de antecipação é uma perda de tempo, pois o dia dessa aula deve mudar quase todo ou todo do que foi planejado. Claro, que quando se prepara o sistema de aulas, não é recomendável estabelecer a tática, mas a estratégia. Em outras palavras, não precisa colocar as ações dele como docente, nem as dos estudantes; só apenas, a estratégia geral da disciplina a ser desenvolvida. Daí, por exemplo, que deva deixar horas de reservas para os imprevistos e outras horas reservadas às atividades integradoras. Quando se planeja didaticamente, seria viável estabelecer o número de aulas por unidade temática e a forma e meios didáticos necessários para o desenvolvimento ótimo da disciplina. Tudo isso está diretamente ligado à escolha dos métodos a serem utilizados, levado em consideração o fato que seja qual for o método que utilize, deve primar pela prerrogativa de que o estudante deve assimilar ativamente os conteúdos. Claro, que desde a perspectiva didática esses conteúdos se manifestam em diversos níveis e complexidades: 1.familiarização/conhecimentos, 2.saberes/habilidades, 3.atitudes/hábitos, 4.convicções/valores. 2.1 Classificação Geral de Aulas, segundo as etapas do processo de ensino Os métodos determinam a forma docente, e com isso, o tipo de aula a ser desenvolvida. A escolha dos tipos de aula vem demonstrar, não só, a capacidade do professor de adaptar situações na aprendizagem, focalizando a aprendência, mas também, de certa forma, vem determinar o ritmo e os processos mentais dos membros de uma turma. São várias as classificações dos tipos de aula. De acordo com as etapas do processo de ensino podem se subdividir em: Ÿ Introdutórias, Ÿ Apresentação de conteúdo, Ÿ Sistematizadas, Ÿ Exercícios, e Ÿ Avaliativas. Nesta classificação, percebe-se que cada tipo de aula está diretamente ligada às etapas do processo de ensino, onde não se pode conceber que haja atropelamento no processo, a fim de evitar a correspondência entre as etapas. Como aparece no subtítulo, é uma classificação geral, por tanto, presente em qualquer nível ou subsistema de ensino. 2.2. Classificação de Aulas de Conteúdo Universitário. Existe na educação superior uma tipologia de aulas muito interessante, determinada pelo trabalho a ser desenvolvido com o conteúdo. Em muitas universidades norte-americanas, assim como em européias e em muitas latino-americanas na prática do trabalho docente se manifestam esta tipologia. Nessa perspectiva as aulas se denominam: conferência (conference), seminário (seminar), oficina (workshop) e laboratório (lab). 2.2.1 Conferência Consiste na apresentação de um tema, ou temas, geralmente novos, que devem despertar grande interesse aos discentes nesses assuntos. Visa dar aos estudantes um maior grau de familiarização (percepção) e, por isso, deve apresentar um alto grau de cientificidade. A conferência deve despertar interesse para pesquisar, debater, e preparar seminários sobre o tema integrador que procure, além de um bom nível de informações sistematizadas, aprofundarem na complexidade do tema. Na conferência, como tipo de aula, predomina o método expositivo. A exposição é uma comunicação numa linguagem simples sobre uma idéia, um conceito ou uma atividade. Os conteúdos são apresentados, explicados ou demonstrados pelo professor, tendo os estudantes uma atitude receptiva. Receptivo não é sinônimo de passivo, por tanto, os estudantes neste tipo de aulas não devem ter, simplesmente, uma atitude receptiva, mas também ativa. Por isto, é recomendável que o professor estimule a participação dos estudantes. Não deve confundir-se a conferência, como tipo de aula universitária, com sua homônima como palestra num evento científico. A conferência deve sempre anteceder ao seminário, lembrando que a mesma pode adotar a forma de aula de orientação ou introdução dos conteúdos de um tema específico. Por tanto, todo novo tema de uma disciplina deveria iniciar com uma conferencia. Cada tema teria, no mínimo, uma conferencia para introduzir os novos conteúdos de uma determinada unidade temática, ou quiçá, só uma ao início na apresentação da disciplina, isto vai depender das características das diversas disciplinas. 