Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. Revista Brasileira de Geografia Física ISSN:1984-2295 Homepage: www.ufpe.br/rbgfe PROBLEMÁTICA SOCIOAMBIENTAL URBANA NA NASCENTE PAU AMARELO EM GARANHUNS-PE Antonio Benevides Soares1. Clélio Cristiano dos Santos2. Marcelo Antunes Cavalcanti3 1 Técnico em Meio Ambiente, Licenciado e Especialista em Ensino de Geografia. Mestrando em Geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal-RN, Brasil. Contato Email: [email protected]. 2 Professor da Universidade de Pernambuco Campus Garanhuns-PE, Brasil. Contato Email: [email protected]. 3 Professor do Instituto Federal de Pernambuco Campus Garanhuns-PE, Brasil, Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco. Contato Email: [email protected]. Artigo recebido em 10/07/2013 e aceito em 30/09/2013 RESUMO O presente trabalho realizou um estudo sobre a problemática socioambiental urbana na nascente Pau Amarelo no município de Garanhuns-PE. Teve como objetivo analisar os fatores que impactam socioambientalmente na mesma. A metodologia do estudo baseou-se em uma pesquisa exploratória com ênfase na observação e na aplicação de entrevistas junto a moradores das localidades próximas às nascentes, além de uma pesquisa bibliográfica referente a documentos pertinentes ao estudo. Foram pesquisados documentos que continham dados históricos sobre a cidade e realizadas entrevistas e conversas informais para levantamento de dados, bem como coleta de água para análise de características físico-químicas. A partir do presente estudo foi possível verificar que ao longo dos últimos quarenta anos, Garanhuns vem experimentando uma expressiva expansão urbana em direção a zonas geomorfologicamente desfavoráveis, resultando em moradias precárias em encostas e em poluição da nascente Pau Amarelo. Palavras chave: Problemática socioambiental, ambiente urbano, nascentes, Garanhuns. URBAN SOCIOENVIRONMENTAL PROBLEMS IN THE SOURCE PAU AMARELO IN GARANHUNS-PE The present work conducted a study on the problematic urban environmental in the Pau Amarelo source in the municipality of Garanhuns-PE. Aimed to analyze the factors that impact socioenvironmentally in same. The study methodology was based on an exploratory research with emphasis on observation and on implementation of interviews with the inhabitants nearby the sources, in addition to a review of the literature the documents pertinent to the study. Were researched documents that contain historical data about the city, also interviews and informal conversations to survey data, as well as collection of water for analysis of physico-chemical characteristics. From this study it was possible to verify that over the last forty years, Garanhuns is experiencing a significant urban expansion toward the areas unfavourable geomorphologically, resulting in precarious houses on hillsides and in pollution in Pau Amarelo source. Keywords: Socioenvironmental problems, urban environment, sources, Garanhuns. * E-mail para correspondência: [email protected] (Soares, A. B.). 1141 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. INTRODUÇÃO A partir da década de 1950, o Brasil entrou em crescente processo contribui significativamente, junto com a de vanguarda do setor de serviços, para uma “desenvolvimento” econômico que produziu forte especulação imobiliária e a produção um grande crescimento da urbanização. Este acelerada de um espaço urbano desordenado e crescimento que aconteceu de forma desigual, desigual, sem qualquer compromisso com o mal planejado e poucas vezes executado social e o ambiental, somente com o lucro de quando planejado, resultou em ocupação poucos em detrimento da maioria. desordenada em áreas de proteção ambiental Diante dessa problemática ambiental vitais para uma relação de equilíbrio com a urbana, natureza e manutenção dos recursos naturais socioambiental, pois reforça o envolvimento essenciais à vida humana, causando poluição da de recursos hídricos, além de condições de indissociável moradia precárias. problemática ambiental. No município de Garanhuns, climáticas sede que passou a utilizar água das nascentes próximas para abastecimento. A partir da década de 1970, a malha urbana começou a se expandir com maior intensidade e diversas problemáticas socioambientais surgiram e se intensificaram no município, dentre elas condições precárias de moradia em áreas de risco e poluição de nascentes que outrora para abastecimento da população e que nos anos 1950 forneciam água para a segunda dos parte análise fundamental