GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS MONTEIRO LAGARTO-SE. GT 10 PRÁTICAS INVESTIGATIVAS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR Deise Thainá Costa da Silva¹ Soane Maria Santos Menezes Trindade Silva² RESUMO Atualmente a gravidez na adolescência é vista como uma expressão da questão social que merece atenção devido à complexidade dos fatores que a envolve, sendo que os direitos deste público muitas vezes são desconhecidos, violados e não são efetivados. Por isso, esta pesquisa vem considerar as particularidades existentes das mães adolescentes, dando um enfoque no estudo dos direitos sociais desse público, pois sua efetivação é de suma importância na sociedade atual, além de mostrar a importância da atuação do assistente social do Centro de Referência de Assistência Social- CRAS no processo de garantia dos direitos dos usuários. Palavras- chave: Direitos Sociais. Mães adolescentes. Serviço Social. ABSTRACT Nowadays teenage pregnancy is seen as an expression of social issue that deserves attention due to the complexity of the factors surrounding it, and the rights of the public are often unknown, are not violated and effect. Therefore, this research is to consider the particularities of adolescent mothers, giving special emphasis on the study of social rights of the public, because its effectiveness is paramount in today's society, also shows the importance of the role of the social worker at the Center for Social Assistance Reference-CRAS in the process of ensuring the rights of users. Keywords: Social Rights. Teen Pregnancy. Social Service. INTRODUÇÃO 1 . Assistente Social, formada pela Faculdade José Augusto Vieira – FJAV Lagarto–SE. [email protected]. ². Mestranda em Educação pela Universidade Tiradentes – UNIT. Assistente Social - Professora da Faculdade José Augusto Vieira – FJAV Lagarto–SE. [email protected]. 2 Atualmente a gravidez na adolescência é vista como uma expressão da questão social que merece atenção devido à complexidade de fatores que a envolve. Assim, este fenômeno está presente em várias classes e grupos sociais de todo território brasileiro, sendo que os direitos sociais deste público muitas vezes são desconhecidos, violados e não são efetivados. É importante dizer que a gravidez e a maternidade geram muitas mudanças na vida dos indivíduos, principalmente quando não se têm uma vida estruturada, entretanto, alguns estudos mostram que a gravidez na adolescência não deve ser vista apenas como algo não planejado e indesejado por parte dos adolescentes, vai depender da subjetividade e da condição pessoal de cada um. De acordo com o levantamento feito pelo IBGE em 2006, um em cada cinco partos no Brasil é de mães adolescentes. O censo do IBGE apontou que 9% das adolescentes de 15 a 17 anos, com renda familiar de meio salário mínimo, já viveram a experiência da maternidade. Portanto, a problemática apresentada pela pesquisa em pauta é: Qual o contexto da realidade social das mães adolescentes acompanhadas pelo Centro de Referência da Assistência SocialCRAS Monteiro, Lagarto-SE? Desta forma, esta pesquisa tem como objetivo geral: Analisar a realidade social das mães adolescentes acompanhadas pelo Centro de Referência da Assistência Social–CRAS Monteiro, Lagarto-SE. Para isso, foram desenvolvidos os seguintes objetivos específicos: descrever o perfil sócio-econômico das mães adolescentes atendidas pelo CRAS Monteiro, bem como das suas famílias; conhecer os aspectos subjetivos presentes na vida das mães adolescentes assistidas pelo CRAS Monteiro; verificar como os direitos sociais das mães adolescentes, previstos no ECA, são efetivados no CRAS; e conhecer como se dá a atuação do Serviço Social no CRAS frente à gravidez na adolescência. Portanto, este estudo vem tratar da realidade presente no município de Lagarto-SE quanto à gravidez na adolescência no que diz respeito ao trabalho desenvolvido no Centro de Referência da Assistência Social – CRAS Monteiro no ano de 2010. Desta forma foi realizada pesquisa bibliográfica e documental e esta última fazendo uso dos arquivos do CRAS Monteiro. Como instrumento de pesquisa, foi utilizado entrevista, com cinco mães adolescentes, cinco familiares atendidas pelo CRAS Monteiro, e com as duas assistentes sociais da instituição. É importante mencionar que houve interação, entre pesquisador e do pesquisado. 