2.2.2 Seminário Geralmente é um trabalho em equipe, onde um tema é dividido, ficando a cargo dos membros da equipe aprofundar nos estudos e apresentá-lo à classe. Procurase a integração dos conhecimentos. É importante dizer que o seminário é uma indagação que obedece as regras científicas. No que diz respeito à organização do tema, o professor deve subdividi-lo nas partes que o constitui ficando subtemas que depois devem ser reincorporados no tema. Nesse desempenho do professor se manifesta sua competência acadêmica. Também, o docente define a ordem das equipes e posteriormente orienta na condução dos processos de elaboração de apresentação, enquanto, os membros definem as partes que lhe cabem no assunto, a ordem de exposição e principalmente, a forma que pode adotar-se: exposições, demonstrações ou outras. É muito importante, após a apresentação, a discussão sobre o assunto, visando o esclarecimento de dúvidas, integração da aprendizagem e fornecer parâmetros para a avaliação. Outro ponto fundamental é a participação, ao final, do professor; a fim de dar sua contribuição para enriquecer o tema, citar pontos positivos e negativos e integrar os temas de todas as equipes. Portanto, o principal método neste caso é o Trabalho em grupo. O seminário, como tipo de aula, tem como principal finalidade obter a cooperação dos estudantes entre si na realização de uma tarefa. Para que isso seja possível, todos os membros do grupo terão que estar familiarizado com o tema que será estudado. Por isso, exige-se que a atividade do grupo aconteça de forma expositiva, conversação introdutória ou trabalho individual. Cada estudante é responsável por um subtema, mas logo devem socializá-lo com o grupo para que todos os membros dominem o assunto de estudo. O método do trabalho em grupo desenvolve habilidades no próprio grupo, que passa a ter mais condições de melhorar sua essência de ser social e extrapolá-lo à sociedade. Vai-se trabalhando pelo coletivo, numa forma de ensinar educando. Assim, se valoriza a união, a solidariedade e a força de grupo. Além disto, a dinâmica de grupo aproveita todas as experiências, as idéias e imaginação dos membros do grupo para a solução de problemas. Cada Unidade Temática de uma disciplina deveria iniciar com pelo mínimo uma conferência, logo se sugere, um ou vários seminários, e dependendo das características e propriedades dos conteúdos cada seminário deveria ter sua correspondente oficina, ou depois de todos os seminários dessa unidade temática, iniciar-se-ia as oficinas. 2.2.3 Oficina Este tipo de aula, geralmente, procura colocar na prática os aspectos teóricos debatidos no seminário. Aqui é fundamental o método de elaboração conjunta, pois todos os membros das diversas equipes devem interagir entre si, colocando na prática os conhecimentos, saberes, habilidades que começaram a serem desenvolvidos. Assim se estaria condicionando o estabelecimento dentro de cada estudante nova atitudes e hábitos. A função fundamental deste tipo de aula é que o estudante universitário aprenda a fazer, fazendo. É a forma de vincular os aspectos teóricos à prática, ou ao menos, o professor neste momento deve viabilizar e demonstrar a importância do conteúdo que está sendo estudado na formação profissional. A oficina propícia a integração de vários subtemas, que permita a consecução da transdisciplinaridade. 2.2.4 Laboratório O professor deve procurar que cada tema de sua disciplina tenha uma saída prática no contexto social, ligado, como é lógico a essa realidade. Este tipo de forma da ação docente pressupõe também, como a oficina, o domínio de conhecimentos e saberes básicos para articular com as habilidades e potenciar o inicio de hábitos e atitudes conseqüentes com as convicções e valores que se quer formar nos discentes. Exemplos de aulas laboratórios são as visitas a fábricas, observação e interação em praças públicas, ou as próprias atividades nos laboratórios institucionais, etc. Esta atividade vincula as ações cognitivas com as ações educativas propiciando um ensinar educando. 