Tuberculose e outras Micobacterioses TEMAS EM DESTAQUE Estado atual da cirurgia da Tuberculose Terapia com antagonistas de TNF-α e Tuberculose Dia Mundial da Tuberculose Jornada de Marketing e Finanças Médicas 2 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 DIRETORIA - BIÊNIO 2008/2009 DIRETORIA Presidente: José Eduardo Delfini Cançado Vice-Presidente: Jaquelina Sonoe Ota Arakaki Secretária Geral: Regina Maria de Carvalho Pinto 1º Secretário: Ricardo Millinavicius 2ª Secretária: Valéria Cristina Vigar Martins Diretor de Finanças: Oliver Augusto Nascimento Diretor de Assuntos Científicos: Gustavo F. Prado Diretor de Divulgação: Paulo Manuel Pêgo Fernandes Diretor Informática: Eduardo Henrique Genofre COMISSÕES Assuntos do Interior: Alex Gonçalves Macedo Defesa Profissional: José Eduardo Gregório Rodrigues Ensino: Mônica Corso Pereira Promoções: Nephtali Segal Grinbaum Assuntos da Grande São Paulo: Sidney Bombarda DEPARTAMENTOS Cirurgia Torácica: Roberto Saad Júnior; João Aléssio Juliano Perfeito; Rodrigo Caetano de Souza Endoscopia Respiratória: Viviane Rossi Figueiredo; Miguel Lia Tedde; Nilza Sayuri Abe Pediatria: Maria Helena Bussamra; Marina Buarque de Almeida Ana Clara Toschi Gianotti de Souza Fisioterapia Respiratória: Lara Maris Nápolis; Priscila Batista de Souza Marisa Afonso A. Brunherotti Conselho Fiscal - Efetivos: Ana Luisa Godoy Fernandes; Alberto Cukier; Carlos Alberto de Castro Pereira Suplentes: Rafael Stelmach; Roberto Stirbulov; Mário Terra Filho Conselho Deliberativo Fernando Augusto Fiuza de Melo; Francisco Vargas Suso Jorge Nakatani; José Antônio Baddini Martinez; Manuel Lopes dos Santos; Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano Miguel Bogossian; Nelson Morrone; Ricardo Beyruti; Sonia Maria Faresin; Virgílio Alexandre Nunes de Aguiar REGIONAIS Regional do ABC Presidente: Marcelo Gervilla Gregório Secretário: Márcio Abreu Neis Regional de Araraquara / Bauru / Botucatu Presidente: Eduardo Ferraz Hage Secretário: José Eduardo Bergami Antunes Regional de Campinas Presidente: Ricardo Kalaf Mussi Secretária: Ana Maria Camino Regional de Marilia Presidente: Virgínia Maria Cavallari Strozze Catharin Secretária: Gisele César de Rossi Agostinho Regional de Ribeirão Preto Presidente: Ana Carla Souza de Araujo Secretário: Hugo Alejandro Veja Ortega Regional de Santos Presidente: Fabiola Gomes Rodrigues Secretário: Thiago Fernandes Leomil Regional de São José dos Campos Presidente: Douglas Carlyle Belculfiné Secretária: Maria Helena Magalhães Rezende Regional de São José do Rio Preto Presidente: Benedito Aparecido Caiel Secretária: Elaine Mara Cesaretti de Paula PNEUMOLOGIA PAULISTA Órgão Informativo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia Editor Responsável: Jaquelina Sonoe Ota Arakaki Editoração Eletrônica: Miriam Miranda Impressão: AquaPrint Gráfica e Editora • Tiragem: 1200 exemplares Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 SUMÁRIO 4 EDITORIAIS 6 TEMAS EM DESTAQUE • Estado atual da cirurgia da Tuberculose • Repercussões estruturais e funcionais das sequelas de Tuberculose tóraco-pulmonar em pacientes imunocompetentes • Surtos de infecções por micobactérias de crescimento rápido • Terapia com antagonistas de TNF-ALFA e Tuberculose 25 RESUMINDO E RECORDANDO • Diagnóstico bacteriológico da Tuberculose e outras micobacterioses • Diagnóstico diferencial da Tuberculose na infância • Tuberculose extrapulmonar 42 RELATO DE CASO Síndrome Lady Windemere ou bronquiectasias difusas 45 IMAGEM EM PNEUMOLOGIA Aspectos tomográficos da Tuberculose pulmonar 48 EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA O que é análise multivariada? 50 FUTURO DA PNEUMOLOGIA Biologia molecular no diagnóstico da Tuberculose e outras micobacterioses 55 CONTROVÉRSIA Marcadores de atividade da Tuberculose pleural 58 ARTIGOS EM DESTAQUE 61 NOTÍCIAS 68 HISTÓRIA DA PNEUMOLOGIA Os sanatórios e seu tempo NOSSA CAPA O Serviço de Pneumologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo conta com 22 médicos especialistas. Além da residência médica há no hospital pós-graduação. A enfermaria conta com 38 leitos. O setor de broncoscopia conta com dois pneumologistas. O Setor de Função Pulmonar, dirigido por um especialista, conta com três técnicos certificados pela SBPT. Dois cursos nacionais são oferecidos a cada semestre. O ambulatório presta atendimento a 1800 pacientes mensalmente e inclui pronto-atendimento e sub-especialidades (tosse crônica, dispnéia, asma grave, DPOC, oxigenoterapia, distúrbios do sono, bronquiectasias, tuberculose, doenças intersticiais, doenças da circulação pulmonar, câncer de pulmão). O serviço conta com a colaboração de uma patologista especializada e um radiologista de tórax. O serviço forma médicos residentes de alto nível desde 1972. As atividades didáticas incluem: 1. Curso semanal básico de Pneumologia; 2. Reunião geral com discussão de casos; 3. Curso semanal de radiologia; 4. Discussão semanal de artigos. Diretor: Carlos AC Pereira Fones: (011) 55746603; 50843387; 50888135 3 PALAVRA DO PRESIDENTE SPPT 2009: reciclagem, atualização e confraternização Prezados sócios, Começamos 2009 com muitos desafios, metas e projetos. Será um ano de muito trabalho, mas temos a certeza que a SPPT promoverá muitas atividades de reciclagem, atualização e confraternização. A primeira grande novidade do ano é uma parceria inédita com a SOCESP e APM, criando um Programa de Educação Continuada em Tabagismo. O curso elaborado por especialistas da SPPT e SOCESP ocorrerá aos sábados, com duração de aproximadamente 4 horas de aulas e discussões, coordenadas por um pneumologista e um cardiologista de cada Sociedade, nas Regionais da APM. Programamos inicialmente 20 eventos para o Estado de São Paulo. Essa foi uma idéia inovadora, que levará atualização e reciclagem de alta qualidade aos colegas das Regionais da SPPT, SOCESP e APM de todo nosso Estado, em uma das áreas mais importantes da medicina respiratória e cardiovascular, o tabagismo. Continuaremos realizando em 2009 nossas reuniões de Pizzas Cirúrgicas e Clínicas. A primeira Pizza Cirúrgica do ano, que ocorreu dia 5 de março, foi a 100ª reunião de Pizza Cirúrgica, motivo de muito orgulho e alegria para todos os colegas da área respiratória, em especial aos colegas cirurgiões torácicos que, ao longo de todos esses anos, transformaram essa reunião em um encontro tradicional e fundamental para o aprendizado e confraternização. Parabéns a todos que têm participado e trabalhado para manter essa excelente atividade científica da SPPT. As Pizzas Clínicas foram reformuladas, manteremos a discussão de 2 casos, apresentados por diferentes serviços mas, como novidade, estaremos convidando 2 debatedores, também de escolas distintas, com expertise no assunto do caso, que irão enriquecer e promover uma maior discussão e aprendizado nas reuniões. Para 2009 programamos 3 Jornadas em São Paulo: a primeira dia 25 de abril, sobre “Marketing e Finanças Médicas”, um tema inovador, de grande importância na nossa atividade diária profissional e pouco discutido pelos colegas. A segunda, marcada para 6 de junho, sobre “Distúrbios Respiratórios do Sono”, com uma parte teórica pela manhã e outra prática, à tarde. E a terceira Jornada, dia 25 de agosto, sobre “Emergências Respiratórias”, um tema de grande interesse 4 teórico e prático no nosso dia a dia. Nossas Regionais estão agendando suas Jornadas, com temas variados, de acordo com as necessidades locais. Estamos dando continuidade às reuniões mensais do Departamento de Fisioterapia e cada uma de nossas Regionais está programando seu calendário de atividades. Veja a programação completa no nosso site (www.sppt.org.br). E por falar em nosso site, se você ainda não tem sua página pessoal de sócio, entre em contato no 0800171618, é fácil, rápido, contém informações de qualidade e você poderá divulgar como seu site pessoal aos seus clientes. Também nosso site leigo, www.pulmonar.org.br, foi totalmente reformulado, acesse-o, envie suas dicas, sugestões e indique a seus pacientes. Estamos trabalhando para fazer um excelente 130 Congresso Paulista de Pneumologia e Tisiologia, que irá ocorrer de 19 a 22 de novembro, no Fecomércio. Já temos a confirmação dos professores internacionais, Kevin K. Brown, do National Jewish Medical and Research Center e Jerry A. Krishnan, da University of Chicago, além do professor de cirurgia torácica, Rodney Jerome Landreneau, do Shadyside Medical Center, de Pittsburgh. Nosso próximo livro “Atualização e Reciclagem em Pneumologia”, está sendo elaborado e será lançado no 130 Congresso Paulista de Pneumologia e Tisiologia. Com um formato diferente das edições anteriores, será direcionado para pesquisa do diagnóstico e conduta dos principais temas da medicina respiratória, devendo se tornar referência na área. Em 2009 manteremos cada edição da revista Pneumologia Paulista sobre um grande tema da área respiratória e em homenagem ao Dia Mundial de Combate à Tuberculose, comemorado em 24 de março, nessa primeira edição estamos focando a Tuberculose e outras Micobacterioses. Temas que, apesar da grande evolução no conhecimento, continuam sendo um grande desafio na nossa prática diária. Participe de nossas atividades, divulgue nossos eventos, nossa revista e nossa especialidade. A SPPT é nossa e depende de você. Boa leitura e até breve, José Eduardo Delfini Cançado Presidente da SPPT [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 EDITORIAL Aspectos atuais e perspectivas futuras da Tuberculose Todos os anos são registrados mais de 8 milhões de novos casos de tuberculose (TB) em todo o mundo e 2,7 milhões de óbitos, 98% nos países em desenvolvimento. A Organização Mundial de Saúde classifica os países com alta carga de TB pelo número absoluto de novos casos da doença. No Brasil, são notificados aproximadamente 85.000 casos/ano, colocando o país no 15º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de TB no mundo. O paradoxo entre os avanços no diagnóstico e no tratamento da TB e as altas taxas de incidência e mortalidade nos países em desenvolvimento recai sobre a questão da vulnerabilidade. A vulnerabilidade é o conjunto de fatores de natureza biológica, epidemiológica, social, cultural e política, cuja interação amplia ou reduz o risco ou a proteção de um grupo populacional, frente a uma determinada doença, condição ou dano. No Brasil, a TB acomete principalmente homens em idade produtiva e, apesar do tratamento predominantemente ambulatorial, é a 9a causa de hospitalização e a 4a causa de mortalidade por doenças infecciosas com aproximadamente 5 mil mortes por ano. O Estado de São Paulo notifica cerca de 18.000 casos/ano, representando, em números absolutos, o maior contingente de casos do Brasil. O coeficiente de incidência no Estado, embora significativo, tem declinado e situa-se em torno de 37/100.000. Contextualizando esses paradoxos, essa edição da Revista Pneumologia Paulista aborda os aspectos atuais e perspectivas futuras do diagnóstico e do tratamento das micobacterioses, os recentes surtos e a história da fase sanatorial da TB no Estado de São Paulo. Em relação ao diagnóstico, novos métodos de biologia molecular têm sido desenvolvidos com a finalidade de reduzir o tempo de diagnóstico das micobacterioses. Destaca-se a importância dos marcadores de atividade na TB pleural e da broncoscopia na TB endobrônquica e nos casos pulmonares com baciloscopia negativa. Na tomografia computadorizada de tórax, os sinais sugestivos de atividade de TB constituem importante subsídio diagnóstico, especialmente no diferencial com outras doenças pulmonares. Em crianças, é abordado o diagnóstico diferencial da TB com outras doenças Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 respiratórias, de fundamental importância em nosso país. Assim como em todo o mundo, no Brasil a resistência medicamentosa é considerada um grande desafio no controle da doença. Além da TB multirresistente (TBMR), ou seja, resistência à rifampicina, isoniazida e a mais dos medicamentos dos esquemas preconizados, recentemente foi definida a TBXDR, “extensively drug-resistance tuberculosis”, em pacientes com resistência a rifampicina, isoniazida, uma quinolona e pelo menos uma droga de segunda linha injetável. A abordagem cirúrgica nessas situações impõe-se como uma perspectiva terapêutica atual. O impacto funcional das seqüelas de TB também é abordado nessa edição assim como a criteriosa avaliação dos pacientes candidatos ao uso de drogas anti-TNFα. As micobactérias não tuberculosas apresentam patogenicidade variável, podendo desencadear colonização, infecção ou doença. A doença pulmonar geralmente ocorre em pacientes com doença pré-existente e a avaliação clínica é dificultada pela similaridade da sintomatologia das micobacterioses com essas outras doenças. Métodos de identificação das micobactérias e de imagem tornam possível a confirmação de doença nesses pacientes. Jaques Chretien descreve que no curso de milhares de anos a TB encerrou uma mensagem ainda não totalmente decifrada. Pela sua influência cultural, seus efeitos sobre a obra humana, suas implicações históricas, sociais, econômicas e políticas, constitui modelo científico peculiar. Modernamente continua causando as maiores devastações, cujo valor epistemológico é imenso. Misteriosa e ameaçadora permanece o paradigma dos temores das paixões e do conhecimento humano. Assim, compete também a nós, pneumologistas, decifrar essa mensagem na história contemporânea quando a grande maioria dos casos de TB é pulmonar e pleural, nosso espaço, “nossa praia”. Sidney Bombarda Comissão de Tuberculose da SPPT Médico da Divisão de Tuberculose da SES-SP/ HCFMUSP [email protected] 5 TEMAS EM DESTAQUE Estado atual da cirurgia da Tuberculose Autores: Ricardo Mingarini Terra1; Israel Lopes de Medeiros2 Serviço: Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas da FMUSP 1 Médico Assistente, Doutor em Cirurgia Torácica e Cardiovascular pela FMUSP Pós-Graduando da Disciplina de Cirurgia Torácica da FMUSP 2 INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) pulmonar já foi considerada a principal causa de morte na sociedade ocidental. Durante a Revolução Industrial ocorrida em Londres no século XIX, mais de 25% dos óbitos eram atribuídos a TB. Nessa época, o tratamento cirúrgico era a principal modalidade terapêutica. O pneumotórax induzido e a toracoplastia eram as principais técnicas empregadas no final do século XIX, e as técnicas de ressecção pulmonar na primeira metade do século XX. Com o advento da quimioterapia específica para TB nas décadas de 1950 e 60, a cirurgia foi abandonada como terapia de primeira linha. O sucesso dos antibióticos foi tanto que, na década de 70, autoridades de saúde pública especulavam que a TB seria erradicada do hemisfério norte. No entanto, 20 anos depois, a epidemia de HIV/SIDA - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - e o surgimento da tuberculose multirresistente (TBMR) mostraram que essas especulações não se concretizariam, e a cirurgia voltou a ter um papel maior na terapia da TB. Atualmente, podemos resumir as indicações de cirurgia na TB em 3 grupos: tratamento da TBMR; tratamento das sequelas de TB e suas complicações; procedimentos diagnósticos para confirmar TB e excluir outras afecções. TUBERCULOSE MULTIRRESISTENTE De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 20% dos casos de tuberculose estão associados a microorganismos resistentes a algum dos agentes antimicrobianos utilizados para seu tratamento. A TBMR, que por definição está associada à resistência a isoniazida e rifampicina, ocorre em 5,3% dos casos. Em alguns locais como China, Índia, Rússia, países do Oriente Médio, Leste Europeu e Ásia Central, a incidência de TBMR é particularmente alta, ocorrendo em mais de 6,5% dos casos novos diagnosticados.1,2 De acordo com o Consenso Brasileiro de Tuberculose, o conceito de TBMR em nosso país é o de resistência in vitro a pelo menos rifampicina, isoniazida e a uma terceira droga dos Esquemas I, IR ou III, ou ainda resistência a rifampicina, isoniazida e falência operacional do 6 Esquema III. 3 O grande contingente de pacientes multirresistentes no país é de doentes que abandonaram o tratamento anteriormente e que desenvolveram resistência aos medicamentos.3 No Brasil, a multirresistência ocorre em 0,9% dos casos novos de tuberculose e em 5,4% dos casos previamente tratados, correspondendo a cerca de 2% total de pacientes 4 e, de acordo com a vigilância epidemiológica, 2600 novos casos foram notificados entre 2000 e 2006.5 O tratamento da TBMR é particularmente desafiador e a taxa de sucesso do tratamento com drogas de segunda linha varia entre 48 e 80%, enquanto que a taxa de sucesso para pacientes com infecções por cepas sensíveis supera 90%.6 A baixa efetividade das drogas associada à presença de cavidades e/ou áreas de destruição pulmonar, que albergam os bacilos e dificultam o acesso da medicação, justificam a baixa eficácia do tratamento quimioterápico6. Neste contexto insere-se a ressecção pulmonar adjuvante ao tratamento medicamentoso como opção terapêutica para a TBMR e esta tem sido a principal indicação de ressecção pulmonar associada a TB nos EUA. A literatura sobre este tema é baseada em séries de casos; infelizmente, não foram publicados ensaios clínicos que nos ofereçam evidências mais vigorosas sobre o papel da cirurgia na TBMR. De qualquer maneira, os resultados dos estudos nos quais a ressecção pulmonar foi associada à terapêutica medicamentosa são animadores, com taxas de sucesso variando entre 63 e 98%, definindo-se como curados os pacientes que permaneceram com escarro negativo durante o seguimento (Tabela 1). A grande preocupação relativa ao tratamento cirúrgico seria o risco imposto ao paciente, visto que procedimentos em pacientes com TB ativa estariam associados a alta taxa de complicações. Como descrito na Tabela 1, a mortalidade pós-operatória variou nos diversos estudos entre 0 e 5% e a morbidade entre 11 e 34%. A principal complicação pós-operatória observada foi a fístula de coto brônquico e a maioria dos autores sugere estratégias para reforço do coto como cobertura com retalho de pleura, gordura pericárdica, músculo intercostal e outros. Empiema e hemotórax Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Tabela 1: Resultados do tratamento cirúrgico da tuberculose multirresistente AUTOR VAN LEUVEN7 ANO 1997 PACIENTES 62 MORTALIDADE 1,6% MORBIDADE 23% TAXA DE CURA 80% SUNG8 POMERANTZ9 1999 2001 27 172 0% 3,3% 25,9% 12% 96,3% 98% SHIRAISHI10 NAIDOO11 2004 2005 87 23 0% 0% 11,5% 17,4% 93% 95,6% DEWAN12 KIR13 2006 2006 74 79 4,1% 2,5% 32% 25% 89,8% 94,5% MOHSEN14 SOMOCURCIO15 2007 2007 23 121 4,3% 5% 34,7% 22,6% 96% 63% Adaptado de Pezzella AT et al.6. pós-operatório são outras complicações frequentemente descritas. A seleção adequada de pacientes para o tratamento cirúrgico é fundamental e os principais critérios para inclusão de pacientes estão discriminados na Tabela 2.16 Ainda que os critérios de seleção sejam um pouco variáveis entre os estudos, alguns pontos são consensuais: o paciente deve ser submetido a avaliação pré-operatória completa e possuir condição clínica que permita a ressecção completa de todas as lesões visualizadas à tomografia de tórax (ainda que sejam bilaterais); tratamento medicamentoso por pelo menos três meses deve anteceder a cirurgia (Figura 1). Alguns estudos sugerem fatores de risco associados à falha e complicações do procedimento que, portanto, devem ser considerados em sua indicação: presença de cavidade além da área a ser ressecada, resistência à ofloxacina, índice de massa corpórea inferior a 18,5 kg/m2, TB endobrônquica e a não utilização de estratégias para reforço do coto brônquico.17, 18 Tabela 2: Indicação para o tratamento cirúrgico da TBMR Escarro positivo apesar de terapia medicamentosa adequada (acredita-se que a fibrose em volta da cavidade possa abrigar microorganismos resistentes) Doença localizada (geralmente cavitária) com alta probabilidade de recidiva Resistência a mais de 3 drogas Múltiplas recidivas Adaptado de Naidoo R 16 Ainda que após a cirurgia o escarro tenha ficado negativo, sugere-se que a medicação seja mantida por 24 meses para aumentar a chance de cura. Os bons resultados da terapêutica combinada e a melhora das taxas de mortalidade e complicações devido a critérios de seleção mais rígidos devem aumentar o encaminhamento de pacientes para a ressecção cirúrgica.6 SEQUELAS PULMONARES DA TUBERCULOSE As sequelas da TB pulmonar ocorrem em pacientes com história prévia de TB, como resultado do processo de cicatrização e distorção da arquitetura normal do pulmão. Estão Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Fig. 1: Paciente portador de TBMR. Após 24 meses de tratamento medicamentoso, o escarro tornou-se negativo, porém persistiram cavidades em todo o pulmão esquerdo. Evoluiu com hemoptise intermitente e foi submetido à pneumonectomia esquerda, evoluindo sem complicações pós-operatórias. Não havia bacilos na peça. (A)Cavidade em lobo superior esquerdo com aspergiloma; (B)e(C)Cavidades em lobos superior e inferior esquerdos; (D)Cintilografia (pré-op) mostrando mínima perfusão em pulmão esquerdo. incluídos nesse grupo casos de bronquiectasias e cavidades pulmonares. BRONQUIECTASIAS A TB pulmonar pode levar à formação de bronquiectasias em até 11% dos casos.6 Gomes Neto e cols. identificaram TB como a causa de 31,3% dos casos de bronquiectasia em sua série de 67 pacientes19; Bogossian e cols. mostraram que 42,7% dos seus 314 casos de bronquiectasia eram sequela de TB.20 O tratamento clínico das bronquiectasias consiste principalmente da fisioterapia respiratória, sendo que muitas vezes se faz necessário o uso freqüente e prolongado de antibióticos. Apesar dos modernos antibióticos, a baixa aderência ao tratamento e o surgimento de cepas mais resistentes, fazem com que o manejo clínico das bronquiectasias esteja associado 7 a uma mortalidade de 19 a 31%. A ressecção total da doença em sua forma localizada pode levar à cura em mais de 90% dos casos, com uma mortalidade cirúrgica de 0 a 8%, e uma taxa de complicações pós-operatórias de 9,4 a 24,6% 21; portanto, a cirurgia estaria indicada para pacientes que, apesar do tratamento clínico adequado, persistissem com tosse produtiva crônica, pneumonia recidivante e hemoptise volumosa ou recorrente, desde que a função pulmonar fosse compatível com a ressecção proposta. Vários autores mostraram que a ressecção completa, isto é, a ressecção anatômica de todos os segmentos afetados é um importante fator prognóstico do sucesso do tratamento cirúrgico. Fujimoto e cols. estudaram retrospectivamente 92 ressecções pulmonares realizadas em 90 pacientes para tratamento de bronquiectasias.22 A ressecção foi considerada completa em 75 pacientes (81,5%). Houve desaparecimento ou redução dos sintomas em 83,6% dos casos e persistência dos mesmos em 16,4%. A análise multivariada de fatores prognósticos identificou o tipo de ressecção (completa/ incompleta) como um determinante do sucesso do tratamento cirúrgico (OR =0,044; CI 95%=0,006-0,300; p = 0,003). Esse fato, aliado aos avanços nas técnicas cirúrgicas, bem como a melhores cuidados perioperatórios, tem levado muitos cirurgiões a realizarem ressecções completas mesmo em pacientes com doença bilateral (Figura 2). Balkanli e cols., em série com 205 pacientes operados por bronquiectasias, bem como Prieto e cols., com 119 pacientes operados, fizeram toracotomia bilateral em 2 tempos, em 14 e 2 casos respectivamente, de forma a obter ressecção completa mesmo nos casos com doença bilateral. Não houve mortalidade e a cirurgia foi satisfatória em mais de 90% dos pacientes.21,23 Particularmente complexo é o tratamento de pacientes com doença multissegmentar, sintomáticos apesar de tratamento clínico adequado, nos quais a ressecção completa não é viável. Nestes sugere-se a ressecção das áreas mais comprometidas, pois apesar da taxa de cura com a ressecção incompleta ser mais baixa, a qualidade de vida dos pacientes tratados cirurgicamente é maior do que a daqueles tratados clinicamente.24,25 Mazières e cols. estudaram 16 pacientes operados com bronquiectasia multissegmentar bilateral.26 Foram realizadas 22 ressecções, sendo que 11 pacientes foram submetidos a uma toracotomia, 4 submetidos à toracotomia bilateral em dois tempos, e 1 paciente foi submetido à ressecção em 3 tempos. O número médio de segmentos ressecados por paciente foi 5,2, sendo que em todos os casos a ressecção foi incompleta, ou seja, o número de segmentos retirados foi inferior ao número de segmentos considerados doentes na avaliação pré-operatória. Houve desaparecimento ou regressão dos sintomas em 75% dos casos. A mortalidade foi nula e a morbidade foi de 18%. Logo, percebe-se que mesmo pacientes com bronquiectasia não localizada podem se beneficiar do tratamento cirúrgico. A avaliação pré-operatória é fundamental para selecionar as áreas que serão ressecadas. Ashour e cols. sugerem que tomografia computadorizada de alta resolução e a cintilografia de perfusão devem ser realizadas 8 Fig. 2: Paciente com cavidades bilaterais apicais e aspergiloma apresentando hemoptise recorrente. Foi submetido à toracotomia bilateral em dois tempos: inicialmente lobectomia superior direita e, na sequência, lobectomia superior esquerda. (A)Radiografia de tórax mostrando cavidades bilaterais; (B)Tomografia computadorizada de tórax mostrando bola fúngica bilateral; (C)Cavidade em lobo superior esquerdo após lobectomia superior direita (paciente persistia com hemoptise); (D)Radiografia de tórax após lobectomia superior esquerda (boa evolução pós-operatória, sem hemoptise durante o seguimento). nesses pacientes, devendo ser ressecados somente os segmentos (ou lobos) com bronquiectasias císticas e nãoperfundidas.27 DOENÇACAVITÁRIA A persistência da lesão cavitária após o tratamento clínico da TB pode resultar em complicações graves. O aspergiloma, ou bola fúngica, resulta da colonização saprofítica de cavidades pulmonares por fungos da espécie Aspergillus fumigatus. A principal manifestação clínica do aspergiloma é a hemoptise, cuja incidência varia de 50 a 83% dos casos, sendo severa ou recorrente em 10%.28 O tratamento do aspergiloma tem por objetivos controlar e prevenir a hemoptise, além de evitar complicações sépticas decorrentes de aspergilose invasiva. Em um estudo da década de 80, comparando os tratamentos clínico e cirúrgico do aspergiloma, a sobrevida em 5 anos foi semelhante – 65% naqueles tratados clinicamente e 75% nos tratados cirurgicamente – em um grupo de pacientes sem hemoptise. Entretanto, no grupo com hemoptise recorrente ou severa, a sobrevida em 5 anos foi de 41% naqueles com tratamento clínico e 84% nos pacientes operados.29 Desde então, indica-se a cirurgia para todos os pacientes sintomáticos, excetuando-se aqueles com alto risco cirúrgico. A controvérsia está na indicação de cirurgia para os pacientes assintomáticos, uma vez que a história natural do aspergiloma não está bem documentada. O temor em relação Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 às taxas de mortalidade e morbidade associadas ao tratamento cirúrgico do aspergiloma, chegando a 22% e 78% respectivamente em algumas séries publicadas, fez com que muitos especialistas deixassem de indicar a cirurgia para os pacientes sem hemoptise. Contudo, nos últimos anos, observamos na literatura médica uma tendência a indicar a cirurgia mesmo para os pacientes assintomáticos. Tal tendência foi impulsionada pelos avanços técnicos na cirurgia e anestesia, além de melhores cuidados perioperatórios (antibioticoterapia, fisioterapia, analgesia), que resultaram em redução significativa da morbidade e mortalidade cirúrgicas. Em 2000, Babatasi e cols. publicaram uma série com 84 pacientes operados por aspergiloma, sendo 18% assintomáticos. A mortalidade perioperatória foi 4% e complicações foram observadas em 69% dos casos. A sobrevida em 5 anos foi 84%.30 Na série de Brik e cols. de 2008, 42 pacientes foram operados, sendo 12% deles assintomáticos. A mortalidade foi 3,3%, a morbidade 28,5%, e a sobrevida em 5 anos foi superior a 80%.28 Contudo, essa conduta e seus resultados devem ser melhor avaliados através de estudos prospectivos, controlados e randomizados, comparando pacientes assintomáticos submetidos a cirurgia e tratados conservadoramente, a fim de avaliar mortalidade, complicações e evolução em cada conduta. Assim, a ressecção pulmonar é o tratamento padrão para o aspergiloma, pois possibilita o melhor controle dos sintomas a longo prazo, com mortalidade e morbidade relativamente baixas. Para pacientes com função pulmonar desfavorável e doença pulmonar extensa, a cavernostomia é uma alternativa à ressecção pulmonar. Gebitekin e cols. relataram 7 pacientes com aspergiloma e hemoptise recorrente, os quais, por apresentarem função pulmonar comprometida (VEF1<40%) ou doença bilateral, foram submetidos à cavernostomia com mioplastia em um único tempo. A mortalidade foi nula. Após um seguimento médio de 57,2 meses, 6 pacientes estavam vivos e sem hemoptise.31 Procedimentos menos invasivos como a cavernoscopia, descrita por Iuchi e cols. e Sagawa e cols., a drenagem percutânea com instilação de anfotericina B e a embolização de artérias brônquicas são considerados paliativos porque estão associados a altos índices de recidiva de hemoptise.32,33 TUBERCULOSE ENDOBRÔNQUICA A incidência de doença endobrônquica varia de 10 a 38% dos casos de TB pulmonar. 