3 Destaca-se ainda que a pesquisa é um estudo de caso de natureza exploratória e descritiva, pois descreveu o perfil socioeconômico do público estudado bem como a obtenção de um maior conhecimento sobre o tema da pesquisa. Aportou-se ainda da pesquisa quantitativa, onde foi quantificado os dados utilizando o recurso da porcentagem e qualitativa visando o detalhamento da questão em estudo. Contudo, para realização da análise de dados foi usada a análise de conteúdo que segundo Richardson (1999) consiste num instrumento imprescindível para que seja feita uma interpretação da realidade estudada. Enfim, a pesquisa realizada é de suma importância, para que seja dada uma maior ênfase e atenção a esta expressão da questão social que se faz tão presente em nossa sociedade, sendo que é através de estudos e pesquisas realizadas que as alternativas e os métodos de intervenção são descobertos e concretizados para o processo de transformação e melhoria social. GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA QUESTÃO URGENTE A palavra adolescência provém do verbo latino adolescere que significa desenvolverse, crescer, e é próximo do termo adodolescere, que significa adoecer. Assim a proximidade entre esses dois termos está ligado à dimensão de crise, daí a fase da adolescência é vista como um período de alta fragilidade (MATHEUS, 2007, p.18). Para D’Andrea (2003), a adolescência inicia-se entre os dez ou onze anos de idade devido às mudanças físicas, emocionais e também devido a velocidade de crescimento, daí o indivíduo sente-se responsável pela reorganização em busca de um novo equilíbrio. De acordo com Bock; Furtado e Texeira (2002) nós não temos adolescência e sim adolescentes, isto porque para os autores a adolescência não é uma fase natural do desenvolvimento humano, pois é artificialmente criada, esta fase é derivada da estrutura socioeconômica, assim depende da particularidade, da estrutura psicológica, e da cultura de cada pessoa, desta forma este período se difere em cada país devido aos fatores sociais, econômicos e culturais divergentes. Assim, é importante frizar que a adolescência é um fenômeno singular, onde deve-se levar em consideração as influências socioculturais, o caráter sexual, social, pois esta fase está relacionada a estes contextos. 4 A gravidez na adolescência, até meados do século XX, não era considerada uma questão social e não recebia atenção de estudiosos como recebe hoje em dia. Apesar de que atualmente os índices de gravidez na adolescência são menores que o de décadas atrás, devese enfatizar a importância de pesquisas sobre o tema, pois envolve vários fatores, e é uma questão a ser tratada de forma interdisciplinar, ou seja, em vários âmbitos, áreas do saber, e por vários profissionais articulados. Para Bock; Furtado e Texeira (2002) é preciso considerar hoje que em dia é mais fácil identificar a gravidez precoce, pois sua ocorrência já não é mais escamoteada como antigamente. No início do século XX, muitas mulheres casavam cedo (aos 13, 14, 15 anos) e logo engravidavam, neste tempo não havia a concepção de gravidez precoce. Lembrando que hoje a gravidez na adolescência acontece quando não há união estável ou casamento, diferente de antigamente que as mulheres engravidavam cedo, pois casavam-se novas. A gravidez na adolescência segundo Dias e Texeira (2010), é: [...] antes de tudo, um fenômeno social, um nome que se dá a um período do desenvolvimento no qual certas expectativas sociais recaem sobre os indivíduos e configuram um modo de ser adolescente, fruto da conjugação de transformações biológicas, cognitivas, emocionais e sociais pelas quais passam as pessoas. Sendo a gravidez um fenômeno social, os contornos da adolescência não podem ser definidos em termos absolutos, uma vez que tal definição depende do lugar que a sociedade atribui ao adolescente em um dado momento histórico (DIAS e TEXEIRA, 2010, p.124). Assim, a gravidez na adolescência não é definida apenas por fatores etários e biológicos, pois esta envolve diversos fatores, por isso que suas circunstâncias variam dependendo da condição social e das oportunidades