2.3 Classificação de aulas didáticas dentro do sistema docente Como é conhecida pelos profissionais que trabalham na docência, a aula se concretiza na realização de seu sistema. Por tanto, existe uma necessidade de distinção das formas como o docente vai desenvolver o sistema de conhecimentos. Por isso, existem as aulas de conteúdo, de consolidação (reforço), de reserva, integradora, educativa, avaliativa e de retroalimentação. Ÿ Conteúdo: são as aulas que abordam diretamente o sistema de conteúdo estabelecido no programa da disciplina. Na educação superior são as conferencias, seminários, oficinas e laboratórios. Ÿ Consolidação ou reforço: são aulas, dentro do sistema de aula, que ajudam a reforçar e consolidar os conteúdos que por sua complexidade e outras interferências afetam o processo de aprendência. Ÿ Reserva: a aula reserva nem se constitui como aula propriamente dita, mas como um tempo reservado para recuperar as afetações que o processo tem recebido, ao longo do período acadêmico. É o tempo dedicado para trabalhar as diferenças individuais no processo de aprendência, ou recuperar conteúdos que foram afetados por outros fatores que interferiram o adequado andamento da docência. Sua existência se deve a questões legais da legislação educacional e que responda na questão do planejamento. Sua importância didática fica na flexibilidade que impregna ao processo docente. Ÿ Integradora ou Transdisciplinar: São as aulas, geralmente, interdisciplinares, onde se inserem conteúdos de outras disciplinas que cursam naquele momento, ou conteúdo transdisciplinar. Pode ser sobre teoria, sobre teoria-prática ou, simplesmente, prática. A aula integradora permite a participação de outros docentes no seu desenvolvimento. Não deve ser improvisada, todo o contrario, requer de um bom planejamento conjunto para que tenha o efeito desejado. A aula integradora pode ser, também, para integrar os diferentes temas da própria disciplina. Ÿ Educativa: Ainda toda aula deva ter uma função educativa, como realização implícita da terceira lei didática que refere à otimização educativa do ensino, no planejamento didático, se deve dedicar tempo para debater aspetos educativos específicos da turma. Quando seja detectado com anterioridade problemas de relacionamentos na turma, presença de uma liderança negativa, presença de discentes com dificuldades de relacionamentos, ou incluso transtornos mentais leves, etc, se deve dedicar um tempo para este tipo de trabalho dentro da turma. Naturalmente, que a efetividade dependerá da preparação do professor para este tipo de atividade. Ÿ Avaliativa: Em todo tipo de aula deve existir um processo de controle que permita saber por parte do docente o grau ou nível de aprendência dos estudantes em cada aula. Não obstante, existem aulas dedicadas exclusivamente, a avaliar essa aprendizagem objetivada. Por tanto, existem aulas avaliativas que formam, também, parte do sistema. Estas aulas formam parte do processo de ensino e permitem a aplicação de instrumentos avaliativos diferenciados: pré-teste, teste, prova e exame. Ÿ Retroalimentação: este tipo de aula deve acontecer depois da aplicação de instrumentos de avaliação, para medir a eficiência destes instrumentos, e se eles medem, adequadamente, a aprendência dos discentes. Este tipo de aula permite reforçar a avaliação como parte do processo de ensino, e serve para aprender com os resultados dos instrumentos de avaliação. 3 Importância da aula na qualidade do ensino superior Naturalmente, que a qualidade do ensino depende de muitos fatores objetivos e subjetivos. Dentro de todos esses fatores, um dos principais é sem dúvidas a qualidade das aulas que são ministrados pelos professores. E não é só planejar boas aulas, senão, a importância da relação que se estabelece entre cada sistema de aula. Para uma melhor compreensão deste assunto, se poderia expressar o seguinte: de nada vale dar uma, ou umas poucas aulas com alta qualidade, bem planejadas, e bem executadas numa determinada disciplina; ou ter um ou dois professores desenvolvendo uma docência de qualidade num determinado curso, enquanto o resto dos professores faz erradamente. Por quê? Pois, uma ou umas poucas aulas não determinam a qualidade da disciplina, ou do curso, ou da IES; senão o sistema de todas as aulas que compõem uma determinada estrutura. É a sua interação o que vai determinar seu resultado. Poder-se-ia ter dificuldades em algumas aulas, mas propriamente é