UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ PAMELA RAYANA BATISTA CELULITE JUVENIL EM CÃO: RELATO DE CASO CURITIBA 2015 PAMELA RAYANA BATISTA CELULITE JUVENIL EM CÃO: RELATO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção de título de graduação. Orientadora: MsC. Jesséa de Fátima França CURITIBA 2015 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ REITOR Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Carlos Eduardo Rangel Santos PRÓ-REITORA ACADÊMICA Prof. Dra. Carmen Luiza da Silva DIRETOR DE GRADUAÇÃO Prof. Dr. João Henrique Faryniuk COORDENADOR DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Prof. Dr. Welington Hartmann COORDENADOR DE ESTÁGIO CURRICULAR Prof. Dr. Welington Hartmann TERMO DE APROVAÇÃO PAMELA RAYANA BATISTA CELULITE JUVENIL EM CÃO: RELATO DE CASO Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do título de Médica Veterinária pela Comissão Examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 25 de novembro de 2015. __________________________________________________________________ Profª. Orientadora Jesséa de Fátima França UTP - Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________________________________________ Profª. Fabiana Monti UTP - Universidade Tuiuti do Paraná ___________________________________________________________________ Prof. Vinicius Caron UTP - Universidade Tuiuti do Paraná AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, que sempre esteve ao meu lado, sem ele não chegaria onde estou. Aos meus familiares que me incentivaram, ajudaram e apoiaram nesses anos de graduação. Aos meus professores da Faculdade Evangélica do Paraná que em quatro anos de batalha me proporcionaram muito conhecimento e amor ao curso. Aos professores da Universidade Tuiuti do Paraná que me acolheram tão bem e dividiram os seus ensinamentos. Ao meu noivo, que sempre esteve ao meu lado, me assegurando de que tudo daria certo. Aos meus colegas pelo companheirismo, principalmente a Danielle que convivi a maior parte da graduação, dividindo alegrias e tristezas, e a Amabile, a qual chegou depois, mas que seguiu até o final conosco, e fortaleceu ainda mais a nossa amizade. A professora Jesséa de Fátima França, pela dedicação, a calma e a amizade, que possibilitou a finalização desse trabalho. RESUMO A celulite juvenil ou dermatite granulomatosa estéril juvenil é uma enfermidade de rara ocorrência que acomete principalmente os cães. Esta afecção é conhecida por agredir principalmente os filhotes e é caracterizada por dolorosa dermatite localizada principalmente em focinho, região periocular, cervical e linfonodomegalia submandibular, podendo o animal apresentar também otite bilateral. A etiologia e a patogenia são desconhecidas, mas acredita-se que hereditariedade, genética, agentes infecciosos, tais como o vírus da cinomose e herpesvírus, reação de hipersensibilidade e reação vacinal possuem influência sobre esta enfermidade. Tendo em vista que esta afecção tem resposta positiva aos glicocorticóides há provavelmente disfunção imune subjacente. Para o diagnóstico se faz necessária boa anamnese, exame físico, exames dermatológicos complementares e histopatologia para a exclusão de possíveis diagnósticos diferenciais. O início do tratamento deve ser o mais precoce possível e, caso não seja realizado de forma adequada, o paciente pode vir a óbito. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de celulite juvenil em um cão, demonstrando a importância do exame clínico dermatológico. Palavras chave: Dermatologia. Filhotes. Glicocorticóides. Imunidade. ABSTRACT Juvenile cellulitis or juvenile sterile granulomatous pyoderma is a rare occurrence disease that primarily affects dogs. This condition is known to attack mainly puppies and is characterized by painful dermatitis located mainly in muzzle, periocular region, cervical and submandibular lymphadenopathy, the animal may also have bilateral otitis. The etiology and pathogenesis are unknown but it is believed that heredity, genetics, infectious agents such as canine distemper virus and herpesvirus, hypersensitivity reactions and vaccine reaction have effect on this disease. Given that this disease has a significant positive response to glucocorticoids there are probably underlying immune dysfunction. For the diagnosis is necessary clinical history, physical examination, laboratory tests and dermatological histopathology to the exclusion of possible differential diagnoses. Initiation of treatment should be as early as possible and if not done properly the patient can come to death. This study aims to report a case of juvenile cellulitis in a dog aiming the importance of clinical dermatological examination. Keywords: Dermatology. Puppies. Glucocorticoids. Immunity. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Consultórios para cães. ...................................................................... 13 FIGURA 2 - Sala de emergência............................................................................ 14 FIGURA 3 - Consultório e internamento para gatos............................................... 14 FIGURA 4 - Internamento para cães...................................................................... 15 FIGURA 5 - Farmácia. ........................................................................................... 15 FIGURA 6 - Sala de Procedimentos pré-operatórios. ............................................ 16 FIGURA 7 - Laboratório de patologia clínica. ......................................................... 