busca de uma abordagem ideal no ensino de filosofia para

Propaganda
BUSCA DE UMA ABORDAGEM IDEAL NO ENSINO DE FILOSOFIA PARA
CRIANÇAS E JOVENS (2011) 1
2
3
SIQUEIRA, Grégori Lopes ; RIBAS, Maria Alice Coelho
Trabalho de Pesquisa _UNIFRA
2
Acadêmico do Curso de Filosofia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS,
Brasil
3
Professora orientadora do Curso de Filosofia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa
Maria, RS, Brasil
E-mail: [email protected]; [email protected];
1
RESUMO
Esta abordagem trata de uma investigação quanto à definição do método, didática ou
abordagem ideal para o ensino de Filosofia ao perpassar as tendências e métodos de ensino. O
objetivo aqui será investigar como se chega a um ensino filosófico de qualidade, onde o professor
possa levar seus alunos ao processo de filosofar. Existem diversas metodologias de ensino, entre
elas, esta abordagem destaca os quatro passos de Sílvio Gallo (sensibilização, problematização,
investigação e conceituação), a comunidade investigativa de Matthew Lipman e a investigação
dialógica de Juarez Gomes Sofiste. Entre as tendências pedagógicas há uma supremacia do ensino
progressista sobre o tradicional na atualidade. Porém, o método tradicional tem seus pontos positivos
e a Filosofia não deve desprezar nenhuma tendência pedagógica, pois o que torna o ensino filosófico
atrativo parece-nos que não são os métodos, mas a abordagem e ato de filosofar.
Palavras-chave: Ensino; Filosofia; Método Tradicional; Tendência Pedagógica.
1. INTRODUÇÃO
Na educação pode-se afirmar que a Filosofia tem um importante papel, pois
questiona sobre o melhor método, didática ou forma de abordagem de ensino, bem como,
quais conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, quais os recursos que se pode
utilizar para se chegar à finalidade do ensino filosófico, que é fazer com que o aluno venha a
aprender a filosofar, a pensar por si mesmo, principalmente quanto ao ensino para crianças
e jovens nos níveis fundamental e médio.
A questão principal desta reflexão é como tornar o ensino de Filosofia atrativo e que
proporcione um encantamento nos jovens por esta disciplina, ao perpassar as tendências
pedagógicas e os métodos de ensino.
1
2. METODOLOGIA
Esse estudo tem como pressuposto metodológico a abordagem qualitativa,
desenvolvida através de pesquisa bibliográfica, na qual foram consultados autores que
investigam o tema sobre o ensino de Filosofia no contexto atual, quanto a busca de uma
abordagem ideal no ensino desta disciplina perpassando os métodosde ensino.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Durante muito tempo, a Filosofia ficou ausente na grade curricular das escolas de
nível fundamental e médio no nosso país, o que causou um descrédito e desinteresse por
esta disciplina. Além disto, o acesso e o excesso de informação presente no mundo atual,
como a Internet e os novos meios de comunicação, parece ter desestimulado o processo de
filosofar, pois os jovens e as crianças se prendem com muitas facilidades a tais meios,
voltados ao entretenimento e não ao exercício do pensamento. Não quer dizer que não seja
possível encontrar material filosófico na Internet, pelo contrário, mas o que chama mais a
atenção dos jovens e adolescentes é o entretenimento, o bate-papo, os jogos e diversos
meios de se comunicar possíveis pela rede. Isto afeta todos as áreas de conhecimento,
onde o ensino parece ter se tornado uma obrigatoriedade de cumprir uma etapa, sem
necessidade de aprofundamento, mais pela aquisição do diploma que a necessidade do
saber.
Vivemos uma época de mudanças, onde os professores devem estar dispostos a
encarar tal período histórico com conhecimento da realidade social em que se encontram,
para levar seus alunos à aquisição do saber, a apreensão filosófica. Dentro desta realidade,
diferentes métodos existem e foram criados para sanar as dificuldades existentes e os
desafios que a própria educação dispõe na atualidade, e isto aconteceu igualmente com o
ensino da Filosofia.
