Filosofia 7º ano – 4º Bimestre Os Filósofos pré-socráticos

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Filosofia
7º ano – 4º Bimestre
Os Filósofos pré-socráticos: filósofos da natureza
Introdução.
Até 600 a.C, aproximadamente, o homem grego utilizava a mitologia para explicar a natureza e
fundamentar a própria organização sociopolítica grega.
No séc VI a.C ocorre uma estabilidade sociopolítica entre os gregos, cujas cidades passaram a ser
organizadas em pequenos grupos, denominados polis, administrados pela aristocracia.
O intercâmbio entre as várias cidades foi intenso e assim como as cidades jônias da Ásia Menor,
entre as quais podemos citar Mileto e Éfeso, as colônias gregas da Itália meridional, entre elas Eléia,
ganharam grande destaque pelas iniciativas culturais e políticas. Também o comércio foi bem desenvolvido
por aquelas populações, o que lhes trouxe mais riqueza material. Foi nesse contexto que a Filosofia surgiu,
num ambiente livre e distante do centro. Somente depois é que chegou à Grécia, propriamente dita,
centralizando-se em Atenas.[1]
A filosofia grega pode ser dividida em três períodos: o primeiro, naturalista, em que o pensamento
filosófico busca uma resposta para as questões da natureza, isto é, o período pré-socrático; o segundo, que
pode ser dito antropológico metafísico, e abrange, principalmente, as épocas de Sócrates, Platão e
Aristóteles; e o terceiro, o período ético, desde o fim da época aristotélica – IV a.C. – até a decadência da
sociedade grega, por volta de VI d.C.
Nosso tema, nesse momento, diz respeito ao primeiro período, naturalista, ou também como é mais
conhecido, pré-socrático.
Importa sublinhar que o fato de ser denominado pré-socrático não quer dizer, rigorosamente, que
todos os filósofos desse período sejam anteriores cronologicamente a Sócrates, pois alguns foram seus
contemporâneos.
Para facilitar o entendimento, as várias correntes pré-socráticas podem ser classificadas em:
1 - Escola Jônica (Ásia Menor), cujos principais representantes são Tales de Mileto, Anaximandro de Mileto
e Heráclito de Éfeso.
2 - Escola Pitagórica ou Itálica (Magna Grécia), cujo principais representantes são Pitágoras de Samos,
Filolau de Cretona e Árquilas de Tarento.
3 - Escola Eleata (Magna Grécia), os principais representantes são Xenófanes de Colofão, Parmênides de
Eléia, Zenão de Eléia e Melissos de Samos.
4 - Escola Atomista (Trácia), cujos principais representantes são Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
Também pode ser adotada uma classificação mais genérica, agrupando-os em eleatas e não-eleatas,
considerando-se que os eleatas não admitiam o movimento e concebiam o universo como uma unidade
imóvel e eterna, enquanto os não-eleatas defendiam o movimento e a multiplicidade como única realidade.
Vejamos, a seguir, alguns dos principais pensadores desse período.
I – Tales de Mileto.
Como apresentamos no início, a filosofia grega nasceu nas colônias mais distantes, e foi exatamente
em Mileto, na Jônia, atualmente território da Turquia, por volta de 624 a.C., que nasceu Tales, tido como o
primeiro filósofo e precursor da filosofia grega. Além de filósofo, foi matemático e astrônomo; aliás, sua
morte provavelmente ocorreu em 546 a.C., vítima de um acidente enquanto observava os astros.
Outro fator importante a ser ressaltado é a tradição oral da Grécia, o que resultou em muito poucos escritos
dos filósofos daquela época. E com Tales não foi diferente, pois não se tem notícia de que tenha escrito algo,
e conhecemos suas ideias apenas pelos escritos posteriores.
A pergunta filosófica mais elevada, “Qual é a causa última, o princípio supremo de todas as coisas?”
foi colocada por Tales sistematicamente na tentativa de encontrar uma resposta racional, livre da explicação
mítica.
A reflexão filosófica de Tales foi desenvolvida a partir da observação da natureza. Considerando os
elementos mais presentes em todo o mundo observável - o ar, a terra, a água e o fogo, o filósofo concluiu que
o princípio supremo de todas as coisas deveria ser a água, vez que esta podia se alterar em várias outras
formas, dando origem, por condensação, à terra, por rarefação, ao ar e ao fogo. Embora aparentemente
ingênua a resposta, não se pode negar a importância da água para a vida.