16 FIGURA 8 - Sala de exames radiográficos. ........................................................... 17 FIGURA 9 - Sala de ultrassonografia. .................................................................... 17 FIGURA 10 - Centro cirúrgico. .............................................................................. 18 FIGURA 11 - Estrutura da pele. ............................................................................ 24 FIGURA 12 - FOTOMICROGRAFIA DE EXAME HISTOPATOLÓGICO, DE UM CÃO, POODLE, 4 ANOS, DE UMA LESÃO COM CROSTA. NOTA-SE A INFLAMAÇÃO NODULAR DIFUSA E PIOGRANULOMATOSA. .............................. 28 FIGURA 13 - CROSTAS EM REGIÃO PERIOCULAR E PERILABIAL................. 33 FIGURA 14 - LESÃO ULCERADA EM REGIÃO CERVICAL VENTRAL NOTA-SE OS PELOS AO REDOR COM CROSTAS MELICÉRICAS. ...................................... 33 FIGURA 15 - MESMA LESÃO DESCRITA NA FIGURA 14 E EDEMA EM REGIÃO PERINEAL DIREITA................................................................................... 34 FIGURA 16 - PIORA NO QUADRO CLÍNICO COM FORMAÇÃO DE NÓDULOS SUBCUTÂNEOS ENCIMADOS POR CROSTAS EM REGIÃO TORÁCICA LATERAL. 35 FIGURA 17 - ULCERAÇÕES PRESENTES EM REGIÃO CERVICAL. ................ 36 FIGURA 18 - EXAME DE CITOLOGIA ASPIRATIVA POR AGULHA FINA DE LESÃO NODULAR. ................................................................................................... 36 FIGURA 19 - NÓDULOS E LESÕES ULCERADAS EM RESOLUÇÃO, APÓS NOVE DIAS DE TRATAMENTO COM CORTICÓIDE. ............................................. 37 FIGURA 20 - LESÃO CERVICAL VENTRAL E PERIANAL EM RESOLUÇÃO. ... 38 FIGURA 21 - CONDUTO AUDITIVO DO ANIMAL APÓS QUINZE DIAS DE TRATAMENTO COM A LOÇÃO AURICULAR ANTIBIÓTICA. ................................. 38 FIGURA 22 - CÃO, 76 DIAS, 3.8 KG, APÓS UM MÊS DE TRATAMENTO COM O CORTICÓIDE ASSOCIADO AO ANTIBIÓTICO........................................................ 39 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - PORCENTAGEM DA RELAÇÃO ENTRE CÃES E GATOS ATENDIDOS ...................................................................................... 19 GRÁFICO 2 - PORCENTAGEM DA RELAÇÃO ENTRE FÊMEAS E MACHOS ATENDIDOS ...................................................................................... 20 GRÁFICO 3 - NÚMERO DE CASOS ATENDIDOS NA CEMV-UTP POR ESPECIALIDADES ............................................................................ 20 GRÁFICO 4 - CASOS DERMATOLÓGICOS ATENDIDOS NA CEMV-UTP. ........... 21 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - NÚMERO DE PACIENTES ATENDIDOS POR ESPÉCIE. .................. 19 TABELA 2 - CLASSIFICAÇÃO DAS OUTRAS AFECÇÕES ENCONTRADAS ....... 20 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11 2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO E DA UNIDADE CEDENTE...................................... 12 3 CASUÍSTICA ......................................................................................................... 19 4 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 22 4.1 A PELE ................................................................................................................ 22 4.2 O SISTEMA IMUNE CUTÂNEO .......................................................................... 24 4.3 CELULITE JUVENIL EM CÃES .......................................................................... 25 4.4 DIAGNÓSTICO ................................................................................................... 26 4.5 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS ....................................................................... 28 4.6 TRATAMENTO.................................................................................................... 30 4.7 PROGNÓSTICO ................................................................................................. 31 5 RELATO DE CASO ............................................................................................... 32 6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 40 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 42 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43 11 1 INTRODUÇÃO A pele é uma barreira de proteção contra injúrias físicas, químicas e microbiológicas e por ser um órgão tão exposto, pode sofrer inúmeras agressões as quais são observadas nas casuísticas das clínicas e hospitais veterinários. Observase que grande parte dos atendimentos é referente a processos dermatológicos relatados como queixa principal ou de forma secundária (LUCAS, 2004). A celulite é um quadro infeccioso que acomete a derme e o subcutâneo e a pele afetada apresenta-se eritematosa e edemaciada. O exame histopatológico das lesões mostra a inflamação piogranulomatosa com presença de microrganismos. A celulite juvenil é uma enfermidade que acomete filhotes e manifesta-se como uma dermatite pustular e nodular, edema de face e junções mucocutâneas. Microscopicamente as lesões iniciais não envolvem os folículos adjacentes, mas progridem para foliculite, furunculose, paniculite e linfadenite granulomatosa, porém estéreis. As infecções bacterianas são secundárias e podem gerar sepse, se não tratadas (HARGIS; GINN, 2013). O presente trabalho é constituído por uma revisão de literatura sobre celulite juvenil em cães e o relato de um caso acompanhado durante o estágio curricular. Também tem como objetivo, apresentar as atividades desenvolvidas na Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná (CEMV- UTP), a qual localiza-se no campus Barigui, na Rua Sidney Antonio Rangel Santos, 238, Bairro Santo Inácio, Curitiba, Paraná. 