de cada um. Contudo, a gravidez na adolescência é um quadro que se configura como uma crise dentro da crise (COSTA apud Soares, 2008), pois esta é uma fase caracterizada pela existência de indecisões, conflitos e crise na identidade, portanto a ocorrência da gravidez neste período pode agravar ainda mais este contexto. Para adolescentes provenientes de famílias pobres, onde há conflitos e de pouca instrução e cujas mães tiveram precocemente seu primeiro filho correm um risco maior de engravidar (NEINSTEIN e ROMERO apud AMAZARRAY et al., 1998). De acordo com Oliveira (1998) os fatores que levam a gravidez na adolescência são: a falta de informação e uso inadequado de métodos anticoncepcionais por parte dos adolescentes, desconhecimento sobre o seu próprio ciclo reprodutivo, assim esta falta de informação é maior nas adolescentes em condições sócio-econômicas mais baixas, sendo que essas mulheres têm poucas opções de vida e acham a gravidez “natural” nesta fase. Outro 5 fator que contribui para existência deste fato é o “pensamento mágico” que leva o adolescente a concluir que a gravidez não acontece consigo, só com os outros, além de que a mídia, segundo a autora, reforça este pensamento, pois os casos mostrados por ela quanto ao assunto são resolvidos de forma mágica e sem nenhuma conseqüência. A vida sexual ocasional é outro motivo da gravidez na adolescência, pois faz com que os adolescentes não planejem e nem se previnam. Para Dias e Texeira (2010) a gravidez na adolescência geralmente acontece com mais frequência em famílias em situação de vulnerabilidade, de violência e negligência, onde existe evasão escolar, desemprego e separação conjugal. É importante enfatizar que quando a gravidez ocorre na adolescência a existência de riscos e dificuldades biológicas e psicológicas tendem a ser maiores trazendo problemas tanto para mãe quanto para o bebê, isto torna-se ainda mais agravado em adolescentes que vivem em condições precárias de saúde, educação, moradia e alimentação. Entretanto, alguns estudos mostram que a gravidez na adolescência não deve ser vista apenas como algo não planejado e indesejado por parte dos adolescentes, vai depender da subjetividade e da condição pessoal de cada um, pois de acordo com Dias e Texeira (2010) os adolescentes de nível sócio-econômico menos favorecido vêem a maternidade como algo positivo e muitas vezes desejado, porque este fato pode trazer um maior reconhecimento social, melhorando seu contexto sócio-afetivo, além de que este fenômeno demarca a entrada do jovem na vida adulta. Portanto, a gravidez e a maternidade representam tanto impasses quanto possibilidades. Assim, percebe-se a importância da educação ou orientação sexual, pois é imprescindível o diálogo e o processo de informação na prevenção da gravidez precoce, entretanto é importante observar e conversar sobre o tipo de educação sexual que os adolescentes recebem, além de que a prevenção deve ocorrer também na área da saúde e assistência social através de programas e projetos sociais de saúde, campanhas educativas/preventivas, etc., onde a população participe e seja inserida. DIREITOS SOCIAIS DOS ADOLESCENTES: UMA BREVE REFLEXÃO Os direitos sociais são entendidos como conquistas obtidas pela sociedade no século XX. Para Couto (2006) os direitos sociais são exercidos pelos homens por meio da 6 intervenção do Estado, que tem o dever de provê-los para tentar enfrentar as desigualdades sociais. Com isso a sociedade reivindica através de movimentos sociais para que seus direitos sejam garantidos e assegurados pelo Estado, visando à igualdade social. A discussão sobre os direitos datam desde o século XVII que já reconhecia o homem como portador de direitos, mas na sociedade atual, muitas pessoas desconhecem estes direitos e associam-nos a ideia de benevolência por parte do Estado e das políticas públicas, ou seja veem o direito social como uma questão de favor e de concessão por parte dos políticos. Assim, o Estado tem o papel de intervir para efetivação dos direitos sociais, mas há toda uma legitimação destes direitos, portanto “as leis também podem se constituir em um vigoroso instrumento de garantia destes direitos” (COUTO, 2006, p.56). Só que na sociedade existem leis em