ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ ESPECIALIZAÇÃO EM PRÁTICAS CLÍNICAS EM SAÚDE DA FAMÍLIA MELINE CRUZ LIMEIRA LIMA IMPLANTAÇÃO DO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO À GESTANTE NA ESF DO CAMARÁ EM AQUIRAZ-CE 2 FORTALEZA 2009 MELINE CRUZ LIMEIRA LIMA IMPLANTAÇÃO DO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO À GESTANTE NA ESF DO CAMARÁ EM AQUIRAZ-CE Projeto de Intervenção submetido à Escola de Saúde Pública do Ceará, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Práticas Clínicas em Saúde da Família. Orientador: João Batista Oliveira Maia - Prof. Ms. FORTALEZA 3 2009 MELINE CRUZ LIMEIRA LIMA IMPLANTAÇÃO DO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO À GESTANTE NA ESF DO CAMARÁ EM AQUIRAZ-CE Especialização em Práticas Clínicas em Saúde da Família Escola de Saúde Pública do Ceará Aprovado em ___/___/___ Banca Examinadora: João Batista Oliveira Maia Mestre ________________________________ Kílvia Maria Albuquerque Mestre ___________________________________ Fernanda Colares de Borba Mestre ________________________________ 4 RESUMO O atendimento odontológico de gestantes é um assunto bastante controverso, principalmente em função dos mitos que existem acerca do tratamento, tanto por parte das gestantes como por parte dos cirurgiões-dentistas que não se sentem seguros em atendê-las, por isso é sempre um desafio organizar e priorizar este atendimento. O objetivo deste projeto de intervenção é implantar o atendimento odontológico a gestantes na Estratégia Saúde da Família do Camará em Aquiraz-CE. A metodologia utilizada será, primeiramente, através de reuniões para sensibilização de toda a Equipe de Saúde da Família e posteriormente para a elaboração do fluxograma de atendimento odontológico na assistência pré-natal. Além do protocolo de atendimento clínico, serão realizadas atividades educativas através de palestras e formação de grupos, na Unidade Básica de Saúde no dia de atendimento da gestante e reforçada, sempre, no atendimento clínico odontológico dela. O método utilizado será através de exposição interativa, macromodelos, cartazes e álbum seriado. A avaliação da intervenção será através da avaliação do conhecimento das gestantes por meio de um questionário sobre a atenção odontológica na gravidez e os cuidados com o bebê, um no momento da marcação da primeira consulta e outro após o tratamento concluído, e da comparação da quantidade de tratamentos iniciados e da quantidade de tratamentos concluídos, como também da quantidade de gestantes que realizam o pré-natal com médico/enfermeira e da quantidade que realizam prénatal odontológico. Palavras-chave: gestante, atendimento odontológico, educação em saúde bucal. 5 ABSTRACT The dental care of pregnant women is a very controversial subject, especially related to the myths that exist about the treatment, both by the pregnant women and by the dentists, who do not feel safe assist them, so it is always a challenge to organize and prioritize this service. The aim of this intervention project is to implement a dental assistance to pregnant women in the Family Health Strategy of Camará - Aquiraz CE. The methodology is, first, through meetings to sensibilize the whole Family Health Team and subsequently to the development of the protocol for dental care in prenatal assistance. Besides the clinical protocol, educational activities will be conducted through lectures and training groups, in the Basic Health Unit on the day of attendance of pregnant and always reforced when she comes to the dentist office. The method will be through interactive exhibit, macro models, posters and album series. The evaluation of the intervention will be through evaluation of the pregnant women knowledge by a questionnaire about dental care during pregnancy and the care of babies, one at the time she schedule her first dentist appointment and another after the treatment is completed, and a comparison between the quantity of initialized treatment and amount of completed treatment, and also a comparison between quantity of pregnant women who carry out the prenatal with doctor/nurse and the amount who attend to prenatal dental care. Keywords: pregnant women, dental care, oral health education. 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 2 OBJETIVOS......................................................................................................... 