12 2 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO E DA UNIDADE CEDENTE O estágio foi realizado na área de clínica médica de pequenos animais, no período de 03 de agosto a 15 de outubro de 2015, totalizando 408 horas, de segunda a sexta-feira, nos horários de 08h às 18h. Como orientadora acadêmica, a Professora Jesséa de Fátima França e orientadora profissional a Professora Fabiana Monti. Quinzenalmente, nas quartas-feiras às 13h30 eram realizadas discussões de casos clínicos com os professores e residentes, acompanhados pelos estagiários. E nas sextas-feiras, às 08h, foram acompanhadas apresentações orais dos estagiários sobre artigos científicos, incluindo diversos temas da medicina veterinária. Nos acompanhamentos das consultas, era permitido ajudar na contenção dos pacientes, realizar a pesagem, a anamnese e o exame físico dos animais, separar o material necessário para a consulta, além de informar o caso ao médico veterinário responsável para o término da avaliação e recomendação de exames auxiliares. No internamento, era possível a execução de procedimentos como colheita de sangue, aferição de glicemia e pressão, administração de medicamentos, testes dermatológicos, limpeza de feridas, fluidoterapia e observação de quimioterapias, sempre com a presença de um veterinário responsável. A CEMV é formada por uma equipe de veterinários professores e residentes e oferece serviços como: anestesiologia, cirurgias de coluna, cirurgias ortopédicas, cirurgias de tecidos moles, dermatologia, exames laboratoriais, internamento, odontologia, oftalmologia, oncologia, neurologia, radiologia, ultrassonografia e videocirurgia. Os plantões são realizados pelos residentes nível 1 e 2. A clínica é constituída de recepção; três consultórios para atendimento aos cães (FIGURA 1); uma sala de emergência (FIGURA 2); um consultório juntamente ao internamento, para gatos, composto por três baias (FIGURA 3); um internamento para cães contendo 8 baias (FIGURA 4); uma farmácia (FIGURA 5); uma sala para procedimentos pré-operatórios (FIGURA 6) e uma para o pós operatório; uma sala de isolamento; um laboratório de patologia clínica (FIGURA 7); uma sala de exames radiográficos (FIGURA 8) e outra para a ultrassonografia (FIGURA 9) e dois centros cirúrgicos, sendo um para procedimentos gerais (FIGURA 10) e o outro específico para procedimentos odontológicos. 13 FIGURA 1 - Consultórios para cães. 14 FIGURA 2 - Sala de emergência. FIGURA 3 - Consultório e internamento para gatos. . 15 FIGURA 4 - Internamento para cães. FIGURA 5 - Farmácia. 16 FIGURA 6 - Sala de Procedimentos pré-operatórios. FIGURA 7 - Laboratório de patologia clínica. 17 FIGURA 8 - Sala de exames radiográficos. FIGURA 9 - Sala de ultrassonografia. 18 FIGURA 10 - Centro cirúrgico. 19 3 CASUÍSTICA Durante o estágio curricular foi possível acompanhar 192 consultas. Os gráficos e tabelas a seguir expõem os atendimentos acompanhados e a relação entre espécies atendidas, gênero sexual,, especialidades mais prevalentes prevalen e as doenças dermatológicas de maior incidência na clínica, clínica de acordo com a etiopatogenia. TABELA 1 - Número de pacientes atendidos por espécie. Espécie Quantidade Canina Felina Total 168 24 192 . GRÁFICO 1 - Porcentagem da relação entre cães e gatos atendidos. atendidos RELAÇÃO CÃES E GATOS Cães Gatos 13% 87% 20 GRÁFICO 2 - Porcentagem da relação entre fêmeas e machos atendidos. atendidos RELAÇAO MACHOS E FÊMEAS Fêmeas Machos 40% 60% . O gráfico 3 demonstra o número de casos atendidos, atendidos por especialidades, especialidades de acordo com os sistemas acometidos. GRÁFICO 3 - Número de casos atendidos na CEMV-UTP CEMV UTP por especialidades. especialidades NÚMERO DE CASOS POR ESPECIALIDADES Dermatologia 45 Oncologia 41 Outros 31 Musculoesquelético 22 Gastroenterologia 14 Cardiologia 10 Urologia 9 Oftalmologia 8 Odontologia 6 Endocrinologia 4 Neurologia 2 NÚMERO DE CASOS POR ESPECIALIDADES 0 10 20 30 40 50 A Tabela 2 demonstra os casos atendidos que foram classificados em outras afecções encontradas. TABELA 2 - Classificação das outras afecções encontradas. encontradas 21 Alterações Quantidade Avaliação para Castração 12 Doenças Reprodutivas 10 Intoxicação 4 Doenças Respiratórias 3 Doenças Infecciosas TOTAL 2 31 GRÁFICO 4 - Casos dermatológicos atendidos na CEMV-UTP. UTP. Miíase 1 Doença autoimune 1 Dermatofitose 2 Piodermite 3 Dermatite atópica 3 Tipos de alterações dermatológicas Mordedura 4 Inconclusivo 5 Demodiciose 6 DASP 8 Otite 12 0 5 10 15 Com relação aos casos dermatológicos atendidos, as otites eram as alterações mais vistas, seguida de dermatite alérgica a saliva da pulga (DASP) e demodicose. Os casos inconclusivos referem-se referem se aos pacientes com lesões de pele, os quais não foram diagnosticados de forma precisa. As feridas por mordedura, a dermatite atópica, a dermatofitose, piodermites bacterianas, bacterianas, um caso de doença autoimune (celulite juvenil) e outro de miíase também foram relatados. No atendimento geral do hospital, a especialidade mais solicitada foi a dermatologia, representada por vários casos de otite fúngica e de DASP. A segunda especialidade pecialidade mais procurada foi a oncologia, sendo as neoplasias mamárias as mais visualizadas nos pacientes levados à consulta. Em terceiro lugar, outras especialidades, que se dividem em: avaliação para castração, doenças reprodutivas, como a piometra, intoxicação, toxicação, doenças respiratórias e infecciosas. Em quarto lugar, dentro de doenças musculoesqueléticas notaram-se notaram se displasias, hérnias de disco e fraturas. No período de estágio foram vistos apenas dois casos de doenças infecciosas, como a parvovirose. 