abundância, é preciso que estas sejam concretizadas para que os direitos sejam realmente garantidos. O reconhecimento da criança e do adolescente como sujeito de direitos resulta em um processo historicamente construído, marcado pelas transformações existentes na sociedade, Estado e família. De acordo com o Plano Nacional da Promoção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes- CONANDA (2006) a doutrina jurídica considera a criança e adolescente como sujeito de direitos, pois a palavra “sujeito” classifica a criança e o adolescente como indivíduos dotados de personalidade e vontade próprias, onde na sua relação com o adulto não podem ser tratados como “objetos”, pois eles devem ser ouvidos e considerados segundo suas capacidades e desenvolvimento. A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente- ECA trazem em seus artigos a proteção integral e respeito aos direitos destes usuários, mostrando que estes direitos precisam ser efetivados e que devem ser asseguradas todas as necessidades básicas da criança e do adolescente. As crianças e os adolescentes têm direitos subjetivos à liberdade, à dignidade, à integralidade física, psíquica e moral, à educação, à saúde, à proteção no trabalho, à assistência social, à cultura, ao lazer, ao desporto, à habitação, a um meio ambiente de qualidade e outros direitos indisponíveis, sociais difusos, e coletivos. E consequentemente se postam, como credores desses direitos, diante do Estado e da sociedade, devedores que devem garantir esses direitos [...]São pessoas que precisam dos adultos, de grupos e instituições, responsáveis pela promoção e defesa da sua participação [...] em especial por seu cuidado (CONANDA, 2006, p.21). 7 Contudo é preciso que, para efetivação destes direitos a família, o Estado e a sociedade cumpram com seus deveres e responsabilidades quanto com a criança e adolescente, pois a família e a comunidade têm um papel fundamental na proteção e socialização destes. Enfatiza-se ainda a importância não só dessas três esferas sociais no que diz respeito à efetivação dos direitos dos adolescentes, pois instituições como a escola, a mídia e empresas influenciam no desenvolvimento das novas gerações, por isso é imprescindível que haja orientações e informações sobre o acesso aos serviços pertinentes a eles. O artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que: A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes [...] todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2005, p.13). O Estatuto da Criança e do Adolescente, aprovado no Brasil em 1990, é considerado por muitos autores, juristas e executores da lei como marco legal dos direitos da criança e do adolescente, pois visa assegurar uma proteção integral a este público-alvo, bem como promoção da saúde, educação, lazer, esporte, cultura, alimentação, profissionalização, etc. Assim, com a implementação do ECA a criança e o adolescente passam a ser considerados como cidadãos e sujeitos de direitos que possuem um sistema de garantias individuais. Enfim, deve-se enfatizar o avanço que esta lei trouxe em vários âmbitos no que diz respeito a garantia de direitos da criança e do adolescente, isto é visto quanto à preocupação existente de criação de políticas públicas para este público após a criação do estatuto. Assim, o ECA é considerado um marco legal dos direitos da criança e do adolescente, mas isto não quer dizer que tudo está bem resolvido, pois ainda há muito o que se fazer para efetivação da cidadania destas pessoas e para maior concretização desses direitos sociais. O SERVIÇO SOCIAL NO CRAS: CONHECENDO A PRÁTICA O Centro de Referência da Assistência Social- CRAS, é uma instituição que presta atendimento às famílias que encontram-se em situação de vulnerabilidade social, trabalhando na prevenção dos riscos sociais destas. Com isso, o Serviço Social é uma profissão que presta um serviço imprescindível nesta instituição, pois sua atuação volta-se para o atendimento às 8 famílias através de orientações, acolhimento, aconselhamento, enfim para uma maior inserção social e para efetivação de direitos sociais destas famílias. De acordo com o artigo primeiro da LOAS- Lei Orgânica da Assistência Social (1993), A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (LOAS, 