6 A sua patogênese não está completamente estabelecida, mas é provável que a tuberculose endobrônquica (TBEB) aconteça pela implantação direta de bacilos a partir de um foco no parênquima pulmonar ou linfonodo mediastinal adjacentes, disseminação hematogênica ou via linfáticos peribrônquicos. Ocorre inicialmente inflamação da mucosa, hiperplasia, ulceração e necrose. Na sequência pode haver formação de tecido de granulação, levando à fibrose e estenose cicatricial. Uma estenose envolvendo mais de 50% da luz do brônquio pode provocar atelectasia distal, infecções recorrentes e destruição do parênquima. Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Fig. 3: Paciente com tuberculose pulmonar tratada por 6 meses, no seguimento dispnéia. Foi diagnosticada estenose de brônquio principal esquerdo (BPE) e atelectasia total do pulmão ipsilateral. Foi submetida a broncoscopia e dilatação com balão com bom resultado. (A)Tomografia de tórax mostrando estenose em BPE; (B)Reconstrução digital da árvore traqueobrônquica; (C)Radiografia de tórax mostrando atelectasia de pulmão esquerdo; (D)Radiografia de tórax após a dilatação, mostrando a reexpansão pulmonar. O tratamento da TBEB é clínico, semelhante ao da TB pulmonar. Entretanto, a quimioterapia não consegue impedir a progressão para estenose em boa parte dos casos, mesmo com o uso adjuvante de corticóides. Um e cols. estudaram retrospectivamente 67 pacientes com TBEB; após o tratamento (6 meses), havia estenose residual em 41,8% dos casos. A análise multivariada identificou a idade acima de 45 anos, o subtipo fibroestenótico e o intervalo entre o aparecimento de sintomas e o início da terapia superior a 90 dias como preditores independentes de persistência de estenose brônquica. 34 Chung e cols. também mostraram que o aspecto endoscópico da TBEB tem valor preditor após a terapia.35 A cirurgia está indicada para pacientes com estenose traqueobrônquica residual, após o tratamento quimioterápico da TB ativa. Consiste em ressecção da estenose (broncoplastia), desde que a lesão seja proximal e o parênquima distal seja viável, ou ressecção pulmonar nos casos em há destruição do parênquima. Kato e cols. realizaram broncoplastias em 36 pacientes com estenose pós-TBEB36, com mortalidade de 2,8%; estenose da anastomose ocorreu em 7 pacientes (19,4%). A broncoscopia intervencionista é uma alternativa à operação para pacientes com alto risco cirúrgico e para aqueles com estenoses irressecáveis. Através de broncoscopia é possível realizar dilatação com balão, laser, crioterapia, etc (Figura 3). Estes procedimentos costumam produzir alívio inicial dos sintomas em quase todos os pacientes, mas precisam ser repetidos várias vezes devido às freqüentes recidivas.37 Ryu e cols. analisaram retrospectivamente 80 pacientes com estenose traqueobrônquica pós-TBEB tratados 9 com broncoscopia. Após dilatação endoscópica, 75 pacientes (94%) precisaram de próteses de silicone (Dumon) para manter a patência da via aérea. Houve imediato alívio dos sintomas e melhora da função pulmonar em 88% dos casos. As próteses puderam ser removidas em 49 pacientes (65%) após um período médio de 14 meses. As complicações com as próteses (migração, granuloma, re-estenose) foram comuns. Todas foram tratadas com broncoscopia e troca da prótese.38 CONCLUSÃO Apesar da grande desaceleração sofrida após o desenvolvimento de tratamentos medicamentosos eficazes, novas fronteiras foram abertas no campo da cirurgia para tuberculose. Em especial pelo aumento de casos da TBMR, observaremos um recrudescimento das ressecções pulmonares na TB ativa. O avanço das técnicas operatórias associado a um melhor cuidado perioperatório impulsionou a cirurgia tanto para a TBMR como para as sequelas pulmonares, em especial as bronquiectasias multissegmentares e o aspergiloma. Finalmente, o desenvolvimento da tecnologia endoscópica trouxe novas armas para o tratamento da TB endobrônquica. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10 Yew WW, Leung CC. Management of multidrug-resistant tuberculosis: Update 2007. Respirology. 2008; 13: 12-46. Aziz MA, Wright A, Laszlo A, De Muynck A, Portaels F, et al. 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Ricardo Mingarini Terra [email protected] CALENDÁRIO DE ATIVIDADES DAS REGIONAIS REGIONAL – CAMPINAS Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital de Clínicas da UNICAMP • 4as feiras: 8h30 às 10h Reunião das disciplinas de Pneumologia e Cirurgia torácica para discussão de casos clínicos e cirúrgicos, com a presença de radiologistas, pneumologistas, cirurgiões torácicos, radioterapeutas, residentes e alunos. Local: anfiteatro de Radiologia, terceiro andar, Hospital de Clínicas da Unicamp - Cidade Universitária Zeferino Vaz, s/n, Barão Geraldo, Campinas. • 5as feiras (exceto a última do mês): 8h30 às 9h30 Reunião anátomo-clínica-radiográfica para discussão de casos com comprovação histopatológica, com a presença de patologistas, pneumologistas, cirurgiões torácicos, radiologista, residentes e alunos. Local: Anfiteatro de Anatomia Patológica, segundo andar, Hospital de Clínicas da Unicamp. Departamento de Pneumologia e Cirurgia Torácica da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas • Ultima 4a feira do mês, das 20h às 22h (discussão de casos clínicos ou palestras sobre temas diversos) Local: Anfiteatro da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas. Rua Delfino Cintra, 63, Centro. Telefone: (19) 3231 2811 REGIONAL - RIBEIRÃO PRETO Reuniões - última quinta-feira do mês, às 20h Discussão de Casos Clínicos com a participação do HCFFMRP-USP, Hospital São Francisco e Santa Casa. Local: Chopp Time Street, Av. independência, 2579, 2° andar Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 11 Repercussões estruturais e funcionais das sequelas de Tuberculose tóraco-pulmonar em pacientes imunocompetentes AUTORES: Thulio Marquez Cunha1; J. Alberto Neder2 SERVIÇO: Departamento de Medicina da UNIFESP Médico pneumologista. Pós-graduando da Disciplina de Pneumologia do Depto. de Medicina da UNIFESP-EPM Professor Titular Livre-Docente da Disciplina de Pneumologia do Depto. de Medicina da UNIFESP-EPM Coordenador do SEFICE (Setor de Função Pulmonar e Fisiologia Clínica do Exercício) 1. INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) representa a oitava causa de morte (Tabela 1) e a nona causa de incapacidade (“DALYS” incapacidade ajustada por anos de vida) (Tabela 2) nos países pobres e emergentes. Representa a sétima causa de morte prematura no mundo (Figura 1).1 Atualmente, cerca de 1,86 bilhões de pessoas apresentam infecção latente por Micobacterium tuberculosis. 2 Destes, 10% dos imunocompetentes e 50% dos imunocomprometidos irão desenvolver TB em algum momento da vida.3 Observa-se que cerca de 80% dos casos concentram-se em 22 países (Figura 2)4 e o Brasil, com incidência de 50 casos/100.000 habitantes e mortalidade de 4/100.000 casos/ano, está em 15º lugar neste ranking.5 Os principais fatores de risco para a TB são: pobreza, desnutrição, infecção pelo HIV, tabagismo, desigualdade social em países pobres e emergentes, diabetes mellitus, e poluição. 4 Secundariamente, contribuem exposição a sílica e silicose.6,7 Tabela 1: As dez causas mais prevalentes de morte nos países pobres e emergentes1 Causa Mortes % total (milhões) de mortes 1.Infarto agudo do miocárdio 5,70 11,8 2.Doença cerebrovascular 4,61 9,5 3.Pneumonia 3,41 7,0 4.SIDA 2,55 5,3 5.Causas Perinatais 2,49 5,1 6.DPOC 2,38 4,9 7.Diarréia 1,78 3,7 8.Tuberculose 1,59 3,3 9.Malária 1,21 2,5 10.Acidentes automobilísticos 1,07 2,2 12 Tabela 2: As dez causas mais prevalentes de anos vividos com incapacidade (DALYS) nos países pobres e emergentes1 DALYS % total de (milhões de anos) DALYS 89,07 6,4 83,61 6,0 Causa 1.Causas Perinatais 2.Pneumonia 3.Infarto agudo do miocárdio 4.SIDA 5.Doença cerebrovascular 6.Diarréia 7.Depressão 8.Malária 9.Tuberculose 10.DPOC 71,88 70,80 62,67 58,70 43,43 39,96 35,87 33,45 5,2 5,1 4,5 4,2 3,1 2,9 2,6 2,4 A TB foi considerada uma emergência global em 1993 pela Organização Mundial de Saúde. 8 Como é de amplo conhecimento, após a cura microbiológica podem persistir lesões sequelares tóraco-pulmonares que conferem morbidade de diferentes graus a esses paciente. O impacto funcional e econômico destas lesões sequelares é significativo, acometendo principalmente adultos em idade produtiva.4 Fig. 1: As dez principais causas globais de morte prematura (YLL - anos de vida perdidos) e mortes, 20011 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Fig. 2: Prevalência estimada de tuberculose em 20065 2. ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS SEQUELARES As sequelas pulmonares da TB são alterações estruturais pouco reversíveis ou irreversíveis. Elas incluem: fibrose parenquimatosa; distorção arquitetural (broncovascular e parenquimatosa) com perda volumétrica; bronquiectasias; acometimento pleural; enfisema; estenose brônquica e lesões cavitárias residuais. 9-26 São decorrentes de respostas inapropriadas à lesão pulmonar desencadeada pelo M. tuberculosis.27 Os fatores de risco já identificados para o desenvolvimento das sequelas são: má aderência ao tratamento20; extensão de lesões iniciais 19,21; volume de expectoração durante o tratamento19; número de episódios de TB22; e tempo de doença prolongado, isto é, do diagnóstico à cura microbiológica.11, 21 3. MECANISMOS CELULARES DA DOENÇA E SUAS SEQUELAS Na resposta adequada ao M. tuberculosis, há formação de granuloma organizado, seguido por seu desligamento, dissolução da matrix extracelular e retorno da arquitetura pulmonar normal. Ao ser inalado, o bacilo é fagocitado pelos macrófagos alveolares, o que, somado a chegada ao local de linfócitos ãä, linfócitos natural killers (NK) e outros granulócitos, aumenta a concentração local de interferon (IFN) ã e fator de necrose tumoral (TNF)α. Desencadeia-se, então, uma cascata de citocinas que atraem mais macrófagos e linfócitos T, o que leva a exsudação plasmática e formação de coágulos de fibrina. Os macrófagos agregam-se formando o granuloma, e sua ativação (via imunidade celular - Th1), leva à apoptose e consequente destruição do bacilo fagocitado. (necrose caseosa). Este processo ocorre em cerca de 2-3 semanas, predominando no centro do granuloma, gerando um ambiente pobre em oxigênio e lesivo ao M. tuberculosis. Macrófagos, fibroblastos, células endoteliais e neutrófilos produzem proteases que ajudam na formação do granuloma, removem a matrix extracelular e debris celulares, e metabolizam citocinas e hormônios. São regulados em vários níveis: transcrição; formação de pró-enzimas; controle de sinalização; inibidores de metaloproteinases (TIMPs) (Figura 3). O TNF-α é crucial para defesa do hospedeiro. Contribui Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Fig. 3: Mecanismos celulares de doença. Após fagocitose, o M. tuberculosis desencadeia uma séries de reações via Th1 que leva à destruição do bacilo. Vários fatores ligados ao bacilo e ao hospedeiro desencadeiam uma resposta Th2. Tal resposta desregula e amplifica a ação Th1, possibilitando a progressão da doença com disseminação e transmissão. Adicionalmente, há o desenvolvimento de fibrose parenquimatosa, que é a responsável pelas alterações sequelares . para integridade estrutural do granuloma pela formação da cápsula fibrosa que o envolve. É responsável ainda pela formação da necrose caseosa, ativação macrofágica e mecanismos efetores CD3+, que levam à esterilização da micobactéria. Em alguns pacientes a doença progride e há desenvolvimento de necrose por liquefação. Ao contrário do que ocorre quando ocorre apoptose, este tipo de necrose não leva à destruição do bacilo. Isto ocorre por vários fatores: • Proteólise desregulada: maior atividade que leva a proteólise do parênquima; • Toxicidade direta do M. tuberculosis: proteínas e toxinas (ex.: ESAT-6) levam a lise de células epiteliais pulmonares; • Reações de hipersensibilidade: re-exposição a antígenos do M. tuberculosis (lipoarabinomannan) levando a necrose (fenômeno de Koch e reação de Shwartzman); • Citocinas e células efetoras do hospedeiro: Resposta Th2, mediadas por IL-4, desencadeada por componentes do M. tuberculosis, levam a lesões teciduais (proteólise) por ação descontrolada do TNF-α (aumento de metaloproteinases e uroquinase). Forma-se então, um meio ideal para multiplicação extracelular do M. tuberculosis e tóxico para os macrófagos. As enzimas proteolíticas comprometem a integridade da cápsula do granuloma, liberando o caseum para o sangue e vias aéreas, o que resulta em disseminação e transmissão da doença (Figura 3). A resposta Th2 (via IL-4 e IL-13) possui ainda ação prófibrosante, com aumento da produção de colágeno pelos fibroblastos. Nos pacientes com sequelas pulmonares, além da resposta inicial via Th1 (TNF-α) que leva a formação da cápsula fibrosa do granuloma, ocorre uma resposta via Th2 que tenta “cercar” o bacilo, e acaba levando à destruição importante do parênquima pulmonar. Não se sabe ao certo se esta resposta Th2 é desencadeada por um (ns) antígeno (s) específico (s) ou se existe ação adjuvante do próprio M. tuberculosis. A identificação deste mecanismo será importante para desenvolvimento de novos alvos terapêuticos no tratamento da TB (Figura 3).27 13 4. ALTERAÇÕES RADIOLÓGICAS As lesões sequelares mais comuns observadas na radiografia de tórax predominam em lobos superiores e são caracterizadas por: estrias, retração, elevação dos hilos, cavidades, calcificações e hiperinsuflação do pulmão contralateral (Figura 4).21, 22, 28, 29, 30 Fig. 4: Radiografia de tórax de paciente com seqüela de TB. Observam-se opacidades não homogêneas no ápice direito com redução volumétrica do lobo superior direito, desvio da traquéia para o lado da lesão e presença de nódulos calcificados Infelizmente, não existe ferramenta padronizada para avaliação da extensão das lesões sequelares consequentes da TB. O escore mais utilizado consiste na graduação das lesões de 0 a 18 pontos. Divide-se cada pulmão em 3 zonas, quantificando cada uma: 0 ponto – sem infiltrados; 1 ponto – infiltrado ≤ 1/3 da zona; 2 pontos – infiltrado de > 1/3 a ≤ 2/ 3 da zona; e 3 pontos – infiltrado > 2/3 da zona. As notas de cada zona são somadas resultando no escore final.12 Em 1971, Snider et al. avaliaram as radiografias de 78 pacientes no início e fim do tratamento. As lesões, caracterizadas como mínimas, moderadas e avançadas, foram assim distribuídas na admissão e alta respectivamente: 5%/ 25%, 55%/55% e 40%/20%. Lesões mais extensas foram observadas nos idosos.12 Plit et al, utilizando o mesmo escore em paciente pós tratamento hospitalar, observaram valor médio antes e após de 9,1 e 4,8, evidenciando clara melhora com o tratamento.31 Em pacientes com TB multiresistente (TBMR), avaliados com a mesma ferramenta, o escore médio pós tratamento foi de 6,5. Todos os pacientes apresentavam alterações radiológicas, com acometimento médio de 36% dos pulmões, e 60% apresentavam cavitações. Houve correlação entre o escore radiológico e o tempo decorrente entre o diagnóstico de tuberculose e o fim do tratamento.21 Willcox et al propuseram outra ferramenta de avaliação. Nesta, o pulmão foi dividido em 6 zonas, quantificando as lesões em 3 graus: grau 1, com alteração em apenas 1 zona e sem cavitações; grau 2, com alterações em 2-3 zonas ou presença de cavidade em 1 zona; e grau 3, com alterações em mais de 3 zonas com ou sem cavitações. 18% dos pacientes 14 apresentavam grau 1 de alterações, 37,7% grau 2 e 44,3% grau 3. Houve relação entre o grau de lesão e a quantidade de expectoração crônica.19 Um estudo brasileiro utilizou esta ferramenta e encontrou 35,3% dos pacientes com grau 1, 35,3% com grau 2 e 29,4% grau 3.32 Em relação às lesões pleurais, o espessamento (EP) (>2mm) é a sequela radiológica mais comum. É encontrada em 3740% após tratamento.33 Não foi demonstrada correlação entre o grau de EP e o tipo de tratamento, o uso de corticóides ou a realização de toracocenteses terapêuticas. A quantidade de pacientes pós tratamento de TB pleural que apresentam EP >10 mm varia de 6-20%, e neste grupo há correlação com presença de lisozimas e TNF-α no líquido pleural.33 Estudos utilizando tomografia computadorizada para avaliação de sequelas pulmonares de TB são raros. Não há escore específico para graduar as lesões encontradas. As principais alterações encontradas são: estrias fibróticas de graus variados de extensão, distorção broncovascular, enfisema (paracicatricial ou lobular), nódulos, perfusão em mosaico, cavidades (principalmente de paredes finas) e bronquiectasias (Figura 5).10, 30, 34, 35 O provável mecanismo de enfisema nestes pacientes é a estenose brônquica ou bronquiolar evidenciada pela distorção arquitetural no local onde eram observados nódulos centrolobulares e espessamento bronquiolar. A perfusão em mosaico é explicada pelo aprisionamento aéreo decorrente da bronquiolite constritiva cicatricial. Podem ser encontradas cavidades com paredes finas, bronquiectasias de tração e estrias em até 21%, 86% e 77% respectivamente.30 Fig. 5: Tomografia computadorizada de tórax de paciente com sequela de TB pulmonar. Notam-se estrias fibróticas nos lobos superiores com distorção do parênquima e áreas de enfisema paracicatricial, além de lesões cavitárias com paredes espessas. Observam-se, ainda, áreas com perfusão em mosaico. 5. ALTERAÇÕES FUNCIONAIS 5.1. Alterações ventilatórias: Nos pacientes com sequela de TB, podem ser encontrados todos os padrões funcionais (normal, obstrução, restrição e misto), com alterações desde leves até graves. As distribuições médias encontradas na literatura são:12, 19, 28, 31, 32, 36 - padrão restritivo: 17-36%; Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 - padrão obstrutivo: 15-48%; - padrão misto: 13-34%; e - espirometria normal: 8-47%. Em pacientes com TBMR, os padrões encontrados foram similares, mas com tendência a maior prevalência de distúrbios obstrutivos e mistos, com apenas 6 % de provas normais. 21 De fato, quando pacientes com sequelas pulmonares são comparados com controles sadios, observase que 5,4 (2,98-9,68) vezes mais alterações nas provas de função pulmonar.36 Estudo populacional realizado em 5 cidades da América Latina, mostrou prevalência TB de 2,5% em pacientes acima de 40 anos, com relação positiva entre este diagnóstico e obstrução ao fluxo aéreo (razão de chance = 4,06), independente do tabagismo.37 Em relação aos volumes pulmonares estáticos, observouse aumento do VR (volume residual) (126%) e da razão VR/ CPT (capacidade pulmonar total) (39%). Não se observou CPT aumentada neste grupo de pacientes. Quando o paciente apresentava volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF 1) normal e radiografia com alterações mínimas, comumente observou-se aumento de VR/CPT. Por outro lado, quando o VEF1 era normal e a radiografia mostrava alterações avançadas, observou-se queda da CV (capacidade vital) e CPT com RV/CPT normal, sugerindo que sequela de TB grave se comporta do ponto de vista mecânico, como ressecção “bacteriológica” do parênquima pulmonar.26 Num estudo particularmente interessante comparando pacientes com sequela de TB e pacientes com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), pareados por VEF1, foram encontradas maior relação VEF1/CVF, maior resistência de vias aéreas e menor CVF no primeiro grupo.22,28 A CI (capacidade inspiratória), entretanto, foi semelhante.28 O comportamento das alterações funcionais ao longo do tempo foi analisado em alguns estudos. Observou-se que, quanto maior o número de episódios de TB mais acentuadas são as perda funcionais38 (Figura 6). Estas são maiores nos 6 primeiros meses pós tratamento e se estabilizam após 13-18 meses. 38 Quando comparados pacientes antes e após tratamento, observou-se melhora da função pulmonar em 54% dos casos, mostrando que o tratamento adequado é fundamental para diminuir morbidade futura.31 Em pacientes com obstrução ao fluxo aéreo por sequelas de TB, observouse redução na CV de 54,3 ml/ano, redução de 35,3 ml/ano no VEF1 e aumento de 44,7 ml/ano do VR em pacientes acompanhados por 15 anos. Já em pacientes que não apresentavam obstrução foram encontrados: redução CV de 27,7 ml/ano, redução da VEF1 de28,8 ml/ano e aumento do VR de 26,9 ml/ano. Observou-se ainda redução da CPT, CV e VEF1 e aumento do VR significativamente maiores no grupo de pacientes que apresentavam obstrução al fluxo aéreo.39 Hiperreatividade brônquica (HRB) também é mais comumente encontrada em pacientes com sequela de TB, quando comparados a controles (47,3% e 0% respectivamente). Neste estudo os pacientes foram avaliados em média 15 meses pós tratamento. Nenhum paciente Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 apresentava resposta a BD (broncodilatador). Adicionalmente, não houve correlação entre HRB e grau de lesão.40 Fig. 6: Distribuição do VEF 1 e porcentagem de controles e pacientes com TB apresentando valores abaixo de 80% do previsto.32 Notar a associação entre frequência de episódios de TB e redução da função pulmonar, ou seja, maior prevalencia de VEF1 abaixo de 80% do previsto. 5.2. Relação entre função pulmonar e aspectos clínicos: Pacientes com sequela de TB que apresentam broncoespasmo possuem maiores valores de resistência das vias aéreas.22 A quantidade de expectoração correlacionouse negativamento com o VEF1.19 A presença de sintomas (tosse, dispnéia e/ou broncoespasmo) não se correlacionou com alterações de função pulmonar.32 Presença de sintomas não é um bom parâmetro para avaliar o grau de sequelas, visto que são mais observados quando o VEF1 < 50%. 36 A 15 idade se relacionou com o grau de obstrução 12, 22 e alteração da função pulmonar em geral nos pacientes com sequela de TB.38 5.3. Relação entre função pulmonar e alterações radiológicas: Foram observadas relações entre o grau de alteração radiológica e as seguintes variáveis: VEF1, CV, VEF1/CV e FEF 25-75 (fluxo respiratório forçado entre 25-75% da expiração).12, 19, 22, 26, 31, 32 A extensão inicial das lesões também mostrou-se um bom preditor da função pulmonar pós tratamento31, mesmo em pacientes com TBMR.21 à incapacidade de pessoas em idade ativa. Existem poucos estudos que abordam esta população de pacientes, não sendo conhecida sua verdadeira incidência ou prevalência. Tornase, portanto, premente o desenvolvimento de ferramentas para classificação da disfunção e da incapacidade neste grupo, tanto para caracterizar a morbidade respiratória associada à TB quanto para avaliar objetivamente o impacto de intervenções terapêuticas específicas. Parafraseando Pasipanodya et al., “para muitos pacientes com tuberculose, a cura microbiológica é apenas o começo de sua doença”.36 7. REFERÊNCIAS 5.4. Relação entre função pulmonar e provas de atividade inflamatória: Há correlação negativa do VEF1% com α1-PI (alfa 1 antiproteinase) e PCR (proteína C reativa). Sem correlação entre VEF1% e VHS (velocidade de hemossedimentação) ou entre score radiológico e VHS ou α1-PI. Ao longo do tratamento é observada queda significativa nos níveis de VHS, PCR, α1PI e leucócitos totais.31 1. 2. 3. 4. 5.5. Efeitos na capacidade de exercício: A distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos foi semelhante em pacientes com sequela de TB e pacientes com DPOC quando pareado pelo VEF 1 . Similarmente, não houver diferenças entre saturação periférica de oxigênio inicial e final, frequência cardíaca inicial e final e escala de Borg inicial e final. Observada diferença significativa na frequência respiratória (FR) inicial 7,8,19,22 e final.3,9,21,27 Houve correlação linear significativa entre a FR e a escala de Borg.28 Não há dados publicados sobre o comportamento destes pacientes no teste cardiopulmonar de exercício. 5.6. Impacto funcional da sequela de TB pleural: A maioria dos pacientes com sequelas pleurais apresenta EP leve, com pouco ou nenhum comprometimento da função pulmonar. Restrição é o padrão predominante, acometendo cerca de 10 % dos casos; e entretanto, há fraca correlação entre CVF e grau de EP.32, 33 É possível observar restrição sem presença de EP. A sensibilidade e especificidade de EP para existência de restrição são respectivamente 50 e 64% quando se adota ponto de corte de 2 mm para EP. Quando se considera ponto de corte 10 mm, os valores encontrados são 25% e 96%.33 Um estudo observou que, durante o tratamento da TB pleural, houve aumento significativo da CVF (60% para 97,6%) e da CPT (71,4% para 95,4%). Pacientes com sequela funcional apresentam níveis pleurais reduzidos de DHL e aumentados de colesterol, triglicérides e linfócitos. Não se encontrou relação entre pH, proteínas, glicose e volume de líquido pleural e o desenvolvimento de sequelas funcionais.33 6. CONCLUSÃO Lesões sequelares à TB tóraco-pulmonar estão presentes em proporção significativa dos pacientes tratados, levando 16 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Lopez AD, Mathers CD, Ezzati M, Jamison DT, Murray CJL. Global and regional burden of disease and risk factors, 2001: systematic analysis of population health data. Lancet. 2006;367:1747-57. Dye C, Scheele S, Dolin P, Pathania V, Raciglione MC. Global Burden of Tuberculosis: Estimated Incidence, Prevalence, and Mortality by Country. JAMA. 1999;282(7):677-86. Ravaglione MC. The TB epidemic from 1992 to 2002. Tuberculosis. 2003;83:4-14. Dye C. Global epidemiology of tuberculosis. Lancet. 2006;367: 938–40. World Health Organization. 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Nylceu Marques de Castro Rua Botucatu, 740 HC-USP 4ªs feiras, das 8 às 10h Instituto Central – Anfiteatro da Patologia 10º andar - Av. Enéas de Carvalho Aguiar, 255 HSPE 3ªs feiras às 8h Biblioteca 14º andar / Rua Pedro de Toledo, 1800 SANTA CASA 6ªs feiras, das 8 às 9h Unidade de Pulmão e Coração (UPCOR) Anfiteatro Rua Dr. Cesário Motta Jr, 112 ABC 6ªs feiras, das 8h30 às 10h30 Centro de Estudos do Hospital Mário Covas Rua Henrique Calderazzo, 321 - Paraíso - Santo André CLEMENTE FERREIRA 4ªs feiras, das 8h30 às 11h30 Auditório Rua da Consolação, 717 DEPARTAMENTO DE FISIOTERAPIA DA SPPT “Tópicos Avançados em Fisioterapia Respiratória” Data: Toda última terça-feira do mês Horário: 20h Local: R. Machado Bittencourt, 205 - Térreo 17 Surtos de infecções por micobactérias de crescimento rápido AUTORES: Denise Brandão de Assis1; Geraldine Madalosso2 SERVIÇO: Divisão de Infecção Hospitalar da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo 1 Médica infectologista, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP, Diretora Técnica da Divisão de Infecção Hospitalar-Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof Alexandre Vranjac” – Coordenadoria de Controle de Doenças – Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. 2 Médica infectologista, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP, médica técnica da Divisão de Infecção Hospitalar-CVE/CCD/SES/SP 1. INTRODUÇÃO As espécies de micobactérias de crescimento rápido (MCR) associadas a doenças em humanos são aquelas que pertecem aos grupos Mycobacterium fortuitum, M. chelonae/abscessus e M. smegmatis.1 Mycobacterium massiliense e Mycobacterium bolletti, foram reconhecidas como espécies separadas do grupo M. chelonae/abscessus em 2006.2 A primeira descrição clínica e laboratorial de Mycobacterium fortuitum foi realizada por Costa Cruz em 1936 em um caso de abscesso pós injeção de vitaminas.3 Surtos e pseudosurtos de infecções por MCR relacionados a procedimentos cirúrgicos 3, 4, 5, 6 vêm sendo descritos há mais de 20 anos em todo o mundo e são reconhecidos como um importante problema de saúde pública. As MCR são encontradas no ambiente, especialmente na água, e podem contaminar soluções, medicamentos e equipamentos médicos.1 A contaminação pode ocorrer devido a falhas no reprocessamento de artigos médicos, contaminação de medicamentos e soluções assépticas. Deve-se suspeitar de infecção por MCR nos casos de infecção cirúrgica não responsiva a antibioticoterapia usualmente utilizada para tratamento deste tipo de infecção As infecções por MCR podem ser superficial, atingindo pele e tecido celular subcutâneo, com sinais e sintomas locais de inflamação como dor, aumento de temperatura, vermelhidão, nódulos, podendo evoluir com drenagem de secreção, fístula ou deiscência de sutura com sintomas sistêmicos pouco freqüentes. Nas infecções relacionadas a cirurgias endoscópicas podem ocorrer infecções em planos mais profundos com presença de um ou múltiplos abscessos no plano muscular ou intracavitários. No Brasil há descrições de surtos de infecções por MCR associados a procedimentos cirúrgicos 3,7 desde 2004. Entretanto, a partir de 2007 o número de infecções por MCR, principalmente relacionadas a cirurgias endoscópicas, 18 atingiu níveis alarmantes, totalizando 1937 notificações de casos confirmados de infecções cirúrgicas até julho de 2008, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).8 2. SURTOS DE INFECÇÃO POR MCR NO ESTADO DE SÃO PAULO Desde 2004 foram notificados 40 casos de infecção por MCR no Estado de São Paulo. A Tabela 1 mostra a distribuição destes casos segundo ano de notificação e espécie de MCR identificada. Tabela 1. Número de casos confirmados notificados segundo ano de notificação e espécie de MCR identificada. Estado de São Paulo, 2004 a 2008 2.1. SURTO DE INFECÇÕES POR MCR ASSOCIADAS A IMPLANTE DE PRÓTESES MAMÁRIAS Em 2004 a Divisão de Infecção Hospitalar do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac” (CVE), o Centro de Vigilância Sanitária do Estado e o Instituto Adolfo Lutz, órgãos da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CCD/SES-SP), investigaram em parceria com as vigilâncias epidemiológica e sanitária municipais, casos de infecções por MCR relacionados a cirurgias para implante de próteses mamárias na cidade de Campinas. Foram confirmados 14 casos de infecção por MCR sendo 12 casos por M.fortuitum, 1 caso por M.porcinum e 1 caso por M.abscessus. Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Os casos estavam distribuídos em diferentes instituições e envolviam vários cirurgiões e vários fabricantes de implantes mamários, não sendo possível definir a causa das infecções pela investigação epidemiológica. Exames de biologia molecular mostraram que o surto apresentava dois perfis: monoclonal em uma instituição e policlonal nas demais instituições com casos confirmados. 2.2. SURTO DE INFECÇÕES POR MCR ASSOCIADAS A PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS Em 2005 houve a investigação de novos casos de infecções por MCR na cidade de Campinas, desta vez relacionados a outros procedimentos estéticos. Nesta ocasião foram identificados 6 casos de infecção por M.abscessus pós injeção de substâncias cosméticas para redução de gordura localizada. Todos os casos ocorreram em uma mesma clínica de estética. A investigação epidemiológica mostrou várias falhas de processo de trabalho na clínica e problemas na farmácia de manipulação que fornecia medicamentos para a clínica. Entretanto, não foi possível determinar a causa do surto. 2.3.SURTO DE INFECÇÕES POR MCR ASSOCIADOS A PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS Após 2 anos sem receber novas notificações de casos por MCR , em 2008 a Divisão de Infecção Hospitalar do CVE recebeu novas notificações de casos de infecções por MCR. Do total de casos notificados confirmados, 12 estão relacionados com cirurgia para implante de próteses mamárias, 6 com colecistectomia laparoscópica, 1 com artroscopia e 1 com cirurgia plástica sem implante de prótese. É importante destacar que nos casos de cirurgias endoscópicas foi isolada M.abscessus/M.bolletii/ M.massiliense e nos demais casos foram isoladas M.abscessus e M.fortuitum. A principal hipótese para a ocorrência destes casos é o reprocessamento inadequado de artigos médicos. 3. DIAGNÓSTICO/TRATAMENTO O diagnóstico definitivo das infecções cirúrgicas por MCR é realizado por meio de cultura de aspirado de secreção ou de material de biópsia coletado de maneira asséptica. A realização de investigação diagnóstica complementar com exames de imagem deve ser realizada para avaliar a extensão das lesões, uma vez que infecções cirúrgicas por MCR podem resultar em lesões profundas, como abscessos intracavitários. O tratamento das infecções por MCR é diferente daquele utilizado para as micobactérias de crescimento lento, como M.tuberculosis e varia de acordo com a espécie de MCR.1 Monoterapia para doença localizada por MCR é eficiente com mínimo risco de desenvolvimento de resistência. Entretanto, nos casos de doença disseminada é necessário tratamento com mais de uma droga, incluindo a associação de antimicrobianos por via intravenosa e oral.1 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 O grupo M.fortuitum apresenta menor resistência a drogas quando comparado aos grupos M.abscessus e M.chelonae.1 As MCR do grupo M.fortuitum são sensíveis ou apresentam sensibilidade intermediária in vitro a amicacina, cefoxitina, ciprofloxacina, gatifloxacina, imipemem, levofloxacina, linezolida, sulfametoxazol, sulfametoxazoltrimetoprim, claritromicina, doxiciclina e vancomicina.1 Já as MCR do grupo M.abscessus são sensíveis ou apresentam sensibilidade intermediária in vitro a amicacina, cefoxitina, claritromicina, ciprofloxacina, doxiciclina, imipenem e linezolida.1 Finalmente, as MCR do grupo M.chelonae são sensíveis ou apresentam sensibilidade intermediária in vitro a amicacina, claritromicina, gatifloxacina, linezolida, tobramicina, ciprofloxacina, doxiciclina e imipenem.1 A orientação terapêutica deve ser realizada sempre que possível com base em testes de sensibilidade. 4. MEDIDAS DE PREVENÇÃO Por tratar-se de uma doença emergente a ANVISA recomenda a notificação dos casos suspeitos e confirmados de infecções por MCR pós procedimentos cirúrgicos. Os casos devem ser notificados às vigilâncias epidemiológicas e sanitárias locais e por meio de formulário disponível no site da ANVISA.9 A vigilância de base laboratorial também é recomendada com a notificação de casos de infecções por MCR pelos laboratórios às vigilâncias locais. Além disso, foi colocada em consulta pública uma legislação para contenção do surto no país que inclui regulamentação sobre o uso de esterilizantes químicos, como o glutaraldeído.10 No Estado de São Paulo foi publicado em 2008 um manual para prevenção e controle de infecções associadas a procedimentos estéticos11 e nota técnica12 e comunicado orientando sobre o reprocessamento de artigos médicos.13 É importante destacar que as medidas para prevenção e controle de infecções cirúrgicas por MCR nos serviços de saúde devem ser as mesmas já utilizadas para a prevenção e controle das infecções cirúrgicas por outros agentes.14 Além disso, todos os artigos utilizados em cirurgias endoscópicas devem ser cuidadosamente limpos e obrigatoriamente esterilizados.12,13 5. CONCLUSÃO As infecções cirúrgicas por MCR representam uma doença emergente e de grande importância em saúde pública, tanto pelo número de casos como pelas seqüelas nos pacientes acometidos. Dessa forma, é de fundamental importância a intensificação das medidas de prevenção e controle de infecções cirúrgicas com especial atenção no reprocessamento dos artigos médicos. REFERÊNCIAS 1. Brown-Elliott BA, Wallace RJ. Clinical and Taxonomic 19 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 20 Status of Pathogenic Nonpigmented or LatePigmenting Rapidly Growing Mycobacteria. Clin Microbiol Rev 2002;15 (4): 716-46. Viana-Niero C, Lima KVB, Lopes,ML, Rabello MCS, Marsola LR, Brilhante VCR, Durham AM , Leão SC. Molecular Characterization of Mycobacterium massiliense and Mycobacterium bolletii in Isolates Collected from Outbreaks of Infections after Laparoscopic Surgeries and Cosmetic Procedures. J Clin MicrobioI 2008; 46(3): 850-5. Costa Cruz J. “Mycobacterium fortuitum”, um novo bacilo acido-resistente patogênico para o homen. Acta Med 1938; 1:297-301. Kuritsky JN, Bullen MG, Broome CV, Silcox VA, Good RC, et al.. Sternal wound infections and endocarditis due to organisms of the M. fortuitum complex. Ann. 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Doutora pela FMUSP INTRODUÇÃO A possibilidade de agentes biológicos neutralizarem as citocinas inflamatórias, particularmente o fator de necrose tumoral - alfa (TNF-α) é atualmente uma das mais importantes alternativas na terapêutica de várias doenças autoimunes, dentre elas artrite reumatóide, artrite reumatóide juvenil, espondilite anquilosante, doença de Crohn e psoríase.1 O TNF-α é uma potente citocina pró-inflamatória liberada por monócitos, macrófagos e linfócitos T e associada à liberação de outras citocinas, proliferação de fibroblastos, aumento da expressão de moléculas de adesão endotelial e da atividade de metaloproteinases, além de promoção da angiogênese. 1 Esta citocina apresenta também papel fundamental na resposta inflamatória do tipo hipersensibilidade tardia, desencadeada por patógenos intracelulares, (micobactérias e fungos), estimulando o recrutamento de macrófagos e linfócitos e consequente formação do granuloma. Estes patógenos podem ser eliminados por esta reação inflamatória ou manter-se de forma latente dentro do granuloma, que impede a sua disseminação. A inibição ou neutralização de TNF-α pode interferir na manutenção do granuloma, em indivíduos infectados e ou na formação do granuloma em recém infectados, possibilitando maior risco de disseminação e desenvolvimento de infecções por esses agentes.2,3,4 Entre as doenças infecciosas granulomatosas, a tuberculose (TB) está amplamente associada ao risco de reativação de infecção latente ou à progressão de infecção recentemente adquirida, às vezes com formas disseminadas e extrapulmonares.5 Outras infecções oportunistas também podem ocorrer em pacientes tratados com agentes anti TNFα. Entre 175.000 pacientes que utilizaram infliximabe (anticorpo anti-TNF-α) foram descritos casos de histoplasmose primária ou disseminada, pneumocistose, aspergilose, candidíase sistêmica, coccidiomicose e listeriose.6 Atualmente, três antagonistas de TNF-α estão disponíveis em uso comercial, dois anticorpos monoclonais anti-TNF (um anticorpo quimérico - infliximabe - e outro anticorpo humano - adalimumabe) e um receptor solúvel do Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 TNF (etanercepte – proteína de fusão composta do receptor solúvel ligado a porção Fc de uma imunoglobulina humana).1 Inicialmente, essas drogas foram utilizadas em países com baixa incidência e prevalência da infecção pelo M. tuberculosis. No Brasil, a aprovação em 2005 ao uso destas drogas gera preocupação em relação a um risco muito maior de ocorrência de TB. No país, a TB apresenta uma incidência estimada de 60 casos por 100 mil habitantes e estima-se em 50 milhões o número de pessoas infectadas pelo bacilo.7,8 Dessa forma, o uso de drogas imunossupressoras, e principalmente os antagonistas do TNF-α, sem uma adequada avaliação de infecção prévia por TB, poderá levar a um aumento de casos de tuberculose. Além disso, existe também o risco dos pacientes serem infectados durante o uso da medicação. EPIDEMIOLOGIA Após a liberação para uso comercial dos agentes antiTNF-α nos Estados Unidos em 1998, foram relatados ao U.S. Food and Drugs Administration (FDA) 242 casos de tuberculose até 2004. 9 Em torno de metade dos casos reportados eram casos de tuberculose disseminada. O uso de agentes anti-TNF-α eleva em média o risco de TB em aproximadamente 4-5 vezes.5 Essa prevalência aumenta ainda mais quando se consideram apenas os pacientes nascidos em países onde a tuberculose é endêmica5,9, como é o caso de Brasil. No Brasil não existe notificação específica sobre a incidência de tuberculose ou infecções oportunistas em usuários de agentes anti-TNF-α; no entanto, em congressos existem relatos de vários casos. INDICAÇÕES GERAIS DE QUIMIOPROFILAXIA PARA TUBERCULOSE As indicações de quimioprofilaxia, segundo o II Consenso Brasileiro de Tuberculose de 2004 são10: - quimioprofilaxia primária (em não infectados) em recémnascidos contatos de adulto com doença ativa. - Menores de 15 anos contato de TB bacilífera com teste tuberculínico (TT) maior ou igual a 10mm nos não-vacinados 21 com BCG ou maior ou igual a 15mm nos vacinados. - Viragem tuberculínica recente (últimos 12 meses) e que apresentam aumento de no mínimo 10mm na resposta inicial. - Em população indígena, contato de TB e com TT maior ou igual a 10mm, independente da idade e status vacinal. - Reatores forte ao TT sem sinais de doença ativa, mas portadores de condições clínicas que favoreçam a infecção: alcoolismo, diabetes, silicose, nefropatias graves, neoplasias malignas de cabeça e pescoço, sarcoidose, linfomas, uso prolongado de corticóides em doses imunossupressoras, quimioterapia antineoplásica, uso de imunossupressores, portadores de imagem radiológica compatível com TB inativa sem história de quimioterapia prévia. - Gestante HIV positivo contato de TB ativa ou reatora ao TT Nas orientações de quimioprofilaxia contidas no Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério de Saúde11, aparecem as mesmas indicações acima, acrescidas de: - Imunossuprimidos por uso de drogas ou por doenças imunossupressoras e contato com TB, sob criteriosa avaliação médica (independente do TT). - Infectados pelo HIV e: TT maior ou igual a 5mm, ou contato com TB bacilífera, ou TT não reator mas havendo registro de TT reator prévio sem medidas específicas a respeito ou radiografia tórax sugestiva de TB prévia não tratada (afastada a possibilidade de doença ativa). Observa-se, portanto, que não foi abordada de maneira específica, em nenhum dos dois textos, a questão do uso de agentes anti-TNF-α. Há necessidade de se diagnosticar a infecção ou a doença tuberculosa antes do início da terapêutica com os referidos agentes. PARTICULARIDADES NO RASTREAMENTO PARA TUBERCULOSE EM CANDIDATOS AO USO DE AGENTES ANTI-TNF-α Contemplaremos abaixo algumas particularidades do rastreamento da TB em candidatos ao uso de agentes antiTNF-α. O conhecimento dessas particularidades permitirá que o rastreamento seja conduzido de maneira adequada e cumpra com seu objetivo de diminuir TB doença nesses pacientes9: Doença de Base Os agentes anti-TNF-α são usados para tratamento de doenças autoimunes como artrite reumatóide, artrite reumatóide juvenil, espondilite anquilosante, doença de Crohn e psoríase. 1 Existem relatos, por exemplo, de anormalidades da função celular imune na artrite reumatóide, levando a uma diminuição na formação da resposta de hipersensibilidade cutânea tardia necessária para o teste tuberculínico.12 Isso tornaria o uso do teste inapropriado para o reconhecimento de formas latentes de TB no contexto da artrite reumatóide.12,13 Uso de imunossupressores Da mesma forma, os pacientes candidatos aos agentes anti-TNF-α geralmente estão em uso de outros 22 imunossupressores, que podem diminuir a resposta ao TT9 e em caso de TB doença, tornar a apresentação clínica atípica. REVISÃO E ANÁLISE CRÍTICA DA LITERATURA Até o presente momento, existem publicadas algumas sugestões de rastreamento e manejo de TB infecção e doença em pacientes candidatos aos anti-TNF-α9,14,15. As diretrizes da British Thoracic Society (BTS) de 2005 procuram, de maneira objetiva, orientar os clínicos em como proceder em relação ao risco de tuberculose diante de paciente candidato ao uso de drogas anti-TNF-α.9.Aborda alguns aspectos interessantes sobre o assunto: - Orienta não solicitar (desconsiderar) TT em pacientes que já estão em uso de outros imunossupressores, tendo em vista a possibilidade aumentada de um falso negativo. A avaliação de risco para TB infecção deve se basear em outros pontos da anamnese (radiografia de tórax, antecedentes, contato). - Considerar a origem do paciente, tendo em vista a maior incidência de tuberculose em pacientes negros e de outras etnias não-britânicas. A procedência de países onde a incidência de TB é maior faz pesar a favor da introdução da quimioprofilaxia. No entanto, a extrapolação completa dessas orientações para o contexto brasileiro esbarra em dois pontos: - A diretriz britânica considera que a vacinação com BCG influencia a leitura do TT em adultos. Dessa forma, um paciente com TT menor que 15mm (por exemplo de 10mm) que recebeu BCG, segundo a BTS, após descartada doença ativa, não necessitaria de quimioprofilaxia, pois consideram que seu TT foi secundário ao estímulo vacinal e não a infecção por TB. - No Brasil, diferente do Reino Unido, todos os pacientes avaliados já partem de um risco aumentado para contrair tuberculose, não havendo a possibilidade de estratificação de risco baseada em nacionalidade, como a proposto pela BTS. Sabe-se que a vacinação pelo BCG pode influenciar de maneira significativa a resposta ao TT até dois anos após a sua aplicação.10,14 Após esse período, a reatividade ao TT é decorrente de infecção (doença manifesta ou não) por micobactérias (mais provavelmente o M. tuberculosis). Inquérito realizado em crianças menores de seis anos, vacinadas e não-vacinadas com BCG, não observou diferença estatisticamente significativa na resposta ao TT.16 Dessa forma, não é possível atribuir à vacina BCG recebida na infância um resultado de TT de 10mm em paciente adulto. Existem também recomendações nacionais para avaliar o risco de TB em pacientes que irão iniciar a terapia com antiTNF13,14. Segundo esses autores, o que determina a decisão por quimioprofilaxia para TB, após afastada a possibilidade de doença, é a presença de TT maior ou igual a 5mm ou a presença de alterações sequelares na radiografia de tórax sugestivas de TB pregressa. O ponto de corte de 5mm é utilizado por extrapolação já que esse valor é utilizado em populações imunossuprimidas Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Colher história clínica completa: - Sintomas atuais - Comorbidades e uso de medicações - Antecedentes - Contato prévio com Tuberculose tratar Sim TB doença ativa? Não Avaliar quimioprofilaxia Para rastreamento, realizar: TT, radiografia de tórax. Oferecer quimioprofilaxia se: TT> 5 mm Rx tórax sugestivo de passado de TB não tratada Contato prévio Com TB Algoritmo 1: seleção de pacientes para quimioprofilaxia para tuberculose em candidatos ao uso de anti-TNF-α com o risco aumentado de desenvolver tuberculose doença.10,14 Segundo os autores nacionais, se o paciente apresenta TT inferior a 5mm e radiografia de tórax normal, está isento da necessidade de quimioprofilaxia. 14 No entanto, em concordância com recomendações americanas e inglesas, observamos que o TT pode ser falsamente negativo, seja pela própria doença que leva a alteração na resposta imunológica13, seja pela imunossupressão promovida por outras drogas associadas.9,15 Dessa forma, consideramos que itens da história clínica como o antecedente de contato prévio com tuberculose, independente do resultado do teste tuberculínico, também devem ser um determinante na indicação quimioprofilaxia nos pacientes com doenças autoimunes que receberão agentes anti-TNF-α no Brasil. Como fazer o rastreamento de infecção e doença tuberculosa em candidatos ao uso de agentes anti-TNF-α no Brasil? Diante do exposto, sugerimos então a seguinte sequência na avaliação de um paciente candidato ao uso de agentes anti-TNF-α: 1. Colher história clínica completa: sintomas, antecedentes, comorbidades, contato prévio com TB, uso de outras medicações significativas (imunossupressores, antibióticos) Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 2. Realizar TT: em busca de evidências de infecção por TB 3. Radiografia de tórax: comparar com radiografias anteriores 4. Tomografia computadorizada de tórax se a radiografia sugerir alterações no parenquima pulmonar 5. Em casos suspeitos descartar tuberculose em atividade e principalmente diagnóstico diferencial com outras infecções fúngicas. Em imunossuprimidos a positividade da baciloscopia é reduzida e o TT pode estar falsamente negativo. Assim, é necessária a realização de exames de cultura de escarro e/ou outros materiais analisados, avaliação de imagem de tórax/abdomem e busca por material histológico para o diagnóstico. Em qual paciente candidato ao uso de anti-TNF-α devese indicar quimioprofilaxia para tuberculose? No paciente assintomático, todas essas condições determinam necessidade de quimioprofilaxia: - radiografia de tórax alterada, sugestiva de seqüela de TB nunca tratada, após descartada doença ativa - TT maior que 5 mm - História de contato com tuberculose, independente do TT e exames de imagem ( radiografia e tomografia de tórax normal). O racional de tornar esses achados indicações de 23 quimioprofilaxia é que todas as três situações identificam contato prévio com tuberculose e por tanto infecção latente (considerando que foi descartada TB ativa) dentro de um contexto clínico de alto risco para desenvolvimento da doença por tuberculose. A respeito do TT, consideramos que este deve ser realizado em todos os pacientes, pois apenas seus valores negativos não devem ser valorizados considerando a imunossupressão e doença de base do paciente. Valores positivos acima de 5 mm devem ser sempre valorizados. 4. 5. 6. Quando iniciar o agente anti-TNF-α se detectada TB infecção ou doença? O tempo ideal entre a realização da quimioprofilaxia e o início do agente anti-TNF-α ainda está para ser definido.15 Alguns estudiosos recomendam o uso concomitante de quimioprofilaxia e anti-TNF-α, outros definem como mais adequado aguardar o término da quimioprofilaxia antes de iniciar a o tratamento com o anti-TNF-α.15 A diretriz da BTS recomenda que o uso concomitante da quimioprofilaxia e do agente anti-TNF-α não deve ocorrer se a indicação de quimioprofilaxia foi por conta de uma antecedente de TB não tratada, onde o risco de reativação é maior.9 No entanto, todas são recomendações de especialistas. Há a necessidade de se estudar essa situação com estudos comparativos. 7. Seguimento A droga de escolha para realização da quimioprofilaxia é a isoniazida (INH) 5mg/kg ou máximo de 300mg/dia por seis meses. O paciente deverá continuar em seguimento, tendo em vista a necessidade de monitorizar potenciais efeitos colaterais da medicação e a possibilidade de desenvolver TB doença mesmo após o uso de quimioprofilaxia, já que a proteção oferecida fica em torno de 60%.9,10 Havendo manutenção do risco de TB (ex. novo contato), a profilaxia pode ser prolongada ou reiniciada.14 13. CONCLUSÃO Com o uso crescente dos agentes anti-TNF-α, surge a necessidade de vigilância para possibilidade de desenvolvimento de TB doença. Um rastreamento realizado de maneira adequada e a instituição de quimioprofilaxia, quando indicada, levam a uma diminuição nos casos de TB doença nesse grupo de pacientes já com comorbidades clínicas significativas. 16. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 24 8. 9. 10. 11. 12. 14. 15. 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Annu Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 RESUMINDO E RECORDANDO Diagnóstico bacteriológico da Tuberculose e outras micobacterioses AUTORES: Erica Chimara1; Lucilaine Ferrazoli 2 SERVIÇO: Instituto Adolfo Lutz - Seção de Bacteriologia – Setor de Micobactérias 1 2 Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo Doutor pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo INTRODUÇÃO O gênero Mycobacterium compreende uma grande variedade de organismos, incluindo patógenos obrigatórios que causam doença em homens e animais, patógenos oportunistas e espécies saprófitas encontradas no meio ambiente. A doença no homem pode ser causada pelas espécies pertencentes ao complexo M. tuberculosis e por algumas micobactérias não tuberculosas (MNT). As micobactérias agrupadas no complexo M. tuberculosis são caracterizadas por apresentar 99,9% de similaridade em seu DNA e possuir sequências de 16S rDNA idênticas. No entanto, apesar dessa estreita relação genética, estas espécies diferem em sua epidemiologia, patogenicidade, ocorrência geográfica e preferência de hospedeiro. 1 O complexo M. tuberculosis é composto pelas espécies M. tuberculosis, principal agente da tuberculose humana, M. bovis subsp. bovis que causa tuberculose bovina, e que pode também infectar o homem e outros animais, M. bovis subsp. caprae, que causa tuberculose em caprinos, M. bovis BCG, cepa vacinal BCG, M. africanum, agente da tuberculose humana encontrado mais freqüentemente na África, M. microti que infecta roedores, “M. canetti” encontrado na região da Somália e o mais recentemente descrito M. pinnipedii, que causa tuberculose em leões marinhos e no homem.2 As MNT são diferenciadas dos membros do complexo M. tuberculosis (e M. leprae) pelo fato de não serem patógenos obrigatórios. Podem ser encontradas como saprófitas, comensais ou simbiontes. As micobactérias são habitantes normais de uma grande variedade de reservatórios que incluem a água natural e de sistemas de abastecimento, solo, aerossóis, protozoários, animais e humanos.3 Constituem um grupo muito numeroso e heterogêneo, sendo que cada vez é mais frequente a descrição de novas espécies. As MNT são conhecidas desde o tempo de Robert Koch, e somente recentemente a importância das infecções causadas por essas bactérias tem sido reconhecida.4 As características clínicas da doença pulmonar por MNT são, em muitos casos, Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 indistinguíveis da tuberculose. Uma vez que o tratamento e a epidemiologia das infecções causadas por MNT são significantemente diferentes da tuberculose causada pelas espécies do complexo M. tuberculosis, a identificação correta dos agentes causadores é imprescindível para o diagnóstico, terapia e controle da doença. O diagnóstico microbiológico da tuberculose e das doenças causadas pelas MNT exige a detecção, isolamento e identificação da espécie. Esta revisão apresenta os métodos bacteriológicos para diagnóstico das micobacterioses, mostrando sua importância e respectivas limitações. 1. Detecção A sensibilidade e especificidade dos diferentes métodos de detecção são variáveis e dependem da experiência de cada laboratório e de sua rotina de trabalho. Em geral, o exame microscópico direto das amostras clínicas (baciloscopia), apesar de ser o método menos sensível, é o mais barato e mais rápido para detecção dos pacientes sintomáticos respiratórios que procuram o serviço de saúde com tosse e expectoração há mais de três semanas.5,6 As micobactérias coram-se fracamente com a coloração de Gram, sendo que somente o método que utiliza álcool-ácido permite a coloração destes organismos. O fenol e a alta temperatura usados na coloração de Ziehl-Neelsen permitem que a fucsina penetre mais facilmente na célula. Quando contrastado com o azul de metileno, os bacilos vermelhos são destacados, facilitando a visualização microscópica. As micobactérias também são capazes de formar complexos estáveis com corantes como a auramina O. Esta é usada na microscopia de fluorescência, indicada como triagem para reduzir o tempo de leitura dos exames negativos e é indicado para laboratórios que realizam mais de 50 amostras de escarro por dia.5 A confiabilidade da leitura da baciloscopia é altamente dependente da experiência do profissional do laboratório, da qualidade da amostra e do número de organismos presentes na amostra. O número mínimo de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) necessário para 25 produzir um esfregaço com resultado positivo foi estimado entre 5000 a 10000 por mililitro.5 A sensibilidade da baciloscopia aumenta quando as amostras são concentradas.6 As boas práticas de laboratório incluem a confirmação da baciloscopia positiva por fluorocromo pelo método de Ziehl-Neelsen e liberação do resultado em até 24 horas da chegada do material ao laboratório. Vários estudos testaram a utilidade da adição do hipoclorito de sódio para liquefazer e concentrar o escarro por centrifugação para aumentar a sensibilidade da baciloscopia. No entanto, apesar do método ter mostrado aumento na proporção de esfregaços positivos, não é usado na rotina de muitos laboratórios.7 1.1 Características microscópicas A morfologia dos BAAR pode diferir de acordo com a espécie no que diz respeito ao tamanho, forma e padrão de coloração. O M. tuberculosis apresenta-se como um bacilo alongado e M. kansasii como um bacilo comprido e coloração “zebrada” (Figura 1); M. avium aparece como coco-bacilos e coloração uniforme; M. fortuitum e M. chelonae podem ser muito polimórficos. Fig. 1. Morfologia dos bacilos de M. kansasii corados por ZiehlNeelsen. Aumento 100x. (Fonte E. Chimara) 2. Isolamento Apesar dos avanços na detecção molecular das micobactérias, até o momento a cultura é indispensável, pois confirma e melhora o diagnóstico, particularmente quando métodos moleculares são utilizados; proporciona massa bacteriana para posterior identificação da espécie e teste de sensibilidade às drogas.8 O limite de detecção de bacilos na cultura é de 100 bacilos por mililitro de escarro, sendo o método padrão-ouro. O tempo de detecção é variável e dependente do método utilizado. De modo geral o isolamento em meios sólidos leva em torno de 20-30 dias e, em meios líquidos, 1015 dias.9 No Brasil, existem critérios para realização da cultura, visando a melhoria no diagnóstico, permitindo o controle da tuberculose e a vigilância de resistência às drogas. 5 A 26 realização da cultura está indicada para os casos HIV positivos, pacientes imunodeprimidos, retratamento, em pacientes indígenas ou crianças e contatos de casos com tuberculose resistente as drogas.5 O exame de cultura possui cinco etapas sendo elas: a) prétratamento das amostras, b) fluidificação-descontaminação com agentes químicos para eliminar contaminantes, c) semeadura em meio de cultura, d) incubação em temperatura adequada para o crescimento do organismo e e) leitura dos tubos, verificando a presença de colônias ou contaminação. O processamento destas amostras deve ser feito em cabine de segurança biológica e por profissionais treinados. Devem ser utilizadas medidas de controle tanto para evitar a contaminação dos profissionais como também das amostras. 2.1 Meios de cultura Os meios de cultura utilizados podem ser sólidos (Lowenstein-Jensen - LJ, Ogawa-Kudoh, Stonebrink, Middlebrook 7H10) ou líquidos (Kirchner, Middlebrook 7H9), sendo os últimos mais atrativos por oferecerem um tempo menor de detecção. Estes são mais enriquecidos e são indicados tanto para amostras respiratórias quanto para amostras paucibacilares como sangue, líquor e macerado de tecidos. Apesar da maioria das espécies crescerem em temperatura entre 35 e 37ºC, algumas espécies como M. marinum, M. ulcerans, M. chelonae e M. haemophilum crescem melhor entre 25 e 35ºC.10 A detecção do crescimento depende do tipo de meio utilizado. Com os meios sólidos a base de ovo, a detecção é feita mediante a observação macroscópica uma vez por semana. Os meios à base de ágar não são tão bons para a realização do primo-isolamento, mas são mais convenientes em locais onde seja difícil a fabricação do meio à base de ovo. Independente do tipo de meio utilizado, é importante salientar a necessidade do controle de qualidade dos meios, verificando as características do meio (coloração, consistência, viabilidade, esterilidade) e usando uma cepa padrão de M. tuberculosis. 