2.1 Objetivo Geral................................................................................................... 2.2 Objetivos Específicos........................................................................................ 3 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................... 4 METODOLOGIA................................................................................................. 4.1 Cenário e Sujeitos da Intervenção................................................................... 4.2 Procedimentos da Intervenção......................................................................... 4.3 Resultados Esperados........................................................................................ 4.4 Avaliação da Intervenção.................................................................................. 5 CRONOGRAMA.................................................................................................. REFERÊNCIAS....................................................................................................... 1 INTRODUÇÃO 07 09 09 09 10 17 17 17 19 19 21 22 7 Atualmente o Ministério da Saúde apresenta eixos de atenção à saúde para que os profissionais da Estratégia Saúde da Família (ESF) se orientem e dessa forma, estabeleçam o cuidado a grupos prioritários. Dentre estes, destaca-se o grupo de gestantes, que devem ser atendidas pelas equipes de saúde bucal. Considerando que o atendimento odontológico é um assunto bastante controverso, principalmente em função dos mitos que existem acerca do tratamento, tanto por parte das gestantes como por parte dos cirurgiões-dentistas que não se sentem seguros em atendê-las, é sempre um desafio organizar e priorizar este atendimento (SILVA; STUANI; QUEIROZ, 2006). O folclore popular é rico em atributos negativos em relação ao tratamento odontológico na gravidez como: “a cada gravidez, perde-se um dente”; “há enfraquecimento dos dentes da mãe porque o feto retira cálcio deles”, mulheres grávidas são mais suscetíveis às doenças bucais e que gestantes não podem ser submetidas ao tratamento odontológico, usar medicamentos e anestésicos locais e realizar tomadas radiográficas. A maioria dos medos, embora sem suporte científico, contribuem para o afastamento da gestante da atenção odontológica (CODATO; NAKAMA; MELCHIOR, 2008). A gestação é um acontecimento fisiológico, com alterações orgânicas naturais, mas que impõe aos profissionais de saúde a necessidade de conhecimentos para uma abordagem diferenciada. O estado de saúde bucal apresentado durante a gestação tem relação com a saúde geral da gestante e pode influenciar na saúde geral e bucal do bebê, por isso os profissionais de saúde bucal devem trabalhar de forma integrada com os demais profissionais da equipe de saúde e, no que diz respeito à gestante, trabalhar em constante interação com os profissionais responsáveis pelo seu atendimento (BRASIL, 2006). A gravidez é um período em que a mulher procura com freqüência profissionais de saúde, estabelecendo assim um forte vínculo entre o binômio gestante/bebê (MOURA et al., 2001). Ela está mais motivada, interessada em receber informações que venham a beneficiar seu filho em formação, bem como à incorporação de novas atitudes e comportamentos (MIRANDA; MAIA; VALE, 2004; MELO et al., 2007). A mãe tem um papel-chave no seio familiar e quando bem instruída, pode levar adiante os ensinamentos adquiridos (MIRANDA; MAIA; VALE, 2004). As gestantes devem ser motivadas a adquirir e transmitir hábitos saudáveis em relação à higiene bucal e à dieta, como também a evitar a instalação de hábitos de sucção não nutritivos (MOURA et al., 2001). 8 No momento em que a gestante procura atendimento odontológico, é necessário que profissional esteja consciente sobre a necessidade da educação em saúde para mostrar a esta mãe a importância da odontologia materno-infantil (MIRANDA; MAIA; VALE, 2004). Se o profissional não estiver atento, pode-se perder uma oportunidade única de educar e motivar aquela família e assim prevenir muitos problemas bucais do bebê, já que, tradicionalmente, o bebê não vai ao consultório odontológico a não ser que já apresente algum problema (MIRANDA; MAIA; VALE, 2004). No ano de 2008 no Camará, distrito do município de Aquiraz, foram cadastradas, em média, 16 gestantes por mês, sendo que destas, em média, 100% foram acompanhadas, 93,7% estavam com vacina em dia, 81,2% iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre e foram realizadas, em