1993, p.6). Assim, o CRAS é uma instituição inserida no âmbito da assistência social, onde oferece serviços gratuitos a toda sociedade e trabalha especialmente com as famílias carentes visando fortalecer os vínculos familiares e garantir condições mínimas de sobrevivência a esta população. Lembrando que os programas e projetos existentes no CRAS são executados pelas três instâncias do governo (federal, municipal e estadual) e devem ser articulados dentro do Sistema Único de Assistência Social- SUAS. Percebe-se que entre os profissionais que constituem a equipe de trabalho do CRAS deve haver articulações de conhecimento, que é dada através de reuniões existentes, além de que há todo um planejamento coletivo, uma organização e definição de informações a serem coletadas e como estas devem ser transmitidas aos usuários, pois a informação é um instrumento importante no cotidiano das ações desenvolvidas na unidade. O CRAS, enquanto unidade socioassistencial, possui uma equipe de trabalhadores da política de assistência social responsáveis pela implementação do PAIF, de serviços e projetos de proteção social básica, nos CRAS ou unidades operacionais de assistência social no município. Esse conjunto de trabalhadores é denominado “equipe de referência do CRAS” e sua composição é regulada pela NOB-RG/SUAS (TEIXEIRA, 2010, p.289). A equipe técnica do CRAS deve ser formada por profissionais de diferentes áreas, onde estes trabalham de forma articulada e de modo interdisciplinar, ou seja, deve-se trabalhar em equipe, coletivamente para contribuir com a diminuição das situações de vulnerabilidade e para o fortalecimento dos vínculos familiares. Por isso, o profissional do Serviço Social faz parte desta equipe técnica com o dever de contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas decisões institucionais, garantindo a plena informação aos usuários, democratizando e esclarecendo informações a fim de promover uma melhoria social e trazer resultados satisfatórios as famílias assistidas pela instituição. 9 O assistente social do CRAS desenvolve atividades como: acolhimento; acompanhamento de famílias; visitas domiciliares; encaminhamento dos usuários aos programas, projetos e serviços existentes no município; orientação e encaminhamentos de pessoas portadoras de deficiência e idosos ao BPC- Benefício de Prestação continuada; reuniões comunitárias; palestras e oficinas sócio-educativas; ações coletivas e comunitárias no território; promoção de cursos de geração de trabalho e renda; articulação com profissionais de outras políticas públicas; busca pró-ativa, etc. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2009). Com isso, enfatiza-se a atuação, ou seja, a importância do papel do assistente social do CRAS com relação ao atendimento às famílias, pois este profissional acolhe os usuários ofertando informações e prestando encaminhamentos necessários, faz também acompanhamentos assistindo assim às famílias como também realiza projetos que inserem este público para um maior acesso às informações e orientações, visando desta forma uma maior inclusão social e garantia dos direitos. Para Teixeira (2010) é importante que o trabalho dos profissionais dos CRAS não se restrinja à concessão de benefícios, e ao cadastramento das famílias, embora reconheça sua importância. Mas, é preciso ir além buscando socializar as famílias, sempre refletindo e agindo sobre sua prática profissional. O espaço físico constitui fator determinante para o reconhecimento do CRAS como lócus no qual os direitos socioassistenciais são assegurados. É imprescindível que a infra-estrutura e os ambientes do CRAS respondam a requisitos mínimos para a adequada oferta dos serviços socioassistenciais de proteção social básica nele ofertados (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2009, p.48). Portanto, sabe-se que no cotidiano de trabalho há vários desafios e dificuldades encontradas pelos técnicos do CRAS, seja devido à limitação do espaço e da autonomia profissional, pela falta de recurso para o desempenho das ações planejadas, ou pela inadequação do espaço físico, só que mesmo diante desses acontecimentos é preciso garantir um bom atendimento em prol dos usuários. É imprescindível