processos e relativos à privilegiadas. férrea propiciou o desenvolvimento do distrito utilizadas sociedade, uma Problemática Ambiental Urbana A humanidade, ao longo de muitos Posteriormente em 1887, a vinda da linha foram necessária a ocupação se deu pela localização e pelas condições faz-se maior indústria extrativista de água mineral do Estado de Pernambuco, localizada na cidade (IBGE, 1959). No período atual, o município vive séculos, ampliou de maneira gradual seu poder de interferência sobre a natureza. Porém, segundo Camargo (2003) nenhuma civilização antiga teve em âmbito planetário o poder desestabilizador que tem a sociedade atual. Tal poder de desestabilizar os ecossistemas só surgiu com a revolução industrial que através da técnica produziu espaços com uma intensidade de degradação, por parte do homem, nunca vista na história. Desde então “[...] as relações do Homem com a Natureza passam por uma reviravolta, graças aos formidáveis meios colocados à disposição do primeiro” (Santos, 2008b, p. 14). uma importante expansão universitária que 1142 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. As transformações propiciadas pela evolução das e degradados em larga escala, especialmente em mais países ditos “subdesenvolvidos”, a exemplo evidentes na cidade, pois a mesma é uma do Brasil. Segundo o IBGE (2012) 84% da grande de população brasileira é urbana, portanto, uma pessoas, é o lócus da produção, do capital, da população potencialmente degradadora da mão de obra, de bens de consumo coletivos e qualidade da água no meio urbano devido ao um campo de lutas (Carlos, 2011). É um local crescimento sem controle ocorrido desde a onde interesses de múltiplos atores entram em década de 1950, ao grande aumento da conflito resultando na produção de diversos produção de resíduos e ao despejo dos espaços mesmos sem tratamento adequado nos corpos financiadas pelo técnicas capitalismo aglomeração urbanos difundidas urbanização os recursos hídricos foram sendo que e são concentração envolvem muitos problemas, então entendemos esses problemas hídricos. como problemáticas socioambientais urbanas A alta concentração populacional em tais como: moradias precárias, poluição dos áreas urbanas, corpos hídricos urbanos, segregação espacial, planejamento, resulta em diversos problemas movimentos de massa, erosão, etc. Todos envolvendo a qualidade da água no ambiente esses problemas interferem na qualidade de urbano como despejo de esgoto em rios e vida dos citadinos sendo foco de debates no aterramento de nascentes, comuns em cidades intuito de amenizar ou extinguir os problemas que socioambientais urbanos e fazer com que a especulação imobiliária se apropria e utiliza- cidade ofereça uma melhor qualidade de vida se de áreas de nascentes e margens de rios para a atual e às futuras gerações. somente pensando no lucro advindo da venda crescem quando ocorre vertiginosamente sem onde a da terra. “O desenvolvimento urbano brasileiro A Água no Ambiente Urbano tem produzido aumento significativo na Á água é um recurso natural essencial frequência das inundações, na produção de à vida humana e por isso mesmo a sedimentos e na deterioração da qualidade da humanidade estabeleceu-se onde ela era água” abundante para que pudesse utilizá-la na deterioração agricultura e nos afazeres domésticos. Com a hídricos, a água potável a cada dia se torna difusão do capitalismo, e a consequente mais escassa merecendo atenção especial na divisão social e territorial do trabalho levando problemática a aumento demográfico e a uma crescente fundamental ao pensar na resolução de urbanização, a pressão sobre o ambiente se problemas urbanos e na produção de um (Tucci, 1997, da p. 03). qualidade urbana, sendo Com dos um a recursos ponto acentuou e ao longo do processo mundial de 1143 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. espaço urbano mais igualitário pelas aglomerações urbanas são, ao mesmo tempo, produto e processo de transformações dinâmicas e recíprocas da natureza e da sociedade estruturada em classes sociais. e com qualidade de vida. As nascentes localizadas em cidades estão totalmente influenciadas pela dinâmica Para entender os danos ao meio urbana que causa impactos ao meio ambiente, constituindo-se assim, em uma problemática socioambiental, ou seja, uma problemática que envolve de maneira indissociável a sociedade e a natureza sendo ambas, faces de uma mesma moeda. “O que hoje se chamam agravos ao meio ambiente, na realidade, não são outra coisa senão agravos ao