média, 15 consultas de pré-natal no mês. Apesar de terem sido realizadas 314 consultas de pré-natal no ano de 2008, tanto pelo médico como pela enfermeira, foi insignificante a procura por atendimento odontológico durante a gravidez. Na ESF do Camará há carência de serviço odontológico educativo-preventivo no período pré-natal, por isso pretendo implantar o atendimento às gestantes que além de orientação sobre dieta e higiene bucal, elas terão atendimento odontológico periódico para a prevenção das principais doenças bucais: a cárie e a doença periodontal, diminuindo assim, a transmissão precoce dos microorganismos responsáveis por essas doenças aos seus bebês. Com isso, ao investir na sua educação, na mudança de seus hábitos e de seu comportamento, a gestante determinará uma melhor qualidade de vida para o seu bebê e toda sua família. 2 OBJETIVOS 9 2.1 Objetivo Geral Implantar o atendimento odontológico a gestantes na ESF do Camará em Aquiraz-CE. 2.2 Objetivos Específicos • Identificar e cadastrar 100% das gestantes da ESF do Camará do município de Aquiraz-CE; • Acompanhar a gestante de forma integral; • Desenvolver um programa de educação permanente para os profissionais da ESF visando uma atuação de qualidade na área de saúde bucal para as gestantes da ESF do Camará em Aquiraz-CE; • Proporcionar a gestante um período gestacional com acesso aos serviços de Odontologia; • Estimular mudança de hábitos comportamentais da gestante em relação a sua higiene bucal e dieta. 3 REVISÃO DA LITERATURA 10 Os conhecimentos atuais fornecem evidências de que a construção da saúde começa antes do nascimento, sendo assim, recentemente a odontologia tem buscado valorizar o período intra-uterino, estabelecendo o pré-natal odontológico como medida preventiva para a gestante e seu bebê. A fase pré-natal pode exercer efeitos positivos ou negativos na saúde do bebê em formação, inclusive na saúde bucal os efeitos dependerão de como foi o ambiente intra-uterino que sofre influências diretas da mãe (CARDOSO; GONÇALVES, 2002). A existência de crenças populares sobre a saúde bucal da gestante é relatada por autores de vários países. Entre as mais comuns, estão as que um dente perdido a cada gravidez, o bebê retira cálcio dos dentes da mãe, mulheres grávidas são mais susceptíveis às doenças bucais e que gestantes não podem ser submetidas ao tratamento odontológico. Na verdade, algumas alterações realmente acontecem durante a gestação. Enjôos e vômitos freqüentes, geralmente presentes no primeiro trimestre, podem provocar erosões ácidas ou descalcificações nas superfícies palatinas e linguais dos dentes (KONISH, 1995). Além disso, o enjôo é considerado o fator mais importante na redução do número de escovações, por isso o período gestacional é considerado de alto risco para a ocorrência de cárie, não pelo aumento da microbiota oral ou mesmo da sua patogenicidade, mas pelo aumento da quantidade de placa bacteriana devido aos descuidos da gestante com sua higiene (MONTANDON et al., 2001; MELO et al., 2007). Outro fator responsável pelo aumento da atividade cariogênica é a diminuição da capacidade fisiológica do estômago que faz com que a gestante passe a ingerir alimentos em menores quantidades, mas com maior freqüência ( BRASIL, 2006; MELO et al., 2007). Além da gravidez não ser responsável pelo aparecimento da cárie, também não é pela perda de minerais dos dentes da mãe para formar as estruturas calcificadas do bebê, visto que estes vêm dos ossos quando há carência na dieta (CARDOSO; GONÇALVES, 2002). A comida ingerida pela mãe afeta os dentes do feto enquanto estão em formação: o cálcio, o fósforo e outras vitaminas são necessários. Quando a dieta da mãe é balanceada, quantidades adequadas desses nutrientes passam para seu filho (PEREIRA et al., 2003). Conforme o Ministério da Saúde, os dentes decíduos começam a se formar a partir da sexta semana de vida intra-uterina e os dentes permanentes a partir do quinto mês de vida intra-uterina. Por isto, os seguintes fatores podem acarretar problemas nos dentes dos bebês: o 11 uso de medicamentos, a ocorrência de infecções e deficiências nutricionais, entre outros (BRASIL, 2006). Uma deficiência protéico-energética ou de outros nutrientes essenciais, durante a fase de desenvolvimento dental, sugere maior susceptibilidade à cárie, retardo na irrupção, alterações das estruturas de suporte e nas glândulas salivares (SANTOS-PINTO et al., 2001). Além da dieta da mãe influenciar