1 A TEMÁTICA DOS PRODUTOS DE LIMPEZA: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE QUÍMICA Éverton da Paz Santos Gezyel Barbosa de Aquino Éverton Coelho Debas GT1- Espaços educativos, currículos e formação docente (saberes e práticas). RESUMO Este artigo relata a utilização de uma metodologia contextualizadora e interdisciplinar, através da utilização do tema gerador “Produtos de Limpeza” para uma turma de 3ª série do Ensino Médio, como uma alternativa para promover uma educação cientifica, despertando, assim, o interesse dos estudantes pelo aprendizado da Química e os preparando para entender e participar da sociedade na qual estão inseridos na condição de cidadãos críticos e pensantes. Os resultados evidenciam que a abordagem constitui-se como uma alternativa viável ao processo educativo de vários conteúdos curriculares formais da Química. Palavras-chave: Ensinoaprendizagem, contextualização, Produtos de Limpeza. RESUMEN Este artículo reporta el uso de un enfoque contextualizado e interdisciplinario, con el tema generador de "limpieza" para una clase de tercer año de escuela secundaria, como una alternativa para proporcionar una educación científica, despertar, de tal modo, los estudiantes el interés por aprender la química y la preparación para entender y participar en la sociedad en la que se insertan en la condición de los ciudadanos críticos y pensadores. Los resultados muestran que el método fue establecido como una alternativa viable para el proceso educativo formal del plan de estudios distintos de la química. Palabras clave: enseñanza-aprendizaje, la contextualización, productos de limpieza. Graduando do Curso de Licenciatura em Química da Faculdade Pio Dé[email protected] Graduando do Curso de Licenciatura em Química da Faculdade Pio Décimo. [email protected] Graduando do Curso de Licenciatura em Química da Faculdade Pio Décimo. [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO Os produtos de limpeza ou saneantes são substâncias que facilitam a limpeza e conservação de muitos ambientes, são diversificadamente utilizados pela população. Acredita-se que um dos primeiros produtos de limpeza a existir foi o sabão, sendo o mesmo produzido a partir da mistura de gordura vegetal e animal, água e cinzas de vegetais. Os produtos de limpeza desempenham um papel muito importante na sociedade, no sentido de contribuir de forma significativa para o desenvolvimento tecnológico e econômico, uma vez que, estes produtos são utilizados como agentes desinfectantes, aplicados nas indústrias alimentícias, em ambientes domésticos, cozinhas industriais, ambientes hospitalares, dentre outros. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA (2010), os locais onde produzem saneantes com uso ou emprego as suas finalidades inadequadamente, estão sujeitos interdição e comercialização. Uma evidencia do não cumprimento das normas previstas na lei, para fabricação, uso e comercialização dos produtos de limpeza, é que existe um número considerável de estabelecimentos que funcionam normalmente, sem serem autuados ou ao menos orientados a uma prática politicamente correta com respaldos direcionados ao custo e qualidade dos produtos oferecidos à comunidade. A química, por sua vez, está diretamente relacionada ao estudo de várias substâncias encontradas no cotidiano das pessoas, sendo elas: cosméticos, produtos de limpeza, produtos químicos tóxicos, fertilizantes, agrotóxicos e etc. De acordo com os PCNs (1999) a vivência dos alunos e os fatos do dia- a dia, a tradição cultural, a mídia e a vida escolar, busca-se reconstruir os conhecimentos químicos que permitiriam refazer essas leituras de mundo, agora com fundamentação também na ciência. Partindo do pressuposto, há a necessidade em trabalhar este tema no ensino de química de forma contextualizada, com o intuito de educar cientificamente o 3 aluno por meio da abordagem de conteúdos que estão diretamente relacionados ao seu cotidiano, a fim de resolver problemas encontrados dentro da sociedade. De acordo com Mól e Santos (2000), a abordagem do conteúdo químico deve ser feita por meio de temas sociais, pois introduz o conteúdo a partir de um texto gerador, que apresenta um tema de relevância social, problematizando-o e estabelecendo relações com determinados conceitos químicos, que serão necessários para sua abordagem. Em seguida, esses conceitos são apresentados ao aluno e, após essa fase, são explorados textos que retomam o tema em foco na unidade, para explicar as relações entre essa e os conceitos químicos estudados. Observa-se que muitos conteúdos em química são ministrados por meio da memorização e reprodução do que se tem no livro didático adotado pela instituição de ensino ou pelo professor da disciplina. Sabe-se ainda que, o ensino de química e de outras ciências, deve possibilitar ao aluno condições de aprendizagem em que o mesmo possa desenvolver habilidades e aptidões que estão diretamente relacionadas à formação e construção do