meio de vida do homem, isto é, ao meio visto em sua ambiente precisamos considerar o processo histórico, pois “É sempre temerário trabalhar unicamente com o presente e somente a partir dele. Mais adequado é buscar compreender o seu processo formativo” (Santos, 2006, p. 03). A fim de entender a gênese do problema e buscar a mitigação adequada. integralidade” (Santos, 2006, p. 04). Para estudar impactos ao ambiente, O Município de Garanhuns-PE em especial ao meio urbano, precisamos nos apropriar de conceitos fundamentais. “Por espaço vamos entender o meio, o lugar material da possibilidade dos eventos, [...] é o meio onde a vida é tornada possível” (Santos 2008a, p. 38). O espaço social é um produto da transformação da natureza pelo trabalho social. Palco das relações sociais (Souza apud Coelho 2011, p. 23). O meio ambiente é social e historicamente construído, é passivo e ativo, e ao mesmo tempo condicionante e condicionado, transformador da vida social (Coelho, 2011, p. 23). Impacto ambiental é um processo de mudanças sociais e ecológicas causado por perturbações no ambiente (Coelho 2011, p. 24). Segundo Coelho (2011, p. 21): O município de Garanhuns localiza-se na Região de Desenvolvimento Agreste Meridional na Garanhuns. Possui uma população de 129.408 habitantes e ocupa uma área de 465,8 km², a qual representa 0.47 % do Estado de Pernambuco (IBGE, 2012). A sede municipal encontra-se em uma altitude aproximada de 842 metros, com coordenadas geográficas de 8° 53’ 25’’ de latitude sul e 36° 29’ 34’’ de longitude oeste, distando 228,8 km da capital Recife, cujo acesso é feito pela BR-101, e PE126/177 (CPRM, 2005). Conforme a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco/ CONDEPE/FIDEM (2009), Garanhuns é município [...] sendo a urbanização uma transformação da sociedade, os impactos ambientais promovidos Microrregião polo da Região de Desenvolvimento Agreste Meridional que abrange 26 municípios. A economia 1144 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. atualmente segue o mesmo padrão do Brasil e pecuária são fortes no município, considerado de Pernambuco onde o setor de serviços tem importante na bacia leiteira do estado. Fato mais participação no PIB do que o setor que propiciou a vinda de empresas que industrial e a agropecuária (figura 01). No trabalham com laticínios para a região. entanto, desde sua formação a agricultura e a FIGURA 01- Participação dos setores no PIB de Garanhuns, Pernambuco e Brasil. Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE 2012. Garanhuns também apresenta vocação Garanhuns/FAMEG, além de outras turística e é conhecido como a terra dos universidades com cursos a distância, também festivais por possuir vários festivais de possui o Instituto Federal de Pernambuco/ expressão nacional como é o caso do Festival IFPE com cursos técnicos. Essa expansão de Inverno e o Festival de Jazz de Garanhuns. universitária em Garanhuns aconteceu em Nesse sentido, Albuquerque destaca que: dois momentos, o primeiro em 1967 através da UPE onde os cursos eram de licenciatura e O município de Garanhuns é considerado uma das mais importantes estações de férias e repouso do Nordeste. Dispõe de hotéis, bares, restaurantes, centros comerciais e outros equipamentos, sendo sua infra-estrutura turística utilizada como apoio pelos municípios próximos. (2002, p. 83) o segundo momento em 2005 com UFRPE onde os cursos passaram a ter maior ligação com as potencialidades do município e da região, sendo importantes regionalmente, pois uma grande parte dos estudantes desses cursos vem de municípios vizinhos (Santos et Garanhuns se configura atualmente al 2010). várias Devido à expansão universitária e às instituições de nível superior como: Autarquia potencialidades turísticas, Garanhuns teve um de Ensino Superior de Garanhuns/AESGA, crescimento urbano expressivo nas últimas Universidade de quatro décadas. Tal crescimento reflete na de qualidade de vida da população e na pressão Pernambuco/UPE, Universidade Aberta do sobre os recursos naturais. Segundo Santos et como polo universitário, Federal Pernambuco/UFRPE, possui Rural Universidade Brasil/UAB, Faculdade de Medicina de 1145 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. mudanças sociais. Essas transformações sócio-econômicas repercutem em toda a região, uma vez que esta é a principal cidade do Agreste Meridional de Pernambuco. al (2010, p. 5), Garanhuns nos últimos anos vem experimentando [...] uma mudança em relação à produção de riqueza, já que, o comércio, o turismo e o setor de prestação de serviços médicos e educacionais vêm ganhando destaque na economia local, sendo responsáveis por provocarem investimentos econômicos e Em comparação com o Brasil e com o estado de Pernambuco o município de Garanhuns tem uma taxa de urbanização mais elevada (figura 02): FIGURA 02-Porcentagem de população urbana e rural no Brasil em Pernambuco e em Garanhuns. Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE 2012. A taxa de urbanização elevada de provincial. O crescimento da cidade Garanhuns se reflete em problemas sociais e inicialmente deu-se de forma morosa, porém ambientais, ou seja, socioambientais tais acentuou-se com a inauguração da linha férrea como moradias precárias em áreas de risco em 1887, época em que o setor de serviços com condições sanitárias inapropriadas e passou a fazer parte da economia do ocupação de áreas de proteção ambiental, município pela convergência dos fluxos de conforme ocorre na nascente Pau Amarelo pessoas propiciado pelo trem. A expansão localizada no distrito sede do município. urbana prosseguiu sempre crescente durante todo século XX e a malha urbana expandiu-se A Cidade de Garanhuns para os morros e posteriormente em direção às vertentes dos mesmos, sem nenhum A cidade de Garanhuns localiza-se no distrito sede de nome homônimo na porção central do território do município entre sete ordenamento plausível, ocupando áreas de risco. Na atualidade, a cidade é um dos morros em uma altitude média de 842 metros. principais Tornou-se vila em 1811 e em 1879 foi pernambucano possuindo 12 bairros, no elevada à categoria de cidade por força de lei entanto somente parte do bairro Heliópolis foi centros urbanos do Agreste 1146 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. planejada, todos os demais cresceram de modo espontâneo, sem execução de planejamento na ocupação e na expansão dos mesmos, o que resultou em diversos problemas ambientais e sociais na cidade. Embora o Plano de Desenvolvimento Na cidade localizam-se inúmeras nascentes, as mais importantes por terem abastecido o distrito sede no passado, por terem água comercializada ou por Urbano exista desde 1978, a execução do contribuírem para o Rio Mundaú1 são as mesmo nunca foi realizada por motivos seguintes: Olho d’água, Riacho São Vicente, diversos como: desconhecimento por parte Pau Amarelo, Vila Maria, Pau Pombo, Vale dos governantes, conflitos de interesses com Mundaú, Serra Branca. A maioria das especuladores imobiliários, priorização de nascentes apresentam-se impactadas devido à ações com maior rendimento eleitoral, etc. crescente ocupação em torno das mesmas, Em 2008, um novo Plano Diretor municipal como é o caso da nascente Pau Amarelo, que foi instituído, porém já está sendo revisto para ora estudamos. Essa nascente é largamente dar conta da nova realidade municipal surgida impactada pelo saneamento precário do bairro a partir da expansão do polo universitário em onde se localiza, pela ocupação irregular e 2005 com a chegada da UFRPE/UAG e que pela ocupação regular sem planejamento está em ampla ascensão na atualidade, cenário algum. O foco do presente trabalho é a não previsto na formulação do Plano Diretor problemática socioambiental dessa nascente. anterior e que precisa ser considerado pelas Sua escolha justifica-se pela importância da consequências que já está causando na mesma para a bacia do Rio Mundaú, e pela expansão urbana. relevância que teve no passado para o abastecimento da cidade (figura 03). 1 O Rio Mundaú é considerado rio federal, pois envolve dois estados, Pernambuco e Alagoas, abrange uma área total de 4.126 km², sendo 52,2% no estado de Pernambuco e 47,8 % em Alagoas (CPRM, 2005). 1147 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. FIGURA 03- 1. Localização de Garanhuns no Estado de Pernambuco. 2. Nascentes localizadas na zona urbana. 3. Localização da nascente Pau Amarelo no distrito sede. Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do Google Earth (2012), do Diagnóstico do Plano Diretor Participativo de Garanhuns – PDPG (2007a) e da CPRM (2005). identificar o uso da água da nascente no Material e Métodos Etapas da pesquisa passado e no presente, proporcionando assim A pesquisa consistiu em três etapas. Na primeira, foi realizada uma pesquisa exploratória com ênfase na observação e na aplicação de entrevistas junto a moradores dos locais próximos a nascente Pau Amarelo no intuito de identificar fatores impactantes ambientalmente na nascente. Na segunda etapa, realizou-se uma pesquisa bibliográfica referente a documentos pertinentes a análise, como Plano Diretor Municipal, Plano Diretor da Bacia do Rio Mundaú e resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente/CONAMA. Também se pesquisou documentos que continham dados históricos sobre a cidade, e que pudessem revelar a evolução da malha urbana e os reflexos ambientais na nascente estudada, para o uso do método comparativo que segundo Coelho (2011, p. 38) “[...] tornou-se central ao registro e explicação da evolução dos processos ambientais e distribuição dos impactos na cidade”. Na última etapa, foi realizada a pesquisa de campo onde foram coletadas duas amostras de água da nascente Pau Amarelo, uma onde a água aflora, aparentemente limpa que para facilitar no decorrer do texto chamaremos de Pau Amarelo 2 (PA2) e outra amostra do riacho formado pelos vários veios da nascente onde a água surge limpa e posteriormente se mistura com o esgoto da parte nobre do bairro Heliópolis, que denominamos de Pau Amarelo 1 (PA1). Ambas as amostras foram enviadas ao laboratório da Companhia Pernambucana de Saneamento/COMPESA 1148 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. para analisar microbiológicas as e características físico-químicas, a bairros da planejada, cidade, porém surgiu a de maneira manutenção do existência de coliformes e o grau de crescimento do mesmo não prosseguiu desse contaminação das mesmas. Os materiais modo. utilizados foram: câmera fotográfica digital, e A expansão da área urbana propiciada recipientes para coletar água de acordo com pelas vantagens que a ferrovia trouxe e pelo os padrões do CONAMA. setor de comércio e serviços de Garanhuns resultou, no caso do bairro Heliópolis, na Resultados E Discussão Problemática Socioambiental Urbana na Nascente Pau Amarelo ocupação espontânea de um terreno pertencente à COMPESA, que foi “invadido” e ocupado desordenadamente. A localidade A nascente Pau Amarelo é uma das nascentes do Rio Mundaú, rio federal que nasce no município de Garanhuns e tem suas águas utilizadas por vários municípios, dos 30 pelos quais passa durante seu curso até a foz em Maceió no estado de Alagoas. A nascente Pau Amarelo localiza-se no bairro Heliópolis, bairro dividido em duas partes por um talvegue (Figura 04). Em uma das vertentes invadida inicialmente ficou conhecida como “Comunidade da Raposa2”. Quando o poder público tentou retomar a área, tal atitude se revelou um ato impopular que resultou em manifestações contrárias, inviabilizando politicamente - e eleitoralmente - a retirada dos populares ali estabelecidos. Segundo relatos de moradores antigos da cidade, nas manifestações se falava muito em liberdade, residem pessoas de baixa renda, localidade então a “Comunidade da Raposa” passou a ser denominada conhecida também como “Liberdade”, nome atualmente de Liberdade, enquanto na outra residem pessoas de alto poder aquisitivo, cuja denominação é que hoje é mais difundido pela conotação positiva que traz consigo. homônima a do bairro, pois é de senso comum que a Liberdade não faz parte do Heliópolis, mesmo essa subdivisão nunca existindo por parte da prefeitura. O bairro Heliópolis foi idealizado e loteado na década 1920 pela administração do prefeito Euclides Dourado, com projeto e Devido às características do padrão de ocupação, do poder aquisitivo baixo e do elevado índice de violência, os moradores da “Comunidade da Raposa” sofriam muito com preconceito, se constituindo assim, em grupos sociais segregados socioespacialmente. execução de Ruber van der Linden e Leonilo Ferreira do Nascimento (Cavalcanti, 1983, p. excluídos, Os grupos sociais excluídos são agentes modeladores do espaço urbano 215). Azambuja (2007) aponta que o bairro Heliópolis, em contraposição aos demais 2 Tal denominação surgiu pela constante presença de raposas que circulavam na localidade. 