que o Serviço Social no CRAS supere a visão de assistencialismo, ultrapasse a benesse e a caridade, pois ambos já não fazem parte do projeto ético-político profissional, além de que não geram mudanças significativas na vida dos usuários, não 10 promovem autonomia e cidadania. Assim, deve-se entender a realidade familiar num contexto amplo, livre de julgamentos e de dimensão conservadora. Enfim, destaca-se a importância do assistente social trabalhar através da mediatização, ou seja cada profissional tem sua forma de agir, sua dimensão de conhecimentos, onde estes devem levar em consideração o fato singular não esquecendo o universo das demandas sociais existentes na realidade social, intervindo a fim de uma melhoria social e de uma emancipação humana, não sendo um mero executor, mecanicista e rotulador, é necessário ser criativo, inventivo e inovador para que sua prática profissional venha cada vez mais expandir novos espaços de atuação. CONSIDERAÇÕES FINAIS A PARTIR DOS DADOS COLETADOS Das cinco mães adolescentes entrevistadas, constatou-se que 60% com a idade de 15 anos e 40% com 16 anos, todas residentes no município de Lagarto-SE, especificamente no Bairro Jardim Campo Novo, apresentaram baixo grau de escolaridade. É importante dizer que entre as mães entrevistadas observou que 80% destas não trabalham, e 20% trabalham em lavouras. Portanto a partir dos dados coletados foi possível perceber que as mães adolescentes deixaram de estudar, possuindo o ensino fundamental incompleto. Constatou-se que quanto à primeira relação sexual, 40% das mães entrevistadas tiveram a primeira relação sexual aos 14 anos; 40% aos 13 anos e 20% aos 11 anos. No que se refere ao uso dos métodos contraceptivos, 60% das entrevistadas disseram que fazem uso dos métodos contraceptivos, destas 40% usam comprimido e 20% usam injeção. Assim, de acordo com Oliveira (1998) a vida sexual ocasional por parte dos adolescentes faz com que eles não planejem e nem previnam-se, desta forma vê-se que a maioria das mães entrevistadas disseram que fazem uso de métodos contraceptivos, mas mesmo assim engravidaram. Segundo a autora, isso acontece devido ao uso inadequado destes métodos que faz com que tornem-se ineficazes, além de que há também uma falta de informação principalmente por parte das adolescentes provindas de famílias que vivem em situações de vida precárias, sendo que as adolescentes acabam achando este acontecimento normal, pois vêem isso acontecer de forma natural. Quanto ao planejamento da gravidez 60% das entrevistadas disseram não ter planejado e 40% ter planejado a gravidez. Ou seja, os sentimentos das adolescentes variam de acordo 11 com a visão de cada uma, pois há uma particularidade, desta forma, como destaca Dias e Texeira (2010) a gravidez na adolescência não deve ser vista apenas como algo não planejado e indesejado por parte dos adolescentes, pois muitas adolescentes, principalmente as de nível sócio-econômico menos favorecido vêem a maternidade como algo positivo, desejado e satisfatório. No aspecto da participação e apoio da família com as mães adolescentes entrevistadas todas disseram que há o apoio da família. Este fato é de suma importância, pois com o apoio e incentivo da família é possível superar as dificuldades trazidas pela maternidade. Verificou-se que a partir do momento que as adolescentes tornaram-se mães, 80 % contaram que houve mudanças nas suas vidas, destas 40% disse que aumentou a responsabilidade e 40% disse que mudou a rotina, deixou de sair, além de que o gasto é em dobro; e 20% disseram que não houve mudanças. Constatou-se que 60% das mães entrevistadas já participaram de algum projeto ou programa voltado para inclusão social, que foi no grupo de convivência de gestante do CRAS, sendo que destas 40% freqüentaram o grupo durante regularmente e 20% desistiu e deixou de fazer parte do projeto; Entretanto 40% das mães adolescentes nunca participaram de projeto ou programa voltado para inclusão social ou capacitação de adolescentes. De acordo com os artigos nº. 86 e nº. 87 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) deve haver uma política de atendimento dos direitos das crianças e adolescentes por meio de políticas sociais básicas de programas de