na formação da dentição, interfere na formação do paladar (MIRANDA; MAIA; VALE, 2004). A gravidez por si só também não determina quadro de doença periodontal. De acordo com o Ministério da Saúde, alterações na composição da placa subgengival, resposta imune da gestante e a concentração de hormônios sexuais são fatores que influenciam a resposta do periodonto (BRASIL, 2006). A gravidez acentua a resposta gengival, modificando o quadro clínico em usuárias que já apresentam falta de controle de placa. Gestantes que desenvolvem doença periodontal têm uma grande possibilidade de dar à luz a bebês com baixo peso e prematuros (SILVA, 2002; MELO et al. 2007). As doenças periodontais graves levam a um aumento na produção de prostaglandinas, que participam na contração uterina durante o trabalho de parto e podem induzir o parto prematuro (MELO et al. 2007). Dúvidas sobre a possibilidade de atenção odontológica durante o período gestacional podem estar relacionadas à insegurança quanto à indicação dessa prática. Diferentemente do que se acredita, o atendimento odontológico pode ser realizado em qualquer período da gestação, porque o estresse gerado pela dor e o risco de disseminação de uma infecção não tratada podem trazer bem mais prejuízos para a mãe e ao feto. Somado ao fato de que a septicemia é considerada teratogênica e pode ser apontada como uma das causas, em potencial, do aborto espontâneo (TIRELLI et al., 1999; SILVA; STUANI; QUEIROZ, 2006; CODATO; NAKAMA; MELCHIOR, 2008). O Ministério da Saúde preconiza que: • O primeiro trimestre é o período menos adequado para o tratamento odontológico (principais transformações embriológicas). Além disso, a maioria das pacientes pode apresentar indisposição, enjôos matutinos e náuseas á menor provocação. Neste período, devem-se evitar principalmente tomadas radiográficas (BRASIL, 2006). 12 • O segundo trimestre é o período mais adequado para a realização de intervenções clínicas e procedimentos odontológicos essenciais, sempre de acordo com as indicações. Durante este período a organogênese esta completa e o feto já desenvolvido. A mãe se sente mais confortável que durante os estágios iniciais ou finais da sua gravidez. Existe apenas o período de hipotensão postural se a paciente é tratada na posição supina e houver uma mudança brusca para a posição em pé (BRASIL, 2006). • O terceiro trimestre é um momento em que há maior risco de síncope, hipertensão e anemia. É freqüente o desconforto na cadeira odontológica, podendo ocorrer hipotensão postural. É prudente evitar tratamento odontológico nesse período (BRASIL, 2006). • As urgências devem ser atendidas, observando-se os cuidados indicados em cada período da gestação (BRASIL, 2006). Codato; Nakama; Melchior, em 2008, relataram que a não procura por atendimento odontológico durante a gravidez estava relacionada a fatores psicológicos como o medo e a emotividade. Assim, a emotividade, o medo e a crença, transmitidos de geração a geração, interferem negativamente na resolutividade de necessidades odontológicas, muitas delas emergenciais e, portanto, com indicação de intervenção imediata. Outros fatores foram relatados como a falta de interesse, o comodismo, o esquecimento, ao fato de não gostar de dentista ou nem pensar em ir ao dentista durante a gravidez, o custo financeiro, a falta de tempo, as dificuldades de marcação de consultas e as interferências no cotidiano (SCAVUZZI; ROCHA; VIANNA, 1998; ALBUQUERQUE; ABEGG; RODRIGUES, 2004; CODATO; NAKAMA; MELCHIOR, 2008). Quanto aos fármacos utilizados em Odontologia, a literatura enfoca predominantemente os riscos de teratogenia, mas estes não são os únicos efeitos indesejáveis dos medicamentos utilizados durante o período de gravidez, por isso a necessidade da consulta técnica do médico responsável pelo pré-natal da paciente, antes de qualquer prescrição. Isto porque, podem ocorrer repercussões sobre o bebê, já que a maioria das drogas pode chegar ao feto através da placenta, mesmo que em concentrações adequadas no sangue materno. O período de desenvolvimento fetal mais delicado, sujeito a teratogenia, é o 13 primeiro trimestre da gestação, mas, mesmo depois deste, o feto continua vulnerável ao efeito de drogas. Isto porque, durante toda gravidez, alterações fisiológicas como aumento da volemia e do fluxo renal, diminuição das proteínas plasmáticas, além de predisporem ao aparecimento de patologias orodentárias, modificam a absorção, a distribuição e