1149 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. geralmente quando produzem favelas, que é correspondentes a uma, caracterizando-se um ato de resistência e estratégia de como lócus de grupos sociais excluídos que sobrevivência dificuldades modelam o espaço urbano do município impostas aos grupos segregados que lutam desordenadamente, já que se estabeleceram de pelo direito à cidade (Corrêa, 1995). Embora maneira ilegal e sem ordenamento, forçando não posteriormente, o poder público a instalar diante seja propriamente Liberdade apresenta das uma favela, a características equipamentos e serviços (figura 04). FIGURA 04- Foto de satélite do Heliópolis e da Liberdade separados pelo talvegue Fonte: Google Earth adaptado pelos autores (2012). A nascente Pau Amarelo foi usada obsolescência do sistema de distribuição, a para complementar o abastecimento de água complementação da cidade. A captação da água era feita nascente através de duas barragens pequenas ligadas de abandonada. foi do abastecimento encerrada e a área pela foi maneira seriada, e também com um conjunto Como é possível observar na figura de poços tipo amazonas ligados entre si, que 04, há habitações de ambos os lados do juntamente com as barragens formavam um talvegue muito próximas das encostas. Na reservatório de maior porte, de onde a água figura 05, vemos a proximidade dessas era distribuída para uma estação elevatória, habitações onde recebia cloração devido à suspeita de Heliópolis, as quais estão às margens das contaminação, encostas e era encaminhada para da do parte talvegue. denominada Sendo, de portanto, consumo da população. Em 1967, devido às consideradas de risco. Segundo o Plano suspeitas de contaminação por esgotos e a Diretor Participativo de Garanhuns – PDPG 1150 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. (2008), as habitações desse tipo devem ser retiradas e as encostas recuperadas. FIGURA 05- Vertente do talvegue lado do Heliópolis. FIGURA 06- Vertente do lado da Liberdade. Fonte: Antonio Benevides Soares (2012). Fonte: Antonio Benevides Soares (2012). Na figura 06, vemos caso parecido posteriormente para populares com a da figura 05, porém localizada no lado construídas da Liberdade, onde se vê uma situação ainda habitacional do município. As casas onde os mais foram desabrigados foram alocados localizam-se no construídas de maneira precária e não estão Bairro Dom Helder Câmara, conhecido apenas às margens das encostas como popularmente também nas encostas propriamente ditas. As localidade fica muito afastada do centro da figuras 05 e 06 mostram habitações nas cidade e é carente de serviços essenciais, encostas de ambos os lados, tais habitações se fazendo constituem em problema social e ambiental. voltassem para a Liberdade. grave, pois as habitações com para casas como que atender ao COHAB muitos III. déficit Essa desabrigados Social porque são condições de moradias Na figura 07, temos os escombros de precárias em áreas de risco e ambiental uma residência edificada a 10 metros do porque resíduos sólidos e esgoto são lançados talvegue. Essa e várias outras moradias ruíram encosta abaixo e vão poluir a nascente Pau após as fortes chuvas no ano de 2010, o que Amarelo, que por sua vez contamina o Rio também Mundaú. anteriores. Porém, como poder público não já havia acontecido em anos Em 2010, fortes chuvas atingiram a impede, as famílias geralmente voltam a cidade e provocaram o desabamento de habitar o local. Dessa forma, o poder público residências nas encostas da Liberdade, o que atua após o acontecimento dos problemas e levou a prefeitura a remover as famílias não na prevenção. atingidas para hotéis da cidade e 1151 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. FIGURA 07- Foto dos escombros de residência na liberdade. Fonte: Antonio Benevides Soares (2010). Um agravante da situação de risco nas (2008) que em seu 11º artigo determina que a encostas do talvegue é que há locais aterrados prefeitura deve executar a retirada das (figuras 08 e 09) com lixo proveniente tanto ocupações de residências quanto de construção civil. implementar Tornando recuperar assim, o solo instável e irregulares o as plano e de de manejo encostas e risco e para nascentes. evidenciando o descumprimento do PDPG FIGURA 08- Casas próximas ao talvegue Fonte: CPRH (2009) FIGURA 09- Aterramento feito com lixo no talvegue Fonte: CPRH (2009) Os aterramentos feitos com lixo de aterrar a localidade com os resíduos sólidos diversas origens e tipos acontecem desde a jogados principalmente por populares de década de 1970. Vigorando nos anos 1980 a várias ideia de tapar o talvegue para construir estabeleceu-se ao longo de quatro décadas habitações. Na atualidade, o lixo ainda é como local de destinação de resíduos sólidos jogado e a prefeitura usa máquinas para de diversos tipos. Nas figuras 08 e 09 vemos partes da cidade, pois a área 1152 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. casas construídas já nos aterros, muito esgoto e lixo, favorecendo o aterramento da próximas das encostas do talvegue. Essas nascente, já que quando chove, o lixo, habitações além de apresentarem considerável metralhas e partículas de solo desnudo são