assistência social, para quem necessitar. Com isso é imprescindível ressaltar a importância da existência de programas e projetos voltados para inclusão social destas pessoas, pois este fato pode ajudar a diminuir os problemas existentes, contribuindo na formação de um melhor e mais amplo projeto de vida profissional dos adolescentes, trazendo benefícios e melhorias na qualidade de vida destas pessoas. Contudo, de acordo com as entrevistas feitas, percebeu-se que maior parte das entrevistadas depois que tornaram-se mães sentem-se responsáveis e amadurecidas, porque de certa forma a sociedade impõem que as famílias tenham esse caráter, é um valor construído socialmente. Foram entrevistados também cinco familiares, ambos são residentes no município de Lagarto-SE no Bairro Jardim Campo Novo. Dentre os entrevistados, o grau de escolaridade 12 são 60% analfabetos e 40% possuem o nível fundamental incompleto. No que refere-se às condições de moradia 100% das residências são de alvenaria, não possui rede de esgoto, onde em 80% destas há coleta de lixo e em 20% não há, 80% disseram que a casa é própria e 20 % não pronunciou a respeito. Quanto à renda familiar e atividade que desempenham 80 % recebem auxílio do Programa Bolsa Família e 20% dos familiares não recebem auxílio do Programa Bolsa Família, pois trabalha em emprego formal, auxiliar de serviços gerais. No que tange ao número de membros das famílias entrevistadas, 40% é composto por três membros, 20% por sete membros, 20% por quatro membros e 20% por seis membros. Quanto ao convívio e a relação entre os familiares, notou-se que em 60% das famílias a relação é boa, apesar da existência de alguns conflitos. Constatou-se na reação dos familiares ao saber que na sua família haveria uma mãe ainda adolescente onde, 60% dos entrevistados disseram que no início não queria, mas depois aceitaram. Entretanto 40% as reações foram de alegria. Quanto à questão da inserção da família em projetos, programa ou política social 100% das famílias entrevistadas participam ou já participaram de programas e projetos sociais. A partir das entrevistas realizadas com as assistentes sociais do CRAS Monteiro viu-se que as ações desenvolvidas por estes profissionais voltadas às famílias e aos adolescentes ocorrem através da prevenção do adolescente e de sua família. Já no que refere-se ao processo da mediação, percebeu-se que esta ocorre tanto por meio da atuação em campo, ou seja, junto às famílias, que é o momento em que se conhece a realidade social destas de perto, através de um acompanhamento realizado, como também foi enfatizado que o trabalho intersetorial, contribui de forma positiva na garantia dos direitos dos adolescentes. Deve-se destacar que o trabalho desenvolvido no CRAS Monteiro também é condizente com o que estabelece o Sistema Único de Assistência Social- SUAS e a Norma Operacional Básica- NOB, a Política Nacional de Assistência Social- PNAS e a Lei Orgânica de Assistência Social- LOAS, onde há existência de grupo de convivência de gestantes, um atendimento voltado ao acolhimento, orientação e intervenção para o enfrentamento das carências e das questões sociais existente entre os membros do grupo. Portanto, no seu cotidiano profissional viu-se que as assistentes sociais atuam frente à gravidez na adolescência de maneira informativa, para elevação da auto-estima, além de mediar o acesso a benefícios eventuais que são garantidos em lei. Cabe ressaltar, que seria importante a promoção de campanhas preventivas e palestras para o público adolescente com 13 o intuito de orientação para prevenção da gravidez na adolescência. Assim a importância do trabalho do assistente social na instituição esta na viabilização de políticas públicas para os seus usuários, em especial no caso das mães adolescentes, pois esta promove a garantia dos direitos sociais na pesrpectiva de torna o usuário protagonista da sua vida. De acordo com a problemática apresentada pela pesquisa em pauta, pode-se concluir que na realidade social das mães adolescentes que foram entrevistadas e que são acompanhadas pelo CRAS Monteiro, prevalecem as baixas condições sociais e econômicas, onde há um baixo nível de escolaridade, e em sua maioria fazem o uso de métodos