Mas a partir desse questionamento de Tales estabeleceu-se a definição do termo physis, que
significava, para os filósofos da época, não apenas a natureza existente, mas, verdadeiramente, a
realidade fundamental e primeira de toda a natureza.
Outro aspecto a ser destacado é a concepção de água que se deve ter a partir do pensamento de Tales,
pois como princípio universal, não é apenas a água na forma como conhecemos, mas efetivamente
uma liquidez primeira do universo, e se confunde, mesmo com deus, posto que para ele, todas as coisas
estavam plenas de deuses.[2]
II – Anaximandro de Mileto.
Anaximandro, como o nome indica, nasceu também em Mileto por volta de 611 a. C. e morreu por
volta de 547 a.C., tendo sido, provavelmente, discípulo de Tales. Ao contrário de Tales, deixou escrito um
tratado denominado “Sobre a Natureza”, o qual, entretanto, perdeu-se ao longo do tempo, tendo restado
apenas um fragmento, cuja tradução já rendeu muitas discussões entre os filósofos posteriores, mas diz
aproximadamente o seguinte: “De onde as coisas extraem o seu nascimento aí também é onde se cumpre a
sua dissolução segundo a necessidade; com efeito, reciprocamente sofrem o castigo e a culpa da injustiça,
segundo a ordem do tempo.”[3]
Para Anaximandro, o princípio de que Tales falava não poderia ser a água, porquanto ela também já
é derivada de algo. O princípio, pois, só poderia ser mesmo o infinito, ou como dizia, o a-peiron, o que não
tem limites, nem externos, nem internos. Também para ele, esse princípio estava ligado ao divino, com a
diferença de não ser nascido e nem ser possível a sua morte.
Esse fragmento de Anaximandro mereceria um estudo detalhado, mas face à natureza desse curso,
deixaremos para outra oportunidade, ressaltando apenas que nele se apresentam as ideias dos contrários, da
dupla injustiça e do tempo como o juiz de todas as coisas. É, sem dúvida, uma concepção bem mais
detalhada do que a de Tales.
III – Pitágoras de Samos.
Pitágoras nasceu em 571-0 a.C. e morreu em 532-1 a.C., e é considerado um dos grandes gênios da
humanidade. Suas contribuições contam em vários campos de saberes, entre os quais a matemática, a
geometria, a astronomia, a filosofia a ascese e a mística.
Um aspecto que influenciou fortemente o pensamento filosófico foi sua doutrina das almas, que para
ele, são imortais e feitas de uma substância incorruptível.
E, ao contrário dos demais pré-socráticos, que defendiam sempre algum elemento da natureza como
princípio universal, Pitágoras defendeu os números como sendo esse princípio, considerando que o número
expressa não apenas a natureza, mas também as relações entre as coisas, e, assim, a partir do número chegou
à conclusão de que a multiplicidade decorre da unidade.
IV – Heráclito de Éfeso.
Heráclito nasceu por volta de 504 a.C., nada constando a respeito de sua morte. É um dos filósofos
mais eminentes do período pré-socrático e ao mesmo tempo mais lendário. Não se sabe ao certo se deixou
algo escrito ou se apenas divulgou suas ideias por suas poesias. Conta-se que era filho dos governantes da
cidade e não era bem visto entre os cidadãos.
Para Heráclito, o princípio agente de todas as coisas é o fogo. Segundo ele, tudo flui, tudo está em
movimento e nada dura para sempre, e nessa constante oposição está a unidade. Assim, “não podemos nos
banhar no mesmo rio por duas vezes”. O fogo, por conseguinte, é o elemento a partir do qual todas as coisas
se formam, visto que é volátil e se transforma conforme o maior ou menor calor, pela condensação ou
rarefação.
Mas, além desse princípio agente, Heráclito estabeleceu o princípio regente do universo, o Logos. Para ele,
“A guerra é mãe de todas as coisas e de todas as coisas é rainha... Aquilo que é oposição se concilia, das
coisas diferentes nasce a mais bela harmonia e tudo se gera por meio de contrastes... Eles não compreendem
que aquilo que é diferente concorda consigo mesmo; é a harmonia dos contrários, como a harmonia do arco e
da lira”.[7]
Evidentemente, essa teoria foi abraçada largamente por Hegel, filósofo moderno, defensor da dialética.