3.1 Necessidade de um ensino filosófico de qualidade
Segundo Murcho (2002, p.98), infelizmente alguns professores não preparam os
alunos para os desafios mais humanos e básicos, para entrar na discussão de ideias que
fazem avançar os conhecimentos das crianças e dos jovens, como a ideia que o leite vem
do supermercado e não da origem animal, e isto traz sérios problemas para a educação e
para a aprendizagem filosófica, que requer um ensino de qualidade e de resultados.
2
[...] o conhecimento está todo feito e escrito algures. Era bom que os
professores preparassem os nossos estudantes não para consumidores e
aplicadores acéfalos do conhecimento importado por atacado, mas em
participantes de igual direito na comunidade internacional que discute
ideias contraditórias e teorias rivais – que é de onde verdadeiramente vem
o leite. (MURCHO, 2002)
Sofiste (2007) combate o que ele chama de ‘pedagogia de armazém’, ou seja, onde
a escola é o estabelecimento que intermedia entre alguém que produz e alguém que
consome, o professor é o balconista que vende o conhecimento que não produziu mas
comprou de alguém, e o estudante é o consumidor que compra o conhecimento ao limitar-se
escutar a aula, anotar e fazer prova.
O professor, principalmente na área da Filosofia, deve levar seus alunos ao processo
reflexivo, a saber o porquê das coisas, o modo como à ciência e todo o conhecimento
acontecem, ou seja, deve levar o aluno a pensar e despertar a curiosidade na busca do
saber.
[...] é importante que a escola desenvolva em seus alunos habilidades de
pensamento crítico, incluindo a capacidade de analisar e solucionar
problemas. Seria ainda de fundamental importância que, nessa escola,
fossem formados valores sociais relacionados ao homem e à natureza,
valores que orientassem os jovens no sentido do respeito à vida humana e
às diferenças culturais. (SANTOS, 1997, p.26)
A Filosofia tem um caráter que difere das demais ciências. Segundo Murcho (2002,
p.57) “o que distingue os problemas da filosofia dos problemas da ciência e o seu carácter
conceptual, a sua generalidade e a inexistência de fronteiras precisas”.
Segundo Rocha (2004), é difícil compreender em que consiste uma aula de Filosofia,
pois existem diversos tipos de aula desta disciplina, e ainda há uma ambigüidade entre
ensino real existente e ideal como proposta.
3.2 Algumas metodologias de ensino de Filosofia
Dentro da prática pedagógica do ensino de Filosofia alguns autores recomendam
algumas metodologias, como Gallo (2009), que sugere quatro passos para o ensino desta
disciplina: a sensibilização, a problematização, a investigação e a conceituação. Na
sensibilização se faz a pergunta por que é importante, com a tarefa de prender a atenção
dos alunos para o tema proposto. Pode-se utilizar diversos meios como filme, música,
crônica, poesia, videoclipe, cartaz, teatro, desenho, colagem painel. Na problematização se
pergunta qual o problema, por meio da transformação do tema em problema. Quanto mais
3
completa a problematização, mais intensa será a busca por conceitos. Pode ser feito por
meio de montagem de cartazes, slides, discussões. Na investigação é apresentado as
diferentes teorias, as possíveis respostas, o que os filósofos falaram sobre o problema ao
confrontar pensamentos diferentes que levam os alunos a tomarem uma posição frente ao
assunto. Na conceituação o objetivo e uma conclusão do assunto, mesmo que seja parcial,
é a escolha da melhor resposta, do que tem de mais significativo e da construção do
pensamento capaz de gerar um conceito.
Outro método pedagógico que pode ser utilizado no ensino de Filosofia é a
comunidade de investigação de Matthew Lipman, que centra o ensino na discussão na
busca verdade, por meio da discussão em sala de aula. Neste método, o professor tem um
papel de coordenador ou incentivador das discussões, e os alunos são os agentes que
discutem e investigam o tema proposto, por meio de argumentação e contra-argumentação.