a eliminação dos fármacos, condicionando a necessidade de ajustes quanto a sua posologia (WANNACHER; FERREIRA, 1999). Conforme o Ministério da Saúde, no planejamento do tratamento odontológico, quando do emprego de medicamentos ou uso de anestésico local, o médico deve ser consultado (BRASIL, 2006). Em relação aos fármacos usados durante a gravidez, podem ser prescritos analgésicos opióides e não opióides de classe B segundo a Food and Drug Administration (FDA), considerados seguros, e os comuns, aspirina e acetaminofeno, com devida restrição e orientação médica. Entretanto, a administração de analgésicos opióides, por atravessarem facilmente a barreira placentária, não é recomendada ao término da gestação por apresentar efeito cumulativo e podendo gerar depressão do sistema nervoso central (SNC) no bebê recém-nascido. A aspirina e o acetaminofeno não se associam a malformações. O uso de antiinflamatórios esteróides e não esteróides não está associado a quaisquer alterações congênitas em humanos (WANNACHER; FERREIRA, 1999). Por sua vez, os antibióticos, apesar de atravessarem com facilidade a barreira placentária, não são considerados teratogênicos quando se considera o grupo como um todo, a não ser as tetraciclinas que são responsabilizadas por malformação do esmalte dentário, coloração anormal dos dentes e retardo do crescimento ósseo. As penicilinas e as cefalosporinas são agentes preferencialmente usados durante toda a gestação (WANNACHER; FERREIRA, 1999). No caso de ansiedade manifestada pela gestante durante o tratamento odontológico há indicação da prescrição de ansiolíticos. Os benzodiazepínicos, sempre sob supervisão do médico responsável pelo pré-natal, apesar de não serem considerados teratogênicos, importantes revisões de literatura apontam para a sugestão de uma associação com uma fenda labial ou palatina (WANNACHER; FERREIRA, 1999). 14 Os anestésicos locais são considerados seguros para uso durante toda a gravidez. O emprego de baixas doses em Odontologia privilegia esse uso. A gestação não contra-indica o uso de anestésicos locais com vasoconstritor, pois as doses e as vias empregadas não determinam efeitos hemodinâmicos placentários. Na necessidade de uso de um anestésico na paciente gestante, é recomendada uma dose, a menor possível para se conseguir uma anestesia efetiva, não devendo ultrapassar o limite de três tubetes por sessão, evitando assim o risco de reações adversas e toxicidade para a mãe e o feto. A base anestésica da lidocaína 2% é efetivamente a mais segura das drogas anestésicas locais (WANNACHER; FERREIRA, 1999). Outro questionamento apresentado pelas gestantes foi quanto à possibilidade de realização de radiografia. Durante a gravidez, as radiografias só devem ser solicitadas quando absolutamente indispensável ao diagnóstico ou à orientação terapêutica (SILVA, 2002). De acordo com o Ministério da Saúde, se for necessária à realização de tomadas radiográficas, deve-se proteger a gestante com avental de chumbo e protetor de tireóide e, se possível, utilizar filmes ultra-rápidos (BRASIL, 2006). Além disso, é fundamental manter o aparelho de raios X calibrado, com filtração e a colimação corretas (SILVA, 2002). O conhecimento por parte do cirurgião-dentista sobre as principais características de cada trimestre gestacional e sobre as recomendações e cuidados a serem tomados durante o atendimento odontológico, incluindo a prescrição de medicamentos e o exame radiográfico, são importantes para possibilitar o tratamento da gestante com segurança e com menor risco de efeitos adversos para o bebê (SILVA; STUANI; QUEIROZ, 2006). Além disso, torna-se importante a educação em saúde para as gestantes, a humanização do atendimento e a educação continuada dirigida aos profissionais em exercício (ALBUQUERQUE; ABEGG; RODRIGUES, 2004). A gestação é um período ímpar na vida da mulher, no qual ela normalmente está mais receptiva a novos conhecimentos, que podem levar à adoção de novas e melhores práticas de saúde, cujos benefícios se estenderão aos demais membros da família, em decorrência do importante papel da mãe no cuidado da família (CODATO; NAKAMA; MELCHIOR, 2008). 