conhecimento, com a capacidade de elaborar seus próprios conceitos, a fim de torná-lo um verdadeiro cidadão. É sabido que o processo de aprendizagem dessa ciência não será completo se a teoria e a prática apresentam-se desvinculadas. Smith1 (1998) apud Marques (2008), afirma que a importância do trabalho experimental não deve ser questionada, pois este proporciona aos discentes maior compreensão acerca dos fenômenos e processos que ocorrem na natureza. No entanto, é também evidente que simplesmente pela demonstração de “experimentos prontos” não enriquece o saber dos estudantes, pois a discussão e a investigação fazem-se mister à construção do conhecimento. Segundo Mortimer (1992), a Química deve ser revelada e questionada através de situações problemáticas e problematizadas. Ou seja, os fenômenos empíricos devem ser apresentados aos alunos para que estes forneçam a explicação e construam seus próprios conceitos. 1 SMITH, K.A. Experimentação nas Aulas de Ciências. In: CARVALHO, A.M.P.; VANNUCCHI, A.I.; BARROS, M.A.; GONÇALVES,M.E.R.; REY, R.C. Ciências no Ensino Fundamental: O conhecimento físico. 1. ed. São Paulo: Editora Scipione.1998. p. 22-23. 4 Assim, este trabalho tem como objetivo despertar o interesse nos alunos para o ensino de química através da elaboração de produtos de limpeza em sala de aula, como tema motivador, levando em consideração as matérias primas utilizadas na elaboração, os cuidados durante manuseio e estocagem dos produtos, orientação quanto aos riscos que os mesmos podem causar a saúde e o meio ambiente com base nas recomendações da ANVISA. 2 METODOLOGIA Esta atividade foi realizada durante o período de estágio curricular do Curso de Licenciatura em Química da Faculdade Pio Décimo, no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva em Aracaju - SE, com uma turma de 3ª série do Ensino Médio no período noturno da disciplina de Química. A turma apresentava cerca de 25 alunos, na qual foi dividida em 04 grupos sendo que cada grupo pesquisou sobre um tipo de saneante (detergente, desinfetante, amaciante e água sanitária) em seguida, os integrantes de cada grupo trouxeram rótulos para serem estudados durante a aula, a fim de conhecerem a composição química dos produtos de limpeza. Para realização da atividade foram necessárias duas horas/aulas. Os materiais utilizados foram: rótulos dos produtos de limpeza (detergente, desinfetante, amaciante e água sanitária) uma espátula de plástico, copos descartáveis de 50mL e de 200mL, recipiente de garrafa PET cortado, soda caústica, ácido sulfônico, cloreto de sódio em pó, corantes, essências, água e etc.. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A abordagem de conteúdos químicos por meio de temas que permitam um ensino interdisciplinar e contextualizado tem sido o respaldo de muitos autores no 5 que diz respeito ao ensino de química, contrapondo a visão fragmentada e conteudista do ensino. Partindo desse pressuposto, não é mais aceitável um ensino departamentalizado (disciplinar), porém, faz-se mister a organização de uma prática educativa que preconize novas formas de ensinar, na qual, as disciplinas estejam conectadas e possibilitem a formação de um aprendizado real acerca de abordagens diversas (interdisciplinar) e, sobretudo, a formação de significados. Diante disso observou-se que os alunos sentiram-se bastante motivados a aprender através do tema aplicado em sala de aula. Quanto mais o ensino da Química se aproxima da realidade dos alunos, maiores são as possibilidades de se interessarem pelo tema em estudo. O conhecimento mais próximo da vivência e do interesse de cada um é um importante ponto de partida para que as dificuldades no processo de abstração do conhecimento sejam atenuadas. Figura 01: A atenção dos alunos durante a aula. Através da realização deste trabalho alguns conteúdos foram recapitulados de modo a garantir uma melhor abordagem do assunto, não fragmentando os 6 conteúdos. Os conteúdos abordados através do tema foram: unidades de medidas, a matéria e suas propriedades, substâncias químicas e misturas, funções inorgânicas, reações químicas, determinação de pH, soluções, funções orgânicas etc. Figura 02: Análise dos rótulos e composição química dos saneantes. Através da produção de agentes de limpeza em sala de aula, os conteúdos citados acima foram abordados e alguns recapitulados, a fim de otimizar o aprendizado e propor uma aula dinâmica e interativa, contrapondo-se, dessa forma, às aulas tradicionais, as quais continuam sendo aplicadas até os dias de hoje e valorizam a memorização e a retenção do conteúdo pelos estudantes, que deverão reproduzir, posteriormente, o conhecimento adquirido por meio de uma avaliação. A retomada dos conteúdos é fundamental, pois, desse modo, os alunos podem entender a importância das medições (dosagens) através do preparo das soluções produzidas em sala, bem como realizar cálculos matemáticos, por meio das unidades de medidas (g e L). Os conhecimentos das substâncias químicas e das propriedades da matéria estão diretamente relacionados, pois, é possível despertar o aguçamento dos alunos em conhecer as matérias primas utilizadas na elaboração dos produtos de limpeza bem como as suas propriedades. Para medir as formulações foram utilizados copos descartáveis de 50mL e de 200mL, sendo dissolvidos num recipiente de garrafa PET cortado, como mostra a figura abaixo. 