O professor está a serviço do aluno. Visto que o homem é capaz de
adquirir o conhecimento por si só, o ensinamento do outro não é a ação do
agente principal. O professor somente ajuda a razão pessoal do aluno e
coloca-se a seu serviço, levando-o a descobrir, por si mesmo, o
conhecimento. O professor é agente ministerial extrínseco. (SOUZA, 2001)
Sofiste (2007) sugere que o ensino de Filosofia deve estar centrado no método
Socrático por meio da investigação dialógica, ou seja, trata-se de um procedimento onde se
coloca em ação: ouvir, falar, argumentar, raciocinar, conceituar, detectar pressupostos,
confrontar teses filosóficas, emitir juízos, respeitar a vez e a fala do outro, trabalhar em
equipe, buscar alternativas para a solução de um problema. Neste método importa a
aceitação da opinião, do argumento, da justificativa, da razão do outro. Embora, possa a um
primeiro momento parecer um método semelhante à comunidade de investigação de
Lipman, a investigação dialógica não se faz por discussão, mas por construção, como fazia
Sócrates na sua maiêutica.
3.3 Tendências pedagógicas tradicionais e progressistas
Diante da discussão até então, cabe agora refletirmos sobre as tendências
pedagógicas na educação. Segundo Rocha (2004), por um lado os conteudistas ou
tradicionais defendem que a Filosofia pode ser ensinada assim como as outras disciplinas,
que todo conteúdo filosófico pode ser abordado a partir de problemas fundamentais sem
contar a história da Filosofia, e ainda defendem a existência de programas da disciplina bem
definidos e cobrados da mesma forma que as demais disciplinas. Por outro lado os
4
processistas ou progressistas entendem que a crença em conteúdos congela a vida do
conceito filosófico, a fixação dos conteúdos esvazia a riqueza dos conteúdos, a
memorização e a decoreba não serve, e dizem ainda que definir conteúdos aprisiona o
filosofar.
De um modo geral, a tendência pedagógica que predomina como teoria e método
ideal de ensino, são os métodos progressistas, que condenam profundamente toda a
tendência tradicional de ensino, por considerar inadequada para os dias de hoje. Ora, a
pedagogia tradicional é vista como opressora e autoritária, onde o aluno não tem vez nem
voz, por incentivar a repetição e a memorização forçada dos conteúdos, a cobrança do
aprendizado é medida por meio de provas e trabalhos, o aluno indisciplinado deve ser
punido, bem como aquele que tem dificuldades de aprendizagem deve receber o castigo
pela reprovação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Cabe agora a pergunta: será que o ensino tradicional como é visto criticamente não é
uma corrupção dos valores autênticos e da boa educação? A nosso ver sim, pois o ensino
tradicional tem seus pontos positivos, e os pontos negativos parecem ser sua própria
corrupção pelos exageros que ocorreram, como o autoritarismo ao invés do correto uso da
autoridade por parte do professor.
Se analisarmos o período histórico em que a educação tradicional predominou
soberanamente, podemos destacar diversos pontos positivos, dentre os quais o poder de
concentração, que por exemplo, ajuda um engenheiro a construir uma grande obra como
uma ponte, um edifício ou uma usina hidroelétrica, com a responsabilidade de quem sabe
que não projeta a vida somente para o tempo de agora. Somente foi possível chegar a este
nível pela autoridade do professor, e submissão do aluno, que no método tradicional deve
reservar-se na sua condição de aprendiz.
Outro ponto muito criticado é a memorização, porém, graças a ela um ator pode
apresentar uma peça. Também, empiricamente é possível verificar que aquilo que se
aprende pela memorização não se esquece mais, e o que justifica a memorização é a lousa1
nos tempos antigos.