risco por estarem em área aterrada com lixo - carregados para os locais onde surgem os solo consequentemente instável - perto de veios de água. uma encosta, ainda poluem a nascente com FIGURA 10- Zoneamento da área do talvegue Fonte: Plano Diretor Participativo de Garanhuns – PDPG (2008) A figura 10 mostra o zoneamento feito pelo Plano Diretor em 2008, e corresponde à representação do talvegue que tem no seu centro o Riacho Pau Amarelo originado na nascente estudada e que vai desaguar no Rio Mundaú. A área da nascente foi zoneada como Setor de Recuperação Ambiental3, porém de 2008 até os dias atuais nada foi feito para recuperar a área. O relatório sobre os impactos ambientais na cidade feito pela Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos do município, afirma que a nascente se encontra: 3 Setor “[...] no qual se deverá priorizar a relocação de populações situadas em áreas de risco ou ocupantes de Áreas de Proteção Integral[...].”Plano Diretor Participativo de Garanhuns – PDPG (2008, p. 33) Severamente impactada, possivelmente o ponto de maior degradação ambiental do município de Garanhuns. Verificando-se na área a deposição de forte carga de esgotos domésticos, deposição de resíduos sólidos urbanos (lixo e entulho), mau uso e ocupação do solo em suas encostas refletindo uma total ineficiência do sistema de fiscalização pública, construções inadequadas e irregulares, erosão bastante pronunciada com a presença de enormes voçorocas em diversos pontos, sobretudo onde as canaletas de drenagem urbana se romperam, além de queimadas e desmatamento das encostas como áreas de preservação permanente. (Garanhuns, 2007b, p. 19) Esse descaso com os problemas socioambientais revela a falta de compromisso do poder público com a questão, como também é retrato do que 1153 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. acontece em vários municípios brasileiros forma, a sociedade e o meio ambiente, com mais de 20 mil habitantes, que são situação que é evidente na nascente Pau obrigados a instituírem o Plano Diretor, que Amarelo. acaba sendo feito apenas para cumprir no Na figura 11, observamos o canal de papel o que determina a Constituição Federal onde o esgoto da parte nobre do Heliópolis através sem desce em direção a nascente. A figura 12 compromisso com o real planejamento da mostra o encontro das águas da nascente com cidade e sem o entendimento da importância as águas de esgoto do canal referido do meio ambiente para a sociedade. O Plano anteriormente, essa figura revela a lógica Diretor de Garanhuns, se analisado bem, oculta da questão ambiental onde o discurso constitui-se em um documento muito geral dominante aponta que quem polui e degrada que quase não estipula metas específicas e em mais é a população de baixa renda, no nenhum momento determina prazos para entanto, essa imagem mostra que na cidade de cumprir as poucas metas estipuladas, foi feito Garanhuns, no bairro Heliópolis, a parte rica para cumprir a legislação e até o momento polui tanto quanto a de baixo poder aquisitivo não 1978, e com obras feitas pelo poder público, pois o de canal que despeja esgoto na nascente foi Desenvolvimento Urbano, porém nunca foi construído pelo governo do município. O executado, tal fato quebra o mito de que a poder público aparece então, como agente de situação atual de depredação das nascentes e ações contraditórias uma vez que tanto da ocupação irregular é fruto de falta de promove ações para recuperar as áreas planejamento, pois planejamento houve em degradadas como também contribui para sua 1978 e em 2008 - ainda que de forma degradação através de ações descoordenadas e insatisfatória - o que não houve foi a execução contraditórias com o papel do poder público e do estipulado por lei nas esferas federal, com seu discurso. do foi Garanhuns Estatuto posto já em da Cidade, prática. possuía Em Plano estadual e municipal, prejudicando dessa 1154 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. FIGURA 11- Canal que despeja esgoto na nascente Fonte: Antonio Benevides Soares (2010). FIGURA 12- Encontro da água do canal com a da nascente. Fonte: Antonio Benevides Soares (2010). Essas imagens revelam que a realidade outra diretamente onde a água jorra do solo existente na nascente Pau Amarelo é contraria aparentemente limpa (PA2). As amostras ao que dispõe o sexto artigo do PDPG foram (Garanhuns, 2008) que determina a proteção COMPESA que forneceu o laudo de ambas. dos recursos hídricos e os maciços vegetais, O laudo revelou alta contagem de bactérias