contraceptivos, mas mesmo assim engravidam, isso se justifica pela falta de informação existente e pelo uso inadequado destes métodos. Além disso, as condições de moradia são precárias, não há espaço de lazer e cultura. Contudo, foi possível perceber que o convívio familiar é tido como bom, apesar da existência de muitos problemas e de alguns conflitos. Assim, a partir da análise feita do estudo foi possível constatar que a gravidez na adolescência não pode ser definida simplesmente como algo não-planejado por parte dos adolescentes, pois como foi visto nas entrevistas realizadas, muitas adolescentes optaram e queriam ser mãe, mesmo com a pouca idade e na situação de vida não-estruturada que se encontravam. Portanto, esta pesquisa é de suma importância para entender como a gravidez na adolescência está sendo tratada, e como as necessidades desse segmento vêm sendo tratadas pelas políticas públicas em particular Assistência Social em sua unidade CRAS, no sentido de promover uma discussão sobre essa expressão da questão social, bem como entender a percepção das mães adolescentes e seus familiares. REFERÊNCIAS AMAZARRAY, Mayte Raya et al. A experiência de assumir a gestação na adolescência: um estudo fenomenológico.Porto <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=_ Acesso em: 29 de set de 2010. alegre:1998. Vol. 11. nº3. Disponível em: s0102-7972219980000300048&script=sci_arttext. 14 BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEXEIRA, Maria de Loudes Trassi. Adolescência: tornar-se jovem. In: Psicologias uma introdução ao estudo da psicologia. 13ª ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002. cap.20. p.290-306. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Secretaria especial dos direitos humanos; Ministério da Educação, Acessoria de Comunicação Social. Brasília: MEC, ACS, 2005. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome. Orientações técnicas: Centro de Referência da Assistência Social –CRAS. 1ªed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome, 2009. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Plano nacional de promoção, proteção e defesa do direito de crianças e adolescentes à convivência familiar e comunitária. Brasília: Conanda, 2006. COUTO, Berenice Rojas. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma equação possível? 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. D’ANDREA, Flávio Fortes. A adolescência. In: Desenvolvimento da personalidade: enfoque psicodinâmico. 16ª ed. Rio de Janeiro, Bertand, 2003.p.p84-108. DIAS, Ana Cristina Garcia;TEXEIRA, Marco Antônio Pereira.Gravidez na adolescência: um olhar sobre o fenômeno complexo.Ribeirão Preto:2010. Vol. 20. nº45. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=_ s0103-863x000100015&script=sci_arttext. Acesso em: 29 de set de 2010. GOMES, Maria Araújo; PEREIRA, Maria Lúcia Duarte. Família em situação de vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas. Rio de Janeiro: 2005, vol 10. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/csc/v10n2/a13v10n2.pdf >. Acesso em 03 de abr de 2001. Lei Orgânica da Assistência Social/LOAS,1993. MATHEUS, Thiago Corbidier. Adolescência: história e política do conceito na psicanálise. São Paulo: Casa do psicólogo, 2007. OLIVEIRA, Maria problema.Campinas:1998. Waldenes.Gravidez Vol. 19. na adolescência: nº45. dimensões Disponível do em: 15 <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=_s0101326219980002000004&script=sci_arttext&ting=es. Acesso em: 20 de ago de 2010. População de crianças e adolescentes em relação ao total no Brasil - 2005 e 2007. Disponível em:<http://www.promenino.org.br/Ferramentas/DireitosdasCriancaseAdolescentes/tabid/77/C onteudoId/2f8d3b72-501e-486e-99ff-46993236cda1/Default.aspx>. Acesso em: 18 de nov de 2010. RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999. SOARES, Guiomar Freitas. Gravidez na adolescência. In: Corpos, gêneros e sexualidades: questões possíveis para o currículo escolar. Organizado por Paula Regina Costa Ribeiro e Raquel Pereira Quadrado. 2ª ed. Rio Grande: FURG, 2008. p. 44-48. TEIXEIRA, Maria Solange. Trabalho interdisciplinar nos CRAS: um novo enfoque e trato à pobreza. Textos & Contextos. Porto Alegre. nº2. p.286-297.ago/dez.2010.