15 Durante a gravidez, as futuras mães estão mais motivadas e se preocupam com o bem-estar e desenvolvimento do bebê, sendo esta uma época considerada favorável para iniciar a orientação sobre saúde bucal. Pais que recebem estas orientações estarão mais preparados para cuidar dos seus filhos e motivá-los quanto à manutenção da higiene bucal durante o seu crescimento, diminuindo o risco dessas crianças desenvolverem certas doenças, como a cárie (SANTOS-PINTO et al., 2001). Uma das doenças bucais do bebê mais prevalentes é a cárie de mamadeira e que tem como causa principal a infecção da cavidade bucal das crianças por seus pais ou cuidadores, com bactérias que colonizam a boca (MONTANDON et al., 2001; SANTOSPINTO et al., 2001; SILVA, 2002; MELO et al., 2007). A contaminação e a transmissibilidade precoce ocorrem a partir de contatos freqüentes e repetidos entre a mãe e a criança, por exemplo, por meio de beijo na boca, uso do mesmo talher, soprar a comida e pelo hábito de a mãe “limpar” a chupeta da criança colocando-a na sua boca e logo a oferecendo à criança (SILVA, 2002; MIRANDA; MAIA; VALE, 2004; MELO et al., 2007). A cárie de mamadeira se constitui em uma de suas formas mais preocupantes pelas seqüelas deixadas, como a rápida destruição dos elementos dentais, a dor e as alterações na oclusão e na fala (MONTANDON et al., 2001). É um tipo de destruição dental associada ao íntimo contato com líquidos açucarados fermentáveis da mamadeira com os elementos dentais durante o dia ou à noite (durante o sono) ou, ainda, a uma alimentação prolongada no seio materno além da idade considerada normal para o desmame (CASTILHO; PIVA; GUIRADO, 2001). No que diz respeito à amamentação, além da sua finalidade nutricional, também tem por função educar os músculos dos lábios, bochechas, língua e face para cada vez mais desenvolver as formas de dar combustível ao corpo, assim, o ato de amamentar influencia o desenvolvimento de padrões musculares. Mas se um padrão artificial se forma, ou seja, a amamentação se dá por meio de substitutos do seio, como mamadeiras ou chucas não há a educação, o esforço dos músculos da boca para a sucção, o que, provavelmente, levará a criança ao desenvolvimento de algum tipo de maloclusão. Os hábitos deletérios mais comuns são a sucção de dedo ou chupeta, a onicofagia (hábito de roer as unhas) e a prática de morder objetos. Tais hábitos podem gerar várias alterações do sistema estomatognático: retrognatismo mandibular, prognatismo maxilar, mordida aberta anterior, musculatura labial superior 16 hipotônica, musculatura labial inferior hipertônica, atresia do palato, interposição de língua, atresia do arco superior e respiração bucal (TOLLARA et. al., 2005). Dessa forma, a prevenção na Odontologia contribui para a melhoria da saúde bucal do indivíduo mesmo antes do seu nascimento. Isso pode ser feito através da educação dos pais e da orientação às gestantes sobre a importância de uma alimentação saudável e adequada, além dos cuidados básicos de higiene bucal, aspectos relacionados com a erupção dos dentes, aleitamento, noções sobre transmissibilidade de bactérias cariogênicas e hábitos de sucção não-nutritivos durante os primeiros meses de vida do bebê mesmo antes da erupção dos dentes. Esses cuidados, além de proporcionarem maior bem-estar à criança, previnem o aparecimento da doença cárie de forma precoce (CORRÊA et. al., 2005). 4 METODOLOGIA 17 4.1 Cenário e Sujeitos da Intervenção Esta intervenção envolverá as gestantes que são atendidas na Unidade Básica de Saúde da Família do Camará do município de Aquiraz-CE. O município de Aquiraz, situado na costa leste do litoral cearense a 27 km de Fortaleza, possui uma população de 70.439 habitantes (IBGE 2008), espalhados numa área total de 480,9 km2. A economia do município é baseada na agropecuária, indústria e serviços, sendo dado destaque especial ao turismo, pois Aquiraz é considerado grande pólo de turismo do Estado. No ano de 2008, foram cadastradas, em média, 93 gestantes por mês, sendo que destas, em média, 98,9% foram acompanhadas, 100% estavam com vacina em dia, 80,4% iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre e foram realizadas, em média, 90 consultas de prénatal no mês. O Camará, distrito do município de Aquiraz, possui cinco Agentes Comunitárias de Saúde (ACS), 843 famílias cadastradas e 3371 habitantes. Desta população tem 12 gestantes cadastradas no SIAB. 4.2 Procedimentos da Intervenção O primeiro passo é a sensibilização de toda a Equipe de Saúde da Família do Camará. Eles serão motivados pela equipe de saúde bucal, através de reuniões, onde serão repassadas informações sobre a importância do atendimento odontológico à gestante e conseqüentemente estes profissionais exercerem o papel de conscientização