E STA D O D E M I N A S 24 ● D O M I N G O , 4 D E J A N E I R O D E 2 0 1 5 E-MAIL: [email protected] TELEFONES: (31) 3263-5120/5779 GERAIS SAÚDE Dia Nacional do Hemofílico comemora avanços, mas faz lembrar que ainda há problemas, como a atuação deficiente dos centros de tratamento na terapia profilática, direito de todos POR UM SANGUE MAIS FORTE Hoje é comemorado o Dia Nacional do Hemofílico e, no Brasil, o grande avanço no tratamento da doença no país levou a Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), a Comissão de Assessoramento Técnico em Coagulopatias do Ministério da Saúde (CAT) e a Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados (CGSH) a serem premiadas em maio do ano passado, durante o WFH World Congress. Pressionado pela federação, o Ministério da Saúde triplicou a aquisição dos fatores de coagulação, o que permitiu a implantação dos tratamentos da profilaxia primária e secundária, da imunotolerância e da dispensação de fatores de coagulação para tratamento domiciliar, possibilitando aos hemofílicos uma vida plena, autônoma e independente. Porém,apesardestamaiordisponibilidade de medicamentos pró-coagulantes, a maioria dos centros de tratamento dehemofilia(CTHs)aindanãoproporciona o tratamento adequado e de direito para portadores, denuncia Tania Maria Onzi Pietrobelli, presidente da FBH. “Esperamos que esta premiação seja um estímuloàsequipesmultiprofissionaisque aindanãoaderiramàprescriçãodotratamento profilático. Assim como conquistamosgrandeavançojuntoaoministério – o que nos torna uma referência ara muitos países –, queremos alcançar os mesmos resultados junto aos CTHs. Para isso, necessitamos do comprometimento dos tratadores e das pessoas com hemofilia”, esclarece Pietrobelli. A ação conjunta da federação com o MinistérioPúblicoeoTribunaldeContas da União (TCU) comprovou ao Ministério da Saúde que a distribuição dos fatores de coagulação para uso preventivo proporciona economia para os cofres públicos, pacientes e familiares, devido à redução de aposentadorias por invalidez e gastos com cirurgias de alta complexidade para tratamento de artroses e outros problemas ortopédicos e articulares causados pelas hemorragias. A profilaxia é o único tratamento com que os pacientes não desenvol- REPRODUÇÃO/IN-HEMOAÇÃO BARALHO Chamado de In-Hemoação – Brincando e Aprendendo Sobre Hemofilia, Inibidores e Tratamentos, as cartas do baralho criado pela psicóloga Frederica Cassis ensinam de maneira simples e lúdica sobre temas complexos, como a coagulação, os inibidores e efeitos, atividades e tratamentos diversos, além da profilaxia. “Desde cedo, as crianças se familiarizam com o conceito de hemofilia, a importância da profilaxia e da imunotolerância, e o que deve ser feito para o sucesso do tratamento. Toda a equipe multidisciplinar pode fazer uso das cartas, que têm uma sequência lógica. Pais e jovens pacientes também poderão aprender brincando em família”, diz Frederica. Para conseguir o baralho (In-Hemoação), basta procurar um hemocentro ou Centro de Tratamento de Hemofilia (CTH), assim que este estiver à disposição. Para se cadastrar e receber a revista Fator Vida, que relata histórias, tratamentos e novidades sobre a hemofilia, basta entrar no site: www.hemofiliabrasil.org.br vem nenhuma sequela e podem viver plenamente. “Acredito que esse reconhecimento internacional tenha trazido mais visibilidade para a hemofilia no cenário nacional e todos os fatores envolvidos na melhoria do tratamento das pessoas com coagulopatias – controle social, comunidade médica e governo”, salienta a vice-presidente da FBH, Mariana Battazza Freire. FATORES DEFICIENTES Sem cura, a hemofilia é uma disfunção crônica, não contagiosa – 1/3 dos casos ocorrem por mutação