22 4 REVISÃO DE LITERATURA 4.1 A PELE É o maior órgão do corpo, e se divide em epiderme, derme, tecido subcutâneo, e seus anexos (folículos pilosos, glândulas sudoríparas e sebáceas) (HARGIS; GINN, 2013). A epiderme é formada por quatro camadas (estrato córneo, estrato granuloso, estranho espinhoso e estrato basal). O estrato córneo é a camada mais externa da epiderme, e consiste de várias células ceratinizadas responsáveis pela resistência da epiderme e que atuam como barreira protetora. A camada granular é composta por lipídeos e proteínas e é caracterizada por células achatadas. Logo abaixo do estrato granuloso está o espinhoso, que é formado por células poliédricas. A camada mais interna da epiderme é a camada basal, também conhecida como germinativa, pois apresenta células cúbicas que têm capacidade proliferativa na epiderme. Os melanócitos estão presentes no estrato basal e são responsáveis pela produção da melanina, que confere a coloração da pele e do pelo dos animais. As células de Merkel, encontradas no estrato basal, se ligam nos ceratinócitos através das junções desmossomais e apresentam grânulos que liberam mediadores químicos, mas esse mecanismo de liberação ainda não é entendido. As células de Langerhans promovem a modulação da resposta imunológica da pele e estão presentes nas camadas basal, espinhosa e granular da epiderme (FIGURA 11) (HARGIS; GINN, 2013). A derme é rica em fibras colágenas e se divide em superficial e profunda. A derme superficial sustenta a porção superior do folículo piloso e glândulas sebáceas que são responsáveis pela manutenção, lubrificação e termorregulação, já a derme profunda sustenta a porção inferior do folículo e as glândulas apócrinas, e é onde se encontram os vasos sanguíneos, os nervos, vasos linfáticos e o músculo liso. Células como mastócitos, linfócitos, plasmócitos e macrófagos, originados na medula óssea, são encaminhadas à derme pelo sangue. O tecido subcutâneo baseia-se em tecido adiposo, fibras colágenas e elásticas que promovem flexibilidade. A gordura armazenada no subcutâneo atua como isolante térmico e reserva a energia. Essa camada faz também a ligação da derme ao músculo ou osso adjacente (HARGIS; GINN, 2013). 23 O pH cutâneo do cão e do gato varia entre 5,5 a 7,5 conforme a região anatômica, o status sexual, a raça e o manto piloso (LUCAS, 2004). A pele hígida é composta por algumas espécies bacterianas e fúngicas, que vivem em relação simbiótica, graças ao pH, aos graus de salinidade e de umidade, e aos níveis protéicos e lipídicos da pele (LUCAS, 2004). A microflora da pele canina é composta tanto de bactérias residentes como transitórias e fungos como a Malassezia pachydermatis. Entende-se por bactérias residentes aquelas que se multiplicam na superfície da pele e nos folículos pilosos onde a população é constante, portanto, comensais. Nos cães, as bactérias residentes encontradas são: Micrococcus spp., Staphylococos coagulase positiva (especialmente Staphylococcus intermedius e Staphylococcus epidermitis), Staphylococos coagulase negativa, Streptococcus hemolítico, Clostridium sp., e o Propionibacterium acnes. Nos gatos: Micrococcus sp., Staphylococos coagulase negativo, (especialmente Staphylococcus simulans), Estreptococos alpha hemolítico e Acinetobacter sp. (SCOTT et al., 1996). Os microorganismos transitórios não se multiplicam na pele normal da maioria dos animais. Segundo Lucas et al. (2005, p.5-6) Nos cães, as bactérias transitórias são: Escherichia coli, Proteus mirabilis, Corynebacterium sp., Bacillus sp., Pseudomonas sp., Streptococcus, Alcaligenes sp e Staphylococcus spp. e nos gatos: Estreptococos B. Hemolítico, Eschericia coli, Proteus mirabilis, Pseudomonas sp., Alcaligenes sp., Bacillus sp., Staphylococcus sp (coagulase positivo), Staphylococcus spp. (coagulase-negativo). 24 FIGURA 11 - Estrutura da pele. FONTE: HARGIS; GINN, 2013, p.977. 4.2 O SISTEMA IMUNE CUTÂNEO A função do sistema imunológico é proteger o indivíduo contra agentes infecciosos, substâncias protéicas e evitar a formação exacerbada de células alteradas que poderiam se formar em neoplasias. A primeira defesa que o organismo usa para proteção é a física, como exemplo a pele intacta que possui eficiente barreira contra infecção microbiana. A imunidade é outra barreira capaz de resistir à invasão e a proliferação de patógenos. Existem dois tipos de imunidade, a inata e a adquirida. A imunidade inata é exercida pelos mecanismos de defesa que nascem com o indivíduo, como exemplo as células fagocíticas (neutrófilos, monócitos e macrófagos teciduais), que fazem parte da reação de inflamação e são atraídas no foco de infecção onde ingerem e destroem os agentes invasores e impedem que estes se espalhem para áreas não infectadas. O organismo também utiliza o sistema complemento, que são enzimas que tem capacidade de revestir as bactérias e destruí-las. 25 A imunidade adquirida é um mecanismo dirigido contra antígenos específicos os quais o organismo havia sido exposto anteriormente, permitindo reagir de maneira mais rápida e eficiente frente a um antígeno, desenvolvendo memória imunológica (WERNER, 2011). O sistema imune adquirido possui duas linhas de defesa, a resposta imune humoral e celular. Na resposta imune humoral anticorpos são produzidos por linfócitos B e serão responsáveis pela eliminação de microrganismos invasores extracelulares ou exógenos. Já a resposta imune celular é direcionada contra antígenos intracelulares ou endógenos, e células especializadas (linfócitos T) destroem as anormais, sejam elas, neoplásicas ou infectadas. As doenças cutâneas inflamatórias são originadas por alterações dos componentes desses sistemas de defesa (TIZARD, 2008). 