AS CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA LOCAL PARA O ENSINO DE HISTÓRIA 1 Eva Vilma Correia Paes Barros 2 Márcia de Godoi Queiroz 3 Lucas da Silva Castro Introdução O presente projeto faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) que tem como objetivo estabelecer um vínculo entre a Universidade e as Escolas de educação básica, inserindo os alunos de licenciatura no contexto escolar, visando contribuir com qualidade do ensino público, bem como oportunizar os graduandos a vivenciar a prática docente. Esse projeto está sendo desenvolvido na Escola Estadual Professora Giselda Vieira Belo, situada no município de Garanhuns/PE, com os alunos do 5° ano do Ensino Fundamental. O projeto tem por objetivo identificar os tipos de fontes históricas que são utilizadas pelo professor em uma turma de 5º ano do ensino fundamental, e, propor a aplicação de novas metodologias do ensino de história que trabalhem com a utilização de fontes históricas locais, com intuito de desenvolver nos alunos atitudes de valorização, respeito e preservação do patrimônio histórico cultural da cidade de Garanhuns e colaborar com a construção da identidade dos alunos a partir de uma tomada de consciência do patrimônio histórico e cultural da cidade. O projeto foi desenvolvido com a intenção de superar a abordagem tradicionalista, informativa e conteudista, do ensino de história, pois tal abordagem acaba tornando a disciplina como algo desinteressante e distante da realidade dos alunos. Então, visando à superação dessa perspectiva, a história local surge como uma opção de grande valia para que o ensino de história se torne mais significativo no desenvolvimento dos alunos, como afirma os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de história e geografia, daí, se faz necessário trabalhar com temáticas locais “[...] é necessário fazer escolhas pedagógicas pelas as quais os estudantes possam conhecer as problemáticas e anseios individuais de classe e grupos- local, regional, nacional e internacional- que projetam a cidadania como prática e ideal.” (BRASIL, 2000, p.36). Dessa forma percebemos que a história local pode contribuir positivamente para o ensino de história, visto que a abordagem local é um elemento colaborador na construção da didática histórica, servindo como um recurso pedagógico privilegiado que possibilita ao educando adquirir, paulatinamente, uma nova visão sobre a história, além de desenvolver um olhar questionador sobre os fatos e acontecimentos históricos ao possibilitar que os mesmos percebam o seu papel enquanto sujeito históricosocial. Material e Métodos Nessa etapa do projeto, o foco de trabalho foi à história de Garanhuns pelo viés do patrimônio imaterial. Utilizamos várias fontes históricas, tais como: gravuras, fotos, objetos, mapas, ilustrações, vídeos, músicas, entre outros, sendo que todas essas fontes faziam menção ao patrimônio histórico de Garanhuns. Inicialmente, o trabalho se deu a partir da explanação sobre a história do festival de inverno de Garanhuns. Nesse momento foi destacado para os estudantes a riqueza cultural que esse evento contém, e, como ele contribui para manter viva a nossa cultura local. Após essa explanação, os estudantes fizeram pesquisas e atividades sobre essa temática e, por fim, construíram um cartaz pedagógico para sintetizar o aprendizado. 1 Graduanda do curso Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Unidade Acadêmica de Garanhuns (UAG), participante do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência-PIBID, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: [email protected] 2 Graduanda do curso Licenciatura em Pedagogia da (UFRPE/UAG), participante do Programa PIBID, financiado pela (CAPES). E-mail: [email protected] 3 Professor/Orientador/Doutor em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professor da (UFRPE/UAG). E-mail: [email protected] Em outro momento, em continuidade ao trabalho com patrimônio imaterial, fizemos um trabalho com os artistas regionais que fazem parte da nossa cultural nordestina e em especial de Garanhuns. Trouxemos para sala de aula artistas garanhuenses, tais como: Dominguinhos, Gonzaga de Garanhuns e Valdec de Garanhuns. Através desses artistas locais, trabalhamos com músicas, poemas, danças, xilogravuras e cordéis. Ao abordar a história local através desses artistas, possibilitamos aos estudantes conhecer um pouco mais da nossa história e da cultural local. Realizamos atividades de pesquisas, leituras compartilhadas, recitação de cordéis e atividades escritas. Por fim, trabalhamos com a arte da xilogravura e, após a explanação acerca dessa temática, os estudantes foram solicitados a construir um trabalho com as técnicas da xilogravura em isopor (isogravura). No encerramento dessa atividade, fizemos uma exposição dos trabalhos construídos – a exemplo disto “confecção de um cordão de isogravuras” – na sala de aula. Para finalizar o projeto, os alunos construíram um baú chamado “Baú da história de Garanhuns” – o baú continha objetos, textos e fotos. Essa atividade se deu da seguinte forma: primeiramente, a turma foi dividida e cinco grupos; em seguida, cada um deles encarregou-se em abordar uma parte da história de Garanhuns que já havia sido trabalhada em sala de aula; e, por fim, utilizando-se do baú, cada grupo fez uma apresentação recontando a história da cidade. Portanto, foram desenvolvidas atividades inovadoras que foram além do livro didático, com intuito de melhorar a metodologia aplicada no ensino de história. Resultados e Discussão Partimos da uma constatação de que atualmente a abordagem da história local não é muito trabalhada, e, neste sentido é pouco valorizada nas relações de ensino aprendizagem em sala de aula como uma prática pedagógica. É comum aos alunos dessa faixa etária estudar aquilo que é mais distante da sua realidade e ao mesmo tempo ignorar a compreensão da sua historicidade mais próxima. Observa-se que uma parte significativa dos estudantes brasileiros costumam encarar essa disciplina como algo meramente decorativo e sem grande importância