genética e 2/3 por hereditariedade. No Brasil, existem 8.359 casos do tipo A e 1.609 do tipo B. Em Minas Gerais, são cerca de 900 casos dos tipos A e B, acompanhados pela Fundação Hemominas, referência no diagnóstico e tratamento das pessoas com coagulopa- tias hereditárias. Mitiko Murao, médica hematologista da fundação e do Serviço de Hematologia Pediátrica do Hospital das Clínicas/Universidade Federal de Minas Gerais, esclarece que a hemofilia é caracterizada pela deficiência ou anormalidade do fator VIII ou do fator IX da coagulação. Quando há deficiência do primeiro, ocorre a hemofilia do tipo A, a mais comum, que responde por 80% dos casos. Se o problema é com o fator IX, a hemofilia é do tipo B. Adoençatambéméclassificadacomo leve, moderada ou grave. Uma pessoa normal nasce com 150 unidades de fator de coagulação por decilitro de sangue. A formagraveocorrequandohámenosde 1% de produção desse fator, a moderada, entre 1% e 5%, e a leve, entre 5% e 40%. “Por exemplo, uma pessoa pode ter hemofilia A grave, caso produza menos de 1% do fator XIII. Essas informações direcionam o melhor tratamento”, esclarece Paula Villaça, médica hematologista do HospitaldasClínicas/FaculdadedeMedicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).“Porserumadoençagenéticaou pormutação,nãoépossívelevitá-la,mas, com o tratamento adequado, o portador tem vida normal”, explica. “O tratamento consiste na reposição do fator da coagulação deficiente, por meio dos concentrados de fator da coagulação plasmático ou recombinante, usodemedicamentoscoadjuvantesena profilaxia(prevenção)dossangramentos. Aliadoaisso,érequeridoumcentrodereferência com equipe multiprofissional (hematologista, enfermeiro, assistente social, fisioterapeuta, psicólogo, dentista, pedagogo)capacitadaparaoatendimento”, explica Mitiko Murao, da Hemominas.Afundaçãotemumpapelcrucialnas diversasmodalidadesdetratamentodisponibilizadas para os pacientes. “Esses tratamentos são completamente subsidiados pelo Ministério da Saúde. Com a capacitação da equipe multiprofissional, é possível oferecer aos pacientes os tratamentos mais adequados para cada caso, além de auxiliar na melhor aderência do paciente à terapia. Melhorando as condições clínicas, há maior autonomia e qualidade de vida”, salienta Mitiko. PERSONAGEM DA NOTÍCIA MILTON ALVES FERREIRA SERVIDOR PÚBLICO ARQUIVO PESSOAL AUGUSTO PIO Volta por cima Natural de Belo Horizonte, o servidor público Milton Alves Ferreira, de 30 anos, foi diagnosticado com hemofilia aos quatro meses de vida. “Era uma época muito difícil para tratar a hemofilia, não havia medicação adequada nem informação. Qualidade de vida para hemofílico era utopia. Hoje, com acesso à medicação, é tudo muito tranquilo: a hemofilia não limita minha vida em nada”, garante Milton. O servidor alerta que o hemofílico deve ser agente de seu tratamento. “É preciso cuidar das articulações, fortalecer a musculatura, fazer a profilaxia de forma correta e ir às consultas médicas. Aliás, a profilaxia é um direito do hemofílico – ele deve procurar o centro de tratamento e exigir. Uma criança com hemofilia não pode passar pelo que eu e muitos hemofílicos passamos e isso é totalmente possível com o tratamento que se tem disponível hoje.” Milton leva uma vida normal. “Tenho a medicação em casa, faço três vezes por semana. Quando viajo, levo a medicação e, se vou fazer uma atividade mais pesada, faço a medicação antes. Isto me garante viver uma vida 100% normal. Faço a imunotolerância, tratamento para negativar o inibidor. Estou em fase final de tratamento.” HEMOFILIA O que é Tratamentos ¦ Incapacidade de controlar os sangramentos por falta de proteínas coagulantes PROFILÁTICO ¦ Consiste na administração do fator de coagulação