4.3 CELULITE JUVENIL EM CÃES A celulite juvenil ou também conhecida por linfadenite granulomatosa estéril ou pioderma juvenil, é um distúrbio incomum, encontrado em cães filhotes, de causa desconhecida, sem predisposição sexual, que pode afetar qualquer raça, mas elevada incidência tem sido descrita em Gordon Setters (LIU et al., 2008; TOOPS et al., 2008). Acredita-se que esta doença tenha relação com o sistema imune, onde este deixa de reconhecer células ou componentes teciduais normais e passa a considerálos como estranho, conseqüentemente reagindo contra os tecidos e células do próprio indivíduo ou contra células alteradas por infecções virais ou neoplasias (WERNER, 2011). As reações de hipersensibilidade são consideradas na origem da celulite juvenil, principalmente as de tipo II e III que são resultantes de respostas imunológicas exacerbadas direcionadas a antígenos (VAL, 2006). Estas reações são divididas em afecções primárias ou autoimunes ou afecções secundárias, imunomediadas (THOMPSON, 1997). Na doença primária, ou autoimune, uma resposta imunológica exagerada é desenvolvida, por meio de anticorpos e linfócitos, contra a própria pele. Fatores de fundo genético e anormalidades imunológicas são contributivos para ocorrência desta afecção (THOMPSON, 1997). Na doença cutânea imunomediada, ou secundária, a lesão tecidual é resultado de um evento imunológico. É observada em processos patológicos, como neoplasias, infecções 26 virais, fúngicas, bacterianas, parasitoses e na administração de alguns fármacos. O tratamento para as doenças dermatológicas de caráter imunológico é a imunossupressão (THOMPSON, 1997). Os agentes imunossupressores irão controlar a resposta imunológica exagerada, diminuindo a formação de anticorpos ou células que agridem o próprio animal. Romero et al. (2010) observaram o desenvolvimento dessa doença seis dias após a administração de uma vacina polivalente composta por vírus e bactérias atenuados de leptospiras, cinomose, hepatite, parvovirose, adenovírus tipo 2, parainfluenza, coronavirose em um cão de 50 dias de vida. O que explica o desenvolvimento da doença nesse caso, é que o vírus atenuado contido nas vacinas modificadas promove intensa resposta imune celular e humoral, lembrando que estes têm disfunção imunológica e irão desencadear inflamação intensa após ativação exacerbada dos componentes de resposta imune. Mas em vacinas recombinantes, nas quais são utilizados vírus similares ou porções do material genético de outro indivíduo biológico que não é o mesmo a ser combatido, isso não acontece, tornando-a menos perigosa para animais imunocomprometidos ou desnutrido (SCHULTZ, 2004). As lesões cutâneas observadas nessa enfermidade incluem edema facial, principalmente nas margens palpebrais, lábios, focinhos e pinas, que progridem dentro de 24 a 48 horas, para uma dermatite vesiculopustular com exsudação de conteúdo seroso e/ou purulento, crostas e alopecia (TOOPS, 2008), devido à reação inflamatória local e infecção bacteriana secundária. Eventualmente, as lesões cutâneas podem aparecer nos pés, abdome, tórax, vulva, prepúcio e ânus (JEFFERS et al., 1995). Os sinais clínicos verificados são otite externa não pruriginosa, nódulos subcutâneos, que afetam os troncos, proeminente linfoadenomegalia submandibular, e em casos mais graves, é notado anorexia, pirexia, letargia e dor articular (LIU et al., 2008). Pode estar associado à sintomatologia gastroentérica e musculoesquelética (BASSET, 2005). 4.4 DIAGNÓSTICO O diagnóstico dessa enfermidade baseia-se no histórico, achados clínicos, exames de base e histopatologia. O exame citopatológico de exsudatos ou de aspirado pode ser realizada, se ocorrer infecção secundária, bactérias serão 27 identificadas. Na citologia aspirativa de linfonodos, pústulas e nódulos, há uma inflamação granulomatosa ou piogranulomatosa estéril, ou seja, não há microrganismos (SCOTT et al., 2001). De acordo com Hutchings (2003), o exame histopatológico das lesões precoces, evidencia uma dermatite piogranulomatosa e paniculite, composta por macrófagos epitelióides, com vários tamanhos de núcleos de neutrófilos e não há agentes infecciosos (FIGURA 12). Alves et al., (2012) também descreveu no exame de biópsia de pele a acantose multifocal e dilatação de vasos linfáticos da derme. A cultura bacteriana pode ser realizada, normalmente é estéril, mas pode ser positiva se infecções secundárias estiverem presentes, entretanto, o tratamento com antibióticos não irá resultar melhora significativa (TOOPS, 2008). A avaliação hematológica revela leucocitose, neutrofilia e leve monocitose, e as análises bioquímicas mostram hipoalbuminemia, ácidos biliares e fosfatase alcalina elevadas (NEUBER et al., 2004). De acordo com Wentzell (2011), a presença de uma anemia normocítica normocrômica já foi relatada. 28 FIGURA 12 - FOTOMICROGRAFIA DE EXAME HISTOPATOLÓGICO, DE UM CÃO, POODLE, 4 ANOS, DE UMA LESÃO COM CROSTA. NOTA-SE A INFLAMAÇÃO NODULAR DIFUSA E PIOGRANULOMATOSA. FONTE: NEUBER et al., 2004, p.255. 