seu sistema quem determinará sua qualidade holística, ao final do processo. No caso dos professores, eles formam parte do sistema docente (Docência), e como em todo sistema, o desempenho de um afetará o resultado final de todos. Aí radica sua importância na qualidade do ensino. Para aperfeiçoar ao professor universitário existem, também, outros tipos de aula que não são voltadas ao desenvolvimento do processo docente como tal, e sim, ao desempenho docente dos professores universitários, que por sua importância se incluem aqui. São as denominadas aulas metodológicas, pois procuram selecionar a forma que melhor se desenvolvem determinados conteúdos nos discentes. As aulas metodológicas são: instrutivas, demonstrativas e abertas. As aulas instrutivas são preparadas, executadas e avaliadas, só com a participação dos docentes. Geralmente, quem prepara este tipo de aula é um profissional bem experiente e com bons resultados docentes. Ele não desenvolve uma aula em si, mas disserta sobre as táticas a serem seguidas em determinado tipo de conteúdos ou situações docentes. Também, poderia ser a forma que devem ser planejadas as aulas de uma determinada unidade temática, entre outras atividades. Como resultados da aula instrutiva, se preparam aulas demonstrativas que podem ter seu desenvolvimento dentro da sala de aula, em uma turma normalmente, ou pode ser, também, executada só com a presença de docentes. As aulas demonstrativas seria uma continuidade do trabalho feito com as aulas instrutivas. Por tanto, depois de uma aula instrutiva, deve seguir o trabalho docentemetodológico com a realização de uma ou umas aulas demonstrativas, que poderia ser realizadas por algum outro professor sobre a supervisão daquele que deu a aula instrutiva, ou ao menos, com a supervisão de quem participou daquela aula anterior, e seja um docente experiente. Depois, da realização de uma ou umas aulas demonstrativas, deve desenvolver-se uma aula aberta. Já a aula aberta, é desenvolvida em uma turma selecionada pelo coletivo de docente que desejam melhorar seus desempenhos docentes. Neste tipo de aula metodológica, o professor seria visitado tecnicamente durante seu desenvolvimento para apreciar a verdadeira efetividade das táticas que tinham sendo testadas desde a primeira aula instrutiva. Depois, da realização das aulas, nessa seqüência: instrutivas, demonstrativas e abertas, vêem um ultimo momento que é a reunião metodológica para valorar os resultados do trabalho metodológico e seu impacto na docência. Depois dessa reunião se inicia outro ciclo de aulas metodológicas. Claro, que elas podem ser, e são, desenvolvidas independentemente sem essa seqüência, mas sua eficiência diminui. Conclusão Toda operação docente nem sempre é uma aula, desde a perspectiva científica do termo, em outras palavras, não necessariamente as ações e operações que realiza um professor na “sala de aula” se constitui numa aula, como foi definida aqui. Para que essa determinada operação se constitua em aula deve conter na sua base os quatro componentes didáticos que a identificam como tal: objetivo, conteúdo, tática e controle. Também, essa operação deve formar parte de um sistema de operações didáticas: sistema de aulas. No caso específico das aulas universitárias, adotam diferentes formas de acordo com sua dinâmica em relação ao conteúdo em questão: conferência, seminário, oficina e laboratório. Por outro lado, do mesmo assunto, já as aulas para o planejamento didático se definiriam como: de conteúdo, de consolidação (reforço), de reserva, integradora, educativa, avaliativa e de retroalimentação. Concluindo, se considera que uma aula, como categoria didática, é uma operação docente que possibilita a concretização do desenho curricular e a dinâmica do ensino, estruturada essa operação com quatro elementos básicos que permitem a configuração dos princípios didáticos: o objetivo, o conteúdo, a tática e o controle. Naturalmente, como toda operação docente, se dará em tempo e espaço. Mas esse tempo e esse espaço dependerão das características da docência que demarcarão seus limites. Referencias ANTUNES, C. O que mesmo uma aula? Em Jornal E d u c a r. N º 3 5 . 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