delas. Posteriormente, será organizada a assistência pré-natal através da elaboração do fluxograma de atendimento odontológico. Paralelamente, será elaborado um questionário sobre atenção odontológica na gravidez e cuidados com o bebê que será utilizado para avaliar o projeto de intervenção. A assistência pré-natal na Unidade de Saúde será realizada da seguinte maneira: 18 A primeira consulta: será realizada pelo médico, visto que este profissional, normalmente, é o primeiro a ser procurado em caso de amenorréia. Ele, então, solicitará o exame de sangue Beta HCG (gonadotrofina coriônica humana). Quando o exame de sangue Beta HCG é positivo, a paciente irá para a segunda consulta. A segunda consulta: será com a enfermeira para abertura do prontuário padrão através do formulário do SIS, incluindo ficha perinatal, anamnese, evolução e cartão gestante com solicitação de exames de rotina (hemograma completo, glicemia em jejum, sorologia para sífilis (VDRL), sumário de urina, anti HIV I e II, fator Rh, grupo sanguíneo e ultrasonografia obstétrica). A terceira consulta: será realizada pelo médico para avaliação de exames, prescrição de medicamentos, tratamento de algum problema, realização de exame físico e, logo após, encaminhamento da paciente ao consultório odontológico objetivando a marcação da consulta dessas gestantes. Neste momento, ela receberá o questionário, que deverá ser respondido e entregue a dentista. A quarta consulta: será realizada pelo médico/enfermeira e pelo dentista. Ao marcar a consulta odontológica, a gestante será submetida a uma rotina de atendimento clínico, que será sempre no dia do pré-natal com o médico/enfermeira. O protocolo odontológico será constituído de anamnese, exame clínico, preenchimento do odontograma, orientações sobre higiene bucal, dieta, mitos e verdades sobre o atendimento odontológico, amamentação, hábitos de sucção não-nutritivos, cuidados com o bebê, realização de escovação supervisionada para aplicar a teoria sobre instrução de escovação à prática e agendamento do retorno para realização do tratamento dentário. A educação em saúde bucal será repassada pelo dentista as gestantes através de palestras e formação de grupos, na Unidade Básica de Saúde no dia de atendimento da gestante e reforçada, sempre, no atendimento clínico odontológico dela. O método utilizado será através de exposição interativa, macromodelos, cartazes e álbum seriado. Os assuntos abordados serão: orientação quantos aos hábitos de vida (dieta/nutrição, atividades físicas, vestuário, esporte, lazer, higiene); profilaxia, diagnóstico e tratamento da patologia própria da gravidez; conscientização de que saúde é educação, explicando como os problemas bucais se 19 instalem e se desenvolvem os meios de transmissão, a janela da infectividade, o uso adequado do flúor, a importância da amamentação natural como única fonte de alimentação durante os seis primeiros meses de vida, o desmame gradativo com a introdução de papinhas consistentes, de alimentos naturais, que determinam o padrão de mastigação; orientação para não introduzir nenhum tipo de adoçante na mamadeira além de ter o cuidado de não passar mel ou açúcar nas chupetas e bicos de mamadeira; limpeza dos rodetes gengivais com fraldas ou gazes embebidas em água filtrada; iniciação do uso da escova após a erupção dentária. 4.3 Resultados Esperados Com a implantação das ações propostas nesse Projeto, esperam-se os seguintes resultados: -Redução da transmissibilidade da doença cárie das gestantes para os seus bebês; -Mudança de hábitos comportamentais da gestante em relação a sua higiene bucal e dieta, bem como cuidados com o bebê. -Maior adesão das gestantes ao tratamento odontológico; -Período gestacional com melhores condições de saúde; -Planejamento e tratamento integral e multiprofissional da gestante. 4.4 Avaliação da Intervenção Com o intuito de promover o permanente acompanhamento do Projeto de Intervenção, da execução das ações, da avaliação dos resultados obtidos e do eventual redirecionamento ou adequação das estratégias adotadas, serão utilizados instrumentos, tais como: a) Avaliação do conhecimento das gestantes através de um questionário sobre a atenção odontológica na gravidez e os cuidados com o bebê, um no momento da primeira consulta e outro após o tratamento concluído. 20 b) Comparação da quantidade de tratamentos iniciados e da quantidade de tratamentos concluídos. c) Comparação da quantidade de gestantes que realizam o pré-natal médico/enfermeira e da quantidade que realizam pré-natal odontológico. 