2.2 Cultura automatizada Os sistemas que realizam a cultura automatizada têm por objetivo maximizar as taxas de positividade e minimizar o tempo de detecção.11 Os kits possuem um frasco de meio de cultura líquido com um sensor interno, que pode ser colorimétrico, fluorimétrico ou de pressão, um frasco com enriquecimento, um frasco com antibiótico e uma incubadora que monitora continuamente o crescimento bacteriano. MGIT 960 mycobacteria detection system (Becton Dickinson Instrument Systems, Sparks, MD, EUA) é um sistema que permite a incubação e monitoramento continuo de até 960 tubos, detectando a fluorescência emitida pelos sensores sensíveis à presença de oxigênio no meio. Com o crescimento da bactéria, os níveis de oxigênio diminuem, intensificando a fluorescência. Pode ser realizado o teste de Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 sensibilidade para as drogas dos esquemas preconizados pelo Ministério da Saúde (isoniazida, rifampicina, pirazinamida, etambutol e estreptomicina). Vários estudos foram conduzidos para avaliar o sistema. Rishi e cols12 compararam o MGIT 960 com a cultura em LJ, mostrando uma taxa de isolamento de 98,06% e 63,95%, respectivamente, dados concordantes com outros trabalhos citados pelos autores. Este método também pode ser utilizado como identificação presuntiva com a incorporação do ácido p-nitrobenzóico (PNB) no meio.13 Bact/Alert 3D system (bioMerieux, Durham, NC, EUA) conhecido como MB/BacT System é um sistema baseado na detecção colorimétrica de CO2, produzido pelo metabolismo das micobactérias. A mudança de cor de verde para amarelo indica uma reação positiva, e cada tubo é monitorado continuamente por computador. Também é utilizado na realização de teste de sensibilidade, porém possui diferentes tempos de leitura. VersaTREK® Mycobacteria detection and susceptibility testing (TREK Diagnostic Systems, West Laki, OH, EUA) conhecido como ESP culture system II, é um método que detecta mudanças de pressão devido ao consumo de oxigênio pelo organismo. Os tubos são automaticamente monitorados a cada 24 minutos e pode detectar micobactéria de qualquer tipo de material clínico. Também pode ser utilizado para realização de teste de sensibilidade, porém somente para isoniazida, rifampicina e etambutol. Falconi e col14 avaliaram este método, comparando-o com o meio LJ. O tempo médio de detecção foi 18,2% e 27,9% para as espécies de micobactérias, e 19,8% e 27,3% para M. tuberculosis, respectivamente. No entanto, a taxa de positividade foi de 84,8% para o sistema VersaTREK e 89,45 para o LJ. 2.3 Novos métodos MODS (microscopic observation drug susceptibility). É uma nova metodologia de cultivo utilizando meio líquido em placas de 24 orifícios, recentemente desenhada para utilização em centros de baixa renda para detecção e teste de sensibilidade. Este método é mais barato que os meios de cultura comerciais e incorpora o teste de sensibilidade a drogas na fase inicial da cultura, permitindo a rápida detecção dos isolados resistentes. O método mostrou sensibilidade superior a cultura em meio sólido (LJ) com redução no tempo de positividade15. Além disso, é um método seguro, pois envolve a inoculação do escarro na placa, sendo que depois a mesma é selada e não mais aberta até a finalização do teste.16 Arias e cols17 avaliaram o método, comparando-o com o cultivo em LJ e MGIT 960; os resultados foram obtidos em 7, 21 e 8 dias, respectivamente. Neste estudo o MODS apresentou uma sensibilidade de 97.5% e especificidade de 94.4%, apresentando uma porcentagem de contaminação menor que a cultura em LJ.17 Nitrato redutase é um método baseado na capacidade do M. tuberculosis reduzir o nitrato a nitrito, detectado por uma reação colorimétrica. Pode ser realizado diretamente da amostra Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 biológica e também pode ser utilizado para detecção de resistência a isoniazida e rifampicina.18 FastPlaque TB assay (BIOTEC, Ipswich, Suffolk, Reino Unido) é um método baseado na habilidade do M. tuberculosis suportar o crescimento de um micobacteriófago. Este teste comercial foi proposto para ser utilizado juntamente com a baciloscopia para melhorar o diagnóstico da tuberculose. Muitos estudos foram realizados para avaliar esta metodologia, comparando-a com métodos tanto convencionais como moleculares. Estes estudos mostraram que o método é um pouco mais sensível que a baciloscopia, mas a união das duas metodologias pode aumentar em 13% o diagnóstico em materiais com baciloscopia positiva.8 Recentemente, Singh e cols19 compararam o método com a baciloscopia e cultura em LJ, obtendo a sensibilidade de 76,7%, 73,3% e 60%, respectivamente. Estes dados foram obtidos tomando como padrão ouro a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). O FastPlaque não detectou micobactérias a partir de amostras paucibacilares. Os autores concluíram que, em vista de 93,3% dos casos terem sido diagnosticados com base em mais de um método, a combinação de três ou mais métodos é um nível aceitação de detecção. 3. Identificação de espécies 3.1 Testes convencionais A identificação da espécie de micobactéria isolada é fundamental para assegurar o tratamento adequado. O primeiro passo após isolamento é a separação das espécies pertencentes ao complexo M. tuberculosis das espécies de MNT. A identificação do complexo M. tuberculosis pode ser realizada com três provas fenotípicas: formação de corda, aspecto macroscópico e inibição do crescimento em meio contendo PNB. Muitos estudos avaliaram a utilidade da formação de corda como identificação presuntiva (Figura 2), uma vez que as espécies de MNT perderam esta característica (Figura 3).20 A formação de corda é um efeito causado pela maior molécula de ácido micólico, trealose 6,6-dimicolato, um componente da parede celular. Algumas espécies de MNT, como M. kansasii, M. marinum, M. terrae e M. phlei podem eventualmente apresentar a formação de corda.21 O aspecto macroscópico do cultivo das espécies do complexo M. tuberculosis pode variar, como podemos verificar entre M. tuberculosis e “M. canetti”, com colônias rugosas e lisas, respectivamente. As espécies do complexo M. tuberculosis são sensíveis ao PNB e, por isso, não crescem em meios com este ácido, enquanto as MNT apresentam crescimento. As espécies de MNT possuem diferentes padrões de sensibilidade a drogas e, por esse motivo, a identificação ao nível de espécie é clinicamente importante. Da mesma forma, é importante reconhecer que nem todos os isolados de MNT necessitam de grandes esforços para sua identificação, como no caso de espécies de crescimento lento escotocromógenas isoladas de sítios não estéreis uma única vez. O conhecimento do contexto no qual um isolado de MNT foi obtido é 27 Fig. 2. Formação de corda em cultivo de M. tuberculosis. Coloração de Ziehl-Neelsen, aumento 100x. (Fonte E. Chimara) Fig. 3. Morfologia dos bacilos de uma cultura de MNT. Coloração de Ziehl-Neelsen, aumento 100x. (Fonte E. Chimara) criticamente importante para saber se há necessidade de realizar a identificação. Por isso, a comunicação entre clínico e laboratório é imprescindível para realizar esta determinação22. A identificação convencional baseia-se nas características fenotípicas, provas bioquímicas e de inibição de crescimento por determinadas substâncias. Tradicionalmente as MNT podem ser agrupadas em quatro categorias, de acordo com a classificação de Runyon.23 Nesta classificação, as MNT são divididas pelo tempo de crescimento e produção de pigmento. Os grupos I a III são de crescimento lento e o grupo IV, de crescimento rápido (colônias visíveis em menos de 7 dias). As micobactérias de crescimento lento são divididas no grupo I – fotocromógenas (produtoras de pigmento em presença de luz), grupo II- escotocromógenas (produtoras de pigmento em ausência de luz) e grupo III- acromógenas. Esta classificação proporciona uma identificação presuntiva, clinicamente importante. Espécies com importância clínica por grupo incluem M. kansasii e M. marinum (grupo I), M. szulgai, M xenopi e M. scrofulaceum (grupo II), complexo M. avium e M. ulcerans (grupo III) e M. fortuitum, M. chelonae, M. abscessus, M. boletti e M. massiliense (grupo IV). As provas bioquímicas englobam uma série de testes para 28 observar o crescimento e utilização de diferentes substratos. As principais provas utilizadas para identificação são: crescimento em diferentes temperaturas (26, 37 e 42ºC), inibição de crescimento em meio de Sauton com ácido pícrico, inibição de crescimento em meio de ágar comum, inibição de crescimento em meio com NaCl 5%, inibição de crescimento em meio com ácido p-nitrobenzóico (PNB), inibição de crescimento em meio com hidrazida do ácido tiofeno 2carboxílico (TCH), arilsulfatase 3 e 14 dias, hidrólise do Tween 80, β-galactosidase, redução do telurito de potássio, pirazinamidase, redução do nitrato, produção de niacina e urease.5 Estes testes foram propostos por um grupo de taxonomia numérica, o International Working Group on Mycobacterial Taxonomy (IWGMT), que avaliou diferentes grupos de micobactérias e definiu as variações dentro de uma mesma espécie, propondo testes selecionados para a identificação de rotina.24,25 Nesse período, somente 20 das 54 espécies conhecidas na época eram consideradas potencialmente patogênicas e os testes recomendados eram aplicáveis a estas espécies. Atualmente, a utilização destes testes somente não permite a identificação de muitas das novas espécies descritas e, portanto, novos métodos, incluindo HPLC e métodos moleculares, devem ser usados. 3.2 Ácidos micólicos A análise da composição lipídica por vários métodos cromatográficos é reconhecidamente uma ferramenta útil na diferenciação das espécies de micobactérias. Os ácidos micólicos são ácidos graxos de alto peso molecular que formam parte da parede celular das micobactérias e sua abundância não é afetada pelas condições de cultivo. Esta produção consistente de ácidos micólicos foi considerada uma propriedade fenotípica estável das micobactérias.26 Cada espécie possui um tipo diferente de ácido micólico, que pode ser detectado pelos diversos métodos de cromatografia, como a cromatografia líquida-gasosa (GLC), de camada fina (TLC) e de alta performance (HPLC). No entanto, essa técnica necessita de grande quantidade de massa bacteriana, aumentando o tempo do teste devido à necessidade de cultivos abundantes, além de serem técnicas caras, que necessitam de pessoal capacitado para sua realização. CONCLUSÃO Os métodos bacteriológicos de diagnóstico das micobacterioses continuam sendo ferramentas imprescindíveis na detecção e identificação das micobactérias. O diagnóstico confirmatório de tuberculose e das doenças causadas pelas MNT é dado mediante a positividade da cultura e identificação da espécie. Da mesma forma, apesar dos métodos moleculares auxiliarem grandemente na agilidade dos resultados, muitos métodos necessitam de resultados fenotípicos para que possam ser liberados com segurança. Mesmo que estes métodos possam ser mais demorados e trabalhosos, eles ainda são Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 necessários, e sua completa inutilização pode levar a um diagnóstico errôneo. REFERÊNCIAS 1. Chimara E, Ferrazoli L, Leão SC. 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Este esquema considera dados clínicos e radiológicos, a história epidemiológica de contato com adultos com TB, a interpretação do resultado da prova tuberculínica de acordo com o tempo decorrido desde a vacinação e o estado nutricional (quadro 1). Desta forma, na prática, o diagnóstico é feito ambulatorialmente, com ênfase nos dados clínicos, uma vez que a TB habitualmente não é comprovada pelo encontro do bacilo em secreções.1 A coleta de suco gástrico para estudo bacteriológico requer a hospitalização do paciente e o exame tem baixa positividade e possibilidade de falso positivo devido ao achado de outras micobactérias do trato digestivo. A taxa de isolamento do M tuberculosis varia de 20 a 52%, em parte pela falta de padronização do método.2 A coleta ambulatorial de suco gástrico mostrou resultados semelhantes em um estudo isolado, mas não foi incorporada à pratica clínica.3,4 Em estudo caso controle de 54 crianças brasileiras com confirmação bacteriológica da TB, ficou demonstrado que o sistema de pontuação tem sensibilidade de 58 e 89% e especificidade de 98 e 86% quando adotados os pontos de corte ≥ 40 e ≥30 pontos respectivamente. Em outra casuística nacional, com a mesma metodologia, foi reafirmada a alta sensibilidade do sistema pontuação para diagnóstico, com a recomendação inclusive de aplicá-lo em todas as situações de suspeita de tuberculose e não apenas naqueles com resultado negativo da baciloscopia de secreção.6 Na infância, a hipótese de TB deve ser investigada nas seguintes situações: - Sintomas respiratórios de evolução lenta que não melhoram com antibióticos para germes comuns ou quando existem alterações radiológicas localizadas que também não se resolvem com este tipo de tratamento. Nestes casos, torna-se necessário afastar outras patologias, algumas delas até mais freqüentes que a TB, como as pneumonias atípicas, a tosse crônica e a asma. Quadro 1- Sistema de pontuação para diagnóstico de tuberculose pulmonar em pacientes pediátricos negativos à baciloscopia Quadro clínico-radiológico Febre ou sintomas como tosse, adinamia, emagrecimento, sudorese >2 semanas Adenomegalia hilar ou padrão miliar Contato com adulto com tuberculose Teste tuberculínico e vacinação BCG Próximo, nos últimos 2 anos Vac inação há mais de 2 an os : - < 5mm = 0 pontos Consolidação (com ou sem escavação) inalterado >2 semanas Estado nutricional Desnutrição grave ou peso abaixo do percentil 10 - 5mm a 9mm = 5 pontos Adicionar 15 pontos Consolidação (com ou sem escavação) evoluindo com piora ou sem melhora com antibióticos para germes comuns Adicionar 5 pontos Adicionar 10 pontos - 10 a 14 mm = 10 pont os - 15mm ou mais = 15 pontos Adicionar 15 pontos Assintomático ou com sintomas < 2 semanas 0 pont os Consolidação de qualquer tipo < 2semanas Vac inação há mais de 2 an os : - < 10mm = 0 pont os Adicionar 5 pontos - 10mm a 14mm = 5 pontos - 15mm ou mais = 15 pontos Infecção respiratória com melhora após uso de antibióticos para germes comuns ou sem antibiótiocos Radiografia normal Subtrair 10 pontos Ocasional ou negativo 0 pontos Não vacinados: Peso igual ou acima do - < 5mm = 0 pontos percentil 10 0 pontos - 5mm a 9mm = 5 pontos Subtrair 10 pontos - 10mm ou mais = 15 pontos Interpretação: Maior ou igual a 40 pontos: TB muito provável; 30 a 35 pontos: TB possível; igual ou inferior a 25 pontos: TB pouco provável 30 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Cabem ainda os diferenciais com a doença do refluxo gastroesofágico e mal formações pulmonares. - Contato (comunicante) de doente com TB, mesmo assintomáticos. Além de detectar os indivíduos doentes, o objetivo nestes casos é identificar a TB infecção e indicar as medidas profiláticas.7 O teste tuberculínico (TT) realizado com uma preparação padrão de proteína derivada purificada (PPD-Rt 23) indica infecção pelo M tuberculosis. No Brasil, o resultado da reação cutânea, registrado em milímetros, é classificado como não reator (0 a 4 mm: indivíduo não infectado ou anérgico), reator fraco (5 mm a 9 mm: vacinado com BCG ou infectado pelo M tubercculosis ou outras micobactérias) e reator forte (10 mm ou mais: infectado pelo M tuberculosis que pode estar ou não doente e indivíduos vacinados com BCG). Se a TB ativa for excluída, há indicação de quimioprofilaxia com isoniazida (10 mg/kg/dia por 6 meses) nos contatos de TB quando o TT for ≥10mm em crianças não vacinadas ou vacinadas há mais de 2 anos com BCG e ≥15mm em crianças vacinadas há menos de 2 anos. 1 Dados mais recentes sugerem que o ponto de corte de 10mm parece ser mais adequado, mesmo em crianças vacinadas, especialmente quando a vacinação ocorre no período neonatal.8,9,10 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Infecções Bacterianas atípicas Em pré-escolares e escolares, alguns patógenos como o Mycoplasma pneumoniae e a Chlamydia pneumoniae podem causar infecções pulmonares ditas atípicas, com evolução insidiosa e pobre resposta aos antimicrobianos habitualmente utilizados nesta faixa etária que são as penicilinas e as cefalosporinas.11 Estes casos costumam cursar com predomínio de sintomas constitucionais como cefaléia, mal estar, tosse seca que se torna evolutivamente produtiva e febre baixa. Sinais de faringite, laringite e sibilância também são frequentes. Os achados radiológicos são muito variáveis, desde um pequeno infiltrado inflamatório para hilar até extensas opacidades alveolares e comprometimento intersticial. O derrame pleural pode acontecer em até 25% dos casos. O diagnóstico laboratorial pode ser feito demonstrando-se a elevação de 4 vezes nos títulos de anticorpos após 4 a 6 semanas do evento agudo.12 Estes resultados muitas vezes não são úteis para a tomada de decisão terapêutica e recomenda-se o início de eritromicina (30 a 50mg/kg/dia) ou claritromicina (15mg/kg/dia) por 10 a 14 dias.13 O Mycoplasma é um importante desencadeante de exacerbações em asmáticos. Estudos demonstram evidência de infecção aguda através de sorologia em até 18% das hospitalizações por exacerbações, tanto em adultos quanto em crianças. As infecções de vias aéreas inferiores pelo Mycoplasma ainda cursam com declínio mais acentuado da função pulmonar e alterações radiológicas podem persistir por vários anos após o evento agudo, sugerindo um Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 substrato anatômico para perda funcional.14 Em pacientes com doenças respiratórias crônicas, a Chlamydia pneumoniae pode infectar o tecido pulmonar e contribuir para o mecanismo patológico.15 A pesquisa de Chlamydia através de PCR ou cultura de lavado broncoalveolar indica que a positividade é maior quando há uma doença inflamatória de base como a asma.16 Especulase que os corticosteróides orais ou inalatórios interferem com habilidade do indivíduo em erradicar patógenos intracelulares e permitem que a infecção latente passe a um fenômeno ativo, com liberação de citocinas pró-inflamatórias, amplificando a inflamação já existente nas vias aéreas do indivíduo asmático.17 A terapêutica com claritromicina melhora a função pulmonar de doentes com PCR positivo para Chlamydia ou Mycoplasma.14 A Chlamydia pneumoniae é mais freqüente em crianças maiores de 10 anos e a Chlamydia trachomatis, em lactentes. Dentre os recém nascidos infectados por C trachomatis, 15–25% desenvolvem sintomas clínicos clássicos como a conjuntivite, nasofaringite e pneumonite. Alguns autores sugerem que a sibilância também é um sintoma relacionado a essa infecção e que estaria indicado o tratamento nos casos em que a atopia não é demonstrada ou não há boa resposta ao tratamento convencional para asma.18 Pensando nestas situações clínicas como diagnósticos diferenciais de TB, se faz necessária a prova terapêutica com macrolídeo e até um controle radiológico, antes de se iniciar a investigação específica com teste tuberculínico e até a pesquisa do bacilo em secreções. Tosse crônica A tosse é bastante freqüente na infância e estima-se que uma criança saudável apresente-se com tosse aproximadamente durante 50 dias no período de 1 ano, relacionados principalmente às infecções de vias aéreas superiores. Valorizar a tosse como um sintoma e caracterizála como crônica requer uma anamnese detalhada para uma melhor orientação quanto à investigação da sua etiologia. A tosse como um fenômeno inespecífico está presente em 10% das crianças que vivem em aglomerados urbanos poluídos ou locais com clima seco. Naquelas que se apresentam com tosse crônica, cerca de 50% convivem com fumantes no domicílio, sendo este o motivo do aparecimento do sintomas. Os consensos sobre manejo de tosse crônica na infância recomendam a realização de uma radiografia de tórax como uma estratégia para identificar os casos de tosse específicos, nos quais cabe o diagnóstico de tuberculose. A radiografia normal orienta o diagnóstico para a tríade clássica da etiologia da tosse crônica: rinossinusite, asma e RGE. Ao passo que a radiografia de tórax alterada aponta para investigação de aspiração de corpo estranho, malácias, anomalias congênitas e tuberculose.19 Marais e cols, ao estudarem de forma sistemática os casos de tosse crônica em uma população com alta prevalência de tuberculose, distinguiram padrões distintos de apresentação 31 do sintoma e sua relação com o diagnóstico estabelecido posteriormente. A tosse aguda com demora na recuperação, que inicia de forma abrupta, muito intensa e que diminui de intensidade gradativa e lentamente num período de 4 semanas até seu desaparecimento. Este padrão de tosse está muito relacionado aos processos infecciosos, especialmente os virais. A tosse aguda recorrente é aquela que tem duração curta, de até 10 dias, mas que reaparece após curtos intervalos de tempo. Este padrão está classicamente presente nos asmáticos. A tosse persistente é aquela que não remite, e ao contrário, tende a aumentar de intensidade com o passar do tempo. Ao término da investigação de 151 crianças com tosse há mais de 2 semanas que não melhorou com amoxicilina, concluíram que a tosse persistente só estava presente nos casos de tuberculose.20 Este mesmo grupo apresentou a seguir dados de uma casuística de 1024 crianças com investigação sistemática da tosse com as mesmas características e concluiu que a presença do sintoma persistente por mais de 2 semanas, associado à dificuldade de ganho de peso e fadiga, tem sensibilidade de 62,6%, especificidade de 89,8% e valor preditivo positivo de 83,6% no diagnóstico de tuberculose numa comunidade com alta prevalência da doença. Ressaltase dessa forma a importância do dado clínico no diagnóstico e a necessidade de se validar essas conclusões em grupos de maior risco como soropositivos para HIV, desnutridos e lactentes.21,22 Asma Na avaliação de lactentes e pré-escolares com sintomas respiratórios crônicos e/ou de repetição há uma maior dificuldade em estabelecer o diagnóstico. A tuberculose pode ser confundida com as de manifestações gerais de doenças crônicas e a sua evolução costuma ser mais aguda, lembrando uma pneumonia que não melhora com a terapêutica habitual. Aproximadamente 17% dos pacientes com tuberculose são admitidos em hospital com crise de sibilância e recebem o diagnóstico de exacerbação de asma.23 Por outro lado, nesta faixa etária os quadros de sibilância costumam complicar com processos infecciosos e podem comprometer o ganho ponderal. Mesmo em países desenvolvidos, em grupos atendidos por especialistas, com prescrição adequada e disponibilidade de medicamentos para controle da asma, pacientes menores de 3 anos são os que apresentam, com maior freqüência, sinais de descontrole da doença.24 Entretanto, quando a criança não responde a um tratamento que é eficaz na maioria dos pacientes com mesma condição, o caso deve ser revisto, para nos asseguramos não somente de que os desencadeantes relevantes estão sendo evitados e a adesão ao tratamento é satisfatória, mas de que o diagnóstico está correto.25 Em nosso meio há a descrição de um pré-escolar com sibilância persistente causada pela tuberculose e inicialmente tratada como asma. Quando a história clínica da sibilância persistente difere daquela usual para asma e especialmente quando associada 32 a pneumonias de repetição, outras doenças devem ser investigadas, entre elas a tuberculose, até mesmo antes de iniciar o tratamento profilático para asma.26 CONCLUSÃO As crianças com TB habitualmente não transmitem a doença e do ponto de vista de saúde pública não costumam ser consideradas como prioridade para programas de intervenção. A dificuldade no diagnóstico e na compreensão da TB primária contribui para que esta faixa etária seja negligenciada até mesmo nas pesquisas sobre a doença. Controlar hoje a TB na infância trará benefícios para esta geração e para os futuros adultos. É preciso dedicar mais tempo e recursos para este desafio.27 REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde. FUNASA. Tuberculose: guia de vigilância epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde; 2002. 2. Corrigan DL, Paton JY. Tuberculosis in children. Breath. 2007; 3(4): 351-63. 3. 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Isso pode ocorrer durante a primoinfecção ou a qualquer momento da vida devido ao desequilíbrio entre a imunidade do hospedeiro e o bacilo. Os sítios principais de implantação extrapulmonar são aqueles com maior suprimento sanguíneo e, portanto, de oxigênio.1 As formas extrapulmonares apresentam evolução lenta e geralmente são pobres em bacilos, o que torna o diagnóstico imediato e conclusivo bastante difícil. Geralmente obter material para cultura necessita procedimentos invasivos e o índice de cultura negativa é maior que nas formas pulmonares de doença. Na maioria das vezes, o tratamento depende de critérios diagnósticos de probabilidade e os especialistas das respectivas áreas devem participar do diagnóstico e tratamento. A concomitância com a TB pulmonar ativa é rara e a apresentação clínica dependerá do órgão ou sistema acometido. No ambulatório de TB da Clínica de Pneumologia da Santa Casa de São Paulo, de 718 doentes que receberam alta entre 1996 e 2003, 36,9% possuíam alguma forma extrapulmonar da doença.2 Há estudos que sugerem possível fator genético envolvido na disseminação extrapulmonar da TB. Comparação entre doentes curados por TB extrapulmonar e por TB pulmonar demonstrou uma expressão alterada dos genes para TNF-alfa, catepsina W e TNFRSF7 (TNF-receptor superfamily member 7), que podem ser fatores de risco para a disseminação extrapulmonar da doença.3 Outro estudo aponta que adultos com anti-HIV negativo e TB extrapulmonar possuem menos linfócitos CD4+ em comparação aos doentes por TB pulmonar ou infecção latente. Isso sugere que pode existir uma anormalidade inata na função imune que poderia identificar as pessoas em risco para manifestações graves da TB.4 2-TUBERCULOSE LINFONODAL (OU GANGLIONAR) É a segunda forma mais comum de TB extrapulmonar (TB/ EP) em pacientes HIV-negativos e a primeira em HIV-positivos.5 34 Ocorre mais comumente entre os 20 e 40 anos e no sexo feminino.1 No ambulatório de TB da Clínica de Pneumologia da Santa Casa de São Paulo, a TB linfonodal corresponde a 20,7% das formas de TB/EP. Os sintomas variam de acordo com o território ganglionar acometido, sendo a mais comum a região cervical direita1 (Figura 1). Nos doentes HIV-negativos, a evolução costuma ser crônica, com febre baixa, emagrecimento e astenia. Há aumento progressivo do volume ganglionar, o qual, de início, é indolor e duro1; com a evolução os linfonodos se tornam macios, podem fistulizar e drenar material seroso ou purulento. 5 A baciloscopia do aspirado do gânglio tem Fig.1:Tuberculose linfonodal acometendo região cervical direita em paciente HIV positivo Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 sensibilidade entre 10 e 25%, elevando-se até 70% quando se realiza a biópsia. Cultura do aspirado tem sensibilidade entre 50 e 80%, com maior rendimento após biópsia (55 a 90%).1 O diagnóstico diferencial deve ser feito com a paracoccidiodomicose, sífilis e doenças linfoproliferativas. A co-infecção com o HIV deve ser sempre investigada.5 3-TUBERCULOSE OCULAR A TB ocular não é um evento comum e pode comprometer qualquer estrutura do olho, sendo a úvea a mais acometida.5 Isso ocorre por disseminação hematogênica, por extensão local de processo infeccioso da vizinhança ou até mesmo secundariamente a reações de hipersensibilidade tipo IV a constituintes do MTb. A apresentação ocular ocorre em 1 a 2% dos casos de TB sistêmica e é mais frequente na raça negra, no sexo masculino, nas crianças e nos idosos, em situações de baixo nível socioeconômico e em algumas doenças sistêmicas como o diabetes mellitus, tumores, alcoolismo, AIDS e silicose.6 A forma aguda da TB ocular se apresenta como uma conjuntivite flictenular dolorosa. A forma subaguda pode acometer qualquer parte do olho, sendo mais freqüente no trato uveal (íris, corpo, ciliar e coróide), e tem como lesão mais comum a uveíte anterior (irite ou iridociclite). A fundoscopia mostra aspecto granulomatoso e o teste tuberculínico é geralmente positivo. Os sintomas locais principais são o déficit na acuidade visual, fotofobia e dor. 5 As principais complicações são aumento da pressão intraocular, descolamento de retina, edema macular, hemorragia vítrea e catarata.7 O diagnóstico da TB ocular, na maioria das vezes, é presuntivo e de exclusão; deve-se levar em consideração o exame oftalmológico e o PPD forte reator. É muito difícil diferenciar se a lesão ocular é causada por hipersensibilidade ou pela presença do bacilo. O diagnóstico diferencial deve ser realizado com toxoplasmose, sífilis, brucelose, toxocaríase e sarcoidose. Em nosso serviço, entre 858 doentes tratados por TB entre 1996 e 2004, 6,4% apresentaram a forma ocular, sendo que nenhum possuía doença pulmonar concomitante ou sorologia anti-HIV positiva. A média do PPD foi de 22,2 mm nesses doentes.8 4- TUBERCULOSE CUTÂNEA As lesões cutâneas pela TB podem decorrer da inoculação da pele pelo bacilo (TB cutânea propriamente dita) ou podem ser conseqüência de processo de hipersensibilidade a foco tuberculoso ativo, localizado em outra parte do organismo tuberculides facultativas.9 Entre as formas de inoculação, o cancro tuberculoso, o escrofuloderma, o lúpus vulgar, a TB verrucosa e a TB gomosa são as formas mais conhecidas. 