4.5 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS A piodermite bacteriana é uma das infecções dermatológicas mais comuns entre os cães, sendo o agente etiológico, o Staphylococcus pseudintermedius. As infecções ocorrem quando a integridade da superfície da pele é rompida, e fica exposta à umidade, quando a microbiota normal é excessiva, quando a circulação é prejudicada ou quando a imunidade do animal estiver comprometida (LUCAS, 2004; ROSSER, 1998). As piodermites são classificadas em da superfície, superficiais e profundas. A invasão dos microrganismos no estrato córneo (camada epidérmica mais externa) resulta na formação de pústulas, que se rompem, dando origem aos colarinhos epidérmicos e crostas. Já quando a piodermite é superficial, há invasão da epiderme com comprometimento superficial do folículo piloso, como na foliculite, e encontram-se pápulas e pústulas foliculares, que também se rompem (ROSSER, 2004; SCOTT et al., 1995). A piodermite profunda é uma evolução das infecções superficiais, acomete as camadas mais profundas do folículo piloso, que se rompe e forma-se a furunculose. Invade a derme e o subcutâneo, causando celulite (ROSSER, 2004; SCOTT et al., 1995). Apresenta-se como lesões cutâneas focais, multifocais e 29 generalizadas, fistulas com drenagem purulenta e serossanguinolenta. A linfonodomegalia é comum. A citologia é o diagnóstico mais preciso para diagnosticar a piodermite, bactérias fagocitadas e neutrófilos degenerados são observados, apontando o quadro infeccioso (NOBRE, 1998; ROCHA, 2008). A demodicose que é outro diagnóstico diferencial para esta enfermidade, é causada pelo ácaro Demodex canis, que são parasitas que colonizam os folículos pilosos. A manifestação clínica de alopecia, pápulas ao redor dos olhos, áreas eritematosas e de prurido intenso podem ser confundidos com a CJ. O diagnóstico é realizado através de raspados cutâneos em lâmina de microscopia com aumento de 40X e 100X, onde é possível observar ovos, larva, ninfas e adultos (CONTE, 2008). A farmacodermia (reação medicamentosa) é dividida de acordo com a etiopatogenia como alérgica e não alérgica relacionada com ações farmacológicas de algumas drogas (independente da dose), e com a resposta imunológica do indivíduo. Diversos fármacos podem resultar em reação cutânea nos pacientes com hipersensibilidade, mas de acordo com Ensina et al. 2008, os principais são os antibióticos e os anti-inflamatórios não esteroides. As sulfonamidas, principalmente aquelas potencializadas por trimetoprim, são relatadas por produzirem reações de hipersensibilidade em cães (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001). Os sinais clínicos podem incluir pápulas, placas, vesículas, bolhas, eritema, urticária, angioedema, alopecia, ulcerações e otite externa. O diagnóstico dessa doença conclui-se por meio do histórico, que inclui a investigação sobre administração recente de medicamentos, o exame histopatológico revela necrose da epiderme e derme e pode apresentar células inflamatórias ou não (TRAPP; HADDAD et al, 2005). A cinomose, causada por um morbilivírus, é uma doença com incidência elevada em filhotes não vacinados. Na pele, cães acometidos pelo vírus, podem desenvolver hiperqueratose de coxins e dermatite pustular, semelhante aos casos de celulite juvenil. Portanto, o teste de imunofluorescência direta a partir de conjuntiva, deve ser realizado juntamente com a biópsia de pele, onde os corpúsculos de inclusão (lentz) serão evidentes (MEDLEAU; HNILICA, 2003). 30 4.6 TRATAMENTO A terapia baseia-se no uso de glicocorticóides, e deve ser de forma mais rápida possível, para a resolução da doença. Os glicocorticóides são as drogas mais frequentemente utilizadas como agentes imunossupressores e anti-inflamatórios. Agem sobre a circulação linfocitária diminuindo as respostas das células T e sua produção de citocinas, minimiza a atividade bactericida em neutrófilos e a quimiotaxia em macrófagos, além de evitar edema e deposição de fibrina. Uma vez induzida a resposta clínica, a dose deve ser reduzida, pelo aumento no intervalo entre as doses. Por suprimir a inflamação e a fagocitose, esses fármacos podem tornar os animais susceptíveis a infecções (TIZARD, 2008). Recomenda-se iniciar com administração de prednisona ou prednisolona na dose de 2mg/kg a cada 24 horas por via oral, até que a doença seja inativada (geralmente em 14-28 dias), variando para cada animal (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001). Após isso, 2mg/kg, a cada 48 horas, durante duas a três semanas, reduzindo gradativamente a dose e a frequência para evitar recidivas (WENTZELL, 2011). Scott e Miller (2007) relataram em estudos que cinco cães com a CJ não responderam ao tratamento com a prednisona, apenas à dexametasona 0,2 mg/kg. Park et al., (2010) fez o uso da ciclosporina na dose de 5mg/kg, a cada 24 horas, em associação à prednisona, em três filhotes de Cocker Spaniel com CJ e paresia de membros, e não houve toxicidade nesses animais. A ciclosporina, além de agir no sistema neurológico, é imunossupressora. Se houver infecção bacteriana secundária, antibióticos bactericidas como cefalexina, amoxicilina com clavulanato devem ser administrados durante três a quatro semanas, até a resolução clínica e citológica completa (SCOTT; MILLER; GRIFFIN, 2001). A lavagem com água morna tópica diária deve ser feita para remoção de crostas e exsudatos. O xampu que contém 2% de clorexidine é indicado no tratamento auxiliar das grandes afecções bacterianas da pele, tanto as superficiais ou profundas, tem rápida ação bactericida e efeito contra uma variedade de bactérias gram positivas e negativas, é usado duas a três vezes por semana, para melhorar a condição da pele desses animais (LIU et al., 2008). 