do compreendendo as nascentes e corpos d’água grupo coliforme fecal, todos os tubos que fazem parte das bacias dos rios Mundaú e inoculados Canhoto. Também desrespeita o sétimo artigo coliformes inclusive a água da amostra PA2 referente à sustentabilidade do território e à que jorra do solo límpida, o que significa que recuperação de áreas degradadas, pois as o lençol freático pode estar contaminado. áreas continuam sendo degradadas e a água Quanto a análise físico-química, a amostra que desce contaminada vai fazer parte do Rio PA2 está dentro dos padrões, porém a PA1 Mundaú, não havendo a estagnação do encontra-se totalmente fora dos padrões de problema turbidez e cor estabelecidos pelo ministério da muito menos recuperação da degradação. Para enviadas para apresentaram o laboratório a presença da de Saúde através da portaria 518/2004 e da poder discorrer sobre as resolução 357/2005 do CONAMA, sendo a características da água da nascente foram água de ambas as amostras totalmente coletadas duas amostras em locais com imprópria para o consumo humano sem características diferentes, uma no riacho prévio tratamento, principalmente a amostra formado pelos vários veios de água ainda sem PA1. contribuição do canal de esgoto (PA1), e 1155 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. a cidade se expanda de maneira ordenada e Considerações Finais respeitando a legislação vigente. Na nascente A cidade expandindo-se de Garanhuns mais vem aceleradamente principalmente a partir da emergência do polo universitário com a chegada de novas universidades e expansão das já existentes. Levando a produção de um espaço urbano Pau Amarelo é necessário cumprir o Plano Diretor e transferir os moradores das encostas de ambos os lados do talvegue para locais apropriados e com infraestrutura adequada e também recuperar a área degradada com as técnicas adequadas. desigual e socioambientalmente impactado agravando-se cada vez mais pelas as ações Agradecimentos contraditórias e descoordenadas do poder público que no discurso defende um desenvolvimento socioambientalmente equilibrado, age porém ignorando o Agradecemos ao apoio do Instituto Federal de Pernambuco Campus Garanhuns-PE e da Universidade de Pernambuco Campus Garanhuns-PE para a realização desta pesquisa. planejamento existente, que é deficitário, poluindo através de obras que destinam Referências esgoto para a nascente, como também permitindo moradias em áreas de proteção definidas pelo Código Florestal e pelo Plano Diretor Municipal. A nascente Pau Amarelo, recurso hídrico importantíssimo para Garanhuns e Albuquerque, Cláudia Regina Santana de. 2002. Turismo no Espaço Rural da Microrregião de Garanhuns-PE: potencialidades e vulnerabilidades. Dissertação de Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais. Recife: Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, municípios da bacia do Mundaú, encontra-se em severas condições de degradação ambiental, sofreu impactos nas últimas quatro décadas e hoje se apresenta contaminada e envolta por situações contrastantes de ocupação. De um lado o Heliópolis planejado, do outro o Heliópolis (Liberdade) sem saneamento, sem planejamento, com condições de vida precárias. Para a solução das problemáticas Azambuja, Nunes Renata, 2007. Análise geomorfológica em áreas de Expansão urbana no município de Garanhuns-PE. Dissertação de Mestrado Geografia. Recife, Universidade Federal de Pernambuco-PE,. Camargo, Ana Luiza de Brasil. 2003. Desenvolvimento Sustentável: Dimensões e desafios. Campinas: Papirus. Carlos, Ana Fani Alexandri. 2011. A Cidade. São Paulo: Contexto. citadas neste trabalho, é necessário executar . de maneira correta o planejamento urbano já CavalcantI, Alfredo Leite. 1983. História de Garanhuns. Recife: FIAM. existente e periodicamente renová-lo para que 1156 Revista Brasileira de Geografia Física v.6, n.5, (2013) 1140-1157. Corrêa, R. L.. 1995. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática. Condepe/Fidem, 2009. Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco. Pernambuco: Realidades e Desafios. Recife. Coelho, M.C.N. 2011. Impactos ambientais em áreas urbanas: Teorias, conceitos e métodos de pesquisa In: GUERRA, Antonio José Teixeira, CUNHA, Sandra Baptista da (Org.). Impactos ambientais urbanos no Brasil.8.ed. Rio de Janeiro:Bertrand. CPRM, 2005. Serviço geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea: Diagnostico do município de Garanhuns. Recife. Garanhuns. 2007a. 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