4.1 Cancro tuberculoso. O cancro tuberculoso é uma forma rara de doença e referese à TBC primária de pele. Há inoculação do bacilo em feridas Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 ou abrasões - que funcionam como porta de entrada -, ou até mesmo por lesões orais (ulcerações pouco dolorosas) oriundas de bacilos bovinos do leite. As lesões inicialmente são em forma de pápula ou nódulo que evoluem para ulcerações; há linfadenopatia regional que pode fistulizar (abscesso frio). Raramente evolui para disseminação hematogênica e o PPD, inicialmente negativo, positiva-se ao longo da evolução. 4.2 Escrofuloderma O escrofuloderma (TB coliquativa) decorre geralmente da propagação do bacilo por focos subjacentes à pele (linfonodos, ossos e articulações),10 e ocorrem mais frequentemente nas regiões submandibular, cervical e supraclavicular. Inicialmente formam-se nódulos subcutâneos eritematosos que fistulizam e ulceram,5 liberando material purulento (Figura 2). O diagnóstico pode ser confirmado pela cultura e histologia das lesões. O diagnóstico diferencial é feito principalmente com paracoccidioidomicose e actinomicose.9 Fig. 2:Escrofuloderma, representado pela pele adjacente ao linfonodo com aspecto inflamatório 4.3 Lupus vulgar O lúpus vulgar acomete geralmente a face, podendo haver invasão da mucosa oral, nasal e conjuntival. A lesão inicial é uma mácula ou pápula, com consistência mole, que pode Fig. 3: Lúpus vulgar 35 coalescer e resultar em placas infiltradas com atrofia central e ulcerações (Figura 3). O diagnóstico é feito pela clínica, histopatologia, positividade das culturas e pode-se utilizar também o PCR. 4.4 Tuberculose gomosa A TB gomosa se refere à disseminação hematogênica do MTb em situações de imunodeficiência, levando a surgimento de nódulos subcutâneos amolecidos que podem fistulizar-se (Figura 4). Fig. 4: Nódulos subcutâneos amolecidos compatíveis com tuberculose gomosa 5- TUBERCULOSE ÓSSEA Ocorre mais em crianças e em idosos, sendo menos comum no adulto jovem. O comprometimento ósseo na TB é uma osteomielite determinada pelo processo inflamatório de resposta à presença do bacilo. A artrite ocorre por extensão deste processo para a articulação ou por contaminação direta por via hematogênica. Apesar de possível comprometimento simultâneo de vários locais, a TB óssea caracteristicamente é localizada e acomete mais frequentemente a coluna vertebral, as articulações do quadril e joelho e as epífises dos ossos longos. A TB de coluna é responsável por 25 - 60% de todos os casos de TB óssea.5 5.1 Espondilite tuberculosa ou Mal de Pott Acomete mais frequentemente indivíduos na quarta e quinta década. O quadro clínico característico é a tríade dor lombar, dor à palpação e sudorese noturna.5 A dor é de instalação lenta e progressiva quanto à sua intensidade. Sintomas constitucionais são incomuns. As vértebras dorsais baixas e lombares altas são as de localização preferencial; a região cervical e o sacro são as áreas menos afetadas. Paraplegia é a principal complicação da espondilite por TB. Como a lesão compromete inicialmente a porção anterior do corpo vertebral, há destruição óssea com formação de cifose, característica do mal de Pott (Figura 6). O caseo produzido invade os espaços ligamentares e forma-se um abscesso paravertebral. Este abscesso, quando atinge a epífise, resulta em aumento da pressão dentro do osso levando à protrusão da cortical ou da cápsula articular. 1,5 4.5 Tuberculose verrucosa A TB verrucosa decorre de um foco contíguo ou devido à inoculação do bacilo pela pele, levando à formação de pápulas que evoluem para placas verrucosas de crescimento excêntrico. O diagnóstico diferencial se faz com leishmaniose, esporotricose, cromomicose e paracoccidiodomicose. 4.6 Tuberculides facultativas As tuberculides são manifestações de hipersensibilidade à distância por foco de TB e as lesões são abacilares ou paucibacilares. Apresentam uma diversidade de apresentação clínica sendo as mais conhecidas o eritema nodoso e o eritema indurado de Bazin (vasculite nodular), que é constituído por nódulos inflamatórios preferencialmente na parte posterior das pernas com tendência à ulceração5 (Figura 5). Fig. 6: Mal de Pott, caracterizado por erosão dos bordos anteriores do corpo vertebral com diminuição do espaço intervertebral Fig. 5: Eritema nodoso associado a paniculite por tuberculose 36 A radiografia de coluna pode revelar sinais de necrose e seqüestração óssea com osteoesclerose ao redor da necrose e/ou imagens císticas metafisárias. O exame de maior acurácia na suspeita de espondilite é a ressonância magnética. A abordagem cirúrgica com biópsia deve ser o procedimento de escolha para o diagnóstico, mesmo nos casos de abscesso paravertebral que possa ser abordado por punção. O diagnóstico definitivo é estabelecido através da cultura ou da evidência histológica de granuloma no material obtido. Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Espondilite piogênica, brucelose, doença fúngica, além dos processos neoplásicos, devem ser lembrados como diagnósticos diferenciais da espondilite por TB. 5.2 Artrite tuberculosa Acomete mais as articulações coxofemorais e o joelho. Ocorre uma monoartrite crônica e de evolução lenta. O quadro se inicia com pequena dor articular que piora à movimentação, à palpação e no período vespertino. Febre é incomum. A radiografia mostra distensão da cápsula pelo derrame local. Posteriormente observa-se atrofia óssea com espessamento do padrão trabecular e estreitamento do córtex. A presença de BAAR positivo, cultura positiva no liquido sinovial, em secreções de fistulas ou em material de biópsia fecha o diagnóstico. Nenhum marcador parece ser útil para o diagnóstico da TB articular.1,5 O diagnóstico diferencial deve ser feito com artrites bacterianas, fungos e doença de Lyme. 6- TUBERCULOSE URINÁRIA A TB renal é a terceira forma mais freqüente de doença extrapulmonar, acometendo indivíduos na quinta década. Apresenta evolução lenta e possui como sintomas mais prevalentes disúria, polaciúria e dor lombar (pela distensão da cápsula renal). Sintomas constitucionais como emagrecimento, astenia, febre, sudorese noturna são pouco freqüentes.1,5 A TB renal apresenta um dos maiores períodos de latência entre a primoinfecção e as manifestações clínicas, podendo chegar a 20 anos.1 O bacilo alcança o sistema urinário e implanta-se e multiplica-se no córtex renal. A disseminação segue pelas pirâmides até atingir o sistema coletor comprometendo cálice, pelve, ureteres e bexiga. Permanece desconhecida a razão pela qual o desenvolvimento da TB renal geralmente ocorre em apenas um lado, tendo em vista o comprometimento bilateral inicial. A urografia excretora está alterada em 90% dos casos, devendo ser solicitada na suspeita de TB renal.5 Cavidades parenquimatosas, dilatação do sistema pielocalicial, calcificações no parênquima renal, diminuição da capacidade vesical e estenoses múltiplas dos ureteres são freqüentes. A ultra-sonografia renal revela com mais detalhes a textura do parênquima renal, suas delimitações e a presença de microcalcificações. A cistoscopia é importante para se afastar comprometimento vesical e evidencia edema, hiperemia difusa, ulcerações irregulares e ou infiltrações; é obrigatória em casos de hematúria macroscópica. A biópsia deve ser indicada e os fragmentos encaminhados para cultura e anatomopatológico.5 O exame de sedimento urinário revela hematúria e/ou leucocitúria, sem bacteriúria. Hematúria isolada pode ocorrer em 10 -15% dos casos, mas este achado isolado é inespecífico.1,5 A cultura de urina no meio de Lowenstein-Jensen é o teste mais importante para o diagnóstico e deve-se cultivar o volume total da primeira urina da manhã (maior concentração bacilar) e não a urina de 24 horas. Um mínimo de cinco amostras, em dias consecutivos, deve ser solicitado na investigação.5,11 A Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 detecção de ADA na urina é de pouco auxílio e os testes de amplificação de ácido nucléico ainda estão não estão padronizados nem validados.11,17 7- TUBERCULOSE DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Embora rara, é a forma mais grave de apresentação da TB/ EP e a principal causa de meningite crônica em nosso país. A meningoencefalite e o tuberculoma intracraniano são as formas de apresentação mais importantes. Representa 1% de todos os casos de TB e 6% de todas as infecções extrapulmonares em indivíduos imunocompetentes.18 Quando ocorrem disseminação e implante no SNC durante a primo-infecção, na maioria das vezes isso é assintomático; a imunidade específica competente bloqueia a multiplicação bacilar e há a formação do granuloma, que contém bacilos viáveis e latentes por toda a vida do indivíduo. Caso a imunidade celular específica não se desenvolva adequadamente, os bacilos podem se multiplicar e iniciar a doença com comprometimento meníngeo e, posteriormente, cerebral. As manifestações clínicas dependerão da intensidade da inflamação e do local acometido: edema, fibrose, trombose vascular com infartos, hidrocefalia, hipertensão intracraniana. A menigite é a forma clínica mais comum, mas tuberculoma intracraniano e aracnoidite tuberculosa também podem ocorrer (Figura 7). São mais encontradas em crianças e adultos jovens em países com alta incidência de TB. Fig. 7: Ressonância magnética demonstrando comprometimento do cerebelo em quadro de tuberculose disseminada. Os sintomas se instalam de maneira lenta (duas semanas): febre, anorexia, adinamia, cefaléia, vômitos, confusão mental, alterações do estado mental (geralmente sonolência), convulsões, alterações visuais e da fala. Ao exame físico observam-se sinais de irritação meníngea, comprometimento de pares cranianos (II, III, IV, VI e VIII), alterações do equilíbrio, 37 sinais de hipertensão intracraniana e até decorticação e descerebração. Ao exame de fundo de olho há edema de papila e/ou a presença de tubérculos coróides na retina (presente em até 80% dos casos). O exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) é fundamental para o diagnóstico. Não há achados patognomônicos nos exames de imagem. A tomografia computadorizada do crânio mostra a presença e extensão da aracnoidite basilar, edema cerebral, infartos e a presença e evolução da hidrocefalia. O diagnóstico se baseia na análise do líquido cefaloraquidiano (LCR) que mostra proteínas elevadas (100-500 mg/dl), glicose baixa (< 45 mg/dl) e 100-500 células/microL, com predomínio linfocitário. A cultura do LCR, apesar de importante, não deve retardar a instituição do tratamento. O PCR é o método mais rápido para a detecção do bacilo com sensibilidade de 56% e especificidade de 98%.19 O tratamento se faz com as drogas de primeira linha associadas aos glicocorticóides, estes recomendados por diminuir mortalidade e diminuir as seqüelas neurológicas.20 Sem o tratamento, a morte pode ocorrer em 5-8 semanas. 8- TUBERCULOSE PERICÁRDICA O principal sintoma é a dor torácica, precedida (dias ou meses) por febre vespertina, sudorese noturna e fadiga. Geralmente não é concomitante à TB pulmonar e pode associar-se à forma pleural. A presença de taquicardia, hipotensão arterial, pulso paradoxal, engurgitamento de veias jugulares, ictus cardíaco impalpável e hipofonese de bulhas sugerem tamponamento cardíaco, mas nem sempre estes sinais estão presentes por ser doença de evolução subaguda. Atrito pericárdico e insuficiência cardíaca direita (hepatomegalia, ascite e edema de membros inferiores) podem ocorrer. Na fase inicial o diagnóstico diferencial com a pericardite viral aguda é obrigatório. Leucocitose, aumento da área cardíaca a radiografia de tórax, baixa voltagem do complexo QRS (ECG), teste Fig. 8: Radiografia torácica e ecocardiograma demonstrando derrame pericárdico em doença tuberculosa 38 tuberculínico reator forte e derrame pericárdico ao ecocardiograma são freqüentemente encontrados (Figura 8). A punção pericárdica com análise citológica, bioquímica, pesquisa de BAAR e cultura do material têm baixo rendimento; deve-se realizar a biópsia de pericárdio. Se não tratada, pode evoluir para a pericardite constritiva com síndrome de restrição diastólica. A pericardiocentese percutânea de urgência deve ser realizada em caso de tamponamento cardíaco com choque e risco de vida iminente, mesmo na ausência de confirmação ecocardiográfica. 9- TUBERCULOSE INTESTINAL E PERITONEAL É incomum e ocorre mais frequentemente na região ileocecal ou jejunoileal, podendo levar à formação de aderências, massas ou mesmo estenose da luz. A doença pode se apresentar com quadro de diarréia intensa ou de suboclusão intestinal. Muitas vezes é acompanhada de TBC pulmonar. Em algumas situações o doente comparece devido às complicações tais como perfuração, hemorragia ou fistulização. US e TC de abdômen, além do enema opaco e colonoscopia, são úteis para o diagnóstico (Figura 9). O diferencial deve ser realizado principalmente com tumores e Doença de Chron; por isso é fundamental o encaminhamento do material ressecado ou biopsiado para cultura de micobactérias. A TB peritoneal normalmente ocorre concomitantemente à forma intestinal. Pode fazer parte do quadro de polisserosite, que hoje em dia é mais rara. Ascite é comum, acompanhada Fig. 9: Colonoscopia demonstrando ulcerações em mucosa em tuberculose intestinal Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 pelos sintomas gerais próprios da TB e de doença pulmonar. Punção do líquido ascítico revela exsudato linfocítico e, embora a avaliação da ADA ainda não esteja validada, valores acima de 40 U/L são muito sugestivos. O diagnóstico definitivo ocorre através de biópsia do peritônio, geralmente por via laparoscópica. 10- TUBERCULOSE GENITAL TB genital ocorre quase sempre secundária a um foco pulmonar ou extrapulmonar, como abdominal. O diagnóstico bacteriológico é difícil por ser uma doença paucibacilar.21 10.1 Trato Genital Feminino A TB do trato genital feminino é uma importante causa de disfunção menstrual (oligomenorréia e amenorréia) e infertilidade. A infertilidade secundária a TB genital é 10 - 15 vezes mais comum em países em desenvolvimento.21 As trompas de Fallopio são afetadas em 94% das mulheres com TB genital, geralmente com envolvimento bilateral, por via hematogênica. A disseminação da salpingite pode causar peritonite, endometriose e raramente cervicite e vaginite. Podese apresentar com múltiplas estenoses ou obstrução da trompa de Fallópio e calcificação de linfonodos da região anexial. É recomendada a realização da histerossalpingografia para identificação das lesões.22 O endométrio é o segundo local acometido (50-80%) das mulheres com TB genital. Inicialmente as lesões endometriais não são macroscopicamente visíveis, mas caseificação e ulceração ocorrem com a progressão da doença. Nos casos avançados ocorre adesão endometrial com deformidade e obstrução da cavidade uterina. A destruição total do endométrio leva a amenorréia secundária (Síndrome de Asherman) e infertilidade, geralmente irreversíveis.23 A TB mamária é uma doença rara mesmo em países onde a TB ainda é prevalente como África e Índia,21 e apesar do aumento dos casos de SIDA. Poucos relatos foram descritos até hoje talvez devido ao difícil diagnóstico, já que se apresentam clinicamente semelhantes aos carcinomas e abscessos piogênicos.23 O tecido mamário é considerado resistente à multiplicação do bacilo, sendo que a lactação favorece a infecção por aumento da vascularização.22 Acomete preferencialmente mulheres jovens com envolvimento unilateral das mamas. O diagnóstico é feito por análise microbiológica por pesquisa direta (bacterioscopia) e cultura do material ou análise histopatológica.22 A infecção pode ocorrer de forma primária (quando o bacilo penetra diretamente na mama através das aberturas dos ductos mamários ou de abrasões) ou de forma secundária por via hematogênica, linfática ou contigüidade. A mastite pode se manifestar através da formação de nódulos ou massas delimitadas, de crescimento lento, com envolvimento da pele e ulceração, cujo diferencial se faz com fibroadenoma ou carcinoma. Outra apresentação clínica seria a mastite confluente ou disseminada, com múltiplos focos caseificados, formação de fístulas e envolvimento linfonodal axilar.21 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Mulheres jovens podem apresentar a forma de abscesso mamário. 10.2 Trato Genital Masculino O envolvimento da próstata e vesículas seminais é geralmente secundário a uma infecção do trato geniturinário superior e pode se manifestar com necrose, calcificação, caseificação e cavitação.22 A epididimite é a causa mais comum de TB de epidídimo, cuja disseminação ocorre via hematogênica ou por contigüidade com a próstata e vesículas seminais. A infecção se espalha para o testículo ipsilateral, principalmente se o tratamento não for instituído rapidamente. As lesões caracterizam-se por nódulos necróticos, geralmente com calcificações. A orquituberculose é considerada a extensão da epididimotuberculose.22 O diagnóstico diferencial se faz com tumor, infecção bacteriana e sarcoidose.24 As lesões da TB de bolsa escrotal geralmente são semelhantes ao tumor testicular e infarto; podem mimetizar torção testicular, com dor e edema.24 A TB do trato genital masculino responde bem ao tratamento, porém a cirurgia será necessária nos casos graves de epidídimo-orquituberculose.24 11- CONCLUSÕES A TB extrapulmonar geralmente é de difícil diagnóstico e na maioria das vezes o tratamento depende de critérios diagnósticos de probabilidade. Estudos ainda são necessários para se determinar os fatores envolvidos na disseminação extrapulmonar da TB, embora resultados preliminares apontem alguma expressão genética alterada ou anormalidade imune para manifestações graves da TB. Manter alto nível de suspeição, realizar radiografia torácica, PPD e avaliação do estado imunológico são fundamentais para o diagnóstico. Biópsia e cultura devem ser realizadas sempre que possível para se confirmar o diagnóstico ou a presença de micobactéria não tuberculosa. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Melo FAF; Afiune JB; Hijjar MA; Gomes M; Rodrigues DSS; Klautau GB; Tuberculose extrapulmonar. In Veronesi R, Focaccia R. Tratado de Infectologia; 3ª edição; São Paulo; Atheneu 2005. Cap.70; Vol.02; 1184-90. Gomes M, Oliveira MG, Stirbulov R. Pulmonary Tuberculosis. Characteristics in Diabetics and Not-diabetics Patients. Am. J. Respir. Crit. Care Med 2007; 175: A414. Kim DK, Hwang Yong Il, Kim Hji, Han Sk, Shim Y,Yim J. Microarray analysis of gene expression associated with extrapulmonary dissemination of tuberculosis. Respirology 2006; 11(5):557-65. Antas PRZ, Ding L, Hackman JRN, Reeves-Hammock LRN, Shintani AK, Schiffer J, Holland SM, Sterling T. Decreased CD4+ lymphocytes and innate immune responses in adults with previous extrapulmonary tuberculosis. Journal of Allergy & Clinical Immunology 2006; 117(4):916-23. 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A maioria das espécies raramente produz doença no homem e a prevalência dessas infecções não é conhecida. A principal via da infecção é a inalatória. Todas as micobactérias são ao exame direto à coloração de Ziehl-Neelsen, bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR), não sendo possível a identificação apenas por este método. A identificação da espécie é feita pela cultura de secreções ou tecidos. A infecção organismos do complexo M. avium ocorre por via inalatória e digestiva e a doença pulmonar apresenta-se principalmente sob duas formas clínicas: a clássica patologia cavitária associada à doença pulmonar preexistente e a forma não clássica ou de bronquiectasias difusas ou Síndrome de Lady Windermere. RELATO DO CASO Paciente do sexo feminino, 43 anos, encaminhada ao ambulatório com tosse crônica de fraca intensidade há mais de seis meses, acompanhada de expectoração escassa, sem outros sintomas. Ex - tabagista 12 maços/ano, sem fumar há 16 anos. O exame físico era normal. À radiografia de tórax apresentava opacidades intersticiais pulmonares bilaterais com predomínio nos terços inferiores. Realizada tomografia computadorizada de tórax que evidenciou bronquiectasias, nódulos e aspecto de “árvore em brotamento” (Figuras 1,2,3). A prova tuberculínica com PPD foi positiva (17 mm). As coletas de escarro requisitadas foram realizadas com pesquisa e cultura para BAAR (três amostras), colhidas com intervalos entre duas a quatro semanas. Foi realizada também broncoscopia quando foi observada hiperemia por toda mucosa brônquica, com moderada quantidade de secreção. As pesquisas de BAAR nas três amostras de escarro foram positivas e, nas culturas de escarro e do lavado broncoalveolar, foi identificado M. 42 avium. O diagnóstico de Síndrome de Lady Windermere ou doença pulmonar por M. avium, apresentação não clássica, de bronquiectasias difusas foi estabelecido. A paciente iniciou tratamento preconizado pela American Thoracic Society (ATS) por 13 meses com boa evolução e cura bacteriológica. DISCUSSÃO Infecção pulmonar não clássica ou bronquiectasias difusas ou Síndrome de Lady Windermere A doença geralmente ocorre em mulheres em cerca de 81% dos casos. A idade média é de 66 anos e não há patologias Fig 1. TC de tórax: nódulos em pulmão esquerdo Fig 2. TC de tórax: bronquiectasias à esquerda Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Fig 3. TC de tórax: pequenos nódulos e aspecto de “àrvore em brotamento” à esquerda predisponentes. Quando acomete mulheres jovens há uma associação com o prolapso de válvula mitral e o pectus excavatum1,2. O quadro clínico caracteriza-se por tosse crônica produtiva com ou sem escarro purulento. Habitualmente o padrão radiológico é o de nódulos difusos ou localizados nos terços inferiores dos pulmões. A tomografia computadorizada de tórax evidencia pequenos nódulos centrolobulares, em torno de 5 mm, presença de bronquiectasias cilíndricas no mesmo lobo e imagem de aprisionamento aéreo. A combinação de bronquiectasias com nódulos centrolobulares têm sensibilidade de 80% e especificidade de 87% para a presença de cultura positiva para o complexo M. avium.3 A infecção no indivíduo imunocompetente pelo complexo M. avium leva a formação de granulomas peribronquiais na grande via aérea e bronquíolos, aproximando-os. Os granulomas ao romper a camada muscular levam a formação das bronquiectasias. Os nódulos centrolobulares e aprisionamento aéreo na tomografia computadorizada de alta resolução representam a bronquiolite, secundária à infecção pelo complexo M. avium na pequena via aérea.4 Critérios diagnósticos para doença por MNT As MNT identificadas representam um grande número de espécies, com amplo espectro de virulência e variabilidade de sensibilidade o que torna os critérios a serem adotados insuficientemente acurados para abranger a todas as circunstâncias clínicas. As infecções por MNT são geralmente de baixa virulência necessitando de seguimento longo para decisão quanto ao início do tratamento. A diferenciação entre colonização e doença necessita a realização de exames e acompanhamento seriado de longo prazo.5 Pacientes com sintomas transitórios ou autolimitados, com uma única amostra de escarro positiva, que persistem assintomáticos, mantendo radiografia de tórax normal, posteriormente múltiplas culturas negativas, não possuem doença por MNT significativa. Pacientes com isolamento de MNT repetidamente de material Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 respiratório, associado a alterações clínicas e radiológicas, indicam doença. Os critérios da ATS6,7 e da BTS8 estão resumidos nos Quadros 1 e 2. Os critérios da ATS são de difícil aplicação em populações de alto risco e em populações de países em desenvolvimento, pelo grande número de exames requeridos. O meio de cultura para micobactérias mais utilizado no nosso meio é o de Lowestein-Jansen, que necessita de períodos prolongados para a obtenção do resultado. A decisão de tratamento deve ser guiada pelo potencial patogênico da MNT isolada, considerando-se, como exemplo, uma única cultura positiva para M. kansasii realizada adequadamente como diagnóstica quando associada a achados clínicos e radiológicos. Essa condição provavelmente seja válida para M. abscessus, M. szulgai, M. malmonense e talvez para o complexo M. avium. O aumento da experiência, estudos de longo prazo com número significativo de pacientes, permitirão adequar os critérios a cada espécie encontrada. A orientação terapêutica proposta para Infecção pulmonar com bronquiectasias difusas pelo complexo M. avium difere Quadro 1: Critérios da ATS Diagnóstico da doença pulmonar por MNT Critérios para pacientes sintomáticos com infiltrado nodular ou cavitário ou tomografia evidenciando múltiplos nódulos e/ou bronquiectasias A) se 3 amostras de escarro ou lavado brônquico obtidos nos últimos 12 meses 1.O exame direto é negativo e as 3 culturas são positivas 2.1 exame direto é positivo e as 2 culturas são positivas B) se apenas 1 lavado brônquico for disponível 1. O exame direto é positivo e 1 cultura é positiva C) se exame escarro ou lavado brônquico evolutivos não são diagnóstico ou patologia não pode ser descartada 2. biópsia transbrônquica ou pulmonar demonstrando infecção por MNT ou 3. biópsia demonstrando alterações histológicas compatíveis com infecção por micobactérias e 1 ou mais amostras de material respiratório positivas para uma MNT sempre em pequeno número Quadro 2: Critérios da BTS Diagnóstico da doença pulmonar por MNT 2 ou mais culturas positivas de escarro obtidas com intervalo maior ou igual há 7 dias Imagens radiográficas sugestivas de infecção por micobactérias Quadro clínico não obrigatório 43 entre as duas associações: A ATS sugere o tratamento com claritromicina ou azitromicina, rifampicina e etambutol por um período de 1 ano com culturas negativas; a BTS sugere um esquema com rifampicina, etambutol e isoniazida (discutível) por 2 anos. Sugere também como opção estreptomicina, ciprofloxacino e claritromicina. CONCLUSÃO O diagnóstico de infecção e/ou doença pulmonar com bronquiectasias difusas pelo complexo M. avium requer cuidadosa observação clínica, radiológica e bacteriológica, além de rigor no acompanhamento do paciente. A necessidade da realização de culturas para a confirmação do diagnóstico das MNT aponta para a necessidade da realização desse método nos casos suspeitos de doença. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Grffith D, Brown-Elliott BA. Diagnosing nontuberculous mycobacterial lung disease a process in evolution. Infectious Disease Clinics of North America 2002; 16:235-49. MacGarvey J, Ebermudez L. Pathogenesis of NMTuberculous Mycobacteria infection. Clin Chest Med 2002;23:569-83. Lewin DL. Radiology of Pulmonary MAI Complex. Clin Chest Med 2002; 23:603-12 Wittran C, Weisbrod GL. Mycobacterium avium complex lung disease in immunocompetent patient: radiography CT correlation. The British J of Radiology 2002;75:340-344. Aksamit TR. M.avium complex pulmonary disease in pacients with preexisting lung disease. Clin Chest Med 2002; 23:643-653. American Thoracic Society. Diagnosis and Treatment of disease caused by Non Tuberculous Mycobacteria. Am J Resp Crit Care Med 1997:s1. Griffith DE, Aksamit T, Brown-Elliott BA et al. Diagnosis, Treatment, and Prevention of Nontuberculous Mycobacterial Diseases. Am J Respir Crit Care Med 2007;175:367–416. Joint Tuberculosis Committee Guidelines. Management of opportunist mycobacterial infectious. Thorax 2000:210-8. Maria Inês Bueno de André Valery [email protected] 44 SUBCOMISSÕES SPPT 2008/2009 ASMA Lilian Serrasqueiro Ballini Caetano [email protected] CÂNCER Ilka Lopes Santoro [email protected] CIRCULAÇÃO Adriana Ignacio de Padua [email protected] DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO SONO Sônia Maria G. P. Togeiro [email protected] DOENÇAS INTERSTICIAIS Mariana Silva Lima [email protected] DPOC Maria Vera Cruz de Oliveira Castellano [email protected] EPIDEMIOLOGIA Valdelis Novis Okamoto [email protected] INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS E MICOSES Mauro Gomes [email protected] PLEURA Alex Gonçalves Macedo [email protected] DOENÇAS AMBIENTAIS E OCUPACIONAIS Ubiratan de Paula Santos [email protected] TABAGISMO Sérgio Ricardo R. de Almeida Santos [email protected] TERAPIA INTENSIVA Pedro Caruso [email protected] TUBERCULOSE Sidney Bombarda [email protected] FUNÇÃO PULMONAR Roberto Rodrigues Júnior [email protected] IMAGEM Gustavo de Souza Portes Meirelles [email protected] DOENÇA PULMONAR AVANÇADA Ilma Aparecida Paschoal [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 IMAGEM EM PNEUMOLOGIA Aspectos tomográficos da Tuberculose pulmonar AUTOR: Sidney Bombarda1 SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia do Hospital das Clínicas da FMUSP. 