31 Shibata e Nagata (2004), em uma investigação com seis cães, comprovaram a eficácia da griseofulvina no tratamento para CJ. Estes cães foram submetidos à dose de 14 a 34 mg/kg, a cada 12 horas, e em três semanas houve a resolução completa dos casos. A griseofulvina é um antibiótico fungistático que também apresenta propriedades imunomoduladoras, e em humanos, é utilizada em desordens inflamatórias idiopáticas da pele. 4.7 PROGNÓSTICO O prognóstico é reservado. Em casos que o diagnóstico é feito precocemente a cura pode ocorrer entre uma a quatro semanas. As recidivas são incomuns, mas podem ocorrer (SCOTT et al., 2001; MEDLEAU; HNILICA, 2003). 32 5 RELATO DE CASO Um cão, macho, sem raça definida, 45 dias, 2 Kg, foi atendido na Clínica Escola de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná (CEMV), com histórico de dor, ulcerações e prurido na pele e condutos auditivos. O proprietário relatou que anteriormente, o animal havia sido atendido em outra clínica veterinária, na qual realizou radiografia, pois suspeitava de fratura, após episódio de atropelamento em casa, uma semana antes desses sinais. O animal foi vermifugado nessa consulta e a vacinação não foi realizada. Foram administradas também duas medicações injetáveis no animal, mas o responsável não soube quais foram os fármacos usados. Ao exame físico, a temperatura corporal encontrava-se dentro dos parâmetros de normalidade, assim como a frequência respiratória e cardíaca. As mucosas apresentavam-se normocoradas e o paciente encontrava-se hidratado; constatou-se aumento dos linfonodos submandibulares e poplíteos, otite bilateral com evidente dor à palpação, crostas em região periocular e perilabial (FIGURA 13); edema e ulcerações, com exsudato purulento, em região cervical ventral (FIGURA 14), torácica lateral esquerda, direita e ventral; e em região perianal direita (FIGURA 15). 33 FIGURA 13 - CROSTAS EM REGIÃO PERIOCULAR E PERILABIAL. FIGURA 14 - LESÃO ULCERADA EM REGIÃO CERVICAL VENTRAL NOTA-SE OS PELOS AO REDOR COM CROSTAS MELICÉRICAS. 34 FIGURA 15 - MESMA LESÃO DESCRITA NA FIGURA 14 E EDEMA EM REGIÃO PERINEAL DIREITA. . Foi realizado o teste rápido da cinomose (AG TESTE), a partir de esfregaço de conjuntiva, o qual foi negativo. Após a limpeza das lesões com o soro fisiológico, o exame citológico das lesões exsudativas e do cerúmen foram realizados. Os resultados observados foram cocos em ambos os condutos, e uma colonização bacteriana na pele por cocos e presença de neutrófilos. Os diagnósticos diferenciais neste momento sugeriam farmacodermia e a piodermite. Então, instituiu-se o tratamento com amoxicilina potencializada com clavulanato de potássio, 1 comprimido na dose de 20mg, VO, a cada 12 horas, durante 15 dias, e para analgesia, a Dipirona monoidratada, 2 gotas VO, a cada 8 horas, durante 5 dias. Para tratamento da otite, foi recomendada a limpeza com solução de ph neutro, a cada 12 horas, durante 5 dias e o uso tópico a cada 12 horas, durante 15 dias, do composto de Diazinon, piramicina, neomicina e dexametasona, utilizados nos pavilhões auriculares para tratamento de infecções micóticas, parasitárias e bacterianas. Recomendou-se reavaliação quatro dias após o início do tratamento, para antissepsia das lesões. No retorno, o animal voltou mais alerta, porém as ulcerações na pele persistiam e a otite também. 35 Após quinze dias da primeira consulta, o animal encontrava-se apático e com piora no quadro dermatológico, notavam-se nódulos subcutâneos firmes encimados por crostas (FIGURA 16), além das ulcerações que ainda estavam presentes (FIGURA 17). Exames de raspado de pele e citologia aspirativa por agulha fina foram realizados. O raspado cutâneo foi negativo excluindo a presença do ácaro Demodex canis. A citologia aspirativa do nódulo demonstrou neutrófilos íntegros e macrófagos, sem presença de microrganismos, caracterizando um processo inflamatório (FIGURA 18). Foi solicitada a internação do animal para a realização de biópsia, mas no dia seguinte foi decidido iniciar o tratamento com a Prednisona, pois a celulite juvenil era um diagnóstico presuntivo. O tratamento iniciado com a Prednisona VO, foi de 2mg/kg, a cada 24 horas durante 15 dias, juntamente com o mesmo antibiótico, um comprimido de 20mg, VO, a cada 12 horas durante mais 15 dias, e o composto de Diazinon, piramicina, neomicina e dexametasona utilizados nos pavilhões auriculares. FIGURA 16 - PIORA NO QUADRO CLÍNICO COM FORMAÇÃO DE NÓDULOS SUBCUTÂNEOS ENCIMADOS POR CROSTAS EM REGIÃO TORÁCICA LATERAL. 36 FIGURA 17 - ULCERAÇÕES PRESENTES EM REGIÃO CERVICAL. FIGURA 18 - EXAME DE CITOLOGIA ASPIRATIVA POR AGULHA FINA DE LESÃO NODULAR. NOTA: Neutrófilos Íntegros (A), macrófagos (B) e material gorduroso, indicando tecido adiposo envolvido (C). Ausência de microrganismos. 37 Após nove dias de tratamento com o corticóide, houve melhora no quadro dermatológico, regressão de alguns nódulos, resolução de áreas de alopecia (FIGURA 19), e ulceras (FIGURA 20) e melhora na otite (FIGURA 21). Foi realizada então a redução da dose do fármaco, para 1 mg/kg, VO, a cada 24 horas durante sete dias, limpeza tópica da pele utilizando solução de clorexidine a 1%, e o antibiótico foi suspenso após 25 dias de terapia. FIGURA 19 - NÓDULOS E LESÕES ULCERADAS EM RESOLUÇÃO, APÓS NOVE DIAS DE TRATAMENTO COM CORTICÓIDE. 