Estabelecendo que todas as coisas estão em constante devir, Heráclito defende, então, que esse devir segue
uma lei natural. E essa lei é o princípio regente , o Logos, que delimita os movimentos de todas as coisas. O
homem, por sua vez, agindo em consonância com o logos, estará apto a conhecer a verdade. Daí, segue-se o
livre-arbítrio e a responsabilidade do homem pelo seu destino e também o dos demais, pois escreve. “Os que
estão acordados devem ajudar os que dormem”.
V– Parmênides de Eléia.
Parmênides é o maior expoente da escola eleática, isto é, dos filósofos de Eléia. Nasceu por volta de
516 a.C. e morreu por volta de 470 a.C. Adotou muito do pensamento de Xenófanes e suas idéias tiveram
grande influência na estrutura sociopolítica da Grécia.
Um de seus fragmentos mais famosos é “O ser e o pensar são a mesma coisa...sem o ser, no qual o
pensar se encontra expresso, não há pensamento”.[8] Para ele, a única realidade é o ser, e assim combate
agudamente o vir-a-ser defendido por Heráclito. Não é possível pensar o não-ser, porque ao pensá-lo, ele já
é ser.
A sua obra principal que chegou até nós é o poema “Sobre a Natureza!” que se divide em duas
partes, Da Verdade e Da opinião.
Percebe-se, aqui, a preocupação de Parmênides com o ser. Por isso ele é considerado um dos
primeiros grandes metafísicos. Essa preocupação com o ser é retomada por Heidegger, por exemplo, já no
período contemporâneo, que atribui suma importância ao pensamento parmenidiano.
Parmênides entende que o único caminho para o homem chegar à verdade é o caminho de pensar o
ser. É o caminho, pois, da razão. Nesse sentido está o fragmento abaixo citado:
"Pois bem! E tu acolhe as palavras que ouvires /os únicos caminhos de busca que são [para] pensar:/um, [o]
que é e que não é não ser, / é o caminho da persuasão (pois acompanha a Verdade); / outro [o] que não é e
que é necessário não ser, / este, advirto-te, é [um] caminho em que nada se pode aprender / porque nem
poderás conhecer o que não é (pois [tal] não [é] factível) / nem mencioná-lo."[9]
Parmênides de Eléia negou, assim, a possibilidade de transformação na natureza, afirmando que tudo
que existe sempre existiu, pois nada que existe pode ter surgido do nada ou se transformar em nada. As
transformações observadas na natureza, para ele, eram apenas ilusão dos sentidos, e confiava apenas na
razão. Para ele, ainda, o Ser é único, absoluto, imutável e imóvel, conforme se depreende do seguinte
fragmento: “Um só caminho resta ao discurso: que o ser é. E nesse caminho há muitos sinais indicadores.
O ser é ingerado e imperecível:Com efeito, é um todo, imóvel e sem fim.
VI – Demócrito de Abdera.
Demócrito de Abdera (460 – 360 a.C.) concordava que as coisas eram compostas de minúsculas
partículas indivisíveis, as quais denominou ÁTOMOS, que eram eternos e de diversas naturezas e podiam se
combinar de infinitas formas, dando, assim, origem às mais diversas espécies de coisas.
Luiz Meirelles
Mestrando em Filosofia - PUC/SP
X – Bibliografia.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia, vol. 1. São Paulo: Edições Paulinas. 1981.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dante. História da Filosofia, vol. I. São Paulo: Paulus. 1990.
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[1] MONDIN, Battista, Curso de Filosofia, vol. 1, pág. 15.
[2] REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia, vol. I, pág. 31.
[3] REALE e ANTISERI, ob.cit., pág. 32.
[4] ANAXÍMENES, in Reale e Antiseri, ob. Cit. pág. 34.
[5] Fragmentos das poesias de Xenófanes, in http://warj.med.br/fil/fil05c.html.
[6] Fragmento do texto de Pitágoras, in Battista Mondin, ob.cit, pág.22.
[7] Fragmentos de textos de Heráclito, in Reale e Antiseri, ob. Cit. Pág.36/7.
[8] Fragmentos dos textos de Parmênides, in Battista Mondin, Curso de Filosofia, vol. I, pág.31.
[9] Fragmentos da poesia de Parmênides, in http://educom.fct.unl.pt/proj/por-mares/parmenides.htm.
[10] Fragmento da poesia de Parmênides (Sobre a Natureza), in, Reale e Antiseri, ob. Cit. Pag.53.
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