1 Doutor pela FMUSP. Médico assistente. INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) é uma doença infecciosa ocasionada por micobactérias do Complexo Mycobacterium tuberculosis, que incluem M. tuberculosis, a mais frequente, M. bovis, M. africanum, M. microti e M. canetti. As outras micobactérias, mais de 120 espécies conhecidas, são denominadas micobactérias não tuberculose (MNT). Calcula-se que apenas 10% dos indivíduos infectados pelo bacilo M. tuberculosis desenvolvem doença ativa, cerca de 5% no decorrer nos primeiros 2 anos e outros 5% no resto da vida. Este risco de reativação da infecção e desenvolvimento de doença é mais elevado em indivíduos cimunodeprimidos como aqueles infectados pelo vírus HIV.1 O diagnóstico de certeza de TB pulmonar é obtido através da identificação do M tuberculosis no escarro ou em fragmento de tecido. No entanto, o Programa Nacional de Controle da Tuberculose também considera como indicativo de doença o encontro de bacilos álcool-ácido resistentes em duas amostras de escarro ou ainda a presença de imagem radiológica sugestiva e/ou outros exames complementares que, associados aos achados clínicos e epidemiológicos, sugiram TB.2 Entre os métodos de imagem, a radiografia do tórax é o de escolha na avaliação inicial da doença e no acompanhamento da TB pulmonar. A tomografia computadorizada do tórax (TC) é indicada nos casos em que existe a suspeita de TB pulmonar e a radiografia inicial é normal, na diferenciação com outras doenças torácicas e em pacientes com AIDS ou outras doenças imunossupressoras, especialmente na presença de febre de origem desconhecida, emagrecimento ou linfonodomegalia.3 A tomografia por emissão de pósitrons (PET) utilizando o 18F-fluorodeoxiglicose (FDG) tem sido utilizada no diagnóstico e estadiamento de vários tipos de câncer, com alta sensibilidade no diagnóstico de nódulos ou massas pulmonares de origem neoplásica. No entanto, outras doenças inflamatórias ou infecciosas que cursam com aumento do consumo de glicose, podem levar à captação aumentada do radiofármaco e, entre essas, a TB.3 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 DESCRIÇÃO DOS ACHADOS Ao serem inalados, os bacilos atingem os alvéolos pulmonares e são fagocitados pelos neutrófilos ou macrófagos alveolares onde podem ser eliminados ou evoluir para doença ou permanecer em forma latente. A forma primária da doença ocorre logo após a infecção de acordo com a carga bacilar, a virulência do bacilo aspirado e a imunidade do hospedeiro. A presença do bacilo no parênquima pulmonar promove inicialmente a formação de um processo inflamatório que se manifesta radiologicamente como consolidações parenquimatosas que, por vezes, podem ser indistinguíveis das pneumonias de outra etiologia. Os bacilos atingem a corrente sanguínea e podem desencadear a TB miliar, especialmente em crianças ou em indivíduos imunodeprimidos. Nessa forma são visualizados na TC diminutos nódulos, de 2 a 3 mm, de distribuição randômica em ambos os pulmões (Figura 1). Esses nódulos são representativos da disseminação do M tuberculosis que ocorre no pulmão e em outros órgãos. As linfonodomegalias correm com maior freqüência em crianças menores de 5 anos de idade e em indivíduos com AIDS. Linfonodos aumentados com áreas de baixa atenuação central correspondendo a focos de necrose Fig. 1. TC de tórax: Micronódulos distribuidos randomicamente em ambos os pulmões 45 caseosa são visualizadas na TC, com sensibilidade maior do que a radiografia de tórax.4 A lifonodomegalia mediastinal pode ocasionar a compressão dos brônquios e consequente atelectasia ou ainda lesões na parede brônquica com drenagem de material necrótico para dentro da luz brônquica (TB endobrônquica). A partir do foco parenquimatoso local ocorre a formação de granulomas cuja função é conter os bacilos impedindo-os de atingir outros locais do pulmão ou de outros órgãos. Na evolução para doença ocorrem focos de necrose caseosa no interior desses granulomas e a eliminação desse material necrótico por brônquios de drenagem leva à formação de cavidades pulmonares, onde os bacilos multiplicam-se com maior intensidade. As cavidades podem ser únicas ou múltiplas e suas paredes geralmente são espessas na fase ativa da doença (Figura 2). Na forma ativa da TB, as cavidades apresentamse em 40% a 45% dos casos e, após a cura, evoluem para cicatrização, cujo aspecto residual são as estrias, calcificações e retrações do parênquima acometido. As cavidades podem também permanecer com suas paredes mais delgadas após a cura, representando a sequela ou inatividade do processo específico. Alguns autores sugerem que esses achados devem ser descritos como “radiologicamente estáveis” ao invés de “inativos”, pela possibilidade de recrudescência futura de bacilos latentes.3 Fig.3. TC de tórax: Consolidação à direita. Nódulos cavitados em ambos os pulmões Fig. 4. TC de tórax: Massa à direita e nódulos em ambos os pulmões Fig. 2. TC de tórax: Cavidade de paredes espessas, pequenos nódulos e aspecto de “árvore em brotamento” à direita. Pequenos nódulos de distribuição segmentar à esquerda A disseminação do M tuberculosis através dos brônquios resulta em novos focos de infecção, em outros segmentos pulmonares. Pequenos nódulos de distribuição segmentar são o achado tomográfico mais frequente na fase ativa da doença (82% a 100%). Esses nódulos tendem a confluir em 62% a 71% ou a formar nódulos maiores em até 66% dos casos. O aspecto de consolidação segmentar ou lobar é observado em 47% a 62% dos casos e pode ocorrer em associação com linfonodomegalia hilar ou mediastinal. A presença de múltiplos nódulos que coalescem resultam em imagens tomográficas como nódulos, massas e consolidações (Figuras 3 e 4).3 46 O espessamento da parede brônquica ocorre em aproximadamente 62% dos casos e bronquiectasias são observadas em 23% dos pacientes com TB pulmonar. O aspecto de “árvore em florescência” está presente em até 57% dos casos (Figura 5). A distorção da arquitetura em locais onde, previamente, eram observados nódulos centrolobulares e espessamento broquiolar, sugere que a estenose brônquica ou bronquiolar sejam responsáveis pelo mecanismo de enfisema observado após a cura (Figura 6).3 A presença de bacilos ou proteínas do bacilo no espaço pleural decorrente de disseminação hematogênica ou linfática ou por contato anatômico pode ocasionar infecção e derrame pleural. No Brasil, é a forma mais comum de apresentação extrapulmonar da TB, representando cerca de 8% do total de casos. Estudos tomográficos demonstram alta freqüência de alterações parenquimatosas associadas na TB pleural, sugerindo que freqüentemente esta é uma doença pleuropulmonar.5 Em idosos o diagnóstico é mais difícil porque, além do grande número de condições associadas, apresentações atípicas podem ser observadas como o acometimento de segmentos inferiores e menor número de cavidades. Também em diabéticos os segmentos inferiores são mais acometidos, porém com maior número de cavidades do que entre os não diabéticos (Figura 7).6 Nos pacientes com alterações da Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 presença ou não de uma doença de base e da espécie da micobactéria. Na doença causada pelo complexo M avium, os achados mais frequentes são cavidades de paredes e espessamento pleural apical, opacidades retículo-nodulares bilaterais, nódulos centro lobulares e aspecto de árvore em florescência além de bronquiecatsias. Na doença por M kansasii geralmente são obervadas cavidades de paredes finas nos lobos superiores e múltiplos pequenos nódulos. Opacidades retículo-nodulares, pequenos nódulos, bronquiectasias e consolidações são observadas na doença por M abcessus, M fortuitum e M chelonae.7 Fig. 5. TC de tórax: Pequenos nódulos de distribuição segmentar à esquerda. Nódulos e aspecto de “árvore em brotamento” bilateralmente CONCLUSÃO A TC de tórax apresenta alta sensibilidade na caracterização da TB pulmonar. Em pacientes com suspeita, a TC complementa a investigação diagnóstica e pode demonstrar pequenos focos de doença parenquimatosa e ganglionar, além de lesões apicais pulmonares não visualizadas na radiografia de tórax. É útil também na avaliação da extensão da doença no parênquima pulmonar. O adequado conhecimento dos sinais tomográficos sugestivos de atividade de TB é um importante subsídio para o diagnóstico da doença, especialmente nos casos em que a radiografia de tórax inicial é normal e na ausência de confirmação bacteriológica. REFERÊNCIAS 1. Fig. 6. TC de tórax: Redução volumétrica do pulmão esquerdo com bronquiectasias de tração 2. 3. 4. 5. 6. 7. Fig. 7. TC de tórax: Cavidade em lobo inferior direito em paciente diabético imunidade celular os achados radiológicos mais freqüentes são a disseminação miliar e/ou consolidações difusas. As doenças pulmonares por MNT podem apresentar imagens radiológicas semelhantes à TB e dependem da Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Sonnenberg P, Glynn Jr, Fielding K et. al. How soon after infection with HIV does the risk of tuberculosis start to increase? A retrospective cohort study in South African gold miners. J Infect Dis 2005;191:150-8. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. II Diretrizes Brasileiras para Tuberculose 2004. J Bras Pneumol 2004;30(1):7-85. Bombarda S, Figueiredo CM, Funari MBG et al. Pulmonary tuberculosis imaging. J. Pneumologia 2001;27 329-40. Kim WS, Choi JI, Cheon JE. et. al. Pulmonary tuberculosis in infants: radiographic and CT findings. AJR Am J Roentgenol 2006;187(4):1024-33. Seiscento M, Bombarda S. Tuberculose. In: Vargas FS; Teixeira LR; Marchi E. Derrame Pleural, 1. ed.rev São Paulo: Roca, 2004. Cap. 30, p.271-84. Perez-Guzman C, Torres-Cruz A, Villareal-Velaverde H, Vargas MH. Progressive age-related changes in pulmonary tuberculosis images and the effect of diabetes. Am J Respir Crit Care Med 2000;162:1738-40. Muller N. Nontuberculous Mycobacterial Pulmonary Disease.In: Muller NL; Franquet T; Lee KS. Imaging of Pulmonary Infections, editora Lippincott Willians & Wilkins, 2007. Cap 4, p.79-93. Sidney Bombarda [email protected] 47 EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA O que é análise multivariada? AUTORA: Valdelis Novis Okamoto1 SERVIÇO: Hospital AC Camargo – Unidade de Terapia Intensiva 1 Doutora em Ciências (Área de concentração: Pneumologia) pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Na última edição do Pneumologia Paulista, vimos que a estatística analítica serve para fazermos comparações entre grupos ou situações de interesse. O princípio dessas comparações é sempre o mesmo, baseado em um teste de hipóteses. A hipótese nula é a de que não existe diferença entre os grupos na população da qual a amostra de estudo foi retirada. A hipótese alternativa é a de que existe tal diferença entre grupos. Partindo do princípio de que a hipótese nula é verdadeira, avaliamos a magnitude da diferença observada entre os grupos na amostra. Ora, se a diferença observada entre os grupos na amostra for pequena, é bem provável que ela possa ter ocorrido por acaso, mesmo não havendo diferença entre grupos na população. Eu aceito a hipótese nula. Mas, quanto maior for a diferença observada entre os grupos da amostra, menor a probabilidade de que essa diferença tenha acontecido por acaso, partindo do pressuposto que, na população, não existe diferença entre os grupos. Quanto menor essa probabilidade (que é o valor de p), mais desconfortáveis ficamos com a hipótese nula. Se a probabilidade for menor que 5% (p<0,05), rejeitamos a hipótese nula. Os cálculos para se chegar ao valor de p variam, mas sempre seguem esse princípio. Como clínicos, não precisamos nos preocupar demais com a maneira pela qual os softwares estatísticos fazem esses cálculos, mas sim com a compreensão dos conceitos que os norteiam. Análise multivariada é o nome genérico dado ao conjunto de ferramentas estatísticas que permite a associação de uma variável de desfecho (ou dependente) a um punhado de variáveis preditoras (ou independentes). Os modelos multivariados podem ser entendidos como uma versão simplificada da realidade. Através da análise multivariada, podemos conhecer a influência “líquida” de cada uma das variáveis preditoras sobre a variável de desfecho. Na tabela a seguir, temos exemplos de modelos lineares generalizados (em inglês, generalized linear models – GLM para os íntimos) muito conhecidos na literatura médica. A primeira coisa interessante na Tabela 1 é que todos os modelos lineares generalizados: regressão linear, regressão logística, regressão de Cox e regressão de Poisson têm a mesma equação básica: β0 + β1 * X1 +β2 * X2 + … +βk * Xk, onde k é o número de variáveis independentes. Os pares β1 * X1, β2 * X2, ...,βk * Xk são as variáveis independentes (os “X”) e os seus respectivos “pesos”, ou melhor, coeficientes (os “β”). Deu para perceber que o que muda entre os diferentes tipos de modelos lineares generalizados é a variável dependente e seu significado. Vamos conversar sobre isso mais adiante. Começando com a regressão linear, temos que Y= β0 + β1 * X1 +V2 * X2 + … + βk * Xk. Como exemplo, vamos usar um modelo preditor da capacidade vital forçada (CVF), utilizando-nos da regressão linear: CVF= 510 + 110* (sexo) + 22* (altura) – 18*(idade), onde, CVF= capacidade vital forçada (em mL); sexo: masculino= 1, feminino= 0; altura: em centímetros; idade: em anos. Qual a capacidade vital forçada predita para um rapaz de 25 anos e 170 cm de altura? CVF= 510 + 110* (sexo) + 19* (altura) – 18*(idade) CVF= 510 + 110* (1) + 19*(170) – 18* (25) CVF= 3400 mL Notem que o fato da pessoa ser do sexo masculino acrescenta 110mL à sua CVF, segundo o nosso modelo. A cada centímetro a mais de altura, a CVF aumenta 22mL. Por outro lado, a cada ano de vida, a CVF diminui em 18mL. Com esse modelo de regressão linear, podemos predizer a CVF de uma pessoa, através dos dados de sexo, idade e altura. Como esse modelo foi derivado? Bem, conhecendo CVF, sexo, altura e idade (respectivamente, Y, X1, X2 e X3) de uma amostra representativa e suficientemente grande de pessoas, chegamos aos nossos coeficientes 510, 110, 22 e 18 (respectivamente β0, β1 , β2 e β3). Na próxima edição do Pneumologia Paulista, Tabela 1: Modelos lineares generalizados 48 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 conversaremos em maior detalhe sobre os princípios a que obedece a regressão linear. 4. 5. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. MECOR Lectures. Level 1. Steve Mc Curdy. Disponíveis no http://www.thoracic.org/sections/meetings-and-courses/ mecor-courses/resources/Biostatistics/Biostat5.pdf Introdução à bioestatística para simples mortais. Ulysses Doria Filho.Primeira edição, 1999. Editora Negócio. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. Robert H. Fletcher, Suzanne W. Fletcher, Edward H. Wagner. Terceira edição, 1996. Artes Médicas. 6. Primer of biostatistics. Stanton Glantz. Fourth edition, 1996. Mc Graw Hill. Practical Statistics for Medical Research. Douglas G. Altman. First edition, 1991. Chapman & Hall / CRC. Epidemiology beyond the basics. Moyses Szklo & F Javier Neto. Second edition, 2006. Jones and Bartlett Publishers. Valdelis Novis Okamoto [email protected] INFORME RELAÇÃO DOS CENTROS DE ATENDIMENTO “PROTOCOLO DE DPOC” ARARAQUARA Núcleo de Gestão Assistencial Dr. Marcos Abdo Arbex Tel. (16) 3336 5228 - [email protected] R. Voluntários da Pátria, 2104 Centro Araraquara/SP - 14801-320 SOROCABA Conjunto Hospitalar de Sorocaba Dra. Sônia Ferrari Perón Tel. (15) 3231 3221 - [email protected] R. Salvador Correa, 421 Jardim Vergueiro Sorocaba/SP - 18030-130 BAURU Deborah Maciel Cavalcanti Rosa Tel. (14) 3103 7777 (Hospital Estadual Bauru) [email protected] Av. Luiz Edmundo Carrijo Coube, 1-100 Núcleo Geisel - Bauru/SP - 17.033-360 SANTOS Hospital Guilherme Álvares Dr. Virgílio Alexandre Nunes Aguiar Tel. (13) 3237 0302 - [email protected] Av. Pinheiro Machado, 430 - Santos/SP - 11075-000 BOTUCATU – UNESP Dra. Irmã de Godoy Tel.(14) 3882 2969 - [email protected] Dep Clínica Médica Fac de Med de Botucatu/UNESP S/N Distrito de Rubião Júnior Rubião Júnior/SP - 18618-970 CAMPINAS – UNICAMP Dra. Ilma Aparecida Paschoal – Tel. (19) 3521 7907 - [email protected] Rua Serra da Bocaina, 178 Campinas/SP - 13100-449 MARÍLIA – FAMEMA Dra. Virgínia Maria Cavallari Strozze Catharin – Tel. (14) 3433 3412 - [email protected] R. Vinte e Quatro de Dezembro, 435 Centro Marilia/SP - 17500-060 RIBEIRÃO PRETO – FMUSP-RP Dr. Elcio dos Santos Oliveira Vianna Tel. (16) 3602 2706 - [email protected] Av. Bandeirantes, 3900 Vila Monte Alegre Ribeirão Preto/SP - 14049-900 SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – FAMERP Dra. Marisa Richard P. da Costa Lima Tel. (17) 3235 1457 – [email protected] R. Rubião Júnior, 2649 Centro São José do Rio Preto - 15010-090 SÃO PAULO – FMUSP Dr. Alberto Cukier Tel. (11) 3069 7577 R. 32 - [email protected] Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 5º andar - Bloco 2 Cerqueira César – São Paulo/SP – 05403-000 SÃO PAULO – UNIFESP Dr. José Roberto Jardim Tel. (11) 5572-4301 / 5579-3412 [email protected] Rua dos Assores, 310 Jd. Lusitânia São Paulo/SP - 04032-060 SÃO PAULO – FCMSCSP Dr. Roberto Stirbulov Tel. (11)2176 7288 - [email protected] R. Baronesa de Itú, 610 - Conj. 93 Santa Cecília São Paulo/SP - 01231-000 TAUBATÉ Hospital Regional de Taubaté Dra. Denise Moreira de Andrade Cotrim Tel. (15) 3634-2000 - [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 49 FUTURO DA PNEUMOLOGIA Biologia molecular no diagnóstico da Tuberculose e outras micobacterioses AUTORES: Erica Chimara1; Sylvia Cardoso Leão2 SERVIÇOS: Seção de Bacteriologia – Setor de Micobactérias Instituto Adolfo Lutz Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia Universidade Federal de São Paulo 1,2 Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo INTRODUÇÃO As micobactérias são organismos álcool-ácido resistentes, aeróbicos, classificados em mais de 130 espécies atualmente.1 O agente causador da tuberculose, considerada uma emergência global devido ao elevado número de mortes e novos casos, pertence ao complexo Mycobacterium tuberculosis (CMT). No entanto, outras espécies citadas como micobactérias não tuberculosas (MNT) também estão associadas à doença humana e sua frequência tem aumentado nos últimos anos em todo o mundo.2 Embora o diagnóstico destas doenças ainda seja realizado primeiramente com base em métodos convencionais, como baciloscopia e cultura, muitos métodos moleculares estão sendo introduzidos e incorporados nas rotinas dos laboratórios de micobacteriologia em todo o mundo. Esses métodos têm por objetivo obter o diagnóstico rápido com maior sensibilidade e especificidade. Avanços nas técnicas de Biologia Molecular e a informação proporcionada pelo sequenciamento do genoma completo de Mycobacterium tuberculosis3 estimularam o desenvolvimento de novas ferramentas para o diagnóstico rápido da tuberculose, a diferenciação de M. tuberculosis de outras micobactérias e a detecção rápida de resistência a drogas.4 Neste trabalho, revisamos métodos moleculares utilizados atualmente para o diagnóstico das micobacterioses, verificando sua utilidade para o laboratório de micobacteriologia. 1. Detecção e identificação de micobactérias a partir de material clínico Métodos convencionais de detecção de M. tuberculosis baseados em cultivos em meios sólidos são demorados devido ao crescimento lento dos bacilos. As técnicas de cultivo em meio líquido diminuíram o tempo de detecção para 10-14 dias ao invés de várias semanas, requeridas com os meios convencionais. Vários testes moleculares baseados em amplificação de ácidos nucléicos foram desenvolvidos para diminuir ainda mais o tempo de diagnóstico. 50 1.1. Métodos “in-house” Diferentes protocolos baseados em PCR (Polymerase Chain Reaction) têm sido testados em laboratórios de todo o mundo, para detecção e identificação de bactérias pertencentes ao CMT, utilizando diferentes sequências de DNA ou RNA, gênero ou espécies-específicas, com detecção dos produtos amplificados realizada em géis de agarose ou acrilamida ou com diferentes técnicas de hibridização. A maioria dos protocolos utiliza a sequência repetitiva de inserção IS6110, que é específica para o CMT e está presente em múltiplas cópias (1-25) no genoma de isolados de M. tuberculosis.5 A desvantagem está na existência de isolados de M. tuberculosis que perderam as seqüências IS6110, observados principalmente na Ásia.6 Estudos iniciais mostraram baixa especificidade da PCR e falta de controles de qualidade adequados, como demonstrado em um estudo multicêntrico realizado em diferentes países. 7 Estudos mais recentes mostraram resultados melhores com testes in house8, mas uma meta-análise realizada com 36 trabalhos mostrou que a baixa especificidade ainda é um problema a ser resolvido antes da implantação destes testes em rotina.9 Nos últimos anos, sistemas de PCR em tempo real (RTPCR) foram introduzidos nos laboratórios de micobacteriologia, permitindo a detecção do fragmento amplificado já nas fases iniciais da reação. Esta técnica possui diversas vantagens com relação à técnica de PCR convencional, como redução da contaminação e rapidez, uma vez que não se faz necessário o uso de géis e brometo de etídio.10 Esta técnica está sendo utilizada na detecção de M. tuberculosis a partir de amostras clínicas11, na identificação das diferentes espécies de micobactérias, baseada nas diferentes temperaturas de hibridação específicas para cada espécie 12 e na detecção de mutações responsáveis pela resistência do M. tuberculosis principalmente com relação a isoniazida e rifampicina.11 No entanto, algumas limitações ainda devem ser levadas em conta no momento da escolha desta técnica: não necessariamente o RT-PCR é mais sensível que o PCR convencional10, existe variação nas sequências alvo necessitando vários iniciadores e sondas e pode haver Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 reação cruzada entre espécies diferentes impossibilitando sua identificação.12 1.2. Métodos comerciais COBAS Amplicor® MTB Test (Amplicor; Roche Molecular Systems Inc., Branchburg, NJ). Neste teste, um fragmento de 584 pb do gene 16S rRNA é amplificado por PCR e os produtos amplificados e marcados com biotina são hibridados com uma sonda específica para o CMT. Os resultados podem ser obtidos após 6-7 horas. O processo pode ser automatizado utilizando o equipamento COBAS Amplicor analyzer, mas uma versão manual também está disponível. A versão COBAS TaqMan MTB test usa realtime PCR e hibridização automatizadas e processa 48 amostras simultaneamente em 2,5 h. A agência americana Food and Drug Administration (FDA) aprovou este método para ser testado em amostras respiratórias com baciloscopia positiva. O teste mostrou elevada sensibilidade para amostras pulmonares com baciloscopia positiva (90-100%), mas a sensibilidade foi muito menor com amostras extrapulmonares (27,3-85%) e amostras pulmonares com baciloscopia negativa (50-95,9%). 13 A especificidade variou entre 91,3% e 100% no mesmo estudo. Amplified MTD® (Mycobacterium tuberculosis Direct) Test (AMTD; Gen-Probe Inc., San Diego, CA, EUA). Este é um teste isotérmico de amplificação mediada por transcrição (TMA), onde o alvo é o gene 16S rRNA. Todo o processo é realizado a 42ºC e pode ser finalizado em 2,5 horas. O FDA aprovou este método para ser testado em amostras respiratórias com baciloscopia positiva ou negativa. Em vários estudos realizados, a sensibilidade para amostras respiratórias variou entre 90,9% e 95,2% e a especificidade entre 97,6% e 100% [apud14]. A maior desvantagem deste teste é a ausência de um controle interno de amplificação, não permitindo a detecção de inibidores na amostra. A reação cruzada com outras espécies de micobactérias foi reportada.15 BD ProbeTec™ ET (energy transfer) System (BDProbeTec; Becton Dickinson Bioscience, Sparks, MD, EUA). Este é um método semi-automatizado baseado na amplificação de fita simples de DNA (SDA) onde as seqüências alvo IS6110 e 16S rRNA são co-amplificadas. A A B amplificação simultânea e a detecção são realizadas em uma única temperatura (52,5ºC) no instrumento ProbeTec, dentro de 3,5 a 4 horas. O fabricante recomenda o uso em amostras respiratórias. Este método não foi aprovado pelo FDA. Em comparação com AMTD, Piersimoni e cols.16 relataram sensibilidade do ProbeTec de 94,5% e 92,3% contra 88,0% e 74,3% para o AMTD, em amostras pulmonares e extrapulmonares, respectivamente. Em comparação com o Amplicor, a sensibilidade do ProbeTec foi de 86,2% contra 78% e a especificidade foi a mesma para os dois testes (99,9%).17 GenoType® Mycobacteria Direct (Hain Lifescience GmbH, Nehren, Germany). Este teste é baseado na amplificação de ácidos nucléicos Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 aplicada à tecnologia DNA Strip® (DNA imobilizado em tiras de membrana de nitrocelulose). O teste possui três etapas: 1) isolamento do RNA, 2) amplificação do gene 23S rRNA, 3) hibridação reversa dos produtos amplificados em tiras de membrana. É possível detectar em um único teste a presença de M. avium, M. intracellulare, M. kansasii, M. malmoense e CMT. De acordo com Franco-Alvarez de Luna e cols. (2006) o teste é útil, confiável e rápido, com sensibilidade e especificidade de 92% e 100%, respectivamente. Um estudo recente de meta-análise para avaliar a acurácia dos testes moleculares comerciais descritos acima mostrou sensibilidade geral de 85% (CI 36-100%) e especificidade de 97% (CI 54-100%).18 A principal conclusão foi de que a acurácia em amostras respiratórias foi muito variável, não justificando no momento a substituição dos testes convencionais de diagnóstico da tuberculose por testes moleculares. 1.3. Novos Métodos Cross Priming Amplification (Ustar Biotechnologies Co., Hangzhou, China). Utilizando vários iniciadores ligados cruzadamente, o DNA alvo pode ser amplificado a uma temperatura constante. A detecção dos produtos de amplificação é feita em uma fita lateral, inserida dentro de um compartimento plástico, prevenindo a ligação entre os produtos. Fang e cols. 19 avaliaram o teste em amostras pulmonares de pacientes com suspeita de tuberculose, comparando com a baciloscopia, cultura em Lowenstein Jensen e cultura líquida. As taxas de detecção obtidas foram 50,6%, 36,1%, 38,9% e 53,9%, respectivamente. Loop-mediated isothermal amplification (LAMP) é um teste de amplificação isotérmica que usa seis iniciadores específicos derivados da sequência do gene 16S rRNA de Mycobacterium tuberculosis. A detecção é visual pela produção de um precipitado branco de pirofosfato de magnésio. A sensibilidade e especificidade do teste em 200 amostras de escarro do Nepal, em comparação com resultados de cultivo, foram de 100 % e 94.2 %, respectivamente.20 2. Identificação das C espécies de micobactérias a partir da cultura Por muitas décadas, a identificação das micobactérias foi realizada com base em observação de características fenotípicas e reações bioquímicas, que são demoradas e muitas vezes fornecem resultados ambíguos. Os métodos moleculares para a identificação de micobactérias proporcionam resultados mais rápidos e precisos e muitas metodologias estão sendo utilizadas em laboratórios clínicos.21 2.1 Sequenciamento de DNA Este método é considerado o padrão ouro para a identificação de micobactérias. Baseado na amplificação de uma sequência alvo, seguida de sequenciamento dos produtos amplificados, a identificação é feita pela comparação 51 da sequência de nucleotídeos obtida com sequências disponíveis em bancos de dados, como GenBank e o European Molecular Biology Laboratory (EMBL). O alvo mais comum é o gene 16S rRNA, que contêm tanto regiões altamente conservadas como regiões hipervariáves. Entretanto, a similaridade de sequências das diferentes espécies do gênero Mycobacterium é muito elevada e algumas espécies não podem ser diferenciadas por possuírem sequências indistinguíveis, como M. kansasii e M. gastri, M. marinum e M. ulcerans, M. malmoense e M. szulgai e os membros do CMT. Por isso, outros alvos para sequenciamento também têm sido usados, como os genes rpoB22, hsp6523, gyrB 24 e a região não transcrita entre os genes 16S e 23S rRNA (região ITS)25. O banco de dados Ribosomal Differentiation of Medical Microorganisms (RIDOM)26 reúne sequências do gene 16S rRNA e da região ITS. Diferentemente de outros bancos de sequências, este é rigidamente controlado e não permite depósitos de novas sequências, mas infelizmente não foi atualizado nos últimos anos. 2.2 Identificação por sonda genética AccuProbe® Culture Identification Tests (Gen-Probe Inc., San Diego, CA, EUA) inclui sondas para identificação de M. tuberculosis, M. kansasii, complexo M. avium, M. avium, M. intracellulare e M. gordonae. Cada uma destas sondas é uma molécula de DNA de fita simples com marcação quimioluminescente e é complementar ao RNA ribossomal do organismo alvo. O híbrido DNA/RNA marcado é detectado pela emissão de luz medida pelo luminômetro GenProbe. Este teste pode ser usado tanto com culturas líquidas como sólidas. O método é de fácil realização, necessita somente de um sonicador e um luminômetro e pode ser feito em até duas horas.14 2.3 Hibridação em fitas de membrana Esta tecnologia (line probe technology) inclui a amplificação com iniciadores biotinilados, hibridação reversa com diferentes sondas de DNA imobilizadas em linhas paralelas em uma fita e detecção colorimétrica em instrumento automatizado. O padrão de bandas permite a identificação da espécie isolada. O tempo de realização é de aproximadamente 5 horas. Inno LiPA ® Mycobacteria v2 (Innogenetics, Ghent, Belgium). Este teste é baseado em hibridação reversa e a sonda é representada por um produto de 400-550pb da região ITS. Os produtos biotinilados amplificados são hibridados com 14 sondas imobilizadas em uma fita. Doze sondas reagem especificamente com o CMT, M. kansasii, M. xenopi, M. gordonae, M. genavense, M. simiae, M. marinum/M. ulcerans, M. celatum, M. avium, M. intracellulare, M. scrofulaceum, M. malmoense, M. haemophilum, M. chelonae, complexo M. fortuitum e M. smegmatis. Uma sonda é específica para o gênero Mycobacterium e uma para o complexo MAIS (M. avium, M. intracellulare, M. scrofulaceum e outros membros do complexo M. avium). Populações mistas são facilmente 52 identificadas. Tortoli e cols.27observaram sensibilidade e especificidade de 100% e 94,4%, respectivamente. As sondas específicas para o complexo M. fortuitum, complexo MAIS e para M. intracellulare tipo 2 apresentaram reação cruzada com algumas micobactérias raramente isoladas de material clínico.27 GenoType® Mycobacterium (Hain Lifescience GmbH, Nehren, Germany). O procedimento inclui uma amplificação por PCR multiplex seguida de hibridação reversa em fita. Existem três kits: a) GenoType MTBC para diferenciar membros do CMT, b) GenoType Mycobacterium CM (commom mycobacteria) e c) GenoType Mycobacterium AS (additional species). O GenoType MTBC é baseado em polimorfismos do gene gyrB. Os kits CM e AS utilizam o gene 23S rRNA como alvo, sendo que o produto gerado no teste CM pode ser usado no teste AS sem a necessidade de realizar nova amplificação. A combinação dos testes CM e AS permite diferenciar 30 espécies de MNT: M. avium, M. chelonae, M. abscessus, M. fortuitum, M. gordonae, M. intracellulare, M. scrofulaceum, M. interjectum, M. kansasii, M. malmoense, M. peregrinum, M. marinum/M. ulcerans, complexo M. tuberculosis M. xenopi, M. simiae, M. mucogenicum, M. goodii, M. celatum, M. smegmatis, M. genavense, M. lentiflavum, M. heckeshornense, M. szulgai/M. intermedium, M. phlei, M. haemophilum, M. gastri, M. asiaticum e M. shimoidei. Richter e cols. 28 avaliaram a habilidade de o GenoType MTBC diferenciar as espécies do CMT e demonstraram que todos os membros do CMT podem ser diferenciados, com exceção de M. tuberculosis, M. africanum tipo II e M. canetii que possuem padrão idêntico de hibridação. De acordo com Russo e cols. 29 a sensibilidade e especificidade do GenoType Mycobacterium, comparada com aquela do sequenciamento do gene 16SrRNA, foram de 97,9% e 92,4% para CM e 99,3% e 99,4% para AS, respectivamente. Daley e cols.30 compararam as técnicas de sequenciamento in-house e comercial (Microseq) do gene 16S com as técnicas de high performance liquid chromatography (HPLC) e Genotype CM e AS em 51 cepas de diferentes espécies de micobactérias, sendo que as técnicas identificaram corretamente 70,6%, 80,4%, 42,0% e 72,7% cepas, respectivamente. Estes achados corroboram a conclusão de que a identificação das espécies de micobactérias não deve ser realizada com um único método. 