deficiente (VIII ou IX) com infusões frequentes e programadas, duas ou mais vezes por semana, em pessoas com hemofilia grave ou com sintomas de grave que nunca tiveram sangramentos ou a partir do primeiro sangramento. Estas infusões frequentes permitem que a pessoa com hemofilia apresente em sua circulação sanguínea o fator VIII ou IX em quantidades suficientes para que não ocorram os sangramentos espontâneos. Há três tipos de profilaxia: a primária, a secundária de curta duração e a secundária de longa duração Vaso sanguíneo O sangue contém muitas proteínas, entre elas os chamados fatores de coagulação. São 13. Eles trabalham juntos e são responsáveis pela formação do coágulo que estanca o sangramento Vaso sanguíneo IMUNOTOLERÂNCIA ¦ Alguns hemofílicos desenvolvem uma resposta imunológica por meio da produção de anticorpos contra o fator VIII ou IX, utilizados no tratamento. Como esses anticorpos inibem a atividade dos fatores administrados, é dito que essas pessoas possuem inibidor. Para elas, o uso normal do fator VIII ou IX é insuficiente para normalizar a coagulação. Nesses casos, devem ser utilizados outros medicamentos para estancar o sangramento, chamados de agentes de bypass, tais como o complexo protrombínico ativado ou o fator VII ativado. Em média, a duração do tratamento é de 36 a 48 meses SOB DEMANDA ¦ É a reposição de concentrado de fator de coagulação após a ocorrência de algum episódio hemorrágico. Sobretudo quando se trata de um sangramento articular (hermatrose), é importante que ocorra o mais breve possível, de preferência, até duas horas após a hemorragia. O paciente com hemofilia A grave ou com sintomas de grave tem direito a levar para casa até 12 doses de fator de coagulação para uso nestas circunstâncias. O paciente com hemofilia B grave ou com sintomas de grave tem direito a levar até nove doses para casa. Se o paciente reside longe do Centro de Tratamento Concentrado de Hemofilia, é indicado que sejam liberadas mais doses Pode ser feito a partir de sangue domiciliares. Não há limite de idade para sua humano tratado ou fatores de implementação. É um tratamento utilizado coagulação recombinantes (que concomitantemente à profilaxia nos não utilizam sangue humano) pacientes com hemofilia grave. Quando utilizado sem a profilaxia, é indicado apenas para pessoas com hemofilia leve e moderada, sem sequelas. Cabe ao paciente ¦ Manter a avaliação anual com a equipe multiprofissional no hemocentro em que faz o tratamento; Sintomas Se um dos fatores está ausente ou diminuído, a reação em cadeia é interrompida, o coágulo não se forma corretamente e a hemorragia continua Causas ¦ Doença genética, hereditária, transmitida de pais para filhos no momento da concepção. O gene que causa a doença é transmitido pelo par de cromossomos sexuais XX. As mulheres não desenvolvem a doença, mas podem passá-la aos filhos. A hemofilia é transmitida exclusivamente aos homens. Há casos de mulheres hemofílicas, mas são raros. ¦ Os mais comuns são as hermatroses (sangramentos dentro das articulações) e os hematomas (sangramentos dentro dos músculos). Aparecem no primeiro ano de vida, geralmente quando a criança começa a engatinhar. São caracterizadas por hematomas e manchas roxas na pele, dores nas articulações e restrição do movimento. As articulações mais comprometidas são joelho, tornozelo e cotovelo. ¦ Participar dos programas de tratamento recomendados pela equipe do hemocentro; ¦ Manter avaliação de rotina na unidade básica de saúde de referência para que outros aspectos da saúde sejam acompanhados. Por exemplo: vacinação, hipertensão arterial, diabetes, programa de saúde da criança e do homem, nutrição, etc. ¦ Fazer esportes somente após orientação da equipe multiprofissional.