38 FIGURA 20 - LESÃO CERVICAL VENTRAL E PERIANAL EM RESOLUÇÃO. . FIGURA 21 - CONDUTO AUDITIVO DO ANIMAL APÓS QUINZE DIAS DE TRATAMENTO COM A LOÇÃO AURICULAR ANTIBIÓTICA. Após nove dias, houve a diminuição da dose de Prednisona para ½ mg/kg, VO, a cada 48 horas, durante uma semana. No retorno, após 11 dias, reduziu-se ½ mg/kg, VO, a cada dois dias por mais uma semana . Então foi solicitado aumentar o intervalo de administração da Prednisona, para duas vezes por semana, durante sete dias e encerrar o tratamento. 39 Até a presente data, após um mês de tratamento, o paciente encontra-se ativo e saudável, com resolução das lesões, crescimento de pelos nas regiões afetadas e ganho de peso (FIGURA 22). FIGURA 22 - CÃO, 76 DIAS, 3.8 KG, APÓS UM MÊS DE TRATAMENTO COM O CORTICÓIDE ASSOCIADO AO ANTIBIÓTICO. 40 6 DISCUSSÃO No período de estágio obrigatório, realizado na Clínica Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná, dentre os casos de dermatologia, apenas um tratouse de celulite juvenil. A celulite juvenil é uma dermatite granulomatosa ou piogranulomatosa estéril que acomete filhotes entre três semanas e seis meses, fato visto no presente relato. O Dachshund, Golden retriever, Labrador retriever, Gordon setter, Beagle e Pointer são consideradas as raças predispostas (SCOTT et al., 2001; MEDLEAU, HNILICA 2003). A bibliografia consultada não relatou nenhum caso em cães sem raça definida predispostos a essa enfermidade. Sua etiologia é incerta, estando relacionada à reação de hipersensibilidade e/ou doença viral (CARLOTTI, 2003). No relato de caso apresentado, o paciente foi submetido a algumas medicações, mas a proprietária não soube nos dizer quais fármacos foram usados. O animal também não era portador de doença viral. E ainda não havia sido vacinado. ALVES et al., (2012), relatou três cães que desenvolveram a CJ após a primeira dose da vacina óctupla. O quadro clínico iniciou com blefarite bilateral; crostas em região perilabial; lesões ulceradas em região cervical ventral, torácica lateral esquerda, direita e ventral e lombo sacra direita (ao redor da cauda); otite bilateral e linfonodomegalia. E após 15 dias, o animal voltou para retorno com formações de nódulos subcutâneos no tronco, alguns encimados por úlceras com exsudação purulenta e áreas de alopecia. O quadro foi compatível com os achados descritos por Medleau e Hnilica (2003). A citologia das lesões ulceradas inicialmente revelou infecção bacteriana secundária. Assim como descrito por Neuber et al., (2004). Porém a citologia aspirativa dos nódulos em um retorno posterior mostrou grande quantidade de neutrófilos íntegros, e macrófagos, o que caracterizou um quadro estéril. Segundo Pasa e Voyvoda (2003), o exame citológico de aspirados de linfonodos afetados, pústulas e abscessos raramente revelam bactérias na CJ, sugerindo uma etiologia não bacteriana. Os casos relatados por White et al. (1989), demonstraram a CJC precedida por envolvimento ósseo. Neste caso, o cão sofreu um trauma, mas não foi verificada fratura óssea. 41 O tratamento utilizado, conforme o descrito na literatura deve ser precoce e agressivo, caso contrário as cicatrizes podem ser graves (SCOTT et al., 2001). Por isto não se optou por aguardar a realização de biópsia para iniciar o tratamento. O cão relatado não apresentou cicatrizes, pois o tratamento foi instituído rapidamente. Optou-se primeiramente por tratamento com a amoxicilina com clavulanato de potássio devido à infecção bacteriana secundária e o analgésico e antitérmico, mas após, o uso as lesões progrediram, fato este controlado após o início da terapia imunossupressora com corticóide. Com base no histórico agudo, sinais clínicos, achados laboratoriais e resposta positiva após nove dias do uso da Prednisolona, definiu-se o diagnóstico definitivo de celulite juvenil canina. Devido à resposta positiva ao glicocorticoide, a reação de hipersensibilidade imunomediada após a administração dos fármacos é uma explicação para o desenvolvimento da celulite juvenil neste caso, uma vez que a lesão tecidual acontece por um distúrbio imunológico frente a um alérgeno, e isso foi controlado com o tratamento imunossupressor, que minimizou os efeitos causados pela resposta às medicações que o animal foi submetido. De acordo com a literatura, podem ocorrer recidivas (JEFFERS; DUCLOS; GOLDSHMIDT, 1995). Entretanto, o tempo de acompanhamento do caso não permitiu que esta avaliação fosse conduzida. 42 7 CONCLUSÃO A celulite juvenil é uma enfermidade grave relatada em filhotes, que necessita de um diagnóstico precoce para o sucesso terapêutico e prognóstico. Estudos devem ser realizados para que possamos obter maior conhecimento da etiopatogenia da doença, pois a literatura existente não nos confirma uma origem, só aponta possíveis circunstâncias para o surgimento da doença. Com relação ao caso apresentado, a citologia aspirativa por agulha fina foi eficaz para o diagnóstico da enfermidade. O animal respondeu rapidamente à terapia imunossupressora, o que prova a existência do fator imunológico. 43 REFERÊNCIAS ALVES, C.E.F.; CORREA, A.G.; COSTA, H.X. et al. Celulite juvenile canina - relato de casos. Semina Ciências Agrárias, Londrina, v.33, n.4, p.1539-1542, 2012. BASSETT, R.; BURTON, G.; ROBSON, D. 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