para sua vida cotidiana. Porém, ao trazer essa abordagem local para as aulas de história, tem-se a possibilidade de fazer com que o aluno sinta-se parte fundamental na construção histórica, assim, este se entende como sujeito ativo nesse processo histórico. De acordo com Bittencourt (2006, p.69), para fomentar essa ideia de sujeito histórico no educando, o professor deve ir além do livro didático, trazendo “Gravuras, fotos, filmes, mapas, ilustrações”, que possibilitem o aluno a pensar na história de forma crítica através de diversas fontes. O PCN de História e Geografia (2001, p.81) também justifica o uso de diversas fontes como recursos pedagógicos no ensino de história: “Cabe ao professor ensinar os seus alunos a realizar uma leitura crítica de produções de conteúdos históricos [...] terem a oportunidade de obter e organizar informações diretamente das fontes primárias [...] em fontes secundárias”. A história local traz elementos da história que devem ser somados à história global procurando contribuir para que os estudantes entendam melhor a dinâmica histórica a partir da sua localidade, como afirma o PCN de História e Geografia (1997, p.30). “A escolha dos conteúdos relevantes a serem estudados [...] parte das problemáticas locais em que estão inseridas as crianças e as escolas, não perdendo de vista que as questões que dimensionam essas realidades estão envolvidas em problemáticas regionais, nacionais e mundiais”. Então ao se trabalhar com essa perceptiva local, detalhes mais ou menos aparentes e, por vezes, insignificantes, adquirem significação própria. Sendo assim, a história local não elimina a global, pelo contrário, a abordagem local tende a somar positivamente quando unida à história global, pois ela traz vários aspectos particulares importantes que contribuem para a construção da identidade individual e coletiva. Portanto, é a partir da relação de associação da história global com a local que se desenvolve, no indivíduo, a consciência de um sujeito plural. (GONÇALVES, 2007). Nesse projeto, procuramos trabalhar a história local pelo viés do patrimônio, visto que o patrimônio é o conjunto de bens material e imaterial que recontam a história de um povo. Sendo assim, a história local pode ser considerada como um instrumento de resgate e preservação patrimonial de um determinado lugar (povo), um meio para desenvolver a identidade individual e coletiva, bem como, pode ser utilizada como um instrumento pedagógico eficiente nos processos de ensino e aprendizagem. Desse modo, pretendemos desenvolver a consciência crítica sobre os fatos e acontecimentos vivenciados por esses indivíduos, em seu contexto, pois é através da preservação e valorização do patrimônio histórico cultural de um povo, seja ele material ou imaterial, juntamente com uma visão crítica da realidade, que a história local vai contribuir para formação do aluno como sujeito da história e não apenas como mero expectador de uma história já determinada e vinda conceptualmente de fora. (HORTA, 1999). Com aplicação do projeto, podemos constatar que a cada dia os estudantes foram se interessando e se identificando com a história da cidade de Garanhuns. Eles puderam conhecer um pouco mais da sua historicidade local e perceberam que os elementos trabalhados no projeto faziam parte do seu patrimônio histórico local e, ao mesmo tempo, da sua vida cotidiana, embora não lhes dessem o devido valor – fato que se justifica contrário ao reconhecimento, pois os estudantes não tinham conhecimento da causa. Sendo assim, ao se trabalhar com a abordagem da história local com esse grupo de estudantes, verificouse que eles tiveram a possibilidade de desenvolver um novo olhar de valorização e respeito pela história da sua cidade e, consequentemente, eles se sentirão incluídos na construção histórica e ao mesmo tempo tiveram oportunidade de desenvolver sua identidade através de elementos históricos que fazem parte do seu cotidiano. Pelo que foi dito, considerando a efetiva necessidade do ensino fundamental de dispor de um ensino de história de melhor qualidade e de forma mais significativa, procurou-se a partir da execução desse projeto de intervenção, contribuir para melhorar a prática docente com intuito de desenvolver nos estudantes a consciência do seu papel enquanto sujeito histórico, e, espera-se que através desses novos conhecimentos adquiridos pelos estudantes sobre a história da sua cidade, desenvolver nos mesmos atitudes de valorização e preservação do patrimônio histórico local, bem como, fomentar o sentimento de pertencimento e torná-los cidadãos participativo e consciente do seu papel na construção de uma sociedade mais justa e democrática. Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus. Agradeço a minha família e especialmente ao meu marido Márcio Barros que compreende a minha ausência e, ao mesmo tempo, me dá força para continuar essa caminhada. Agradeço ao Programa PIBID e ao CAPES, pela oportunidade de participar desse programa. Agradeço ao meu tutor Lucas da Silva Castro por me orientar na elaboração e aplicação do projeto e por fim, agradeço a todos os professores do curso de Pedagogia da UAG. Referências BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006. BRASIL, Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: História, Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1997. __________________. Parâmetros curriculares nacionais: História, Geografia. Brasília: MEC/SEF, 2001. GONÇALVES, Márcia de Almeida. História Local: O reconhecimento da identidade pelo caminho da insignificância. In: MONTEIRO, A. M. F. C.; GASPARELLO, Arlete M., MAGALHAES, Marcelo de S.(orgs). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2007. HORTA, Maria de L. Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: IPHAN: Museu Imperial, 1999. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. O ensino de história local e os desafios da formação da consciência histórica. In: MONTEIRO, A. M. F. C.; GASPARELLO, Arlete M., MAGALHAES, Marcelo de S.(orgs). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2007.