O uso da lousa obrigava os alunos a fazer anotações rápidas, que logo
depois eram apagadas, mas que eram ‘cobradas’ no decorrer da vida
escolar do aluno, e depois, ainda, na vida profissional. Pessoas que
1
Lousa é uma lâmina de pedra enquadrada em madeira para nela se escrever ou desenhar com ponteiros da mesma pedra
5
vivenciaram aquele período, ainda hoje mostram uma fortaleza mental, um
conhecimento definitivo das noções básicas dos cálculos práticos e dos
princípios norteadores de uma vida de sucesso, no trabalho e na família,
que hoje fazem falta na vida social dos indivíduos. (HARTMANN, 2008)
Pela educação tradicional foi possível se herdar toda uma gama de valores que não
devem ser perdidos, porque fortaleceram a vida e o caráter de gerações passadas e que
necessitam serem preservados para a boa relação social, como a moral e bons costumes
que favorecem o respeito mútuo das pessoas.
Para Oliveira (2006), “a educação moderna, somente esta interessada em formar
intelectuais, ‘máquinas do saber’, ‘homens mecanicamente formados’ e não visa formar o
espírito, a moral”. Seria importante a implantação de disciplinas como ética e moral em
todos os níveis de ensino. Assim, a educação tradicional é importante porque ajuda na
preservação dos valores morais, e na formação dos valores humanos na sociedade.
Nossa defesa na tendência tradicional de ensino pretende justificar-se na prática
desta metodologia de ensino, que embora seja muito criticada, continua enraizada em
praticamente todos os níveis de ensinos, pois o professor não consegue sair dela quanto à
avaliação, além de ter dificuldades de abrir mão da própria autoridade, e seguidamente
prefere escolher os métodos tradicionais, por sentir maior segurança no cumprimento do seu
dever de ensinar, de avaliar e de gerenciar suas aulas, e pela própria postura dos alunos
que preferem receber tudo pronto.
5. CONCLUSÃO
Entendemos que o ensino em geral, e da mesma forma o ensino de Filosofia não
deve desprezar a tendência tradicional, tampouco as outras, mas unir naquilo que cada um
tem de pontos positivos para aplicar no ensino, de acordo com as necessidades e a
realidade do aluno. Assim, o professor de Filosofia, bem como aquele de outra disciplina,
deve ser um mestre conhecedor das tendências pedagógicas em modo geral, e saber
aplicar a correta ou adequada para suas aulas.
Ao natural o docente utiliza diferentes métodos pedagógicos e de ensino na Filosofia,
e isto parece ser necessário para tornar as aulas mais atrativas, pois as aulas não podem
ter sempre o mesmo formato, devem ter variações de metodologias. Parece-nos que não
são os métodos que fazem as aulas serem filosóficas, mas a abordagem e o ato de filosofar.
Assim, toda a didática já desenvolvida deve ser serva do ato de filosofar, do docente e dos
alunos.
6
REFERÊNCIAS
GALLO, Sílvio; ASPIS, Renata Lima. Ensinar filosofia: um livro para professores. São Paulo: Atta
Mídia e Educação, 2009.
HARTMANN, Saleti. A educação tradicional, vista por outro ângulo. 2008. Disponível em:
<http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=30990>. Acesso em: 25 nov. 2010.
MURCHO, Desidério. A natureza da filosofia e seu ensino. Lisboa: Plátano, 2002.
OLIVEIRA, Albertina da Silva. Educação tradicional e o seu papel na preservação de valores
culturais. 2006. Disponível em: <http://tina-descobertas.blogspot.com/2006/11/ educao-tradicional-eo-seu-papel-na.html>. Acesso em: 25 nov. 2010.
ROCHA, Ronai Pires da. Sobre o espaço da filosofia no currículo escolar. In: CANDIDO, Celson;
CARBONARA, Vanderlei. (Org.) Filosofia e ensino: um diálogo transdisciplinar. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004.
SANTOS, L. P. Educação Básica. Currículo e formação de professores. In: Presença Pedagógica.
vol.3. Belo Horizonte: Dimensão, 1997.
SOFISTE, Juarez Gomes. Sócrates e o ensino da filosofia: Investigação Dialógica: uma pedagogia
para a docência de filosofia. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.
SOUZA, Nivaldo Alves de. A criança como pessoa na visão de Tomás de Aquino e Matthew
Lipman. Florianópolis: Sophos, 2001.
7
Download