5 CRONOGRAMA com 21 PERÍODO DE REALIZAÇÃO 2009 2010 AÇÕES Jul Reunião com toda a ESF para sensibilização sobre o atendimento odontológico à X gestante. Organização da assistência prénatal através do fluxograma de X atendimento odontológico. Elaboração de questionário sobre atenção odontológica na X gravidez e cuidados com o bebê. Aplicação de questionário sobre atenção odontológica na gravidez e cuidados com o bebê na marcação da primeira consulta odontológica da gestante. Atendimento clínico odontológico à gestante Educação em saúde bucal Aplicação do segundo questionário sobre atenção odontológica na gravidez e cuidados com o bebê. Avaliação dos resultados obtidos Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X REFERÊNCIAS 22 ALBUQUERQUE, O. M. R.; ABEGG, C.; RODRIGUES, C. S. Percepção de gestantes do Programa Saúde da Família em relação a barreiras no atendimento odontológico em Pernambuco, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, n. 3, p. 789-796, maio/jun. 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Bucal. Brasília, DF, 2006.92 p. (Cadernos de Atenção Básica, 17). CARDOSO, R. J. A.; GONÇALVES, E. A. N. Odontopediatria e prevenção. Porto Alegre: Artmed, 2002; V. 4. p.155-159. CASTILHO, J. B.; PIVA, G. A.; GUIRADO, C. G. E. Etiologia multifatorial da cárie de mamadeira e diferentes abordagens de tratamento. Facul. Odontol. Lins, v. 13, n. 1, p. 7-13, 2001. CODATO, L. A. B.; NAKAMA, L.; MELCHIOR, R. Percepções de gestantes sobre atenção odontológica durante a gravidez. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, n. 3, p. 1075-1080, 2008. CORRÊA, M. S. N. P. et al. A cárie dentária. In: ______. Odontopediatria na primeira infância. 2 ed. São Paulo: Santos, 2005. Cap. 18, p. 223-238. IBGE. Censo demográfico 2008. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 5 abr. 2009. KONISH, F. Orientações odontológicas para gestantes. Revista da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas: APCD, v. 49, n. 1 , jan./fev. , p. 44-47, 1995. MELO, N. S. F. O. et. al. Hábitos alimentares e de higiene oral influenciando a saúde bucal da gestante. Cogitare Enfermagem: revista do Departamento de Enfermagem da UFPR, v. 12, n. 2, abr./jun. , p. 189-197, 2007. MIRANDA, G. E.; MAIA, F. B. F.; VALE, M. P. P. A Atuação dos cirurgiões-dentistas de Belo Horizonte, frente à orientação da gestante, em relação à saúde bucal de seu bebê. Arquivos em odontologia, v. 40, n. 4 , out./dez. , p. 329-339, 2004 MOURA, L. F. A. D. et. al. Apresentação do Programa Preventivo para gestantes e bebês. Jornal brasileiro de odontopediatria & odontologia do bebê: JBP, v. 4 , n. 17, jan./fev., p. 10-14, 2001. MONTANDON, E. M. et al. Hábitos dietéticos e de higiene bucal em mães no período gestacional. Jornal Brasileiro de Odontopediatria & Odontologia do bebe: JBP, v. 4 , n. 18 , mar./abr. p. 170-173, 2001. PEREIRA, A. C. et. al. Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed, 2003. p. 126-139. SANTOS-PINTO, L. et. al. O que as gestantes conhecem sobre saúde bucal? . Jornal brasileiro de odontopediatria & odontologia do bebê: JBP, v. 4 , n. 21 , set./out. p. 429434, 2001. 23 SCAVUZZI, A. I. F.; ROCHA, M. C. S.; VIANNA, M. I. P. Percepção sobre atenção odontológica na gravidez. Jornal brasileiro de odontopediatria & odontologia do bebê: JBP, v. 1 , n. 4 , out./dez, p. 43-50, 1998. SILVA, S. R. Atendimento a gestante: 9 meses de espera? . Revista da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas: APCD, v. 56, n. 2 , mar./abr. , p. 89-99, 2002. SILVA, F. W. G. P.; STUANI, A. S.; QUEIROZ, A. M. Atendimento Odontológico à Gestante – Parte 2: Cuidados durante a consulta. R. Fac. Odontol. Porto Alegre, v. 47, n. 3, p.5-9, dez. 2006. TIRELLI, M. C. et al. Odontologia e gravidez: período mais indicado para um tratamento odontológico programado em pacientes gestantes. Revista odontológica da Universidade de Santo Amaro: Unisa, v. 4 , n. 1 , jan./jun., p. 26-29, 1999. TOLLARA, M. N. et. al. Aleitamento natural. In: CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria na primeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. Cap. 8, p. 83-98. WANNMACHER, L. Uso de fármacos durante a gestação e a lactação. In: WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. Farmacologia clínica para dentistas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. Cap 38, p. 270-273.