2.4 PRA (PCR-Restriction Enzyme Analysis) Telenti e cols.31 desenvolveram um método rápido, baseado na amplificação do gene que codifica para a proteína de 65kDa (hsp65), seguida de restrição por duas enzimas de restrição, BstEII e HaeIII, e análise dos perfis eletroforéticos obtidos. Podem ser utilizados organismos cultivados tanto em meio líquido como em meio sólido. Os fragmentos da digestão enzimática são analisados após separação por eletroforese em gel de agarose e comparados com um algoritmo disponível na internet.32,33 O teste pode ser realizado em dois dias. É um teste custo-efetivo e confiável que pode ser utilizado em laboratórios de média complexidade. 34 Uma avaliação Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 multicêntrica realizada em oito laboratórios da América Latina eACaribe mostrou que a técnica B foi facilmente implantada e que o treinamento de pessoal e o cuidado na realização da eletroforese são essenciais para que a técnica possa ser útil em rotina35. Conflitos de interpretação dos perfis podem ser minimizados pela observação das características culturais básicas (pigmentação e tempo de crescimento) das cepas32. Outros alvos foram propostos para este método, como o fragmento ITS para identificação de MNT36 e o gene gyrB para separação dos membros do CMT. 37 2.5 Pirosequenciamento O pirosequenciamento é um método novo de sequenciamento de ácidos nucléicos baseado na detecção de pirofosfatos (PPi), liberados durante a síntese de DNA. A cascata de reações enzimáticas produz luz, em quantidade proporcional ao número de nucleotídeos incorporados. O método é útil para determinação de sequências curtas (20-30 bases) em um formato rápido e semi-automatizado. Mesmo que as sequências geradas por pirosequenciamento não sejam tão discriminativas quanto sequências de 300-500pb geradas por sequenciamento tradicional, é possível obter informações importantes, como demonstrado por Tuohy e cols.38, que puderam identificar 179 de 189 isolados (94.7%) pela análise de uma sequência de 30 pb da região hipervariável A do gene 16S rRNA. 2.6 DNA Microarray Nesta técnica, várias sondas para regiões específicas de um gene alvo são imobilizadas em placas de vidro (DNA chip) e usadas para hibridar com RNA obtido do organismo a ser identificado e marcado com fluorescência. Os padrões de hibridação produzidos com sondas complementares a 705 bases da sequência rpoB de M. tuberculosis foram usados para a diferenciação de 121 isolados, compreendendo M. avium, M. chelonae, M. fortuitum, M. gordonae, M. intracellulare, M. kansasii, M. scrofulaceum, M. smegmatis, M. tuberculosis e M. xenopi. A identificação obtida com as placas foi compatível com a identificação inicial das espécies baseada na análise de 180pb da sequência do gene 16S rRNA39. Fukushima e cols.40 descreveram um teste de microarray baseado em sequências do gene gyrB. Este microarray produziu padrões de hibridação específicos para M. tuberculosis, M. bovis, M. avium, M. intracellulare, M. kansasii, M. gordonae, M. gastri, M. africanum, M. asiaticum, M. malmoense, M. marinum, M. scrofulaceum, M. simiae e M. szulgai. Os resultados foram correspondentes aos obtidos pela identificação por métodos convencionais. CONCLUSÃO As técnicas moleculares são de grande importância para a detecção e identificação das micobactérias devido à sua rapidez e acurácia. Apesar destas técnicas ainda não terem substituído completamente os métodos convencionais, como a microscopia e o cultivo, elas trazem o benefício da rapidez. Podem ser usadas para rápida confirmação da tuberculose em pacientes com baciloscopia positiva no escarro. Em pacientes com baciloscopia negativa, sua realização está indicada Cquando a clínica é compatívelDcom suspeita de tuberculose. A interpretação dos resultados sempre deve levar em conta os dados clínicos. Testes comerciais têm a vantagem de serem sistemas validados, com protocolos simplificados e muitas vezes automatizados, elevando a qualidade dos procedimentos e minimizando erros. A análise de várias amostras do mesmo paciente, o uso de descontaminação apropriada e de procedimentos adequados para isolamento de DNA são fundamentais para evitar resultados falso-negativos. 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Erica Chimara [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 CONTROVÉRSIA Marcadores de atividade da Tuberculose pleural AUTORAS: Roberta Karla Barbosa Sales1; Leila Antonangelo2 SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia - HC e InCor - FMUSP 1 Doutora em Pneumologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Livre-docente, Chefe da Citologia do Laboratório Central do HC FMUSP 2 INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) tem uma das maiores mortalidades relacionada a um agente infeccioso. O Brasil, segundo a OMS, ocupa o 15º lugar no mundo no número de casos. Das apresentações extrapulmonares, a forma pleural é, nos indivíduos acima de 15 anos, a mais frequente.1 Os parâmetros bioquímicos e citológicos encontrados no líquido pleural na TB não são patognomônicos. As proteínas totais habitualmente são superiores a 3,5g/dL, o líquido raramente é hemorrágico, apresenta uma predominância linfocitária, com escassas células mesoteliais.2 O diagnóstico baseia-se na recuperação do bacilo ou no achado histológico de um processo granulomatoso com necrose caseosa. Os métodos usualmente utilizados apresentam algumas limitações. A baciloscopia do líquido pleural requer uma concentração bacilar de 10.000 bacilos/ mL e apresenta uma baixa sensibilidade, em torno de 5%. Embora a cultura do líquido pleural (11 a 50%) seja mais sensível, necessita de um número mínimo de bacilos viáveis (10 a 100) e de 2 a 6 semanas para que ocorra o crescimento do Mycobacterium tuberculosis.3-6 A cultura do fragmento pleural tem uma melhor sensibilidade (30 a 79%), bem como a histologia do fragmento (até 80%). Todavia é preciso que se realize uma biópsia pleural com agulha de Cope, procedimento mais invasivo que a toracocentese e que requer um médico capacitado para realizá-lo.3-6 Pelos motivos explanados, a busca de novas técnicas para o diagnóstico, que sejam mais rápidas, sem a necessidade de realizar uma biópsia pleural ou outros procedimentos invasivos e com melhor desempenho diagnóstico, é premente. Entre essas técnicas encontra-se a adenosina deaminase, a lisozina, a reação em cadeia de polimerase e o interferon gama. proveniente do catabolismo das purinas que catalisa a conversão da adenosina em inosina e a deoxiadenosina em deoxiinosina. A ADA é essencial para a diferenciação dos linfócitos, principalmente os linfócitos T, tendo importante função na maturação de monócitos e linfócitos.7 A ADA expressa a soma de duas isoenzimas: ADA1 (presente na maioria das células) e ADA2 (mais relacionada com o complexo monócito-macrófago). Quantificando-se as duas isoenzimas concluiu-se que a ADA 2 é a maior responsável pelo aumento da atividade da ADA total nos casos de TB pleural.8 Sabe-se que a atividade da ADA aumenta em líquidos pleurais secundários a várias patologias que acometem a pleura, dentre elas, a tuberculose. Nesta, o valor da ADA é geralmente superior a 40,0 U/L. Valores semelhantes foram observados em derrames pleurais secundários a artrite reumatóide e nos casos de empiema.9,10 O comportamento da adenosina deaminase nas doenças neoplásicas é variável, podendo estar elevada em doenças linfoproliferativas, especialmente o linfoma e em alguns tumores sólidos.11 Em nosso meio, a utilização de um valor de corte de 40,0 U/L para a adenosina deaminase em derrames pleurais linfocíticos oferece alta eficiência para o diagnóstico de tuberculose pleural (sensibilidade de 87 a 100% e especificidade de 81 a 97%).8,9,12 Greco e colaboradores numa metanálise na qual foram incluídos trinta e um trabalhos (n= 2040) com valor de corte de ADA de até 70,0U/L demonstraram uma sensibilidade de 56 a 100% (92%) e especificidade de 55 a 100% (89%).13 Se considerarmos a alta sensibilidade do teste, associada ao seu baixo custo e a facilidade de realização e padronização, a dosagem da ADA representa uma importante ferramenta para o diagnóstico da TB pleural. ADENOSINA DEAMINASE A Adenosina deaminase (ADA) é uma enzima Lisozina A lisozina é uma enzima bacteriolítica originada da Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 55 decomposição dos neutrófilos e monócitos e foi descrito o aumento da sua atividade em várias doenças granulomatosas, entre elas, a tuberculose.14 Os trabalhos na literatura testando a sua utilidade no diagnóstico da tuberculose pleural apontam para uma sensibilidade que varia entre 66% e 100%, com especificidade entre 87,5% e 94%.14,15 Contudo, a dosagem de lisozima não é rotineira na maioria dos laboratórios clínicos e ultimamente com o surgimento de outros marcadores não está mais em uso na maioria dos centros de pesquisa. Reação em Cadeia da Polimerase A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) é um dos métodos utilizados nos testes de amplificação de ácidos nucléicos, baseados na detecção de pequenas seqüências de material genético (RNA ou DNA) e de sua amplificação in vitro. É um método rápido e altamente específico, porém passível de contaminação, sendo esta uma das principais causas de falsos-positivos.6 Uma outra causa de resultado falso-positivo refere-se aos pacientes infectados (PPD positivos) pelo M tuberculosis que não necessariamente apresentam atividade da doença.6 Um outro fator limitante no seu desempenho é a própria sensibilidade do teste, que sofre interferência do número de bacilos presentes e viáveis no líquido pleural e da padronização da técnica. A sensibilidade da PCR no líquido pleural varia de 13% a 69%, com especificidade entre 80% e 97%.6,16 Entretanto, no fragmento pleural o desempenho deste exame é superior, com sensibilidade estimada de 89% a 90% e especificidade de 100%. 17 Apesar da boa faixa de sensibilidade e especificidade descritas para o método, principalmente no fragmento pleural, não é um exame disponível em grande parte dos laboratórios, quer seja pelo alto custo que apresenta, quer seja pela falta de laboratórios equipados para a realização de testes de biologia molecular. Interferon γ O Interferon γ é uma citocina produzida pelos linfócitos T CD4 ativados. Após o contacto com o M tuberculosis, habitualmente ocorre aumento na produção desta citocina, o que a torna um parâmetro laboratorial adicional para o diagnóstico de tuberculose pleural.18 Na metanálise realizada por Greco e colaboradores, foram selecionados 13 artigos (n= 1189 casos) que utilizaram o interferon gamma no diagnóstico do derrame pleural; a sensibilidade diagnóstica variou entre 57% a 100% (87%) e a especificidade, de 90% a 100% (97%). 17 Dados concordantes foram publicados por Jing Jiang numa outra metanálise, que demonstrou uma sensibilidade de 89% e especificidade de 87%.19 Quando se compara a eficiência do Interferon γ contra adenosina deaminase no diagnóstico de tuberculose pleural, encontram-se semelhantes valores de sensibilidade. Entretanto, uma maior especificidade é atribuída ao Interferon γ uma vez que esta citocina não estaria elevada 56 nos derrames pleurais secundários à artrite reumatóide e a neoplasias sólidas. Embora com desempenho altamente satisfatório para o diagnóstico de TB pleural, este teste laboratorial tem como maior limitação seu alto custo. Sharma e colaboradores numa análise de custo/efetividade demonstraram que a utilização do interferon para o diagnóstico de um único paciente com tuberculose tem o mesmo custo do tratamento completo de seis pacientes, não justificando deste modo o seu uso no diagnóstico diferencial dos derrames pleurais.20 Biópsia Pleural A biópsia pleural percutânea seja por agulha de Cope (usada no nosso meio) ou Abrams faz parte do arsenal de investigação dos exsudatos pleurais e durante muito tempo foi o principal exame para a confirmação diagnóstica de tuberculose pleural. Apesar de apresentar uma excelente especificidade, sua sensibilidade pode variar de 45 a 80%. Entretanto, enquanto nas doenças neoplásicas o aumento do número de fragmentos colhidos (durante o mesmo procedimento ou em biópsias subseqüentes) melhora o rendimento diagnóstico, isto não ocorre na tuberculose.3-5, 21 Embora seja um método invasivo de baixa morbidade e Chakrabarti e colaboradores 22 terem demonstrado que a experiência prévia do médico que realiza o procedimento não influencia na qualidade do fragmento pleural, Patis e colaboradores23 revelaram que menos de 50% dos médicos que participaram de programas de treinamento nos Estados Unidos encontram-se aptos para realizar a biópsia pleural. A proliferação de novos marcadores com eficiência diagnóstica semelhante ou superior torna premente uma análise mais cuidadosa do uso rotineiro da biópsia pleural, reservando-a para os exsudatos pleurais indeterminados. CONCLUSÃO Apesar da ADA e do interferon não serem marcadores específicos de derrame pleural tuberculoso, quando interpretados conjuntamente aos achados clínicos são excelentes ferramentas diagnósticas. No nosso meio, mediante uma suspeição clínica, exsudatos linfocíticos com valores da ADA superiores a 40U/L e escassez de células mesoteliais são altamente sugestivos de TB. Nas outras situações clínicas que também podem cursar com ADA elevada, uma história clínica prévia de artrite reumatóide, um derrame pleural com predomínio neutrofílico ou com aspecto purulento, uma citologia oncótica positiva ou suspeita de células neoplásicas, bem como a presença de linfoadenomegalias ou massas podem nos alertar para outros possíveis diagnósticos. Neste contexto concluímos que, em nosso meio, a dosagem rotineira da ADA associada à análise citológica e Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 bioquímica do líquido pleural deve ser utilizada na investigação dos derrames pleurais sugestivos de TB, reservando a biópsia para os casos no qual os níveis da adenosina deaminase suscitem dúvidas. 16. REFERÊNCIAS 17. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. World Heath Organization. Global Tuberculosis Control 2008 – Surveillance, planning, financing. 1st WHO Report 2008. WHO/HTN/TB/2008.393, p. 17-37. Antonangelo L, Vargas FS, Seiscento M et al. Clinics 2007; 62(5): 585-90. Wai W, Yeung CH, Yuk-Lins, et al. Diagnosis of tuberculous pleural effusion by the detection of tuberculo estearic acid in pleural aspirates. Chest 1991; 100:1261-3. Escudero -Bueno C, Garcia-Clemente M, Cuesta-Castro B, et al. Cytologic and bacteriologic analyzes of fluid and pleural biopsy with cop’s needle. Arch Intern Med 1990; 150:1190-4. 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Combined Use of the Polymerase Chain Reaction and Detection of Adenosine Deaminase Activity on Pleural Fluid Improves the Rate of Diagnosis of Pleural Tuberculosis. Chest 2003;124:909-14. Takagi, N, Hasegawa, Y, Ichiyama, S, et al. Polymerase chain reaction of pleural biopsy specimens for rapid diagnosis of tuberculous pleuritis. Int J Tuberc Lung Dis 1998;2:338-41. Aoe K, Hiraki A, Murakami T et al Diagnostic Significance of Interferon-{gamma} in Tuberculous Pleural Effusions. Chest 2003;123:740-4. Jing Jiang, Huan-Zhong Shi, Qiu-Li Liang et al. Diagnostic Value of Interferon-ã inTuberculous Pleurisy* A Metaanalysis. Chest 2007; 131:1133-41. Sharma SK, Banga A. Pleural fluid interferon-gamma and adenosine deaminase levels in tuberculosis pleural effusion: a cost effectiviness analysis. Clin Lab Anal 2005;19(2):40-6. Jiménez D, Pérez-Rodriguéz E, Diaz G et al. Determing the optimal number of specimens to obtain with needle biopsy of the pleura. Respir Med 2002;96:14-7. 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Roberta Karla Barbosa Sales [email protected] TRANSPLANTE PULMONAR NO ESTADO DE SÃO PAULO GRUPO DE TRANSPLANTE PULMONAR INCOR – HCFMUSP Rua Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 – Bloco II 2° andar- sala 9 São Paulo- SP Telefone: (11) 3069 5248 GRUPO DE TRANSPLANTE PULMONAR Escola Paulista de Medicina – UNIFESP Rua José de Magalhães, 340 São Paulo – SP Telefone: (11) 5549 1830 e-mail: [email protected] GRUPO DE TRANSPLANTE PULMONAR Hospital Israelita Albert Einstein Unidade Vila Mariana Rua Madre Cabrini, 462 - Vila Mariana Telefone: (11) 5089-0880 / 5089-0879 57 ARTIGOS EM DESTAQUE AUTORES: Viviane Rossi Figueiredo1; Hélio Minamoto1 SERVIÇO: Serviço de Endoscopia Respiratória – Disciplina de Pneumologia e Disciplina de Cirurgia Torácica HCFMUSP 1 2 Diretora Técnica do Serviço de Endoscopia Respiratória do HCFMUSP Médico assistente da Disciplina de Cirurgia Torácica- HCFMUSP INTRODUÇÃO Tuberculose é uma das maiores causas infecciosas de morbidade e mortalidade do mundo. Mais de 8 milhões de novos casos de tuberculose ocorrem anualmente, levando a 2 milhões de mortes/ano. Muitos desses pacientes desenvolvem sequelas da tuberculose pulmonar, dentre elas a estenose traqueobrônquica. A estenose de via aérea pós tuberculose é uma questão importante da evolução pré e pós tratamento antituberculose, podendo o paciente desenvolver quadros de infecções pulmonares obstrutivas e insuficiência respiratória alta. Os mecanismos de desenvolvimento da patologia não são totalmente conhecidos, assim como a sua abordagem terapêutica. Muito tem sido discutido a respeito do tratamento endoscópico com dilatações e colocação de próteses específicas, mas ainda não é prática disseminada na condução terapêutica desses casos. ARTIGO 1. Fatores preditores de estenose persistente de via aérea em pacientes com tuberculose endobrônquica Predictors of persistent airway stenosis in patients with endobronchial tuberculosis Um SW, Yoon YS, Lee SM et al Int J Tuberc Lung Dis 2007; 11 (12): 57-62 Tuberculose endobrônquica (TBEB) é definida como infecção da árvore traqueobrônquica com confirmação microbiológica ou evidência histopatológica. Embora tenha sido relatada em 10 a 37 % dos pacientes com tuberculose pulmonar, sua patogênese não está totalmente esclarecida e sua abordagem terapêutica não estabelecida. Erradicar o bacilo da tuberculose e prevenir sequelas traqueobrônquicas como a estenose são as principais e primeiras condutas a serem adotadas na TBEB. Embora a antibioticoterapia específica para tuberculose seja efetiva no controle da infecção, a mesma não previne sequelas da TBEB. A administração de corticóides tem sido utilizada para evitar a evolução para estenoses, mas sua efetividade é maior quando a administração é sistêmica em comparação à administração oral. O objetivo desse estudo foi avaliar os vários fatores preditivos que contribuem para a estenose traqueobrônquica persistente em pacientes com TBEB após antibioticoterapia antituberculose. Estudo retrospectivo, realizado em dois hospitais universitários na Coréia do Sul, de 1997 a 2005, totalizando 214 pacientes com diagnóstico de TBEB, com acompanhamento broncoscópico e tratamento específico completo para tuberculose. O diagnóstico de TBEB foi confirmado por microbiologia, histopatologia e por broncoscopia que revelou lesões traqueobrônquicas 58 compatíveis com tuberculose. As alterações endoscópicas foram classificadas quanto ao tipo, intensidade e localização da lesão, de acordo com estudos prévios. Os resultados obtidos quanto aos achados broncoscópicos foram: lesão caseosa ativa em 46,3% dos casos, lesão caseosa ativa associada a fibroestenose em 17,9% e fibroestenose em 9%. Quanto à localização, a apresentação foi em brônquio segmentar em 6%, brônquio lobar em 11,9%, brônquio principal em 47,8% e traquéia em 34,3% dos casos. A intensidade da estenose foi classificada em leve (43,3%), moderada (17,9%) e grave (38,8%). Após o tratamento com antibioticoterapia específica para tuberculose,Cocorreram mudanças na avaliação broncoscópica com melhora em 58,2% e piora em 1,5% dos casos. Em 40,3% dos casos não houve mudança endoscópica depois do tratamento quimioterápico. Utilizando-se análise univariada, a estenose de via aérea foi associada com múltiplos fatores. Idade > 45 anos foi mais comum no grupo “sem melhora” (42,9%) que no grupo “com melhora” (17,9%, p= 0,026). O uso de corticóide oral (prednisolona > 30 mg/dia) não apresentou diferença entre os dois grupos. Lesão caseosa ativa sem fibroestenose foi mais comum no grupo “com melhora” do que no “sem melhora” (59% vs. 28,6%, p=0,014). Lesão fibroestenosante pura ou associada a lesão caseosa ativa foi mais comum no grupo Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 “sem melhora” do que no grupo “com melhora” (46,4% vs. 17,9%, p= 0,016). Alterações endoscópicas observadas na broncoscopia antes do tratamento, como estenose moderada e grave de traquéia, brônquios fontes ou brônquio intermédio foram mais comuns no grupo “sem melhora” do que no grupo “com melhora” (57,1% vs. 28,2%, p=0,017). Queixa principal com duração maior que 90 dias antes da antibioticoterapia para tuberculose foi mais freqüente no grupo “sem melhora” que no grupo “com melhora” (64,3% vs 30,8%, p=0,007). Na análise de regressão logística multivariada reanalisandose os fatores que foram significantes na análise univariada, foram identificados como fatores preditores independentes da estenose de via aérea persistente: idade > 45 anos, alteração broncoscópica fibroestenosante e queixa principal com duração maior que 90 dias antes do tratamento antituberculose. O mecanismo exato de resposta, de acordo com os tipos de lesão observadas à broncoscopia na TBEB, ainda não está esclarecido. Também o uso de corticóides sistêmicos na prevenção de lesões estenosantes continua controverso, pois vários estudos na literatura relatam resultados positivos enquanto outros relatam resultados negativos. ARTIGO 2 - Uso de próteses de silicone na abordagem da estenose traqueobrônquica pós tuberculose Use of silicone stents for the management of post-tuberculosis tracheobronchial stenosis Ryu YJ, Kim H, Yu CM et al Eur Respir J 2006; 28:1029-1035 Estenose traqueobrônquica pós tuberculose (ETBPT) é a causa mais comum de estenoses benignas em áreas endêmicas. Mesmo após a administração de medicação específica anti-tuberculose, alguns casos de tuberculose endobrônquica podem evoluir para obstrução de vias aéreas. Ressecção cirúrgica após a erradiacação do M tuberculosis tem sido o tratamento de escolha na maioria dos pacientes com esse tipo de estenose. Próteses traqueais e brônquicas têm sido desenvolvidas para o tratamento da estenose de via aérea evitando-se a morbidade de uma cirurgia aberta. Entretanto, o uso de próteses metálicas têm resultado várias complicações irreversíveis. A utilização da broncoscopia intervencionista com a colocação de próteses de silicone tem trazido uma opção para o tratamento desses pacientes. O objetivo desse estudo foi investigar o papel da broncoscopia intervencionista na abordagem das estenoses traqueobrônquicas pós tuberculose. Estudo retrospectivo conduzido em hospital de referência terciária na Coréia do Sul, avaliou 80 pacientes com estenose traqueobrônquica pós tuberculose, que se submeteram à broncoscopia rígida com dilatação por balão ou ressecção por laser, entre janeiro de 2000 e dezembro de 2003. Esses pacientes foram seguidos por uma média de 41 meses. Foram indicadas broncoscopias intervencionistas em pacientes com estenose traqueobrônquicas diagnosticadas por tomografia computadorizada com reconstrução 3 D volumétrica e/ou broncoscopia, segundo as seguintes indicações: 1- deterioração progressiva dos sintomas respiratórios como dispnéia progressiva; 2- pneumonia recorrente pós obstrução (> 2 anos) ou 3- colapso agudo completo de um pulmão com redução da função pulmonar Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Prótese de Dumont (BryanCorp, Woburn, MA, USA) ou prótese Natural (TNO Co., Seoul, South Korea) de 12 a 14 mm de diâmetro foram utilizadas para estenoses traqueais e de 10 mm para estenoses brônquicas. Tamanho e tipo adequados foram selecionados caso a caso. A técnica intervencionista foi realizada segundo a padronização de Colt, Dumont e Kim. Após indução anestésica, os pacientes foram submetidos a broncoscopia rígida (Hopkins, Karl-Storz, Tuttlingen, Germany) e broncoscopia flexível associadas para avaliação da estenose de via aérea. Em seguida foi realizada dilatação por balão e desobstrução a laser e colocação de prótese de silicone. Indicações para a colocação de próteses de silicone: 1- malácea > 180° da luz dilatada; 2- segmento estenótico maior que 2 cm ou 3- recorrência de estenose em 1/3 depois da dilatação. Após o procedimento, os pacientes tinham alta hospitalar em 24 h e realizavam RX de tórax controle e espirometria em 1, 3, 6, 9 e 12 meses após, e depois a cada 6 meses. Todos os pacientes foram acompanhados pelo menos 2 anos. A média do diâmetro da luz traqueal foi 9,5 (8 – 11) mm e da luz brônquica foi 5 (4 – 6) mm, medidas por broncoscopia. A dilatação por balão foi o método mais comum para o tratamento endoscópico de estenose (77 de 109 casos). A colocação de próteses, após dilatação traqueobrônquica foi realizada em 75 de 80 casos (93,7%). Alívio subjetivo da dispnéia ocorreu em 70 de 80 pacientes (88%). Após a intervenção, o diâmetro médio da luz traqueal aumentou de 9,5 para 10 mm, enquanto da luz brônquica aumentou de 5 para 7 mm. A duração média de permanência das próteses foi de 24 meses (1-50). As próteses puderam ser removidas em 54 de 75 pacientes (72%) após uma média de 14 meses. Do grupo de 54 59 pacientes em que a prótese foi removida, 49 tiveram melhora clínica durante um acompanhamento de 36 meses. Os 5 pacientes restantes apresentaram recorrência da estenose com necessidade de novo procedimento com colocação de nova prótese. Três pacientes não tiveram resposta após o procedimento e tiveram que ser submetidos à ressecção cirúrgica envolvendo anastomose término-terminal. A maioria dos pacientes apresentou complicações menores como tosse, rolhas de secreção e escarro hemoptóicos. Entretanto, as próteses foram bem toleradas. Oito de 80 pacientes (10%) apresentaram complicações maiores como sangramento maciço (1 paciente) que reverteu após ventilação mecânica, pneumotórax (5 pacientes) e pneumomediastino (2 pacientes). Todos reverteram o quadro de complicação após tratamento específico. Complicações tardias, como migração das prótese (51%), presença de tecido de granulação na borda da prótese (49%) e reestenose (40%) foram comuns e foram tratadas com novo procedimento intervencionista. Nenhuma diferença significativa foi observada na média de idade dos pacientes, sexo, atividade de tuberculose, localização da estenose e tipo de prótese utilizada (Dumon ou Natural). Também não foi observada diferença significativa nas complicações observadas com o tipo de prótese utilizada. Maior freqüência de re-estenose foi observada em pacientes com tuberculose em atividade em comparação a aqueles com tuberculose não ativa (63 vs 37%, p= 0,005). Esse estudo demonstrou que o procedimento de broncoscopia intervencionista, incluindo a colocação de próteses de silicone, pode ser um método de tratamento em pacientes com ETBPT, com bons resultados. ARTIGO 3 – Broncoscopia Intervencionista na Abordagem da Estenose de Via Aérea devido a Tuberculose Traqueobrônquica Interventional Bronchoscopy in the Management of Airway Stenosis Due to Tracheobronchial Tuberculosis Iwamoto Y, Miyazawa T, Kurimoto N et al CHEST 2004 Oct;126(4):1344-52. É fundamental o acompanhamento de pacientes com tuberculose endobrônquica, pois proporcionam a identificação de sequelas como a estenose de vias aéreas. Esta frequentemente pode ocasionar quadros de pneumonia obstrutiva e dispnéia de grau variável. O tratamento de escolha para esses casos tem sido a ressecção cirúrgica e a reconstrução por broncoplastia. Mais recentemente, técnicas de broncoscopia terapêutica têm sido desenvolvidas incluindo a colocação endoscópica de próteses, desobstrução por laser, plasma de argônio ou crioterapia, dilatação mecânica ou com balão e avaliação por ultra-sonografia endobrônquica. O objetivo deste estudo foi analisar o diagnóstico e tratamento da tuberculose endobrônquica através de métodos de broncoscopia diagnóstica e terapêutica. O estudo foi realizado de janeiro de 1991 a janeiro de 2002 em dois centros japoneses, totalizando 30 pacientes com diagnóstico de tuberculose traqueobrônquica (TTB). Deste grupo, 11 se submeteram a broncoscopia intervencionista, incluindo colocação de próteses, ressecção por laser ou plasma de argônio, dilatação por balão, crioterapia e ultra-sonografia endobrônquica (EBUS). Um paciente com obstrução brônquica completa necessitou se submeter a pneumectomia esquerda. Seis pacientes se submeteram a colocação de prótese (Dumon) pós dilatação com balão, enquanto 5 pacientes realizaram apenas dilatação com balão. As principais 60 complicações do uso da prótese de Dumon foram migração e formação de tecido de granulação, necessitando remoção da prótese ou seu reposicionamento ou aplicação de crioterapia em granuloma na borda da prótese. Dois pacientes que haviam se submetido à colocação de próteses Ultraflex anteriormente, necessitaram realizar troca para prótese de Dumon, devido à deterioração do metal e formação de tecido de granulação com aparecimento de tosse crônica incoercível. Em quatro pacientes, foi observada destruição da cartilagem brônquica ou espessamento da parede durante a realização do EBUS. Broncoscopia intervencionista deve ser considerada na abordagem da estenose traqueobrônquica pós tuberculose. Próteses de Dumon sugerem ser mais apropriadas, pois sua remoção e recolocação são sempre possíveis. São consideradas, na literatura, as mais indicadas para esses casos, pois são mais baratas, de fácil recolocação e retirada se necessário. Também estão disponíveis próteses de Dumon em Y que são indicadas em casos com quadros complexos com mais de um sítio de estenoses Próteses Ultraflex não devem ser usadas nesses casos, pois são de difícil remoção e a segurança do seu uso, a longo prazo, é incerta. EBUS pode acrescentar informações para a avaliação da parede traqueobrônquica no acompanhamento das estenoses pós tuberculose, havendo concordância desses achados com a análise histológica. Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 NOTÍCIAS 24 DE MARÇO Dia Mundial da Tuberculose A Tuberculose não é uma doença individual, mas sim social que se espalha através do ar e contamina outros membros da sociedade sem o seu conhecimento ou consentimento. É uma doença passível de prevenção e cura, desde que diagnosticada e tratada adequadamente dependendo, portanto, de um adequado e responsável sistema de saúde (Sbarbaro,1997). Todos os anos são registrados em torno de 8 milhões de novos casos de tuberculose em todo o mundo. Minorias étnicas, idosos e imigrantes estrangeiros são os mais atingidos nos países desenvolvidos, enquanto que nos países em desenvolvimento o predomínio é da população economicamente ativa. O Dia Mundial da Tuberculose foi lançado em 1982 pela Organização Mundial da Saúde em homenagem a Robert Koch que, em 24 de março de 1882, anunciou a descoberta da causa da tuberculose. Nesta época, 1 em cada 7 mortes na Europa e nas Américas era decorrente da TB. Atualmente, esta data é uma ocasião de mobilização mundial, nacional, estadual e local que busca envolver todas as esferas de governo e setores da sociedade na luta contra a doença. A Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, em 2009, estará participando dessa mobilização em parceria com as Secretarias Estadual e Municipais de Saúde em diversas cidades e com a sociedade civil, além da divulgação de informações sobre o diagnóstico, tratamento e recursos disponíveis para a população pelos meios de comunicação. Sidney Bombarda Comissão de Tuberculose da SPPT [email protected] Prêmio Destaque em transplante e captação de órgãos Com a presença do governador José Serra foi entregue no dia 17 de fevereiro de 2009 o Prêmio Destaque em Transplante e Captação de Órgãos. A cerimônia aconteceu no auditório “José Ademar Dias” da Secretaria da Saúde, em São Paulo. Além do governador, estiveram presentes o secretário da Saúde, dr. Luiz Roberto Barradas Barata; o coordenador da Central de Transplantes, dr. Luiz Pereira e o ex-ministro da Saúde, prof. Adib Jatene. Eles premiaram as equipes de São Paulo que se destacaram em Transplantes em 2008. O Incor recebeu o prêmio em Transplantes de Pulmão pela realização de 23 transplantes em 2008, ultrapassando a marca total de 100 transplantes realizados. O Prêmio foi entregue para a equipe Multidisciplinar de Transplante de Pulmão do Incor HCFMUSP. Essa premiação tem por objetivo incentivar o trabalho dos profissionais da área e estimular o crescimento no número de doadores e de cirurgias. Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 61 NOTÍCIAS Jornada de Marketing e Finanças Médicas Uma das principais missões da SPPT é promover encontros científicos através das jornadas periódicas e do Congresso bienal. No último congresso, dedicamos algumas horas para apresentar um tema não científico, mas que foi bastante prestigiado, relacionado a marketing de consultório e defesa profissional. A sala lotada e o interesse demonstrado pelos participantes durante a discussão motivaram a SPPT a realizar a primeira jornada exclusivamente dedicada ao assunto. A Jornada de Marketing Médico & Defesa Profissional está agendada para o dia 25 de abril de 2009 no Hotel Matsubara – SP. Os assuntos serão discutidos por profissionais da área, que darão uma visão geral sobre cada tema, complementado por um colega médico pneumologista que discutirá aspectos específicos da nossa realidade. Em quatro horas de jornada discutiremos os quatro tópicos a seguir descritos: 1-) Marketing Médico: Atitudes e mudanças que podem ser aplicadas em clínicas e consultórios, dentro dos limites éticos estabelecidos, que melhoram a relação com os nossos pacientes e abrem perspectivas além do horizonte estreito que enxergamos. 2-) Finanças de consultórios e pequenas empresas: A partir de quando vale a pena constituir uma pessoa jurídica? Qual o melhor regime tributário? Como estabelecer um contrato social entre sócios que evite problemas futuros? Qual a importância do controle (balanço) mesmo que este não seja exigido por lei? 3-) Informática: A área da saúde sofre de verdadeira alergia à informática, apesar dos nossos processos serem repetitivos e lidarmos com uma quantidade enorme de dados! O uso racional de ferramentas genéricas e específicas muda radicalmente as rotinas que roubam o nosso tempo e produtividade. 4-) Noções de Direito: Nas últimas décadas os pacientes se tornaram muito mais informados e como cidadãos reconhecem cada vez mais seus direitos de questionar os serviços que prestamos. Qual a situação atual nos Conselhos e na Justiça? Como podemos nos proteger de problemas? O consentimento informado ajuda? Vale a pena fazer seguro profissional? Esperamos com esta manhã estimular os colegas a estudarem respostas para questões que os cursos médicos não se propuseram a ensinar, apesar da sua importância para que a boa medicina seja praticada. Marcelo Gervilla Gregório José Eduardo Gregório Rodrigues Miguel Lia Tedde Pneumologia Ambiental De 4 a 6 de junho de 2009, acontece em Cuiabá, Mato Grosso, o VI Congresso de Pneumologia e Tisiologia do Centro-Oeste e a II Jornada de Fisioterapia Respiratória do Centro-Oeste. O evento terá a apresentação de temas relevantes da especialidade que pretendem destacar a questão ambiental e o estudo das doenças relacionadas à qualidade do ar respirado. A programação completa do evento será abrangente, delineada com a intenção de dar aos participantes a oportunidade de atualização, reciclagem e discussão da questão ambiental. Informações pelo site: wwwpneumoambiental.com.br. 62 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Dia 25/04/2009 Informações: 0800 171618 c/ Suzi ou Wagner PROGRAMA JORNADA DE MARKETING E FINANÇAS MÉDICAS Local: Matsubara Hotel Rua Cel. Oscar Porto, 838 Paraíso São Paulo/SP www.matsubarahotel.com.br 8h15 - 8h20: PARTE l 8:20 -10:00h 8:20h - 8:50h: 8:50h - 9:20h: 9:20h - 10:00h: Abertura José Eduardo Delfini Cançado (Presidente da SPPT) Ética e Marketing Médico Coordenador: José Eduardo Gregório Rodrigues Marketing médico a luz da Ética Objetivos: • Traçar um panorama do mercado de trabalho do médico no Brasil • Abordar o novo código de ética médico • Limites éticos do marketing médico Palestrante: Edson de Oliveira Andrade (Presidente do Conselho Federal de Medicina) Relação do médico com a indústria farmacêutica Objetivos: • Limites éticos do médico • Relação entre a indústria farmacêutica e médicos • Novas regulamentações da ANVISA Palestrante: Roberto Luiz D’ Ávila (Vice-Presidente do Conselho Federal de Medicina) Responsabilidade Civil do Médico Objetivos: • Panorama atual das demandas judiciais relacionadas à área de saúde • Consentimento informado • Controvérsia: Seguro de responsabilidade civil Palestrante: José Marcelo Martins Proença (Professor Doutor da Faculdade de Direito da USP) Discussão: 10:00 -10:20h Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Intervalo: 10:20h -10:40h PARTE II 10:40 - 13:00h Informática e Contabilidade Médica Coordenador: Marcelo Gervilla Gregório 10:40h - 11:20h Informática no Consultório Objetivos: • Sistemas de Informação aplicados à pequenas empresas médicas • Sistema BI (Business Intelligent) • Questões éticas e de segurança do uso da informática em saúde Palestrante: Alexandre da Silva Furtado Amaral (Professor do MBA da FGV) 11:20h - 12:00h Marketing Médico Objetivos: • Ferramentas que podem ser aplicadas na área médica • Relação interpessoal (rede de trabalho) Palestrante: Áureo Vandré Trancoso Morada (Assessor de Marketing da Medley) 12:00 - 12:40h: Contabilidade Médica Objetivos: • Livro caixa • Quando e como montar uma pessoa jurídica • Redução de carga tributária • Controle financeiro Palestrante: Olavo Romão da Silva (Consultor em Ciências Contáveis) Discussão: 12:40 - 13:00h TAXA DE INSCRIÇÃO Até 17/04/2009 Sócio SPPT R$ 50,00 Res. Sócio SPPT R$ 30,00 Não Sócio R$ 100,00 Local do Evento R$ 75,00 R$ 45,00 R$ 150,00 63 NOTÍCIAS EVENTOS NAS REGIONAIS REGINAL SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Data: 26/03 às 20h Tema: “Poluição Atmosférica, Aquecimento Global e Saúde Humana” Palestrante: José Eduardo Delfini Cançado Local: Intervale Othon Travel Rua Lupércio Antonio dos Santos - 31 - Vila Bethânia São José dos Campos - (12) 3925-5500 Data: 21/maio Tema: Radiologia em Doenças Fúngicas Palestrante: Dr. Gustavo Meirelles Data:18/junho Tema: Doenças Intersticiais Palestrante: Dra. Mariana Silva Lima CAMPINAS Data: 25 de março às 20h Tema: Asma e Saúde Pública Palestrante: Prof. Dr.Alcindo Cerci Neto - Fac. de Londrina Local: sede da Sociedade Rua Delfino Cintra, em Campinas Será realizada confraternização após a palestra Data: Dia 22 de abril, às 19h30 Tema: Suporte Pressórico Não Invasivo e Ventilação Mecânica Domiciliar Demonstração prática do manejo dos aparelhos, cedidos para o evento pela VITALAIRE Palestrante:Ilma Ap. Paschoal Local: Rua Delfino Cintra, em Campinas REGIONAL DE MARÍLIA Data: 06/agosto Jornada de Infecções Respiratórias Data: 27/agosto Discussão de Casos II Data: 24/setembro Tema: Avaliação Pré-operatória em Asma / DPOC / Gastroplastia Palestrante: Dra. Sônia Faresin Data: 01/outubro Discussão de Casos III Data: 29 e 30 de maio Tema: Hipertensão Pulmonar Palestrantes: Carlos Jardim e Hugo Hyung Bok Yoo Local: Salão Nobre da FAMEMA REGIONAIS SPPT 2008/2009 REGIONAL ABC Av. Príncipe de Gales, 821 - Príncipe de Gales 09060-650 - Santo André - Telefone: (11) 4993-5469 [email protected] Data:22/outubro Tema: (Microbiologia / Oxigenoterapia) REGIONAL ARARAQUARA / BAURU / BOTUCATU Av. Prof. Dorival De Oliveira, 77 - Vila João Godoi 14802-378 - Araraquara - Telefone: (16) 3336-8953 [email protected] Data: 12/novembro Discussão de Casos IV REGIONAL CAMPINAS Zeferino Vaz, S/N - Barão Geraldo - 13086-002 - Campinas Telefone: (19) 3521-7907 - [email protected] Confraternização: 27/novembro REGIONAL MARÍLIA Rua 24 de dezembro, 435 - 17500-060 - Marília Telefone: (14) 3433-3412 - [email protected] REGIONAL RIBEIRÃO PRETO Reuniões - última quinta-feira do mês às 20h00 Local: Chopp Time Street - Av. Independencia, 2.579 Piso Superior - (16 ) 3911 7898 REGIONAL SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Data: 23 de março às 20h Tema: O dia a dia da Cirurgia Torácica Palestrante: Aldemir Bilaqui Local: Ultra X de São José do Rio Preto Rua Cila, 3033 - (17) 4009-4444 64 REGIONAL RIBEIRÃO PRETO Av. Bandeirantes, 3900 - 14040-030 - Ribeirão Preto Telefone: (16) 3602-2631 - [email protected] REGIONAL SANTOS: Av. Ana Costa, 484 Cj. 622 - Gonzaga - 11060-001 - Santos Telefone: (13) 3284-4484 - [email protected] REGIONAL SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Av. Vinte e Três, 1205 - 14780-000 - Barretos Telefone: (17) 3322-8544 - [email protected] REGIONAL SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Rua Cel. José Monteiro, 740 - 12243-730 - São José dos Campos Telefone: (12) 3922-5935 - [email protected] Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 NOTÍCIAS SPPT realiza sua 100a. Pizza Cirúrgica Programa de Educação Continuada em Tabagismo SPPT/ SOCESP/APM Cronograma Presidente Prudente São Paulo Ribeirão Preto Campinas São Bernardo do Campo São Caetano do Sul Guarulhos Marília Jundiai Barueri Osasco Cotia Bauru Botucatu Avaré São José dos Campos Piracicaba Americana Limeira Araçatuba São José do Rio Preto Catanduva São Paulo Sorocaba Santos Guarujá Taubaté Franca Araraquara São Carlos Realizada no último dia 05 de março de 2009, na Charles Pizza Grill, em São Paulo, a 100ª Reunião da Pizza Cirúrgica da SPPT. No evento, que contou com a presença de 120 participantes, entre médicos e residentes, foram apresentados os casos do Serviço de Cirurgia Torácica da FCM da Santa Casa de São Paulo. Por ocasião da 100ª reunião, foi feita uma homenagem ao Dr. Nagib Curi, símbolo da Reunião de Discussão de Casos: “Reunião da Pizza” homenagem do Departamento de Cirurgia Torácia da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia. Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 25/Abr 09/Mai 09/Mai 23/Mai 23/Mai 23/Mai 30/Mai 30/Mai 20/Jun 20/Jun 20/Jun 20/Jun 27/Jun 27/Jun 27/Jun 27/Jun 01/Ago 01/Ago 01/Ago 01/Ago 15/Ago 15/Ago 29/Ago 19/Set 19/Set 19/Set 26/Set 26/Set 03/Out 03/Out DATAS COMEMORATIVAS 24 DE MARÇO Dia Mundial do Combate à Tuberculose 07 DE MAIO Dia Mundial da Asma 31 DE MAIO Dia Mundial sem Tabaco 21 DE JUNHO Dia Nacional da Asma 65 NOTÍCIAS PROGRAMAÇÃO ANUAL SPPT MARÇO AGOSTO 24 31 06 09 15 20 25 29 Dia Mundial de Combate à Tuberculose Aula Depto. de Fisioterapia ABRIL 02 X Curso Nacional de Atualização em Pneumologia - SBPT Pizza Cirúrgica Páscoa Tiradentes Jornada Paulista de Finanças e Marketing Médico Aula Depto. de Fisioterapia 02 12 21 25 28 29/04 a 02/05 Congresso Brasileiro de Cirurgia Torácica Pizza Cirúrgica Dia dos Pais Jornada Paulista de Emergências Respiratórias Pizza Clínica Aula Depto. de Fisioterapia Dia Nacional de Combate ao Fumo SETEMBRO 03 07 12 a 16 29 Pizza Cirúrgica Independência ERS Aula Depto. de Fisioterapia OUTUBRO MAIO 01 02 07 10 15 a 20 26 28 31 01 09 a 12 12 15 18 27 Dia do Trabalho Dia Mundial da Asma Pizza Cirúrgica Dia das Mães ATS Aula Depto. de Fisioterapia Pizza Clínica Dia Mundial sem Tabaco NOVEMBRO JUNHO 02 04 06 11 11 a 13 21 30 Pizza Cirúrgica Congresso Brasileiro - Asma / Tabagismo / DPOC Nossa Senhora Aparecida Pizza Clínica Dia do Médico Aula Depto. de Fisioterapia Dia do Pneumologista Pizza Cirúrgica Jornada Paulista de Sono Corpus Christi XII Congresso Brasileiro de Pneumologia Pediátrica Dia Nacional da Asma Aula Depto. de Fisioterapia 02 31/10 a 05/11 05 15 17 17 19 a 22 24 27 Finados CHEST Pizza Cirúrgica Proclamação da República Dia Nacional de Combate à Tuberculose Dia Mundial da DPOC XIII Congresso Paulista de Pneumologia e Tisiologia Aula Depto. de Fisioterapia Dia Combate ao Câncer JULHO 02 Pizza Cirúrgica 13 66 Congresso Paulista de Pneumologia e Tisiologia 19 a 22 de novembro de 2009 Centro FeComércio de Eventos - São Paulo Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 PRÓXIMOS EVENTOS Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 67 HISTÓRIA DA PNEUMOLOGIA Os sanatórios e seu tempo Sanatorium (do latim sanare – curar) AUTOR: Douglas Carlyle Belculfiné1 SERVIÇO: Grupo de Vigilância Epidemiológica - GVE XXVII - São José dos Campos 1 Médico Pneumologista. Doutor em Saúde Pública FSP/USP A tuberculose vem acompanhando a história do homem há milênios. Esqueletos e múmias encontrados no antigo Egito em 5000 aC e no Peru em 1100 aC já comprovavam a presença da doença entre os homens.1 A partir da revolução industrial e do êxodo rural, em finais do século XVIII, ocorreu uma concentração maior de indivíduos nas cidades, que não apresentavam uma política sanitária eficaz para ordenar o seu espaço físico, propiciando condições para o alastramento de doenças infecciosas, dentre estas, a tuberculose.2 Mesmo presente desde a era pré-cristã, desconhecia-se sua etiologia, e, por sua característica potencialmente letal, havia uma busca incessante pela cura, sendo utilizados os mais variados tipos de tratamentos, chegando-se até aos mais bizarros e agressivos.3 Na Roma Imperial, muitos já sugeriam o tratamento climático, encaminhando doentes para as regiões de clima quente e seco, encontrados na Palestina, Sicília ou Egito.1 A origem da criação de locais de concentração para tratamento de doentes com tuberculose não é precisa. Há referências à provável existência de um “sanatório” no antigo Egito, no delta do rio Nilo, pelo achado de inúmeros esqueletos com erosões típicas de lesões tuberculosas naquele local.1 Em Reims, na França, no ano de 1650, Marguerite Rousselet, sensibilizada por inúmeros peregrinos portadores de escrofulose que aportavam à cidade, recolhia-os ao Hotel Dieu, que mais tarde se transformou no Hospital Saint Marcoul. Estes doentes aproveitavam a ocasião das cerimônias de coroação para receber o toque do rei, pois acreditavam que isto promoveria a cura.4 Com a disseminação da doença, e a ausência de medicamentos efetivos, fortaleceram-se os tratamentos empíricos, dentre eles, a procura de locais climáticos com finalidade terapêutica. Em 1791, Lettson, médico inglês, construiu um estabelecimento para crianças pobres com escrofulose, na costa da Inglaterra, a partir da idéia de que o clima à beira68 mar seria benéfico, uma vez que os pescadores daquela região não sofriam desta moléstia.4 George Bodington, em princípios de 1800, sugeria que a tuberculose era curável com a utilização de medidas higiênicas, como moradias arejadas e dieta alimentar substanciosa. 4 Entretanto, este modelo de tratamento somente se formalizou a partir das ações de Hermann Brehmer, médico alemão que se curou nas montanhas do Himalaia, e trouxe os conceitos de ar puro e altitude como tratamento. Ele criou o primeiro sanatório para doentes com tuberculose pulmonar localizado em Gobersdorf, Alemanha, com 40 leitos, em 1859.1 Brehmer se baseava na inexistência da doença em habitantes das montanhas, fundamentando-se no fato de que havia diminuição do oxigênio atmosférico no clima de altitude, o que prejudicaria o bacilo e levaria à cura. Boa nutrição e exercícios rigorosos fortaleceriam o coração e melhorariam a circulação pulmonar.5 Peter Deitweiller, seu discípulo e expaciente, fundou outro sanatório em Falkenstein, inovando algumas ações como a galeria de cura, o repouso prolongado em cadeiras-longas e exercícios mais leves.5 Com a descoberta do agente etiológico por Robert Koch em 1882, fortaleceu-se o conceito de transmissibilidade, imperando a necessidade de ações preventivas, como o isolamento do doente. Isto, no início, gerou preocupação nestes locais de tratamento pelo risco de contágio, porém, com a implantação de sistemas de desinfecção e implementação de laboratórios de análises clínicas e bacteriológicas, esta questão foi logo superada. Os trabalhos de Bhremer e Deitweiller influenciaram a criação de outros sanatórios na Alemanha e nos países vizinhos, e também o início da construção de estruturas populares, já que tais edificações normalmente eram de alto luxo, com infra-estrutura que acarretava dispêndios excessivos, tornando-as muito onerosas para os pacientes, impossibilitando o acesso aos menos privilegiados. Este modelo germânico se espalhou pelo mundo, e a Suíça também se destacou, chegando a possuir inúmeros Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Tuberculosis. The illustrated history of a disease.Vol 1. “Propos” Jacques Chrétien. Hauts de France. 1998. sanatórios, principalmente em Leysin e Davos, local este que ficou muito famoso por ser cenário do livro “A montanha mágica” de Thomas Mann, que muito contribuiu na divulgação dessas construções para o mundo, cujo enredo expõe a rotina diária de um sanatório.3 O sanatório foi, durante muitos anos, associado à mística do ar da montanha, e à medida que este conceito climático foi se diluindo, eles passaram a ser construídos em cidades de qualquer clima.3 Antes de acabar o século XIX, este modelo já tinha chegado à América do Norte, e, como os Estados Unidos e o Canadá já apresentavam índices alarmantes da doença investiram maciçamente em suas construções. Logo a seguir, os países da América do Sul também aderiram ao movimento sanatorial. No Brasil, as internações dos pacientes tuberculosos eram feitas nas Santas Casas, não se levando em conta quaisquer medidas de isolamento. A comprovação do aspecto contagioso da tuberculose condicionou a criação de enfermarias específicas nestas instituições.1 Com a chegada da família real ao Brasil, foram criadas as faculdades de medicina e laboratórios de patologia e se elaboraram leis para controle da entrada de doenças infecciosas pelos portos1. A tuberculose, nesse período, por suas características urbanas, comprometia os centros de Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 maior densidade populacional como Rio de Janeiro e São Paulo, impulsionando a necessidade de soluções imediatas pela preocupação com as altas taxas de morbi-mortalidade.1 No período republicano, preocupados com questões de higiene e necessidade de isolamento de doentes, surgiram iniciativas dos governos com uma nova política sanitária, motivados, principalmente, pelos interesses do comércio internacional.2 A partir desse período, grandes nomes da tisiologia brasileira como Clemente Ferreira, Emílio Ribas, Victor Godinho, Geraldo de Paula Souza, entre outros, se destacaram e foram fundamentais na estruturação e organização de ações contra a doença.1 A partir de então, fundaram-se as Ligas de combate à doença, as Diretorias de Higiene e Saúde Pública, os laboratórios e os dispensários, estes com importantes funções na busca de novos casos, educação sanitária e assistência médica e social aos doentes.1 As construções dos sanatórios somente se iniciaram a partir da década de 1920, e o Brasil chegou a ter algumas dezenas deles, sendo sua maioria na região sudeste, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.2 Na cidade de São Paulo, foram de grande importância histórica, no campo da tisiologia a Santa Casa, o Instituto de Higiene de São Paulo, o Hospital do Mandaqui, o Instituto 69 Clemente Ferreira e o Hospital do Jaçanã. Além da capital, duas cidades se destacaram na chamada fase sanatorial: Campos do Jordão e São José dos Campos, que, por esta razão, acabaram recebendo a denominação de “Tisiópolis”.1 Campos do Jordão, que foi muito procurada para tratamento, teve seu clima intensamente propagado pelos seus administradores, recebendo até a denominação de Suíça Brasileira.1 O município chegou a possuir quinze sanatórios, construídos no período de 1929 a 1952, sendo a maioria edificada por iniciativa particular.2 Toda essa infra-estrutura hospitalar, juntamente com a utilização da cirurgia torácica, transformou-o em um centro de referência tisiológica. São José dos Campos, com uma localização estratégica, maior proximidade da capital, melhor acesso e com um clima mais ameno, além de não criar nenhuma barreira econômica para a entrada de doentes, recebeu um número considerável de enfermos para tratamento desde o início do século XX.1 A cidade era pobre, não tinha nenhuma infra-estrutura, e essa visão de decadência econômica fez com que seus administradores lutassem para criar uma estação de cura, transformando-a em uma estância climática, o que acabou ocorrendo em 1935. Este período sanatorial proporcionou à cidade o tempo necessário para que desenvolvesse seu verdadeiro potencial econômico, transformando-se hoje em dia em um grande pólo industrial.1 Ali, foram construídos oito sanatórios, no período de 1924 a 1946.2 O mais importante deles, o Sanatório Vicentina Aranha, foi o segundo sanatório do país e o primeiro do estado de São Paulo.1 O primeiro construído no país foi em Palmira (hoje Santos Dumont), estado de Minas Gerais, apesar de existirem alguns registros de dois sanatórios mineiros considerados anteriores a esse período, em Araxá e Oliveira.5 Com o advento da quimioterapia, a partir do final da década de 1940, a fase sanatorial começou a declinar. Porém, a construção destas unidades perdurou até 1964, quando o Serviço Nacional de Tuberculose encerrou esta medida política, permitindo apenas o término daqueles que já estavam em fase de conclusão, sendo que alguns deles jamais foram utilizados para esta finalidade.1 O tratamento higieno-dietético realizado nestes sanatórios, com longos períodos de internação, apenas amenizaram os efeitos devastadores da doença. A grande contribuição na melhora da sobrevida dos pacientes foi mesmo a cirurgia, até surgirem os medicamentos específicos.5 Porém, é inegável que eles tenham tido significativa participação na cura de muitos pacientes, e que representaram um período marcante na história da humanidade e no desenvolvimento do conhecimento desta doença infecciosa. Todo este contexto tisiológico, do qual fizeram parte os sanatórios, contribuiu de maneira relevante na evolução da pneumologia em vários campos, como Cirurgia Torácica, Radiologia, Fisiologia, Bacteriologia, Farmacologia, Imunologia, entre outras. Deve-se considerar também a influência dos sanatórios nas questões sociais, culturais e econômicas, e ainda na geração de necessidades que influenciaram a expansão urbana. Em seu período, eles representaram, na maioria das vezes, a esperança, talvez a única existente naquele momento em um contexto repleto de incertezas. Hoje em dia, estas imponentes construções, muitas delas em total abandono, representando marcas indeléveis na paisagem urbana guardam dentro de si mais do que lamentos de um passado não muito distante, mas também a missão de lembrar ao homem a necessidade de um ciclo harmonioso com o mundo em que vive. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Belculfiné DC. São José dos Campos: relação histórica do seu desenvolvimento com a mortalidade por tuberculose, 1935 a 1999. [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2001. Bittencourt TMM. Arquitetura Sanatorial São José dos Campos. São José dos Campos: Unida Artes Gráficas e Editora Ltda;1998. Rosemberg J. Tuberculose - Aspectos históricos, realidades, seu romantismo e transculturação. Bol Pneumol Sanit. 1999; 7(2):5-29. Cortazar IDG. Sanatórios para tuberculosos: auge y decadencia. ARS méd. (Santiago). Universidad Católica de Chile;(11):203-218, 2005 Resende JS. História da Pneumologia e Cirurgia Torácica em Minas Gerais. Belo Horizonte: NB Edit.;2005. Douglas Carlyle Belculfiné [email protected] PRÓXIMA EDIÇÃO: Emergências Respiratórias ENVIE SUAS SUGESTÕES 70 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009 71 72 Pneumologia Paulista Vol. 22, No.5/2009