7 Figura 03: Medições com copos descartáveis para elaboração dos produtos de limpeza. Tratando-se das funções inorgânicas especificamente ácidos, bases e sais, foi possível discutir e diferenciar as características e a importância de cada uma dessas substâncias na composição dos produtos de limpeza, levando os educandos a identificar o caráter ácido ou base por meio da unidade pH inserida nos rótulos dos produtos de limpeza estudados. 8 Figura 04: Explicações sobre as recomendações da ANVISA e acidentes domésticos com os produtos de limpeza. É importante destacar que muitas reações químicas ocorrem durante a elaboração dos produtos de limpeza, tornando, desta forma, as aulas mais atrativas e com um caráter experimental, pois propicia aos alunos a percepção da ocorrências das reações, através dos indicadores de ocorrência de reação química como a precipitação das soluções, mudanças na coloração, liberação ou absorção de calor etc. Diante disso os alunos foram orientados a utilizarem impreterivelmente o uso de EPI´s (Equipamentos de proteção Individual) óculos, luvas, avental ou jaleco e máscaras se necessário, durante a manipulação dos produtos químicos, bem como seguirem as orientações estabelecidas pela ANVISA. Durante a prática os alunos foram orientados a não aproximar-se muito dos produtos químicos utilizados. 9 Figura 05: Produção do detergente durante a aula. Com relação ao conteúdo de funções orgânicas, os alunos aprenderam quais as substâncias que apresentam grupos funcionais em sua estrutura e que estão presentes na composição dos produtos de limpeza, dentre eles os éteres, ésteres, aldeídos, álcool etc. Assim, promove-se a relação dos grupos funcionais com os princípios ativos desses produtos, através do estudo das muitas estruturas dos compostos orgânicos desses produtos. Diante disso observou-se que os alunos sentiram-se bastante motivados a aprender através do tema aplicado em sala de aula. Quanto mais o ensino da Química se aproxima da realidade dos alunos, maiores são as possibilidades de se interessarem pelo tema em estudo. O conhecimento mais próximo da vivência e do interesse de cada um é um importante ponto de partida para que as dificuldades no processo de abstração do conhecimento sejam atenuadas. Algumas falas foram descritas: “A aula foi boa porque não falou de assunto só, deu para aprender muita coisa ao mesmo tempo”. “Gostei da aula, pois aprendi como se faz produtos de limpeza da forma correta”. 10 4 CONCLUSÃO Pesquisas realizadas sobre o ensino evidenciam que um professor didático, normalmente ciente das ferramentas básicas para otimizar o aprendizado do aluno, está de acordo com as exigências estabelecidas em importantes documentos como os PCN´S, não por obrigação, mas pela necessidade, como educador e cidadão consciente, de promover um ensino interessante e motivador aos alunos, de modo que aprendam a pensar quimicamente sobre acontecimentos cotidianos afim de tentar resolvê-los. Desse modo, alcançar resultados satisfatórios na aplicação de uma metodologia de ensino é uma das maiores preocupações dos professores. A proposta é simplificar os conteúdos, conectando-os, e elucidando a importância da química na construção de saberes aplicáveis ao cotidiano. Assim conclui-se que a metodologia aplicada apresentou resultados satisfatórios no que diz respeito ao processo de ensino aprendizagem de forma significativa, por isso é bastante relevante sua aplicação, uma vez que os alunos além de abstraírem o conhecimento químico politicamente sustentável sobre a produção dos produtos de limpeza, serão instigados a formarem seus próprios conceitos com situações encontradas no cotidiano, relacionado-os, assim, diretamente com a química. 5 REFERÊNCIAS Agência Nacional de Vigilância Sanitária; Portaria Nº 15, de 23 de Agosto de 1988. Disponível <legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=18661&mode=PRINT_VE>. Acessado em 05.10.2010. em: 11 MARQUES, J. Q. P. et al. O ensino de Química e as atividades experimentais. Artigo publicado em anais eletrônico do 48º Congresso Brasileiro de Química, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://www.abq.org.br/cbq/2008/trabalhos/6/6-17985.htm>. Acesso em 02 de Novembro de 2009. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 1999. MÓL, G. de S.; e SANTOS, W. L. P. dos. (Coords.). (2000). Química na sociedade. 2 ed. Brasília: Editora da UnB. MORTIMER, E. F. Pressupostos epistemológicos para uma metodologia de ensino de química: mudança conceitual e perfil epistemológico, 1991. Química Nova,v. 15, n. 3, p. 242 a 249, 1992.